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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS – UNEAL

CAMPUS III – PALMEIRA DOS ÍNDIOS


LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ADEMIR DA SILVA SANTOS

SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias


do século XIX e fontes orais da atualidade.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014


ADEMIR DA SILVA SANTOS

SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias


do século XIX e fontes orais da atualidade.

Trabalho de conclusão do curso de


História da Universidade Estadual de
Alagoas (UNEAL), apresentado como
requisito para obtenção do grau de
Licenciado em História, sob a orientação
do Prof. Tiago Barbosa da Silva.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014


ADEMIR DA SILVA SANTOS

SÍTIO COITÉ: Apontamentos a partir de fontes documentais primárias


do século XIX e fontes orais da atualidade.

Monografia de Graduação aprovada em

______/_______/ 2014.

ORIENTADOR:

_____________________________________________
Prof. Tiago Barbosa da Silva

EXAMINADORES:

_____________________________________________
Prof. MsC. José Adelson Lopes Peixoto.

_____________________________________________
Profª.Esp. Francisca Maria Neta

PALMEIRA DOS ÍNDIOS, 2014


Dedico especialmente esse trabalho ao meu irmão
Claudemir Rodrigues “Carrema” in memória, a quem
dedico todos os frutos de minha pesquisa sobre
Coité do Nóia. Dedico a minha mãe, aos meus
queridos irmãos, ao meu tio Zé Cezário, a minha
namorada Josivanea. Dedico também aos meus
avôs Dona Maria Cezário e Cícero Rodrigues, João
Florêncio “João Fulor” e Dona Gerdulina “Gê” todos
in memória.
“A função do Historiador é
lembrar a sociedade daquilo
que ela quer esquecer”. (Peter
Burke)
AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus primeiramente e a todos que me apoiaram e acreditando no


meu sonho e assim contribuíram com este trabalho. Ao Professor Tiago Barbosa
que aceitou o convite para orientação do qual sou grato pela paciência e dedicação.
Aos demais professores do curso de História por compartilhar o saber,
principalmente aos professores Adelson Lopes, Cristiano Cesar e Wellington
Albuquerque pelo incentivo durante todo o curso. Aos meus amigos da UNEAL
minha turma de História, em especial: Analia Carolina, Antenora Anselmo, Dakson
Ulisses, Edileide Palmeira, Elaine Cristina, Ronaldo Alves, Marxteine Pedro, Marcos
Menezes in memória, William Costa, José Edson, José Dionisio, Sheyla Salustiano,
Tatiana Costa, Taciana Costa, Isvaneide Alves, Itamara Rodrigues, Larissa Costa,
Mary Hellen, Michelle Albuquerque, Vera Lúcia e Vitória Paixão.

Agradeço aos parceiros de pesquisa Carlos Emanuel Varela e ao Historiador


Gilberto Barbosa Filho. Agradeço ao senhor Valdomiro Oliveira, responsável pelo
Cartório de Único Ofício de Limoeiro de Anadia como também Andressa Souza e
Edivania Ferreira. A meus irmãos e minha mãe por financiar minha pesquisa, aos
amigos Carlos Alberto “Kikikil”, Eudes Fogo, Analia Carolina, Norma Suelly e Bueno
Higino pelo apoio material. Agradeço as professoras Valdecir Silva e Rosângela
Maria. Aos entrevistados por revelar os segredos de suas memórias, pois as
informações conseguidas terão grande importância para a historiografia de Coité do
Nóia em trabalhos subsequentes.

Agradeço a minha primeira professora a Sra. Lenilda de Oliveira Silva, aos meus
professores de História do Ensino Fundamental e Ensino Médio, Gorete Porto e
Telmo Bastos. Agradeço aos diretores, professores, servidores da Escola Municipal
de Coité do Nóia José de Sena Filho e da Escola Estadual Álvaro Paes por contribuir
no meu desenvolvimento como estudante e como ser humano. Sou grato à Uneal
por tudo, pois cheguei sonhador e ela me fez realizar os sonhos e está me ajudando
a criar novos sonhos... Muito obrigado UNEAL!
RESUMO

Esse trabalho procura analisar o processo de povoação, os aspectos sociais e


econômicos do sítio Coité no século XIX. Fazendo uso de inventários e outros
documentos, como também, da história oral. Os documentos escritos entre outros
tipos de registros auxiliam na elucidação dos fatos do passado, contribuindo para o
entendimento da História local. Dedicaremos especial atenção nas oralidades acerca
da presença indígena na região, dos achados nas localidades Areias, Angico,
Mumbuca e Boqueirão dos Custódios, no detalhamento do Dote aos bens dos
moradores do sítio Coité e nas composições familiares. Informações e problemáticas
em torno da escravidão serão apresentadas ao decorrer do trabalho, pois o estudo
sobre a presença africana dará a oportunidade para evidenciar traços e elementos
da cultura e religião de matriz africana existente no município de Coité do Nóia. A
região em estudo abrange a parte urbana da atual cidade de Coité do Nóia,
município localizado no Agreste de Alagoas. A metodológica adotada parte das
informações coletadas durante as pesquisas de campo, onde foram entrevistadas 30
pessoas, sendo as mais velhas do município, pois sem elas muitos documentos
passariam despercebidos, pois foi o primeiro meio utilizado para resgatar de seus
habitantes traços da História local. As fontes escritas do Cartório do Único Ofício de
Limoeiro apresentadas a seguir, foram pesquisadas, escaneadas, transcritas,
digitadas e analisadas. Acredita-se que ao buscar os fatos históricos ocorridas no
passado, o historiador deve se inserir, de certa forma, na época visando interpretá-
los. Esse trabalho traz para atualidade elementos desde então desconhecidos sobre
a historiografia de Coité do Nóia.

Palavras - chave: Documentos. Província de Alagoas. Sítio Coité. Inventários.


Coité do Nóia.
ABSTRACT

This paper analyzes the process of settlement, social and economic aspects of Coité
site in the nineteenth century. Making use of inventories and other documents, but
also of oral history. Written documents and other types of records assist in
elucidating the facts of the past, contributing to the understanding of local history. We
will devote special attention to orality about the indigenous presence in the region,
the findings in the localities Sands, Angico, Mumbuca and Boqueirão Trustee, in
detailing the Endowment to the property of residents of the site Coité and family
compositions. Information and issues around slavery will be presented over the
course of the work, for the study of African presence will give the opportunity to
highlight features and elements of culture and religion of African origin existing in the
municipality of Coité Nóia. The study area covers the urban part of the present city of
Coité Nóia, a municipality located in the arid zone of Alagoas. The adopted
methodological part of the information collected during the field surveys, where 30
people were interviewed; being the oldest of the city, for without them many
documents go unnoticed because it was the first instrument used to rescue its
inhabitants traces of local history. The writings of the Single Registry Office of Limon
presented below, sources were searched, scanned, transcribed, typed and analyzed.
It is believed that the search for the historical facts that occurred in the past, the
historian must fit somehow, at the time seeking to interpret them. This work brings to
actuality since then unknown elements on the historiography of the Coité Nóia.

Keywords - Keywords: Documents. Province of Alagoas. Coité Site. Inventories.


Coité the Nóia.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização do Município de Coité do Nóia no mapa de Alagoas ............ 16

Figura 2 – Localização do Sítio Coité na Província de Alagoas ................................ 17

Figura 3 – Aspectos das regiões do Sítio Areia e Minador ........................................ 20

Figura 4 – Cachimbos encontrados no Sítio Areias ................................................. 21

Figura 5 – Aspectos das regiões Angico e Mumbuca ............................................... 22

Figura 6 – Artefatos encontrados no Povoado Boqueirão dos Custódios ................. 24

Figura 7 – Dote dado a Basílio Estevão da Costa ..................................................... 28

Figura 8 – Verso do Dote .......................................................................................... 29


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Relação de escravos de Basílio Estevão da Costa ................................. 37

Tabela 2 - Relação de escravos de Anna d’Annunciação e Silva ............................ 47

Tabela 3 - Relação de escravos de Antonio da Exaltação Maia .............................. 52

Tabela 4 - Relação de escravos do Major Antonio Thomas da Silva ....................... 58

Tabela 5 - Relação de escravos do Capitão Manoel Sebastião da Silva ................. 63


LISTA DE SÍMBOLOS

P.P (Por Procuração) ............................................................................................... 43


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

CAPITULO I –

DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS AO DOTE DE BASÍLIO ESTEVÃO DA


COSTA. ..................................................................................................................... 16

CAPITULO II -

DO INVENTÁRIO DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA A AÇÃO DE FORÇA NOVA


Nº05 DE 1859 ........................................................................................................... 31

CAPITULO III –

DOS INVENTÁRIOS DE OUTRAS FAMÍLIAS DO SÍTIO COITÉ NO SÉCULO XIX À


AUDIÊNCIA CIVIL Nº. 27 DE 1877. .......................................................................... 49

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 67

APÊNDICES ............................................................................................................. 69

APÊNDICE I – OUTROS ARTEFATOS ENCONTRADOS NO POVOADO


BOQUEIRÃO DOS CUSTÓDIOS ............................................................................. 70

APÊNDICE II – VESTIGIOS DE UM ORATÓRIO DO SÉC. XIX NO POVOADO


MANOEL GOMES ..................................................................................................... 71
INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa o processo de ocupação, social, político e econômico do


sítio Coité no século XIX, a partir de inventários e outros documentos do Cartório do
Único Ofício de Limoeiro de Anadia. Como também a partir da oralidade dos
moradores mais velhos do município e achados arqueológico, enfatizaremos o
detalhamento dos bens dos povoadores, relação de escravos e conjuntura familiar
das famílias patriarcais. Estudar a formação e as relações familiares nesse período
será fundamental para entendermos as relações de poderes entre elas. Ressaltando
que o objetivo desse trabalho está na apresentação das fontes e análise. A região
pesquisada atualmente abrange a parte urbana da cidade de Coité do Nóia, no
interior do Estado de Alagoas.

Através desse trabalho veremos fatos ligados a Família Noia, a mão de obra
escrava, a influência do sítio Coité na economia e na política da região. No entanto,
este trabalho, explicita uma introdução sobre a história do município de Coité do
Nóia. Pois é importante contextualizar as informações obtidas com a realidade
política, econômica e social em que se encontrava a Província de Alagoas e o
Império do Brasil, dentre várias problemáticas e hipóteses.

Esta pesquisa nasceu da vontade de obter respostas sobre questões que até
então ainda não tinham sido respondidas. Nossa história vai além do processo de
Emancipação Política de 1963. O passado tem que ser investigado, pesquisado
porque só assim conheceremos as culturas existentes no referido município, que
muitas vezes são discriminadas, principalmente as de raízes africanas. Esse estudo
será o início de uma reformulação não só da história local, como também do ser
humano Coitenense. Pois ao trazer para a história local elementos da presença
indígena, africana e ter informações sobre a família Nóia, abre-se um campo vasto
de possibilidades e de questionamentos. Assim, seria impossível de expor e
problematizar todas as fontes em um trabalho de conclusão de curso.

Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas com 30 pessoas escolhidas entre


os moradores mais velhos da cidade de Coité do Nóia e dos povoados que formam
o seu município. As entrevistas foram gravadas em gravador mp3 e algumas falas
14

foram transcritas para este trabalho, pois serviram de suporte para levantamento do
inventário que é o objeto de estudo.

Durante as pesquisas de campo que duraram 5 anos “entre os anos de 2009-


2014”, porém foi ampliada há 6 meses, foram feitas imagens fotográficas, fílmicas,
além de ter encontrado artefatos líticos como cachimbos, objetos como porcelana,
talher, baús, vestígios de casa grande, senzala e igreja. Tais achados, assim como
as entrevistas e imagens serão discutidas neste trabalho.

Alguns recursos instrumentais durante a pesquisa, como: câmera fotográfica,


gravador de áudio, impressora, notebook, diário de anotações; caneta e lápis.
Subsidiarão esse trabalho, obras de autores da região entre eles: Nicodemo Jobim,
Gilberto Barbosa, Cícero Rafael e João Ribeiro.

Visando concretizar os objetivos expostos, este trabalho encontra-se


configurado em 3 capítulos contendo, imagens fotográficas, tabelas, mapas, cópias
de documentos primários do século XIX.

No primeiro capitulo, enfatizaremos a observação nas oralidades de alguns


moradores de Coité do Nóia sobre a presença indígena e escrava na região, nos
achados arqueológicos e aspectos das regiões em estudos, a localização da região
na Província de Alagoas e suas limitações pertencentes à Vila de Anadia e
posteriormente sendo policiada por Limoeiro. Observaremos a transcrição do dote e
posses de Joaquim de Santa Anna Noia.

No segundo capítulo, veremos o detalhamento dos bens do casal, formação


familiar e relação de escravos e como se procedeu à partilha dos bens de Basílio
Estevão da Costa, especificando o que cada herdeiro recebeu e seus valores.
Observaremos a ação judicial movida pela viúva Anna da Annunciação e Silva
contra seu genro o Capitão Pedro Dias da Silva Reis, documento esse que mostra
ambição pela posse das terras, aspectos da região e dimensão das terras em
questão. A partilha amigavelmente aconteceu depois de 23 anos do falecimento de
Basílio Estevão da Costa e 16 anos depois da ação judicial movida contra Pedro
Dias da Silva Reis.
15

No terceiro capítulo, analisaremos inventários de outros moradores do sítio


Coité no século XIX, formação familiar, detalhamento dos bens, partilha e relação
de escravos. Como também, a venda de terras realizada por outro patriarca da
Família Noia. E finalizaremos com dados da ação cível de n. 27 de 1877, onde
evidencia que o Capitão Manoel Sebastião da Silva era mais um morador no sítio
Coité e constatará o pagamento de 7:500$000 (sete contos, quinhentos mil reis) ao
seu genro Gertulino Agripino da Silva, dando 14 escravos para tal quitação. Que
assim, essas famílias aqui já citadas foram as que iniciaram o processo de formação
e povoação da atual cidade de Coité do Nóia.
CAPÍTULO I

DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS AO DOTE DE BASÍLIO ESTEVÃO DA


COSTA.

O município de Coité do Nóia está localizado na região central do Estado de


Alagoas, inserida na meso-região do Agreste Alagoano e na micro-região de
Arapiraca. Limitando-se a norte com o município de Igaci, a sul com Limoeiro de
Anadia e Arapiraca, a leste com Taquarana e a oeste com Arapiraca e Igaci. A sede
do município tem uma altitude aproximada de 280 m e coordenadas geográficas de
9°37’56,0’’ de latitude sul e 36°34’43,0’’ de longitude oeste, segundo CPRM
(Serviços Geológicos do Brasil). O referido município tem cerca de 10.926
habitantes, desse total 3.737 vivem na zona urbana e 7.189 vivem na área rural;
constata-se que a maior parte da população vive na zona rural, com uma área de
aproximadamente 88 km², segundo os dados do último senso do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010.

FIGURA I – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE COITÉ DO NÓIA NO MAPA


DE ALAGOAS.

ESTADO DEALAGOAS
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PERNAMBUCO
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0 12 24 km

Fonte: LIMA, I. F. Geografia de Alagoas. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1965 (Coleção didática
do Brasil, vol. 14).
17

FIGURA II - LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO COITÉ NA PROVÍNCIA DAS ALAGOAS

Fonte: ALMEIDA, Candido Mendes de. PROVÍNCIA DE ALAGOAS, Atlas do Império do Brasil, 1868,
Arte e História, Livros e Edições; Rio de Janeiro – 2000.

O Sítio Coité desde o início do séc. XIX pertencia a Alagoas (Marechal


Deodoro) somente a partir de 1838 ficou na Jurisdição da Comarca e Vila de Anadia,
sobre os limites da Vila descreve Jobim (1881, 34):

Ao Sudeste e Oeste com as frequezias de Penedo, Colégio e Traipú, da


cabiceira do rio Piauhy ao campo do Gaspar pela mesma linha acima à
lagoa dos veados, e d’ahi pela parte do norte em rumo direito à lagoa do
algodão até encontrar com o termo de Palmeira dos Índios (1) e por este
rumo extremendo-se com o termo de Traipú pelo sítio Lagoa do Algodão,
Palanquêta, Poço d’Abelha, pertecentes ao termo de Traipú (2) irá à barra
do rio Lunga, no rio Coruripe, o qual até a sua nascença serve de limites
com o termo de Palmeira, que fica entre Oeste e Noroeste (3).

Através do decreto nº. 26, de 12 de março de 1838, a Assembléia Provincial


substituiu de forma efetiva a Assembleia Geral, que legislava leis para todo o Brasil.

__________________________
1
Lei provincial n.321 de 1 de maio de 1857.
2
Lei provincial n.359 de 11 de julho de 1859.
3
Resolução n. 7 de 11 de julho de 1839, que pela resolução n.66 de 27 de maio de 1847 foi
revogada.
18

Pelo mesmo decreto foram criadas cinco prefeituras, com prefeitos e


subprefeitos para as cinco comarcas existentes na Província de Alagoas: Comarca
de Alagoas (Marechal Deodoro), que compreendia Alagoas e São Miguel dos
Campos; Comarca de Maceió formada pelos termos de Maceió e Santa Luzia do
Norte (Viçosa); Comarca de Penedo, formada pelos termos de Penedo e Porto da
Folha; e pela Comarca de Anadia, formada pelos termos de Anadia, Palmeira dos
Índios e Coruripe:
Transformações e criações políticas como essas favoreceram a inclusão
ativa da povoação de Limoeiro na vida política da Vila de Anadia e fez com
que os representantes da localidade almejassem vôos mais altos para
participar cada vez mais dos destinos da vila na qual estava inserido.
(BARBOSA FILHO, 2010, 87)

A Câmara de Anadia criou o Distrito Policial e Civil de Limoeiro, em 23 de


novembro de 1842, José Gregório da Silva natural do sítio Brejo era o representante
político de Limoeiro na Câmara da Vila de Anadia. No mesmo dia da criação do
Distrito Policial foi instalada a subdelegacia de Limoeiro, sendo o “1º subdelegado o
Major Antônio Tomaz da Silva, nomeado em 22 de agosto de 1844” (RAFAEL,
1994,70). A subdelegacia já havia sido criada dois anos antes da criação do distrito,
mas não foi instalada efetivamente. Salientando que o Major Antonio Thomas da
Silva era morador do Sítio Coité. A subdelegacia de Limoeiro policiava uma:

area de 12 leguas quadradas com 23 quarteirões, conhecidos por: Limoeiro,


Ribeira, Laranjeira, Gequia de Cima, Peripiri, Canabrava, Tapauna, Arvore
Comprida, Canudos, Lagôa Grande, Passagem do Vigário, Cruzes,
Gulandim, Coité, Oitizeiro, Volta da Telha, Poço da Pedra de Cima, Poço da
Pedra de Baixo, Lagoa do Pé Leve, Rio dos Bichus, Mangabeira, Lagôa do
Rancho. (JOBIM, 1881, 37-38)

A divisão territorial somente foi definida em sessão extraordinária no dia 22 de


agosto de 1844, reunião na Câmara de Anadia composta por seus vereadores: José
Teixeira Leite, Vicente de Paula Carvalho, Joaquim Vieira de Araujo, João Antônio
da Fonseca e Silva, Manoel Joaquim Pereira, João Cavalcante da Mota Nunes e
José Gregório da Silva. Divisão essa que fez o território do sítio Coité ser policiada
por Limoeiro.

Sobre a história de seus moradores o que restou foram às lacunas sem


respostas e sem informações. Tais lacunas podem ser preenchidas a partir da
metodologia inaugurada com a escola dos Annales, pois a memória popular coletiva
19

e individual, achados arqueológicos, como documentos de diversos órgãos públicos


ajuda o historiador a contribuir com a nova história. Segundo Montenegro (1994):

O material produzido por essas diversas instâncias é que se constituirá em


uma das fontes predominantes do historiador. Entretanto, à medida que o
historiador passa a trabalhar, não mais apenas com documentos que
retratam um passado longínquo, o resgate da memória coletiva e individual
se projeta como uma possibilidade de trazer para o plano do historiador o
registro da própria reação vivida dos acontecimentos e fatos históricos.
(MONTENEGRO, 1994, 20)

O registro da memória popular traz elementos privilegiados que auxiliam o


historiador a desmistificar o passado estabelecido pela classe dominadora, onde o
lembrar se torna desfavorável para a mesma. Os documentos e a memória coletiva
fazem reviver, refazer e repensar os acontecimentos do passado por várias
vertentes. “O documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si
mesma, e de pleno direito, memória; a história é, para uma sociedade, certa maneira
de dar status e elaboração à massa documental de que ela não se separa”
(FOUCAULT, 2008, p.08). Assim, o entrelaço entre memória, documentos e achados
arqueológicos amplia o estudo historiográfico de Coité do Nóia, fazendo com que
seu estudo seja mais abrangente com vários problemas e hipóteses.

O historiador não pode se resignar diante de lacunas na informação e deve


procurar preenchê-las. Para isto, usará os documentos não só de arquivos,
mas também um poema, um quadro, um drama, estatísticas, materiais
arqueológicos. O historiador tem como tarefa vencer o esquecimento,
preencher os silêncios, recuperar as palavras, a expressão vencida pelo
tempo. (FEBVRE, 1965,15)

As fontes apresentadas nesse trabalho permitem compreender o


desdobramento histórico de Coité do Nóia por vários ângulos, buscando o
conhecimento do homem comum, deixando de vê-lo como prisioneiro de certas
estruturas opressoras e enxergá-los de forma participativa na formação social. Para
Michelet, a partir dos métodos dos Annales hoje se pode escrever “a história
daqueles que sofreram, trabalharam, definharam e morreram sem ter a possibilidade
de descrever seus sofrimentos” (Michelet, 1842, p.8 Apud Peter Burke, 1991, 13).
Durante a pesquisa de campo iniciada em 2009 foi possível coletar informações
importantes sobre a história de Coité do Nóia, partindo do imaginário criado sobre o
Sítio Areias e Minador, região esta que faz parte da zona urbana da cidade de Coité
do Nóia, do qual foi cenário de muitas lendas e assombrações.
20

No século XX, foi encontrado um pote com ossadas, dentes de animais e


outros objetos no terreno que atualmente pertence ao Senhor Manoel Sebastião,
artefatos esses que chamaram a atenção de muitos curiosos, o que levou o
proprietário a destruir tais artefatos; várias outras igaçabas foram encontradas nas
terras do Sr. Arlindo Satiro da Silva, 73 anos, conhecido por seu Didi. Segundo ele:

No meu terreno foi achado de 2 a 3 ainda. Lá no Seu Noel acharam uma


também, mas foi tanta gente olhar que ele quebrou a jarra... O Guedson
meu filho cavando o terreno para construir a casa dele, encontrou uma jarra,
a jarra tinha um cachimbo, uma pedra verde, tinha uns dentes de gente,
veio até reportagem... Virou tumulto. Essas jarras os índios usavam para
enterrar, não era índio eram os flamengos que viviam nas matas... No
tempo do meu avô tinha essa gente que eram pego no mato, para
acostumar a trabalhar nas roças, em Palmeira ainda tem, quando morria um
eles colocavam nessas jarras e enterrava, essa região tem muito mistério e
4
não é pouco.

A região da qual o entrevistado se refere é próxima as nascentes do Minador,


região rica em água doce, o mesmo afirma que as ditas terras pertenciam ao seu
avô Alexandrina, conhecido por seu Caê.

FIGURA III - ASPECTOS DA REGIÃO DO SÍTIO AREIAS E MINADOR

Fonte: Autor, 2009.


_____________________
4
Entrevista realizada com o Sr. Arlindo Satiro da Silva em 10 de Agosto de 2013.
21

Localizado em uma região serrana, protegida por serras entre elas as serras
cova do negro e do Cruzeiro com vista estratégica da região, inclusive de Arapiraca,
Limoeiro de Anadia, Taquarana, Igací e de Palmeira dos Índios, ambiente propício
para aldeamento indígena com muitas nascentes, próxima do riacho do coité, dos
cabaços e do rio Coruripe.

Durante a pesquisa de campo o Sr. Didi revelou que seu filho mais velho
conhecido por Carlinhos estava em posse de um cachimbo de uma das igaçabas
encontradas no terreno do seu filho Guedson. Segundo Carlinhos - “esse cachimbo
meu não foi o único encontrado, tinha outro, acho que tá com o pessoal do Olavo
Bé.”5

Ao entrevistar o Senhor Olavo Gomes, conhecido por Olavo Bé morador do


sítio Areias e vizinho do local dos achados, ele confessa: “vi os potes e as coisas
dentro, tinha dois cachimbos, um está com a minha irmã Margarida, você pode ir lá
que ela mostra, ela até fuma nele ainda, esse dela é mais preto que o outro, o outro
não sei onde ta.”6

FIGURA IV - CACHIMBOS ENCONTRADOS NO SÍTIO AREIAS

Fonte: Autor, 2009.


_____________________
5
Entrevista realizada com o Senhor José Carlos da Silva em 14 de Setembro de 2009.
6
Entrevista realizada com o Senhor Olavo Gomes em 10 de Agosto de 2013.
22

O cachimbo que pertencia ao senhor Carlinhos encontra-se em posse do


pesquisador, o outro depois de ser fotografado por diversos ângulos foi entregue à
senhora Margarida.

Em 2009, no mesmo terreno que pertencia ao Sr. Didi no Sítio Areias, uma
parte foi vendida ao Sr. José Hênio Porto, em escavação para a construção de
muros foram encontradas 06 igaçabas, as quais foram destruídas pelas máquinas.
Foi preciso realizar trabalho de conscientização com algumas famílias da localidade
para que não destruíssem objetos encontrados, pois os mesmos eram de grande
valor histórico e cultural, que os mesmos serviam de base para a formulação da
nova história. Foi encontrado mais de nove igaçabas nas terras do Senhor Arlindo
Satiro da Silva, com vários objetos dentro como ossos, dentes, pedra de corisco,
cachimbos e machadinhas. A região precisa ser reconhecida pelo IHGAL – Instituto
Histórico e Geográfico de Alagoas para que os estudos na região venham ser
pesquisados por arqueólogos.

Outros relatos sobre achados foram registrados, inclusive nas regiões


conhecidas por Angico e Mumbuca. O Sítio Angico está situado entre os sítios Baixio
e Boqueirão dos Custódios.

FIGURA V - ASPECTOS DAS REGIÕES ANGICO E MUMBUCA

Fonte: Autor, 2013.


23

Segundo Domingos Eugenio Mello filho de um proprietário de terra da


localidade, diz:

A gente achava pedaços de pratos, de potes, tijolos, cachimbos... ossos de


bois e muitos caramujos... Dos cachimbos lembro pouco, pois achávamos
só o pedaço onde colocava o fumo, mas uma vez achamos um que tinha o
7
cabo bonito preto.

No dia 24 de Agosto de 2013 foi entrevistado pelo o autor, o Sr. José João da
Silva, 78 anos, antigo morador do sítio Angico, atualmente mora na Rua Pedro
Custódio em frente ao Ginásio de Esporte do Município. Segundo ele, “no Sítio
Angico cansei de encontrar pratos, frigideira, panela de barro, encontrei cachimbos
de barro.”8

Houve semelhança na oralidade do senhor Miguel Martins Sobrinho, 83 anos


morador do Povoado Mumbuca quando disse - “no meu terreno foi encontrado potes
e bacia de barro e umas moedas. O pessoal mais velho dizia que era os caboclos
que ficaram nessa serra, quem expulsou foi até o capitão Antonio Custódio, era o
que meus avós diziam.”9 Vale ressaltar que o Povoado Cruzes teve forte influência
indígena em tempos remotos, região essa próxima ao Boqueirão dos Custódios e
Angico, desde 1827 ou anterior já era povoado, como observaremos a seguir.
Alguns pesquisadores defendem que o povoado Cruzes pode ser um dos povoados
mais antigos da região. Sobre a presença indígena na região do sítio Cruzes
(CASTRO NETO, 2007; 43-44) diz que:

Talvez o mais antigo povoado do Município, foi habitado por remanescentes


dos índios Xucurus, vindo de Palmeira dos Índios, segundo o relato dos
moradores mais idosos. Alguns de seus antepassados foram pegos nas
matas da região e trazidos ainda jovens para esta localidade, onde se
casaram, tiveram filhos e ainda hoje os habitantes do povoado apresentam
fortes características dos povos indígenas: cabelos pretos e lisos,
acaboclados, amante da caça e da pesca, com um sotaque distinto,
dedicam-se ao artesanato de objetos feitos com tabocas, palha de ouricuri e
cipó. (CASTRO NETO, 2007, 43-44)

__________________________
7
Entrevista realizada com o Senhor Domingos Eugênio Mello em 21 de Agosto de 2013.
8
Entrevista realizada com o Senhor José João da Silva 15 de Agosto de 2013.
9
Entrevista realizada com o Senhor Miguel Martins 20 de Agosto de 2013.
24

Na fala da senhora Otília Duda da Silva, 83 anos diz: - “A minha vó, mãe de
minha mãe foi pega a cachorro na mata, ela era índia, meu avô estava caçando e
viu uma menina ele mandou os cachorros pegar ela e trouxe... ela dizia que era pras
bandas do Jacaré dos homens ou Palmeira.”10 Dona Joana Pereira da Silva, 84 anos
acrescenta dizendo “a minha bisavó foi pega a dente de cachorro nas serras de
Palmeira dos Índios. Minha bisavó era índia, minha mãe contava isso.”11A partir
dessas informações podemos questionar como se procedeu a chegada e presença
indígena na região. A memória de pessoas de várias classes sociais do município
traz traços até então desconhecidos da história local e do imaginário social, pois
será necessário ampliar a pesquisa sobre a questão indígena em Coité do Nóia.
A memória na qual cresce a História, por sua vez a alimenta, procura salvar
o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma
que a memória coletiva sirva de libertação e não de servidão dos homes.
(LE GOFF, 1996, p. 41).

A memória estabelece transformação histórica e social, pois é reivindicadora


da própria existência não só na pessoa humana quanto de sua cultura e crença.
Durante as entrevistas orais foi possível localizar traços da presença escrava na
região do Boqueirão dos Custódios.

FIGURA VI - ARTEFATOS DO SÍTIO BOQUEIRÃO DOS CUSTÓDIOS

1. 2.

3. 4.
Fonte: Autor. 2013
__________________________
10
Entrevista realizada com a Srª. Otília Duda da Silva em 20 de Agosto de 2013.
11
Entrevista realizada com a Srª. Joana Pereira da Silva em 10 de Agosto de 2013.
25

A imagem 1. Mostra os aspectos da região, terra macia, tendo o riacho do


coité cortando as terras, e várias nascentes, região vizinha à localidade Angico já
mencionada e próximo ao povoado Mumbuca, tendo as serras do Baixio, Retiro e
Cruzes as mais próximas. A imagem 2. Trás à localização da senzala a partir da
oralidade dos entrevistados, vale ressaltar que existe nas aproximações bases de
construções com tijolos pregados no chão em sequência. A imagem 3. Refere-se ao
baú pertencente ao Capitão Antonio Custódio, que permanece em posse do Sr.
Pedro Custódio Porto Neto. A imagem 4. Mostra à localização da casa grande,
depois que a casa foi derrubada seus descendentes plantaram um pé de umbuzeiro,
vestígios da casa grande como madeira, caco de telha e tijolos se encontram
enfincada no chão entre as raízes.

Segundo o relato do bisneto do Capitão Antonio Custódio da Silva Porto, o


senhor Nivaldo Custódio, 76 anos diz:

O cativeiro... Eu não conheci, meu avô dizia o cativo... Eu sei onde era a
senzala, onde eles dormiam “as casinhas deles”, o cemitério. Aquele pé de
umbu perto da casa do Neto era a casa do Capitão Antônio Custódio. Meu
avô falava sentado em um banco, no peitoril da casa... Ele fala que o velho
era o rei daqui de terra, ia pra Lagoa Grande, eu sei é o rumo. Tinha um
bocado de escravo, quando casava um filho ou filha, dava meia dúzia de
nego, pra trabalhar pra ele. Nego cativo trabalhava de graça, só tinha o dia
de sábado pra eles. A filha dele Lolô foi morar no mosquito onde hoje é o
Campo Alegre, não tinha carro nesse tempo ...e um bocado de nego e nega
12
acompanhando.

Sobre a quantidade de escravos o Sr. Pedro Custódio Porto Neto, 75 anos


irmão do Sr. Nivaldo Custódio diz que “o velho tinha de 30 a 40 negos aqui.”13 A
existência de casa grande, senzala e cemitério de escravos abre um vasto campo de
pesquisa sobre a escravidão no séc. XIX na região de Coité do Nóia, fontes essas
riquíssimas para a historia local, outros artefatos registrados consta no (APÊNDICE
I, p. 70). A região do Boqueirão dos Custódios precisa ser estudada amplamente,
pois será preciso revisar os documentos dos Cartórios do Único Ofício de Limoeiro
de Anadia, analisar inventários, livros de notas e cartas de alforrias.

O Capitão Antônio Custódio da Silva Porto era avô do ex-prefeito de Coité do


Nóia José Custódio da Silva.
__________________________
12
Entrevista realizada com o Sr. Nivaldo Custódio em 09 de Agosto de 2013.
13
Entrevista realizada em o Sr. Pedro Custódio Porto Neto em 13 de Agosto de 2013.
26

Em janeiro de 2013 foi localizado vestígio de um oratório no povoado Manoel


Gomes, vestígios registrados constam na (APÊNDICE II, p. 71). Durante as
pesquisas realizadas no Cartório do Único Oficio de Limoeiro foi possível obter
informações sobre o proprietário e herdeiros. No Inventário de nº. 129 de 1874 de
Antonio Rodrigues Nobre, consta que ele era o dono da propriedade e suas
benfeitorias. No dito inventário, o oratório já era mencionado o que caracteriza que a
edificação do mesmo ocorreu no século XIX. Consta no inventário que além do
oratório existiam várias imagens de santos, do qual os avaliadores deram o valor de
25#000 (vinte e cinco mil réis). Antonio Rodrigues Nobre possuía um escravo por
nome de Francisco. Será de grande importância pesquisar sobre as características
arquitetônicas do oratório, influência do catolicismo na região, sua organização,
como acontecia às cerimônias no interior do oratório, as famílias que frequentavam.
De acordo com Robinson (1912):
História inclui qualquer traço ou vestígio das coisas que o homem fez ou
pensou, desde o seu surgimento sobre a terra”. Por método, “A Nova
História deverá utilizar-se de todas as descobertas sobre a humanidade,
que estão sendo feitas por antropólogos, economistas, psicólogos e
sociólogos. (ROBINSON, 1912 Apud BURKE, 1991,13)

Os elementos encontrados e informações obtidas contribuem para a


reformulação no que se refere à historiografia de Coité do Nóia como também dos
aspectos sociais e culturais. Partindo das análises sobre a colonização da Província
de Alagoas, da Vila de Anadia, dos poderes estabelecidos no sítio Brejo no âmbito
político, econômico e religioso, na oralidade dos moradores mais velhos do
município e nas fontes primárias do cartório do Único Ofício de Limoeiro, foi possível
encontrar documentos referente à família Nóia e outras famílias existentes no sítio
Coité e demais localidades no séc. XIX. Sobre as primeiras famílias que se
estabeleceram em Coité do Nóia (SILVA, 2011,22) relata que:
Segundo os relatos de alguns dos mais antigos moradores do município,
por volta dos anos 1900, ou antes, disto, sendo as famílias Higino, Miguel,
Dionizio, Costa e Virgem, e anteriores a estes, os Nóias, tidos como os
primeiros povoadores destas terras. A povoação inicial era formada por
poucas casas na região próxima, onde hoje se localiza, na cidade, a
lavanderia comunitária. Esta região é descrita pela população como o lugar
onde Joana e Francisco Nóia e outras famílias iniciaram a fixação de
14
residência na região. (SILVA, 2011,22)

__________________________
14
SILVA, Nadjane da Rocha. Da história oral nasce a memória coletiva: Reflexões sobre o município
de Coité do Nóia. UNEAL, Palmeira dos Índios, 2011 (Trabalho de Conclusão de Curso).
27

Antes da pesquisa de campo, o que sabíamos sobre a família Nóia era a


partir da oralidade dos moradores mais antigos da cidade, mas só diziam que ela
existiu. O que levou durante muitos anos várias gerações se perguntarem “por que
Coité do Nóia, e não do índio, do escravo ou de todos?” Foram muitos porquês.
Segundo o pesquisador de Limoeiro de Anadia, Barbosa Filho (2010):
por volta de 1880 existiam quatro casas pertencentes à família de Antônio
de Nóia de Souza (...). Em 1886, procedente da Vila de Limoeiro, Manoel
Joaquim (Jô) da Costa, bisneto de Antônio Rodrigues da Silva, fixou-se na
região dedicando-se a criação de gado e agricultura. (BARBOSA FILHO,
2010, 278).

A partir do dote que discutiremos a seguir demonstra que a Família Noia era
rica, possuidora de muitas terras e escravos e que se fixou no sítio Coité no início do
século XIX. Manoel Joaquim da Costa Zow era neto dos povoadores e diante das
informações há evidências que seus descendentes moram até hoje na região, porém
com outros sobrenomes como é o caso das famílias Costa e Mello.
28

FIGURA VII – DOTE DADO A BÁSILIO ESTEVÃO DA COSTA

TRANSCRIÇÃO DO DOTE
o
Fica lida no l. “sic” a 243 Nº 10

Anadia 28 de 7bro 1838

Motta Morici

Dizemos Nós, eu e minha Mulher abaixo a


signado q conferimos em dote ao S. Basílio
Estevão da Costa, pª em cargo do
Matrimonio q temos contratado contrair
com minha filha Anna d’Anunciação; os
bens seguintis; Em terras no Sítio do Coité
cem mil r cujas terras pegará do Sítio Coité
pª a parte das Crusis; hua escrava de
nome Maria gentio d’Angola no valor de
dusentos, e oito mil r, hum escravo de
nome Martinho criolo no valor de cento e
noventa e cinco mil r, desaseis cabeças de
gado vacum no valor de nove mil r cada um
em porta em cento e quarenta e quatro mil
r em ouro,e prata o valor de setenta e nove
mil r, hum taixo no valor de oito mil r, hum
candieiro de latão no valor de quatro mil r,
em dinheiro noventa e cinco mil r, hum
cavalo selado e enfreiado no valor de vinte
e quatro mil r, cujos bens são do nosso
casal livres, e desembargados, e d’elhes
faremos duação causa dotis a ditta nossa
filha, e genro; pª os possuírem como seus;
r
e p nossos falecimentos entrarão a
collação com os outros seus cunhados, e
irmãos na forma da lei, ficando nossas
ta
terças obrigados a preenxer dª q de
todos no caso de exceder as suas
legitimas. E pª seu titulo lhes passamos o
te r
pres p nossas livres vontadis, o q vai tão
r r
somente p mim a signado, e p mª mulher
não saber escrever o fis o seu rogo Antonio
Gomis da Silva a saber da vendo tudo
presentis as testemunhas abaixo com
nosco a signados. Sitio do Coite 5 de
Junho de 1827.

Joaquim de Sta Anna Noia


a
Rogo da Senr Anna Roza
mes
Antônio G .da Silva
Como testª q este fiz a rogo dos passadoris
o
Joze Francisco Virª Samp
Joze Bsª de Castro
Fonte: Ação de força nova, nº 5, p.7, de 1859, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de Anadia.
29

FIGURA VIII – VERSO DO DOTE

Fonte: Ação de força nova, nº 5, p. 7 verso, de 1859, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de Anadia.

TRANSCRIÇÃO DO VERSO

Reconheço as firmas serem as proprias de Joaqm de Santa Anna Noia, e


dos mais asignados e dou fé Anadia 28 de 7bro 1838.
JFMM
[incompreensível]
José Felippe da Motta Morici

Joaquim de Santa Anna Noia e sua esposa Anna Rosa deram um dote a
Basílio Estevão da Costa no dia 05 de junho de 1827 no sítio Coité para que o
mesmo casasse com sua filha Anna D’Anunciação e Silva, o valor do dote configura
o poder e a posição social da família Nóia na região.
em cargo do Matrimonio q temos contratado contrair com minha filha Anna
d’Anunciação; os bens seguintis; Em terras no Sítio do Coité cem mil r cujas
terras pegará do Sítio Coité pª a parte das Crusis; hua escrava de nome
Maria gentio d’Angola no valor de dusentos, e oito mil r, hum escravo de
nome Martinho criolo no valor de cento e noventa e cinco mil r, desaseis
cabeças de gado vacum no valor de nove mil r cada um em prata em cento
e quarenta e quatro mil r em ouro,e prata o valor de setenta e nove mil r,
hum taixo no valor de oito mil r, hum candieiro de latão no valor de quatro
mil r, em dinheiro noventa e cinco mil r, hum cavalo selado e enfreiado no
15
valor de vinte e quatro mil r, cujos bens são do nosso casal livres.
__________________________
15
Ação de Força Nova nº. 05 de 1859, fl. 07. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
30

Basílio Estevão da Costa recebeu uma parte de terras no sítio Coité partindo
para o sítio Cruzes, dois escravos, dezesseis vacas, um cavalo selado, um tacho,
um candeeiro de latão, quantia em dinheiro, ouro e prata, totalizando um montante
de 1:0001$000 (um conto e um mil réis). Manoel Joaquim da Costa Zow que
aparece na história como o primeiro colonizador, era neto de Joaquim de Santa
Anna Noia e de Dona Anna Roza do lado materno e neto do Capitão Manoel
Francisco da Silva e de Maria da Conceição Silva do lado paterno, foi um dos oitos
filhos de Anna D’Annunciação e Silva com Basílio Estevão da Costa. Assim, todos
os filhos do casal eram bisnetos do Capitão Antônio Rodrigues da Silva. Segundo o
pesquisador Gilberto Barbosa Filho cita-o como fundador de Limoeiro de Anadia.

Para a realização do matrimônio de Basílio Estevão da Costa e Anna


D’Annunciação e Silva foi nomeado para ser rogo da mesma, Antonio Gomes da
Silva e como testemunhas José Francisco Vieira Sampaio e José Barbosa de
Castro. Uma aliança de interesses baseada na permanência do status que a família
principalmente dela possuía. Segundo (FERREIRA; ABRANTES, 01)

O dote foi um costume praticado por milênios no Ocidente, sendo uma


herança de origem portuguesa em virtude do processo de colonização.
Tradicionalmente se constituía a partir dos bens materiais que a noiva
levava para a vida conjugal, permeando a vida familiar e sendo o meio
necessário para se efetuar o pacto matrimonial. Como meio viabilizador dos
casamentos entre as famílias de posse, ele era o grande responsável pelos
acordos e estratégias familiares envolvendo interesses políticos e
16
econômicos. (FERREIRA; ABRANTES, 2013,01)

O pai da noiva Joaquim de Santa Anna Noia com base em suas posses
demonstra ter sido uma grande liderança na região, pois o mesmo possuía além das
terras do sítio Coité, um sítio de terras denominadas Boqueirão com benfeitorias e
lavras, o qual foi vendido no valor de 1:000$000 (um conto de réis) a Manoel
Barbosa Rego e sua esposa Dona Maria da Conceição.17 A partir do surgimento do
Dote e das descobertas anteriormente mencionadas, amplia-se o campo de
pesquisa sobre a história do Município de Coité do Nóia.

__________________________
16
Disponível em:
<http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364956503_ARQUIVO_ArtigoAdrianaAnpuh201
3doc.pdf/ >. Acesso em: 29 de Janeiro de 2014.
17
Inventário nº. 41 de 1855 de Manoel Barbosa Rego, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de
Anadia.
CAPITULO II

DO INVENTÁRIO DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA À AÇÃO DE FORÇA


NOVA Nº05 DE 1859.

O povoamento pela população branca e escrava, na região do Sítio Coité,


possivelmente deve ter ocorrido devido ao processo de desenvolvimento da
província de Alagoas, tendo em vista a criação e ampliação de engenhos,
notadamente, concentrados no litoral alagoano, mas, principalmente pela
necessidade de abastecimento com carne bovina e demais culturas de subsistência,
necessárias à alimentação, especialmente, de homens e mulheres brancos. Assim,
no final do século XVIII, o Capitão Antônio Rodrigues da Silva, avô de Basílio
Estevão da Costa, procedente de Taperaguá, povoação da Vila de Alagoas
(atualmente Marechal Deodoro) comprou a Amaro Alves Bezerra de Castro as
propriedades Cruzes e Oitizeiro, estabeleceu às margens do rio Coruripe, dando
início à criação de gado na região. Seus netos e bisnetos povoaram as localidades
de Cana-Brava (atualmente Taquarana) e Sítio Brejo, Boqueirão, Oitizeiro e Sítio
Coité (atualmente Coité do Nóia).

Depois que Basílio Estevão da Costa casou com Anna D’anunciação e Silva
ele recebeu de herança de seu pai alguns bens, conforme o inventário de nº. 35 de
1840 do Capitão Manoel Francisco da Silva18 o mesmo era possuidor de terras na
povoação de Limoeiro, Goitizeiro e Pastos Secos, soma do monte deste inventario a
quantia de 12:983$990 (doze contos, novecentos e oitenta e três mil e novecentos e
noventa réis), o que caracteriza seu status na Vila de Anadia e na Província de
Alagoas. Consta no inventário já citado de nº. 35 de 1840 do Cartório do Único
Ofício de Limoeiro de Anadia, que Basílio Estevão da Costa recebeu de herança de
seu pai; da terça parte dos bens a quantia de 171$856 (cento setenta e um mil
oitocentos e cinqüenta e seis réis) classificados da seguinte forma, do remanescente
da terça 37$631 (trinta e sete mil seiscentos e trinta e um réis).

_____________________
18
Inventário de nº. 35 de 1840 do Capitão Manoel Francisco da Silva. Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia.
32

O mesmo recebeu 209$487 (duzentos e nove mil, quatrocentos e oitenta e


sete mil réis), recebeu o valor da escrava Izabel 99$830 (noventa e nove mil
oitocentos e trinta réis), recebeu do valor da casa nesta Vila de Limoeiro 26$857
(vinte e seis mil oitocentos e cinquenta e sete réis), recebeu de uma mesa da dita
casa por $800 (oitocentos réis), recebeu das terras dos Pastos Secos 39$320 (trinta
e nove mil trezentos e vinte réis), recebeu das terras do Goitizeiro 26$857 (vinte e
seis mil oitocentos centos e cinquenta e sete réis).

Basílio Estevão da Costa e Anna D’Annunciação e Silva constituíram uma


família de 08 filhos, do qual veremos os nomes dos mesmos a seguir. 1º - Manoel
Joaquim da Costa Zow; 2º - Alferes José Joaquim da Costa e Silva; 3º - Antônio
Estevão da Costa; 4º - Maria da Conceição do Patrocínio; 5º - Ana Izabel da Costa,
6º - Francisco Basílio da Costa; 7º - Raymundo Estevão da Costa e 8º - Josefa Maria
da Conceição.

O processo de povoamento e de exploração das terras do sítio Coité partiu da


formação desse casamento, onde um documento intitulado Ação de Força Nova que
posteriormente será apresentado nas páginas 43-45, refere-se às derrubas das
matas para a introdução da agricultura e para a criação de animais tanto cavalares
como de corte. Existindo problemática entorno da família Nóia, se ela antes do
casamento de Basílio com Anna já morava na região, de quem comprou ou recebeu
as terras. Informações essas difíceis de desvendar pelo o abandono e destruição
dos documentos seculares existentes nos cartórios e igrejas. Segundo o historiador
francês e fundador dos Analles, Lucien Febvre:

A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando eles


existem. Mas ela pode fazer-se, ela deve fazer-se sem documentos
escritos, se os não houver. Com tudo o que o engenho do historiador pode
permitir-lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta das flores habituais.
Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens e telhas. Com formas
de cultivo e ervas daninhas. Com eclipses da lua e cangas de bois. Com
exames de pedras por geólogos e análises de espadas de metal por
químicos. Numa palavra, com tudo aquilo que, pertence ao homem, serve o
homem, exprime o homem, significa a presença, a actividade, os gostos e
as maneiras de ser do homem. (FEBVRE: 1949, p. 249).

Nessa perspectiva, o historiador tem que fazer uso de fontes diversas, não
deixando se conformar com o documento contundente, mas tem que entrar no
33

mundo das possibilidades e da crítica documental, pois no processo historiográfico o


documento é associado como fonte da memória coletiva, um rastro do passado no
presente, cujo sentido é paradoxal, visto que seus anunciados científicos estarão
abertos a questionamentos, pois pertencem ao campo da probabilidade. Assim,
analisando o inventário de Basílio Estevão da Costa, estamos trilhando o rastro do
passado e suas marcas e práticas. Após o falecimento de Basílio Estevão da Costa
no dia 06 de junho de 1852 houve a partilha de uma parte dos bens, como veremos
a seguir. No inventário de nº 32 do ano de 1852 de Basílio Estevão da Costa 19, o
Coronel João Cavalcante da Matta Nunes Primeiro Suplente do Juiz Municipal e
Órfãos da Vila de Anadia, no dia 25 de Junho de 1852 mandou o oficial de Justiça
Antonio Pedro da Silva, intimar no sítio Coité a viúva Anna D’anunciação e Silva
para prestar juramento e dar a descrição aos bens deixados por seu finado marido
sob pena da Lei. Quem escreveu o referido mandato foi o Escrivão Martiniano José
Leite da Silva:

Aos vinte e oito dias do mês de Junho do anno de mil oito centos e
cincoenta e dois neste Sitio de Coite Termo da Villa de São João de Anadia
Comarca de mesmo nome Provincia das Alagoas em casa da Viuva Anna
da Anunciação Silva onde foi sendo o Primeiro Supplente de Juis Municipal
e Orghaos o Coronel João Cavalcante da Matta Munes comigo Escrivão de
seu cargo a baixo o asignado, e sendo a li presente a Viuva Anna da
Anunciação e Silva que ficou de Basilio Esteves da Costa por elle juis lhe foi
deferido o Juramento dos Santos Evangelhos em hum Livro delles em que
tocou sua mão direita de baixo do qual ele encarregou que bem fielmente
sendo ele, maliciava na sencao declarase o dia mês e anno que tinha
falicido seu finado marido se tinha feito alguma desposeçam ventamentaria,
quais seus erdeiros que lhe havião ficado que idade tinhao, e que dise a
carregação todos os bens, sem ocultar alguns de baixo da pena de perder o
direito que belles tiver pagar a dobro de sua valia, e sendo mesmo crime de
perjura. E sendo por Ella aseito seu Juramento declarou que o direito seu
Marido Basilio Esteves da Costa tinha falicido no dia seis do corrente mês e
20
anno sem testamento algum deixando oito filhos.

No mesmo dia no Sítio Coité foi nomeado para ser o Curador da mesma o
Major Antonio Thomas da Silva e Luis Carlos de Souza Barbosa para ser Curador
dos filhos herdeiros de menores e José Francisco Vieira de Sampaio para assinar
por aqueles que não sabiam ler.
__________________________
19
Inventário de nº 32 de 1852 de Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.
20
Inventário de nº 32 de 1852, p. 4-5 de Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia.
34

Entre os bens deixados por Basílio Estevão da Costa consta no inventário de


nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia, dinheiro: nada.
Ouro: sendo 03 chapas, 12 varas de cordão de ouro e 02 redomas, 02 pares de
brincos, 03 pares de argolas, prata: 01 par de argolas, 03 pentes, 16 colheres,
5garfos e 01 par de estribos, cobre: 02 tachos, Ferro: 11 enxadas, 15 chocalhos, 08
foices e 02 machados, Móveis: 03 engenhos de descaroçar algodão, 01 prensa de
sacar lã, 01 aviamento de fazer farinha e 01 mesa grande com duas gavetas, Gado
Vacum: 76 vacas, 09 novilhas, 27 garrotes, 17 bezerras, 03 novilhas e 11 bezerros,
Animais Cavalares: 05 cavalos, 02 poltros, 04 animais fêmeas e 01 poltra, Escravos:
42, Bens de Raízes: 02 casas de telha e taipa no sítio Coité,01 casa de telha e taipa
no mesmo sítio que servia para prensa, 01 casa de telha e taipa no mesmo sítio que
servia para aviamento de fazer farinha, 05 senzalas de telha e taipa, 01 casa de
telha e taipa na Povoação de Limoeiro, 01 casa de telha e taipa na Vila de Anadia,
01 sítio denominado Coité, 02 parte de terra no sítio Riacho do Sertão, 01 parte de
terra na Povoação de Limoeiro, 01 parte de terras nas partes secas, 01 sítio
denominado Recreio, 36 pares de Coqueiros. Vale ressaltar que na folha de nº. 48
versos do dito inventário, consta 07 senzalas invés de 05.

Os dados citados não podem servir para demonstração de fontes ou


simplesmente para acumular, elas precisam ser questionadas e problematizadas,
interligá-las com a memória de seus moradores, costumes e traços presentes.
Segundo Reis (2011):

O acúmulo de fatos não acrescenta nada à ciência social. O historiador


colecionador deve ser superado, pois não é cientista. Era preciso libertar a
história do historiador tradicional e fazer uma história que interessasse o
presente, uma “história teorizante”, problemática e não uma “história
23
historiozante”, automática (SIMIAND,2003 Apud REIS, 2011,13.)

Os documentos e detalhamentos dos inventários contidos nesse trabalho


serão objetos de análise na página 35 para melhor aprofundamento, pois não
estamos discutindo apenas dados, e sim, traços de um passado, de um contexto
social, que não pode ser questionado de forma passiva.

__________________________
21
Disponível em:
<http://revistadeteoria.historia.ufg.br/uploads/114/original_Artigo%201,%20REIS.pdf?1325192313.>
Acesso em: 29 de janeiro de 2014.
35

Para Febvre (1989) a “História ciência do Homem, e então os factos. Sim:


mas são factos humanos; tarefa do historiador: encontrar os homens que os viveram
e deles os que mais tarde aí se instalaram com suas ideias, para os interpretar”.
(FEBVRE, 1989,24).

O detalhamento dos bens de Basílio Estevão da Costa antes de ser fonte


primária, surge de forma oculta e não escrita as ações humanas, mão de obra
escrava, possivelmente a mão de obra indígena na obtenção dos mesmos. A
quantidade de bens das famílias patriarcais caracteriza sua posição social, política,
econômica, como também elementos para o entendimento socio-cultural de Coité do
Nóia.

A partilha dos bens de Basílio Estevão da Costa foi dividida a partir do


juramento da inventariante, a viúva Anna da Anunciação e Silva, e entendimento do
Juiz Municipal, o Coronel João Cavalcante da Matta Munes e dos partidores
Domingos da Silva Dias e José Francisco Vieira de Sampaio.

Acharão o Juis os Partidores que domadas estas nove quantias todas


reunidas emportavão na quantia de quatorze contos oito centos e setenta e
sete mil reis que sai fira a margem. Acharão que dividida esta quantia por
duas partes e quais vinha caber cada hum a quantia de digo vinha a caber a
Macão da Viuva inventariante cabeça de casal a quantia de sete contos
quatro centos e trinta e oito mil reis que sai fira amargem digo e trinta e oito
mil e quinhentos reis que daí amargem Acharão Juis e os Partidores que
dividido so a outra metade em outra parte iquais por serem dito filhos vinha
a pertencer a cada hum de sua legitima a quantia de nove contos vinte e
22
nove mil oito centos e dose reis que daí fera a amargem.

Conforme se observa no detalhamento dos bens deixado pelo falecido, no


inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia,
evidencia o destaque que Basílio tinha no seio das elites agrárias e sua posição
social. O mesmo possuía em prata a quantia de 54$600 (cinquenta e quatro mil e
seiscentos réis) em obras de cobre a quantia de 16$000 (dezesseis mil réis) em
obras de ferro a quantia de 16$200 (dezesseis mil e duzentos réis) em bens móveis
a quantia de 49#000 (quarenta e nove mil réis) em Gado a quantia de 1:663$000
(um conto seiscentos e sessenta e três mil réis).

______________________________________
22
Inventário de nº. 32 de 1852 – Basílio Estevão da Costa, p.45 Cartório do Único Oficio de Limoeiro
de Anadia.
36

Em Animais Cavalares a quantia de 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis),


Bens de Raízes a quantia de 1:466$000 (um conto quatrocentos e sessenta e seis
mil réis). O total dos valores dos escravos descritos neste Inventário foi de
11:530$000 (onze contos quinhentos e trinta mil réis). Para a sustentação de um
patrimônio desse tamanho era preciso possuir muita mão de obra, o que fica
evidente na quantidade de escravos do mesmo.

Podemos analisar o tamanho da importância da mão de obra escrava, quanto


mais animais e produção, mais escravos era preciso para derrubar as matas abrindo
espaço para a preparação da terra e plantação de pastagens para alimentação dos
mesmos, cuidados rotineiros dos roçados de mandioca e algodão, como nos
trabalhos internos dentro das casas de farinha e nos engenhos de descaroçar
algodão.

No Sítio Coité além das 7 senzalas pertencente a Basílio Estevão da Costa


existia mais 04 casas de telha e taipa do mesmo proprietário. Ao analisarmos
inventários de outros moradores do Sítio Coité não foi mencionada a existência de
outras senzalas, o que evidencia que os escravos que trabalhavam nos roçados de
Antonio da Exaltação Maia, do Capitão Antonio Sebastião da Silva e do Major
Antonio Thomas da Silva dormiam nas senzalas de Basílio ou nas casas de farinha
e nos engenhos de descaroçar algodão dos mesmos proprietários, juntos eles
tinham 88 escravos. Algo que aproxima esses moradores era o grau de parentesco,
pois Antonio da Exaltação Maia era irmão de Basílio e os demais eram primos.
37

TABELA I – RELAÇÃO DE ESCRAVOS DE BASÍLIO ESTEVÃO DA COSTA

Nº. NOMES COR IDADE VALOR NAÇÃO FILIAÇÃO


1 Alexandre - 50 anos 400$000 - -
2 Antonio Joaquim - 40 anos 400$000 Angola -
3 Luiz - 40 anos 400$000 Angola -
4 Joaquim - - 400$000 Angola -
5 Pedro - - 400$000 Angola -
6 José - - 400$000 Angola -
7 Francisco - 40 anos 400$000 Angola -
8 Martinho Criolo 40 anos 400$000 - -
9 Raimundo - 15 anos 400$000 - -
10 João Beirada - 60 anos 150$000 - -
11 Domingos Criolo 10 anos 300$000 - Luiza
12 João - 9 anos 300$000 - Luiza
13 Miguel Criolo 8 anos 250$000 - Luiza
14 Vicente - 5 anos 150$000 - Luiza
15 Jacinto Criolo 3 anos 100$000 - Luiza
16 Francisca - 8 anos 250$000 - Luiza
17 Manoel Criolo 9 anos 300$000 - Thereza
18 André Criolo 9 anos 300$000 - Thereza
19 Estevão Criolo 5 anos 150$000 - Thereza
20 Benedito Criolo 5 anos 150$000 - Thereza
21 Antonio - 2 anos 80$000 - Thereza
22 Matilde - 8 anos 250$000 - Thereza
23 Luiza - 12 anos 400$000 - Thereza
24 José - 10 anos 300$000 - Alexandrina
25 Bernardino Mulato 16 anos 200$000 - Alexandrina
26 Adeadato Criolo 6 anos 200$000 - Cartarina
27 Sebastião Criolo 5 anos 200$000 - Cartarina
28 Gonçalo Criolo 5 anos 150$000 - Cartarina
29 Antonio Criolo 3 anos 100$000 - Cartarina
30 Cacimiro - 2 anos 60$000 - Cartarina
31 Madalena - 4 meses 50$000 - Cartarina
32 Manoel Criolo 5 anos 150$000 - Pastora
33 Martinho - 1 ano 60$000 - Pastora
34 Marina Luiza - 50 anos 200$000 Angola -
35 Thereza Criola 40 anos 280$000 - -
36 Pastora Criola 28 anos 400$000 - -
37 Cartarina - 25 anos 400$000 Angola -
38 Alexandrina - 28 anos 400$000 - -
39 Izabel Criola 16 anos 400$000 - -
40 Luiza - 30 anos 400$000 Angola -
41 Antonia - 36 anos 250$000 - -
42 Joanna - 6 anos 200$000 - -
Fonte: Inventário de nº 32 de 1852 – Basílio Estevão da Costa. Cartório do Único Ofício de Limoeiro
de Anadia.
38

A tabela traz algumas informações que merecem destaque. A primeira é


quantidade de escravos do Sr. Basílio Estevão da Costa. A segunda é a quantidade
de filhos que tiveram as escravas Pastora, Cartarina, Alexandrina, Thereza e Luiza.
As cinco mais os filhos somam 28 escravos dos 42 tabelados. O que caracteriza o
estímulo à procriação para, na visão do senhor, aumentar seu “rebanho”. Todos os
escravos eram solteiros. A relação de escravos do casal constitui como parte
integrada a sua posição social na Província de Alagoas, pois quanto mais escravos
o senhor possuía mais privilégios ele detinha. Precisa ser pesquisado sobre sua
participação na política local, quanto à participação de seus filhos na povoação de
Limoeiro, do qual o Sítio Coité estava policiado e na Vila de Anadia.

Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de


Limoeiro de Anadia, que depois do falecimento de Basílio a Inventariante e viúva
Dona Anna D’Anunciação e Silva ficou com um montante de 7:438#500 (sete
contos, quatrocentos e trinta e oito mil e quinhentos réis) dos 42 escravos ela ficou
com 17 são eles: Alexandre, Antonio Joaquim, Luis, Joaquim, José, Martinho criolo,
João Beirada, João, Moleque Martinho, Maria Luisa, Thereza, Pastora, Catharina,
Alexandrina, Luisa, Antonia e Madalena. Entre os bens de raízes: 03 casas de telha
e taipa no sítio Coité, sendo uma de morada, uma para servir para prensa e a outra
onde se acha depositado o aviamento de farinha. Deram-lhe mais as partilhas para
este pagamento, 07 (sete) senzalas de telhas e taipa no mesmo sítio. Deram-lhe
mais as partilhas para este pagamento no valor do sitio Coité a quantia de 558#000
(quinhentos e cinquenta e oito mil réis) uma parte no sítio denominado Riacho do
sertão com casa de telha e taipa, uma parte de terras na Povoação de Limoeiro e
outra parte das terras Pastos Secos.

Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de


Limoeiro de Anadia, que o herdeiro Manoel Joaquim da Costa recebeu a quantia
929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os
Partidores para este pagamento 03 escravos: André, com idade de nove anos filho
da escrava Thereza, Joanna, com idade de seis anos e Miguel, com idade de oito
anos, filho da escrava Luiza, recebeu das terras do sítio Coité a quantia de 60$250
39

(sessenta mil duzentos e cinquenta réis) das terras parte seca a quantia de 3$500
(três mil e quinhentos réis) e uma novilha.

Consta no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de


Limoeiro de Anadia que o herdeiro José Joaquim da Costa e Silva recebeu a quantia
de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe
mais os Partidores para este pagamento no sítio Recreio 36 (trinta e seis) pés de
Coqueiros. O Poldro alazão, duas vacas parideiras, uma novilha, terras do Limoeiro,
uma bezerra, uma novilha e partes das terras da parte seca.

A herdeira Maria da Conceição do Patrocínio recebeu a quantia de 929$750


(novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe mais os
Partidores para este pagamento, 03 escravos: Luiza com idade de 12 anos, filha de
Thereza, Moleque Adeodato, com idade de 06 anos filho de Catharina, Moleque
Jacinto, com idade de 03 anos, filho de Luiza. Deram mais os Partidores para este
pagamento das terras do sítio Coité a quantia de 60#250 (sessenta mil duzentos e
cinquenta réis), das terras pastos seco, terras da povoação de Limoeiro, duas varas
de cordão de ouro, onze oitavas e meia, um par de brincos com duas oitavas, uma
moeda de 6$400 (seis mil e quatro centos réis), quinhão da casa da Vila de Anadia,
06 vacas parideiras, conforme o inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único
Ofício de Limoeiro de Anadia.

Conforme o mesmo inventário, a herdeira Anna Izabel da Costa recebeu a


quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis).
Deram-lhe os Partidores para este pagamento os escravos: Moleque Domingos com
idade de 10 anos, filho de Luisa, Izabel com idade de 16 anos e o Moleque Gonçalo,
com idade de 05 anos, filho Catharina. Recebeu das terras do sítio Coité a quantia
de 10$250 (dez mil duzentos e cinquenta réis), terras na Povoação de Limoeiro,
terras Pastos Seco, quatro vacas parideiras e um bezerro.

O herdeiro Raimundo Esteves da Costa recebeu a quantia de 929$750


(novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores
para este pagamento os escravos: Francisco de Angola, com idade de 40 anos,
Moleque Vicente, com idade de 05 anos, filho de Luisa e o Moleque Cacimiro, com
40

idade de 02 anos, filho da escrava Catharina. Deram-lhe mais os Partidores para


este pagamento na terra do sítio Coité, terras da Povoação de Limoeiro, uma casa
de telha e taipa no sítio Coité, uma égua castanha, 06 vacas parideiras, 05 garrotas,
uma novilha, quatro garrotes, uma novilha, 01 poltro castanho e 04 bezerros,
informações contidas no inventário de nº. 32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia.

No mesmo inventário consta que a herdeira Josefa Maria da Conceição


recebeu a quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e
cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores para este pagamento os escravos: Moleque
Manoel, com idade de 09 anos, filho de Thereza, Moleca Francisca, com idade de 08
anos, filha de Luisa e o Moleque Sebastião com idade de 05 anos, filho de
Catharina. Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento nas terras de Coité,
terras na Povoação de Limoeiro, duas varas de cordão de ouro com doze oitavas,
uma redoma de ouro fechada, um par de argolas de ouro, 03 vacas parideiras e
partes das terras no Sítio Pastos Seco.

O herdeiro Antonio recebeu a quantia de 929$750 (novecentos e vinte e nove


mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os Partidores para este pagamento os
escravos: Bernardino com idade de 05 anos, filho da escrava Alexandrina, Estevão
com idade de 05 anos, filho de Thereza e Pedro de Angola, com idade de 22 anos.
Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento nas terras do sítio Coité, terras
na Povoação de Limoeiro, terras dos Pastos Seco, 04 vacas parideiras, uma poldra
castanha, quatro bezerras, duas novilhas e um bezerro. Conforme o inventário de nº.
32 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

No mesmo inventário consta que o herdeiro Francisco recebeu a quantia de


929$750 (novecentos e vinte e nove mil setecentos e cinquenta réis). Deram-lhe os
Partidores para este pagamento os escravos: José, com idade de dez anos, filho de
Alexandrina, Manoel com idade de cinco anos, filho de Pastora, Benedito com idade
de cinco anos, filho de Thereza e Antonio, com idade de dois anos, filho da escrava
Thereza. Deram-lhe mais os Partidores para este pagamento partes das terras do
Sitio Coité, terras na Povoação de Limoeiro, casa da povoação de Limoeiro, e terras
dos Pastos secos, seis vacas parideiras, uma égua, quatro bezerros e uma bezerra.
41

Mesmo tendo acontecido essa partilha em 1852, 07 anos depois existiu uma
divergência da qual foi dado entrada em uma ação judicial tendo a viúva Anna
D’Anunciação e Silva como requerente contra seu genro Pedro Dias da Silva Reis,
Antonio Thomas da Silva e suas mulheres e o Antonio Thomaz da Silva, filho do
mesmo. No dia 29 de novembro de 1859 foi nomeado o Doutor Serapião Euzebio
d’Asumpção para ser procurador da viúva e o Professor Ignacio da Silva Moraes
nomeado procurador de Pedro Dias da Silva Reis e de sua mulher Josefa Francisca
da Costa. Podemos compreender melhor o andamento desse processo de nome
Ação Força Nova nº 05 do ano de 1859, ação essa realizada na Vila de Anadia a
seguir:

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oito centos e


cincoenta e nove, aos seis dias do mez de Dezembro do dito anno nesta
Villa de Anadia Comarca de mesmo nome Provincia das Alagõas em
audiencia publica que fazia o Juis Municipal suplente o Capitão Manoel
Teixeira Leite com a sistencia de mim escrivão Castro Jatubá i o Porteiro
interino Carvalho, nella depois de haberta com as formalidades do estilo
compareceu o Doutor Serapião Euzebio d’Asumpção na qualidade de
procurador bastante de Dona Anna d’Anunciação Silva pediu a palavra e
disse, que como parte de sua constituinte trazia citados, para a presente
audiencia a [sic] Pedro Dias da Silva Reis e sua mulher, Antonio Thomas da
Silva e sua mulher, e Antonio Thomas da Silva Filho afim de falarem a
acção de força nova, que lhe move e accuzava a citação e embargo feito
contra os mesmos réos, e requeria que fossem apresados, e não
comparecendo por si ou procurador, se tivesse a acção nova por proposta
e a Embargo por acuzado arevelia dos mesmos, assim como que se
concedese aos réos um termo para deduzirem a sua defeza e satisfazendo
o porteiro de sua fé detem comparecido os réos por seu procurador o
Professor Ignacio da Silva Moraes, e por este foi dito nada requeria por ter
alcançada vista da mesma citação e embargo, o que visto e ouvido pelo dito
Juis e informado dos termos da cauza de mim escrivão deferio o
requerimento do autor. E para constar fis Ester Termo por te tomada no
Protocolo das audiencias, ao qual me reposto em meu puder e cartório. Eu
José Vicente de Castro Jatubá escrivão descrevi digo e cartorio, no qual
junto a petição inicial, mandado, Procuração bastante de compra de terras
23
que adiante seve. Eu José Vicente de Castro Jatubá escrivão escrevi.

Anna D’anunciação e Silva ficou com a parte norte região denominada


Mumbuca24 e os filhos e genros com a parte sul, seu genro Pedro Dias da Silva Reis
concedeu uma parte de terra do sítio Coité ao seu cunhando o Major Antonio
Thomaz da Silva e ao seu filho.

__________________________
23
Ação Força Nova, nº. 05 de 1859, p.1. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
24
Idem, p.34
42

Segundo Anna d’Anunciação e Silva complementa “moradores no m mo citio


Coité, e comessarão a brocar um pedaço de matta virgem, que fica dentro da
comprenhensão da posse da suppe. por ficar sua estrema do lado do norte.”25
A mesma ainda diz que era possuidora da meação do dito sítio há mais de 20
anos sem interrupção, desde o falecimento de Basílio Estevão da Costa. Como
veremos a seguir:

Dis D.Anna d’Anunciação Silva, moradora no citio Coite deste Termo, e que
esmo to
ella é senhora e possuidora da meiação deste m citio por fallecimen de
seo marido Basilio Estevão da Costa, e da qual está de posse ha mais de
vinte annos sem interrupção, ou constrangemento de pessoa alguma; a qual
posse fica no lado do Norte do referido “sic” Coité, como todos os herdeiros
são sabedores, tanto que a te o prezente e tem respeitado, e são concordes
te
em affimar esta verdade; agora porem acontece que em principio do corr
a e
mez, seo genro Pedro Dias da S Reis, por odio que vota a supp. , e pelo
e
seu genro ambiciozo e turbulento, e com o fim de esbulhar a supp. da sua
já refferida posse tractou de faser uma broca em uma matta virgem, que fica
dentro da comprehenção da posse da supp.e não satisfeito com este
e
procedimento injusto, e violento concedeo faculd. a seo cunhado Antonio
a o a
Thomas da S , e a um f deste do mesmo nome, isto Antonio Thomas da S ,
a a me
p . trabalharem em dita matta de manr . que estes de no. modo abrirão
dous grande rossados reunidos ao do seo citado genro, vindo assim a ficar
e
as rossas e serviços da supp . rodeados pelos dos supplicados, e dentro
d’um circulo, donde não pode mais [sic] fazendo-lhe assim uma verdadeira
força, e estu lhe, e perturbando-a, sem [sic] de que a suppe. sempre esteve
na posse deste logar: ora, como a sppe. Tenha certeza do amparo, que as
26
lei dão ao possuidor.

Na fala da viúva o motivo de tal acontecimento partiu do sentimento de ódio


de Pedro Dias, do qual a chama de ambicioso e turbulento, complementa que a
atitude de conceder terras ao Major Antonio Thomas era injusta e violenta. Pois os
mesmos já tinham feitos dois grandes roçados. Mas, podemos analisar que a briga
não se resumia em sentimento de ódio, mas, no interesse de posse das terras por
ela ser boa para agricultura, dentre outros fatores, como pela existência de várias
nascentes e dos riachos do Coité e Cabaços.

No dia 29 de Novembro de 1859, o Capitão Manoel Teixeira Leite, Juiz


Municipal e Delegado de Policia da Vila de Anadia, mandou o escrivão José Vicente
de Castro Jatubá escrever uma petição e por ele rubricado para que a mesma fosse
entregue a qualquer oficial de Justiça daquela jurisdição para ir até o sítio Coité inti-
_____________________
25
Ação de Força Nova, nº. 05 de 1859, p.05. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
26
Idem, p.02.
43

mar Pedro Dias da Silva Reis, e sua mulher, Antonio Thomas da Silva e sua mulher
e Antonio Thomas da Silva, filho, afim de que abrissem mão das terras em que se
achavam brocando no sítio Coité. O genro Pedro Dias contesta dizendo que “todo o
danno q possa receber q tal procedimto, visto q já na da. derruba tem empregado
quatrocentos dias de serviços – em q tem gasto 400#000 rs quatrocentos mil reis.” 27

Pedro Dias da Silva Reis anexou ao processo uma contestação contra Anna
d’Anunciação Silva, contendo cinco alegações defendidas pelo Procurador dos
contestantes Ignacio da Silva Moraes. Como observa-se.

P.P q é menos exacto q as terras do sitio Coité [...] fossem em tempo


r
algum divididas, e maximo depois da morte e partilhas dos bens d’este, e q
a
cuja demarcação ficasse a A. contestada [...] ficando ella p o lado do norte,
r to mas
e os demais herdeiros q a do sul; q q . sempre nas m terras
e
intestinctam . roçarão e trabalharam não só os Constestantes como os
28
demais herdeiros e seus filhos e genros.

Assim, configura-se que não apenas o casal trabalhava nas terras do sítio
Coité como vários outros filhos da viúva e genros, a alegação caracteriza a não
divisão das terras mesmo depois da morte de Basílio Estevão da Costa.
as
P.P. q não tendo a contestada posse distincta em d terras (imbora d’ellas
r os os
meeira) q se achava em commum com todos os herdr seos f . e genros
to o m
[...] com igual dir ao de seu pai e sogro o d finado, a q . representão
m r mas ta
como se vivo fosse, e de q . houverão q legitima, nas m terras a q de
ta am
60#250 reis, como se prova q cert de partilhas junta [sic] em uma de
suas verbas – é claro q. nenhuma força e nem esbulho commetterão os
Constestantes com a roçajem q estão fasendo na propriedade de seu pai e
e
sogro, na parte q q legitima lhes tocou, e onde tem todo direito e posso
29
cível e natural –e trabalhão desde 1857.

O procurador alega que todos os filhos e genros têm direitos comuns a


respeito das ditas terras, conforme a certidão de partilha, referindo-se as partilhas do
inventário de n.132/185230 onde sua cliente Josefa Francisca da Costa ficou com
partes do sítio Coité avaliado em 60$250 (sessenta mil, duzentos e cinquenta réis), e
o mesmo procurador garante que o casal não perderá a posse de um bem que
conseguiu e valorizou.

__________________________
27
Ação de Força Nova nº. 05 de 1859, p. 09. Cartório de Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
28
Idem, p.14
29
Idem, p.14
30
Inventário nº. 132 de 1852, Anna d’Annunciação e Silva, Cartório do Único Oficio de Limoeiro de
Anadia.
44

e
P.P q sendo o solo das terras em questão bastantem . extenso – os
constestantes escolherão, ha dous annos, uma parte d’este, ao lado do
e
poente, que se achava effectivam . desocupado, na distancia de quase uma
ma
legoa da casa de sua mãi e sogra a m constestada, e ahi principiarão a
trabalhar, sem contradicção de ninguém; e só este anno, foi q a contestada,
ta
se duvidas q . ambição e máos conselhos de seus filhos, os próprios irmãos
e Cunhados dos contestantes, lembrou-se de, com falsas e frívolas
allegações, embargar a roça q estão fasendo, não obstante der esta em
e
lugar vago e effectivam . desocupado, e em grande distancia de suas lavas
31
e serviços –e assim sempre respeitadas.

Na defesa dos interesses de seus clientes Ignacio da Silva Moreira contestou


o depoimento de Anna d’Anunciação e Silva a qual se referiu que a derrubada das
matas para a preparação dos roçados fazia parte de sua propriedade, o mesmo
declarou que o solo das terras em questão é bastante extenso, onde os contestantes
vinham valorizando há dois anos uma parte de terra no poente, terra essa que se
encontrava desocupada e que a distância do roçado para a casa da viúva era de
quase meia légua, e que por ambição e maus conselhos de seus filhos, a mesma fez
contestação.
O Procurador de Anna d’Anunciação e Silva, Serapião Euzebio d’Asumpção,
relata que o próprio genro comprovou que a partir das partilhas da herança sua
esposa ficou com direito de 60$000 (sessenta mil reis) em terras do sítio Coité.
to to
que a q Pedro Dias (sic) obseva vista requerida mostrou um docum com
de
que prova ter (sic) proprie . 60# reis, o que equivalle a 60 braças de terras,
r
q que tendo toda a terra 1200 braças mais, ou menos, claro fica que regula
a mil reis cada braça, e já se vê que em 60 braças de terras não se pode
faser sem má fé um rossado em que se tem (sic) 400 dias de serviços,
mo 32
como elle m alegou.

A alegação citada comprova que o Pedro Dias tinha se apossado de mais


terras do que era de direito, pois a posse que lhe cabia era de 60 braças, visto que
cada braça tinha o valor de mil reis, e na defesa de sua cliente, o Procurador afirma
que em 60 braças de terras não de pode fazer sem má fé um roçado em que se tem
empregado 400 dias de serviços como o próprio Pedro Dias tinha alegado.

O Procurador de Pedro Dias declarou que as terras do sítio Coité eram muito
extensas e favoráveis para agricultura, e que desde muito tempo quando seu sogro
era vivo já se trabalhava nelas:
__________________________
31
Ação de Força Nova nº 05 de 1859 - Cartório de Único Oficio de Limoeiro de Anadia.
32
Idem, p.19
45

As terras (sic) do sítio Coité, são tam extenças, q. desde a muito n’ellas já
des mo
se trabalhando, e feito gr. derrubadas, no tempo do m pai e sogro,
ainda hoji tem ella um espaço tão vasto de matta, e terras proprio a
da os
agricultura, q. no espaço de oito annos, a supp . e todas os seos herd .
33
não são capazes de accabar e nem derrubarem.

Percebe-se que depois de 32 anos do recebimento do dote e da povoação do


sítio Coité, havia uma grande quantidade de mata a ser derrubada, onde o
Procurador de Pedro Dias afirma que em um espaço de oito anos, nem a viúva com
todos seus herdeiros eram capazes de acabar e nem de derrubar tais matas. O
procurador da viúva Serapião Euzebio d’Asumpção declarou que:
o
Antonio Thomas da Silva, e seo f Antonio Thomas da Sa. não possuem
o to
terras no logar em questão; que nem a J . que nenhum docum . E
comprobatorio juntarão a estes autos torna-se evidente, e claro, como a
(sic) meridiana, que a A foi agredida em sua posse de uma maneira a mais
a
injusta, e revoltante que o R. Pedro Dias da S Reis, procedeo com a maior
r
má fé, e com o fim de distruir as terras da A; á quem p odio, e pelo seo mal
34
genio, vota intriga misquinha, e disrespeito.

Mesmo depois de ter declarado tais injustiças, alegou que seu genro queria
destruir suas terras, e que o mesmo tinha uma personalidade forte, declarando que
o mesmo sentia ódio, pois todo acontecimento partia da mesquinhez e desrespeito
por parte de Pedro Dias. No dia 02 de outubro de 1860. Anna d’Anunciação e Silva
pediu desistência da ação de forma amigável e no dia 04 de novembro do dito ano o
termo de desistência foi assinado.
Aos quatro dias do mês de Novembro de mil oito centos e sessenta nesta
Villa de Anadia da Comarca de Alagõas em meu Cartorio comparecerão o
Doutor Serapião Euzebio d’Anumpção, como Procurador de Dona Anna
d’Anunciação e Silva, e Pedro Dias da Silva Reis, e por ele foi dito perante
as testemunhas abaixo que de dezestião da questão de força nova que
movem no Juizo Municipal desta Villa por houverem chegado a hum acordo
tudo na forma de suas petições, que ficão sendo parte deste termo. Eu José
Vicente de Castro Jatubá escrivão que escrevi. Pedro Dias da Silva Reis
35
Arogo Serapião Euzebio d’Assumpção.

A partilha dos bens da viúva aconteceu depois de 23 anos do falecimento de


Basílio Estevão da Costa e 16 anos depois da ação força nova movida contra Pedro
Dias da Silva Reis e sua esposa Josefa Francisca da Costa. D. Anna d’Anunciação e
Silva faleceu em 1875, ano da partilha como consta o Inventário nº. 132 de 187536.
__________________________
33
Ação de Força Nova nº 05 de 1859, p.26. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.
34
Idem, p. 41
35
Idem, p. 49
36
Inventário de nº. 132 de 1875 de Anna D’Annunciação e Silva. Cartório do Único Ofício de Limoeiro
de Anadia.
46

O Inventariante foi o herdeiro: José Joaquim da Costa e Silva. Inventário esse


realizado na Vila de Anadia na casa do Professor Nicodemo de Souza Moreira
Jobim, sendo o Juiz Municipal responsável o Doutor Tiburcio Raymundo da Silva
Tavares tendo como avaliadores e partidores o Capitão José Correia Lima e José
Lourenço da Silva Gama.

A descrição dos bens deixados pela viúva e avaliação dos mesmos, se deu
da seguinte maneira: Dinheiro: nada. Ouro: nada. Prata: nada. Cobre: nada. Móveis:
uma prensa de ensacar algodão avaliado em 40$000 (quarenta mil réis), um moinho
velho avaliado em 8$000 (oito mil réis), um armário velho avaliado em 4$000 (quatro
mil reis), um caixão velho avaliado em 2$000 (dois mil réis) e uma banca velha no
valor de 2$000 (dois mil réis). Escravos: 16, apenas a escrava Luiza era casada com
João, os demais todos solteiros. Bens de Raízes: um sítio de terras denominado
Coité, com suas benfeitorias, inclusive uma parte de terras havida por compra ao
Capitão Pedro Dias da Silva Reis, e uma casa velha de telha e taipa em que morava
sua finada mãe avaliada em 600$000 (seiscentos mil réis) e uma parte de terras na
Povoação do Limoeiro de Anadia, havida por meação no inventario de seu finado pai
Basílio Estevão da Costa avaliado em 400$000 (quatrocentos mil réis). Globalizando
um montante de 9:600$000 (nove contos, seiscentos mil réis). Conforme o inventário
de nº. 132 de 1875 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Declarou mais o inventariante a carga deste inventário que sua mãe devia a
quantia de 100$000 (cem mil réis), declarou mais o inventariante, que durante a
grave e prolongada moléstia de sua finada mãe, foi obrigado a fazer esta ordinária
despesa que reunidas as do funeral importaram na quantia de 400$000
(quatrocentos mil réis), pagou a qual depois de ouvir todos os herdeiros sobre as
contas, declarou mais o inventariante a carga deste inventário dever sua finada mãe
a Licinio Zacarias da Maia, a quantia de 300$000 (trezentos mil réis), o que sendo
ouvido por todos os herdeiros e interessado reconheceram ser exata a dívida, e
concordaram que fizesse o pagamento. Todos os herdeiros ficaram com bens
avaliados na quantia de 1:200$000 (um conto e duzentos mil réis).

Houve compradores das partes de três herdeiros, o Vigário João Luis da Silva
Reis, como comprador da legítima pertencente à herdeira Dona Josefa Francisca da
47

Costa, casada com o Capitão Pedro da Silva Reis, Manoel Francisco de Sousa
Lima, como comprador da legítima pertencente ao herdeiro Raymundo Estevão da
Costa e o Professor Nicodemos de Souza Moreira Jobim, na qualidade de
comprador da legitima pertencente ao herdeiro Antonio Basílio da Costa.

TABELA II - A RELAÇÃO DOS ESCRAVOS QUE PERTENCIAM A VIÚVA

Nº. NOMES COR IDADE VALOR NATURAL FILIAÇÃO


1 Maria velha Criola 17 550$000 - -
2 Antonia - 03 - - Maria Velha
3 Faustino Criolo 16 1:000$000 - -
4 Miguel Criolo 30 900$000 - -
5 João André Criolo 16 1:000$000 - -
6 José Pam Criolo 12 900$000 - -
7 Sebastiana Criola 11 350$000 - -
8 Simão - 10 500$000 - Órfão
9 Felicia Criola 06 250$000 - Órfão
10 Luiza - 43 100$000 Africana -
e achada
11 Feles Criolo 17 1:000$000 - -
12 José - 39 100$000 Africano -
e achado
13 Vivaldo Criolo 23 1:000$000 -
14 Angela Criola 14 550$000 - Pais libertos
15 Antonio Criolo 11 600$000 - -
16 Filippe Criolo 19 1:000$000 - -
Fonte: Inventário de nº. 132 de 1875 – Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Entre os 16 escravos da viúva podemos observar que Luiza de 43 anos e


José eram africanos e achados. Pelo o fato de terem sidos achados seus valores
são muito inferiores comparados aos demais, outro ponto que chama atenção é o
caso da escrava Ângela de 14 anos onde mostra que seus pais em 1875 já se
encontravam libertos, 13 anos antes da Lei áurea ser decretada. Essa pesquisa
mostra também a importância do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia no
estudo histórico principalmente das cidades do agreste alagoano que politicamente
pertenciam a Limoeiro de Anadia. Segundo Bloch (2002):
Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as
máquinas,] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as
instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são
os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será
apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se
parece com o agro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a
sua caça. (MARC BLOCH, 2002, p.54)
48

O trabalho do historiador em ter que buscar indícios, provas e testemunhas,


nada mais é que um estudo sobre a história do próprio homem, o ser social. Essas
análises do passado refletem no presente, as suas transformações e indagações
servem para avaliar os significados do passado em relação à atualidade. Podemos
dizer que esse trabalho se torna uma introdução sobre a historiografia da cidade de
Coité do Nóia. A partir do olhar da nova história, podemos problematizar e criar
hipóteses sobre os fatos.
CAPITULO III

DOS INVENTÁRIOS DE OUTRAS FAMÍLIAS DO SÍTIO COITÉ NO SÉCULO


XIX À AUDIÊNCIA CIVIL Nº. 27 DE 1877.

No Sítio Coité, além da família de Basílio Estevão da Costa existiam outros


moradores, netos e bisnetos do Capitão Antonio Rodrigues da Silva fundador de
Limoeiro de Anadia, Basílio Estevão da Costa e Antonio da Exaltação Maia eram
filhos do Capitão Manoel Francisco da Silva. O Major Antonio Thomas da Silva e o
Capitão Manoel Sebastião das Silva eram filhos de Pedro Vital da Silva fundador do
Sítio Brejo, irmãos dos padres Pedro Vital da Silva e Francisco Vital da Silva, netos
do Capitão Pedro da Silva Dias, esse irmão do Capitão Manoel Francisco da Silva. A
partir da conjuntura familiar mencionada, há indícios que o Sítio Coité além de ter
sido uma região estratégica economicamente para a Freguesia de Limoeiro e Vila de
Anadia, possivelmente contava com representação no campo político. O que
evidencia isto é que o Sítio Coité contava com certa organização de produção, e
nesse período dificilmente desassociava o poder econômico do poder político.

Antonio da Exaltação Maia casado com Dona Maria da Conceição Silva se


estabeleceram na região do sítio Coité, ele falecido no dia 22 de dezembro de 1856
e ela no dia 02 de janeiro de 1857. O casal construiu uma família de 07 filhos, foram
eles: 1ª- Thereza Maria de Jesus, casada com Antonio Rimualdo da Silva por ela
representa seus filhos: 1º - Filismino, Emancipado com idade de 11 anos, 2º - Jose
com 10 anos, 3º - Antonio com 09 anos e 4º - Honorato com 08 anos; 2º – Licínio
Zacarias da Maia, casado com Maria do Patrocínio “filha de Basílio Estevão da
Costa” – primos; 3º - Alferes Demétrio Jacomet da Maia, aos 24 anos; 4º – Antonio
Rodrigues Zumba; 5ª – Anna Felícia do Bonfim, casada aos 18 anos com José
Fernando Dias Piaba; 6ª – Idalina Roza da Silva, casada aos 16 anos com Manoel
Joaquim de Medeiros; 7ª – Severiana Matildes da Costa, casada com 12 anos.

Conforme observa-se o inventário de nº. 86 de 1856, no dia 16 de abril do


corrente ano seu filho Licínio Zacarias da Maia presta juramento dos bens deixados
por seus pais, ato esse realizado na casa de aposentadoria do Doutor Juiz Municipal
50

e Órfão Rozendo Cesar de Goes, tendo como escrivão Martiniano José Leite da
Silva, como veremos a seguir:
Aos deseseis dias do mes de Abril do anno de mil oito centos e cinco enta e
seis nesta Povoação de Limoeiro Termo da Villa de Anadia Comarca do
mesmo nome Provincia das Alagoas em caza d’aposentadoria do Doutor
Juis Municipal e Orphãos Rozendo Cesar de Goes onde fui vendo eu
Escrivão de seu cargo abaixo asignado, e sendo a hi presente Licinio
Zacarias da Maia inventariante nomeado foi pelo Juis lhe deferido o
juramento dos Santos Evangelhos em um Livro delles em qui tocou sua
mão direita sob carga do qual lhe encarregou que bem fielmente sem [sic]
malicia ou má tenção declarase o dia mês e anno em que havia fallecido
seus pais Antonio da Exaltação Maia, e Maria da Conceição e Silva se com
testamento ou sem elle, quantos filhos tinha deixado seus nomes e idades e
que dise a carregação do inventario os bens por elles deixados sem ocultar
algum sob pena de perder o direito que nelles tiver pagar o dobro de sua
valia e incomesmo crime de perjuro e sendo por elle aseito seu juramento
declarou que seu pai Antonio da Exaltação Maia senhor fallecido no dia
vinte e dois de Dezembro do anno proximo pasado, e que sua mai Maria da
Conceição e Silva no dia dois de Janeiro deste anno sem testamento
deixado sete herdeiros [...] constar mandou o dito Juis faser este termo que
asignou Eu Martiniano Joze Leite da Silva Escrivão. Licinio Zacarias da
37
Maia.

Aos 16 dias do mês de Abril do ano de 1856, na povoação de Limoeiro Termo


da Vila de São João de Anadia, Comarca de mesmo nome, Província das Alagoas,
em casa de aposentadoria do Doutor Juiz Municipal e Órfão Rozendo Cezar de
Goes foi apresentado o Inventariante Licínio Zacarias da Maia e o louvado Manoel
Joaquim Villela, foi dado à descrição e feito às avaliações a seguir.

Dinheiro: nada. Ouro: uma vara e meia de cordão de ouro com o peso de seis
oitavas 15$000 (quinze mil réis), uma moeda de ouro de seis mil e quatro centos réis
21$000 (vinte e um mil réis), um par de brincos com o peso de uma e meia oitavas
3$750 (três mil setecentos e cinquenta réis), uma vara e um palmo de cordão com o
peso de cinco oitavas 12$500 (doze mil quinhentos réis), uma vara de cordão com o
peso de quatro oitavas e meia 11$250 (onze mil duzentos e cinquenta réis), um par
de brincos com o peso de uma oitava 2$500 (dois mil e quinhentos réis) e uma
redoma grande com o peso de seis oitavas 15$625 (quinze mil seiscentos e vinte e
cinco réis). Conforme o Inventário de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia.

__________________________
37
Inventário nº. 86 de 1856, Antonio da Exaltação Maia, p.3. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia
51

Prata: 04 colheres com o peso de cinquenta oitavas 8$000 (oito mil réis) e 04
garfos com o peso de quarenta oitavas 7$360 (sete mil trezentos e sessenta réis).
Cobre: 01 tacho com o peso de dez libras 8$000 (oito mil réis), 01 tacho com o peso
de oito libras 6$400 (seis mil e quatrocentos réis), 01 tacho com o peso de seis libras
4$800 (quatro mil e oitocentos réis) e duas bacias de cobre 4$000 (quatro mil réis).
Móveis: 01 aviamento de fazer farinha com casa de telha 16$000 (dezesseis mil
réis), 02 Engenhos de descaroçar algodão 12$000 (doze mil réis), uma prensa de
ensacar 10$000 (dez mil réis), 01 moinho 8$000 (oito mil réis), 05 mesas 10$000
(dez mil réis), 12 cadeiras de pau envernizada de amarelo 12$000 (doze mil réis), a
cama de armação em bom estado 16$000 (dezesseis mil réis), uma frasqueira
8#000 (oito mil réis) e uma cama de armação ordinária 8$000 (oito mil réis).
Conforme o Inventário de nº 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.
Gado: 04 vacas solteiras 64$000 (sessenta e quatro mil reis), 17 vacas
paridas 340$000 (trezentos e quarenta mil réis), 05 novilhas 60$000 (sessenta mil
réis), 05 garrotes 40$000 (quarenta mil réis) e 06 garrotas 48$000 (quarenta e oito
mil réis). Cavalos: 01 Cavalo russo velho 10$000 (dez mil réis), 01 Cavalo castanho
novo 30$000 (trinta mil réis) e 01 cavalo castanho novato 30$000 (trinta mil réis).
Bens de raízes: 850 braças de terras no sítio Coité com fruteiras tendo seu valor de
850$000 (oitocentos e cinquenta mil réis), terra nova no valor de 4$800 (quatro mil
oitocentos réis), terras no sitio Goitizeiro – herança 28$000 (vinte e oito mil réis),
terra no sitio pastos secos – herança 30$000 (trinta mil réis) e três moradas de
casas nesta Povoação de Limoeiro 150$000 (cento e cinquenta mil réis). Possuidor
de 10 escravos todos solteiros avaliados em 2:400$000 (dois contos e quatrocentos
mil réis). Conforme o Inventário de nº 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia.

Observa-se que na descrição dos bens deixado por Antonio da Exaltação


Maia não consta nenhuma senzala, evidencia que seus escravos eram distribuídos
entre as senzalas de seu irmão Basílio Estevão da Costa, ou os mesmos dormiam
em casas de farinha ou nos engenhos de descaroçar algodão.
52

TABELA III - RELAÇÃO DOS ESCRAVOS PERTENCENTES A ANTONIO DA


EXALTAÇÃO MAIA

Nº NOMES COR IDADE VALOR NATURAL FILIAÇÃO


1 Francisco Criolo 70 50$000 - -
2 Roberto Mulato 30 450$000 - -
3 Joaquim - - 300$000 Angola -
4 Antonio - - 200$000 - -
5 Thereza Mulata 50 300$000 - -
6 Luis Mulato 12 250$000 - Julia
7 João Mulato 10 250$000 - Julia
8 Manoel Criolo 4 200$000 - Deonisia
9 Joseffa - - 250$000 - Roza
10 Sebastião - 2 150$000 - Catharina
Fonte: inventário de nº. 86 de 1856 de Antonio da Exaltação Maia. Cartório do Único Ofício
de Limoeiro de Anadia.

Podemos observar na tabela acima a discrepância do valor do escravo mais


velho Francisco de 70 anos com o valor do escravo Sebastião de 02 anos, o que
caracteriza que a compra e venda de escravo tinha entre alguns critérios a idade.
Outros pontos que merecem destaque é o fato de separação entre mães e filhos,
onde o escravo Luis de 12 anos e João de 10 foram separados se sua mãe Julia,
como também Sebastião já citado, sendo esse o mais novo entre os escravos.

Conforme o inventário de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de


Limoeiro de Anadia foram feito o pagamento aos herdeiros Filismino, José, Antonio,
Honorato ambos os Filhos da finada herdeira Theresa Maria de Jesus a quantia de
170$249 cada, (cento e setenta mil duzentos e quarenta e nova réis) desse valor ele
recebeu das terras do Coité a quantia de 18$749 cada, (dezoito mil setecentos e
quarenta e nove réis). Filismino recebeu do dote de sua mãe a quantia de 115$000
(cento e quinze mil réis), uma vaca solteira no valor de 16$000 (dezesseis mil réis),
uma novilha no valor de 12$000 (doze mil réis), um garrote no valor de 8$000 (oito
mil réis), recebeu da terra de Coité a quantia de 18$749 (dezoito mil setecentos e
quarenta e nove mil réis).

O herdeiro José recebeu do dote de sua finada mãe a quantia de 115$500


(cento e quinze mil e quinhentos réis), uma vaca solteira no valor de 16$000
(dezesseis mil réis), uma novilha no valor de 12$000 (doze mil réis), um garrote no
53

valor de 8$000 (oito mil réis) e recebeu a quantia de 18$749 (dezoito mil setecentos
e quarenta e nove réis) no valor das terras do Coité, informações contidas no
inventário de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Consta no mesmo inventário que o herdeiro Antonio recebeu do dote de sua


finada mãe o valor de 115$500 (cento e quinze mil e quinhentos réis), recebeu uma
vaca solteira no valor de 16$000 (dezesseis mil réis), uma novilha no valor de
12$000 (doze mil réis), um garrote no valor de 8$000 (oito mil réis) e recebeu no
valor da terra do Coité a quantia de 18$749 (dezoito mil setecentos e quarenta e
nove réis).

O herdeiro Licínio Zacarias da Maia recebeu a quantia total de 680$997


(seiscentos e oitenta mil novecentos e noventa e sete réis), ficou com o um Engenho
de descaroçar algodão avaliado em 6$000 (seis mil réis), uma mesa no valor de
2$000 (dois mil réis), três vacas paridas avaliadas em 60$000 (sessenta mil réis), um
cavalo castanho no valor de 30$000 (trinta mil réis), o escravo por nome de Roberto
avaliado em 450$000 (quatrocentos e cinquenta mil réis) e parte da escrava Thereza
no valor de 50$000 (cinquenta mil réis), recebeu 4$666 (quatro mil seiscentos e
sessenta e seis réis) pelas terras do Oitizeiro, recebeu 7$500 (sete mil quinhentos
réis) pelas terras dos pastos secos e recebeu para este pagamento no valor das
terras e benfeitorias na terra de Coité a quantia de 70$837 (setenta mil oitocentos e
trinta e sete réis), conforme o inventário de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único
Ofício de Limoeiro de Anadia.

Consta no mesmo inventário que o herdeiro Demetrio Jacome de Araujo


recebeu a quantia total de 680$997 (seiscentos e oitenta mil novecentos e noventa e
sete réis), ficou com a casa e aviamento de farinha no sitio Coité avaliados em
16$000 (dezesseis mil réis), três vacas paridas avaliadas em 60$000 (sessenta mil
réis), um moinho no valor de 8$000 (oito mil réis), uma oleadas de amarelo
avaliadas em 4$000 (quatro mil réis) uma mesa avaliada em 2$000 (dois mil réis),
quatro cadeiras de pau, o escravo Lucio avaliado em 250$000 (duzentos e cinquenta
mil réis) e parte da escrava Thereza no valor de 50$000 (cinquenta mil réis), um
cavalo avaliado em 30$000 (trinta mil réis), recebeu a quantia de 4$666 (quatro mil,
seiscentos e sessenta e seis réis) pelas terras do Oitizeiro, 7$500 (sete mil e
54

quinhentos réis) pelas terras dos Pastos Secos e uma morada de casa no Limoeiro
avaliada em 50$000 (cinquenta mil réis) e o valor de 148$831 (cento e quarenta e
oito mil oitocentos e trinta e um réis) pelas benfeitorias e terras do sítio Coité.
Conforme o inventário de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.

O herdeiro Antonio Rodrigues Zumba recebeu a quantia total de 680$997


(seiscentos e oitenta mil novecentos e noventa e sete réis), ficou com três vacas
paridas avaliadas em 60$000 (sessenta mil réis), um Engenho de descaroçar
algodão avaliado em 6$000 (seis mil réis), uma prensa de ensacar lã no valor de
10$000 (dez mil réis), uma mesa avaliada em 2$000 (dois mil réis), quatro cadeiras
avaliadas em 4$000 (quatro mil réis), recebeu uma frasqueira avaliada em 8$000
(oito mil réis) um cavalo russo velho avaliado em 10$000 (dez mil réis), recebeu o
escravo Joaquim avaliado em 300$000 (trezentos mil réis) e 50$000 (cinquenta mil
réis) parte da escrava Thereza, recebeu a quantia de 4$666 (quatro mil, seiscentos e
sessenta e seis réis) pelas terras do Oitizeiro, 7$500 (sete mil e quinhentos réis)
pelas terras dos Pastos Secos e a quantia de 218$831 (duzentos e dezoito mil
oitocentos e trinta e um réis) pelas benfeitorias e terras do sítio Coité, informações
contidas no inventário citado.

A herdeira Dona Anna Felícia do Bonfim recebeu a quantia total de 680$997


(seiscentos e oitenta mil novecentos e noventa e sete réis), uma meia vara e meia
de cordão de ouro avaliada em 15$000 (quinze mil réis), uma redoma de ouro
avaliada em 15$625 (quinze mil seiscentos e vinte e cinco réis), um par de brincos
avaliado em 3$750 (três mil, setecentos e cinquenta réis), três vacas avaliadas em
60$000 (seiscentos mil réis), um tacho com dez libras avaliado em 8$000 (oito mil
réis), uma colher e um garfo de prata, avaliados em 3$840 (três mil, oitocentos e
quarenta réis), uma bacia de cobre avaliada em 2$000 (dois mil réis), uma mesa
avaliada em 2$000 (dois mil réis), quatro cadeiras avaliadas em 4$000 (quatro mil
réis), uma cama avaliada em 8$000 (oito mil réis), uma novilha avaliada em 12$000
(doze mil réis), recebeu parte da escrava Thereza na quantia de 50$00 cinquenta mil
réis), recebeu a quantia de 4$666 (quatro mil, seiscentos e sessenta e seis réis)
pelas terras do Oitizeiro, 7$500 (sete mil e quinhentos réis) pelas terras dos Pastos
55

Secos, uma casa de morada avaliada em 50$000 (cinquenta mil réis) e recebeu a
quantia de 184$616 (cento e oitenta e quatro mil seiscentos e dezesseis réis) pelas
terras e benfeitorias do sítio Coité, conforme o inventário de nº. 86 de 1856 do
Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Consta ainda no mesmo inventário que a herdeira Idalina Rosa da Silva,


recebeu a quantia total de 680$997 (seiscentos e oitenta mil novecentos e noventa e
sete réis), uma vara e um palmo de cordão de ouro avaliado em 12$500 (doze mil e
quinhentos réis), três vacas paridas avaliadas em 60$000 (sessenta mil reis), uma
moeda de seis mil quatrocentos réis avaliada em 21$000 (vinte e um mil réis), uma
colher e um garfo de prata avaliado em 3$840 (três mil oitocentos e quarenta réis),
um tacho com oito libras avaliado em 6$400 (seis mil e quatrocentos réis), uma
bacia de cobre avaliada em 2$000 (dois mil réis) uma mesa avaliada em 2$000 (dois
mil réis), uma cama de armação avaliada em 16$000 (dezesseis mil réis), recebeu o
valor de 50$000 (cinquenta mil réis) da escrava Thereza, o escravo João avaliado
em 250$000 (duzentos e cinqüenta mil réis) e o escravo de nome Sebastião no valor
de 150$000 (cento e cinquenta mil réis), um garrote avaliado em 8$000 (oito mil
réis), duas garrotas avaliadas em 16$000 (dezesseis mil réis), recebeu a quantia de
4$666 (quatro mil seiscentos e sessenta e seis réis) pelas terras do Oitizeiro e mais
7$500 (sete mil e quinhentos réis) pelas terras do mesmo sítio, o que caracteriza um
erro de escrita, pois o valor de 7$500 (sete mil e quinhentos réis) corresponde à
partilha igual das terras dos Pastos Seco entre os herdeiros. Idalina Rosa recebeu a
quantia de 21$091 (vinte um mil noventa e um réis) pelas terras e benfeitorias do
Sítio Coité.

A herdeira Severianna recebeu a quantia total de 680$997 (seiscentos e


oitenta mil novecentos e noventa e sete réis), uma vara de cordão de ouro avaliada
em 11$250 (onze mil duzentos e cinquenta réis), um par de brincos avaliados em
2$500 (dois mil e quinhentos réis), duas colheres e dois garfos avaliados em 7$680
(sete mil seiscentos e oitenta réis), um tacho com seis libras avaliado em 4$800
(quatro mil e oitocentos réis), duas vacas paridas avaliadas em 40$000 (quarenta mil
réis), recebeu os escravos por nome de Manoel avaliado por 200$000 (duzentos mil
réis) e o valor de 200$000 (duzentos mil réis) do escravo Antonio, recebeu também
56

partes da escrava Thereza no valor de 50$000 (cinquenta mil réis), quatro garrotes
avaliados em 32$000 (trinta e dois mil réis), recebeu a quantia de 4$666 (quatro mil
seiscentos e sessenta e seis réis) das terras do Oitizeiro, 7$500 (sete mil e
quinhentos réis) pelas as terras dos Pastos Secos, 4$500 (quatro mil e quinhentos
réis) pela a terra nova, e a quantia de 125$801 (cento e vinte e cinco mil oitocentos e
um réis) pela terra e benfeitorias do Sítio Coité, informações contidas no inventário
de nº. 86 de 1856 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

No dia 15 de junho de 1857 Licínio Zacarias da Maia assinou um termo de


autoria se responsabilizando como tutor de sua irmã Severianna e administrador de
seus bens e de seus interesses até a mesma se emancipar ou por mandado judicial,
como veremos a seguir.

Aos quinse dias do mes de Junho de anno de mil oito centos e cinco enta e
sete nesta Povoação de Limueiro Termo de Anadia em casa de morada do
Primeiro Supplente de Juis Municipal e Orphão , o Capitão José Matheos
da Graça Luis onde fui vindo eu Escrivão de seu cargo abaixo asignado, e
sendo a hi prezente Licinio Zacarias da Maia a quem o referido Juis lhe
deferiu o juramento dos santos Evangelhos em um Livro em que tocou sua
mão direita sob cargo de qual lhe encarregou, que fose tutor da Orphã
Severiana filha de Antonio da Exaltação Maia e sua mulher, requerendo
tudo quanto fose abem de seus tutellados, vestindo-a, educando-a com os
rendimentos de seus bens sem tocar no principal de sua legitima porque lhe
será entregue quando se emancipar ou por mandado por este Juis e sendo
por elle recebido seu juramento asim o promettes cumprir: de que fis este
termo que asignou [sic] fis Eu Martiniano Jose Leite da Silva. Licinio
38
Zacarias da Maia.

Podemos observar que existia certa preocupação sobre a educação dela, o


que demonstra certa elevação social, pois no quadro estatístico do período de 1º de
Abril de 1872 até 31 de dezembro de 187539, consta que a Freguesia de Limoeiro
tinha 9.838 habitantes, dentre eles apenas 130 pessoas frequentavam a escola,
apenas 440 sabiam ler e 9.389 analfabetos. Salientando que o inventário foi
realizado em 1857, 15 anos antes do quadro estatístico.

__________________________
38
Inventário nº. 86 de 1856, Antonio da Exaltação Maia, p.29. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.
39
JOBIM, Nicodemo de Souza Moreira; História de Anadia.-1º vol-Maceió: 1881.p.43.
57

Conforme analisamos o Inventario de nº. 31 de 1852 de Maria dos Prazeres e


Major Antonio Thomas da Silva40 eram também moradores do sítio Coité. No dia 08
de junho de 1852, no sítio Coité termo da Vila de São João de Anadia Comarca de
mesmo nome Província das Alagoas na casa do inventariante Major Antonio
Thomas da Silva se achava o Suplente do Juiz Municipal e Órfão o Coronel João
Cavalcante da Matta Nunes sendo o escrivão Martiniano José Leite da Silva, ali foi
nomeado para ser Curador do inventário José Gregório da Silva. Conforme o dito
inventário consta como bens do casal: Ouro e Dinheiro: nada; Prata: um par de
estribos com peso de uma livra avaliado em 36$480 (trinta e seis mil quatrocentos e
oitenta réis), uma picadeira com peso de uma quarta avaliada em 5$120 (cinco mil,
cento e vinte réis), um aparelho de para cabeçadas, com peso de uma quarta
avaliada em 160$000 (cento e sessenta mil réis), Cobre: uma bacia com peso de
três libras avaliada em 2$400 (dois mil e quatrocentos réis) mais três libras de outro
objeto avaliado em 12$800 (doze mil oitocentos réis), Ferro: seis enxadas avaliadas
em 3$000 (três mil réis), seis foices já usadas avaliadas em $320 (trezentos e vinte
réis) e mais duas inchadas avaliadas em 2$000 (dois mil réis). Conforme o Inventario
de n.31 de 1852 do Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Consta no mesmo inventário que o mesmo possuía mais: Animais Cavalares:


um cavalo alazão avaliado em 60$000 (sessenta mil réis), dois cavalos russo
avaliados em 60$000 (sessenta mil réis) e um cavalo novo avaliado em 30$000
(trinta mil réis), Gado Vacum: trinta e quatro cabeças avaliadas em 70$000 (setenta
mil réis). Recebeu ainda dez bezerras avaliadas em 40$000 (quarenta mil réis), três
bezerros avaliados em 12$000 (doze mil réis), duas vacas avaliadas em 32$000
(trinta e dois mil réis) e dois garrotes avaliados em 14$000 (quatorze mil réis).

Bens de Raízes: uma casa de telha e taipa no Sitio Coité avaliada em


100$000 (cem mil réis), uma casa com uma prensa de ensacar lã avaliada em
26$000 (vinte e seis mil réis), uma outra casa de telha e taipa com um aviamento de
fazer farinha avaliada em 16$000 (dezesseis mil réis), um sítio de terras no Traipú
com casa e curral avaliados em 100$000 (cem mil réis), um sítio de terras denomina-
_____________________
40
Inventário de nº. 31 de 1852 de Antonio Thomas da Silva. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.
58

do Coité que obtive por compra a Antonio Rodrigues Noia 41 avaliada em 2:400$000
(dois contos e quatrocentos mil réis).
O Major Antonio Thomas da Silva possuía de 22 escravos, apenas o escravo
Manoel Antonio era casado, como veremos a seguir.

TABELA IV – RELAÇÃO DE ESCRAVOS DO MAJOR ANTÔNIO THOMAS DA SILVA

Nº NOMES COR IDADE VALOR NATURAL FILIAÇÃO


1 Arcanja - 30 anos 400$000 - -
2 Manoel Antonio - 30 anos 400$000 - -
3 João 30 anos 400$000 - -
4 Alexandre - 25 anos 400$000 - Marcelina
5 Luis Grande - 16 anos 400$000 - -
6 Marcelina 50 anos 100$000 - -
7 Rita - 30 anos 400$000 - -
8 Manoel Pequeno - 12 anos 300$000 - Rita
9 Luis Velho - 70 anos 100$000 - -
10 Luis Pequeno - 7 anos 250$000 - Maria
11 Adiodato - 4 anos 100$000 - Maria
12 Dorathea - 2 anos 100$000 - Maria
13 Lucianno - 6 anos 100$000 - Maria
14 Antonia - 6 anos 100$000 - Arcanja
15 Anna Mulatinha - 8 anos 150$000 - Arcanja
16 Damiana - 2 anos 50$000 - Arcanja
17 Justina - 3 anos 70$000 - Arcanja
18 Domingos - 20 anos 350$000 Angola -
19 José Criolo - 100$000 - -
20 Tiburcio - - 300$000 - -
21 Clemencia - - 340$000 Angola -
22 Maria - 30 anos 300$000 - -
Fonte: Inventário de nº 31/1852 – Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia

Como já vimos anteriormente à tabela de escravos de Antonio da Exaltação


Maia possuidor de 10 escravos no sítio Coité e agora o Major Antonio Thomas da
Silva dono de 22 escravos, mostra que o sítio Coité era uma região de grande
influência na Freguesia de Limoeiro e Vila de Anadia, não só pela quantidade de
escravos de seus moradores, mas também pelas semelhanças entre eles na
introdução de plantação de mandioca e algodão como também na criação de
animais cavalares e de gado vacum.

__________________________
41
Inventário nº. 31 de 1852, p.15. Major Antonio Thomas da Silva. Cartório do Único Ofício de
Limoeiro de Anadia
59

No dia 30 de junho de 1852 no sítio Coité na residência do Major Antonio


Thomas da Silva onde se encontrava o primeiro suplente do Juiz Municipal e Órfão o
Coronel João Cavalcante da Motta Nunes juntamente com o escrivão Martiniano
José Leite da Silva tendo como partidores José Francisco Vieira Sampaio e Manoel
Pereira da Silva realizaram a partilhas.

Acharam eles Juiz e Partidores que as obras de prata descritas no inventário


importavam na quantia de 83$200 (oitenta e três mil duzentos réis), as obras de
cobre na quantia de 15$200 (quinze mil e duzentos réis), nas obras de ferro
avaliaram no valor de 6$920 (seis mil novecentos e vinte réis). Nos animais Vacuns
deram o valor de 874$000 (oitocentos e setenta e quatro mil réis), nos animais
cavalares a quantia de 150$000 (cento e cinquenta mil réis), avaliaram os escravos
na quantia de 4:120$000 (quatro contos cento e vinte mil réis), nas terras e casas
avaliaram na importância de 1:842$000 (um conto, oitocentos e quarenta e dois mil
réis).

Deram o valor de 1:145$000 (um conto, cento e quarenta e cinco mil réis) em
meio dote, todas estas partilhas reunidas somam a quantia de 8:236$320 (oito
contos, duzentos e trinta e seis mil, trezentos e vinte réis), diminuindo dessa quantia
100$000 (cem mil réis) para as custas do inventário, ficando o montante de
8:136$320 (oito contos, cento e trinta e seis mil, trezentos e vinte réis) na qual os
partidores dividiram em duas partes iguais, uma delas na quantia de 4:068$160
(quatro contos, sessenta e oito mil, cento e sessenta réis) e a outra parte dividida por
seus dois filhos herdeiros, cada um deles ficando com 2:034$080 (dois contos, trinta
e quatro mil e oitenta réis).

O Major Antonio Thomas da Silva recebeu a parte da meação na quantia de


4:068$160 (quatro contos sessenta e oito mil e cento e sessenta réis), para este
pagamento recebeu: um tacho de cobre de meia arroba na quantia de 12$000 (doze
mil réis), uma bacia de cobre na quantia de 2$400 (dois mil réis), seis enxadas de
ferro no valor de 3$000 (três mil réis), seis foices na quantia de 1$920 (um mil,
novecentos e vinte réis), vinte e uma vacas avaliadas em 336$000 (trezentos e trinta
e seis mil réis), três novilhas na quantia de 36$000 (trinta e seis mil réis), doze
garrotas na quantia de 84$000 (oitenta e quatro mil réis), dez garrotes na quantia de
60

70$000 (setenta mil réis), três bezerras no valor de 12$000 (doze mil réis), dez
bezerros na quantia de 40$000 (quarenta mil réis), duas vacas avaliadas em 32$000
(trinta e dois mil réis), duas garrotas avaliadas em 14$000 (quatorze mil réis), um
cavalo alazão avaliado em 60$000 (sessenta mil réis), um cavalo russo no valor de
30$000 (trinta mil réis), um cavalo castanho no valor de 30$000 (trinta mil réis).

Para este pagamento recebeu os escravos: João, Alcanja, Alexandre e Luis


Grande ambos no valor de 400$000 (quatrocentos mil réis), recebeu também os
escravos: Luis Velho e Marcelina ambos no valor de 100$000 (cem mil réis),
recebeu o valor de 50$000 (cinquenta mil réis) da molequinha Damiana e da
escravinha Justina o valor de 70$000 (setenta mil réis), recebeu também uma casa
de telha e taipa no sítio Coité avaliada em 100$000 (cem mil réis), uma outra casa
com prensa de ensacar algodão no valor de 26$000 (vinte e seis mil réis), deram-lhe
mais uma outra casa com aviamento de farinha no valor de 16$000 (dezesseis mil
réis), recebeu nas das terras e benfeitorias no sítio Traipú a quantia de 40$000
(quarenta mil réis) e das terras do sítio Coité recebeu a quantia de 1:200$000 (um
conto e duzentos mil réis), totalizando o valor acima mencionado na meação.

O herdeiro Domingos da Silva Dias, casado com a filha do Major Antonio


Thomas da Silva, recebeu a quantia de 2:034$080 (dois contos, trinta e quatro mil e
oitenta réis), para este pagamento recebeu o meio dote no valor de 1:145$000 (um
conto, cento e quarenta e cinco mil réis), recebeu das terras de Traipú a quantia de
23$000 (vinte e três mil réis), deram-lhe a escrava Rita no valor de 400$000
(quatrocentos mil réis), um cavalo russo no valor de 30$000 (trinta mil réis), recebeu
treze vacas avaliadas em 208$000 (duzentos e oito mil réis), seis garrotas no valor
de 42$000 (quarenta e dois mil réis), deram-lhe a escrava Anna Mulatinha no valor
de 150$000 (cento e quinze mil réis), os partidores deram-lhe para finalizar o
pagamento nas terras de Traipú na quantia de 36$080 (trinta e seis mil e oitenta
réis).

Observa-se que o herdeiro recebeu duas vezes sobre o valor das terras de
Traipú, o que pode ser um erro de escrita na época, pois não entrou as terras do
sítio Coité no pagamento do valor.
61

O herdeiro Antonio Thomas da Silva, filho do Major Antonio Thomas recebeu


o valor de 2:034$080 (dois contos, trinta e quatro mil e oitenta réis) para este
pagamento recebeu o escravo Manoel Antonio no valor de 400$000 (quatrocentos
mil réis), a escrava Maria no valor de 300$000 (trezentos mil réis), deram-lhe o
escravo Luis Pequeno no valor de 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis), o
escravo Adeodato no valor de 100$000 (cem mil réis), a escrava Dorothea no valor
de 100$000 (cem mil réis), deram-lhe o escravinho Manoel pequeno no valor de
300$000 (trezentos mil réis), recebeu das terras do Sítio Coité a quantia de 400$000
(quatrocentos mil réis), um par de estribo de prata com peso de uma libra no valor
de 36$480 (trinta e seis mil, quatrocentos e oitenta réis), uma picadeira de prata no
valor de 5$120 (cinco mil, cento e vinte réis), recebeu das terras de Traipú a quantia
de $880 (oitocentos e oitenta réis), deram-lhe para completar o pagamento a
escrava Mulatinha Antonia, no valor de 100$000 (cem mil réis).

O documento abaixo se refere a um Dote dado pelo Major Antonio Thomas da


Silva ao Senhor Domingos da Silva Dias, o qual casou com sua filha Francisca dos
Prazeres Bezerras.
Nos abaixo asignados marido e mulher duamos a nosa filha Franscisa dos
Prazeres Bezerra que hoje a cazemos com o Senhor Domingos da Silva
Dias quatro escravos a saber Domingos nação angola com vinte annos de
idade pelo preco de trezentos e cinco enta mil reis. Fiburcio molato pelo
preço de trezentos mil reis. Clemencia digo José Criolo pelo preço de cem
mil reis, Clemencia angola pelo preço de trezentos e quarenta mil reis.
Damos mais a nossa filha trinta cabeças de gado pelo preço de des mil reis
cada hua, como tambem cem mil reis em ouro e prata, assim como também
um pedaso de terra no Sitio Coité: a saber pegará a terra do riaxo
denominado Coité a saber no travesão da estrada sul a continuar com o
Senhor Maia pelo preço de oito centos mil reis e por estarmos sertos que de
modo algum prejudicamos aos nosos erdeiros prezentes e futuros e por ser
esa nosa especial vontade fazemos ditta duaçam que soma dous contos
42
duzentos e vinte e nove mil reis.

Observa-se que entre os bens constam 04 escravos, 30 cabeças de gado,


100#000 (cem mil réis) em ouro e prata, um pedaço de terra no sítio Coité no valor
de 800#000 (oitocentos mil réis) o valor total 2:229$000 (dois contos duzentos e
vinte nove mil réis).

__________________________
42
Inventário nº. 31 de 1852, Major Antonio Thomas da Silva. Cartório do Único Ofício de Limoeiro de
Anadia.
62

O Major Antonio Thomas da Silva por não saber escrever pediu a José
Francisco Vieira Sampaio que assinasse por ele, e como testemunha. E pela esposa
do mesmo não saber ler nem escrever, Basílio Estevão da Costa foi seu rogo. Dote
esse realizado no sítio Coité, no dia 28 de setembro de 1845 e em 11 de junho de
1852 foi reconhecido pelo escrivão interino Martiniano José Leite da Silva. Para o
pagamento das custas do inventário na quantia de 100#000 (cem mil réis) deram o
escravo Lucianno no seu justo valor de 100$000 (cem mil réis).

Na Ação Civil nº. 21 de 1876 e Audiência Civil nº. 27 de 1877, documentos


esses do Cartório do Único Ofício de Limoeiro, consta que o Capitão Manoel
Sebastião da Silva foi um dos moradores da localidade, possuía moradas e terras,
no Sítio Coité e em Xexéu, região próxima a Vila de São José, antiga Lagoa do
Rancho, município de Arapiraca. Até então não localizamos seu inventário.

Será preciso dar continuidade na pesquisa para que no futuro próximo


possamos investigar e analisar as informações. Porém, podemos antecipar que o
Capitão Manoel Sebastião da Silva foi um dos patriarcas da família Sebastião de
Coité do Nóia, sendo ele pai de Antonio Sebastião da Silva e avô de Manoel
Sebastião da Silva, ex-prefeito de Coité do Nóia. No documento Audiência Cível n.
27 de 1877, realizado na presença do Tenente Pedro Joviniano de Araujo e Silva,
primeiro Tabelião de Notas e Escrivão de Órfão, foi constatado no livro de notas
especiais para escritura nas folhas 53 verso a 55, a escritura que faz menção de
cujo teor onde consta que o Capitão Manoel Sebastião da Silva fez pagamento
dando 14 escravos no valor de 7:500$000 (sete contos e quinhentos mil réis) ao seu
genro Gertulino Agripino da Silva. Veremos informações dos escravos envolvidos no
pagamento na página seguinte.
63

TABELA V – ESCRAVOS ENVOLVIDOS NO PAGAMENTO.

Nº NOME COR IDADE HABILIDADE NATURALIDADE FILIAÇÃO


1 Avertano Criolo 30 Agricultor Alagoas Joaquina
2 Antonio Criolo 26 Agricultor Termo de Anadia Joaquina
3 Dionísio Criolo 20 Agricultor Anadia Joaquina
4 Fortunato Criolo 16 Agricultor Anadia Joaquina
5 Candida Criola 26 Agricultora Anadia Joaquina
6 Gustava Criola 22 Agricultora Anadia Joaquina
7 Josefa Criola 18 Agricultora Anadia Joaquina
8 Jacintta Criola 19 Agricultora Anadia Joaquina
9 Leonarda Criola 9 - Anadia Joaquina
10 Rachel Criola 30 Agricultora Anadia Joaquina
11 Constancia Criola 28 Agricultora Anadia “sic”
12 Mattias Criolo 15 Agricultor Anadia Silvana
13 Esperidião Criolo 9 Agricultor Anadia Silvana
14 Jovencio Criolo 7 - Anadia Silvana
Fonte: Audiência Cível nº. 27 de 1877 - Cartório do Único Ofício de Limoeiro de Anadia.

Observa-se, dos 14 escravos, 10 eram filhos da escrava Joaquina, o que


configura o estímulo a procriação pelo senhor Capitão. A escritura citada foi passada
no dia 23 de Maio de 1871 na Vila de Palmeira dos Índios, da Comarca de Anadia,
Província de Alagoas, onde o outorgante vendedor o Capitão Manoel Sebastião da
Silva, foi dito em presença das testemunhas Capitão Azarias Pinto da Silva Leitão,
morador na Vila citada, e do Professor Público Nicodemos de Sousa Moreira Jobim,
morador na Vila de Anadia, escritura conhecida sob número setenta e sete do
exercício do mês de maio, pela Agência de Rendas Provinciais, tendo como Agente
Coletor Pedro Paulo dos Santos Aranda e Escrivão João Baptista Cabral, do qual
constava ter pago ao comprador a quantia de 337$500 (trezentos trinta sete mil e
quinhentos réis) do imposto fixo de taxa e 8$000 (oito mil réis) pago pelo selo, quem
escreveu a dita escritura foi o primeiro Tabelião público de notas Vitalício Américo
Brasileiro da Costa (sic).

No inventário de Victoriana Francisca da Silva, viúva de Pedro Vital da Silva,


fundador do Brejo, consta que houve um pagamento para o herdeiro Manoel
Sebastião da Silva, recebeu a quantia de 1:446$884 (um conto quatrocentos e
quarenta e seis mil oitocentos e oitenta e quatro réis), o que caracteriza que o
mesmo era neto do Capitão Pedro da Silva Dias e de Francisca Barbosa da
64

Solidade, falecida em 1818. Configurando assim, que o Capitão Manoel Sebastião


da Silva era primo de Basílio Estevão da Costa e bisneto do Capitão Antonio
Rodrigues da Silva.
CONCLUSÃO

O objetivo desse trabalho foi de investigar elementos que preenchessem as


lacunas existentes da historiografia de Coité do Nóia. Buscando informações sobre
os primeiros povoadores, como se procedeu o processo de colonização e a
realidade social da época. Esses fatores são os meios para desmistificar o
imaginário criado por muitos habitantes sobre a história local; essas informações
contribuíram para a história local e para um melhor entendimento da
pluriculturalidade, pois os africanos e indígenas escravizados não só serviram para
obedecer às famílias patriarcais no século XIX, como também seus descendentes
tiveram grande importância na formação sócio cultural de Coité do Nóia.

Tivemos acesso a um grande acervo documental no Cartório do Único Oficio


de Limoeiro de Anadia. Infelizmente vários documentos foram e estão sendo
destruídos pelos fungos, mofos e traças, pelo fato do mau acondicionamento. Outro
motivo que dificultou a pesquisa foi a não catalogação das fontes documentais. A
partir da observação em que se encontravam os documentos, realizamos um
processo de digitalização das fontes que trazia informações sobre a história de Coité
do Nóia.

Depois de vários meses de pesquisa conseguimos informações sobre a


Família Noia e outros membros. Fato esse de grande relevância social, porque a
partir do casamento de Anna da Annunciação e Silva com Basílio Estevão da Costa
e posteriormente com os casamentos de seus filhos, podemos entender o processo
de povoamento, como também conhecer seus descendentes que moram até hoje no
município de Coité do Nóia, é o caso da família Costa, tendo como patriarca Manoel
Joaquim da Costa zow, filho de Basílio.

Observa-se que a família Noia permanece na região, porém, mesmo


pertencendo à árvore genealógica da Família Noia outras gerações agregaram
outros sobrenomes. Então se torna incalculável a dimensão desse trabalho, pois
lembrar a sociedade do passado é assumir a nova História, desmistificando a
história, o “lembrado e esquecido” estabelecido por interesses de uma classe social,
negando vários fatores para o entendimento social, cultural, político e econômico da
região.
66

A povoação da região não aconteceu no final do século XIX como muitos


pesquisadores e habitantes acreditavam, mas, no início daquele século. Como
observamos depois do casamento de Anna D’Annunciação e Silva com Basílio
Estevão da Costa, outras famílias se estabeleceram na região, como as famílias de
Antonio da Exaltação Maia, Major Antonio Thomas da Silva e dos Capitães Manoel
Sebastião da Silva e Antonio Custódio da Silva Porto. A partir dessas informações
como também da conjuntura em que se constituíam essas famílias, tendo o escravo
como objeto de seus interesses, será de grande importância dar continuidade na
pesquisa para melhor aprofundamento sobre a historiografia de Coité do Nóia e
Investigar a influência econômica, política e religiosa da região na Vila de Anadia e
na Província de Alagoas.

A partir dessa monografia, outras pesquisas surgirão para melhor


aprofundamento e problematização das fontes. Em suma, este trabalho visa
contribuir para ampliar o entendimento da historiografia de Coité do Nóia, abrindo
caminhos para outras pesquisas, discussões e análises.

Coité do Nóia passou muitos anos sem informações sobre a família Nóia, a
presença indígena encontra-se guardada nas lembranças de seus descendentes e
em suas práticas cotidiana, não sabíamos nada sobre a escravidão no sítio Coité e
região. Hoje sabemos que a Família que é homenageada, que é lembrada no nome
da cidade era escravista e a história não pode ser resultado apenas das elites, dos
ricos e dos brancos. Trazer para a história local tais elementos é lembrar a
sociedade de suas origens. Que a partir dessa pesquisa, Coité do Nóia também seja
Coité dos Índios, Coité dos Negros, Coité de todos, Coité da Pluriculturalidade.
Nasce dessas poucas páginas digitadas, um novo pensar sobre o cidadão
coitenense.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

ALMEIDA, Candido Mendes de. Província de Alagoas, Atlas do Império do Brasil,


1868, Arte e História, Livros e Edições; Rio de Janeiro – 2000.
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Tradução de André Telles. Edição Brasileira de 2002. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor
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BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales


1929-1989; tradução Nilo Odália. – São Paulo: Editora Universidade Estadual
Paulista, 1991.
CASTRO NETO, João Ribeiro de Castro. Taquarana e sua história. Arapiraca:
Gráfica Imprima, 2007.
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século XIX.
Disponível em:
<http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364956503_ARQUIVO_ArtigoA
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68

MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral e memória: a cultura popular


revisitada/ Antonio Torres Montenegro. 3ª. Ed. São Paulo: Contexto, 1994.-
(Caminhos da história).
REIS, José Carlos. O lugar da teoria-metodologia na cultura Histórica
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http://revistadeteoria.historia.ufg.br/uploads/114/original_Artigo%201,%20REIS.pdf?1
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RAFAEL, Cícero. História de Anadia. Anadia: Sergasa, 1994.


APÊNDICES
70

APÊNDICE I - OUTROS ARTEFATOS ENCONTRADOS NO POVOADO


BOQUEIRÃO DOS CUSTÓDIOS.

1. 2

3. 4.
Fonte: Autor. 2013

A imagem 1. Mostra um pote de argila grossa que pertencia ao Capitão


Antonio Custódio, existe outro na casa de um tataraneto do Capitão no sítio Poço da
Pedra. Na imagem 2. Corresponde a cacos de porcelanas com nome Pazzani
Jundiaí encontrados espalhados por todo quintal da casa do senhor Neto Custódio.
Na imagem 3. Foi encontrado um cabo de talher por nome de Wolffmox. A imagem.
4. Pingente de Nossa Senhora das Graças foi encontrado entre os diversos
artefatos que forram o chão na localidade, o que caracteriza o espírito religioso da
família patriarcal.
71

APÊNDICE II – VESTIGIOS DE UM ORÁTORIO – POVOADO MANOEL GOMES

Fonte: Autor. 2013.

Vestígios de um Oratório localizado no Povoado Manoel Gomes, próximo ao


Rio Cururipe.

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