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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de

Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Licenciatura em História - EAD

UNIRIO / CEDERJ

AD1 – PRIMEIRA AVALIAÇÃO À DISTÂNCIA – 2020.1

DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL

COORDENAÇÃO: MÁRCIA CHUVA

Nome: JUAN DA SILVA LEMOS


Matricula: 18216090044
Polo: MIGUEL PEREIRA
Desde a virada para o século XX os conceitos de patrimônio e nação sejam
indivisíveis na história e, atualmente a ideia de patrimônio esteja involuntariamente associada
à ideia de memória. Essa ideia de patrimônio cultural é considerada como “conceito
moderno”, difundido e utilizado para definir um conjunto de bens de importante relevância
social e que devem ser preservados para gerações futuras, ou seja, foram atores ou pano de
fundo para acontecimentos históricos que marcaram aquela sociedade.

Foi na efervescência revolucionária ao longo dos séculos XVIII e XIX, que a noção
de patrimônio cultural começou a ser debatida intensamente, devido à grande busca que
nações recém-formadas faziam para encontrar seus símbolos nacionais para constituírem sua
história pátria. Esses patrimônios deveriam ser identificados e protegidos da destruição. E,
essa importância histórica incumbida a esses monumentos que faz com que, segunda a autora:
“a noção de patrimônio pressupunha uma consciência de historicização e de ruptura com o
passado.” (CHUVA, 2009, p. 43). Com isso, a afirmação de uma identidade nacional
dependia da existência de símbolos materiais que expusessem a historicidade do processo de
formação da nação e que no momento de gênese do conceito do patrimônio cultural, fosse
algo que concebesse genuinamente a criação do estado nacional, uma herança dos povos.
Inicialmente, a monumentalização foi o principal conceito relativo patrimônio nacional no
mundo ocidental, que basicamente abrangeu apenas objetos arquitetônicos.

Dois aspectos destacam a noção de patrimônio surgida durante a revolução francesa,


com o estabelecimento de relações específicas com o passado, historicamente falando,
pautando na ideia do que podemos aprender olhando para o passado e do outro lado a
materialização – fazendo mais sentido a noção de patrimônio – além de invocar o sentimento
de pertencimento a um determinado local ou nação (HARTOG, 1997), invocou o exemplo
dos cristãos como primeira valorização dos vestígios (patrimônios), a preocupação em
preservar. Mas antes do surgimento formal e por assim afirmar político da prática
preservacionista, um grupo de pessoas já se destacava ao estudar e cuidar de materiais que
considerassem historicamente importantes, eram os antiquários, que possuíam vasto
conhecimento de sociedade antigas principalmente das antiguidade clássica, como os gregos
e romanos, e seguindo a ação que outros humanistas no passado já realizavam.

Mas foi durante a revolução francesa que se intensificou a necessidade de preservar


os patrimônios nacionais, seja para preservar a memória de um passado quanto proteger da
destruição. O fato mais conhecido foi o confisco de bens da Igreja Católica promovido pelo
governo revolucionário francês, que após o confisco houve um grande movimento para
inventariar os bens confiscados, onde haviam diversos bens móveis como esculturas, obras de
artes, ornamentos, além de bem imóveis como construções e edifícios. Parte desse acervo
móvel, encontra-se hoje, no também confiscado, Palácio Real da Corte Francesa ou Museu do
Louvre, consagrando a formação de uma herança nacional caracterizada por grandes rupturas
de históricas. Posteriormente, os saques promovidos por Napoleão auxiliariam no aumento do
acervo do Museu.

Até o final do século XIX os franceses tentaram apagar todos os itens que
remetessem ao absolutismo e a monarquia, construindo uma nova narrativa, das origens da
nação. Essa “nova” história nacional francesa trouxe a valorização do período medieval como
berço da ideia de nação, sendo repetida até que se tornasse verdade absoluta. Foi a
necessidade de classificar todos os bens da recém-criada nação francesa que em 1837 surgem
as primeiras diretrizes jurídicas e políticas acerca do classement, que é uma forma de arquivar
e catalogar os patrimônios culturais. A própria ideia de patrimônio cultural traria luz para
diversos objetos e de natureza distintas, mas com uma herança nacional em comum.

O classement (ou arquivamento, classificação) foi o primeiro passo para as longas e


diversas políticas que viriam anos depois e em diversos outros países do mundo, sempre
sobre a égide de proteger e catalogar os monumentos que compõe os símbolos nacionais. A
França foi pioneira no movimento preservacionista, mas outros países do Ocidente também
começariam a pensar em preservar sua história. Surgiram alguns conflitos de como e quem
seria responsável pela preservação desse patrimônio, como nos Estados Unidos e na
Inglaterra, onde instituições privadas regeram as políticas preservacionista por um longo
espaço de tempo antes de surgirem iniciativas estatais. No Brasil as políticas de preservação
começassem a ser difundidas a partir do século XX, em muitos aspectos se assemelharam ao
modelo francês.

O movimento modernista da década de 1920, paulatinamente, já impulsionava sobre


a necessidade de preservação dos monumentos que fossem considerados importantes para
herança nacional, contudo, foi só a partir de 1937 que houve implementação de políticas
voltadas a prática preservacionista, dentre elas, a lei 387 de 13 de Janeiro de 1937 que além
de outras regulações criava o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
SPHAN, e em novembro do mesmo ano foi instituído o decreto-lei número 25, que as moldes
do classement francês nos trouxe a política do tombamento, definindo o que era considerado
patrimônio, qual seu valor histórico, artístico.

No Brasil, foi caracterizado como patrimônio histórico e artístico nacional tudo


aquilo que invocasse um período genuíno de formação da nação, o período colonial, todo
patrimônio deixado pelos jesuítas, a produção artística mineira, foram relegados como
“patrimônio nacional” a partir de 1937. E assim como na França, onde diversos itens do
período medieval francês foram exaltados como os símbolos do surgimento da nação, como
exemplo a Catedral de Notre-Dame de Paris, assim como aqui no Brasil houve a sacralização
do período colonial assim como todas suas características na forma de herança nacional, ou
seja, o surgimento da nação brasileira se deu por através no período colonial, justificando
assim, por exemplo, as cidades mineiras que foram tombadas quase que totalmente.

Como já foi apresentado, não é possível desassociar a ideia de patrimônio nacional


do período de formação dos estados nacionais, justamente pelos menos carregarem a herança
histórica e corroborando para perpetuação de tradição nacional, afirmando as origens da
nação à luz da história. A exaltação do período medieval como marco do início da formação
da nação como perpetrado pelos franceses e assim como os brasileiros com relação ao
período colonial reforçam a narrativa da construção de uma tradição nacional. Existia a
necessidade de a “contar a história da pátria”, e assim para compor a biografia da nação, os
historiadores responsáveis por essa “biografia da nação” deveriam ligar a nação moderna e
civilizada a suas raízes no passado, nesse percurso se encontraram com o conceito de
patrimônio cultural e monumentalização da história que seriam o alicerce para seguir em suas
narrativas, a próprio conceito de monumentalização, é indispensável para a compreensão da
história nacional. Os objetos materiais quando caracterizados como patrimônio, mudam seu
valor anteriormente atribuído, passando reforçar uma ideia, nesse caso, a história da nação.

Os textos apresentam algumas ideias que semelhantes com relação ao patrimônio


cultural, tanto o texto escrito pela Márcia Chuva quanto o segundo texto de Ulpiano Meneses
Bezerra, invocam necessidade da existência dos bens materiais (monumentos) e da
imaterialidade do patrimônio, Ulpiano vai além e nos mostra como a noção de imaterialidade
de patrimônio possui um vetor material que fornece suporte para sua existência. Ambos
destacam que o valor imaterial do patrimônio é inerente ao objeto patrimonializado, mas
ambos dependentes entre si, num possível paradoxo onde a imaterialidade cultural existente
na nação precisa se expressar através da materialidade, como por exemplo a Catedral de
Nossa Senhora de Aparecida em São Paulo. A noção da fé católica brasileira na santa, que
podemos caracterizar como patrimônio imaterial nacional necessita da materialização da
Basílica e Catedral para reforçar sua existência e vice-versa. Daí podemos diferenciar a ideia
de monumento e monumento histórico, onde o monumento possui uma relação mais afetiva
com o passado, o monumento histórico possui uma relação maior com o saber.

Ulpiano se aprofunda mais ao abordar os valores que um objeto patrimonializado


pode ser apresentado através de seus valores, sendo eles: valores cognitivos, valores formais
(estéticos), valores afetivos, valores pragmáticos e os valores éticos. E esses valores não
estariam nos objetos de forma isolada, mas combinando entre si e formando novas
valorações, fato que faz com que o campo dos valores não seja algo com um começo e fim
predefinidos, mas um campo de análise e valoração, onde pode incorrer a existência de
conflitos. E conclui que a cultura e por seguinte, o patrimônio cultural é uma forma de
expressão compartilhada pelo cidadão, “é um campo eminentemente político” (MENESES,
2009, p. 38).

Para o Brasil dos anos 1920, em que muitos itens que remetiam a religiosidade, o
sagrado que deveria ser protegido e preservado longe do contato com o dito profano, tornou
muito comum que igrejas, e todos os demais itens que transportassem certa religiosidade
fossem consideradas monumentos e itens indispensáveis a formação do estado. A noção de
monumento é variável como foi abordado em ambos os textos, e o interesse de diversos
grupos é determinante para definir como monumento. Sendo o conceito de monumento
atrelado a aquilo que deve ser preservado que possui significado. Além da Igreja, como
vimos, outros diversos personagens sociais estão envolvidos com a determinação e mudanças
de itens tidos como monumentos, como a imprensa, escolas de artes, além de institutos
históricos, artísticos participando de diversos campos de conhecimentos (sociais, políticos,
econômicos, religiosos) criando e definindo os termos junto ao Estado (nação) para definição
de itens monumentalizados.

A noção de patrimônio nacional segue em constante mudança além de expansão de


seus conceitos que eram considerados fundamentais. A ideia de patrimônio como apenas
sendo os itens referentes ao um passado distante vem abrindo espaço para itens que possam
compor o patrimônio histórico nacional do passado próximo e do presente, além da intensa
valorização do patrimônio imaterial, constituído pelos costumes e culturas, além de ações da
sociedade que reforçam constantemente a ampliação dos bens possíveis a serem
patrimonializados, e consequentemente a ampliação de bens que compõe a identidade
nacional.

Referências Bibliográficas

MENESES, Ulpiano T. B. Campo do Patrimônio Cultural: Uma revisão de


premissas. Brasília – DF, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN,
2009. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/4%20-
%20MENESES.pdf>.

CHUVA, Márcia R. R. Os Arquitetos da Memória: Sociogênese das práticas de


preservação do patrimônio cultural no Brasil (1930 – 1940). 2ª Edição. Rio de Janeiro,
Editora UFRJ, 2018.

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