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O Papel da memória familiar na construção de uma identidade colectiva

“Nós somos constituídos de bocados, de extractos de História, de literatura, de direito


internacional (…) e se vos perguntarem o que fazemos podeis responder: Recordamo-
nos" – Ray Bradbury – F. 451
Este excerto coaduna-se, na perfeição, com a problemática, tão vigente nos nossos dias:
A Preservação e Conservação do Património.

Património, a abrangência deste conceito é tal, que são várias as dissertações sobre o
tema. Património Natural, Histórico, Edificado, Genético, Cultural …, designações tão
diferentes, mas intrinsecamente ligadas, pois é a sua junção que nos dá a visão da nossa
“História” e da nossa “Herança”, são marcos que incrementam a nossa memória e
identidade.

A UNESCO visa preservar os Patrimónios Mundiais, com vista à salvaguarda das


memórias, pois são estas que constroem a identidade individual, a identidade de um
grupo, de uma comunidade, de um País …, por sua vez, os vários grupos sociais,
utilizam diferentes suportes para relatarem a própria história, pessoal ou familiar, na
tentativa de manter as suas raízes. Vários são os suportes utilizados para a preservação
destas memórias: As fotografias guardadas no arquivo familiar, os filmes que registam
excertos de épocas festivas, a história do nascimento e crescimento de um elemento da
família, diários de antepassados, histórias que se contam desde os tempo dos bisavós,
em que cada um acrescenta um ponto, colecções em que de geração para geração, o
herdeiro coleccionador acrescentou um ou outro objecto singular, por vezes
insignificante e que (como defendido por Marc Guillaume) “só encontra a sua
significação essencial na série onde se insere”, e esta colecção, ou qualquer colecção, é
também ela um fio condutor de memórias e de História, porque se voltarmos atrás no
tempo e formos estudar a História das Colecções, vamos ver que estas começaram nos
Gabinete de Curiosidades, na época do Renascimento, e que esses Gabinetes são os
antecessores e impulsionadores dos actuais Museus, Arquivos e Bibliotecas. O ciclo
volta a fechar-se em torno das memórias e da preservação, se não vejamos:
Qual é a missão das Instituições atrás referidas?
- A Promoção e a Salvaguarda e a Valorização e Divulgação do Património Arquivístico
e Fotográfico (em Portugal o Arquivo Nacional da Torre do Tombo), a Preservação e
Conservação do Acervo Documental (a Biblioteca Nacional de Portugal) e quanto à
Preservação e Divulgação das várias Colecções temos os Museus, todas estas
instituições têm como objectivos preservar o património na nossa memória histórica,
perpetuando tanto a memória colectiva, como a individual.

Mas, voltemos ao Património, que como define Françoise Choay é uma “bela e muito
antiga palavras eslava, na origem, e ligada às estruturas familiares, económicas e
jurídicas, de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo”. O Património, tal
como as memórias, tem vindo a sofrer alterações e evoluções, pois em cada época e por
influência de determinados grupos, têm se vindo a criar novos critérios de selecção do
Património, numa fase inicial mais religioso (catedrais, mosteiros, conventos) no Sec.
XVII passamos a observar a destruição das igrejas góticas em prol do estilo Barroco.
Posteriormente com a Revolução Francesa (XVIII) são destruídos monumentos ligados
ao poder monárquico mas, conservado o património que simbolizava as novas políticas
e uma nova sociedade. É nesta sequência que aparecem os primeiros esboços do
conceito de Património Histórico, e a necessidade de preservar, é criada a 1ª Comissão
Superior de Monumentos Históricos. Com o final da 2ª Guerra Mundial, o Património
cresce desmesuradamente, quer como edificado, quer como imaterial ou até memorial.
É dado um passo quantitativo e qualitativo no que diz respeito à sensibilidade do
conceito de patrimonialização. Quanto ao Património Histórico são seguidas as regras
ditadas pela Carta de Veneza (1964), mas segundo o defendido pela mesma autora, é
urgente uma mudança de orientação no que diz respeito aos bens patrimoniais,
Françoise Choay propõe uma reflexão sobre o futuro das sociedades face aos bens
culturais.

Na actualidade, não podemos falar de Património, temos que falar de Patrimónios, que
marcam a identidade um Povo, as suas memórias e consequentemente o processo de
crescimento social. Podemos dizer que as políticas da União Europeia visam investir
nas áreas do Património Cultural e Natural, com vista a rentabilizar o crescimento
económico, sim, porque o Património está intrinsecamente ligado também á economia, a

Bibliografia: 2
Documentação disponibilizada pela Universidade Aberta (disciplinas de PCD e ALD) – www.moodle.univ-ab.pt
Pereiro, X (2006) “Património Cultural: O casamento entre o Património e a Cultura”
http://www.diarioonline.pt – Fado: candidato a Património Mundial da UNESCO
Einaudi, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda “Sobre o Papel da Memoria”
Barros, Myriam Moraes Lins de - “Memória e Família”
Dissertação do Mestrado em História de Arte Contemporânea – F. Ciências Sociais e Humanas, Univ. Nova LX
Choay, Françoise – A Alegoria do Património
Guillaume, Marc – A Política do Património
ao turismo e por consequência ao desenvolvimento do País. Os Governos Portugueses
não são excepção, e lançam programas de financiamento a projectos com vista a
dinamizar o Património local e regional, tornando-o numa fonte de desenvolvimento
sustentável. Claro está, que se determinada região vive do Património Histórico/
Cultural, toda a comunidade se encontra de alguma forma envolvida, quer seja por via
do emprego, por via do turismo que é feito na localidade e indiscutivelmente por via das
histórias contadas que avivam as memórias quer dos mais velhos, quer dos mais novos.

No que diz respeito ao Património Cultural Português, diz o artº 1º, da Lei nº 13/85, “é
constituído por todos os bens materiais e imateriais que, pelo seu reconhecido valor
próprio, devam ser considerados como interesse relevante para a permanência e
identidade da cultura portuguesa através do tempo” ou seja, podemos no presente,
designar bens móveis ou imóveis do nosso passado, para fazerem parte da nossa história
cultural na actualidade e no futuro, como exemplo temos O Fado, que faz sem dúvida,
parte do nosso Património Cultural, quer enquanto membros de uma sociedade, quer
enquanto Portugueses, é um símbolo de Portugal, representa a nossa identidade, capaz
de promover a união e unir esforços, como é o caso da candidatura que está a ser
preparada para ser formalizada em 2010 – A Candidatura do Fado a Património
Mundial da UNESCO.

Podemos então dizer, que o Património encontra a sua base nas memórias, e que estas
suportadas pela iconografia, pelas colecções, pelas canções, pela oralidade …,
constituem o acervo indispensável ao crescimento individual e social, as memorias são a
nossa herança, e que assim como o Património tem que ser preservado, as nossas
memórias devem ser conservadas, enriquecidas e divulgadas, nunca esquecidas. Se não
tivermos memórias, se a nossa mente se encontrar em branco, mesmo que nos digam e
que nos demonstrem que somos detentores de um Património, seja ele pessoal ou
colectivo, vamos apenas conseguir usufruir do “bem material”, mas este vai estar vazio
de sentimentos, de memorias familiares e de identidade.

Bibliografia: 3
Documentação disponibilizada pela Universidade Aberta (disciplinas de PCD e ALD) – www.moodle.univ-ab.pt
Pereiro, X (2006) “Património Cultural: O casamento entre o Património e a Cultura”
http://www.diarioonline.pt – Fado: candidato a Património Mundial da UNESCO
Einaudi, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda “Sobre o Papel da Memoria”
Barros, Myriam Moraes Lins de - “Memória e Família”
Dissertação do Mestrado em História de Arte Contemporânea – F. Ciências Sociais e Humanas, Univ. Nova LX
Choay, Françoise – A Alegoria do Património
Guillaume, Marc – A Política do Património

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