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ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Mestrado de Gestão e Valorização do Património Histórico-Cultural


Ano Letivo 2017/2018

Seminário de Enquandramento Científico

Património Industrial.
O Museu de Portimão enquanto instituição
cultural ao serviço da comunidade.

Docente: Professor Doutor Paulo Simões Rodrigues


Discente: Ana Rita Santos Mateus, n.º 36911

Évora, janeiro de 2018


1. Valores do património cultural.

As questões relacionadas com o património cultural estão cada vez mais na ordem
do dia. Vivemos um período de «patrimonialização», cuja omnipresença não só deu
origem a novas áreas de investigação e ensino, como manifestou a importância que
comunidades e cada individuo lhe atribui, reconhecendo o valor intrínseco do
património e a sua ligação a diversas realidades, como história, memória, testemunho,
origens e identidade. Parafraseando Umberto Eco: «é a memória do passado que nos diz
porque somos aquilo que somos e nos confere a nossa identidade».1
Vejamos, antes de mais, a trajetória do conceito de património, que passa a ter um
qsentido coletivo por altura da Revolução Francesa quando emerge no mesmo país a
expressão de monumento histórico. Porém, é no século XIX que este vocábulo se viria a
refletir, aquando da afirmação do Nacionalismo e da criação e desenvolvimento de
«alguns dos grandes museus nacionais, símbolos e instrumentos de afirmação do poder
no contexto internacional, destinados exatamente a albergar e a expor o dito património,
de índole eminentemente nacional».2 Após a II Guerra Mundial, foi o conceito de
património cultural que se generalizou, tendo causado a perda de validade desta
expressão, na medida em deixamos de entender o património do ponto de vista do seu
significado original, como a herança e a posse de bens materiais. Esta hegemonia veio
provocar o alargamento do próprio conceito de património, que além das temáticas do
passado (Arte e Arqueologia), passou a contemplar outras vertentes, como a ciência e a
tecnologia, o trabalho e o quotidiano.
O avançar da globalização tem causado aceleradas destruições no que toca às
especificidades e traços de civilizações e culturas, pelo que se torna cada vez mais
crucial garantir a sua salvaguarda para as gerações futuras, como elemento de afirmação
das singularidades locais. Mas este contigente levanta muitas questões, desde logo, se
todos os vestígios do passado podem ser considerados património. De facto, o
património não é só o legado que é herdado, mas aquilo que, através de uma seleção
consciente, um grupo significativo da população deseja herdar ao futuro. Elsa da Silva
reforça que «existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o património
cultural a gerações futuras»3, pois «existe também uma noção de posse por parte de um
determinado grupo relativamente ao legado que é coletivamente herdado». 4 É a partir
desta última noção que compreendemos como o património pode ser visto como algo
com valor. Todavia, é um valor que é atribuido por pessoas e grupos de determinada
época, com base nas circunstâncias históricas e referências de então, bem como nos
gostos que dominam o cenário inteletual e cultural de referido período. Quer isto dizer
que, o que hoje tem valor patrimonial para a nossa sociedade contemporânea, poderia
não ter há algumas dezenas ou centenas de anos para outras comunidades e, por isso,
com condições de ser trasmitido às próximas grerações. Como afirma Alexrande
Herculano:«Uma geração não pertence unicamente a si, pertence ao pretérito cuja
herdeira é, ao futuro, cuja testadora será», o que significa que é o passado que nos dá
um sentido de identidade e pertença, onde nos reconhecemos enquanto membros de
uma mesma comunidade e nos diferenciamos dos demais, através do tempo.
Ora, o valor é algo que acompanha o conceito de patrimóio, pelo que atualmente
se reconhecem diversos tipos de valores associados ao património, embora, como se

1
José Amado Mendes, «Museus e Educação», p. 195
2
Idem, ibidem, p. 196
3
Elsa Peralta da Silva, «Patrimóio e Identidade. Os desafios do Turismo Cultural», in Antropológicas, p.
218
4
Idem, ibidem
viu, possam ser projetados pela comunidade. Em referência a J.P.Babelon e A. Castel,
José Amado Mendes evoca um conjunto de valores ligados ao património, que devem
ser acrescentados aos tradicionais valores de uso e troca, sendo eles: artístico, estético,
nacional, cognitivo, simbólico, social, económico, educativo e turístico. 5 Os três últimos
são aqueles que, nos últimos anos, têm vindo a ganhar terreno no campo da investigação
e do trabalho profissional neste âmbito.
Sobre o valor económico do património (que não deixa de estar relacionado com o
valor turístico), começo por citar Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008:
«promover a identidade cultural de uma cidade é fundaental para se conseguir vender a
cidade como um bom sítio para viver e visitar, tornando-a um bom local para fazer
turismo, mas também para localizar um negócio».6 Esta perspetiva recente sobre o
património permite equacinar as potencialidades deste campo tão diversificado, não
apenas em termos histórico-culturais, mas também como fator de desenvolvimento. José
Amado Mendes considera que a ligação do património cultural à economia pode ser
feita de duas formas distintas; antes de mais, a inventariação, o estudo, a salvaguarda, a
valorização e a reutilização dos bens culturais que «implicam a mobilização de recursos,
humanos e materiais, que poderão traduzir-se em custo ou em investimento, consoante
as estratégias concebidas e postas em prática» 7, ao qual se junta uma segunda via
assente num programa de reutilização e valorização dos bens materias que «é
susceptível de se traduzir em mais-valias, pelo retorno que poderá trazer às entidades
promotoras e às próprias comunidades».8 A este respeito, recorde-se o Museu
Guggenheim, em Bilbau, cuja realibitação de uma antiga cidade industrial, após
profunda crise, veio trazer uma nova vida àquela parte da cidade, outrora abandonada, a
partir de uma gestão que combina a arquitetura e o marketing numa ação de
dinamização sócioeconómica e cultural. A verdade é que o sentimento de nostalgia e o
reconhecimento do património cultural como referencial de memória fez aparecer um
mercado patrimonial diversificado, no qual o setor do turismo tem vindo a apostar
amiúde. O turismo cultural – deslocação, com pelo menos uma dormida, com o intuito
de alargar horizontes, procurar conhecimentos e emoções, através da descoberta de um
património e território – é uma realidade contemporânea, que tem no património e nos
museus os principais alicerces ao proporcionar uma série de vantagens como a dispersão
de turistas para o interior e cidades mais pequenas, fomentando, entre outras coisas, a
criação de emprego e revitalização das economias locais e acima de tudo, representar
benefícios no que concerne aos custos de preservação do património, que nem sempre
pode ser suportado pelos poderes locais.
Finalmente, de referir as potencialidades pedagógicas do património para a
sociedade, tendo em conta que ele deve «constituir um elemento-chave para a formação
integral da pessoa, para o seu desenvolvimento emocional, e um elemento propiciador
da interação e coesão social».9 A educação patrimonial pode (e deve) ser estimulada
mediante três modalidades diferentes, como a formal (escolas dos diversos níveis de
ensino), não formal (museus, arquivos, bibliotecas e bens culturais), e informal
(comunicação social, Internet e conversas ocasionais).
Qualquer um destes valores está também intrinsecamente ligado ao património
industrial, que como vimos é o tema deste trabalho. Sem querer aprofundar, importa
esclarecer que esta nova vertente do património emergiu apenas no século XX, depois

5
José Amado Mendes, ob.cit., p. 198
6
António Rosa Mendes, «O que é Património Cultural», p. 41
7
José Amando Mendes, ob.cit. p. 198
8
Idem, ibidem
9
Françoise Choay, «A Alegoria do Património», p. 274
da II Guerra Mundial, quando se intensificaram as preocupações com a preservação de
bens culturais e consequente reconstrução de tudo o que havia sido destruído pelas
forças militares durante este conflito. Em simultâneo com este cenário, muitos dos
subprodutos do desenvolvimento industrial iam sendo desativados, abandonados e l
destruídos, de forma a não constituirem um obstáculo à nova dinâmica
desenvolvicionista. Foi a partir desta altura que muitos estudiosos começaram a tomar
atenção a estes monumentos específicos, bem como às suas especificidades histórico-
culturais e económicas, defendendo mesmo a introdução de uma nova ciência e ramo do
saber, apelidada por Arqueologia Industrial.
Aceitando o património industrial como parte integrante, de pleno direito, no
conceito atual de património cultural, não é discutível que todos lhe reconhecamos valor
cultural patrimonial e, por isso, é também ele é merecedor de inventariação,
investigação, proteção legal, manutenção e conservação, como, aliás, defende a Carta de
Nizhny Tagil sobre o património industrial, de 17 de julho de 2003. O documento
sugere que «as razões que justificam a proteção do património industrial decorrem
essencialmente do valor universal daquela característica, e não da singularidade de
quaisquer sítios execionais».10 E acrescenta que «o património industrial reveste um
valor social como parte do registo de vida dos homens e mulheres comuns e, como tal,
confere-lhes um importante sentimento identitário. Na história da indústria, da
engenharia, da construção, o património industrial apresenta um valor científico e
tecnológico, para além de poder também apresentar um valor estético, pela qualidade da
sua arquitectura, do seu design ou da sua concepção».11

2. A reutilização de monumentos industriais: potencialidades históricas,


sociais e económicas. O caso do Museu Municipal de Portimão.

A já referida Carta de Nizhny Tagil sobre o Património Industrial é bastante clara


quanto à conservação e manutenção destes edifícios, ao defender que «a conservação do
património industrial depende da preservação da sua integridade funcional, e as
intervenções realizadas num sítio idustrial devem, tanto quanto possível, visar a
manutenção desta integridade»12, tendo em conta que «o valor e a autenticidade de um
sítio industrial podem ser fortemente reduzidos se a maquinaria ou componentes
secundários que fazem parte do conjunto forem destruídos». 13 Neste ponto note-se que a
referência a monumentos industrias não está apenas associada às unidades fabris –
contudo, a parte mais visível deste património – mas também contempla outras infra-
estruturas como centrais elétricas, estações elevatórias de água, estações ferroviárias,
pontes, moinhos e cinemas. O próprio conceito de património industrial compreende os
vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, arquitetónico
ou científico, deixados por uma atividade humana passada.
Qualquer tipo de programa de reabilitação e preservação de instalações industriais
exige conhecimentos de grande exigência, ponderação e cuidado, as quais devem estar
presentes em todas as fases de intervenção, desde a seleção, elementos a preservar,
requalificar e reutilizar, até às soluções a adotar, bem como os objetivos a atingir, sendo
«a conservação in situ» uma prioridade a considerar. Devem também ser tidos em conta

10
Comissão Internacional para a Conservação do Património Industrial, « Carta de Nizhny Tagil sobre o
património industrial», 17 de julho de 2003
11
Idem, ibidem
12
Idem, ibidem
13
Idem, ibidem
outros critérios fundamentais, correspondentes ao respeito pelos valores artísticos,
históricos e de uso do património industrial. Como se compreende, o valor artístico está
relacionado com a arquitetura industrial, desde as antigas e modestas construções em
pedra ou madeira, passando pelos edifícios em tijolo, associados à energia a vapor até à
arquitetura do ferro, que acabou por marcar a arquitetura da segunda metade do século
XIX e inícios do seguinte. Por outro lado, um dos aspetos mais importantes é o valor
histórico do património industrial, pois além de esse ser um monumento é também uma
espécie de documento portador de tempo que não vale única e exclusivamente pelo seu
aspeto exterior. De facto, independentemente do seu valor estético, as estruturas
industrias podem transmitir-nos informações muito relevantes e de grande utilidade.
José Amado Mendes considera que «se nos reportarmos às unidades fabris,
verificaremos que a sua escala, volumetria e distribuição do espaço se ficam a dever não
apenas a exigências de caracter tecnológico (…) mas também a estratégias de gestão,
com vista a possibilitar um controlo mais efetivo da mão-de-obra». 14 Já o valor de uso,
por seu turno, prende-se com as necessidades da comunidade, procurando que ela
participe nos projetos de conservação e requalificação que se pretenda desenvolver.
Em Portugal, as principais iniciativas de preservação e salvaguarda do património
industrial têm surgido por parte de câmaras municipais ou empresas várias que, na
maior parte dos casos, optam pela sua musealização. 15 É o caso do Museu Municipal de
Portimão, instalado numa antiga fábrica de conservas de sardinha, cuja prática
patrimonial abordarei de seguida, sobretudo a partir de artigos que o diretor do museu,
José Gameiro elaborou para revistas científicas afetas à temática da museologia.
Após mais de vinte e cinco anos de luta, com algus altos e baixos, o museu de
Portimão abriu finalmente ao público em maiode 2008, dotando o concelho algarvio de
um novo espaço cultural que presta homenagem a um povo e território que viveu grande
parte do seu tempo virado para o mar e para as atividades com ele relacionadas. No
início do projeto lançado pela comissão instaladora do museu, em 1983, já eram
percetíveis os seus objetivos: «Quem hoje percorre a zona ribeirinha encontra sinais de
uma atividade, quase extinta em Portimão, que deixou marcas no tecido social e urbano
desta cidade – a industria conserveira». 16 A compra de uma antiga instalação industrial
pela edilidade e a consequente aquisição de acervo relacionada com esta atividade, que
dera origem a exposições de cariz temporário para a divulgação deste precioso
património à população abriu caminho àquele que é hoje um dos principais motivos de
interesse do museu de Portimão: «o visitante poderá fazer uma ideia do processo de
desenvolvimento das unidades fabris e, em especial, do seu espaço de laboração, das
correntes estéticas que nortearam a arquitetura, a grande mecanização e as formas de
trabalho».17
Ainda antes de abrir oficialmente as portas, a política patrimonial do museu já era
muito dinâmica, tendo em conta que a sua missão consistia em criar «um observatório
permanente e uma estrutura de mediação cultural para investigar, conservar, interpretar,
divulgar e valorizar os testemunos materiais e imateriais mais relevantes da história, do
património, do território, da memória e identidade da comunidade local e regional, na

14
José Amado Mendes, ob.cit., p. 129
15
A requalificação e reutilização de estruturas industriais não tem necessariamente que passar por
projetos culturais. Há muitos casos em que as instalações de uma antiga fábrica foram transformadas em
estabelecimentos de ensino, museu, pavilhão gimnodesportivo, teatros, bibliotecas, arquivos e até centros
comerciais ou cafés e restaurantes.
16
Comissão Instaladora do Museu de Portimão, «As fábricas de conservas: um mundo a descobrir, um
mundo a defender»
17
Idem, ibidem
sua interação com o mundo».18 Note-se que embora o museu ainda não existisse
enquanto estrutura física, a equipa do museu sempre foi procurando desempenhar todas
as funções museológicas estipuladas por lei.
Posteriormente, um dos pressupostos iniciais da direção do museu foi «lançar as
bases programáticas que intregassem o corpus museal já adquirido na solução
museológica final que impunha e estabelecia, entre os dois lugares: o de origem (a
Fábrica) e o de destino (o Museu)». 19 Nesse sentido foi pensado um programa
museológico específico para este edifício, que tivesse em conta tanto a complexidade
como o grau de preservação entre o nível simbólico, histórico e patrimonial «das
memórias que habitaram o imóvel, acautelando a integridade e manutenção das
referências e preexistências construtivas mais significantes, presntes na modulação do
edifício/espaço fabril».20 A programação museológica deve ser assumida como uma
prioridade para qualquer museu, pois funciona como um instrumento indispensável na
forma como a instituição vai exercer a sua política cultural e científica, para além de
ajudar a pensar nos evntuais problemas, necessidades e ideias museais. José Gameiro
considera mesmo que a programação constitui «um momento determinante na definição
do modelo, da estrutura e da escala de prioridades das suas futuras atividades, devendo
ser entendido como o primeiro passo do seu compromisso fundador, para com a
comunidade».21 No caso particular de Portimão, o programa museológico resultou de
um «processo multidisciplinar interativo de aproximação progressiva ao projeto», num
interessante diálogo entre a arquitetura e a museologia.

18
José Gameiro «Um programa museológico para Portimão – da fábrica ao museu, do museu à
comunidade», in Revista Museologia.pt, 2007, p. 150
19
Idem. ibidem
20
Idem, ibidem
21
José Gameiro, «A programação museológica: reflexão e prática no Museu Municipal de Portimão», in
Revusta Museal, n.º1, p. 84
Notas:

Programação Museológica

O programa museológico deve constituir o momento determinante na definição do modelo, da


estrutura e da escala de prioridades das suas futuras atividades;
1. Programar para as pessoas – relacionado com o programa/mediação cultural do
museu direcionado à comunidade;
2. Programar para a investigação - perfil e valências profissionais da equipa museal, na
definição dos trabalhos de investigação, dosprincipais domínios de pesquisa,
intervenção e divulgação cietífica, condicionando desde logo os espaços técnicos de
trabalho, de estágios, de documentação, áreas oficinais, laboratórios, reservas, etc;
3. Programar para as funções, espaços e requalificação urbana - a programação
museológica deverá funcionar como um momento inicial de partilha e articulação de
conceitos e opções entre a equipa do museu e a equipa projetista, conducente a uma
interpretação funcional, em estreita consonância com a divisão dos espaços do museu.

No caso concreto do Museu de Portimão, estas três vertentes estão presentes, na medida em
que foi adotada uma metodologia de trabalho assente na prévia elaboração de um programa
museológico, cujos critérios e soluções de intervenção se exercem em diálogo permanente,
entre a museologia e a arquitetura.
Neste sentido, as obras de recuperação e adaptação da antiga unidade fabril em museu
municipal, procuraram cumprir e desenvolver quatro grandes objetivos programáticos:
1. Reabilitar o património Histórico-Industrial - recenseamento e recuperação das pré-
existências construtivas mais significativas (chaminé, cisterna vãos, molduras de tijolo,
volumetrias, frisos e pilastras caiadas, platibandas, etc), corrigindo-se algumas
incoerências formais de intervenções recentes.
A fachada principal virada a poente estabelecia uma articulação de produção com
outro complexo oficinal (área de fabrico de lata vazia, serralharia, carpintaria, etc), a
qual se situava no lado oposto da estrada. Na década de 60, as referidas oficinias
encerraram e acabaram por ser demolidas, dando lugar a edifícios de habitação e à
transformação da estrada de implantação como principal eixo viário do fluxo de
trânsito entre a cidade e a Praia da Rocha, e com o óbvio constrangimento pedonal
junto à fábrica, fizeram deslocar a relação de utilização deste quotidiano fabril, para o
lado nascente, entre o cais ribeirinho e o Rio Arade.
O elemento considerado determinante do acesso público ao museu é o lado nascente,
que previlegia «na frente-rio, uma melhor perceção do local pelo qual se iniciava o
primeiro momento do processo produtivo, através da entrada direta do peixe para o
interior da fábrica, permitindo igualmente um contacto de proximidade e fruição com
essa mesma área ribeirinha». Para reforçar esse objetivo foram recuperados a fachada
principal (a poente; o Guindoste «Marion 2»; o transportador de peixe e pontão de
descarga; coberturas, asnas e vãos industriais (no exterior) a cisterna e a sala de
lavagem e descabeço (no interior).

2. Requalificar e Valorizar a Área Urbana Ribeirinha – o museu pretende apresentar-se


como um dos elos de fortalecimento dessa revitalização urbana, ampliando a
capacidade atrativa da zona pela valorização do edifício e sua envolvente,
constituindo-se como pólo importante de um percurso público de qualidade, ao longo
do cais. Nesse sentido, verifica-se a possibilidade do acesso das embarcações ao
museu, diretamente do Rio Arade, através de uma plataforma de acostagem,
mantendo-se a proximidade do imóvel com a sua memória naval e fluvial. Note-se
ainda que a proximidade do Rio Arade é um dos elementos capitais a valorizar, na
medida em que funciona como «fonte fria» do sistema de climatização, incluido no
projeto de reabilitação.
A fruição de vistas e perspetivas sobre o rio, tanto do exterior como do interior
reforçam a intenção museológica e faz do museu um ponto de encontro com a cultura,
o património, a história local e o exelente enquadramento paisagístico natural que o
Arade oferece e potencia.

3. Interpretar local e globalmente a evolução histórica, territorial e social – a


reconversão de fábrica a museu dotou o municipío de Portimão de um equipamento e
uma estrutura pioneira e permanente, especificamente votacionada para o estudo e
promoção da identidade cultural e social da comunidade portimonense. Com base nas
temáticas do seu acervo, além das exposições temporárias destaca-se a exposição de
referência, de longa duração, designada «Portimão – Território e Identidade», que
«interpreta e representa os principais momentos da sociedade local, na sua interação
histórica com a envolvente geográfica e natural, resultante do milenar cruzamento dos
povos e culturas que por este território passaram e se fixaram».
É uma exposição que, pela sua diversidade de acervo, orienta o visitante e está
estruturada em três percursos distintos:
i. PORTIMÃO – ORIGEM E DESTINO DE UMA COMUNIDADE: A posição
geográfica do Município de Portimão, a abundância dos recursos naturais da
sua envolvente territorial, a função estratégica da ria de Alvor e do rio Arade,
determinaram a progressiva fixação e desenvolvimento dos primeiros grupos
humanos, desde a pré-história, à ocupação romana e islâmica, até às atuais
comunidades.
Neste percurso apresentam-se os elementos históricos mais decisivos e
presentes na organização da cultura das sociedades locais, mostrando os
antecedentes de uma progressiva evolução do mundo rural até à sua transição
para a industrialização. A história singular do portimonense Manuel Teixeira
Gomes na viragem do século XIX, também pode ser observada neste percurso.
Por sua vez, o percurso encontra-se dividido em oito núcleos.

ii. A VIDA INDUSTRIAL E O DESAFIO DO MAR: A memória industrial conserveira e


a profunda relação histórica com o rio Arade e o Atlântico constituem-se como
os temas centrais deste percurso. Através dele, destaca-se o papel dos
homens e mulheres, na atividade económica mais relevante de Portimão e do
Algarve, antes da mudança para o novo paradigma, a indústria do turismo.
Partindo do próprio espaço fabril e em especial da recuperada «Casa de
Descabeço», o visitante é conduzido da antiga lota do cais de Portimão até ao
coração das fábricas, acompanhando o processo de fabrico, embalagem e
promoção das conservas portimonenses.

iii. DO FUNDO DAS ÁGUAS: Na antiga cisterna da Fábrica, onde se recolhiam e


reaproveitavam as águas pluviais para alimentar os tanques de salmoura e as
caldeiras da fábrica, descobrem-se agora as imagens em movimento da fauna
e a flora subaquáticas do Rio Arade e da orla costeira de Portimão.
Nesta mesma Cisterna, em setembro de 2013, foi instalado o núcleo Ocean
Revival - Parque Subaquático de Portimão, que tornou possível aos nossos
visitantes acompanhar em terra o que se passa debaixo de água com os navios
afundados a cerca de três milhas da Praia de Alvor.

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