Você está na página 1de 29

HISTÓRIA DE

PESCADOR
PEQUENO GUIA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Debora Herszenhut
e Mario Wiedemann
HISTÓRIA DE PESCADOR
PEQUENO GUIA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Neste guia, a pesca tradicional é um
dispositivo para pensarmos esta referência
cultural enquanto patrimônio, elevando as
experiências e práticas de comunidades
a formas particulares de construção de
identidades e tradições culturais muito
antigas, porém muito vivas na sociedade
brasileira. A ideia é sensibilizar o público
em relação à importância da preservação
e identificação de nossos patrimônios
culturais de natureza imaterial, além de
estimular o desenvolvimento de políticas
públicas locais que contribuam para a
valorização e preservação de tais saberes.
SUMÁRIO
Glossário 6

Apresentação 8

Por que um guia de educação patrimonial? 11

A pesca tradicional em Pernambuco 12

Glossário da Pesca em PE 15

Da aldeia milenar à pesca tradicional 16

Cosmologia costeira 18

Camboas Tupi, o programa de educaçao patrimonial 25

Metodologia passo a passo 26

Cadernos de campo 28

Sugestão de atividades 38

Considerações finais e Conclusão 46

Agradecimentos 48

Bibliografia 50
GLOSSÁRIO

ARQUEOLOGIA É a ciência que estuda as culturas e os modos de vida das diferen- PATRIMÔNIO CULTURAL Todo objeto material (como prédios e monumentos) e ima-
tes sociedades humanas (do passado e do presente), partindo da análise de objetos terial (como festas religiosas e tradições culinárias) que forma a cultura de um povo.
materiais. É uma ciência social que estuda as sociedades através das materialidades Ele é escolhido para ser preservado. Em nosso país, a conservação dos patrimônios
produzidas pelos seres humanos, sejam estes móveis (por exemplo, um objeto de arte), culturais é feita por uma instituição chamada Iphan.
ou imóveis (estruturas arquitetônicas). Também estuda as intervenções feitas pelos
seres humanos no meio ambiente. PATRIMÔNIO IMATERIAL Os bens culturais de natureza imaterial tratam de práticas
e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; ce-
CULTURA MATERIAL Produzida para desempenhar um papel ativo, é usada tanto lebrações; formas de expressão cênica, plástica, musical ou lúdica; e nos lugares (como
para afirmar identidades quanto para dissimulá-las; “para promover mudança social, mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).
marcar diferenças sociais, reforçar a dominação e reafirmar resistências, negociar posi-
ções, demarcar fronteiras sociais”.1 O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração. É constantemente recria-
do pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Todas as vezes que as pessoas se reúnem para construir natureza e de sua história. Gera um sentimento de identidade e continuidade, e contri-
e dividir conhecimentos, investigar para conhecer melhor, entender e transformar a bui para promover o respeito à criatividade e à diversidade cultural.
realidade que as cerca, realizam uma ação educativa. Quando tudo isso é feito levando
em conta algo relativo ao patrimônio cultural, então trata-se de Educação Patrimonial. A Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura,
define como patrimônio imaterial “práticas, representações, expressões, conhecimen-
ETNOARQUEOLOGIA Estudo etnográfico feito por arqueólogos(as) em sociedades tos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
atuais com o objetivo de obter informações que ajudem a compreender sociedades associados – que comunidades, grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem
do passado. Ou seja, é o estudo que arqueólogos(as) fazem utilizando a etnografia como parte integrante de seu patrimônio cultural.”
(método antropológico relacionado à descrição de um grupo humano) para estudar os
processos de produção, distribuição, consumo e descarte de objetos em uma socieda- PATRIMÔNIO MATERIAL Os bens tombados de natureza material podem ser imóveis,
de atual, com o objetivo de entender como esta mesma sociedade vivia no passado. como as cidades históricas, os sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais;
ou móveis, como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, biblio-
ETNOGRAFIA Estudo descritivo das diversas culturas e etnias humanas, com o gráficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.
propósito de interpretar hábitos, costumes, valores e práticas de uma comunidade
específica. O patrimônio material protegido pelo Iphan é um conjunto de bens culturais classi-
ficados segundo sua natureza, conforme os quatro Livros do Tombo: arqueológico,
INRC O Inventário Nacional de Referências Culturais é uma metodologia de pesquisa paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas.2
criada pelo Iphan para produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos
quais são atribuídos sentidos e valores – e que, portanto, constituem marcos e referên- PESCA ARTESANAL Realizada pela mão-de-obra familiar, usando pequenos barcos
cias de identidade para determinado grupo social. que exploram ambientes próximos à costa, devido às limitações de autonomia de mar
e ao raio de ação.3
IPHAN O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional busca preservar os
tesouros da cultura nacional. É uma autarquia federal do governo brasileiro, criada em
1937, responsável pela preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial.
Deve defender e favorecer os bens culturais do país, proporcionando seu usufruto para
gerações presentes e futuras.
2 Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234
3 DIEGUES, 1989.
1 TÂNIA ANDRADE LIMA (2011:21)

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 6 7


APRESENTAÇÃO
A diversidade de espécies de peixes e seres marinhos é
análoga à diversidade de estratégias de pesca desenvol-
vidas pelas comunidades pesqueiras. Estes saberes mile-
nares, indígenas, ancestrais foram apreendidos na práti-
ca, na oralidade e não estão inscritos em manuais, livros
escolares, políticas públicas ou projetos educacionais.

Neste trabalho aprofundamos nossas miradas sobre es-


tas atividades, que podem ser observadas em todo litoral
brasileiro (aqui em especial no litoral nordeste) e que nos
conecta diretamente com a nossa longa história de ocu-
pação destas terras. A pesca artesanal é vista aqui como
uma herança direta da magnitude e riqueza cultural dos
povos pré-coloniais habitantes e manejantes destas pai-
sagens nos tempos de outrora.

Camboa é uma palavra de origem tupi-guarani, tronco Este guia foi idealizado a partir de diferentes experiências
linguístico que deu nome a muito do que conhecemos de educação patrimonial realizadas em três diferentes
hoje. Foram estes povos que contaram aos colonizado- comunidades no estado de Pernambuco, quando tive-
res ainda no século XVI como se vivia nas terras baixas mos a oportunidade de observar, em variadas perspec-
do Atlântico e os ensinaram a ler a paisagem deste lado tivas, a grande diversidade de técnicas de pesca e maris-
do mundo. Estes nomes estão representados neste guia cagem existentes.
a partir das estratégias de pesca tradicionais e artesanais,
fruto da faculdade humana de conhecer e transformar a Apresentamos a seguir o caminho percorrido por nós
paisagem e aquilo que chamamos de recursos naturais. nestas atividades formativas realizadas nos municípios
de Ilha de Itamaracá, Goiana e Cabo de Santo Agosti-
Herança cultural, tradição, tecnologia social ou cultura nho entre os anos de 2017 e 2021 com o desejo de parti-
são nomes apropriados para referir-se à diversidade de es- lhar de forma sensível e interativa estas experiências de
tratégias desenvolvidas pelas comunidades tradicionais, pesquisa participativa.
submersas em manifestações da interação entre huma-
nos, a paisagem, o meio-ambiente e seus habitantes. Ao evocarmos esta intrínseca conexão entre passado,
presente e futuro enquanto condição inexorável à nossa
Camboas e Currais são estratégias de pesca existentes constituição cosmológica, pretendemos trazer à luz fer-
no nordeste brasileiro há séculos, que utilizam o movi- ramentas que sirvam como instrumento para o reconhe-
mento natural das marés para a captura de pescados e cimento destes (e outros) saberes enquanto referências
mariscos. Pescadores e marisqueiras, sucessores diretos culturais.1
desta longa pré-história brasileira, seguem ainda hoje
construindo suas ferramentas, utensílios e armadilhas, Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
tal qual faziam há aproximadamente 8 mil anos atrás. Coordenadores do Projeto Camboas Tupi
Destas práticas tiram não apenas a base de sua sobera-
1 O termo “referência cultural” é aqui utilizado na
nia alimentar, como também suas histórias ao passo que perspectiva patrimonial para a identificação, reconhecimento e
delineiam o rumo de suas trajetórias. proteção dos bens de natureza imaterial.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 8 9


POR QUE UM GUIA DE
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL?

Segundo o manual do IPHAN, “a importância da educação patrimonial reside no fato


de que as comunidades devem ser as grandes protagonistas de seus patrimônios.
As comunidades são quem indicam os rumos que devem tomar as políticas preserva-
cionistas. A preservação de bens culturais precisa ser tratada como uma prática social.
Ou seja: é necessário que os sujeitos e a comunidade reconheçam e agreguem valor
aos bens culturais que o Estado pretende preservar, por meio dos mecanismos e instru-
mentos de que o Estado dispõe”.1

A educação patrimonial amplia o acesso ao conhecimento ao levá-lo ao público. E deve


ser compreendida como um processo de formação de largo alcance, aproximando di-
ferentes atores sociais envolvidos nos processos de preservação e identificação de pa-
trimônios culturais.

Quando nos educamos por meio das ações de preservação patrimonial, estimulamos as
percepções e o envolvimento da comunidade com sua própria cultura, tornamos mais
sólidas as noções de pertencimento, e promovemos, em processos de construção parti-
cipativa, um engajamento coletivo nas transformações do território.

Este foi o objetivo específico do nosso trabalho, e aqui está o resultado deste percurso.
Encontrar pescadores, marisqueiras e coletores no litoral nordeste do Brasil é en-
contrar parte da pré-história brasileira. Neste guia, a pesca tradicional é um dispo-
sitivo para pensarmos esta referência cultural enquanto patrimônio, elevando as
experiências e práticas de comunidades a formas particulares de construção de
identidades e tradições culturais muito antigas, porém muito vivas na sociedade
brasileira.

O conteúdo a seguir foi elaborado com esta meta: partilhar uma metodologia criada em
processos de formação e sensibilização em educação patrimonial. E não só: este guia
pretende inspirar novos processos de identificação e valorização de patrimônios e refe-
rências culturais, oferecendo ferramentas para realizar novas pesquisas nos contextos
mais diversos.

Nosso desejo é possibilitar a reflexão sobre educação patrimonial em sua forma mais
ampla, acessível e irrestrita. E também facilitar a percepção sobre o patrimônio imaterial
das comunidades como agentes e produtoras de cultura.

1 IPHAN 2011:10

11
A PESCA TRADICIONAL
NO LITORAL DE PERNAMBUCO

A pesca, a coleta e o uso dos recursos de rios, praias e estuários representaram parte
importante das atividades desenvolvidas pelas comunidades pré-históricas ou pré-co-
loniais do litoral do Brasil. Os sítios arqueológicos revelam informações relevantes sobre
a importância destes territórios ao longo de mais de 6 mil anos1 e sobre o modo de vida,
peixes pescados, mariscos coletados, materiais utilizados para construção de armadi-
lhas e artefatos, entre outras informações, que demonstram que esses grupos também
mantinham íntima relação com a floresta e seus recursos.

Conhecidos como “sambaquis”, os sítios arqueológicos de grupos pescadores-coleto-


res do litoral alcançaram, em alguns contextos do Brasil, proporções monumentais. A
grandeza de tais ocupações verificadas nestes contextos emerge essencialmente da
disponibilidade e diversidade de alimentos disponíveis no ambiente2. No litoral nordes-
te, estes povos desenvolveram estratégias de pesca que aproveitavam, e ainda aprovei-
tam, as características particulares desse ambiente3,
como as grandes variações de maré e a extensa pla-
taforma continental, que tornaram propícia a cons-
trução de currais e camboas. A paisagem estuarina e
recortada com morros e falésias costeiras tornou-se
a morada de longa duração e em expansão desses
pescadores-coletores antigos que em momento re-
cente, aproximadamente 2 mil anos atrás, tem con-
tato com os grupos Tupi-Guarani4.

1 GASPAR, 2004; TENÓRIO, 1999; BANDEIRA, 2012


2 FIGUTI, 1999;2014
3 MARTINELLI et all; 2013
4 GASPAR, 2004

HISTÓRIA DE PESCADOR - Miniguia de Educação Patrimonial 12 13


Muito embora tenhamos poucos estudos sobre sítios arqueológicos no litoral, do estado
de Pernambuco e do Nordeste5, tendo em vista o tipo de ocupação empreendida aqui
desde a colonização6, existem evidências textuais do século XVI e XVII que Currais e GLOSSÁRIO DA PESCA
EM PERNAMBUCO
Camboas eram utilizadas como estratégias de pesca pelos grupos tupis que habitavam
a região - onde hoje se mantém viva essa prática da pesca. Percebe-se que a localização
dos sítios arqueológicos e a localização atual das comunidades de pesca ocupam os
mesmo lugares, que são àqueles próximos ao estuário com acesso ao mangue, próximo BALEEIRA Embarcação desenvolvida que o pescador fique acima da altura do
à água doce e à floresta. Estas estruturas eram construídas no passado com madeiras, para navegar nos estuários, em águas mourão para fincá-lo na crôa.
cipós e redes de origem vegetal. As comunidades de pesca atuais substituíram alguns calmas. Comprida, movida a motor por
- mas não toda a sua edificação - por materiais sintéticos, adequando e permitindo a pequeno calado. JANGADA Embarcação típica da pesca
manutenção destas práticas. no nordeste do Brasil. Desenvolvida
BARROTES Como são referidas as madei- para navegar em águas mais rasas, mas
O conhecimento sobre peixes e estratégias de pesca, portanto, foi acumulado nesta his- ras que compõem secundariamente os também utilizadas em outros contextos,
tória de interação e mudanças de longa duração, e foi através desses registros históricos currais, alternando-se com os mourões. como os rios e estuários.
de observação das estratégias tradicionais de pesca do litoral nordeste que a etnoar-
queologia entendeu de que maneira se davam essas relações. Este aspecto nos remete, BUGIGAR Quando os meninos retornam MALHO Marreta usada para bater no
imediatamente, à ancestralidade indígena do nosso modo de vida. Dessa forma, pode- da pesca e a comunidade fica na beira mourão e fincá-lo na crôa.
mos afirmar que a pesca artesanal e/ou tradicional de currais, camboas e a mariscagem, da praia esperando por aqueles peixes
entre outras, são uma herança antiga, assim como são referências culturais atuais. de menor porte que não tem muito valor, MOURÕES Como são referidas as madei-
que são distribuídos para o pessoal que ras de maior dimensão que sustentam os
ajuda a carregar as tralhas na maré, como currais de pesca.
alguns covos que vem pra remendar as
galeias de peixe. Ai no final ganha bugiga. PLATAFORMA CONTINENTAL Está
relacionada à formação geológica da
BUSCADA As procissões marítimas que praia e do fundo do mar que em geral
carregam os santos católicos. fica submersa. A plataforma, juntamente
com o talude continental e os depósitos
CAIÇARA Do Tupi, Caá-Içara, construção sedimentares, quando existentes, com-
de madeira que serve para o pescador põem aquilo que é chamado de margem
guardar seus equipamentos e apetrechos continental.
da pesca. É também utilizada para outras
atividades relacionadas. PUÇÁ Artefato que auxilia na retirada do
peixe do curral e em outras pescadias.
CATRAIA Embarcação desenvolvida para Trata-se de uma peneira feita por um
navegar nos rios e estuários. Lembra uma arco de ferro com cabo e uma rede vaza-
canoa. da em formato de cone.

COVO Tipo de armadilha de pesca utili- TALUDE Formação geológica que, neste
zada para capturar lagostas e crustáceos. caso, relaciona-se a um acidente geológi-
Tem formato trapezoidal com uma aber- co que delimita a plataforma continental,
5 Segundo o Cadastro Nacional de sítios arqueológicos ( CNSA) existem em Goiana, 38 tura central por onde deve entrar a presa. de águas rasas, e as fossas oceânicas, de
sítios arqueológicos registrados, sendo a maioria de sítios a céu aberto de tradição ceramista tupi águas profundas.
guarani identificados nas áreas de cultivo da Cana-de açúcar, que ocupam as áreas do município
imediatamente associadas ao litoral. Em Itamaracá, estão registrados 2 sítios arqueológicos de
CRÔA Afloramentos rochosos e dos arre-
origem histórica (o Fortim do Pontal da Ilha e Vila de Nossa Senhora da Conceição). Em Cabo de cifes de corais que por vezes estão sob a SAMBURÁ Artefato que auxilia no des-
Santo Agostinho, na Zona da Mata Sul, estão registrados 29 sítios arqueológicos,dentre estes sítios camada de areia que cobre a plataforma pesque dos currais e na pesca em geral.
cerâmicos pre históricos, sítios líticos sobre topo de colina, sítios históricos, edificações históricas
entre outros, com destaque para uma estrutura submersa identificada e a Camboa da Pedrinha . continental. Confeccionado de palha, tem a forma
(Fonte: Portal do IPHAN). de um caldeirão, com tampa e alça para
6 LUCENA et all, 2021 JACUMÃ Espécie de escada, apoio para carregar no ombro.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 14 15


DA ALDEIA
MILENAR À PESCA
TRADICIONAL
Os Tupis1 representam, neste dossiê, a consolidação da
expansão social, cultural, linguística e cosmológica das
sociedades que ocupavam, o litoral do Brasil no período
de contato. Além de refinadas tecnologias, tinham língua
própria integrada e um interesse voraz de expansão e co-
nhecimento. Em seus percursos essas sociedades fundi-
ram sua cultura e se estabeleceram nas mesmas áreas de
ocupação dos grupos que ali habitavam antes (samba-
quis)2, e herdaram parte do conhecimento da paisagem.
Estes grupos Tupi conheciam a arquitetura de caiçaras,
produziam samburás, canoas e artefatos específicos de
pesca para cada tipo de peixe. Mantinham estreita rela-
ção com o mar, com os rios, conheciam seus percursos
e ciclos.

Viajantes europeus que estiveram no Brasil nos séculos


iniciais da colonização destacam, em seus textos e gra-
vuras, como era importante para os indígenas
nativos a pesca, bem como a relação com o mar
e seus recursos. As imagens produzidas por Hans
Staden em 1537, não obstante seu caráter mági-
co, trazem elementos que indicam a intensa ati-
vidade de pesca entre os grupos indígenas com
No início do século XVI, começa um processo paradigmáti- Ilustraçoes inspiradas em:
os quais o viajante alemão teve contato.
co na história indígena brasileira. Os povos que ocupavam
Fig. 1: Família de índios do
o litoral deste território, que viria a se chamar Brasil, estabe- Brasil, século XVI. LERY, Jean
Abbeville (1612), ao visitar as aldeias Tupinambá
leceram contato direto com os colonizadores. A resistência de. Histoire d’un voyage
do Maranhão, destaca detalhes da riqueza de fait en la terre du Brésil,
indígena foi intensa, mas muito abalada pela escravização,
técnicas e tecnologias de pesca empreendidas Autrement dite Amérique,
extermínio, mortes por doenças e deslocamento de gru- 1578.
como fonte rica e diversa de alimentos. Eles des-
pos para o interior. Um século depois, não havia nenhuma
tacam em passagem que os Tupinambá “Usam Fig. 2: Contexto tupinambá
aldeia tupi livre na costa ancestral brasileira4. do século XVI com destaque
de anzóis, que chamam de ‘pinda’, para os pei-
para as atividades de pesca
xes pequenos e médios, e arpões para os peixes- e a paisagem. Hans Staden,
Se hoje, ao percorrer o litoral nordeste, observamos as mes-
-boi e outros maiores. Há também muitas outras 2012- (1557)
mas estratégias de pesca em pleno uso fica evidente que
qualidades de pescarias, que fazem de pedra,
há pelo menos 500 anos estamos atualizando e adaptan-
junto às praias, ou de paus e varas, na entrada
do estratégias e conhecimentos que foram transmitidos e
dos rios, como se fossem redes”3.
apreendidos como parte do patrimônio cultural brasileiro.

1 CORRÊA, 2014 4 No Mapa Etnohistórico de Curt Nimuendajú, pode-se


2 PEREIRA, 2010 e ALMEIDA 2015. observar as datas e evidências dos grupos Tupi que viviam
3 ABBEVILLE 1614:354 e vivem ainda no estado de Pernambuco. Ver Plataforma
Nimuendajú: http://mapa-nimuendaju.eita.coop.br/

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 16 17


COSMOLOGIA COSTEIRA
Os Currais e as Camboas são parte da síntese etnoarqueológica de estratégias de pesca
que, neste contexto, são praticadas até hoje, acompanhadas por um conjunto de ele-
mentos ambientais específicos. Trata-se das condições naturais necessárias à sua im-
plantação, entre elas, entendemos a maré como o elemento cardíaco deste conjunto. É
a maré que determina os períodos e a organização do trabalho. O pescador necessita de

1.
habilidade para adaptar-se a certas condições – numa relação constante e fundamental
Uso do puçá na para a manutenção destes saberes, que assim vão sendo transmitidos, modificados e
coleta de diferentes
mariscos na praia mantidos vivos nestas comunidades.

A atividade de pesca, de currais, camboas e a mariscagem dentre outras, são consi-


deradas atividade de subsistência, movimentando somente uma pequena economia
local. Considerada artesanal, a pesca torna-se uma atividade invisível no interior das es-
tatísticas formais. Neste trabalho de pesquisa sobre as práticas tradicionais de pesca, no
entanto, sublinhamos a relevância destas atividades para a vida local e, principalmente,
sua relevância para a cultura tradicional da pesca sendo tratada neste dossiê como uma
Referencia Cultural (INRC, 2000).

Ao redor da pesca se evidencia a existência de uma cosmologia costeira, que revela o


2. Coleta manual
ou com ferramentas
valor simbólico de uma prática ancestral e compõe a identidade de comunidades litorâ-
neas. Neste trabalho, propomos olhar para a cata de mariscos como uma possibilidade
de síntese deste conhecimento específico, ancestral e de origem tradicional. Ao longo
do litoral do Nordeste brasileiro, mulheres, jovens e crianças engajam-se na coleta e tra-
tamento do marisco para consumo da família e para a comercialização.

A mariscagem representa parte da vasta arte de pesca presente no litoral pernambu-


cano; apresenta grande complexidade, constituindo-se como referência cultural muito
presente entre os membros das comunidades pesquisadas – além de remeter a proces-
sos pré-históricos de interação e manejo da paisagem e de seus recursos.

3. Limpeza e
tratamento do marisco em
estrutura construída

Etapas da pesca de marisco: mulheres,

4.
jovens e crianças engajam-se na coleta e
tratamento do marisco para consumo da
Limpeza e tratamen-
família e para a comercialização
to do marisco em estrutura
construída

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 18 19


O saber da pesca em Tatuoca (município de Cabo de Santo Agostinho, sul de Per- Camboas são armadilhas utilizadas para a captura de peixes na maré do mangue. São
nambuco), envolve o exercício e conhecimento de diferentes estratégias e artefatos, e o constituídas pelas reentrâncias e canais que enchem com a maré, de acordo com suas
conhecimento dos variados contextos da paisagem. Pesca-se: marisco, ostra, siri, guaia- variações. Ou seja: nessas reentrâncias formam-se grandes “tanques” de águas calmas,
mum, mariscão, aratu e marisquinho. No rio Tatuoca, de varinha é que se pesca a saúna, localizados fora da circulação da maré. Este é o local procurado pelos peixes, segundo
a tainha, a cioba, a carapeba e o camurim (também chamdo de robalo). Já nas áreas de os pescadores, para se alimentar, reproduzir e “fugir” do fluxo contínuo da maré. Na co-
pedra e laje é onde se pega a carapitinga, o baiacu e a moreia. munidade de Barra de Catuama, as camboas ficam na foz do estuário que se forma pela
Ilha de Itapessoca, ao longo do canal de Santa Cruz , no município de Goiana.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 20 21


Currais de pesca são armadilhas monumentais de pesca, construídas com madeira e O território de exercício do saber da pesca – nestas e em
estão implantadas sobre a plataforma continental. Na Ilha de Itamaracá compõem as outras comunidades do litoral brasileiro – compreende
áreas estuarinas e oceânicas do litoral norte do estado de Pernambuco. uma paisagem extensa, abrange uma área espacialmen-
te ampla. Está inserido na praia, mas não só. Também no
quintal de casa e nos espaços comunitários. E por isso
este território deve ser observado sob a ótica da referên-
cia da cultura de valor imaterial.

É uma cadeia operatória muito complexa. Segundo os


parâmetros do INRC, trata-se de um conjunto de refe-
rências: lugares, objetos, memórias, celebrações. É neste
sentido que o saber da pesca abrange momentos parti-
culares, que residem na memória pessoal e coletiva dos
habitantes destas regiões.

O objetivo deste guia é encontrar na milenar pesca tradi-


cional elementos que apontam para a construção e ela-
boração de identidades da cultura de um lugar, de um
povo. Assim, podemos revelar muitos dados sobre a his-
tória e pré-história do Brasil que devem ser conhecidos,
difundidos, registrados e protegidos.

Casa de peixe: aqui os


peixes entram na maré
alta e ficam presos
qdo a maré vaza

foto: Debora Herszenhut

Abertura para
passagem de
canoas

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 22 23


CAMBOAS TUPI
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Neste programa realizamos ações de educação patrimonial para


professores, gestores públicos e representantes da sociedade
civil sobre as atividades da pesca tradicional. Assim, o Camboas
Tupi propõe, através de diferentes processos didáticos, pensar as
questões patrimoniais deste saber milenar.

As atividades são realizadas através de encontros e debates. São


apresentadas ferramentas de pesquisa e identificação de bens
culturais, dados bibliográficos e filmográficos, e experimentadas
técnicas de pesquisa de campo etno arqueológicas.

Ao fim de todo processo, os alunos do curso elaboram um


dossiê participativo, em que apresentam conclusões sobre a
referência cultural de natureza imaterial daquele específico bem
inventariado na comunidade pesquisada.

Apresentamos a seguir a sistematização da metodologia


aplicada no programa de formação Camboas Tupi com o
intuito de instrumentalizar, inspirar e estimular processos de
reconhecimento de bens de natureza imaterial nas mais diversas
comunidades e regiões do país.
METODOLOGIA PASSO A PASSO

1. O que é patrimônio cultural? 5. Aplicando o INRC


Identificação do patrimônio local a partir do trajeto percorrido no dia a dia pelos parti- Num segundo momento de imersão em campo, através da prática etnográfica e da
cipantes do curso (aulas teóricas com dinâmicas de sensibilização, palestras, sessão de observação participante1, munidos de câmeras fotográficas, gravadores e roteiro de en-
filmes). trevistas, os alunos saem a campo para o levantamento de dados e informações.

2. Conhecendo o patrimônio local Através de métodos mistos de pesquisa2, como a realização de entrevistas, o registro
Levantamento da história local a partir do relato dos participantes. de relatos em áudio, fotos – usando a metodologia sugerida pelo IPHAN para a elabo-
ração de inventários de bens culturais de natureza imaterial –, são aplicadas as fichas
do inventário participativo (utilizando como modelo as fichas do Inventário Nacional de
3. Do micro ao macro Referências Culturais, INRC). Cabe ressaltar a relevância das ferramentas audiovisuais
A partir do material trazido pelos participantes, construiremos uma linha do tempo,
para a realização deste trabalho.
trabalhando a ideia de investigação de dados secundários já existentes, documentos
históricos, e registros etnográficos para a elaboração de um quadro patrimonial.
6. Processando informações
No retorno do campo, da vivência da pesca, ou da observação de práticas associadas à
4. Proteção e apropriação ela, deve-se fazer um debate, um círculo de conversas que permitam a troca de percep-
A primeira experiência de campo tem o objetivo de identificar referências culturais co-
ções e memórias relativas à referência cultural. Neste momento, surgem muitas outras
letivas e também registrar processos de degradação e abandono, e também de valori-
informações. Aparecem as histórias pessoais e conhecimentos geracionais, reflexões – e
zação e proteção do bem cultural pesquisado.
insights trazidos pelos próprios alunos. Tais informações são ainda utilizadas como fon-
te de informação para a elaboração dos resultados da pesquisa. Estas histórias, desco-
A primeira atividade de campo apresenta técnicas e ferramentas de pesquisa de cam-
bertas e desdobramentos da pesquisa devem ser registradas em áudio, vídeos, fotos e
po, permitindo aos alunos do curso vivenciarem o contexto sócio-cultural e ambiental
texto. Todo material será de extrema relevância na elaboração do documento final.
da região. Começa com o reconhecimento do patrimônio histórico e arqueológico local
e dos aspectos culturais da comunidade em questão.
7. Partilhando com a comunidade
Estas atividades de campo tem como finalidade aplicar os conceitos e debates de sala Ao final da formação, recomenda-se a organização de um evento para a entrega do
de aula, possibilitando que os alunos mergulhem no território de estudo, conhecendo dossiê. Tal documento deve conter o resultado da pesquisa, com a presença de atores
detalhes da história contada pelos próprios protagonistas. sociais locais, profissionais atuantes no tema e gestores públicos.

O objetivo deste evento é debater o estado do patrimônio em questão, o grau de inte-


gridade, apresentar sugestões de políticas de proteção a partir dos dados levantados e
analisados, bem como tornar público e acessível o resultado da pesquisa.

1. A “observação participante” é um método consagrado pela antropologia, proposta por Clifford


Geertz (1998), e é definido pela interação entre o observador e a comunidade/sociedade/pessoa
com a qual se está investigando. A observação se tornou o próprio método de etnografar
determinado contexto cultural. Ver mais em GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de
Janeiro, JorgeZahar Ed.1998

2. Cabe destacar que as ferramentas de comunicação entre os alunos e equipe são fundamentais
para a complementação e compartilhamento de informações das atividades.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 26 27


CADERNOS DE CAMPO
A segunda experiência em campo foi
uma visita aos currais de pesca e aos lo-
cais relacionados a esta prática tradicio-
Itamaracá, o patrimônio que habita em nós nal na praia do Pilar. Na sede da Colônia
de Pescadores Z11, organizamos uma
O curso Camboas Tupi em Itamaracá foi realizado entre maio e setembro de 2017. A pri- palestra com o pescador Murilo, presi-
meira experiência de campo foi realizada na Vila Velha dos Holandeses, em junho.. dente da associação. Em seguida, rea-
lizamos uma visita com barco, na maré
“A visita a Vila Velha, comunidade afastada do centro na Ilha de Itamaracá, nos cheia, ao Curral.
levou a descobertas de um patrimônio cultural e tradições do povo daquela
localidade. Começamos nosso passeio observando a paisagem, as casas em
volta de um grande campo, onde acontecem as festividades do local, as ra-
ras pessoas circulando, a escola no centro da comunidade que encontrava-se
bem silenciosa, embora estivesse em momento de aula.

A igreja, considerada uma das primeiras igrejas construídas no Brasil, nos foi
aberta por Dona Idalice, moradora local que detinha um patrimônio de in-
formações e conhecimento da cultura local. Dona Idalice nos contou sobre
o mistério em torno da chave da igreja, que só pode ficar sob os cuidados de
uma pessoa mais velha da comunidade. A senhora demonstrou acreditar que
sua missão era ser a guardiã da chave – não permitindo sequer que a fotogra-
fasse. Nos contou várias histórias, algumas conhecidas e mitificadas na região.
Como por exemplo a história de um misterioso túnel que saí de dentro da
igreja para uma passagem secreta para outro lugar – um túnel utilizado para
a fuga de escravos e soldados de guerra. Esta história atraiu muitos turistas e
moradores da Ilha. Dentro desta igreja encontra-se ainda o túmulo do padre
Tenório, líder revolucionário que faz parte da nossa história.”

(Relato de campo de Olindina do Nascimento, Itamaracá 2017)


fotos: Debora Herszenhut

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 28 29


Goiana
Ao final do período de formação realiza-
O curso Camboas Tupi em Goiana foi realizado entre maio
do com professores e gestores públicos
e novembro de 2017. A primeira atividade de campo acon-
atuantes no município de Itamaracá,
teceu no Quilombo de São Lourenço, localizado entre o
organizamos um evento de formatura
fundo do estuário de Catuama e Itapessoca e a plantação
dos alunos para entrega dos certificados
de cana, cuja formação está associada ao histórico de ocu-
e apresentação do dossiê sobre a pesca
pação da região e as relações de exploração colonial que se
tradicional da Ilha. Na ocasião, convida-
estabeleceram neste local.
mos a cantora Lia de Itamaracá. A ciran-
deira, merendeira aposentada da rede
Neste contexto de pesquisa, fomos guiados por três alunos
municipal, moradora do município e pa-
do ensino médio da escola Frei Campo Mayor, moradores
trimônio vivo do estado de Pernambuco
da comunidade. Na ocasião, conhecemos a Vila de São
nos ofereceu uma aula-show. O evento
Lourenço, as nascentes e reservatórios de água que abas-
contou ainda com a presença de repre-
tecem a comunidade, ruínas existentes ali e a atividade das
sentantes de gestores culturais locais e
marisqueiras.
representantes de órgãos governamen-
tais, que tiveram a oportunidade de de-
Guiados por estes jovens quilombolas,
bater sobre a importância da pesca tradi-
fomos apresentados às suas riquezas e
cional para a comunidade.
seus territórios, uma experiência que se
revelou riquíssima diante da inversão de
papéis. Ali, foram os alunos da escola que
apresentaram e ensinaram aos professo-
res (alunos da formação em educação
patrimonial) a história e cultura de sua
comunidade.
fotos: Debora Herszenhut

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 30 31


A segunda atividade de campo, realizada ao longo de dois dias intensos,
ocorreu na comunidade de Barra de Catuama. Começamos por uma visita
à vila, permitindo aos alunos do curso vivenciar o cotidiano dos pescadores
e os trabalhos realizados nas caiçaras, a confecção de artefatos e manuten-
ção de equipamentos (redes, motor, embarcação) que costumam aconte-
cer ali, muitas vezes de forma coletiva.

No segundo dia de atividade, com o uso de uma embar-


cação, fizemos uma visita ao estuário com mapeamento
e georreferenciamento das Camboas. O grupo de pes-
quisa teve como guia dois pescadores locais: Chiquinho,
também vigia da E.E. Frei Campo Mayor, e o Barqueiro
Newton, antigo pescador local.

Chiquinho, que até este momento era conhecido pelos


alunos do curso como “o vigia da escola”, neste episódio
revelou-se um prestigiado pescador da comunidade. Co-
nhecido no local como Chico da Tainha, ele relatou que
raramente pescava nas camboas, apesar de conhecê-las
muito bem. Enquanto circulávamos no interior das cam-
boas, observando os pescadores em ação, notamos que
Chico estava atento aos pontos de pesca nos momentos
em que víamos enormes tainhas pulando no interior das
camboas.
fotos: Debora Herszenhut

Chico “lia” a paisagem, atualizando sua experiência.

Chiquinho, vigia da escola e nosso


guia local apresentando o estuário e
a prática da pesca na região

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 32 33


Cabo de Santo Agostinho: da ilha a vila

Para a realização das atividades de Campo do curso de formação em educação patri-


monial oferecido a pescadoras e marisqueiras da Vila de Tatuoca (município de Cabo
de Santo Agostinho), entre fevereiro e abril de 2021, as alunas partiram em grupo para
uma pescaria.

Respeitando os protocolos de distanciamento em razão da Pandemia de COVID-19, as


atividades de formação foram divididas entre aulas online e atividade de Campo, rea-
lizada na Ilha de Tatuoca com a participação dos alunos do curso sob a orientação do
assistente pedagógico. Toda a produção do acampamento foi realizada pelas pescado-
ras e seus núcleos familiares. O registro das atividades de pesca foi realizado através do
celular e posteriormente compartilhado entre todos.

O acampamento foi feito na Ilha de Tatuoca, próximo do Canal que se forma com a Ilha
de Cocaia, tendo como paisagem o mangue, a praia, a restinga e o estuário. Pano de
fundo: o parque industrial do porto de Suape, os balneários turísticos do litoral sul de
Pernambuco e, infelizmente, a predatória especulação imobiliária da região.

Foto: Verônica, aluna do curso


A área de acampamento é um local
conhecido pelas pescadoras, e apro-
veita aspectos relevantes e estratégi-
cos da paisagem. Ali são construídas
barracas para abrigar mulheres, ho-
mens e crianças. Como ficam mui-
tos dias acampados, todo o equipa-
mento necessário para cozinhar e
dormir é trazido: redes e colchões,
mesa, cadeira, água potável, obje-
tos pessoais. Um fogão é construído
para o preparo da comida do grupo.

fotos: Debora Herszenhut


Na interação com a paisagem, as
pescadoras coletam as madeiras,
palhas de coqueiro e outros objetos
que servem para confortar e divertir
todos. Neste acampamento, cons-
truíram um banheiro com piso de
Atividade de pesca das crianças pescadoras durante concha de marisco e paredes de pa-
o acampamento na prática do saber da pesca. lha de coqueiro.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 34 35


Conhecida, a paisagem é categorizada, mapeada mentalmente e, portanto, manejada
para uso constante, sazonal ou intermitente. Esta interação com a paisagem fornece
a segurança necessária para que possam circular por diferentes locais deste território.

A prática deste saber da pesca, no interior do acampamento, fomenta encontros e tro-


cas sociais. Isso propicia um ambiente de inovação e expansão do próprio saber e de
suas transformações, como a descoberta de novos locais de pesca. Para as moradoras
de Tatuoca, um saber aprendido com a família ainda na infância, que hoje sofre com o
desinteresse das novas gerações.

A pesca das pescadoras de tatuoca é uma referência cultural para esta comunidade. É
um lugar de compartilhamento de conhecimento e celebração de épocas importantes.

Desdobramentos e descobertas:
experiências pedagógicas
Ao longo do processo do curso de educação patrimonial, algumas professoras experi-
mentaram atividades com os seus alunos. Propuseram refletir em sala de aula sobre as
questões patrimoniais do saber da pesca, bem como a importância social e econômica
desta atividade.
Pesca do marisco
As atividades ocorreram de forma interdisciplinar, lúdica e interativa, a partir de iniciati-
vas individuais e espontâneas no contexto cotidiano de sala de aula. Serão elencadas a
seguir como inspiração para projetos futuros – que possam inspirar o registro de outras
referências culturais, em comunidades tradicionais espalhadas pelo Brasil.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 36 37


SUGESTÃO DE
ATIVIDADES

“No início do curso, a gente ficou um pouco apavorada, sem


saber o que íamos repassar para nossos alunos. Como trabalhar
este tema? Mas, no decorrer do curso, a gente vai vendo as ideias
surgindo. Como sou da ilha mesmo, fui resgatando da memória
como é que se faz, perguntando pro marido, pros cunhados,
e ia trazendo as ideias para sala de aula. Agora a gente está
planejando fazer uma maquete das caiçaras, do jeito que era
antigamente.”

Josiane Maria da Silva


professora da escola João Paulo II, na Ilha de Itamaracá
SUGESTÃO DE ATIVIDADES

ATIVIDADE 1: MURAL DA PESCA ATIVIDADE 2: MAQUETE DO CURRAL


PASSO 1 Atividade sugerida para turmas de alfabetização:
utilizar a palavra-chave “pesca” para introduzir a letra “P”.
Disparar perguntas: “Já pescou? Gosta de pescar? Que instrumentos você conhece e
já usou para pescar? Como é que você sabe qual o melhor lugar para pesca? Será que
PASSO 1
pescar no mar é igual a pescar no rio ou em uma lagoa? Será que a pesca é única fonte
Relatos orais, procurando resgatar o conhecimento prévio dos alunos acerca da pesca
de sustento das pessoas?”
como uma das profissões mais encontradas em sua comunidade. Utilizar como ferra-
menta auxiliar a exposição de imagens que retratam os diversos tipos de pesca e as
E então, promover o debate de conteúdos sobre os diversos tipos de pescaria (curral,
profissões ligadas a este ofício.
rede de arrasto, covos, cerco fixo flutuante, linha de mão).

PASSO 2
Utilizar como ferramenta auxiliar para o debate a apresentação de imagens dos diver-
Confeccionar origamis de peixes.
sos tipos de embarcações utilizadas na pesca, músicas sobre pesca (sugestão: “Suíte do
pescador”, de Dorival Caymmi), e assim, começar a despertar a curiosidade dos alunos.
PASSO 3
Confeccionar coletivamente uma maquete representativa de um curral de pesca.
PASSO 2
Os alunos devem coletar objetos que remetam ao tema da pesca, como conchas de
marisco, casquinha de siri, ostras, rede de pesca, samburá, vara de bambu.

PASSO 3
Com os objetos trazidos pelos alunos, confeccionar coletivamente um mural da pesca,
em sala de aula.

Ideia: usar tela de


galinheiro para
fazer o mural e
pendurar objetos
com barbante

Ideia: usar uma placa de


isopor, palitos de sorvete
e barbante para fazer a
maquete

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 40 41


SUGESTÃO DE ATIVIDADES

ATIVIDADE 3: REPÓRTER POR UM DIA ATIVIDADE 4: RESGATANDO SABERES


O aluno deve fazer uma entrevista com uma pessoa ligada à pesca (pode ser pescador, PASSO 1
marisqueiro, barqueiro, curraleiro, construtor de curral...) Esta atividade tem como obje- Nas comunidades onde há a tradição de festejos que envolvem a cultura da pesca (por
tivo realizar um pequeno recenseamento da comunidade pesquisada, possibilitando a exemplo a Procissão Marítima de São Pedro), trabalhar com os alunos a relevância desta
realização posterior de uma análise tanto qualitativa quanto quantitativa dos dados e, celebração para a comunidade, o respeito sobre a diversidade religiosa e os benefícios
posteriormente, trabalhar com temas como sociologia, matemática, geografia, história, da realização evento para a comunidade, oportunizando trabalhar os conceitos de di-
dentre outros temas transversais. versidade, cidadania e tolerância religiosa.

Qual o seu nome completo? PASSO 2


Quantos anos tem? Construir uma maquete da procissão marítima com origami (por exemplo barcos feitos
Onde você mora? com dobradura) oportunidade também para trabalhar geometria e matemática. Recor-
Onde você costuma pescar? Local? tar bonequinhos de revista para colocar no barco.
Quem ensinou o senhor a pescar?
Que tipo de peixes ou crustáceos você pesca? Encontrar imagens que se relacionem com o tema (por exemplo, imagens de padre e
Você usa algum transporte para pescar? de São Pedro...), recortar e colocar no barquinho de papel, para representar a imagem
O que você faz com o que pesca? do santo durante a procissão.
Há quanto tempo você pesca?
Você pesca porque gosta ou por necessidade? Coletar ramalhetes de flores para enfeitar os barcos.

Idéia: Conversar com as


pessoas mais velhas da PASSO 3
comunidade, pais, avós, Elencar outras celebrações associadas a esta tradição (Por exemplo: músicas e ritmos
tios, vizinhos tradicionais e pratos típicos associados à celebração).

Idéia: Pesquisar
quais celebrações
estão associadas ao
bem inventariado.
Ex: Festas, ritmos
musicais. danças...

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 42 43


SUGESTÃO DE ATIVIDADES

ATIVIDADE 5: FEIRA DA PESCA PARA QUÊ?


Sensibilizar os pescadores e a população local residente nas
SUGESTÃO 1 comunidades pesquisadas para a importância das Camboas
Promover entre as turmas uma exposição dos trabalhos. Exemplo: uma exposição dos
enquanto Patrimônio Cultural formal
trabalhos em sala de aula durante uma semana para que possa ser vista por toda co-
munidade.
Identificar conflitos socioambientais relativos ao
SUGESTÃO 2 desenvolvimento destas atividades.
Partilha de experiências entre as turmas que desenvolveram trabalhos associados ao
tema inventariado. Exemplo: As turmas podem fazer um relato oral de sua experiência Este trabalho revelou a existência de um cenário de profunda mudança cultural para as
e descobertas. comunidades de pesca do Nordeste. A perda paulatina de seus territórios de referência
e o consequente distanciamento destas comunidades tradicionais do mar e de seus
SUGESTÃO 3 ciclos naturais, promovem não só mudanças de identidade1.
Convidar pessoas ligadas a comunidade escolar (pais, avós, tios, serventes, professores)
que tenham práticas associadas ao tema inventariado para que possam compartilhar Acontecem também uma série de conflitos sócio-ambientais, surgidos das formas de
seus saberes e experiências. gestão da ocupação região litorânea, que vem estreitando e poluindo territórios de pes-
ca com políticas de urbanização predatória, exploração desordenada do turismo e de
exploração agro-industrial sem planejamento.

A Vila de Nova Tatuoca, por exemplo, se formou em 2004 com a remoção dos morado-
res da Ilha de Tatuoca, a propósito da construção do Complexo industrial e porto do Su-
ape. A comunidade de moradores da Ilha era composta essencialmente por mulheres,
homens e crianças que viviam da pesca artesanal (ainda vivem, só que agora em outro
contexto). São famílias que praticam a pesca tradicional em um território com extenso
histórico de degradação ambiental, ocupação urbana, turística e industrial.

A relação do conhecimento da pesca irá se transformar, inevitavelmente, nos próximos


anos, através do paulatino abandono das atividades relacionadas à prática e reprodução
deste saber. Diante de tais constatações, é fundamental a elaboração e aplicação de po-
líticas públicas constituídas a partir do diálogo entre os diversos atores sociais (Estado,
corporações, populações tradicionais e atores sociais) com o objetivo de respeitar e pro-
teger a extensa cadeia sociocultural e econômica a qual a pesca tradicional artesanal
movimenta e está inserida.

1 Wiedemann M. (2019)

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 44 45


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um consenso entre os participantes da formação: a necessidade de desenvolvimento
de mais pesquisas e processos de inventários participativos. O foco seria nos diferentes
tipos de pesca. Por exemplo, a pesca de currais e a mariscagem. O objetivo destes tra-
balhos é produzir novos protocolos culturais da pesca tradicional, em diferentes regiões
e grupos e comunidades tradicionais do litoral brasileiro.

Uma segunda demanda surgida ao longo dos cursos: desenvolvimento de trabalhos


de ecoturismo voltados à tradição da pesca. Um exemplo seria a visita aos currais e às
camboas, proporcionando experiências que valorizem a história desta tradição para as
comunidades. Considerando o imenso potencial turístico destas localidades, ações de
ecoturismo bem planejadas podem fomentar tanto a preservação deste bem cultural
quanto o empoderamento da economia local, para que dialogue com o turismo já exis-
tente nas comunidades litorâneas do Nordeste do Brasil.

Aparece também como recomendação a inclusão do conteúdo do dossiê, produzido


durante a formação, como material de apoio didático aos professores. Por fim, outra
ideia muito interessante surgida nesta pesquisa foi a criação de currais-escolas, que
funcionariam como escolas técnicas profissionalizantes desta prática de pesca.

CONCLUSÃO
Elaboramos, para tanto, este guia para que sirva de subsídio para elaboração de polí-
ticas públicas relacionadas à manutenção, valorização e proteção do saber da pesca
enquanto referência cultural bem como de seus territórios associados.

Além do mais, pretendemos inspirar comunidades e agentes sociais locais para a reali-
zação de inventários participativos de seus patrimônios culturais, com o objetivo preser-
var e proteger a história cultural dos povos e populações tradicionais.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Miniguia de Educação Patrimonial 46 47


Agradecemos a todos que contribuíram para a realização deste
trabalho, em especial a Associação de Pescadores de Vila de
Tatuoca, a Secretaria Municipal de Educação e Itamaracá em
especial a Olindina e ao Paulo. A equipe gestora e aos alunos
da E. E. Frei Campo Mayor, em especial ao Chiquinho, nosso
guia da maré e a equipe do Serviço de Tecnologia Alternativa -
SERTA. Agradecemos a todos os entrevistados que, com muita
generosidade, compartilharam esta tradição e seus saberes. Por
fim, a todos os alunos do curso que mergulharam de cabeça
nesta aventura e traçaram um caminho sem volta em suas
descobertas no universo da antropologia e da arqueologia,
relacionando com maestria esses conhecimentos adquiridos em Participaram do processo de levantamento de saberes sobre a pesca artesanal em
Goiana e das atividades de formação os professores e gestores das E.E. Frei Campo
suas práticas pedagógicas cotidianas. MUITO OBRIGADA!
Mayor: Karla Danielle Barbosa Aranha da Silva, Tarcísio Alves de Araújo Pereira, Ednalza
Vieira Betzen, Ivone Galvão Sales Monteiro, João Alfredo dos Santos Neto, José Olímpio
de Oliveira Neto, Maria de Lourdes Gonçalo da Silva, Pablo Gonzaga da Silva, Zélia
Tavares de Azevedo, Ana Maria Dornelas de Lima, os alunos Fernando Rogério da Silva,
Geovany da Silva Ferreira, Jõao Pedro de Lima Tavares, José Felipe Francisco Gomes.

QUEM SOMOS Em Itamaracá participaram as professoras: Valquíria Barbosa de Souza Alves, Severina
Batista dos Santos, Rosimary Josefa Camilo dos Santos, Daniela Alves de Santana, Marta
DEBORA HERSZENHUT é mestre em antropologia e Correia de Lima, Auriete Correia de Lima, Claudia Rodrigues de dos Santos, Dione de
doutoranda em desenvolvimento sustentável, roteirista, Caldas Pinheiro, Niedja Alves Santos Silva, Daianna Karla Guedes Alves, Fátima Cristina
documentarista, produtora cultural e educadora popular Costa e Silva, Edja Maria de Santana Mousinho, Everalda Bezerra da Silva, Jaqueline
com mais de 15 anos de experiência. Tem como princípio Maria de Souza, Rosymere Ximenes de Araújo, Grasiela Francine Borges Silva, Mariluce
em sua prática artística utilizar-se de dispositivos etno- Maria da Silva Honorato, Divani Maria Ferreira, Girlane Maria Barbosa Santiago, Micilene
gráficos para as suas criações. Guarda profundo respeito da Conceição Nascimento, Sonia Maria Pereira, Marcia Maria Ramos de Souza, Wang
e admiração pelos guardiães da medicina popular, hoje Freire Evangelista, Clenice Ferreira da Silva, Eline Rodriques dos Santos, Adriana Miguel
sua grande inquietação tanto artística quanto acadêmi- da Silva, Eline Rodrigues dos Santos, Adriana Virginia Barros Madureira, Maria Margareth
ca. Debora é coordenadora pedagógica e produtora exe- de Santana, Roseleide Dias de Melo, Josiane Maria da Silva, Rejane Barbosa da Silva,
cutiva do projeto Camboas Tupi. Silvania Gomes da Silva, Olindina Maria Cruz do Nascimento.

MARIO WIEDEMANN é mestre em antropologia e dou- Em Cabo de Santo Agostinho participaram da formação Maria Lucia dos Santos da
tor em arqueologia. Iniciou sua pesquisa com popula- Silva, Adington De Araújo Soares, Eliane Maria Silva dos Santos, Maria de Jesus da Silva,
ções pesqueiras ainda na graduação, com ênfase nas Edjane Maria da Silva, Janiene Maria dos Santos, Lígia de Souza Santana, Maria Verônica
atividades dos pescadores/caiçaras da Ilha Grande (RJ) e da Silva, Fabia Maria Da Silva, Maria José da Silva e Marta Marieli da Silva.
deu continuidade à sua pesquisa em sua tese de douto-
ramento de abordagem etnoarqueológica, com ênfase A equipe de trabalho foi composta pelos assistentes do curso e produtores de campo
nas transformações da paisagem, na cultura material e Ana Claudia Bastos, Guimarães José da Silva e Leonardo Moura.
no conhecimento da pesca de comunidades costeiras e
estuarinas do Maranhão e de Pernambuco. Atua há mais As ilustrações deste guia foram feitas por Eva Uviedo, assim como o projeto gráfico. As
de 10 anos no campo da arqueologia pública. Desde 2015 fotos, salvo indicadas, são de Debora Herszenhut. A primeira revisão foi feita por Pérola
desenvolve projetos culturais com ênfase na preservação Mathias, e a edição e revisão final do texto foi feita por Ronaldo Bressane.
e publicização do patrimônio arqueológico. Idealizador,
ao lado de Debora Herszenhut, do projeto Camboas Tupi, As atividades e o material deste guia foram elaborados e coordenados por Debora
em que atua como coordenador pedagógico e facilitador. Herszenhut e Mario Wiedemann.

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 48 49


BIBLIOGRAFIA
Acesse o site do projeto Camboas Tupi: Educação
Patrimonial sobre a pesca tradicional em Pernambuco
para saber mais detalhes

www.projetocamboastupi.com.br

ABBEVILLE, C. História da missão dos padres direitos humanos em comunidades tradicionais vida nos manguezais: A ocupação humana da costa atlântica
capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas pesqueiras no Brasil. Brasilia/ DF. 2016. amazônica durante o Holoceno. In: Arqueologia Amazônica I
circunvizinhanças. (Publicada originalmente Organizadoras Edith Pereira e Vera Guapindaia- MPEG; IPHAN;
na França em 1614). Traduzida e Anotada por FAUSTO, C. Os índios antes do Brasil. Rio de SECULT-Belém/PA- 2010.
Dr. Cezar Augusto Marques. Maranhão 1874. Janeiro: Jorge Zahar Editor. 93 pp. 2000.
PEREIRA, D.L.T. Expansão dos tupi guarani pelo território
ALMEIDA, F.O. de. Cerâmica antiga na periferia FIGUTTI, L. Estorias de arqueo-pescador: brasileiro: correlação entre a família linguística e a tradição
do leste amazônica: O sítio Remanso/MA. considerações sobre a pesca nos sítios de cerâmica. Tópos. V. 3, N° 1, p. 29 - 80, 2009.
Revista de Antropologia Amazônica (5)-1 72-96, grupos pescadores coletores do litoral. Revista
2013. de Arqueologia, n.11 ( pág.57-70), 1998. PROUS, A. Arqueologia brasileira. Editora UNB//Brasília-DF.1992.

ALMEIDA, F.O. de & NEVES, E.G. Evidências Sambaquis: hunters-gatherer coastal SILVA, F.A.. Etnoarqueologia: Uma perspectiva arqueológica
Arqueológicas para a origem dos Tupi- archaeological deposits in Brazil. IN: The para o estudo da cultura material. Metis História & Cultura, V.8,
guarani no leste amazônico. MANA 21(3): 499- Chinchorro Culture. UNESCO, 2014. nº16, p.121-139, 2009.
525, 2015.
FONSECA, D; SILVA, S.F.S.M. da. Os pescadores, SILVA, D.F. Análise de captação de recursos da área do
BIANCHINI, G.F.; GASPAR, M.D.; DEBLASIS, P.; coletores e caçadores holocênicos do litoral sul sambaqui Saco de Pedra, litoral Sul do estado de Alagoas.
SCHELL-YBERT, R. Processos de formação do e norte: considerações sobre sambaquis. CLIO PPGARQ/UPPE- Recife, 2009.
sambaqui Jabuticabeira-II: interpretações Arqueológica- v3/N1, p.95-145, Recife, 2017.
através da análise estratigráfica de vestígios SILVEIRA, K.A. Conflitos socioambientais e participação social
vegetais carbonizados. R. Museu Arq. Etn., São LIMA, Tania Andrade. Cultura material: a no Complexo Industrial Portuário de Suape, Pernambuco.
Paulo, n. 21, p. 51-69, 2011. dimensão concreta das relações sociais. Boletim Dissertação de Mestrado -PRODEMA/ UFPE 2010.
do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências
BANDEIRA, A.M- Ocupações humanas pré- Humanas, v. 6, n. 1, p. 11-23, jan.-abr. 2011. SOUZA, T.O. Marcondes de. O descobrimento do Brasil: Estudo
coloniais na Ilha de São Luís, MA: inserção crítico de acordo com a documentação histórico-cartográfica
dos sítios arqueológicos na paisagem, MARTINELLI, S.A; SANTANA, C.C; GUIMARÃES, e a náutica. COMPANHIA EDITORA NACIONAL- SÃO PAULO,
cronologia e cultura material cerâmica. Tese M.B. Influência da evolução costeira holocênica 1883.
de Doutorado, MAE/USP-2012. na ocupação por grupos sambaquieiros
Resultados das prospecções arqueológicas nas TENÓRIO, Maria Cristina. Pré-história da Terra Brasilis. Rio de
BEGOSSI, A. Ecologia de pescadores regiões litorâneas dos estados de Sergipe e da Janeiro: UFRJ, 1999.
artesanais da Baía de Ilha Grande. IBIO/ Bahia no Nordeste do Brasil. Diálogo Andino-Nº
Ministério da Justiça. 2009. 41, Páginas 149-157, 2013. IPHAN
Inventário nacional de referências culturais: manual de
BUENO. L.; DIAS, A. Povoamento inicial da MONTENEGRO, Antônio Carlos Duarte. Engenho aplicação. Apresentação de Célia Maria Corsino. Introdução
América do Sul: contribuições do contexto Massangana: Apropriação e uso do Patrimônio de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília : Instituto do
brasileiro. Revista de Estudos Avançados. V. 29 Histórico Arquitetônico. Antônio Carlos Duarte Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2000.
N. 83, 2015. Montenegro. - Recife: O Autor, 2014. 115 folhas: il.
30 cm. Orientadora: Prof.ª. Dra. Emanuela de S Patrimônio Cultural Imaterial: para saber mais. Instituto do
CALIPPO, F.R. Sociedades sambaquieiras, Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ; texto e revisão de,
comunidades pesqueiras. Tese de Doutorado. MUNITA, D; Alvarez, R; O campo, C. Corrales Natália Guerra Brayner. -- 3. ed. -- Brasília, DF : Iphan, 2012.
Programa de Pós-Graduação MAE/USP, São de piedra, pesca Passiva em la costa interior
Paulo, 2010. de Chiloé. Boletin de la Sociedade Chilena de Patrimônio cultural arqueológico: diálogos, reflexões e
Arqueologia. N. 37, -Pág. 61 a 74-2004 práticas. Edição de Rossano Lopes Bastos e MariseCampos
CASTRO, E.V. Araweté: os deuses canibais. de Souza. – São Paulo, SP: Superintendência do Iphan em São
Tese de Doutorado. Museu Nacional/ Rio de NEVES, E G. Índios antes de Cabral: Arqueologia e Paulo, 2011.
Janeiro, 1986. história indígena no Brasil. In: Temática Indígena
Na Escola: Novos Subsídios para Professores de LEGISLAÇÃO
CPP-Conselho Pastoral dos Pescadores, Org.: Primeiro e Segundo Graus[S.l: s.n.], 1995. DECRETO Nº 3.551, DE 4 DE AGOSTO DE 2000. Curiosidade: o símbolo
Tomáz, Al-zení de Freitas & Santos, Gilmar. ARTIGOS 215 e 216 da Constituição Federal de 1988. do projeto é baseado no
Conflitos socioambientais e violações de PEREIRA, Maura Imazio & SCHANN Denise Pahl. A esquema de pesca de currais

HISTÓRIA DE PESCADOR - Pequeno Guia de Educação Patrimonial 50 51


Organização: Debora Herszenhut
Textos: Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Coordenação pedagógica do Programa de educação patrimonial Camboas Tupi:
Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Facilitador do Programa de educação patrimonial Camboas Tupi: Mario Wiedemann
Assistencia Pedagógica do Programa de educação patrimonial Camboas Tupi:
Ana Claudia Bastos, Guimarães José da Silva e Leonardo Moura
Fotos: Debora Herszenhut (salvo indicadas)
Projeto gráfico e ilustração: Eva Uviedo
Preparação e revisão de texto: Ronaldo Bressane
Primeira revisão: Pérola Mathias
Realização: Saberes e Resistência

GOVERNADOR DE PERNAMBUCO
Paulo Câmara
VICE-GOVERNADORA
Luciana Santos
SECRETARIA DE CULTURA
Secretário de Cultura | Oscar Barreto

FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO


E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO (FUNDARPE)
Diretor-Presidente | Severino Pessoa dos Santos
Vice-Presidente | Lindivaldo Oliveira Leite Júnior
Superintendente de Gestão do Funcultura | Aline Oliveira Cordeiro da Silva
Superintendente de Planejamento e Gestão | Ivany Francisco Júnior
Gerente-Geral de Preservação do Patrimônio Cultural | Célia Campos
Gerente de Ação Cultural | André Brasileiro
Gerente de Produção | Júlio Maia
Gerente de Administração e Finanças | Jacilene Oliveira
Coordenadora Jurídica | Simone de Oliveira

H439
Herszenhut, Débora.
História de pescador: pequeno guia de educação
patrimonial / Débora Herszenhut; Mario Wiedemann;
ilustrações de Eva Uviedo. Olinda:Ed. dos Autores, 2022.
52 p.
ISBN: 978-65-00-54707-8

1.Patrimônio Cultural. 2. Patrimônio material. 3.


Patrimônio imaterial. 4. Pesca artesanal. 5.
Arqueologia. 6. Antropologia. 7. Meio ambiente. 8.
Educação. I. Wiedemann, Mario. II. Uviedo, Eva. III.
Título.
CDD 363.69

Catalogação na fonte: Ivy Fini Rodrigues – CRB 8/7470

Realização: Patrocínio:
Neste guia, a pesca tradicional é
um dispositivo para pensarmos
esta referência cultural
enquanto patrimônio, elevando
as experiências e práticas de
comunidades a formas particulares
de construção de identidades e
tradições culturais muito antigas,
porém muito vivas na sociedade
brasileira. A ideia é sensibilizar o
público em relação à importância
da preservação e identificação
de nossos patrimônios culturais
de natureza imaterial, além de
estimular o desenvolvimento
de políticas públicas locais que
contribuam para a valorização e
preservação de tais saberes.

Você também pode gostar