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NATAL
2021
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NATAL
2021
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Aprovada em:___/___/___
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. José Clewton do Nascimento
Orientador
PPAPMA - UFRN
______________________________________
Profa. Dra. Maísa Fernandes Dutra Veloso
Examinadora interna
PPAPMA - UFRN
______________________________________
Profa. Dra. Cíntia Camila Liberalino Viegas
Examinadora externa ao programa
DARQ -UFRN
______________________________________
Monique Lessa Vieira Olímpio
Examinadora Externa
UFERSA -Universidade Federal Rural do Semiárido
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AGRADECIMENTOS
Agradeço também à Maria José e Néia, pelo apoio logístico domiciliar, quando
convocadas.
Por fim, agradeço a todos que compreenderam as minhas ausências. Não só pela
pandemia, mas principalmente por estar desenvolvendo este trabalho.
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RESUMO
ABSTRACT
This Professional Master's Conclusion Work, also constituted in a technical report, consists of
an architectural project of intervention in a building of patrimonial value in the Ribeira
neighborhood, destined to spaces for social, corporate events and a museum with emphasis on
its memory, history and symbolism. Projects in buildings of historical interest are complex in
themselves, the difficulties of adapting to contemporary times require backed decisions,
especially with regard to buildings in a state of ruins. In order to develop the project, a
theoretical and conceptual study of the theme of restoration was initially carried out through
bibliographic research and studies of related design references. Then, the architectural
programming was developed, with definition of dilemmas and goals of the project. From this
base, and with the help of the curricular components of the course, the design process was
gradually being developed and mapped, through various forms of registration, from the initial
stages of historical survey and construction, studies of constraints, design and development of
the architectural party. Considering the specific objectives, the work sought architectural
strategies to minimize the impacts of the intervention, seeking reworkability and authenticity.
The results achieved consist of the project proposal for the “A Samaritana” building, seeking
to adapt it to its new use, reconciling the current recommendations for restoration and the
current legislation. Finally, it is expected that this work, still under development, will meet the
needs imposed on the project and may contribute to professional training in relation to the theme
addressed.
Keywords: Architectural project. Cultural heritage. Reuse. Symbolism. Memory. The
Samaritan. Authenticity. Reworkability.
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
1.1 Problemática ............................................................................................................... 11
1.2 Objeto e Objetivos ...................................................................................................... 14
1.3 Justificativa ................................................................................................................. 14
1.4 Procedimentos Metodológicos ................................................................................... 16
1.5 Estrutura do Relatório ............................................................................................... 17
2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL .......................................................... 19
2.1 Tema............................................................................................................................. 19
2.2 O processo histórico de preservação do patrimônio cultural edificado e suas
principais correntes ................................................................................................................ 19
3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA .................................................................................. 30
3.1 Cinema na Praça/ Paraty –RJ ................................................................................... 30
3.2 Parque das Ruínas/ Santa Tereza- RJ ...................................................................... 38
3.3 Paço do Frevo/ Recife-PE ........................................................................................... 45
3.4 Rebatimento no Projeto ............................................................................................. 50
4 CARACTERIZAÇÃO DA EDIFICAÇÃO ............................................................... 53
4.1 Entorno/ Local de Intervenção .................................................................................. 53
4.2 Histórico e Reconhecimento do Bem Cultural ......................................................... 55
4.3 Estado de Conservação e Preservação (Diagnóstico) .............................................. 62
4.4 Análise da fachada ...................................................................................................... 70
4.5 Simbolismo da Edificação .......................................................................................... 73
5 CONDICIONANTES PROJETUAIS ........................................................................ 75
5.1 A área e o terreno/Local de Intervenção .................................................................. 75
5.2 Uso do solo ................................................................................................................... 76
5.3 Ocupação do solo ........................................................................................................ 76
5.4 Gabarito ....................................................................................................................... 78
5.5 Aspectos físicos e ambientais ..................................................................................... 78
5.5.1 Insolação, sombreamento e fator de visão do céu .................................................................... 80
5.5.2 Iluminação ................................................................................................................................ 83
5.5.3 Ventilação................................................................................................................................. 83
5.5.4 Recomendações de estratégias bioclimáticas ........................................................................... 86
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1 INTRODUÇÃO
A sua relação com o urbano é relevante no sentido em que se trata de uma edificação
de destaque do Centro Histórico de Natal (CHN) e do seu valor simbólico para o bairro, além
de estar posicionada de forma estratégica na via, pois a rua faz uma curva, deixando sua fachada
quase que de frente para quem entra na via de mão única.
O fato de ser muito próxima à praça Augusto Severo também é algo importante,
pois permite que a mesma seja vista da praça, destacando-se por sua fachada eclética e que,
por muito anos, teve uma árvore incrustada na fachada, o que levou muita gente a voltar seu
olhar para esta edificação.
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1.1 Problemática
grande parte ociosa e não recebendo grandes investimentos que implemente um melhor
aproveitamento de fato, alavancando a sua revitalização.
Um bom exemplo disso é o PRAC-Ribeira (Plano de Reabilitação de Áreas Urbanas
Centrais), que praticamente permanece apenas no papel. Com isso temos vários problemas
visíveis em relação à deterioração das edificações, no próprio PRAC-RIBEIRA1, ainda no ano
de 2006, foi feito um levantamento quantificando o estado de abandono e degradação dos bens,
onde se constatou que existiam muitos prédios completamente abandonados.
Passaram-se treze anos e muito provavelmente a quantidade de prédios abandonados
deve ter aumentado, uma vez que nada foi feito para mudar essa realidade, o que acaba
rebatendo no centro histórico de um modo geral. Assim como no resto do país, os fatores para
que isto ocorra são muitos, mas certamente as questões socioculturais, como educação,
desemprego, violência, entre outras, estão fortemente presentes e demonstram um
desconhecimento da população da própria história e com isso, podemos perceber a importância
da preservação do patrimônio.
O abandono de décadas, o desconhecimento e a falta de atrativos vêm, a cada dia,
afastando a população do centro histórico, principalmente da Ribeira. De forma que é urgente
que ocorram intervenções e incentivos para requalificação do bairro e ações de educação
patrimonial para inserir os jovens nesse ambiente histórico, para que possa ser preservado e
passado às futuras gerações.
Segundo estudo realizado para o Tombamento do Centro Histórico de Natal, existem
64 edificações de destaque que possuem valoração maior e muitas delas estão abandonados.
Dentre estas, podemos destacar 5 já notificadas pelo IPHAN, para que sejam tomadas
providências acerca da sua preservação. O edifício “A SAMARITANA” é um desses 5
exemplares, com muito mais de 25 anos fechado. O prédio encontra-se em estado de
degradação. Apesar de sua fachada encontrar-se um pouco descaracterizada, não podemos dizer
o mesmo do seu interior, já bastante modificado, fato constatado durante visita ao local.
Costa (2006) relata que o mesmo foi erguido no ano de 1916 com dois pavimentos
originais, sendo construído e projetado pelo proprietário, de origem pernambucana, o senhor
Serquiz Elias, para ser uma loja de tecidos. A edificação de estilo eclético, teve como segundo
uso outra loja de tecidos, “Lojas Paulista” que, segundo Costa (2006) alugou o térreo da
edificação. O autor aponta ainda que o imóvel abrigou uma pensão frequentada por gente
1
PRAC-RIBEIRA, foi consequência de uma parceria entre o Ministério das Cidades, a Caixa Econômica Federal
e a Prefeitura do Natal, no qual através do Programa de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais da Secretaria
Nacional de Habitação, financiou a elaboração do Plano de Reabilitação do Bairro da Ribeira.
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simples, mas que no ano de 1981, foi reformado e reaberto pelo senhor Arruda Sales para
abrigar o “Café Frenezi”, que teve vida curta, tendo fechado suas portas em 1983. Por último,
foi alugado por uma empresa ainda desconhecida, mas que também teve curta permanência.
Desde então, o prédio permaneceu fechado e abandonado por muitos anos.
“A SAMARITANA” é uma edificação de grande simbolismo para a população.
Certamente, o prédio mais fotografado e querido pelos frequentadores do bairro. Um verdadeiro
ícone da resistência ao descaso e ao tempo. Um dos principais desafios para esse projeto será
adequar o programa solicitado pelo cliente, que atenderá usos distintos, que serão um café, um
museu e dois espaços para eventos, sendo um corporativo e outro social. Além disso, o projeto
deverá ter atrativos que valorizem a edificação e reforcem a importância da preservação do
patrimônio edificado, proporcionando ao usuário uma experiência inesquecível.
1.3 Justificativa
Tombamento do CHN, que tem grande valor histórico e “A SAMARITANA” é uma destas
edificações. Além disso, o proprietário da edificação foi notificado pelo IPHAN-RN para que
algo seja feito para garantir a integridade do prédio.
Como arquiteta e frequentadora do bairro da Ribeira, sempre me senti tocada pelo
abandono e desperdício do potencial que uma boa parceria entre comunidade e gestão pública
poderia propiciar ao centro histórico, proporcionando a manutenção do patrimônio material
existente. Acredito que todo arquiteto é, antes de tudo, um educador, pois somos detentores de
conhecimento técnico e temos como obrigação, instruir aos nossos clientes e à população de
uma forma geral, sobre a importância da preservação da história e do patrimônio cultural de um
modo geral. Lutar pela preservação é item básico e indelével do ser consciente e que
compreende sua importância.
Sendo este um dos principais motivos para a escolha desta edificação, além do grande
incômodo e o sentimento do que poderia ser mais feito pela mesma. Essa inquietude veio em um
momento oportuno, onde o proprietário busca dar um novo uso ao edifício, devido à provocação do
IPHAN-RN, que, por motivos pessoais, ficou muitos anos se deteriorando pela ação do tempo.
Outro fator importante para ser ressaltado dessa proposta em nossa cidade, é o fato de que a
intervenção será feita em uma ruína.
Essa necessidade latente de restaurar a edificação e dar um novo uso a esta é um dos motivos
fundamentais que move este trabalho. Para muitos, “A SAMARITANA” é um símbolo da resistência
do bairro que, apesar do abandono e do tempo, resiste bravamente, mantendo praticamente íntegra
sua fachada e deixando evidente sua “Unidade Potencial” (BRANDI, 2013).
A intenção inicial é devolver ao imóvel um uso, o que proporcionaria a facilidade de
manutenção do mesmo. O principal uso pretendido, será um museu da “Água Mineral Santa
Maria”, além de um café, e dois ambientes para eventos, sendo um para eventos sociais e outro
para eventos corporativos.
Outro importante motivo para o desenvolvimento deste trabalho é ampliar o repertório
teórico-conceitual-metodológico, estudando as premissas técnicas e os critérios de projeto para
intervenções em edificações de valor patrimonial.
Considero importante ressaltar que no atual momento de pandemia, o planejamento da
pesquisa não aconteceu exatamente como idealizado, prejudicando o estudo direto, que não foi
possível ser realizado, por exemplo. Além de toda a dificuldade de conciliação das atividades
da vida on-line.
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Este relatório está dividido em dois volumes. O primeiro contempla a parte teórica e o
segundo, o volume dos projetos, sendo o primeiro volume distribuído em 09 capítulos, conforme
elencados a seguir:
No capítulo 1, são abordadas a problemática, objeto e objetivos, a justificativa, os
procedimentos metodológicos e é apresentada a estrutura do relatório.
No capítulo 2, temos o desenvolvimento do referencial teórico-conceitual, com a apresentação
do tema e retórica sobre as teorias contemporâneas de intervenção no patrimônio edificado.
O capítulo 3 apresentamos dois estudos de referência: primeiro, o Cinema na Praça, em
Paraty-RJ e, em segundo, o Parque das Ruínas, no Rio de Janeiro capital e, por fim, o seu
rebatimento no projeto.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL
2.1 Tema
Com esta frase emblemática de Heródoto, iniciamos esse assunto que, para muitos,
pode parecer controverso. É fato notório de todos que a ciência evolui, que o conhecimento
humano desenvolve-se, acompanhando as novas descobertas, fazendo-nos refletir sobre qual a
melhor forma para se viver nesse planeta e, com isto, muitas das nossas crenças são
questionadas. Esta realidade faz-nos perceber que teorias tidas como as mais adequadas em um
determinado tempo, podem ser revistas no futuro.
Neste ínterim, o tema da intervenção do patrimônio edificado é, por muitas vezes,
polêmico e muitos foram os estudiosos que criaram diversas correntes de pensamento que foram
tidas como as mais adequadas em seu tempo, porém não tão bem aceitas a posteriori. Desta forma,
é importante refletir um pouco sobre a evolução da temática para entender sobre as teorias
contemporâneas de intervenção no patrimônio edificado. Devemos compreender também o
contexto em que elas se inserem para nos ajudar em uma reflexão crítica sobre cada uma.
Essa noção de conservação dos monumentos começa a surgir ainda no Renascimento,
de acordo com Choay (2001). Essa percepção a respeito das construções históricas ocorre por
volta de 1400, mas o estudo da temática e suas teorias só começam a se consolidar a partir do
século XVIII, com a Revolução Francesa, Revolução Industrial e o Iluminismo. Esses 3
movimentos ocorridos na Europa, mudaram a forma das pessoas ver o mundo e,
consequentemente, o modo com o qual elas se relacionavam com o seu passado.
Na França, no período pós-Revolução, muitos edifícios góticos foram destruídos, o
que acabou por contribuir com o amadurecimento da consciência histórica e passaram a ser
tomadas as primeiras medidas oficiais sobre a preservação de monumentos históricos. Devemos
lembrar que também ocorria um crescente interesse pela arquitetura medieval, que foi
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desconsiderada por séculos e passou a ser vista por muitos como uma “verdadeira manifestação
do gênio nacional” (KÜHL, 2000, p. 09). Esse interesse não era exclusividade dos franceses,
na Alemanha e na Inglaterra começavam a surgir diversos estudos sobre o gótico.
Nesse contexto, devemos ressaltar a contribuição de um dos mais polêmico teórico do
restauro, Eugene Emmanuel Viollet-Le-Duc (1814- 1879), arquiteto francês. É importante
compreender seu legado e como suas teorias se consolidaram, para isso retomemos umas de
suas frases mais célebres e polêmicas, principalmente nos tempos atuais.
projeto “original”. Buscava um projeto ideal, que poderia nunca ter existido, defendia que a
restauração refizesse uma obra incompleta, a fim de conferir coerência e lógica ao organismo.
Procurava sempre a pureza estilística e defendeu a vinculação da forma à função e à
estrutura. Defendia que o restauro deveria respeitar o estilo que lhe fosse próprio, assim como
sua estrutura. Ele certamente foi o maior representante do restauro estilístico, onde cada
elemento arquitetônico se subordina ao conjunto, contribuindo para a unidade do edifício.
Podemos dizer que um dos seus principais legados é a definição do termo restauro.
Contemporâneo a Viollet-Le-Duc e em forte oposição ao seu pensamento, temos o
inglês John Ruskin (1819-1900). Era artista, escritor, poeta e crítico de arte que viveu em uma
época de transição entre os antigos costumes sociais e os novos decorrentes da Revolução
Industrial. Essa dicotomia revelou sua forte ligação com a cultura tradicional. Fato este que
pode ter sido influenciado fortemente pela sua rígida educação.
De fato, John Ruskin foi um ferrenho crítico da Revolução Industrial, combatendo
intensamente o revivalismo2 de Viollet-Le-Duc. Defendia que a arquitetura poderia ser uma
forma de assegurar a identidade de um povo através de sua ligação com o passado e, por isso,
acreditava que para preservar sua história, deveria manter a edificação intocada, sem correr o
risco de ser falsificada, defendendo assim, a intocabilidade do monumento degradado.
Seu ponto de vista fatalista admitia restauro com poucas intervenções, se estas fossem
invisíveis. Ele defendia que nada deveria ser feito nas edificações, uma vez que o restauro poderia
trazer grandes prejuízos, ou até mesmo a destruição da originalidade e que se deveria respeitar o tempo
de sua existência sem intervir.
Ele via a arquitetura com um acidente na paisagem e o próprio edifício é um testemunho
da passagem do tempo, de modo que podemos dizer que sua abordagem quanto ao patrimônio é
romântica. Ele via a casa (moradia), quase que como um caráter sagrado, considerava que desta
originavam todo as outras, pois nela permeavam a essência, a vida e a história do homem que
nela viveu. Ele passa a estabelecer uma relação com o espaço de memórias. Para ele “o belo é,
portanto, o resultado de um relacionamento entre objetos, sensações e memórias.” (AMARAL,
2011. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.130/3802.
Acesso em: 09 Out 2020).
Este teórico é, sem dúvida, o maior expoente do Anti-Restauro e ferrenho opositor ao
Restauro Estilístico defendido por Viollet-Le-Duc, que segue em sentido oposto. Apesar de
pensamentos opostos em relação a esta disciplina, devemos destacar a grande contribuição
produzida por ambos para a ciência do restauro. Eles eram excelentes desenhistas e produziram
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Desta forma, podemos entender um pouco mais seu pensamento, que considera a priorização
da conservação sobre a restauração e a limitação desta ao mínimo necessário.
Podemos dizer que Boito contribuiu de forma direta para a formulação dos
princípios modernos de restauração, na medida em que defendia o respeito à
matéria original da pré-existência, a reversibilidade e distinção das intervenções,
o interesse por aspectos conservativos e de mínima intervenção, a manutenção
dos acréscimos de épocas passadas entendendo-as como parte da história da
edificação, assim como, buscou harmonizar as arquiteturas do passado e do
presente a partir da distinção de sua materialidade. (OLIVEIRA, 2009. Disponível
em: https://www.vitruvirus.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.086/3049.
Acesso em: 09 Out 2020)
Outro respeitável teórico que também trouxe valores importantes para as teorias atuais
foi Alois Riegl (1858-1905). Era um historiador de artes austríaco. Contribuiu fortemente para
a distinção entre monumento e monumento histórico, observando-os e atribuindo valores
históricos, considerando sua rememoração e contemporaneidade.
Sua obra caracteriza-se como “um conjunto de reflexões destinadas a fundar uma
prática, a motivar as tomadas de decisão, a sustentar uma política” (WIECZOREK, 1984, p.23)
Seu livro “O Culto Moderno dos Monumentos”, divide-se em 3 capítulos: valor da
antiguidade: defende a continuidade ordenada, onde os aspectos antigos se mantenham (em
uma visão menos fatalista que Ruskin); valor histórico: representa a fase de criação humana e
se manifesta enquanto documento relacionado a sua originalidade, respeitando a pátina do
tempo; e valor evocativo intencionado: tem como finalidade a manutenção do monumento
presente e vivo na consciência para a posteridade. Precede a prática da intervenção em
monumentos, ainda que minimamente.
Em relação à atualidade, ele destaca ainda o valor de uso prático (o monumento
deve atender às solicitações materiais do homem) e o valor de arte (atende às necessidades
do espírito).
E temos ainda o valor de novidade, que nesse trecho Sanches (2011, p. 15) constata
que “a obra moderna deve lembrar o mínimo possível das obras anteriores, tanto na concepção,
quanto no tratamento de pormenores formais e das cores”.
Podemos dizer que a grande contribuição de Riegl foi a observação de diferentes tipos
de valor, impondo ao restaurador a necessidade de um juízo crítico diante de uma obra, como
afirma Cunha no trecho a seguir:
Outro teórico que não devemos esquecer é Gustavo Giovannoni (1873-1947), que veio
para alinhavar as teorias existentes e a importância da relação dos monumentos com o seu entorno.
Engenheiro, arquiteto e historiador da arte italiana, ele entendia a cidade como um organismo
complexo a ser trabalhado em sua totalidade, abordando as relações existentes com sua expansão e
zonas de interesse de preservação. Nessa difícil equação, ele estabeleceu uma base para ações de
preservação baseadas no pensamento de cunho cultural e reconheceu conflitos contemporâneos em
relação à preservação dos centros urbanos e sendo contrário à especulação. Publicou centenas de
textos abordando temas como a transformação urbana, ampliação, adensamento, circulação,
coordenação entre a cidade velha e a cidade nova, trabalhando as exigências da modernização, a
expansão e a necessidade de preservar. Fundamentou a teoria do restauro e estabeleceu métodos
para restauro de obras arquitetônicas que tiveram repercussão internacional.
Seus textos deram origem à carta de Atenas, em 1931, um dos mais importantes
documentos que teoriza os princípios da restauração científica. Ele considerava a formação do
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arquiteto insuficiente para trabalhar com restauração, pois lhe faltava uma formação mais
humanista e chegou a discutir o ensino e a formação profissional, pensando um arquiteto
integral, com domínio da técnica, histórica e artística, capaz de abordar até os aspectos
econômicos e jurídicos.
Estes preceitos, consolidam-se de forma lenta, apenas na Conferência Internacional de
Atenas (CIAM), em 1931, onde são reunidas, em um único documento, com princípios e
recomendações para a manutenção e consolidação de monumentos antigos.
Qualquer que seja a diversidade dos casos específicos - e cada caso pode
comportar uma solução própria -, a conferência constatou que nos diversos
Estados representa uma tendência geral a abandonar as reconstituições
integrais, evitando assim seus riscos, pela adoção de uma manutenção regular
e permanente, apropriada para assegurar a conservação dos edifícios. Nos
casos em que uma restauração pareça indispensável devido à deterioração ou
destruição, a conferência recomenda que se respeite a obra histórica e artística
do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época. (CIAM, 1931, p.1)
Este trecho da Carta de Atenas, de 1931, deixa uma clara indicação do caminho a não
ser seguido, ao recomendar a não repristinação, conceito esse tão valorizado por Violet-Le-Duc,
porém ela não direciona a apenas uma pratica de intervenção, ficando evidente que tem que ter
um juízo crítico para avaliar cada caso. Passam a surgir diversas cartas, que não são normativas,
porém, devem ser interpretadas, aprofundadas e adaptadas à realidade de cada cultura.
Ainda no final da mesma década e com o advento da Segunda Guerra Mundial, eram
necessárias medidas mais eficientes em relação à preservação do patrimônio histórico, pois
ocorriam grandes perdas e nesse contexto surge um dos teóricos mais evidentes na atualidade,
Cesare Brandi (1906-1988). Italiano, crítico de Arte e professor de História da Arte Medieval
e Moderna na Universidade de Roma, na de Palermo, na de Sapienza em Roma.
Fundou o Instituto Central de Restauração (ICR), o qual dirigiu de 1939 até 1960. O
ICR foi criado em um contexto em que se faziam necessárias novas soluções práticas, com o
objetivo de recuperar a identidade da população destruída no pós-Guerra. Brandi se destaca por
dois momentos principais do restauro: o do reconhecimento da obra de arte e a prática do
restauro propriamente dita. Através de sua teoria, cujo foco era a simplificação e a recuperação
do cenário, com menor custo de tempo e recursos. A estética e história eram consideradas com
igual peso e a restauração deveria buscar a o reestabelecimento da unidade potencial. Para
entender melhor esse conceito, devemos conhecer melhor a teoria de Brandi.
26
Sobre esta teoria, podemos dizer que um dos principais objetivos era excluir a
experimentação do processo de restauração das obras de arte. Existia a necessidade de transformar
o restauro em ato científico que seguisse princípios e métodos cientificamente estabelecidos,
respeitando os monumentos enquanto documentos históricos, devendo ficar aos cuidados de um
estudioso da temática. A partir disso, Brandi criou dois axiomas e princípios a serem seguidos.
O primeiro axioma: “Restaura-se somente a matéria da obra de arte” (BRANDI, 2013.
p. 31), “que se refere aos limites da intervenção restauradora, levando em conta que a obra de
arte, em sua acepção, é um ato mental que se manifesta em imagem através da matéria e é sobre
esta matéria – que se degrada - que se intervém e não sobre esse processo mental, no qual é
impossível agir.” (CUNHA, 2006. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/
read/resenhasonline/03.032/3181. Acesso em: 09 Out 2020). Devem existir limites até onde a
intervenção deve ir, sem se colocar no lugar de quem a concebeu e sem imaginar um estado
ideal que pode nunca ter existido.
O segundo axioma decorre sobre o reestabelecimento da obra de arte que afirma que
“A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que
isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum
traço da passagem da obra de arte no tempo.” (BRANDI, 2013, p. 33). “Ainda que se busque
com a restauração a unidade potencial da obra (conceito de todo distinto de unidade estilística),
não se deve com isso sacrificar a veracidade do monumento, seja através de uma falsificação
artística, seja de uma falsificação histórica” (CUNHA, 2006. Disponível em:
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/03.032/3181. Acesso em: 09 Out
2020). Podemos dizer que a unidade potencial é uma referência unidade original, que jamais
poderá ser recuperada de fato.
No que diz respeito aos princípios criados por Brandi, podemos destacar primeiramente o
princípio da distinguibilidade, que afirma “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível;
mas sem que por isto se venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir” (BRANDI,
2013, p. 47). Ele relata sobre a importância em destacar as novas intervenções, tornando-as destacadas
da obra original, porém ele ressalta a importância de harmonia entre elas.
O segundo princípio diz respeito à reversibilidade, “que qualquer intervenção de restauro
não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções futuras” (BRANDI, 2013. p. 48).
Reflete a preocupação em relação às futuras intervenções, de modo que as intervenções realizadas
possam ser desfeitas sem grandes prejuízos à obra de arte. Este mesmo princípio tem sido tratado mais
recentemente como “retrabalhabilidade”, segundo Kühl (2007).
27
Mais recentemente devemos citar Salvador Muñoz Viñas (1963 -), professor titular e
atual diretor do Departamento de Conservação e Restauração da Universidade Politécnica de
Valência, na Espanha. Ele acredita que as teorias clássicas são limitadas para o desígnio da cultura
atual, chegando a considerar que nem todos os objetos sujeitos ao restauro são obras de arte. A
restauração desses bens pode relacionar-se a outros valores além do histórico e do artístico –
sejam estes ideológicos, afetivos, religiosos etc. – não sendo, portanto, inerentes ao próprio
objeto. Alguns dos princípios citados anteriormente, como autenticidade, por exemplo, ou mesmo
os de mínima intervenção, distinguibilidade e reversibilidade. Para Muñoz Viñas, o diálogo, a
interdisciplinaridade e a sustentabilidade são caminhos fundamentais que devem ser seguidos.
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Munôz Viñas faz uma leitura profunda sobre o pensamento e as teorias de diversas áreas
da restauração, buscando inconsistências e contradições. Mas além disso, o seu texto aprofunda
discursões e questiona alguns pontos até então tidos como certo. Para ele, “restauração se faz para
os usuários presentes ou futuros dos objetos (isto é, para os sujeitos) e não para os próprios
objetos.”( MUÑOZ VIÑAS, 2021,p.113).
Ao analisar o contexto atual, trazemos à luz dessa discussão as definições de Carbonara
(2005) para as três principais posturas de atuação: “a “crítico-conservativa e criativa”, que se
fundamenta fortemente no restauro crítico e teoria brandiana; a “pura conservação” ou
“conservação integral”, onde a instância histórica é privilegiada; e, finalmente, a “manutenção-
repristinação”, onde retomam-se formas e técnicas do passado para superar o “estado
fragmentário do bem” (ARAÚJO, 2014. p.04). Além dessas posturas já descritas, a autora
relaciona outras posturas que veremos a seguir.
Deste modo com base nas correntes italianas abordadas por Carbonara (2005) e nas
noções acima apresentadas a autora Araújo (2014) desenvolve o seguinte quadro que auxilia no
entendimento das correntes mais aceitas na atualidade.
Onde a “justaposição conceitual” diz respeito a intervenções que deixam mais evidente
“as coisas novas”, a “continuidade contextual” seria um meio termo onde as novas intervenções são
demarcadas sem agredir drasticamente “as coisas antigas” e, por fim, teremos a “uniformidade
contextual” onde “as coisas novas” não são distintas em relação “as coisas antigas”.
Foram muitos os teóricos, além dos principais já citados, mas devemos entender que em seu
tempo e com base nos seus conhecimentos, todos tiveram um único objetivo: a preservação do
Patrimônio. A contradição que sempre existiu ao longo dos tempos enriquece grandemente a
discussão sobre o tema e reflete a diversidade de pensamento do ser humano. Existe algo que é
indiscutível na atualidade, independente da teoria: Compreender o bem como um todo, documentar e
ter um embasamento teórico é indispensável e um consenso comum entre todos os estudiosos.
As técnicas que envolvem repristinação não são bem vistas e sempre são polêmicas. Não
é um caminho que pretendemos adotar. Esse intermédio entre “justaposição contextual” e
“continuidade contextual”, é algo que parece muito favorável às práticas atuais e que pretendemos
seguir, sendo mais tendenciosa a “justaposição contextual”. Outros princípios como a autenticidade,
retrabalhabilidade e distinguibilidade também deverão ser contemplados nesta proposta de projeto.
30
3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA
Com o objetivo de ampliar o repertório para auxiliar as decisões projetuais a serem tomadas,
foram analisadas algumas edificações que se identificam ou exemplificam soluções adotadas, para
projetos similares ao objeto de estudo desse relatório. Deste modo, foram analisadas diversas
referências e em algumas, aprofundamos os estudos com o objetivo de analisar as soluções adotadas
e se, podem ou devem, ser aplicadas no projeto em questão. O foco inicial foi a análise de intervenções
em ruínas, que garantiram a autenticidade da edificação e os princípios da reversibilidade. No segundo
momento, analisamos as soluções com usos próximos e com intervenções cênicas, através das quais
se ressalta a importância histórica da edificação. Em um terceiro momento vamos ver uma edificação
restaurada que foca nos cenários para criar atrativos e fomentar a cultura local.
O Cinema na Praça, localizado na cidade histórica de Paraty, no Rio Janeiro, foi escolhido
como estudo de caso por adotar soluções favoráveis à preservação da autenticidade e por estar em
estado de arruinamento. Outro fato importante é que o “2genius loci” foi mantido e, nesse caso, o
próprio uso principal, mas o programa foi ampliado e adaptado para as atuais necessidades.
Projeto do escritório Arquipélago Arquitetos, foi comandado por Luís Tavares e
Marinho Velloso, com cerca de 475.0 m2 e com obra iniciada em 2016, o cinema foi aberto ao
público em julho de 2018. Em 1930, o casarão passou pela primeira reforma, com o objetivo
de transformar o sobrado em um espaço para abrigar o Cine São Jorge. Ficando mais conhecido
como o “cinema do seu Pedro”, funcionou até meados dos anos 1970. Após esse período, o
cinema foi fechado e o prédio teve outras destinações durante as décadas seguintes, sendo
adquirido pela Prefeitura de Paraty que, em 2015, iniciou o processo de revitalização.
2
Se refere ao “espirito do lugar”. A essência ou a vocação daquele espaço.
31
Nesse trecho descrito pelo Arquipélagos Arquitetos (2018) vê-se o cuidado dos
arquitetos para preservar a memória e identidade do lugar. O prédio foi restaurado e adaptado
aos novos condicionantes e necessidades, sem perder sua forte identidade colonial, conforme
podemos verificar nas figuras 05 e 06 a seguir.
Situado em plena praça da Igreja Matriz, no centro histórico tombado, segue a linha de
preservação proposta para o lugar. Sua localização é estrategicamente adequada para sua função.
existentes. Alguns elementos originais, como a laje do segundo pavimento, foi substituída por
estrutura metálica, devido ao seu mal estado de conservação. Onde se fez necessário intervir
com novos elementos a demarcação entre o novo e o preservado, é visível.
Outra solução extremamente criativa, curiosa e que, nesse caso, retoma à historicidade
da edificação e sua relação com o entorno, foi a solução adotada para anunciar o filme em
cartaz. Foi feita na fachada uma reinterpretação dos antigos altares que ficavam
tradicionalmente expostos para as ruas de Paraty, um display com um monitor e que pode ser
removido, caso seja necessário.
A fachada frontal foi completamente preservada sendo repintada para ganhar o “valor
de novidade”. Ao longo dos anos sofreu diversas transformações, mas a última alteração,
manteve os traços simétricos e coloniais, precisando de algumas adaptações para atender às
normas atuais, como a acessibilidade.
33
O ambiente principal nessa edificação é a sala de exibição. Além disso, conta com outros
ambientes que podem ser vistos nas plantas mais adiante. Sobre a sala de exibição, fica muito evidente
as alterações sofridas pelo tempo, onde é possível ver nas paredes os diferentes tipos de tijolos e
argamassas, mostrando antigas intervenções. Outro fato interessante são os “elementos
modificadores” do espaço, nesse caso, a própria iluminação artificial proporciona sensações diferentes
ao espaço. Foi utilizada iluminação direta e indireta e toda as instalações ficaram aparentes.
Figura 12: SALA DE PROJEÇÃO COM FILME Figura 11: Sala de projeção sem filme
Nesse corte observamos melhor os níveis existentes, onde o pé-direito da caixa cênica
acompanha o mesmo nível disponível para a plateia, provavelmente para preservar a volumetria
original da edificação. E na área de foyer, foi feita uma nova laje sobre estrutura metálica para
manter a dois pavimentos originais do sobrado.
Figura 26: ESTRUTURA Figura 37: ESCADA FIGURA 15: BILHETERIA E RAMPA DE
ACESSO
LEGENDA:
1- Foyer 4- Depósito
2- Bilheteria 5- Sala De Projeção
3- Banheiros 6 –Caixa Cênica
FONTE: Adaptado de www.archdaily.com, 2019
LEGENDA:
1-Sala multiuso 3- Administração
2- Biblioteca 4- Banheiro
FONTE: Adaptado de www.archdaily.com, 2019
O fato do prédio se encontrar de frente para a praça foi algo considerado pelos
arquitetos, que demonstraram isso em sua planta baixa. A transição da via pública para a
edificação é feita de forma abrupta pela inexistência de recuos, não permitindo criar uma área
de ambiência ao visitante, esse papel coube à recepção (foyer), que também funciona como
bilheteria. Em relação à área de banheiros, foi feita de modo mais reservado, através de um
corredor lateral que também abriga um depósito estrategicamente posicionado. Os espaços da
sala multiuso e da biblioteca se integram através das grande aberturas existentes, mantendo o
uma característica de open espaço aberto original da ruína.
Do “Cinema da Praça” adotam-se muitas referências para esse estudo, a começar por
sua escala de intervenção adotada, que vai da “continuidade contextual” à “justaposição
contextual”. A ideia de se preservar ao máximo a ruína, rememorando sua história através dos
elementos simbólicos inseridos no contexto da cidade, é uma estratégia que pretendemos adotar.
A própria estrutura e adaptações que se destacam da edificação, deixando claramente marcada
a inserção dos novos elementos e valorizando a autenticidade da edificação.
38
FONTE: https://www.efarquitetos.com.br/1996-PARQUE-DAS-RUINAS
O local ficou abandonado por anos e foi invadido e saqueado, ficando em ruínas. No ano
de 1993, o governo do estado do Rio de Janeiro tombou e, em 1997, foi inaugurado, no local, o
Parque das Ruínas que, na verdade faz parte de uma proposta a nível de micro-organismo, pois está
39
integrado a um outro terreno vazio e ao Museu Chácara do Céu, que em diferentes níveis
topográficos, fez com que a necessidade de interligá-lo o fosse visto dessa forma.
O Conceito adotado para o projeto foi o de valorização das ruínas. Como explica o
próprio Ernani Freire no trecho a seguir:
FONTE: https://catracalivre.com.br
O Palacete virou um local de passagem. Foram criadas várias passarelas e escadas que
levam a um mirante no alto da edificação. Ao caminhar pelo espaço, o visitante pode descobrir
novas cenas com paisagens deslumbrantes do Rio. Toda intervenção foi feita com estruturas
metálicas e vidros, para preservar a autenticidade e a luz natural presente na ruína.
FONTE: https://mejogueinomundo.com/brasil/rio-de-janeiro/parque-das-ruinas/
Em relação à estrutura adotada para as intervenções, foi escolhida estrutura metálica que
tem grande aplicabilidade em intervenções de valor patrimonial pela praticidade e por seu material
se destacar muito em relação ao pré-existente. Nesse caso, ajudou inclusive na estabilização da
41
ruína. Sua fundação foi cuidadosamente escavada para abrigar parte do programa, como pode-se
ver nesse trecho destacado por Moraes e Ribeiro (2010), em seu artigo “Intervenções metálicas em
edificações de valor histórico e cultural: estudos de caso de interfaces.”
Um detalhe que devemos destacar é que algumas partes da estrutura são apenas
parafusadas, permitindo a reversibilidade, que as cartas de restauro mais recentes recomendam.
É importante atentar e ressaltar que a estrutura não consiste apenas de partes metálicas, em
alguns pontos foi necessária a utilização de concreto para completude do sistema.
[...] a viga central composta de berço de concreto armado entre dois perfis
metálicos dobrados em forma de U. Essa viga recebe grande parte das cargas
do mirante e sua circulação vertical, direcionando-as para as paredes laterais
do vão central. Dessa forma a parede de alvenaria que se encontra logo abaixo
foi protegida. (MORAES e RIBEIRO, 2010, p. 40).
Para entender melhor o projeto que foi dividido em vários níveis, veja as plantas e
cortes a seguir onde podemos perceber também o programa adotado.
42
FONTE: https://www.mariliaarruda.com.br/parque-
das-ruinas
FONTE:https://deslimites.wordpress.com FONTE:
/2010/08/25/planta-baixa-do-parque- https://contateoceu.wixsite.com/gaiaviva/
das-ruinas/ manual-do-expositor?lightbox=dataItem-
jalzdez6
43
Figura 11: CORTE ENTRADA- AUDITÓRIO Figura 12: CORTE SALA DE EXPOSIÇÕES
FONTE: www.efarquitetos.com.br/1996-PARQUE-DAS-RUINAS
Figura 13: VISTA DO PATIO DO CAFÉ Figura 14: VISTAS DAS JANELAS
FONTE: FONTE:
https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review- https://www.cariocadna.com/agenda/1703-
g303506-d7235026-Reviews-Cafe_Das_Ruinas- cantora-gaucha-lizza-dias-homenageia-elis-
Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html regina-no-teatro-do-parque-das-ruinas/
Nesta imagem é possível ver a circulação criada por todo o palacete, até a chegada no terraço.
44
FONTE2:
https://www.cariocadna.com/agenda/1703-cantora-
gaucha-lizza-dias-homenageia-elis-regina-no-teatro-
do-parque-das-ruinas/
Desse estudo adotam-se muitas referências para esse trabalho, como a escala de
intervenção, que fica entre a “continuidade contextual “e a “justaposição contextual”. Outra
referência seria destacar a ruína, rememorando sua história através dos elementos simbólicos
inseridos, como na própria imagem de Laurinda, gravada em um vidro. Em relação à estrutura
para as novas intervenções, que foi a metálica, destaca-se do pré-existente e garante a
autenticidade, mesmo tipo de estrutura que pretendemos adotar em boa parte da intervenção,
principalmente na parte da ruína. O critério importante que também pretendemos seguir é o
cuidado com alguns elementos que foram aplicados, de modo a garantir a reversibilidade dos
mesmos. Outro conceito que também buscamos adotar é a flexibilização no uso dos espaços,
que permitirá um programa variado.
45
FONTE: Aniversário de seis anos do Paço do Frevo é comemorado com programação musical | Carnaval
2020 em Pernambuco | G1 (globo.com). Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/
carnaval/2020/noticia/2020/01/31/seis-anos-do-paco-do-frevo-sera-comemorado-com-muita-
musica.ghtml. Acesso em: 24 Ago 2020.
Além das exposições permanentes o edifício abriga diversos usos que fomentam atividades
distintas de formação, preservação e difusão da memória do Frevo. O programa foi distribuído nos
quatro pavimentos e contem, um café, sanitários, espaço para exposição permanente, exposição de
média duração, centro de documentação, administração, sala técnica, sala de projeção/ dança, sala de
projeção/ música, Diretoria da escola de música e dança, sala dos professores, vestiários, salas de
dança, estúdio de gravação, salas de ensaio, depósitos, sala de exposição temporária, sala do programa
educativo, entre outros. Além disso o prédio oferece acessibilidade com elevadores e rampas para que
todos possam circular por toda a edificação. Que estão distribuídos da seguinte forma:
Com fachada branca, o projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo Grau - Grupo de
Arquitetura e Urbanismo, escritório recifense comandado por Felipe Campelo e Ronaldo L’
Amour e a museografia e expografia que foi tratada de forma cênica e interativa, onde o público
passa a interagir com a exposição, foi comandada por Bia Lessa.
50
Bia relata que uma das demandas para o projeto era a de que fosse possível existir a
permeabilidade visual entre o exterior e interior, consentindo que a paisagem urbana também
fizesse parte do paço. “Transpor uma expressão das ruas para um ambiente fechado foi o maior
desafio do projeto, mas tentamos transformar essa dificuldade em conteúdo”, explica Bia.
- a própria ruína
ANALOGIA DE Na fachada foi Foto de Laurinda Vários elemen- Escultura com a
REFERÊNCIA feita uma impressa em um tos nos ambien- árvore na
reinterpretação dos vidros, tes de exposição, fachada, que
dos antigos rememorando os rememorando toda possui grande
altares que fantasmas da a cultura do valor simbólico.
ficavam ruína. Frevo.
tradicionalmente
expostos para as
ruas de Paraty.
4 CARACTERIZAÇÃO DA EDIFICAÇÃO
De fato, falar do bairro da Ribeira é falar da história da cidade de Natal, das memórias,
do comércio e, principalmente, da cultura. Foi o segundo bairro a se constituir na cidade e teve
uma enorme importância durante o período da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, possui
umas das melhores infraestruturas urbanas da cidade. É, por muitas vezes, abandonado pelos
gestores da nossa cidade. É um bairro com forte vocação comercial e cultural.
Segundo Anna Grabriela Cordeiro, “A Ribeira, geograficamente, localiza-se ao norte do
núcleo urbano inicial, era uma área alagada pelas marés do rio Potengi. Sua ocupação deve-se
primeiramente por encontrar-se no meio do caminho entre a cidade e a Fortaleza dos Reis Magos.”
(2011, p. 2). O bairro evoluiu de forma lenta, do século XVIII até meados do século XIX. A Ribeira
caracterizava-se por seu caráter geográfico, por ser uma região pantanosa e frequentado, até então,
pelas classes mais baixas. A partir desse momento passa a existir uma preocupação, tanto da
população quanto dos governantes, em relação à região alagadiça que estava no “meio do caminho”,
primeiro pelas questões de salubridade e em segundo, pela locomoção.
Os interesses dos governantes pelo bairro eram evidentes, e a ideia era aterrar o alagadiço
e transformá-lo no centro comercial da capital, como de fato aconteceu, a partir das obras de
Figueiredo Junior, o primeiro a realizar obras no local. Em seu livro Cascudo relata:
Já com sua vocação comercial consolidada durante o século XIX, o bairro vê sua
população saltar de cerca de 300 habitantes para quase 10 vezes maior, acompanhando o
crescimento da cidade. Devemos lembrar de dois grandes articuladores e favorecedores da
expansão do bairro: o Porto, que se instala no bairro e é, até hoje, um importante meio de
escoamento e, na época também de comunicação com o resto do país e com o mundo. O outro
grande articulador é a rede ferroviária, que também facilita o escoamento de produtos e o
transporte de pessoas.
“O crescimento da Ribeira se deu no final do século XIX para o início do século XX.
Em 1905, o bairro foi o primeiro a receber iluminação pública. Posteriormente, teve hotéis,
casas comerciais, clubes de dança e o primeiro cinema, Politheama (1911)”. (CONHEÇA
MELHOR SEU BAIRRO, SEMURB, 2007, p. 7)
FONTE: https://tokdehistoria.com.br/2013/10/03/401-fotos-antigas-de-natal/
O ápice do bairro ocorreu durante a década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial e a
instalação da base militar americana, “Parnamirim Field”, que trouxe muitos soldados para a cidade
e a efervescência do centro comercial se dava principalmente na rua Dr. Barata, onde chegavam
novidades vindas do exterior diretamente para a cidade, sendo palco para muitas novidades que
eram tão incomuns aos natalenses, como a Gilette, Coca-Cola, chiclete e tantas outras inovações.
Com o fim da Guerra, o bairro começa a esvaziar- se e ocorre uma migração do centro
comercial para a Cidade Alta e Alecrim, começando a história de abandono e esquecimento do bairro.
55
Existiram algumas ações com o objetivo de alavancar a Ribeira. Uma das primeiras
intervenções foi a implantação da balsa da Redinha ainda na década de 60. E apenas trinta anos
depois, na década de 90, tem-se uma retomada mais efetiva de práticas para impulsionar a local,
com o projeto de Revitalização de fachadas da Rua Chile, que estimulou muitos comerciantes
a instalar seus negócios, principalmente da área de economia criativa, como as agências de
publicidade e também os estabelecimentos de lazer, promovendo um fomento à vocação
cultural e boêmia do bairro.
O cenário atual é bem diferente. Passa uma imagem de abandono, insegurança e
degradação. De fato, aquele tão desejado olhar que os governantes tinham para o bairro ainda
no século XVIII e XIX, não existe mais. Apesar de, em 2014 ter sido autorizado o tombamento
do centro histórico de Natal, que abrange os bairros da Ribeira e Cidade Alta, onde passaram a
existir algumas ações isoladas que favoreceram a Ribeira, mas não alavancaram de forma mais
enérgica a retomada do mesmo. Falta um plano de ação efetivo que seja capaz de desenvolver
o bairro, que é tão bem dotado de infraestrutura.
referência nos dias atuais. Certamente a fachada que resiste ao tempo e nela cresce uma árvore,
é um verdadeiro símbolo do lugar. Prédio de estilo eclético, com características muito
marcantes, destaca-se diante de outras construções existentes na sua época. Algumas
características são peculiares como o fato das bandeirolas serem separadas das portas e as 3
esquadrias centrais do pavimento superior, que juntas formam, um arco. Seriam estes detalhes
provenientes de sua origem libanesa?
O fato é que, naquela época, eram poucas as construções na cidade que carregavam
esses detalhes. Podemos comprovar isso através da tese de Viegas (2018), que chegou a fazer
o inventário do centro histórico com mais de 1600 edificações, onde apenas cerca de 5 prédios
constavam com essas mesmas características. No interior do prédio podemos encontrar ainda
algumas referências que resistiram ao tempo e, provavelmente, tem a ver com a origem do
proprietário, como o piso original, ainda conservado em parte da caixa da escada, um ladrilho
hidráulico nas cores vermelhas e creme e as bandeirolas da esquadrias do pavimento superior,
que são voltadas para os fundos do prédio e que apresentam um muxarabi em madeira.
FONTE: https://tokdehistoria.com.br/2013/10/03/401-fotos-antigas-de-natal/
No n° 232 existia uma papelaria, da firma R. Dourado, que foi destruída por um incêndio,
sendo construído no local, pelo Sr. Serquiz Elias, o prédio hoje existente, onde instalou a
sua loja A Samaritana, passando a ser administrada, com o seu falecimento, pelo seu genro
Sr. Neif H. Chalita, tendo pouca duração porque o Sr. Chalita faleceu poucos anos depois.
O local veio a ser ocupado pelas Loja Paulista, vinda do N° 104, da Tavares de Lira. Hoje
denominam-se Casas Pernambucanas e funcionam em prédio recentemente construído e
em alto desenvolvimento. [...] Neste número, encontra-se a firma Laete Gaspar Costa,
especializada em prestação de serviço Consul.” (ANDRADE, 1989, p. 86)
57
Segundo Andrade (1989), a loja logo passou a ser alugada para famosa Loja Paulista,
que mais tarde se tornou a conhecida Casas Pernambucanas. A Loja Paulista ocupava o térreo
e vendia o mesmo seguimento de produtos da loja “A SAMARITANA”: tecidos. Não foram
encontrados registros de alteração da estrutura da loja para esse segundo uso. No pavimento
superior existiam diversas salinhas, no livro de Augusto Severo Neto (1985) “ONTEM
VESTIDO DE MENINO”, podemos comprovar a existências de várias salas que eram locadas
para as mais diversas finalidades. Vejam o trecho a seguir, onde o autor descreve a lembrança
de uma experiência vivenciada no prédio, a época de sua infância.
Atingia-se o primeiro andar das “lojas paulistas” por uma comprida escada de
madeira rangedeira que, acredito, ainda existe. Pé direito violentamente alto.
Degrau a não mais acabar. Lá em cima, Sylvio de Souza, dentista. [...]
Nas outras salas do sobrado da Paulistas estavam os consultórios do Dr José
Maria Neves, Antônio Muniz, Alfredo Bahia Monteiro e o outro dentista,
Giuseppi Leite. [...] Havia ainda o estúdio de Rubens, fotografo da moda, que
morreu no naufrágio do Baependi, primeiro navio brasileiro torpedeado em
nossas costas, no início da Guerra. Entre outras coisas, havia no estúdio de
Rubens um retrato colorido e muito expressivo de um velho alquebrado, de
olhar mortiço e triste.
Debrucei-me à sacada daquele primeiro andar, ouvindo o ruído dos
instrumentos de Sylvio de Souza como um retinir de espadas em duelo, o zunir
da broca do Giuseppi, sincronizado com os gemidos do paciente/ vítima e
olhando do alto a velha Doutor Barata. [...] (SEVERO NETO, 1985, p. 50 – 52)
Por essa descrição, podemos perceber que existiam pelo menos 7 salas no pavimento
superior para locação para as mais diferentes finalidades sendo, em sua grande maioria, para
prestação de serviços. Foram encontrados registros da década de 20 até a década de 60. Era
muito pouco provável coexistir com aluguel para habitação, mas existem registros que relatam
a existência de um “pensionato para gente simples”.
Segundo registro fotográfico de Eduardo Alexandre Garcia (postando em seu Facebook
em 06/04/2013) da década de 60 em que destaca a fachada da edificação, podemos perceber a
fachada muito bem conservada e muito provavelmente ainda em seu estado original. Percebemos
ainda a existência de portas almofadadas e bandeirolas por trás do gradil da bandeirola no primeiro
pavimento. Identificamos também a existência da quinta porta, hoje fechada. As portas também
foram alteradas, sendo substituídas por esquadrias mais simples do tipo fichas.
58
Nesse mesmo período foi identificado na entrevista com o Sr. Lula Belmont, que no
pavimento superior funcionou uma espécie de motel, que era administrado pelo Sr. Francisco 3
e que até o ano de 2020, possuía estabelecimento de uso similar no prédio ao lado.
Segundo Júlio Cesar de Andrade, o último registro de funcionamento do prédio
registrado no seu livro ao ano de 1989, foi da firma especializada em serviço Consul, Laete
Gaspar Costa. (ANDRADE, 1989. p. 86)
3
Infelizmente o Sr. Francisco morreu duas semanas antes da descoberta dessa informação, em decorrência da
COVID-19, o que impossibilitou uma entrevista com mesmo e com ele se foi mais um pouco da história da
Ribeira.
61
Com base nos levantamentos realizados in loco, no mapa de danos produzido a partir
disso e do levantamento histórico, é possível avaliar o estado de conservação e preservação da
edificação. Os principais danos encontrados dizem respeito à falta de manutenção e ao
abandono da edificação por cerca de 30 anos. Muitas das patologias poderiam ter sido evitadas
se houvesse manutenção periódica, já outras patologias, como a umidade proveniente do
próprio solo, ocorrem devido ao próprio sistema construtivo adotado.
O mapa de danos tem como objetivo representar graficamente os danos existentes e
identificados na edificação, relacionando-os aos seus agentes e causas. São considerados danos
todos os tipos de lesões e perdas materiais e estruturais, tais como: fissuras, degradações por
umidade e ataque de xilófagos, abatimentos, deformações, destacamento de argamassas,
corrosão e outros. Seguem a seguir tabela com os principais danos encontrados. Para melhor
compreensão das patologias e como elas se apresentam na edificação, ver mapa de danos e
anexo no volume II. A seguir apresento as patologias identificadas, bem como suas causas e
possíveis soluções.
Tabela 3: PATOLOGIAS
DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS
PATOLOGIAS CAUSAS SOLUÇÕES
Fissura parcial -
Rachadura estrutural Devido à presença da Remover a vegetação e
vegetação estabilizar alvenaria
Sujidade Poeira externa Limpeza
Umidade Porosidade e falta de A definir
impermeabilização
Vegetação Falta de manutenção Remoção
Pichação Ação humana Limpeza e pintura
Elementos espúrios Ação humana Remoção
Ataque xilófago Abandono e falta de Limpeza e dedetização
dedetização
Deslocamento de Falta de manutenção Manutenção
revestimento
63
Em relação à estrutura e fundação da edificação, podemos dizer que foi utilizado o meio
mais comum na época. Não foram realizadas escavações de prospecção em relação ao alicerce,
mas muito provavelmente eram sempre alvenaria de pedra, podendo ser seca, com barro ou
apenas rejuntada com calda, que é um líquido barroso que preenche os vazios entre pedras.
A própria parede tem função estrutural além da função de vedação, as paredes da caixa
mural da edificação principal são de alvenaria de tijolos de barro branco, aglutinados por uma
argamassa provavelmente de cal e barro. Existem vestígios que mostram a existência de reboco
em sua construção original, em toda edificação, porém atualmente só existe no pavimento
superior, sendo o pavimento térreo todo em tijolo aparente pintado (ver foto 43). Existem outras
adições, nas quais o sistema estrutural é diferente e a técnica adotada para vedação das paredes
foi a utilização de tijolos vermelhos de 8 furos. Essas adições provavelmente foram feitas na
década de 1980 para dar apoio ao teatro.
Já no pavimento superior existia um piso do tipo taboado corrido apoiado sobre barrotes,
como é possível perceber nas primeiras imagens feitas em visita a edificação. Esse sistema de
piso estava bastante danificado e apodrecido após tanto tempo de abandono e foi necessária a
remoção, devido ao risco de queda do mesmo. Vale salientar que, em boa parte do piso e dos
barrotes, estavam bastante danificados pela ação do fogo (o prédio sofreu um incêndio) e da
umidade (uma vez que não existia mais cobertura para proteger das intempéries).
67
A coberta era composta por tesoura do tipo “QUEEN” e telhas em barro do tipo colonial
(ou canal). Boa parte dessa estrutura já tinha ido ao chão, restando apenas três tesouras
incompletas, mas possíveis de serem remontadas e algumas poucas telhas. Um detalhe
interessante é que o forro ficava alinhado na face superior da linha inferior da tesoura. Veja
marcação na figura 47.
A calçada externa é feita com ladrilho de cimento na cor natural e com pigmento vermelho,
usados de modo intercalado, formando um xadrez. Um detalhe interessante são as soleiras em pedra
com cor cinza e cor avermelhada, muito provavelmente originais da construção do edifício.
70
Outro detalhe interessante é esse gancho em aço fixado na parede, provavelmente era onde
a cortina do palco teatro era fixada, uma vez que o palco existente fica no mesmo alinhamento.
Sobre a fachada, podemos dizer que claramente representa o estilo eclético e tem
algumas características que são peculiares. Observe a imagem a seguir que destaca uma clara
separação das partes da fachada, muito comumente utilizada em fachadas ecléticas. São elas: o
coroamento, o corpo e o embasamento.
71
Existem ainda algumas características que são peculiares a esta fachada, tornando o
desenho único e com elementos pouco reproduzidos no CHN, como foi dito anteriormente. As
esquadrias centrais do pavimento superior formam juntas um único arco acima delas fica o
letreiro com o nome da loja “A SAMARITANA”. Outra característica pouco comum são as
bandeirolas separadas por uma verga das portas, como pode ser visto no destaque abaixo.
A seguir podemos observar em destaque alguns elementos existentes e seu atual estado
de conservação.
Figura 44: DETALHES DOS ADORNOS DA FACHADA
Muitas vezes a importância de determinada edificação não é definida por si só, mas pelo que
aconteceu nela (por sua história) ou pelo seu significado. No caso da “A Samaritana”, podemos dizer
que esses três fatores remetem à importância da edificação. O “prédio em si”, devido às poucas
descaracterizações da fachada, pelo fato de ser um belo exemplar eclético. A história da edificação,
uma vez que durante a pesquisa histórica descobrimos que nela foi fundado o primeiro jornal
independente do governo, para ser a voz do povo durante a II Guerra. E por fim, pelo seu simbolismo,
podemos dizer que esta é certamente a fachada mais fotografada do bairro da Ribeira.
Ao ver a fachada em ruínas com uma grande árvore encravada e resistindo à ação do
tempo, é algo que causa grande comoção nas pessoas que tem apreço pelo Patrimônio. Basta fazer
uma pesquisa rápida pela Internet, e perceber o quanto essa fachada está presente na memória das
pessoas que a replicam. Podemos encontrar facilmente a mesma fachada em várias datas da década
de 90 para cá, já com essa árvore na fachada, um pé de fícus que insiste em sobreviver, tendo sido
arrancada diversas vezes, o mesmo renasce em locais diferentes por estar com suas raízes encrustadas
dentro da alvenaria de tijolo branco e argamassa de barro e cal, mostrando a força da natureza.
Veja algumas imagens a seguir:
IMAGENS DA FACHADA
201? 2012 2015 2018 2018
5 CONDICIONANTES PROJETUAIS
A edificação em questão está situada na rua Dr. Barata, 232, no bairro da Ribeira, em
Natal-RN. Próxima ao rio Potengi, à praça Augusto Severo e à estação de trem. Para a definição
da área de estudo, foi considerada a recomendação da SEMURB para delimitação do universo
desse estudo, adotando um raio de 150m a partir da edificação. Ver Mapa 53.
Tomando por base o universo de estudo apresentado na figura 19, vamos analisar os usos
do entorno da edificação. Com base no mapa de usos dos solos, figura 20, podemos perceber que
existe uma grande predominância de comércio na região, vocação inicial da rua Dr. Barata. Outro
fator importante que podemos observar é a grande quantidade de edificações sem uso, algumas
em avançado estado de degradação, como o exemplo da “A SAMARITANA”.
5.4 Gabarito
do entorno. O ponto analisado pode ser observado na imagem a seguir. Encontra-se a nível da
calçada logo à frente do eixo central da edificação.
FONTE 9: http://andrewmarsh.com/software/
A carta solar resultante desta análise, presente na figura 73, nos mostra que serão
apenas cerca de 3h de incidência direta de luz solar nessa fachada, em média das 10h até as 13h.
A carta solar resultante desta análise nos mostra que a incide radiação direta nesta
fachada em média a partir do meio dia, até cerca de 17h. Nesta fachada, o tempo de sol é um
pouco maior, mas devemos observar que existe uma varanda nos dois pavimentos desta
fachada, que ajudam na proteção das paredes internas. Ver imagem 63.
FONTE: http://andrewmarsh.com/software/
83
5.5.2 Iluminação
Através dele podemos perceber que a maior parte do ambiente encontra-se com cerca
de 100 lux apenas que, segundo a ABNT ISO/CIE 8995-1, estabelece a quantidade de lux
necessária para o desempenho eficiente de certas atividades, podemos perceber que será
necessário adotar estratégias que otimizem a iluminação natural.
5.5.3 Ventilação
Com base nos arquivos climáticos disponíveis para Natal, podemos identificar que
existe uma predominância de ventilação proveniente do sudeste, de acordo com a imagem 30,
contudo, não devemos nos basear apenas nesses dados para melhor analisar a incidência de
ventilação na edificação, é necessário observar o entorno.
84
4
A ventilação natural cruzada ocorre quando em um mesmo ambiente as aberturas são dispostas em paredes
opostas ou adjacentes, permitindo a entrada e saída do ar.
85
Figura 58: SIMULAÇÃO VENTILAÇÃO SUDESTE Figura 59: SIMULAÇÃO VENTILAÇÃO SUDESTE
VELOCIDADE DO AR VELOCIDADE DO AR
Figura 64: CARTA SOLAR FACHADA POSTERIOR Figura 65: CARTA SOLAR FACHADA POSTERIOR
TÉRREO PRIMEIRO PAVIMENTO
FONTE: http://andrewmarsh.com/software/
Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas
ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de
multa de cinquenta por cento do dano causado. (BRASIL, 1937, p. 4)
89
contemplados no plano diretor da época, a Lei 3.175 de 1984, que definia usos específicos por
regiões e prescrições de acordo com cada uso.
De modo que os índices urbanísticos que devem ser obedecidos são os estabelecidos
pelo disposto na Lei Complementar Nº 082, de 21 de Junho de 2007. Deve-se primeiramente
considerar que a edificação encontra-se no bairro da Ribeira, Zona Adensável, com coeficiente
de aproveitamento de acordo com anexo I, quadro 1, desta mesma lei, que estabelece o Índice
de 3 para todo o bairro da Ribeira, sabendo-se que a área do terreno é de 396,21m2 o proprietário
pode construir livremente até 1,2 e pagando a outorga onerosa5 até 3, ou seja 1.173,6 m2 é a
área máxima que pode ser construída nesse terreno.
Em relação à permeabilidade o Artigo 31, diz que a “Taxa de Impermeabilização
máxima permitida no Município será de 80% (oitenta por cento) do lote”.
E para a taxa de ocupação do solo, devemos observar o seguinte artigo desta mesma
legislação.
5
Segundo Lei Complementar nº 87/ 2007: Art. 62 - Considera- se outorga onerosa a autorização para construção
acima do coeficiente de aproveitamento básico de que trata esta Lei Complementar no artigo 10, nas zonas
adensáveis, até os parâmetros máximos constantes no Mapa 1 do Anexo II e Quadro 1 do Anexo I, para cada
bairro.
92
Em relação aos recuos, devemos observar o artigo 32, que constitui que todos os recuos
deve obedecer o Quadro 3 do Anexo I desta Lei, ver figura 79. Que estabelece 3 metros de
recuo frontal e 1,5m para lateria e fundo, sendo obrigatório apenas no pavimento superior, em
uma das laterais. Mas devemos observar que trata-se de uma edificação tombada, devendo
portanto, ser preservada a pré-existência.
Em relação aos usos permitidos para este lote, devemos observar o artigo 33, que libera
todos os usos para o território do município de Natal, diferente do plano diretor anterior, já
citado que restringia os usos para determinadas áreas.
Em relação ao Código de Obras do Município, Lei Complementar Nº 055, de 27 de
Janeiro de 2004, devemos observar primeiramente o artigo 124, em seu inciso VI, que diz “pode
ser dispensada a reserva de área para estacionamento e guarda de veículos” para imóveis
tombados ou de interesse histórico, cultural e artístico, independente do uso pretendido.
Em relação ao dimensionamento mínimo dos ambientes e suas aberturas, ele
estabelece a distinção entre os ambiente de uso prolongado, artigo 141 e uso transitório no
artigo 142, para os quais são obrigatórios segundo o artigo 150, as aberturas para ventilação e
93
iluminação de 1/6 da área de piso dos ambientes prolongados e 1/8 para os ambientes
transitórios. Ressalta-se que no artigo 152, permite-se a ventilação mecânica, desde que
apresentada a “Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, registrada no CREA/RN, para
a concessão do licenciamento da obra”. No caso do dimensionamento mínimo, devemos
observar a figura 80 a seguir.
Em relação à acessibilidade, deve-se observar a legislação federal que recai sobre essa
temática, podendo citar as principais, por exemplo NBR 9050/2020, NBR 16537/2016, Lei
13.146 de 06 de Julho de 2015 , e por se tratar de uma edificação com proteção patrimonial,
devemos observar ainda a Instrução Normativa N°1 do IPHAN, de 25 de Novembro de 2003,
que dispõe sobre acessibilidade aos bens culturais imóveis acautelados em nível federal e outras
categorias, devemos ainda analisar o item 3.4, letra “b”, que diz que quando for inviável ou
restrita a adaptação deve ser feita, ainda que de maneira virtual, através de informação visual,
auditiva ou tátil.
Sobre a NBR 9050/2020, merece destaque o item 10.2.1 e 10.2.2 ambos para bens
tombados, que assim estabelece:
De modo que devemos observar que em relação as reformas e a bens tombados, existe
um olhar diferenciado, devendo ser observado cada caso com o objetivo de atender as
legislações vigentes, sem sobretudo degradar o bem de valor patrimonial.
A seguir um quadro das principais prescrições:
95
Em relação aos principais dilemas projetuais, a tabela 06 a seguir aponta quais são as
metas de projeto a serem atingidas.
Tabela 6: DILEMAS E METAS DE PROJETO
Deste modo poderemos permear entre intervenções mais marcadas e outras mais
próximas ao original da edificação, sem agredir a sua volumetria. A proposta tenderá mais para
a justaposição contextual, uma vez que as novas intervenções na ruína serão muito distintas do
pré-existente, a começar pela estrutura metálica que será inserida por dentro da ruína e dará
sustentação ao primeiro pavimento, ao rooftop e a coberta. Todas as novas intervenções serão
feitas de modo a garantir a autenticidade da edificação.
Os princípios de retrabalhabilidade, e distinguibilidade irão permear toda a proposta.
Buscando fazer com que as novas intervenções possam ser desfeitas não prejudicando futuras
intervenções. E o segundo princípio adotado terá como objetivo deixar evidente as novas
intervenções realizadas na edificação.
A definição do programa partiu do princípio que o mesmo deveria abrigar um uso que
fosse capaz de tornar o edifício sustentável financeiramente, ou seja, que gerasse lucro capaz
de se manter, não tendo como objetivo inicial um lucro maior, e que o edifício não gerasse
prejuízo financeiro. A princípio, o único uso dado como certo seria abrigar o museu da Água
Mineral Santa Maria, um espaço para que os visitantes possam conhecer a história da empresa.
E a ideia de se fazer um Centro Cultural de Fazeres, onde retomando seu uso inicial, existiriam
sala para locação de prestadores de serviço, principalmente os comerciantes locais de pequenos
comércios, como relojoeiros, sapateiros, etc. Porém, essa ideia foi abortada após conversa do
proprietário com alguns desses comerciantes locais, que não demonstraram interesse em mudar
suas empresas de pontos já estabelecidos a longa data. E passou-se a pensar na ideia de espaços
para locação de eventos, tanto eventos comerciais, quanto eventos corporativos. E por fim
configura-se a ideia de um centro cultural de um modo mais amplo, retomando à ideia inicial
da vocação cultural que o bairro onde a edificação está inserida apresenta; agregando outros
usos de apoio, como um café. Por fim, temos o “Centro Cultural A Samaritana”, a ideia de
manter os espaços para locação, porém com destinações culturais mais frequentemente.
Sendo definido que seria um espaço para um Café, onde qualquer pessoa poderia
frequentar sem convites, um espaço para abrigar o museu também aberto ao público, e na
cobertura o terceiro espaço de acesso livre ao público, um espaço para reverenciar o pôr do sol
99
do Potengi, tão desprestigiado pelas edificações que o rodeiam, não permitindo acesso visual
ao rio, que será um Rooftop, palavra da moda para solário (piso sem cobertura, nesse caso no
último pavimento, mais conhecido popularmente como laje). Os outros espaços seriam voltados
para eventos particulares, tanto para eventos sociais e/ ou culturais (batizados, casamentos,
apresentações de bandas para pequenos públicos, exposições de obras de arte, exposições
teatrais, etc), como para eventos corporativos e/ou culturais (treinamento, palestras, ações de
educação patrimonial, entre outros) e os devidos apoios de copa, depósito e banheiros.
os clientes que permita que o próprio visitante se desconecte da vida “lá fora” e viva a
experiência que lhe é proporcionada naquele momento.
Para vivenciar ambientes patrimoniais esse mesmo conceito também pode ser aplicado e
direcionado à passagem do tempo, permitindo ao usuário fazer essa transição do tempo e conectar-
se ao passado. Por isso, chamaremos esse ambiente inicial de área de transição. Esse ambiente de
transição também foi resultado das necessidades de adequação da edificação para melhores
condições de conforto e salubridade, devido à criação do mezanino no segundo pavimento.
Para este ambiente, a ideia é criar um jardim vertical, na parede da caixa da escada,
trazendo essa sensação de jardim para dentro da edificação, será criada também uma segunda
fachada recuada em vidro, permitindo uma melhor iluminação nos ambientes e abertura de
esquadrias maiores que as existentes, quando for necessário. No ambiente do café, que será
anexo à área de transição, serão necessários alguns equipamentos para o seu funcionamento
como mesas, cadeiras, sofá, balcão, geladeira, cooktop (ou chapa), armários, pia, sistema de
101
som, entre outros. O ambiente ainda contará com uma bancada e balcão para auxiliar no
atendimento e um grande banco para otimizar os espaços de mesa.
Outro elemento importante que teremos nesse espaço é uma escultura de árvore, que
será símbolo da representatividade desta edificação para o bairro da Ribeira. A árvore que
existiu por anos na fachada e ajudou a compor a fachada em ruinas se tornou um verdadeiro
elemento simbólico do bairro e por isso ela será rememorada através dessa escultura de árvore,
sendo também um elemento importante nesse espaço de transição, ajudando nas conexões com
memorias afetivas.
Para o ambiente do salão de eventos sociais, a ideia era realmente que o visitante se
sentisse em um ambiente diferenciado dos outros salões de eventos existentes na cidade, um
ambiente mais ligado à memória e sensação de tranquilidade, um espaço com características
que permeiam entre o “vintage” e o “estilo industrial”, tão em alta atualmente e replicado por
vários espaços comerciais que tem a intenção de parecer “descolado”, mas que na verdade são
o resultado de decisões arquitetônicas para garantir a autenticidade da edificação e não uma
simples recriação de um estilo pretendido.
Este espaço também tem que permitir a flexibilização dos usos, podendo atender
diferenciados layouts, inclusive trocando a iluminação, permitindo diferentes decorações nos
eventos. Veja a seguir alguns layouts propostos e suas capacidades. Se o espaço fosse utilizado
para uma exposição de obras de arte com coquetel em pé a capacidade seria de cerca de 100
pessoas e para uma apresentação musical com público em pé de 150 folgado.
Após esse espaço existe uma área ao ar livre que chamaremos de jardim. Esse espaço
será uma área com grama por dois motivos principais: primeiro, para garantir a permeabilidade
ao terreno e segundo, para dar essa sensação de jardim, uma vez que o espaço não é um jardim
propriamente dito e sim uma área gramada. Essa área também será destinada a eventos sociais
podendo se conectar com o salão coberto em uma mesma festa ou abrigar eventos mais
informais e ao ar livre, em tempos de pandemia, espaços como esses são disputados. Veja a
seguir 3 opções de layouts possíveis.
103
Esses espaços vão, por fim, ocupar o primeiro pavimento, sendo museu na parte da
frente, logo acima do café e na parte posterior e com acesso à varanda existente, o salão para
eventos corporativos. O museu vai abrigar algumas peças pequenas e uma moto, que seria a
peça maior do acervo. Esses dois ambientes vão ser ambientes mais sóbrios e atemporais.
Para o salão de eventos corporativos também foram feitos estudos de layout com o
objetivo de avaliar a capacidade real do espaço. Esse espaço também poderá ser utilizado para
exposições.
6.4.1.4 ROOFTOP
Por fim, temos o último ambiente, o rooftop. Esse último pavimento não existia e foi
criado principalmente por dois motivos, primeiro pelo fato da edificação não ter mais o telhado,
o que nos permite uma intervenção como está, que não agride o bem ou o sítio, nem a volumetria
da própria edificação. O segundo motivo é permitir o visual do pôr do sol do Potengi. Por isso
no lugar de parte da cobertura será feita uma laje que vai permitir esse novo uso ao espaço e
com isso, pelo menos esse prédio não irar voltar-se de costas para o majestoso Potengi.
Como dito anteriormente, cada etapa do processo é preciosa e nos ajuda na construção do
resultado final, auxiliando diretamente na elaboração e definição dos espaços e do que os cerca.
Por isso o entendimento da relação entre os espaços facilita o ato projetual, além de direcionar
para um resultado mais efetivo. Por isso uma simples tabela como uma matriz de ralação dos
ambientes pode facilitar o entendimento dos fluxos entre eles, para em seguida se construir um
fluxograma definitivo do programa. Nesta matriz os ambientes com relação indesejada
encontram-se assinalados em vermelho e os desejados em azul.
Alguns ambientes como depósito ou banheiros aparecem em momentos diferentes, pois são
ambientes que podem existir mais de um e são desejados para determinados espaços como apoio.
107
6.6 Zoneamento
Com base no que foi visto anteriormente o zoneamento inicial foi elaborado com base
nas premissas já traçadas e resultou que seria mais convidativo colocar o café no térreo na parte
inferior, como já foi dito anteriormente. Veja zoneamento volumétrico no item a seguir.
LEGENDA
CAFÉ SALÃO SOCIAL
MUSEU ROOFTOP
SALÃO COORPORATIVO BLOCO DE APOIO
FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA, 2020
108
A partir desse capítulo passaremos a conhecer melhor o trabalho proposto em si, será
apresentada cada um dos aspectos que compõe a proposta final.
Em relação aos aspectos sustentáveis uma das premissas desse projeto era garantir
melhores condições de conforto e salubridade, uma vez que trata-se de uma edificação tombada
e no tocante a sua envoltória não poderia ser modificado. Algumas soluções já foram
apresentadas anteriormente, outras passaremos a apresentar a seguir.
Em relação à fachada frontal, a estratégia adotada será a de criar uma segunda fachada
por trás da primeira, com o objetivo de melhorar a ventilação e a iluminação nos espaços,
favorecendo assim, a renovação de ar nos ambientes que será a segunda estratégia abordada.
Na imagem 104, podemos observar que com essa segunda fachada, a proteção solar
proporcionada pela fachada frontal da edificação foi quase que total, deixando apenas uma
pouca insolação direta e em alguns períodos do ano.
FONTE: http://andrewmarsh.com/software/
Vimos anteriormente que será criada uma segunda fachada e que em sua carta solar incidirá
durante um curto período do dia o sol diretamente, o que apesar de ser por pouco tempo, não é favorável,
nem muito menos pelo uso destinado principalmente ao pavimento superior que será um museu.
109
PROPOSTA 1
FACHADA VISTA INTERNA CARTA SOLAR
PROPOSTA 2
FACHADA VISTA INTERNA CARTA SOLAR
PROPOSTA 3
FACHADA VISTA INTERNA CARTA SOLAR
Podemos perceber que os modelos mais satisfatórios são a proposta 1 e proposta 2, que
apresentaram maior capacidade de proteção solar. A proposta 1 será a escolhida, pois além de
proteger da insolação direta, ter a representatividade da árvore na fachada, ainda vai auxiliar na
composição do jardim do pavimento térreo.
Esse projeto será de fato executado e por isso a necessidade de submeter a análise dos
órgãos competentes. Após submissão essa segunda fachada não foi aprovada em uma análise
prévia do IPHAN-RN, devido a isto a coberta vai avançar fechando na frente e sem o recuo
frontal, mas a segunda fachada será mantida para permitir o uso da climatização no museu e a
área de transição ao ar livre no mesmo tempo. Além de manter esse pé direito duplo e
impactante no primeiro contato do usuário.
Ainda se tratando da fachada frontal e em relação as aberturas existentes e que não
podem ser modificadas, o que pode ser feito é abrir uma das portas que foi entaipada,
aumentando assim a área de ventilação.
Em relação a propriedade térmica dos materiais, além dos fatores já ressaltados
anteriormente sobre as envoltórias do bloco histórico que propiciam e favorecem uma economia
no uso da ventilação passiva, por exemplo, devemos observar que sabe-se da grande carga
térmica que será recebida pela coberta, uma vez que será criada uma segunda laje para abrigar
um rooftop, deixando assim, parte da edificação sem coberta tradicional de telhas. Sabendo que
essa segunda laje receberá uma grande carga térmica e afim de diminuir o impacto negativo
que essa possa causar no conforto térmico do ambiente, será inserida uma manta térmica entre
o forro e a laje. Como demonstrado na imagem a seguir.
Figura 85: CORTE FALADO
Vale observar que no lugar da segunda fachada, teremos apenas um mezanino, já que
não teremos o céu aberto como representado na imagem acima. Veja a imagem a seguir já com
essa frente fechada.
Como pode ser visto, nesse esquema inicial a torre do elevador ficava próxima a caixa
da escada, e o banheiro estava no lado oposto e desencontrado do pavimento superior. Esses
dois elementos foram modificados, bem como todo o pavimento do Rooftop, decidiu-se que
seria necessário ter um banheiro no pavimento térreo, uma vez que seria o café e não mais o
museu, como estava no esquema acima.
FONTE: De modo que
ELABORAÇÃO teríamos
PRÓPRIA 2020um banheiro acessível em cada
pavimento no bloco antigo e que estes seriam sobrepostos para facilitar as instalações.
114
Em relação às instalações a ideia é fazer todas aparente nas paredes antigas, e o que
for construído de novo será embutido. O elevador seria deslocado para frente dando espaço ao
banheiro. Assim todos esses elementos ficariam juntos e permitiriam um visual mais amplo do
ambiente. E o Rooftop seria dividido em dois níveis e com uma segunda plataforma, desta
forma o espaço comportaria um núm ero menor de pessoas e seria instalado um balcão para
atendimento, além de uma área de apoio maior na parte coberta, com área técnica para as
máquinas de ar Figura 88: DISTRIBUIÇÃO FINAL DOS AMBIENTES condicionado.
Um problema gerado com essa solução foi o impacto visual na visadas de entorno da
edificação, porém essa distribuição espacial era a mais adequada até então. A solução seria
115
buscar recursos tecnológicos para diminuir o impacto visual com equipamento mais compactos
e distribuir a caixa d`água acima dos banheiros. Vejam no tópico a seguir o estudo das visadas
de entorno da edificação.
Sobre o bloco dos fundos a bateria de banheiros também fio ampliada e o pavimento
superior passou a abrigar um depósito. Veja esquema abaixo.
Para este bloco também foram feitos estudos volumétricos principalmente devido à
sua vedação externa das paredes, a ideia, a princípio, era utilizar blocos de concreto e reboco
emassado e pintado na cor branca, com o objetivo de deixar a construção discreta. Porém,
visando reduzir os custos e tornar as aberturas mais eficientes, uma vez que a janela do depósito
recebe luz do sol diretamente por todo o período da manhã, a ideia é substituir toda a vedação
da fachada frontal por cobogó em concreto, evitando sol direto, manutenção periódica e o
sistema estrutural será todo em concreto aparente.
116
Vejam a seguir alguns dos estudos realizados até chegar no resultado final.
QUADRO DE PRESCRIÇÕES
PRESCRIÇÃO PROJETO FINAL
Coeficiente de 3x 391,20m2 593,90
=
Aproveitamento (3) 1.173,6m2
Permeabilidade 20% (87,98m2) 22,48%
Ocupação 80% 77,52%
Recuo frontal 3m 0m
Recuo lateral 1,5m 0m
Recuo de fundo 1,5m 12,20m sem edícula
Gabarito 7,5 11,60
FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA, 2020.
Este estudo tem como objetivo identificar possíveis impactos no entorno gerados pela
volumetria proposta. No mapa a seguir, veja o caminho percorrido e os pontos analisados. O
caminho percorrido segue o mesmo fluxo obrigatório da via.
118
VISADA 03 VISADA 04
VISADA 05 VISADA 06
Fazendo uma análise destas imagens percebe-se claramente a abertura feita na parte
frontal ficará imperceptível do lado direito, sentido de fluxo da via. E do lado esquerdo o que
mais estava impactando era a caixa d`água e caixa do elevador. Por isso será utilizado um
sistema de bombeamento, apenas com um caixa pequena acima do banheiro e o elevador será
utilizado um modelo de tração por cabos laterais que permite sua altura final com 2,30m de
altura do piso do último pavimento. Deste modo teremos a coberta em destaque e nenhum
desses elementos indesejados irá aparecer. Veja o comparativo abaixo.
coberta fica visível quase que completamente em uma de suas águas, quando observada de
longe e neste ângulo. Atualmente neste mesmo ângulo existe uma parada de ônibus que impede
visualizar a mesma.
Nessa opção seria feito um avanço de 2 metros em direção ao fundo do lote e uma
segunda coberta, porém iria ultrapassar o gabarito permitido e a intervenção ficaria muito mais
evidente, como pode se ver na imagem.
123
Para permitir que o ROOFTOP fosse possível, teria que ter uma área mínima (entenda-
se área de público) ou não se justificaria o investimento de mais uma laje. Nessa opção
avançamos 2 metros da coberta em direção ao fundo do lote, deixando uma área mínima de
público. Esta imagem lembra um pouco a imagem apresentada na nota técnica, na qual a coberta
está em parte inexistente, porém é na parte frontal.
As intervenções serão divididas em dois blocos. O bloco histórico, que será inserido
dentro da ruina existente, e um bloco anexo novo, que servirá de apoio aos serviços oferecidos
no bloco histórico. É importante destacar que o sistema escolhido vai obedecer alguns
princípios como, autenticidade e reversibilidade.
O bloco histórico, no térreo, irá constar um café, banheiro acessível unissex e um salão
para eventos sociais. Já no segundo pavimento, o Museu da Água Mineral Santa Maria,
banheiro acessível e o segundo salão para eventos corporativos. Como não existe coberta
atualmente, será criado um terceiro pavimento, sem coberta para abrigar o rooftop, que será um
espaço para eventos sociais e contemplação do rio Potengi.
125
A estrutura utilizada será mista de concreto armado e estrutura metálica. A ideia é garantir
o mínimo de intervenção necessária na edificação, onde a parte frontal que irá abrigar o café e o
museu, será composta por colunas e vigas metálicas e laje treliçada com EPS. Ver figura 100, onde
a parte vermelha será esse sistema descrito com colunas afastadas das paredes. E na parte azul
escura, será utilizado outro sistema estrutural com vigas engastadas na parede, visando reduzir
custos e a utilização de estrutura metálica que não é utilizada comumente na região.
Nesta segunda parte do bloco histórico, a própria alvenaria será cortada e embutida
uma viga metálica (para que o dano a alvenaria seja menor, uma vez que a secção da viga
metálica é menor) Ver imagem 101.
Porém após uma segunda analise do engenheiro mais especializado em restauro de edificações
históricas, ficou decido que o mesmo sistema construtivo adotado na parte frontal do bloco histórico
servirá para todo o bloco histórico, preservando ainda mais os princípios adotados nesse projeto.
O terreno onde a construção foi instalada é uma área úmida e isso pode danificar a
base das colunas, por isso a ideia é criar uma base em concreto elevando a coluna e afastando
do piso, eliminando os riscos da umidade (ver imagem 102).
Outro ponto importante é preservar os pedaços das madeiras que compunham o piso e
ainda se encontram engastadas na parede. Para isso, a ideia é afastar cerca de 30cm toda a nova
estrutura e instalar um vidro para fazer o fechamento do piso, permitindo a visualização dessas
linhas, como pode ser vista nas figuras 103 e 104.
Figura 103: DETALHE DO LAJE SOLTA DA Figura 104: DETALHE DO LAJE SOLTA DA
PAREDE_ VISTA POR BAIXO PAREDE_ VISTA POR CIMA
Isso irá se repetir em todo o bloco histórico, veja as imagens abaixo que ilustram como
ficará a estrutura final.
Para o bloco novo de apoio, o sistema estrutural será simples e o mais utilizado na
região, que são vigas e colunas em concreto amado e laje treliçada com EPS. Esse bloco novo
irá contar no térreo, com uma pequena copa de apoio, e bateria de banheiros acessível e coletivo.
No pavimento superior, terá um depósito que será acessado por uma escada metálica na lateral
do bloco. Não será necessário elevador, pois o depósito possui menos de 50m2, o que é
permitido pela legislação municipal.
A ideia inicial para a fachada era manter a pátina do tempo presente na edificação,
porém devido a fatores culturais, manter a fachada em ruínas sem um fator de novidade, não
seria bem visto. Por isso está sendo proposto o uso da cor branca predominando em quase toda
a fachada e apenas uma parte dela irá manter a pátina do tempo.
Porém esse local para manter a pátina do tempo ainda será definido através de estudos
e definições técnicas com o engenheiro da obra. Veja alguns estudos de composição da fachada
já realizados a seguir:
Também foram feitas algumas análises cromáticas de possibilidades para a fachada e suas
aplicações, veja estudo abaixo
Para se aprofundar um pouco mais sobre esse assunto, vamos entender a definição de cor.
“A cor é uma percepção visual provocada pela ação de um feixe de fótons sobre células
especializadas da retina, que transmite através de informação pré-processada ao nervo óptico,
impressões para o sistema nervoso” (NUNES, 2020)
Com esta definição podemos entender que não existe cor sem luz, a sensação ótica
transmitida através da luz refletida é que nos proporcionam essa percepção da cor. Podemos
dizer que a cor branca seria a reunião de todas as cores, observação comprovada através da
experiência do disco de Newton, em 1666, por Isaac Newton. E a cor preta seria a ausência de
cor. No nosso dia a dia podemos observar que ao iluminar determinado objeto branco com a
luz branca ele refletirá a cor branca e perceberemos aquele objeto como sendo de cor branca,
mas se iluminarmos o mesmo objeto com a luz verde a cor refletida será o verde, pois será
refletido apenas a cor que está presente na luz. E assim ocorreria para qualquer outra cor, onde
um objeto branco irá refletir a cor corresponde a luz que o iluminou. Já se o mesmo objeto for
pintado na cor preta esse poderá ser iluminado por qualquer cor de luz que ele sempre será
preto.
A cor não é o único elemento necessário para se perceber um objeto, a luz emitida
também proporciona uma sobra que em muitas vezes ajuda na percepção dos volumes. Sendo
130
Uma forma de destacar os elementos presentes nessa fachada seria atravez do destaque
por cor e para isso foram feitas algumas análises cromáticas de possibilidades para a fachada e
suas aplicações, veja esquema abaixo.
Porém, um dos fatores que guiou esse projeto é a facilidade de conservação na vida útil
do prédio e a redução de custos em sua manutenção, e uma pintura com duas cores já gera um
certo grau de dificuldade nessa manutenção. Outro fator importante foi a busca pela história e
origens do prédio, como vimos anteriormente esse prédio foi construído pelo senhor Serquiz
Elias de origem Libanesa e um dos significados do nome Líbano é branco. O uso da cor branca
nesta edificação também seria uma “referência/ homenagem” à suas origens e ao seu criador, o
primeiro proprietário. Com base nisso, buscamos outras referências que não utilizam o contraste
da cor em fachadas ecléticas e sim a cor branca para dar um respaldo maior a decisão do uso
desta cor.
132
Referência local:
Figura 111: CASA DA RIBEIRA
FONTE: www.casadaribeira.com.br
Referência Nacional:
FONTE: Rio de Janeiro terá escola libanesa - Agência de Notícias Brasil-Árabe (anba.com.br). Disponível
em: https://anba.com.br/rio-de-janeiro-tera-escola-libanesa/. Acesso em: 04 Out 2020
FONTE: História do prédio histórico da UFPR, que já foi cor-de-rosa (gazetadopovo.com.br). Disponível
em: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/ufpr-palacio-do-saber/. Acesso em: 04
Out 2020
135
Exemplos internacionais:
FONTE: Por que a Torre de Pisa é inclinada? | Super (abril.com.br). Disponível em:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-torre-de-pisa-e-inclinada/. Acesso em: 04 Out
2020
137
Também estão sendo feitos estudos para aplicação de placas de energia fotovoltaica
com o objetivo de aproveitar melhor os recursos disponíveis. A ideia é aplicar essas placas na
cobertura do bloco novo, ao fundo do terreno. Ainda serão feitos mais estudos para comprovar
a viabilidade econômica da instalação do equipamento.
7.6 Piso
Figura 121: exemplo de opção de piso cimento Figura 120: exemplo de opção de piso madeira
FONTE: Portobello
As instalações elétricas do bloco histórico será toda externa e vai seguir o princípio da
retrabalhabilidade e da autenticidade, sendo toda aparente. Nos espaços de eventos e no museu
a iluminação será móvel e poderá ser modificada a qualquer tempo, sendo toda feita em trilhos
do sistema “Do-it” de sobrepor, que é um sistema avançado de iluminação linear, integrando
diversos tipos de iluminação, como os módulos iluminação pontual, difusa, assimétrica, dentre
diversas opções de fachos, potências, temperatura de cor e até integração de luminárias
pendentes e projetores.
No bloco novo deverá ser utilizada instalações embutidas mais tradicionais e mais
baratas.
FONTE: Como fazer instalação elétrica aparente e 15 exemplos (vaicomtudo.com). Disponível em:
https://www.vaicomtudo.com/1062-como-fazer-instalacao-eletrica-aparente-e-15-exemplos.html.
Acesso em: 04 Out 2020
139
7.8 Forro
Boa parte do bloco novo terá laje e coberta aparente, porém na área do café será
recriado o desenho do piso no forro fazendo com que esse seja um atrativo e um dos gatilhos
para conexões com a memória da edificação. Será uma chapa em MDF cortado a laser e
aplicado abaixo da laje com iluminação embutida, destacando o desenho vazado. Veja imagem
abaixo. Abaixo da laje do ROOFTOP também será necessário ter o forro para esconder a manta
térmica que irá auxiliar na diminuição da transmitância térmica da laje impermeabilizada.
7.9 Esquadrias
é para ajudar a compor o ambiente lúdico da área de transição que junto com a árvore e o
balanço vai ajudar a compor um ambiente “instagramável”.
Um dos elementos mais simbólicos desta edificação é a árvore que por anos resistiu
na fachada, e contribuiu para o simbolismo da mesma. Rememorá-la através de uma escultura
foi uma forma encontrada para que ela se faça presente na memória de todos, porém não seria
instalada na fachada, para não ofuscar a bela fachada eclética. Será instalada na área de transição
e vai utilizar o sistema de estrutura metálica em sua sustentação sendo recoberta por pedaços
de ferro retorcido. Criando o aspecto de árvore e vai ter alguns galhos saindo pelas bandeirolas
das janelas na fachada frontal. Ainda será criado um balanço criando assim, um espaço
instagramável para ajudar na divulgação espontânea da Casa de Cultura A Samaritana.
Uma plataforma será implanta no bloco antigo com 3 paradas, atendendo desata forma os três
pavimentos. No Rooftop que terá dois níveis, será instalada uma segunda plataforma e todo o
guarda corpo será em vidro para não impactar na fachada e permitir que um cadeirante tenha
um ângulo visual maior. Além disso toda a circulação foi tratada de modo a garantir
acessibilidade. No acesso principal existe um desnível em um dos lados de 6 cm e no outro 10
cm, será feita uma elevação sutil na calçada de 5cm com o objetivo de reduzir esse desnível do
acesso facilitando a entrada e atendendo as exigências de acessibilidade.
Em relação aos aspectos de segurança, mesmo não sendo necessário um projeto de
combate a incêndio, serão instalados extintores, sinalização de saída, e na fachada terá uma
porta a mais o que além de devolver essa abertura existente, auxiliar no escoamento do público
no caso de uma necessidade.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já foi dito anteriormente, projetos de intervenções patrimoniais são por si só,
projetos complexos e exigem amplo conhecimento técnico para que as melhores decisões
arquitetônicas possam ser tomadas. Com este estudo, buscou-se apresentar as etapas do
processo de projeto e toda evolução da proposta até o presente momento. As etapas de leitura
da edificação (levantamento físico) e levantamento histórico são premissas fundamentais para
definições de soluções de projeto. A revisão bibliográfica também consiste numa etapa
importante na definição de projeto, assim como os estudos de casos similares. A intervenção
em ruína torna as decisões arquitetônicas ainda mais difíceis, se fazendo necessário um
embasamento teórico ainda maior.
As soluções aos dilemas apontados foram atendidas, sendo a adequação dos
condicionantes legais as mais complexas, como a questão referente a acessibilidade. Vale
salientar que todas as exigências legais foram atendidas.
Outro grande impasse nesse tipo de edificação, tombada e com tipologia em fita (lote
estreito e comprido geralmente com as duas laterais conjugadas aos lotes vizinhos e sem
aberturas laterais), é promoção de conforto ambiental e salubridade nos ambientes. Por possuir
poucas aberturas e fachadas que não podem ser modificadas, muitas vezes esse tipo de prédio
acaba ficando à mercê de climatização ativa e iluminação artificial, o que muitas vezes pode
tornar o ambiente prejudicial à saúde. Com o objetivo de proporcionar maior iluminação e
ventilação natural, foi proposta uma segunda fachada permitindo outra área de jardim na frente
do edifício, o qual chamamos de área de transição. Esta segunda fachada possui aberturas
142
maiores e esquadrias de vidro, que permitem a entrada da luz natural em maior abundância que
as aberturas existentes anteriormente. Apesar disto, quando submetido a uma análise prévia foi
considerado que está abertura não seria imprescindível para o funcionamento da edificação e
que iria impactar na volumetria da mesma na paisagem do CHN e devido a isso essa abertura
foi fechada.
Outro grande desafio foi manter a memória e o simbolismo da edificação ainda
pulsante na lembrança de quem habita o bairro da Ribeira, para isso, a ideia é utilizar uma
escultura em forma de árvore, fazendo alusão ao pé de fícus que foi retirado da fachada frontal.
Além disso, ainda serão utilizadas instalações artísticas ou memoriais, com o objetivo de
rememorar a história da edificação e sua importância histórica ao abrigar no período da Segunda
Guerra o jornal criado para ser a voz independente do povo.
Todas essas intervenções propostas tem como princípio a preservação da autenticidade
do prédio, a retrabalhabilidade (reversibilidade) do edifício, estando entre a continuidade
contextual e a justaposição contextual.
O reaproveitamento de materiais sem condições de uso, como as linhas dos barrotes
que sustentavam o piso, parte do taboado do piso e outras madeiras, serão reaproveitadas no
edifício em outros formatos possíveis. Como banco, painéis, caramanchão, etc.
Por fim, ressaltamos que todas as decisões tomadas para esse projeto têm como o
objetivo a preservação do patrimônio edificado e sua valorização através de intervenções que
obedecem aos princípios do restauro.
A seguir algumas imagens da proposta.
143
Figura 142: VISTA SALÃO DE EVENTOS 02 COM LATERAIS EM VIDRO/ LAJE SOLTA DA CAIXA MURAL
REFERÊNCIAS
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. 2 ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2013.
CUNHA, C. Alois Riegl e "O culto moderno dos monumentos”. Revista CPC, n. 2, p. 6-16, 1
out. 2006. Disponível em http://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/15586/17160. Acesso
em: 11 out. 2020.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F.O.R. Eficiência energética na arquitetura. 3.ed.
Rio de Janeiro: 2014.
LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de textos, 2011.
LEMOS, Carlos A.C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense. 1981.
MELO, Manoel Rodrigues de. Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte 1909- 1987.
São Paulo -SP. Ed. Cortez. Natal-RN. Fundação José Augusto, 1987
____. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Anuário de Natal 2016. Natal:
SEMURB, 2016. Disponível em: https://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-102.html.
Acesso em: 25 set. 2020.
____. ____. Manual de Arborização Urbana de Natal. Natal: SEMURB, 2009. Disponível em:
https://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-102.html. Acesso em: 25 set. 2020
____. ____. Conheça melhor seu bairro: Ribeira: SEMURB, 2009. Disponível em:
https://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-102.html. Acesso em: 25 set. 2020
157
PANOSSO, A. & GAETA, C. Turismo de Experiência. (2010). São Paulo: Editora Senac SP.
RIEGL, Alois. Arte tardo-romana (Trad. de Licia Collobi Ragghianti). Torino: Giulio
Einaudi, 1959.
____. O culto moderno dos monumentos: a sua essência e sua origem. trad. Werner
Rothschild Davidsohn eAnat Falbel. São Paulo: Perspectiva, 2014.
WIECZOREK, Daniel. Introduction du traducteur. In: Riegl, Aloïs. Le culte moderne des
monuments. Son essence et sa genèse. Traduit par Daniel Wieczorek. Paris: Seuil, 1984. niel
Wieczorek. Paris: Seuil, 1984.
158
ANEXO
VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO
NATURAL.
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
ESTUDOS DE REFERÊNCIAS/
LEGISLAÇÕESRELACIONADAS
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
MOBILIÁRIO/EQUIPAMENTOS
ESSENCIAIS:
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
DEPÓSITO/ COPA -
GARÇON, COZINHEIRO,
FUNCIONÁRIOS
MOBILIÁRIO/EQUIPAMENTOS
ESSENCIAIS:
VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO
NATURAL.
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
MUSEU -
VISITANTES(CLIENTES)
MOBILIÁRIO/EQUIPAMENTOS
ESSENCIAIS:
VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO
NATURAL E ARTIFICIAL
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
VISITANTES(CLIENTES)
MOBILIÁRIO/EQUIPAMENTOS
ESSENCIAIS:
VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO
NATURAL E ARTIFICIAL
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
ROOFTOP -
VISITANTES(CLIENTES), GARÇON,
COZINHEIRO,
MOBILIÁRIO/EQUIPAMENTOS
ESSENCIAIS:
VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO
NATURAL.
PROXIMIDADES/AFASTAMENTOS:
FONTE DE INFORMAÇÕES:
D
H
E
F
C
A A
B B
C
H
E
F
D
PLANTA BAIXA_TÉRREO
A SAMARITANA PATOLOGIAS
01
D
H
E
F
C
A A
B B
C
H
E
F
D
A SAMARITANA PATOLOGIAS
02
CORTE AA
A SAMARITANA
03
CORTE BB
A SAMARITANA
PATOLOGIAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO-AMBIENTE
A SAMARITANA: SIMBOLISMO, MEMÓRIA E HISTÓRIA
Uma proposta de reúso para um edifício de valor patrimonial no
bairro da Ribeira
04
A SAMARITANA
PATOLOGIAS
05
QUADRO DE LEGENDAS A SAMARITANA
PATOLOGIAS
CORTE EE CORTE FF
06
QUADRO DE LEGENDAS A SAMARITANA
PATOLOGIAS
CORTE GG CORTE HH
07
VISADA 02
IV
MAPA_PERCURSO VISUAL
I
VISADA 05
VIII
VISADA 04
VI
VISADA 05
VII
MAPA_PERCURSO VISUAL
II
08
VISADA 06
IX
VISADA 03
V
ESQ. TIPO DIMENSÃO PEITORIL MATERIAL QUANT. LOCAL ESPECIFICAÇÕES
larg. alt.
PORTAS RESTAURADAS
P1 Giro 1.20 2.78 Madeira 01 Fachada Térreo 02 Folhas
Madeira
P10 Giro 1.51 3.70 01 Fachada 1Pavimento 02 Folhas
Madeira
P13 Giro 1.01 2.80 02 Fachada 1Pavimento 02 Folhas
PORTAS NOVAS
P2 Giro 1.02 2.78 Vidro 01 Fachada 01 Folha
Banheiros
P7 Giro 0.85 2.10 Madeira 01 01 Folha
JANELAS
J1 Giro 1.15 2.25 1.00 Madeira/Vidro 02 Fachada 02 Folhas
PLANTA BAIXA_TÉRREO
F
larg. alt.
PORTAS RESTAURADAS
P1 Giro 1.20 2.78 Madeira 01 Fachada Térreo 02 Folhas
Madeira
P10 Giro 1.51 3.70 01 Fachada 1Pavimento 02 Folhas
PORTAS NOVAS
P2 Giro 1.02 2.78 Vidro 01 Fachada 01 Folha
P19
H Giro 1.16 2.98 VIdro 01 Salão de eventos 01 01 Folha
3
PLANTA DE SITUAÇÃO P20 Giro 1.38 2.98 VIdro 02 Salão de eventos 01 02 Folhas
B B
ESQ. TIPO DIMENSÃO PEITORIL MATERIAL QUANT. LOCAL ESPECIFICAÇÕES
larg. alt.
JANELAS
J1 Giro 1.15 2.25 1.00 Madeira/Vidro 02 Fachada 02 Folhas
D
IMPLANTAÇÃO/LOCAÇÃO E COBERTURA
F
C
C
F
I
A A
1
3
2
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
B B
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO-AMBIENTE
A SAMARITANA: SIMBOLISMO, MEMÓRIA E HISTÓRIA
Uma proposta de reúso para um edifício de valor patrimonial no
G G
bairro da Ribeira
10
D
F
PLANTA BAIXA_TÉRREO
C
C
F
ESQ. TIPO DIMENSÃO PEITORIL MATERIAL QUANT. LOCAL ESPECIFICAÇÕES
larg. alt.
PORTAS RESTAURADAS
P1 Giro 1.20 2.78 Madeira 01 Fachada Térreo 02 Folhas
Madeira
P10 Giro 1.51 3.70 01 Fachada 1Pavimento 02 Folhas
Madeira
01
02 Fachada 1Pavimento
02 Folhas
02 Folhas
Giro 1.01 2.80
PORTAS NOVAS
P2 Giro 1.02 2.78 Vidro 01 Fachada 01 Folha
3
Giro 1.16 2.98
B B
ESQ. TIPO DIMENSÃO PEITORIL MATERIAL QUANT. LOCAL ESPECIFICAÇÕES
larg. alt.
JANELAS
J1 Giro 1.15 2.25 1.00 Madeira/Vidro 02 Fachada 02 Folhas
F
C
F
I
A A
1
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
B B DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO-AMBIENTE
A SAMARITANA: SIMBOLISMO, MEMÓRIA E HISTÓRIA
G G Uma proposta de reúso para um edifício de valor patrimonial no
bairro da Ribeira
11
D
F
C
PLANTA BAIXA_ROOFTOP
CORTE AA
CORTE BB 12
CORTE GG
CORTE CC CORTE DD
CORTE EE CORTE FF
13
HOMEM MULHER
FACHADA 03
CORTE HH
FACHADA 01 FACHADA 02
14
B
C
A A
B B
VISTA FRONTAL
C A A
B
PLANTA BAIXA_WC MASCULINO PLANTA BAIXA_WC FEMININO
VISTA LATERAL
15
CORTE AA_WC MASCULINO CORTE BB_WC MASCULINO CORTE CC_WC MASCULINO CORTE BB_WC FEMININO
A
B B
WC 02 WC 03
3,82m² 3,82m²
ALCANCE
C C
FAIXA DE
VISUAL
HOMEM MULHER
CORTE AA_WC PNE 02 CORTE BB_WC PNE 02 CORTE CC_WC PNE 02 VISTA FRONTAL
PLANTA BAIXA_WC PNE 02 E 03
HOMEM
B B
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DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO-AMBIENTE
A SAMARITANA: SIMBOLISMO, MEMÓRIA E HISTÓRIA
Uma proposta de reúso para um edifício de valor patrimonial no
bairro da Ribeira
16
C CORTE CC_WC PNE 01
CORTE AA_WC PNE 01 CORTE BB_WC PNE 01
PORTA PNE
PLANTA BAIXA_WC PNE 01,04,05
C
A A
B B
CORTE AA_COZINHA
C
PLANTA BAIXA_COZINHA
CORTE ESCADAS
DETALHAMENTO DAS
ESCADAS E CORRIMÃOS
DET. ESCADA TÉRREO
SEM ESCALA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA,
PROLONGAMENTO DE CORRIMÃOS BARRA DE APOIO
PROJETO E MEIO-AMBIENTE
A SAMARITANA: SIMBOLISMO, MEMÓRIA E HISTÓRIA
Uma proposta de reúso para um edifício de valor patrimonial no
Barra de
18
apoio Alvenaria
19
CORTE DD
DETALHE VIDRO
PLANTA BAIXA_TÉRREO
DEPÓSITO 1° PAV.
PLANTA BAIXA_TÉRREO
22
PLANTA BAIXA_1° PAVIMENTO
PLANTA BAIXA_ROOFTOP 23
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bairro da Ribeira
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