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CENTRO DE TECNOLOGIA

ARQUITETURA E URBANISMO

PROPOSTA DE ÁREA VISITÁVEL PARA O


PARQUE BOCA DA MATA, EM CEARÁ-MIRIM/RN

NOVEMBRO.2020
EDVALDO MENDES JÚNIOR

RAÍZES ANTIGAS, NOVAS HISTÓRIAS


PROPOSTA DE ÁREA VISITÁVEL PARA O
PARQUE BOCA DA MATA EM CEARÁ-MIRIM/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
no semestre 2020.1, para obtenção do título de
Arquiteto e Urbanista.

ORIENTADOR: Hélio Takashi Maciel de Farias

NOVEMBRO . 2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ -CT

Mendes Junior, Edvaldo.


Raízes antigas, novas histórias: proposta de área visitável para
o parque Boca da Mata em Ceará-Mirim/RN / Edvaldo Mendes Junior. -
Natal, RN, 2020.
230f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: Hélio Takashi Maciel de Farias.

1. Parques urbanos - Monografia. 2. Espaços verdes públicos -


Monografia. 3. Áreas degradadas - Monografia. 4. Recuperação
ambiental - Monografia. 5. Ceará-Mirim/RN - Monografia. I. Farias,
Hélio Takashi Maciel de. II. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 712.23


EDVALDO MENDES JÚNIOR

RAÍZES ANTIGAS, NOVAS HISTÓRIAS


PROPOSTA DE ÁREA VISITÁVEL PARA O
PARQUE BOCA DA MATA EM CEARÁ-MIRIM/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
no semestre 2020.1, para obtenção do título de
Arquiteto e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA:

..........................................................................................................
Hélio Takashi Maciel de Farias (Orientador)

..........................................................................................................
Paulo José Lisboa Nobre (Membro Interno)

..........................................................................................................
Camila Gomes Sant’Anna (Convidada Externa)
AGRADECIMENTOS...

... a Deus, por estar sempre olhando por mim e pela minha família,
principalmente nestes tempos de pandemia, e sem o qual nada seria
possível.

... aos meus pais, Edvaldo Mendes e Mª Auxiliadora, por todo apoio,
amor, cuidado, e encorajamento que me deram desde o dia em que nasci.

... ao meu orientador, Hélio Takashi, pelo suporte, pela paciência, pela
atenção e por todo o conhecimento que dividiu comigo ao longo do curso
e da realização deste trabalho.

... a Paulo Nobre, por prontamente se disponibilizar a me auxiliar na reta


final deste trabalho com seu tão característico bom humor.

... a Aline Dayane, Janine Ariane e Laurence Campos, por terem sido
meus primeiros companheiros na jornada árdua da graduação. Destino a
eles não apenas gratidão, mas também muitas saudades.

... as mulheres mais maravilhosas de Arq&Urb, Amanda Amorim e


Yanka Oliveira, por todos os momentos incríveis, noites viradas e
palavras de força que me proporcionaram. Eu não teria chegado onde
cheguei sem vocês.

... a toda a minha turma, por fazerem da sala de aula um local de alegria,
de amizade, de união, de partilha e de novas experiências. Vocês tornaram
a graduação uma experiência incrível, pessoal!

... a todos os meus amigos do curso que fizeram parte da minha


caminhada, por todas as risadas, abraços, lanchinhos, conselhos,
conversas e rolês que me esperavam nas mesinhas do Galinheiro sempre
que eu chegava ou saía. Boa sorte a todos em suas caminhadas!

... ao Galinheiro, é claro, o espaço mais gostoso da universidade. Palco da


experiência tão maravilhosamente louca que foi a graduação.
... a seu Mário, um símbolo do curso e do departamento, um rosto que
significa cuidado e prestatividade. Tive a incrível oportunidade de
conviver com alguém tão preocupado com o curso e com seus alunos.
Que muitos também a tenham.

... ao curso de Arq&Urb, e aqui incluo todos os servidores,


professores, entidades estudantis e alunos que o compõem. Nosso curso
é extraordinário pois vocês, antes de tudo, também o são.

... a UFRN, por me proporcionar tantas memórias maravilhosas; por ser


um lugar de liberdade, de cultura e de conhecimento; um espaço que
transforma através da educação; por oferecer a seus alunos um ensino
em nível de excelência através de uma infraestrutura pública, gratuita
e de qualidade.

... a Carlos Roberto, por todo o apoio que me deu nos meus momentos
de crise e insegurança, tanto dentro da universidade, como fora dela.
Obrigado por acreditar em mim e sempre me encorajar a perseguir meus
objetivos, obrigado pela força que você me dá, obrigado por ser sempre
tão presente e tão compreensivo. Obrigado.

...ao ambientalista Eriberto Moreira, participante ativo na luta pelo


Boca da Mata, por ter sido parte fundamental da realização deste
trabalho, mostrando-se sempre à disposição para ajudar-me no que fosse
preciso.

... a Carlos Daniel, que mesmo em meio à pandemia se prontificou em


deixar a segurança de sua casa para garantir meu acesso a documentos
necessários à integralidade deste trabalho.

... a Ceará-Mirim, minha cidade natal e cenário de tantas das minhas


boas memórias. A ela dedico este trabalho e espero de coração que ele
possa servi-la de alguma forma no futuro.

... a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram com meu


crescimento acadêmico e pessoal, que se fizeram presentes durante
minha jornada me dando suporte, apoio e encorajamento para seguir na
luta e que, juntamente comigo, tornaram este trabalho possível.
OBRIGADO!!!
A TURMA 2020.1 INFORMA:
Os trabalhos apresentados pela turma foram produzidos
durante o período de isolamento social da pandemia do COVID-19.
Nas páginas seguintes, caro leitor, você encontrará um trabalho que
buscou adequar sua execução às condições impostas pelo contexto
vivido a nível mundial. Evitamos, na medida do possível, visitas de
campo, entrevistas presenciais e outros instrumentos que pudessem
colocar em risco a nossa saúde e a de outras pessoas.
Acreditamos que essa escolha foi a mais adequada para o
momento e condiz com o posicionamento das Universidades
Públicas, respeitando a opinião dos profissionais da saúde e buscando
não agravar essa fase já difícil. Nos solidarizamos neste momento
com todas as famílias brasileiras afligidas pelo vírus e desejamos que
em breve possamos retornar ao nosso cotidiano em segurança.

(adaptado de texto base produzido por Natália Queiroz, membro da


turma de concluintes 2020.1)
RESUMO

Os parques públicos aparecem no século XVIII como uma alternativa às transformações sociais
e espaciais sofridas pela cidade pós-industrial. O crescimento urbano desordenado, o aumento
da poluição e o adoecimento físico e mental proveniente do caos urbano faz destes espaços
verdes verdadeiros oásis; locais com potencial de proporcionar inúmeros benefícios aos
cidadãos. No caso do Parque Boca da Mata, em Ceará-Mirim/RN, este potencial não tem sido
plenamente aproveitado. O local possui uma área de cerca de 69 hectares legalmente protegida,
que abraça uma zona de resquício de Mata Atlântica, importante bioma brasileiro. Apesar de
ser uma área, em tese, destinada à população para o exercício da ciência, da cultura e do lazer,
o local carece de qualquer infraestrutura que suporte sua utilização, além de zonas em processo
de contínua degradação. Esse trabalho vem estudar a área, através de leituras bibliográficas,
entrevistas e visitas in loco, e apontar soluções que insiram o local no cotidiano dos ceará-
mirinenses, com o objetivo de apresentar uma proposta de área visitável dentro do Parque Boca
da Mata, respeitando seu entorno, contemplando as necessidades dos cidadãos e considerando
ideais de recuperação ambiental e democratização de seus espaços. Os objetivos específicos
são: [1] Atentar para as alternativas de projeto possíveis e apropriadas ao caso estudado,
considerando os diferentes tipos de parque e seus impactos; [2] Considerar os contextos urbano,
socioeconômico e natural do Parque Boca da Mata a fim de traçar os melhores caminhos de
intervenção. [3] Estabelecer diretrizes para a implantação da área visitável baseando-as nas
informações levantadas ao longo do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Parques Urbanos; Espaços Verdes Públicos; Áreas Degradadas;


Recuperação Ambiental; Ceará-Mirim.
ABSTRACT

Public parks appear in the 18th century as an alternative to the social and spatial transformations
suffered by the post-industrial city. Disorganized urban growth, increased pollution and
physical and mental illness from urban chaos make these green spaces a real oasis; with the
potential to provide countless benefits to citizens. In the case of Parque Boca da Mata, in Ceará-
Mirim / RN, this potential has not been fully exploited. The site has an area of about 69 hectares
legally protected, which embraces an area of remnants of the Atlantic Forest, an important
Brazilian biome. Despite being an area, in theory, destined to the population for the exercise of
science, culture and leisure, the place lacks any infrastructure that supports its use, in addition
to areas in a process of continuous degradation. This work comes to study the area, through
bibliographic readings, interviews and on-site visits, and to point out solutions that insert the
place in the daily life of Ceará-Mirinenses, in order to present a proposal for a visitable area
within Parque Boca da Mata, respecting its surroundings, considering the needs of citizens and
considering ideals for environmental recovery and democratization of their spaces. The specific
objectives are: [1] Pay attention to the possible design alternatives and appropriate to the case
studied, considering the different types of park and their impacts; [2] Consider the urban,
socioeconomic and natural contexts of Parque Boca da Mata in order to outline the best
intervention paths. [3] Establish guidelines for the implementation of the visitable area based
on the information gathered during the work.

KEYWORDS: Urban Parks; Public Green Spaces; Degraded areas; Environmental Recovery;
FIGURAS
Figura 01. Aula de campo realizada pelos alunos da E. M. Virgílio Luiz.................................21
Figura 02. Interior da Trilha do Cientista, no Parque Boca da Mata..........................................23
Figura 03. Setores urbanos segundo Cavalheiro &Del Picchia (1992) .....................................29
Figuras 04 e 05: Mercado Público de Ceará-Mirim (acima) e Praça Onofre Lopes (abaixo),
localizada em frente ao primeiro. Ambos são exemplares de espaços públicos, porém apenas a
praça trata-se de um espaço livre...............................................................................................31
Figuras 06. O espaço livre como local de encontro, convívio e liberdade.................................34
Figura 07. O jardim chinês: a natureza como cenário místico da vida humana.......................35
Figura 08. O jardim egípcio: a natureza como complemento da vida humana.........................36
Figura 09. Jardim de Villa Lante, em Bagnaia (Ítalia)..............................................................37
Figura 10. Jardim do castelo de Vaux le Vicomte (França).......................................................38
Figuras 11 e 12. Parque da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo
(Brasil), planta baixa dos caminhos (à direita) e vista aérea (à esquerda) .................................39
Figura 13. Vista aérea do Central Park, em Nova York (EUA)................................................41
Figura 14. Etapas do Park Movement e suas principais características....................................42
Figura 15. Passeio Público (Rio de Janeiro)..............................................................................43
Figura 16. Campo de Santana (Rio de Janeiro).........................................................................43
Figura 17. Jardim Botânico (Rio de Janeiro).............................................................................44
Figura 18. Parque Ibirapuera (São Paulo).................................................................................44
Figura 19. Parque do Flamengo (Rio de Janeiro).....................................................................45
Figura 20. Exemplo de Parque Linear.......................................................................................50
Figura 21. Exemplo de Parque Temático.................................................................................50
Figura 22. Bosques arborizados do Parque Villa-Lobos: oásis verdes em São Paulo..............52
Figura 23. Parque Renné Giannetti – MG (1897) - Linha Eclética............................................54
Figura 24. Mapa do Parque Renné Giannetti............................................................................54
Figura 25. Parque Ibirapuera – SP (1954) - Linha Moderna.....................................................54
Figura 26. Mapa do Parque Ibirapuera. ...................................................................................54
Figura 27: Mapa do Jardim Botânico – PR (1991) – Linha Contemporânea. ..........................54
Figura 28: Mapa do Jardim Botânico. ......................................................................................54
Figura 29: Subdivisão das Unidades de Conservação...............................................................56
Figura 30: Exemplos de APP...................................................................................................57
Figura 31: Parque das Dunas: UC em Natal (RN)...................................................................58
Figura 32. Porcentagens de RL em propriedades rurais............................................................58
Figura 33. Reconstrução ilustrativa dos Jardins da Babilônia...................................................60
Figura 34: O parque deve ser um local de felicidade.................................................................75
Figura 35. Localização de Ceará-Mirim..................................................................................77
Figura 36. Rio Ceará-Mirim: o despontar de uma história.......................................................78
Figura 37. Engenho Carnaubal................................................................................................80
Figura 38. Largo da Igreja Matriz em suas primeiras décadas de ocupação............................82
Figura 39. Mercado Público de Ceará-Mirim...........................................................................83
Figura 40. Casa Grande do Engenho Estrela, em Ceará-Mirim: um dos exemplares de uma
glória esquecida.........................................................................................................................84
Figura 41. Usina São Francisco................................................................................................85
Figura 42. Ruínas da Usina Ilha Bela.......................................................................................86
Figura 43. Vista aérea do entorno da Igreja Matriz (2018), contemplando parte dos bairros
Centro e Santa Águeda, núcleos iniciais de ocupação...............................................................87
Figura 44. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.............................................................91
Figura 45. Perímetro do Parque Boca da Mata (à noroeste, o núcleo sede de Ceará-Mirim)..100
Figura 46. Formações de Mata Atlântica encontradas no Rio Grande do Norte e em Ceará-
Mirim......................................................................................................................................106
Figura 47. Visuais no interior da Trilha do Cientista............................................................109
Figura 48. Visuais no Rio do Mudo.......................................................................................109
Figura 49, 50 e 51. Visuais dos fragmentos vegetados do PBM a partir da BR-406.............110
Figura 52 e 53. Vistas aéreas da área do PBM em 2000 e em 2010.......................................111
Figura 54 e 55: Vistas aéreas da área do PBM em 2015 e em 2020.......................................112
Figura 56. Praça 01 (Barão de Ceará-Mirim).........................................................................121
Figura 57. Praça 02 (Sem nome específico)...........................................................................121
Figura 58. Praça 03 (Praça das Cinco Bocas)........................................................................121
Figura 59. Praça 04 (Praça Cidade de Vagos)........................................................................122
Figura 60: Reunião pública administrativa no átrio do clube do UNISESP...........................134
Figura 61: Abertura dos Jogos Internos do CEEP, no Palácio Anderson Elói........................135
Figuras 62 e 63: Cultos evangélicos acontecendo nas quadras da E.E. Ubaldo Bezerra (à
esquerda) e da E.E Celso Cicco (à direita)...............................................................................136
Figuras 64: Largo do Monumento Rotary..............................................................................136
Figuras 65: Largo do Monumento Rotary durante o evento do Centenário..........................137
Figura 66. Parques escolhidos para o estudo de referências..................................................139
Figura 67: Fachadas cegas registradas em diferentes pontos da Alexandrino de Alencar....141
Figura 68: Mapa dos espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados.............................142
Figura 69: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados............................................143
Figura 70: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados (continuação).....................144
Figura 71: Traçado principal..................................................................................................145
Figura 72: Traçado secundário...............................................................................................145
Figura 73: Mobiliários encontrados ao longo dos caminhos do Bosque................................145
Figura 74: Casa Mãe Terra: famoso ponto do bosque............................................................146
Figura 75: Parque do Cocó: área Parque do Cocó...................................................................149
Figura 76: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque do Cocó.........................................150
Figura 77: Um dos acessos à área Adahil Barreto..................................................................151
Figura 78: Mapa dos espaços e equipamentos do Adahil Barreto..........................................151
Figura 79: Mapa da proposta para revitalização do Parque do Cocó.......................................152
Figura 80: Vista para o interior do parque da Av.Prof. Fonseca Rodrigues............................154
Figura 81: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque Villa-Lobos....................................155
Figura 82: Vista superior dos caminhos do parque.................................................................156
Figura 83: O Parque Villa-Lobos e a amplitude e limpeza do cenário, evidenciando o Orquidário Ruth
Cardoso (ao fundo)...............................................................................................................................157
Figura 84. Área Potencial de Implantação para o Bosque Boca da Mata..............................165
Figura 85: Visuais ao redor da API.........................................................................................171
Figura 86. Ponto de acesso previsto pela Luís L. Varela.......................................................174
Figura 87. Projeto do pórtico de entrada para o parque..........................................................174
Figura 88. Croqui do zoneamento preliminar.........................................................................175
Figura 89. Primeiros estudos volumétricos da passarela elevada..........................................177
Figura 90. Zoneamento com equipamentos e definição de eixos de passeio.........................178
Figura 91. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Cultural...........179
Figura 92. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Recreativo.......180
Figura 93. Croquis digitais dos caminhos e da vegetação ao redor do pavilhão.....................180
Figura 94. Implantação do BBM e ações no entorno..............................................................182
Figura 95. Croqui esquemático de um corredor verde...........................................................184
Figura 96. Banco dos canteiros da cidade...............................................................................187
Figura 97. Lixeiras sugeridas para o local.............................................................................187
Figura 98. Atuais postes de iluminação (à esquerda) e o sugerido (à direita).........................188
Figura 99. Modelo elaborado para a E.A.A............................................................................188
Figura 100. Redimensionamento sugerido para o segundo trecho da pista............................189
Figura 101. Pista de cooper atualmente.................................................................................189
Figura 102: Pista de cooper reestruturada..............................................................................190
Figura 103: Novas quadras da Luís L. Varela.........................................................................192
Figura 104: Corte esquemático das novas vias.......................................................................192
Figura 105. Localização do aeródromo..................................................................................194
Figura 106: Hangar do aeródromo..........................................................................................194
Figura 107. Modelo de aeronave do aeroclube.......................................................................195
Figura 108. Modelo de aeronave da associação de ultraleves.................................................195
Figura 109. Implantação e setorização do Bosque Boca da Mata..........................................197
Figura 110. Átrio multiuso do Setor Cultura e Eventos.........................................................198
Figura 111. Um dos passeios principais do setor (ao fundo vê-se a cobertura do pavilhão)...199
Figura 112. Localização e volumetria dos principais equipamentos do setor.........................200
Figura 113. Núcleo de Apoio do setor e acesso à passarela-mirante.......................................202
Figura 114. Passarela-Mirante: um caminho sobre as árvores (e sobre a BR).........................202
Figura 115. Localização do Setor de Pesquisa (em vermelho) e áreas relacionadas a ele (em
verde)......................................................................................................................................204
Figura 116: Eixo automobilístico...........................................................................................205
Figura 117: Quadras recreativas do setor................................................................................206
Figura 118: Acesso à passarela-mirante no lago do setor.......................................................206
Figura 119: Esquema da Trilha Histórico-Ambiental.............................................................208
Figura 120: Croqui digital de totem informativo para a Trilha Histórico-Ambiental.............208
Figura 121: Acessos para o perímetro do aeródromo............................................................209
Figura 122: Isometria modelo dos passeios principais............................................................210
Figura 123: Isometria modelo dos passeios secundários........................................................210
Figura 124: Isometria modelo das vias automobilísticas.......................................................211
Figura 125: Croquis de paisagismo na Clareira do Agricultor, no Setor Cultura e Eventos...212
Figura 126: Croquis de paisagismo ao redor do pavilhão.......................................................213
Figura 127: Zona de paisagismo de grupo 01, no setor Cultura e Eventos............................213
Figura 128: Croqui de paisagismo para áreas de uso passivo................................................214
Figura 129: Zona de paisagismo de grupo 2, no Setor Recreação e Esportes.........................214
Figura 130: Parque Fundidora, México..................................................................................218
Figura 131. Usina São Francisco, Ceará-Mirim......................................................................218
MAPAS
Mapa 01. Macrozonas do Município de Ceará-Mirim..............................................................88
Mapa 02. Assentamentos rurais em Ceará-Mirim (em amarelo) em contraste com os núcleos
urbanizados (em vermelho).......................................................................................................89
Mapa 03. Núcleos urbanos de Ceará-Mirim (em vermelho), com destaque ao núcleo sede.....91
Mapa 04. Subdivisão dos bairros de Ceará-Mirim...................................................................92
Mapa 05. Ceará-Mirim: momentos e sentidos de crescimento.................................................93
Mapa 06. Uso do Solo em Ceará-Mirim (predominância por quadra).....................................94
Mapa 07. Macrozona de expansão urbana no núcleo sede de Ceará-Mirim............................95
Mapa 08. Conjuntos habitacionais em Ceará-Mirim................................................................95
Mapa 09. Uso do solo com destaque nos novos tecidos urbanos...............................................96
Mapa 10. Área de abrangência dos espaços livre públicos de Ceará-Mirim.............................97
Mapa 11. Perímetro do Parque Boca da Mata no momento de sua instituição.......................102
Mapa 12. Perímetro atual do Parque Boca da Mata, após a lei 1.884/19...............................104
Mapa 13. Zoneamento do PBM de acordo com as caracterizações ambientais encontradas...108
Mapa 14. Espaços estudados na pesquisa de PPUR 06: Praças, pra quê te quero?.................120
Mapa 15: Área do PDD (em cores) com o Bosque dos Namorados em destaque..................140
Mapa 16: Principais vias de acesso ao Bosque dos Namorados.............................................141
Mapa 17: Perímetro do Parque do Cocó (Fortaleza – CE)......................................................147
Mapa 18: Localização do Parque Villa-Lobos, São Paulo (SP)..............................................153
Mapa 19. Mapa de fluxo de não motorizado nas principais vias do entorno.........................166
Mapa 20. Mapa de fluxo motorizado nas principais vias do entorno......................................167
Mapa 21. Mapa dos principais pontos de interesse e potencialidades do entorno.................168
Mapa 22. Mapa dos principais problemas do entorno............................................................169
Mapa 23. Perfil topográfico do local e visuais analisadas......................................................170
Mapa 24. Mapa do zoneamento preliminar em foto aérea......................................................176
Mapa 25. Zona a ser urbanizada (em amarelo)......................................................................191
QUADROS
Quadro 01: Características das linguagens Eclética, Moderna e Contemporânea....................53
Quadro 02: Principais legislações incidentes no Parque Boca da Mata.................................114
Quadro 03: Informações gerais sobre o Parque Boca da Mata...............................................114
Quadro 04. Conceitos atribuídos às praças estudadas na pesquisa........................................122
Quadro 05. Instituições onde foram aplicados os formulários................................................131
Quadro 06. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.........................................133
Quadro 07. Quadro Síntese dos Estudos de Referência..........................................................158
Quadro 08. Quadro Sínteses das Entrevistas e Formulários....................................................159
Quadro 09. Programa de Necessidades Preliminar.................................................................160
Quadro 10. Espécies sugeridas para o canteiro oeste, próximo a fiação elétrica..................185
Quadro 11. Espécies sugeridas para o canteiro leste..............................................................186
Quadro 12: Espécies de grupo 03...........................................................................................215
Quadro 13: Espécie de grupo 01.............................................................................................216
Quadro 14: Espécie de grupo 02.............................................................................................217
Quadro 15: Pré-dimensionamento do programa de necessidades...........................................219
GRÁFICOS
Gráfico 01. Percentual de atividades realizadas nas praças por categoria.............................123
Gráfico 02. Faixa etária dos usuários observados nas praças.................................................124
Gráfico 03. Moradores temporários: o que fazem na capital?.................................................126
Gráfico 04. Moradores temporários: quanto tempo passam fora?...........................................126
Gráfico 05. Moradores temporários: onde buscam lazer e recreação?....................................127
Gráfico 06. Opinião dos ceará-mirinenses sobre usas praças..................................................128
Gráfico 07. Aspectos que mais tornam os espaços verdes atrativos.......................................128
Gráfico 08. Aspectos que mais são ausentes nas praças de Ceará-Mirim...............................128
Gráfico 09. Utilização do Boca da Mata por parte das entidades municipais.........................132
Gráfico 10. Espectro de Frequência na realização de eventos externos..................................132
Gráfico 11. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.........................................133
Gráfico 12. Grau de satisfação das instituições entrevistadas com espaços da cidade............135
Gráfico 13: Preferência por equipamentos das instituições entrevistadas...............................138
SIGLAS
ACP – Ação Pública Civil

APP – Área de Preservação Permanente

BBM – Bosque Boca da Mata

CAVCM – Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim

CFB – Código Florestal Brasileiro

FES – Floresta Estacional Semidecidual

IBF – Instituto Brasileiro de Florestas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente

MMA – Ministério do Meio Ambiente

OMS – Organização Mundial de Saúde

PBM – Parque Boca da Mata

PDCM – Plano Diretor de Ceará-Mirim

PDD – Parque das Dunas

RL – Reserva Legal

RMN – Região Metropolitana de Natal

SNUC – Sistema de Unidades de Conservação da Natureza

UC – Unidade de Conservação

ZPA – Zona de Proteção Ambiental


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................20

ETAPA 01: CONHECENDO O TEMA

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................28

2.1 ESPAÇOS PÚBLICOS E LIVRES..........................................................................28

2.2 OS PARQUES URBANOS.....................................................................................34

2.2.1 Breve Histórico........................................................................................34

2.2.2 Conceitos, Tipos e Classificações............................................................46

2.2.3 Os Projetos de Parque: Forma, Função e Legislação..........................52

2.3 PAISAGEM CULTURAL E PAISAGEM URBANA.............................................60

2.4 QUALIDADE DE VIDA.........................................................................................69

ETAPA 02: CONHECER O UNIVERSO

3. CEARÁ-MIRIM DOS VERDES CANAVIAIS................................................................77

3.1 BREVE HISTÓRICO..............................................................................................78

3.2 ATUAL CONTEXTO URBANO DO MUNICÍPIO...............................................88

4. O PARQUE BOCA DA MATA........................................................................................100

4.1 PROCESSO DE FORMAÇÃO.............................................................................101

4.2 ATUAL CONTEXTO DO PARQUE...................................................................105

ETAPA 03: CONHECENDO AS PESSOAS

5. O ESPAÇO VERDE E O CEARÁ-MIRINENSE..........................................................119

5.1 PRAÇAS, PRA QUÊ TE QUERO?......................................................................119

5.2 UM PARQUE PARA GRANDES PÚBLICOS.....................................................130

6. ESTUDOS DE REFERÊNCIA........................................................................................139

6.1 ESTUDO DIRETO: PARQUE DAS DUNAS – NATAL (RN)...........................140


6.2 ESTUDO INDIRETO: PARQUE DO COCÓ – FORTALEZA (CE)....................147

6.3 ESTUDO INDIRETO: PARQUE VILLA-LOBOS – SÃO PAULO (SP).............153

6.4 QUADROS SÍNTESE...........................................................................................158

7. O PROGRMA DE NECESSIDADES.............................................................................159

ETAPA 04: CONCEBENDO O PROJETO

8. CONCEITO.......................................................................................................................162

9. BOSQUE BOCA DA MATA: PRIMEIROS ESTUDOS..............................................163

9.1 O RECORTE E O ENTORNO..............................................................................164

9.2 ZONEAMENTOS, PASSEIOS E PAISAGENS...................................................173

10. BOSQUE BOCA DA MATA: A PROPOSTA...............................................................181

10.1 REESTRUTURAÇÃO DA PISTA DE COOPER...............................................183

10.2 URBANIZAÇÃO DA LUÍS L. VARELA...........................................................190

10.3 INTEGRAÇÃO COM O AERÓDROMO DE CEARÁ-MIRIM........................194

10.4 O BOSQUE BOCA DA MATA..........................................................................196

10.4.1 Setor Cultura e Eventos......................................................................198

10.4.2 Setor de Pesquisa.................................................................................203

10.4.3 Setor de Recreação e Esporte.............................................................204

10.4.4 Setor Educacional...............................................................................207

10.4.5 Diretrizes paisagísticas.......................................................................211

10.4.6 Pré-dimensionamento dos Equipamentos.........................................219

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................221

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................223

APÊNDICES
20

1. INTRODUÇÃO

Os projetos de espaços verdes, sejam eles praças, jardins, canteiros ou parques, tem ganhado
cada vez mais espaço dentro do planejamento urbano. Isso porque, apesar das facilidades que
oferece às nossas rotinas apressadas, a vida na cidade também pode trazer impactos negativos
ao ser humano, que podem atingi-lo de maneira física e psicológica. Neste contexto, a inserção
de espaços verdes no meio urbano vem para criar cidades mais naturais e menos agressivas, que
disponham de locais onde o homem pode descansar da poluição, do barulho, do estresse e da
correria tão inerentes aos centros urbanos.

Estes projetos estão, muitas vezes, associados a áreas de preservação, em forma de parques
urbanos. No Brasil, essas áreas podem ser encontradas de diversas formas: Áreas de
Preservação Ambiental (APP), Reservas Legais (RL), Unidades de Conservação (UC), dentre
outras definidas pelo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/12) e pela Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (Lei 9.985/00). A adequada
integração entre essas áreas e o tecido urbano, além de assegurar o bem-estar dos ecossistemas
brasileiros e preservar nossas riquezas ambientais, também pode colaborar com um
desenvolvimento mais saudável e sustentável para as cidades.

Sabe-se, no entanto, que apesar da consciência ambiental que já permeia os novos projetos
urbanos, nem sempre as cidades tem êxito em se desenvolver de forma equilibrada com seu
entorno natural. Este foi o caso de Ceará-Mirim – cidade localizada no Rio Grande do Norte
(RN) - cujo histórico de desenvolvimento apresentou, até o final do século XX, uma relação
bastante conflituosa com a questão ambiental. Ligada à atividade agrícola desde as primeiras
ocupações, a cidade é marcada por uma paisagem campestre (moldada por interesses políticos
e inconsequente exploração econômica), onde grandes latifúndios tomam conta do que um dia
fora, segundo levantamentos realizados pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente (IDEMA), bioma de Mata Atlântica.

Apesar do avançado estado de degradação do bioma, cerca de 139 hectares de mata ainda
resistem às margens da BR-406. No intuito de preservar este fragmentado vegetal e buscar sua
recuperação, foi instituído o município o Parque Boca Mata (PBM). Criado pelo Decreto
Municipal 2.132/2008 e expandido pela Lei Municipal 1.884/2019, o PBM juntou-se ao quadro
de UC do Rio Grande do Norte. O estado possui hoje um total de 238mil hectares em área em
unidades de conservação, dos quais 0,8% estão em áreas de Mata Atlântica (IDEMA, 2017).
21

As terras que hoje compõem o parque pertenciam à Companhia Açucareira Vale do Ceará-
Mirim (CACVM) e eram canaviais ativos até o começo dos anos 2000, quando foram
desapropriadas a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta, resultante de um acordo entre
a Promotoria de Justiça da cidade e a usina São Francisco. As porções mais degradadas destas
terras encontram-se no entorno imediato do tecido urbano enquanto os fragmentos florestais
encontram-se mais a sul da cidade, ao longo da BR-406, onde houve menos interferência dos
canaviais.

Atualmente, o parque não possui uma área visitável destinada ao público pois carece da
infraestrutura e de equipamentos adequados. No entanto, algumas atividades mais relacionadas
à pesquisa e à educação ainda são realizadas próximas às áreas florestais, de forma mais
esporádica (Figura 01 e 02).

Figura 01. Aula de campo realizada pelos alunos da E. M. Virgílio Luiz.

Fonte: Acervo do ambientalista Eriberto Moreira (2016), também disponível na


página Parque Boca da Mata (Facebook);

A ausência desta infraestrutura acaba por não explorar o completo potencial do parque para
atividades de educação, cultura, pesquisa e lazer e, por isso, a implementação de uma área
visitável tem sido pautada pela gestão pública e pela equipe de pesquisadores ligados ao parque
desde sua fundação, em 2008. Apenas em 2019, no entanto, a gestão municipal estabeleceu, por
22

decreto, a existência dessa área. A Lei Municipal 1.884/19 prevê o acesso do público ao parque,
através da implantação de equipamentos e programas que propiciem o contato com a natureza
e que ofereçam suporte às práticas de cultura, lazer e educação do município.

Diante deste cenário, vê-se que um projeto para um local de uso público no parque não é
apenas necessário, mas também desejável, para que o parque possa exercer seu papel na
melhora da qualidade de vida da população, bem como no estudo e recuperação da natureza
que abriga.

Dessa forma, este trabalho vem com o objetivo geral de apresentar uma proposta de área
visitável para o Parque Boca da Mata, que respeite seu entorno e contemple as necessidades
da cidade e dos moradores. Para isso, buscou-se os seguintes objetivos específicos:

[1] Atentar para as alternativas


de projeto possíveis e apropriadas ao COMO?
caso estudado, considerando os Através de estudos teóricos
diferentes tipos de parque e seus sobre o tema e da realização de estudos
impactos; de referência diretos e indiretos a
projetos do gênero.

[2] Considerar os contextos


urbano, socioeconômico e natural do COMO?
Parque Boca da Mata a fim de traçar
Através de pesquisa com a
os melhores caminhos de
população da cidade e de levantamento
intervenção.
documental sobre o local e as
legislações sobre ele incidentes.

[3] Estabelecer diretrizes para a


implantação da área visitável COMO?
baseando-as nas informações Estabelecendo o programa de
levantadas ao longo do trabalho. necessidades, evidenciando o processo
projetual e apresentando as
justificativas das decisões tomadas.
23

Figura 02 Trilha do Cientista.

Fonte: Acervo do autor (2020).


24

É importante salientar que a cidade de Ceará-Mirim tem apresentado um crescimento


considerável desde os anos 2000, quando sua malha urbana começou a ser fortemente
expandida por conjuntos habitacionais e os processos de conurbação aproximaram o núcleo
urbano dos pequenos distritos rurais dos arredores. O crescimento espacial, e consequente
aumento populacional, trouxeram a necessidade de novos espaços urbanos destinados ao
exercício de cultura e lazer. No entanto, a inexistência de estudos sobre estes espaços dentro da
cidade tem acarretado certa ineficiência em seus projetos. Dessa forma, esse trabalho vem,
primordialmente, como um referencial teórico e prático para embasar as decisões tomadas na
proposta da área visitável do Parque Boca da Mata.

Além de proporcionar a reunião de referenciais teóricos sobre o tema de parques


urbanos e aplicá-los num caso concreto, servindo de base para futuros estudos ou pesquisas,
aqui são também agrupados e oferecidos com mais fácil acesso todos os documentos e
informações alcançadas e produzidas sobre o parque estudado, cujos dados encontram-se
fragmentados e são escassas as bibliografias que os reúnem.

Numa perspectiva mais direcionada ao universo de estudo, este trabalho permite a


compreensão de algumas dinâmicas urbanas da cidade, que são de extrema importância para
entender a proposta deste projeto e os fenômenos que as motivaram. A necessidade do
entendimento dessas questões não se resume, no entanto, a este projeto e podem ser utilizadas
para fundamentar decisões de outros projetos da cidade que compartilhem da mesma finalidade
ou dos mesmos equipamentos.

Este trabalho também contribuirá das mais diversas formas com o projeto físico do
parque urbano para o Parque Boca da Mata, que, por ser passível de realização, pode embasar-
se nas propostas aqui apresentadas, sejam elas conceituais, arquitetônicas, de programa, de
localidade, dentre outros aspectos. As decisões tomadas são desdobramentos de estudos dentro
do tema aplicados à realidade urbana de Ceará-Mirim e não apenas de arbitrariedades ou
convenções, de forma a evidenciar a importância de se mesclar conhecimentos teóricos e
práticos na hora de se pensar um projeto, principalmente aqueles que, por possuírem um caráter
mais urbano, devem entender e atender às necessidades de uma coletividade.

O exercício acadêmico que é proporcionado por um projeto deste porte e tipo também
é muito proveitoso para o estudante e futuro profissional de Arquitetura e Urbanismo.
Contemplando as três áreas de formação deste curso na UFRN - arquitetura, paisagismo e
urbanismo - o trabalho permite estudar e praticar cada uma delas: na primeira tem-se o
25

exercício do processo projetual até a produção gráfica; na segunda, o exercício de pesquisa e


compreensão das particularidades urbanas da cidade e de seus moradores; por fim, na terceira,
o estudo e contato com a elaboração de paisagens, um elemento indispensável e de grande
importância em projetos de parques urbanos.

Para sistematizar o conteúdo deste trabalho e permitir a melhor compreensão de seu


desenvolvimento, optou-se por dividi-lo em quatro partes distintas, cada uma focada em uma
etapa diferente de estudo ou de produção de conteúdo: Foram elas:

ETAPA 01: CONHECENDO O TEMA

Esta etapa possui caráter teórico e busca definir alguns conceitos pertinentes ao tema
principal deste trabalho: os parques urbanos. Para isso foram reunidos alguns autores para falar
sobre as definições, tipos e classificações destes espaços. Será abordado ainda um pouco sobre
sua história (origem e evolução) e sobre as legislações brasileiras que versam sobre este tema.
A etapa ainda conta com dois capítulos menores, também teóricos, sobre temas
complementares: paisagem urbana e qualidade de vida.

ETAPA 02: CONHECENDO O UNIVERSO


A segunda etapa do trabalho focou no universo de estudo: o Parque Boca da Mata, em
Ceará-Mirim. Será apresentado, inicialmente, um capítulo sobre a história da cidade com o
intuito de fazer compreender os motivos pelos quais a exploração ambiental está tão ligada a
construção e à paisagem do local. O trabalho seguirá tratando do contexto urbano atual do
município e, por fim, dedicará um capítulo ao Parque Boca da Mata: seu processo de formação,
suas condições atuais e legislações pertinentes.

ETAPA 03: CONHECENDO AS PESSOAS

Etapa ligada ao levantamento de informações sobre os usuários a que o projeto se destina.


Inicialmente será apresentado uma síntese do projeto de pesquisa “Praças, pra quê te quero?”,
realizado pelo autor em 2019.1 para fins de fundamentação deste trabalho. No capítulo seguinte,
será então apresentada a continuação do processo de consulta populacional, dessa vez com as
instituições do município e, por fim, apresentados alguns estudos de referência realizados para
aproximar o contato entre o autor e projetos de parques urbanos, identificando seus principais
aspectos, problemas e potencialidades.
26

ETAPA 04: CONCEBENDO O PROJETO

Consiste na parte final do trabalho, com caráter mais propositivo. Nesta etapa será
apresentado o conceito do projeto, seu recorte espacial e os estudos realizados sobre seu
entorno. Há ainda de se expor o processo projetual da proposta e, por fim, o resultado final da
área visitável para o PBM, que será também apresentada nas seis pranchas em apêndice a este
trabalho.
27

Para trabalhar com os parques urbanos é necessário


entendê-los. Sendo assim, a primeira parte deste trabalho
apresenta sua fundamentação teórica, que foi construída através
da coleta e leitura de material bibliográfico, físico e virtual.
Aqui se reúne a visão de alguns autores sobre o tema, além
de esclarecer as definições de espaço público, paisagem urbana
e qualidade de vida – temas complementares que foram julgados
pertinentes a este trabalho.
Quanto aos parques urbanos, também será apresentado
um pouco sobre sua história, seus tipos, seus tamanhos, suas
classificações e seu contexto legislativo no Brasil.
28

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo trata da fundamentação teórica deste trabalho e está subdividido em


quatro subcapítulos, que abordam os assuntos: espaço público, parques urbanos, paisagem
urbana e qualidade de vida.

2.1 ESPAÇOS PÚBLICOS E LIVRES

O tecido urbano é um sistema orgânico, complexo e em constante desenvolvimento.


Trata-se de um sistema composto por diferentes elementos físicos (prédios, unidades
naturais, mobiliário urbano) e espaciais (lotes, ruas, quadras) que, apesar de percebidos pelo
que são no todo na maioria das vezes e pela maioria das pessoas, é possível (e por vezes
necessário) decompor para análises e discussões mais precisas sobre seus componentes; no
caso em questão, os espaços públicos, os espaços livres e como estes estão relacionados com
os parques urbanos.

O conceito de espaço público como espaço físico existe desde a antiguidade e


atravessou os séculos adaptando-se às necessidades e anseios oriundos do desenvolvimento
econômico, tecnológico e social das cidades. Possuidores dos mais diversos tipos, tamanhos
e papeis, sempre foram espaços de grandes aglomerações humanas para celebração de festas,
debates políticos ou mesmo lazer (RITCHER, 2013). O significado destes espaços também
apresentou muitas mudanças, podendo ser diferentes para sociedades de épocas distintas ou
até mesmo para pessoas de uma mesma época e sociedade. Na Grécia, por exemplo, os
espaços públicos possuíam significado de liberdade e igualdade, e eram destinado àqueles
que eram tidos como “cidadãos”, grande importância nas discussões e decisões políticas que
afetavam toda a coletividade; para os que não eram assim considerados, estes locais, embora
fisicamente acessíveis, não lhes eram estendidos em toda sua plenitude funcional
(ALBUQUERQUE, 2006). Para a burguesia europeia do século XVII e XVIII, era um
espaço de lazer, comunicação e exibicionismo, enquanto para o pobre, consistia num espaço
de exclusão, graças às barreiras sociais que, mesmo invisíveis, eram fortes e existentes.
(MATOS E SILVA, 2009)

No entanto, foi a partir da revolução industrial que os espaços livres públicos, do


jeito que conhecemos hoje, ganham espaço na produção do espaço urbano. Numa época
onde as cidades explodiam em crescimento e tornavam-se cada vez mais conturbadas e
degradadas, a questão da salubridade urbana e da necessidade de proporcionar as populações
29

locais de lazer e convivência dá aos espaços públicos um caráter mais social e os espaços
livres, nas formas de praças, parques, jardins e outras áreas verdes, ganham destaque.

O desafio de tecer comentários sobre este assunto já se inicia na conceituação daquilo


que chamamos de “espaços livres” e de “áreas verdes”. Isso porque, na infinidade de
discussões que existem sobre o verde no meio urbano, a abrangência destes termos e a forma
como são empregados costuma negligenciar alguns aspectos que caracterizam as verdadeiras
áreas verdes e pode, erroneamente, generalizar uma série de espaços urbanos que são
diferentes entre si (e que precisam ser tratados e discutidos de forma diferente), seja em
tipologia, em usos ou em funções, como as praças, os jardins, os canteiros das avenidas, etc
(ANGELIS&LOBODA, 2005).
Figura 03. Setores urbanos segundo
Para Guzzo (1999), a constante
Cavalheiro &Del Picchia (1992);
confusão nas denominações utilizadas para
estes espaços tem suscitado problemas no
que se refere à disseminação desse
conhecimento em nível de pesquisa, ensino e
mesmo gestão pública dessas áreas. Dito isto,
a fim de evitar o uso de termos inadequados Espaços
Livres
nas discussões que serão realizadas ao longo
deste trabalho e também para esclarecer ao
leitor quais conceitos e autores serão
adotados para embasar estas discussões, fica
clara a importância de evidenciar e
sistematizar as definições aqui utilizadas.
Espaços
Construídos
Para iniciar a discussão sobre parques
urbanos é preciso, primeiramente, localizá-
los dentro do tecido urbano. De uma forma
bastante simples e generalista, mas ainda
válida e suficiente para introduzir o tema,
podemos dizer que a cidade, num ponto de
Espaços de
vista físico-espacial, pode ser dividida em Integração

três grandes setores (Figura 03).


Fonte. Produzido pelo autor (2020).
30

São eles: os espaços de construção (aqueles que abrigam a arquitetura erguida pelo
homem - hospitais, casas, fábricas, comércios e afins), os espaços de integração urbana (rede
rodo-ferroviária – ruas, estradas, trilhos, pontes) e, por fim, os espaços livres (praças,
parques, terrenos vazios, matas, corpos de águas, etc) (CAVALHEIRO&DEL PICCHIA,
1992). É nesta última categoria - os espaços livres - que continuaremos a nos aprofundar,
afinal de contas, este é um termo extremamente amplo e faz-se necessário entender como as
áreas verdes se enquadram dentro deste conceito.
A primeira e mais primordial classificação que devemos considerar quando tratamos
de espaços livres é se ele é público ou privado quanto à seu acesso e gestão, isso porque, a
partir desta classificação, veremos que os espaços livres ganham conotações completamente
diferentes diante da cidade e da população (LIMA et al, 1994. DEGREAS & RAMOS,
2015).
Os espaços livres de caráter privado são propriedade de uma pessoa ou um grupo,
logo o acesso é restrito e o espaço, mesmo livre, comumente não possui função social. Nesta
categoria podemos citar os quintais e jardins residenciais, os lotes vazios para especulação
imobiliária, os estacionamentos de empreendimentos e as terras particulares mal ou não
aproveitadas das zonas rurais. Para Albuquerque (2006), o espaço livre e o espaço público
são geralmente confundidos, no entanto, a característica primordial do espaço que se pode
chamar de público está na sua função social, que age em prol das relações, manifestações e
práticas coletivas, além das características morfológicas determinadas pelo tecido urbano. O
autor ressalta que “esses espaços devem ser acessíveis a toda população, não havendo
barreira impedindo a circulação e também ser um espaço de materialização das relações
sociais através das práticas espaciais” (ALBUQUERQUE, 2006, P.54)
É importante ressaltar também que nem todo espaço público será, necessariamente,
livre. Na cidade existem espaços construídos que podem ser acessados por todos e utilizados
por todos, cujo principal papel é servir à população, como os edifícios pertencentes à gestão
pública (prefeituras, secretárias, mercados), por exemplo (Figuras 04 e 05).
No entanto, quando falamos de espaços livres e de caráter público, falamos então de
espaços abertos destinados à cidade (geralmente sob a responsabilidade do poder público),
como praças, jardins, átrios e parques, onde a prática do convívio, da coletividade e da
cidadania é encorajada. São espaços de liberdade. Segundo Degreas & Ramos (2015), os
espaços livres são aqueles que privados de qualquer edificação (independentemente de sua
31

forma ou tamanho) e aquilo que conhecemos como “sistema de espaços livres” é fruto da
relação dos espaços livres públicos e privados.

Figuras 04 e 05: Mercado Público de Ceará-Mirim (acima) e Praça Onofre Lopes (abaixo),
localizada em frente ao primeiro. Ambos são exemplares de espaços públicos, porém apenas a
praça trata-se de um espaço livre.

Fonte: Google Street View (2020).

De acordo com o Código Civil (Lei 10.406/2002), bem público (e aqui se incluem os
espaços livres dos quais falamos) são bens de domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno, ou seja: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e
suas respectivas autarquias, não podendo ser negociados ou cedidos à entidades privadas,
devendo servir a população de forma boa, igualitária e justa.
Segundo Macedo&Sakata (2010), os espaços livres (quando entregues para uso e
ocupação do coletivo) são de extrema importância para a cidade como um todo pelos
32

benefícios que traz, como a circulação de pedestres e veículos, socialização urbana,


propiciação de lazer, sensação de identidade e pertencimento, além da contribuição que traz
à paisagem urbana.
Dando início a discussão sobre estes espaços livres e sua relação com os espaços verdes,
Llardent (1982, p.151 APUD LOBODA&ANGELIS, 2005) os define da seguinte forma:

• Sistema de Espaços Livres: conjunto de espaços urbanos ao ar


livre destinados ao pedestre para o descanso, o passeio, a prática
esportiva e, em geral, o recreio e entretenimento em sua hora de
ócio.
• Espaço Livre: quaisquer das distintas áreas verdes que formam o
sistema de espaços livres.

• Zonas Verdes, Espaços Verdes, Áreas Verdes, Equipamento


Verde: qualquer espaço livre no qual predominam as áreas
plantadas de vegetação, correspondendo, em geral, o que se
conhece como parques, jardins ou praças.

(LLARDENT, 1982, P.151)

A definição de áreas verdes trazida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA)


(2016) expande a perspectiva de Llardent ao ressaltar a importância que essa vegetação deve
possuir para a qualidade de vida da cidade. O MMA as define como:

Conjunto de áreas interurbanas que apresentam cobertura vegetal,


arbórea (nativa e introduzida), arbustiva ou rasteira (gramíneas) e que
contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o
equilíbrio ambiental nas cidades. Essas áreas verdes estão presentes
numa enorme variedade de situações: em áreas públicas; em áreas de
preservação permanente (APP); nos canteiros centrais; nas praças,
parques, florestas e unidades de conservação (UC) urbanas; nos jardins
institucionais; e nos terrenos públicos não edificados

(Portal do Ministério do Meio Ambiente. Fonte:


www.mma.gov.br. Acesso em: 14. Mar. 2015).

Lima (1994), por sua vez, é mais criteriosa que Llardent e que o MMA em sua
classificação dos espaços livres e áreas verdes, apresentando uma concepção mais
compatível com o que é admitido neste trabalho. A autora classifica estes espaços da seguinte
maneira:
33

• Espaço Livre: trata-se do conceito mais abrangente,


integrando os demais [espaços urbanos] e contrapondo-se ao
espaço construído em áreas urbanas.

• Área Verde: onde há o predomínio de vegetação arbórea,


englobando as praças, os jardins públicos e os parques urbanos
[...].
• Arborização Urbana: diz respeito aos elementos vegetais de
porte arbóreo dentro da cidade. Nesse enfoque, as árvores
plantadas em calçadas fazer parte da arborização urbana,
porém não integram o sistema de áreas verdes.

(LIMA, 1994, p. 545)

A autora, além de reconhecer o fato de que nem todo o espaço urbano livre é uma
área verde e ressaltar a importância da presença de vegetação arbórea para esta classificação,
ainda traz a questão da permeabilidade do solo nessas áreas ao sustentar que espaços
arborizados no meio de um mar de impermeabilização asfáltica são melhor classificados
como áreas de arborização urbana do que como espaços verdes (LIMA, 1994). Logo, sob a
perspectiva da autora, áreas verdes não são caracterizadas pela presença de qualquer tipo de
vegetação em qualquer lugar da cidade. São as árvores de grande porte e o solo permeável
os dois principais fatores que caracterizam uma área verde dentro do sistema de espaços
livres.
Os parques urbanos, por sempre contarem com esses dois elementos devido suas
grandes proporções, podem ser considerados como áreas verdes “absolutas”, isto é, sempre
categorizados desta forma pelos autores de forma unânime, ao contrário de outros espaços
públicos de menor porte (como praças e jardins), que podem vir a ser áreas verdes, mas nem
sempre serão assim classificados. Contudo, não poder ser considerado uma área verde não
invalida o potencial de um espaço livre tornar-se um espaço de liberdade, uma vez que ainda
podem propiciar o exercício do convívio, da cidadania e do lazer na cidade (Figura 06).
34

Figuras 06: O espaço livre como local de encontro, convívio e liberdade.

Fonte: Archdaily.com (acesso em outubro de 2020)

2.2 OS PARQUES URBANOS

Neste subcapítulo será abordado o tema principal deste trabalho: os parques urbanos.
Será realizado, inicialmente, um panorama sobre a história desses espaços e depois
apresentados seus conceitos, tipos e classificações. Ao final,

2.2.1 Breve Histórico

“O uso do verde urbano [...] constitui-se em um dos


espelhos do modo de viver dos povos que os criaram nas
diferentes épocas e culturas.”
(Angelis&Loboda, 2005, p.126)

Apesar de todo o desenvolvimento e tecnologia que alcançou ao longo das eras, o


homem nunca conseguiu abandonar de todo o seu contato com a natureza. Como um instinto
presente na sua essência animal, estar rodeado da arquitetura natural sempre se mostrou
desejável aos olhos do ser humano, não importando seu tempo ou sua cultura.
35

A sociedade humana sempre buscou a união da arquitetura artificial com a


arquitetura da natureza na composição de suas cidades. Os vestígios que comprovam a
elaboração, por vezes bem meticulosa, dos espaços verdes e da construção de paisagens
naturais nas antigas civilizações são diversos. Segundo Angelis&Loboda (2005), as idéias
do que hoje seriam os espaços verdes começaram com a prática da jardinocultura que
“surgiram pela primeira vez, e independentemente, em dois lugares: Egito e China.”
A relação que estes dois povos exerciam com a natureza era distinta. Os chineses
(que influenciaram fortemente os japoneses e outras sociedades orientais na forma de
elaborar seus jardins) viam os elementos da natureza de forma mais mística e simbólica; para
eles, a natureza era dotada de vida e espiritualidade, ganhando destaque na composição dos
seus jardins, que além do clássico verde também não dispensava a presença de água, pedras,
areia e outros elementos (Figura 07). O jardim oriental, considerado pai dos jardins
naturalistas, prezava pela variedade de formas e elementos naturais, além de buscar
harmonia destes com os elementos arquitetônicos.

Figura 07: O jardim chinês: a natureza como cenário místico da vida humana.

Fonte: jardimcor.com (acesso em outubro de 2020)

Os egípcios, por sua vez, encaravam a natureza como uma auxiliar à vida humana.
Seus jardins não possuíam o apelo estético como papel principal. Eram jardins de suporte à
vida coletiva, que serviam para plantio, sombreamento e irrigação, produzidos em menor
escala e sempre postos na posição de submissão aos elementos arquitetônicos. Esse modo
de pensar os jardins foi a principal influência para os modelos de jardins ocidentais até o fim
36

do século XV, passando pela antigas Grécia, Roma e Pérsia e se estendo até a Europa
medieval, quando os jardins praticamente, sendo elaborados quase sempre em claustros e
destinados ao cultivo (Figura 08).

Figura 08: O jardim egípcio: a natureza como complemento da vida humana.

Fonte: jardimcor.com (acesso em outubro de 2020)

É no fim da Idade Média e sob a luz do Renascentismo que os ideais de jardins


começam a se transformar. Para Albuquerque (2006), a história dos parques urbanos se
confunde com a história dos jardins renascentistas, ou melhor, os jardins foram a inspiração
para a criação do parque na Europa.

Nesta época, grande parte dos países europeus passavam por um período de revisão
e reinvenção de alguns conceitos da cultura, da filosofia, da arte e da ciência. A forma de
produzir jardins foi uma pauta de grande destaque. Para Ferreira (2016), os novos projetos
de jardins que apareceram no final do século XVI estavam cortando sua ligação com os
preceitos greco-romanos (inclusive por causa das influências orientais que já existiam) e
ingressando numa tendência de valorização e abraço à natureza. O autor afirma que:

“[...]os jardins e os parques públicos são os resultados da


transformação do imaginário da natureza de hostil para um plano de
espírito-culto religioso. Em especial, os parques passam a ser fragmentos
da natureza no meio urbano. Essa é uma visão romântica, que se
estabeleceu a partir de uma mudança da mentalidade ocidental sobre a
importância da conservação, que vê nos grandes espaços naturais o alívio
dos problemas da cidade.”
(FERREIRA, 2016, p.21)
37

No que tange aos estilos estéticos dos jardins renascentistas, três países ganham
destaque: a Itália, a França e a Inglaterra.

Os jardins italianos foram marcados por sua organização racional, retilínea e pelo seu
paisagismo relativamente simples, contando com a presença de árvores, basicamente,
resultando numa paisagem “desenhada com régua e compasso” (Figura 09). Eram jardins
baseados em uma interpretação dos jardins da Roma e Grécia antigas, contando com muitas
fontes, estátuas e vegetações esculturais (topiaria). Esses espaços se encontravam,
majoritariamente, nas encostas ou declives, para aproveitar a vista, principalmente. Por causa
disso, a adaptação à topografia tornou-se outra característica muito forte dos jardins
italianos, o que resultava na presença de grandes escadarias, rampas e cursos de água, sempre
integrados com a arquitetura. (LOBODA, 2015; FERREIRA, 2016; ALBUQUERQUE,
2006). Eram jardins ligados ao conceito de prazer e de permanência, onde a população podia
usufruir dos benefícios naturais e tirar uma folga do calor e das turbulências urbanas.
Também possuía forte viés intelectual, sendo um local onde os estudiosos e os artistas
podiam discutir e refrescar suas mentes.

Figura 09: Jardim de Villa Lante, em Bagnaia (Ítalia).

Fonte: minilua.com (acesso em setembrro de 2020)

Os jardins franceses surgiram em meados do século XVII e, inicialmente, tinham


muita de sua inspiração no jardim medieval. Ao longo do século seguinte, absorveu fortes
influências dos jardins italianos na busca pelo enquadramento da natureza em linhas e eixos
38

geométricos (Figura 10). No entanto, o jardim francês superou seu predecessor na incansável
busca pela natureza domada e entrou para a história como um ícone nesse estilo de jardim.
Tratavam-se de espaços que apresentavam uma “rígida distribuição axial, a simetria, a
perspectiva, o uso de topiarias e a sensação de grandiosidade”, dando pouco espaço para as
curvas ou para os desníveis. (Albuquerque, 2006, p. 76)

Figura 10: Jardim do castelo de Vaux le Vicomte (França).

Fonte: esplusbeauxjardinsdefrance.com (acesso em setembro de 2020).

A inflexível busca pela perfeição foi, no entanto, o que condenou o jardim francês.
Apesar de ter vigorado e influenciado os jardins europeus até meados do século XVIII, o
estilo francês começou a perder espaço para o romantismo curvo e sinuoso que vinha dos
jardins ingleses. Caracterizado pela organicidade, o jardim inglês buscava desprender-se do
conceito de natureza dominada e reproduzir nos espaços a graciosidade e irregularidade que
era percebida na natureza, isto é, reproduzir a natureza selvagem e toda a liberdade e
aleatoriedade de sua estética em espaços projetos e destinados ao homem. O estilo do jardim
inglês é o que mais se aproxima do que percebemos hoje nos projetos de parques urbanos.
(ANGELIS&LOBODA, 2015; ALBUQUERQUE, 2006). Segundo Terra (2004):

“[...]o jardim inglês com seus elementos sinuosos, seu


romantismo, sua nova estrutura, seus componentes engraçados e loucos
cria, com árvores plantadas pelo homem, um ambiente com o aspecto de
natural. [...] Esse modelo de jardim vai ser usado na França e chega depois
ao Brasil. É um novo pensar sobre a natureza.”

(Terra, 2004, p.41 APUD Ferreira, 2016, p.22)


39

Figura 11 e 12: Parque da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo
(Brasil), planta baixa dos caminhos (à direita) e vista aérea (à esquerda).

Fonte: esalq.usp.br (acesso em setembro de 2020)

É importante ressaltar que, apesar das grandes extensões que os jardins europeus
costumavam atingir, eles não possuíam caráter público, muito menos função social. Eles
eram espaços afastados dos centros urbanos e muitas vezes inseridos em propriedades
privadas, ou, quando “públicos”, eram abertos à uma parcela bem resumida da população,
como nobres. Além disso, esses espaços verdes tinham a princípio uma função mais estética
do que qualquer outra. Neste período, essas áreas eram vistas como áreas de contemplação,
locais para ver e para ser visto, que visavam o prazer da vista e do olfato principalmente
(ANGELIS&LOBODA, 2005; BOVO, 2009).
Essa realidade só viria mudar na passagem do século XVIII para o XIX, com a
realidade da cidade industrial que era vivida pelas cidades da Europa. O desenvolvimento
tecnológico somado ao inchaço populacional das cidades devido ao êxodo rural,
mergulharam as cidades europeias num mar de poluição, degradação e insalubridade.
Consequentemente, toda sorte de doenças físicas e psicológicas estouraram no meio da
população; o tecido urbano também estava adoecido e desordenado. A ocupação
desenfreada, a mecanização do homem e a ineficiência da cidade em acomodar e atender
tanta gente originou a urgência de uma reforma na infraestrutura urbana que pudesse
contrapor a realidade industrial. Os pensamentos higienistas europeus do século XIX
também tiveram grande influência nessa reforma, defendo a criação de espaços verdes no
40

meio do tecido urbano para proporcionar mais saúde para o homem através da melhora da
qualidade do ar.
É a partir daí que os jardins existentes, antes privativos, são abertos à coletividade
para que lhe proporcionasse locais de lazer, paz, saúde e folga do estresse urbano. Os
primeiros projetos de espaços verdes destinados ao uso público também ganham destaque
no planejamento urbano como uma forma de contornar o caos que se instalava nas cidades
industriais. Pode-se dizer, dessa forma, que “a ideia do parque urbano sempre esteve ligada
à noção de higidez, à necessidade do lazer como recuperação das energias (psicológica e
física dispendidas no trabalho) e à importância do encontro social e do contato com a
natureza.” (MOHR, 2003, P.36)
Na Inglaterra do século XIX, os primeiros parques surgem a partir dos chamados
Victorian Parks ou Parques Reais (ALBUQUERQUE, 2006). Esses parques, antes
pertencentes à nobreza, são transformados em espaços públicos e abertos à população. Além
do impacto imediato que proporcionaram, estes espaços também serviram de modelo para a
concepção de novos parques urbanos por toda a Inglaterra e, mais tarde, por toda a Europa.
Os parques deste período estavam esteticamente ligados aos desenhos românticos dos jardins
ingleses e funcionalmente relacionados às demandas de lazer e recreação das cidades que,
expandindo-se aceleradamente, pediam por uma infraestrutura que abrandasse os efeitos
físicos e psicológicos causados sobre os cidadãos. Eram locais enxergados como pulmões
verdes, como oásis naturais em meio ao caos urbano.
O desenvolvimento dos parques urbanos ganha ênfase no século seguinte, Scalise
(2002) cita dois momentos de grande importância nesse processo: as reformulações urbanas
de Haussmann, em Paris, e nos parques americanos, como o Park Movement por Frederick
Law Olmsted, em Chicago e Boston. Para a autora, entender esses momentos é essencial
para a compreensão de como “as várias concepções de parque foram se modificando de
acordo com a época, influenciadas tanto por características socioeconômicas quanto
culturais das populações e em parte pela localização nos vários territórios.” (SCALISE,
2002, p.19)
Magnoli (2006), no entanto, ressalta que a reforma parisiense não teve um caráter
social marcante e atribui aos parques norte-americanos um enorme destaque devido sua
preocupação em oferecer não apenas um espaço aberto, mas também equipamentos públicos
e tratamentos físicos que tornassem este espaço mais adequado às particularidades de cada
cidade. Segundo a autora:
41

“O primeiro sistema de parques desenhado para Paris não teve


como critério fundamental utilização pela população. É em Nova York,
com o Central Park, que se implanta o maior parque público que seria
desenhado com critério, na época, julgado de necessidade da população
urbana.”
(Magnoli, 2006, p.201)

O movimento americano dos parques, ou simplesmente Park Movement, foi uma


corrente de pensamento que despontou nos Estados Unidos na transição do século XIX para
o XX, conduzido pelo arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted - um dos pioneiros a
adotar os parques nas cidades americanas. O arquiteto defendia a utilização econômica e
social dos parques urbanos; defendia que estes espaços deveriam criar oportunidades de
recreação e lazer através de equipamentos de ginástica e esporte, por exemplo. É nesta época,
inclusive, que os conceitos de preservação e conservação ambiental começam a se atrelar a
estes espaços. (SCALYSE, 2002; MELO, 2013)
O Central Park, em New York, é um exemplo modelo deste movimento e uma criação
de destaque de Olmsted, sendo até hoje uma referência quando se trata do assunto. Sua
construção foi patrocinada por fundos públicos e sua abertura oficial ocorreu em 1876; nesse
período representou um destaque em meio às melhorias públicas efetuadas. Atualmente, o
Central Park, além de um ambiente seguro ao ar livre (Figura 24), oferece uma grande
variedade de atividades saudáveis para o lazer da comunidade e turistas de todas as idades,
como zoológico, pista de patinação no gelo, teatro, beisebol, basquete; circuito para a prática
de caminhadas e corridas; espaço reservado para passeio com os cachorros; xadrez, dama,
pescaria, etc. (Melo, 2013)

Figura 13: Vista aérea do Central Park, em Nova York (EUA).

Fonte: novayork.net (acesso em setembro de 2020)


42

Para Cranz (1997 APUD ALBUQUERQUE, 2006, p.87), o movimento dos parques
americanos é dividido em quatro períodos: os jardins contemplativos, os parques de
vizinhança, os parques recreativos e o sistema de espaços livres (sendo os dois últimos os
mais influentes no contexto brasileiro).

Figura 14: Etapas do Park Movement e suas principais características.

Figura 13: Produzido pelo autor a partir de Cranz (1997).

No Brasil, apesar de espaços públicos como praças e largos datarem dos primeiros
séculos de colonização, os parques públicos aparecem na transição do século XVIII para o
XIX, quando era vivido:

“[...] um momento de estruturação do Brasil como


nação. Havia a necessidade de organizar-se, principalmente a partir
de 1808 com a chegada da família real portuguesa. As cidades
começam a estruturar-se e modernizar-se para desempenhar novas
funções administrativas.” (Ferreira, 2016, p.24)
43

Esse período de organização urbana foi marcado por “transformação e


modernização[...], na qual ocorreu reconfiguração urbana com ruas melhores distribuídas e
arborizadas, edificações nos bairros, facilidade no tráfego, melhor uso da arquitetura,
ajardinamento, calçadas elaboradas, dentre outros.” (Melo, 2013, p.43). Foi, também, muito
influenciado pelos princípios europeus acerca da importância das áreas verdes para a estética
e para a saúde das cidades. Neste ponto da história, grande parte dos países europeus já
enfrentavam os problemas urbanos decorrentes do crescimento desordenado das cidades e
por isso a filosofia dos parques urbanos já estava sendo fortemente difundida.
Conforme Macedo & Sakata (2003), na cidade do Rio de Janeiro foram criados os
três primeiros parques públicos, que preservam as características morfológicas e funcionais
que conhecemos atualmente. São eles: o Passeio Público e o Campo de Santana, estes
situados junto ao núcleo histórico e centro tradicional da cidade, e o Jardim Botânico, junto
à então distante Lagoa Rodrigo de Freitas.

Figura 15: Passeio Público (Rio de Janeiro).

Fonte: Acervo de Carlos Terra (2008).


Figura 16: Campo de Santana (Rio de Janeiro).

Fonte: oglobo.com (acesso em setembro de 2008).


44

Figura 17: Jardim Botânico (Rio de Janeiro).

Fonte: oeco.com (acesso em setembro de 2008).

As cidades brasileiras, no entanto, não enfrentavam os mesmos problemas sociais e


econômicos que estouravam na Europa, palco principal da Revolução Industrial. Por causa
disso, os primeiros projetos de parques brasileiros não estavam muito atrelados às
necessidades sociais e sim às exigências da elite emergente que queriam basear suas cidades
nos padrões da civilização europeia, principalmente nas duas principais capitais europeias:
Londres e Paris (fato que levou os primeiros parques brasileiros à seguirem os estilos inglês
ou francês de jardins). Logo, eram projetos sem muita crítica acerca de função para com a
coletividade urbana.
Apenas no século XX os projetos de parques urbanos começam a desprender-se da
influência europeia e abraçar os novos modelos de projeto e novas formas de pensar e inserir
o parque no espaço urbano, considerando e adaptando-os aos problemas e particularidades
das cidades brasileiras. Neste período, foram criados o Parque do Ibirapuera (1954), em São
Paulo, e o Parque do Flamengo (1965), no Rio de Janeiro, exemplares de grande significado
nas duas maiores cidades brasileiras.

Figura 18: Parque Ibirapuera (São Paulo).

Fonte: huffpostbrasil.com (acesso em setembro de 2008).


45

Figura 19: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro).

Fonte: huffpostbrasil.com (acesso em setembro de 2008).

De certa forma, o Brasil reproduziu em seu território toda a história dos parques
urbanos desde o século XVII em menos de dois séculos. Os parques urbanos brasileiros
tiveram sua fase de pompa e elegância, utilizando a estética renascentista na produção de
espaços destinados à elite; depois foram popularizados e abertos à coletividade e por fim,
passaram a ser projetados de acordo com cada realidade urbana seguindo as diretrizes de
saúde física, psicológica, exercício do lazer e conservação do meio ambiente.
Essas transições aceleradas devem-se, segundo Barcelos 1999 APUD Ferreira, 2016,
aos fortes e profundas transformações sociais que o país sofreu ao longo do século XX,
sobretudo após os anos 60, onde questões como a consciência ecológica e o direito à cidade
passaram a permear os novos projetos de espaços urbanos até se tornarem constitucionais
em 1988, com a nova constituição brasileira.
46

2.2.2 Conceitos, Tipos e Classificações

Além de fornecer as informações do capítulo anterior, Lima (1994) ainda traz o


conceito de parque urbano propriamente dito. Ela considera os parques urbanos como áreas
verdes com tamanho bem superior ao das praças e jardins, com funções que vão desde o
oferecimento do lazer à preservação ecológica. Sua definição é muito semelhante à de Kliass
(1993), que diz que:

“Os parques urbanos são espaços públicos com dimensões


significativas e predominância de elementos naturais, principalmente
cobertura vegetal, destinados à recreação.”
(KLIASS, 1993)

Para Bovo (2009), os parques urbanos se caracterizam como “áreas verdes muito
grandes, que podem estar próximas ou afastadas dos centros urbanos, muitas vezes com
funções específicas como, parques temáticos - por exemplo, hortos florestais, jardins
botânicos e áreas de preservação ambiental.” (BOVO, 2009, p48.)
Macedo e Sakata (2010) trazem outra definição para parque urbano, que apesar de
concordante com as já citadas, traz uma outra qualidade destes espaços: a independência
física e morfológica que possuem frente ao tecido urbano. Para os autores os parques são:

Todo espaço de uso público destinado à recreação de massas,


qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de
conservação e cuja estrutura morfológica é autossuficiente, isto é, não
é diretamente influenciada em sua configuração por nenhuma estrutura
construída no entorno. (MACEDO, SAKATA 2010, p. 14)

Galender (1992 APUD Melo, 2017), em sua definição de parque urbano, também
ressalta a independência urbana que esses espaços devem possuir para serem considerados
como parque. Segundo o autor:

“[...] os parques são espaços livres com função de lazer, com


independência espacial em relação à malha urbana, que envolvem
mais o indivíduo, enquanto percepção espacial global e com
predomínio de elementos naturais em sua composição. (GALENDER,
1992)

Ferreira (2019), por sua vez, elenca um outro componente essencial na composição
e na definição de parques urbanos: a vegetação arbórea. Para o autor, independente de
47

qualquer se seja sua função, tamanho e morfologia, os parques urbanos devem incluir “a
obrigatoriedade da presença de vegetação arbórea, pois a massa vegetal e os seus efeitos
positivos no ambiente urbano é que fazem o diferencial do parque para os outros tipos de
áreas verdes, como as praças e os jardins.”
Além da independência morfológica e da presença de arborização, é possível atentar
para um fator determinante na classificação de um parque urbano, presente na definição de
vários autores citados, que é seu tamanho. Ao contrário de outras áreas verdes como praças
e jardins, que podem muito bem ser implementadas em lotes vazios, sobras de quadras ou
encontros de vias, os parques precisam possuir um tamanho significativo.
Apesar de não haver consenso técnico ou uma convenção classificativa em relação
ao tamanho dos parques, Kliass (1993) apresenta a seguinte divisão, considerando os parques
que possuem o lazer como uma de suas finalidades:

• Recreação de Vizinhança: pequenas áreas que variam entre


12.000 a 28.000 m2, de fácil acesso, localizadas o mais
próximo possível da população a que devem servir. São
destinadas à recreação diária de crianças até 10 anos e incluem
em sua estrutura área de estar para adultos. Localizam-se
geralmente próximas a escolas de primeiro grau; seu raio de
atendimento não deve ultrapassar os 500 m, sem cruzamento
com vias de tráfego intenso. Recreação ativa (0 a 10 anos) e
passiva (adultos).
• Recreação de Bairro: áreas médias entre 48.000 e 80.000 m²
que proporcionam recreação a uma faixa etária maior, entre 11
e 24 anos. Também possuem área de estar para adultos e
proporcionam atendimento diário num raio máximo de 1 km.
Devem estar sempre localizadas nas proximidades de um
parque de vizinhança, em geral nos arredores de escolas
secundárias. Recreação ativa (11 a 24 anos) e passiva
(adultos).
• Setoriais e Metropolitanos: Grandes áreas equipadas para
recreação (ativa e passiva) de toda a população municipal ou
metropolitana. Destinam-se ao uso em finais de semana e em
período de férias. Nestes parques de áreas superiores a
200.000 m² há predominância de cobertura vegetal. O raio de
atendimento do parque setorial é de 5 km.
(KLIASS, 1993)

Assim como apresentam diferentes tamanhos ou raios de alcance, os parques


possuem na cidade diferentes funções, sendo as principais: “ecológica, estética e lazer.”
(MASCARÓ, 2002 APUD SZEREMETA&ZANNIN, 2013).
48

Além das funções citadas por Mascaró - lazer (possibilidade de convívio social e
recreação em áreas oferecidas para a população), estética (diversificação da paisagem e
embelezamento da cidade) e ecológica (oferecimento de melhorias no clima, na qualidade
do ar, do solo e do bem-estar da fauna e flora) - Vieira (2004 APUD LONDE&MENDES
2014) ainda cita duas outras contribuições intrínsecas aos parques urbanos, são elas: a função
educativa, que classifica estes espaços como locais de atividades extraclasse e
desenvolvimento humano e consciência ambiental, e a função psicológica, que atribui a estes
espaços a capacidade de oferecer melhoria na qualidade da saúde mental e física dos seus
frequentadores.
Para Scalise (2002), essas funções desempenhadas pelos parques não se submetem a
um padrão por sempre responderem a uma necessidade social; alguns estão vinculados à
proteção ambiental, apresentando um uso menos intenso enquanto outros são feitos para
atrair as massas. Os equipamentos também “variam dos que tem seu ponto alto nos culturais,
esportivos e recreativos aos que possuem como atração principal os caminhos e as áreas de
estar sob uma densa arborização. Essa diversidade é reflexo das necessidades do parque, do
pensamento e do gosto de um grupo, de uma época.” (SCALISE, 2002, pg. 18).
Ainda sobre a diversidade dos tipos e formas dos parque urbanos, Magnoli (2006)
acrescenta que os projetos de parques urbanos, desde meados do século XIX até os dias
atuais, apresentam “específicas metas sociais a atingir, [...], cada modelo corresponde a uma
intenção de contribuir para a solução de problemas decorrentes das transformações iniciadas
pelos processos de industrialização e urbanização.” (MAGNOLI, 2006, pg 204).
Ramos (1985) APUD Maymone (2009), apresenta uma classificação que subdivide
os parques urbanos em três categorias principais de acordo com sua finalidade, são elas: os
Parques de Preservação, que visam a conservação e manutenção de valores naturais que
necessitam ser perpetuados; os Parques Especiais, que são aqueles que se destinam a uma
atividade específica, como jardins botânicos ou zoológicos e, por fim, os Parques
Recreativos, que consistem em áreas verdes com toda sorte de equipamentos que visam
buscam atender as necessidades da população.
O autor traz ainda outra subdivisão, classificando o parque em quatro categorias: os
parques metropolitanos, os parques lineares, os parques ecológicos ou Uso Múltiplo e os
parques temáticos. Segundo o autor, os parques metropolitanos são aqueles que abrigam
áreas destinadas à recreação da população, podendo também abrigar áreas de conservação
49

ou unidades de uso sustentável. Estes parques, segundo Plano Diretor de Sistema de Parques
Metropolitanos (PDSPM)/Região Metropolitana (RMR), podem possuir diversas escalas:

• Parques de Vizinhança – mais diretamente ligados aos


núcleos ou conjuntos residenciais devem estar próximos
às concentrações habitacionais;
• Parques Distritais – mais voltados ao atendimento às
demandas entre bairros;
• Parques Municipais – permitem atender a uma demanda
maior por espaços de lazer e devem estar localizados em
espaços intramunicipais;
• Parques Metropolitanos – com características especiais
devem ofertar uma vasta gama de atividades recreativas,
desportivas e culturais, além de abrigar atividades
científicas de pesquisa e preservação do patrimônio
natural e construído.
• Parques Regionais – área necessária para salvaguardar
unidade de conservação da natureza. Quando localizados
no espaço metropolitano, passam à categoria anterior, ou
seja, parque regional metropolitano.

Os parques lineares são aqueles destinados a uso recreativo que se estendem ao longo
de uma linha ou eixo pré-definido. São parques que, normalmente, interligam diferentes
pontos da cidade e possibilitam ao indivíduo estar inserido na natureza nos seus caminhos
cotidianos. O autor ressalta que “além do caminhar, andar de bicicleta como forma de
recreação, esses corredores passam a interessar mais como maneira de chegar a diferentes
lugares e fazer ligações com áreas esportivas, culturais e de lazer.” (MAYMONE, 2009).
Os parques ecológicos ou de uso múltiplo são aqueles que possuem áreas de
preservação permanente (nascentes de água, fauna ou flora dignas de proteção, matas
nativas) que ocupam pelo menos 30% da área total da unidade e que apresentam, também,
ofertas diversas de uso para a população (lazer, educação, etc).
Os parques temáticos são, segundo Soja (1996 APUD MAYMONE, 2009) são
“híbridos contemporâneos que – como a maioria dos fenômenos pós-modernos – cruzam as
fronteiras que normalmente separam os até então distintos reinos da cultura, da economia,
da filosofia, da sociologia e da política [e que] equivalem-se a modelos mutantes que servem
como laboratórios civilizacionais que têm sua arquitetura limitada à simbologia e à estética,
50

possível apenas como uma experiência isolada e bem definida.” É um modelo mais moderno
de parque que não está necessariamente ligado ao verde ou aos elementos naturais.

Figura 20: Exemplo de Parque Linear.

Fonte: archdaily.com (acesso em dezembro de 2020);

Figura 21: Exemplo de Parque Temático.

Fonte: parkaholic.om(acesso em dezembro de 2020).


51

Como é possível observar, dentro do que podemos chamar de parques urbanos,


enquanto áreas verdes, há uma infinidade de definições, classificações e subdivisões. No
entanto, apesar desta multiplicidade de conceitos, um ponto é comum entre os autores: os
projetos de parques têm ganhado cada vez mais destaque ao redor do mundo, se mostrado
uma alternativa ao intenso processo de urbanização que tem transformado as cidades
contemporâneas em lugares cada vez mais artificiais e hostis. Angelis&Loboda (2005)
ressaltam que:

Em sua grande maioria, as cidades brasileiras estão


passando por um período de acentuada urbanização, fato este que
reflete negativamente na qualidade de vida de seus moradores. A
falta de planejamento, que considere os elementos naturais, é um
agravante para esta situação. Além do empobrecimento da
paisagem urbana, são inúmeros e de diferentes amplitudes os
problemas que podem ocorrer, em virtude da interdependência dos
múltiplos subsistemas que coexistem numa cidade.

(ANGELIS&LOBODA, 2005, p.130)

Visto isso, é interessante que existam diferentes tipologias de parques, em diferentes


tamanhos e com diferentes finalidades, de forma que estes possam se adequar às
particularidades de cada tecido urbano e atender os diferentes anseios dos habitantes de cada
um (Figura 20).

Figura 22: Bosques arborizados do Parque Villa-Lobos: oásis verdes em São Paulo.

Fonte: galeria de arquitetura.com.br (acesso em outubro de 2020);


52

2.2.3 Os Projetos de Parque: Forma, Função e Legislação

Os projetos de parques urbanos podem ser tão diversos quanto às próprias funções
destes espaços. Atualmente, estes projetos desprendem-se das já passadas fórmulas espaciais
e paisagísticas dos jardins dos séculos XVII e XVIII e passam a assumir novas configurações
de acordo com a finalidade do projeto e com as intenções projetuais do
arquiteto/urbanista/paisagista, que pode, inclusive, beber de uma ou mais fontes dentro das
diversas linhas paisagísticas existentes.
Macedo e Sakata (2010) discorrem, sob uma perspectiva paisagística, sobre os
projetos de parques urbanos no Brasil. Os autores afirmam que, apesar dos parques terem
sido amplamente adotados no final do século XIX como uma resposta às demandas sociais
na Europa e nos Estados Unidos, no Brasil eles surgiram em resposta à vontade das elites de
“copiarem” o padrão internacional de produção de parques urbanos. Essa cultura perdurou
por grande parte do século XX, sendo fortemente influenciada por três linguagens
paisagísticas e morfológicas: a Eclética, a Moderna e a Contemporânea.
O paisagismo eclético, que marcou presença durante o Brasil Império (séculos XVIII
XIX), refletia a busca da coroa portuguesa pelos padrões europeus de praças, parques e
jardins, adaptando-os à vegetação tropical. Tratou-se de uma corrente bastante aberta a
modismos estilísticos e a elementos decorativos nas paisagens criadas, como gazebos e
pequenos pavilhões, e pode ser dividida em duas vertentes: a clássica, mais inspirada
inspiração nos jardins franceses, e a romântica, nos jardins ingleses.
A chegada do modernismo no Brasil, por volta da década de 30, foi um divisor de
águas na forma de se pensar as paisagens. Foi um momento em que se rompeu
completamente com os padrões ecléticos dos parques e se adotaram novas formas de projetar
estes espaços, que passaram a apresentar programas de necessidades mais vastos e
complexos. O espaço livre moderno era pensado para o uso e para a permanência do usuário,
contratando com as finalidades de passeio ou passagem do ecletismo.
O paisagismo modernista também “possibilita a formação de uma identidade própria
da arquitetura paisagística nacional”, onde os novos espaços se identificam e se relacionam
com a paisagem local, através de elementos construtivos e vegetais característicos de cada
realidade.¹ Dentre os grandes nomes do paisagismo modernista está Burle Marx, tido como
o responsável pela introdução dos preceitos modernistas no âmbito do paisagismo brasileiro,
principalmente quanto ao uso da vegetação nativa. (MACEDO, 2003)

¹ A valorização de um “paisagismo nacional” na produção dos novos espaços públicos fez parte da mensagem pregada
pelo pensamento Regionalista, lançado no Nordeste e difundido ainda no começo do movimento Modernista. O
Regionalismo tinha como objetivo a valorização da cultura e da identidade brasileira.
53

O paisagismo contemporâneo (final do século XX) vem romper com algumas das
amarras modernistas sobre como pensar e produzir espaços. É uma linha paisagística mais
marcada pela liberdade e experimentação na concepção dos projetos, onde é possível
utilizar-se de preceitos modernistas mais ligados a funcionalidade e também beber do
romantismo e da estética eclética, trazendo o que há de mais interessante em cada uma.

Quadro 01: Características das linguagens Eclética, Moderna e Contemporânea.

Fonte: Produzido pelo autor a partir de Macedo&Sakata (2010).


54

Nas figuras abaixo (23 a 28) é possível observar um exemplar de cada linha
paisagística comentada acima.

Figura 23: Parque Renné Giannetti – MG Figura 24: Mapa do Parque


(1897) - Linha Eclética. Renné Giannetti.

Fonte: wikipedia.org (acesso em outubro/2020) Fonte: Dias (2017), baseado em


Macedo&Sakata (2010);

Figura 25: Parque Ibirapuera – SP (1954) - Figura 26: Mapa do Parque Ibirapuera.
Linha Moderna.

Fonte: veja.abri.com (acesso em outubro/2020) Fonte: Dias (2017), baseado em


Macedo&Sakata (2010);

Figura 27: Mapa do Jardim Botânico – PR (1991) – Figura 28: Mapa do Jardim Botânico.
Linha Contemporânea.

Fonte: melevaviajar.com (acesso em outubro/2020) Fonte: Dias (2017), baseado em


Macedo&Sakata (2010);
55

Devido suas grandes dimensões, os parques urbanos dificilmente se “originam” da


mesma forma que outros espaços livres de menor porte, como jardins e praças. Nas cidades
brasileiras, esses tipos mais comuns de espaços destinados à vida pública têm formas e
tamanhos que resultam do acaso gerado pelo desenvolvimento do tecido urbano, muitas
vezes resultantes de sobras de sistemas viários, de desmembramentos de glebas urbanas,
dentre outros. A forma como o conjunto de espaços livres é produzido é profundamente
vinculado ao mercado imobiliário, ao parcelamento dos solos e a formas de propriedade.
(Degreas & Ramos, 2015). Para Londe & Mendes (2014), esse é um dos principais motivos
para as gestões falharem tanto em prever e considerar espaços públicos de qualidade nas
cidades brasileiras: o foco no viés capitalista da produção do espaço urbano é tão forte que,
por vezes, não sobra olhar para a implantação destes espaços, e, quando sobra, acaba sendo
um olhar também voltado para o mercado.
Com os parques urbanos, no entanto, o processo é diferente. Seu tamanho e sua
complexidade costumam exigir mais cuidado no que vai desde seu projeto à sua implantação.
Seu programa, geralmente constituído por inúmeros equipamentos, pede um espaço de
grandes dimensões que o acomode, além de todo o verde necessário a um espaço público
deste tipo.
E onde encontramos, nos núcleos urbanos já consolidados, espaços grandes o suficiente
para acomodar projetos de áreas verdes que podem chegar a áreas que atingem a casa dos
hectares? Em áreas onde exista algum tipo de legislação a favor da proteção ambiental. Áreas
que se mantiveram inteiras frente à expansiva mancha urbana que constantemente desmata,
asfalta, parcela e constrói. Por isso os projetos de parques urbanos do Brasil estão
comumente associados às áreas de preservação.
Cardoso et. al. (2015) afirma que essas áreas são de valor imensurável às cidades e
ao meio ambiente que as cercam. Seus benefícios provêm justamente de sua dimensão
extensa, responsável pela melhora das qualidades ambientais (fauna, flora, solo, água, ar) e,
quando associadas a áreas de visitação pública, contribui com a vida em sociedade da
população. Essas áreas podem ser classificadas ou diferenciadas de acordo com a legislação
às quais se submetem e os objetivos de proteção e conservação que se aplicam a cada uma
delas. No Brasil os parques urbanos estão comumente associados às áreas classificadas
como Unidades de Conservação.
Uma Unidade de Conservação (UC’s) é, por definição da Lei 9.985/2000 (Lei do
SNUC), um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
56

com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual
se aplicam garantias adequadas de proteção.” Esses espaços são regulados por esta mesma
lei, de nível federal, que estabelece critérios para criação e gestão dessas unidades.
As UC’s são áreas onde se conservam parcelas integrais ou remanescentes, mas ainda
significativas, de ecossistemas valiosos à fauna e flora brasileira, além de buscarem a
utilização sustentável dos recursos naturais que protege e a valorização da relação do homem
com a natureza.
Segundo o SNUC (2000), as UC’s são divididas em dois grandes grupos: Unidades
de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável, cujos principais objetivos são
“preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com
exceção dos casos previstos nesta Lei” e “compatibilizar a conservação da natureza com o
uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”, respectivamente. (trechos retirados
dos parágrafos 1º e 2º, do inciso II, artigo 7º da lei do SNUC).
Esses grupos, por sua vez, dividem-se em diversos tipos de espaços verdes, incluindo
os parques, como é possível ver na Figura 29:

Figura 29: Subdivisão das Unidades de Conservação.


57

Fonte: Elaborado pelo autor com base na lei do SNUC (2000)


As UC’s são de grande importância para Figura 30: Exemplos de APP.
a sociedade não apenas porque trazem
benefícios ambientais, mas porque também
podem gerar e/ ou suportar formas de
Banhados
desenvolvimento intrinsecamente humanos,
como o econômico, educacional e o cultural
(Figura 31). Diferente das Áreas de Proteção
Permanente (APP), que por serem áreas Mata
Ciliar
extremamente sensíveis às ações do homem,
possuem limites rígidos de exploração. De
acordo com a Lei 12.651 de 2012, que institui o
Código Florestal Brasileiro (CFB), APP podem
Restingas e
ser definidas como áreas protegidas, “coberta Dunas
ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna Nascentes
e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas.”. (Figura 30)
Junto às APP’s, ainda segundo o artigo
Topo de Morros
3º do Código Florestal Brasileiro, tem-se e Montanhas
também as Reservas Legais (RL), consistem Fonte: Produzido pelo autor a partir de
material informativo da UFRGS (2020).
em:

“áreas localizadas no interior de uma propriedade ou posse


rural, [...] com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a
conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de
fauna silvestre e da flora nativa;”
(Lei 12.651 de 2012, inciso III do artigo 3º )
58

Figura 31: Parque das Dunas: UC em Natal (RN).

Fonte: Acervo do autor (2020).

Ainda de acordo com CFB, toda propriedade de caráter rural deverá “manter área
com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das
normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel.” (artigo 12º do CFB), isto é, toda pessoa física ou
jurídica que possuir propriedade rural deverá delimitar uma porcentagem de área para
instituição da RL (Figura 32). Vale lembrar que, assim como as UC, as RL também podem
ser exploradas para fins econômicos, desde que com a devida responsabilidade ambiental. A
porcentagem de RL em cada propriedade varia de acordo com sua localização.

Figura 32: Porcentagens de RL em propriedades rurais.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do CBF (2012).


59

Embora importantes para preservação dos ecossistemas brasileiros, raramente


veremos parques urbanos relacionados a esse tipo de área de preservação. Primeiro pelo seu
caráter intrinsecamente rural, depois pelo fato de quase sempre tratarem de propriedades
privadas.
Apesar destas classificações aqui citadas serem as mais importantes pelo caráter
federal de suas legislações, os parques urbanos também podem vir associados a legislações
estaduais e municipais de preservação ambiental. Essas legislações complementares, desde
que sempre respaldadas e em concordância com estas leis superiores, podem estabelecer
diretrizes mais específicas de proteção, gestão e uso dessas áreas, que vão variar de acordo
com a realidade de cada cidade.
A observação das legislações urbanas e ambientais é imprescindível em qualquer tipo
de projeto, sobretudo nos de parques urbanos, pois são projetos complexos e que envolvem
diversas áreas do conhecimento. Estas legislações interferem diretamente no que é possível
ou não num projeto de parque a nível urbano, antropológico e ambiental, e por isso devem
ser sempre norteadoras no processo de concepção destes espaços e de seus equipamentos.
As definições e conceitos aqui apresentados permitem a compreensão do projeto de
parque urbano nos mais diversos aspectos (tamanhos, tipos, abrangência, finalidades) e de
seu papel dentro do tecido urbano, expandindo os horizontes quanto as formas de pensar e
propor estes espaços tão importantes para a qualidade de vida e da paisagem da cidade.
Nos próximos capítulos veremos um pouco mais sobre estes dois conceitos, avaliados
como complementares ao tema de parques urbanos e necessários para um melhor
entendimento deste.
60

2.3 PAISAGEM NATURAL E PAISAGEM CULTURAL


A paisagem é um elemento intrínseco às cidades. Falar dos espaços livres que
constituem o tecido urbano (como as praças, parques e jardins) e não falar de paisagem é
uma tarefa árdua, senão impossível. Isso porque as ideias de “paisagem” ou “paisagismo”
existem desde a antiguidade (embora estes termos só tenha aparecido muito tempo depois),
passando por diversas alterações semânticas ao longo dos séculos e tornando-se, hoje, muito
abrangentes.
Ao longo da história, o termo “paisagem” possuiu diversos significados e
concepções. Antes mesmo da formulação deste conceito, o indivíduo social já possuía noção
de paisagem e já estabelecia relação entre ela, suas cidades e sua forma de viver em
coletividade. Para Maximiano (2004), a percepção humana da paisagem como o “meio em
que o homem está inserido” começa já na antiguidade e evidencia a necessidade humana de
conhecer e intervir em seus arredores. Os egípcios e mesopotâmicos, por exemplo,
costumavam trazer porções da natureza para dentro dos seus muros, (fosse em forma de
jardim, de espelhos d’água ou de canteiros de plantio) a fim de criar espaços que, ao mesmo
tempo que propiciassem o contato com a natureza e seus benefícios, oferecessem segurança
e proteção.
Fosse por razões estéticas ou de subsistência, os antigos já demonstravam a vontade
de se relacionar, tanto espacial quanto visualmente, com o meio que os cercava. Os registros
que apontam para a existência dos famosos Jardins Suspensos da Babilônia, considerados
uma das sete maravilhas do mundo antigo, são um exemplo da busca pela inserção da
natureza no cenário arquitetônico.

Figura 33: Reconstrução ilustrativa dos Jardins da Babilônia;

Fonte: aventurasnahistoria.uol.com (acesso em setembro de 2020)


61

Para o autor, essa relação homem-paisagem deu-se de duas formas distintas nas
antigas civilizações orientais e ocidentais. Essas relações foram norteadas, principalmente,
pela filosofia, busca da estética, política, religião, ciência, dentre outros aspectos de cada
época, povo e local e influenciaram fortemente na forma como a paisagem era percebida e
registrada na arte e na arquitetura. (Maximiano, 2004)
Sob o olhar ocidental, temos uma constante oposição entre o homem e a natureza
como principal pilar da percepção da paisagem. O domínio antropomórfico sobre o meio
natural era claro e, por vezes, louvado. A forma de perceber e produzir paisagens dessa época
estava intimamente ligada aos ideais de ordem, ciência e racionalidade, atributos associados
ao homem e muito valorizados pela sociedade ocidental.

“Roma criou seus parques públicos com construções


arquitetônicas postas em maior evidência do que a vegetação ou
animais, já que predominavam as pérgolas, colunas, pórticos,
grutas e santuário. [...] Na antiguidade ocidental, a natureza
selvagem não importava à arte.”
(MAXIMIANO, 2004, p.84)

Quando vamos ao Oriente, nos é apresentada uma situação completamente diferente.


A relação de jugo e domínio sobre a natureza dá lugar uma percepção de paisagem repleta
de filosofia. O foco não está mais no homem, mas no equilíbrio que ele deve encontrar com
os elementos naturais, através do respeito e da coexistência plena e justa. É uma cultura que
encara a natureza como elemento físico telúrico e como força vital invisível, e o humano
como criatura humilde em harmonia com o espaço.

“No extremo oriente, a construção do conceito e da


própria paisagem são vistos nos parques, tanques artificiais e até
viveiros de pássaros encontrados em alguns palácios reais cerca
de três séculos antes de Cristo. Durante a dinastia Tang, o
paisagista Wang Wei, descreve o jardim como uma miniatura do
Universo, com elementos chave que são os montes e a água. Esta
forma de paisagem também aparece nos jardins japoneses, que
acompanham as residências. São concebidos para proporcionarem
contato com a natureza, paz e conforto espiritual.”
(MAXIMIANO, 2004, p.85)
62

O contraste entre as formas como esses povos percebiam a natureza reflete


diretamente a forma como estes a expressavam e registravam. E é nítida a diferença entre
pinturas da antiga Roma e as da antiga China, por exemplo. Para Socco (1998), a amplitude
e heterogeneidade da paisagem, isto é, a quantidade de elementos físicos e semânticos que
uma mesma paisagem pode possuir, vai depender da cultura em que alguém está inserido;
da forma como esse alguém foi criado e educado para percebê-la.
Essas duas linhas de pensamento se estendem separadas até o fim da Idade Média,
em meados do século XV, sendo a ocidental a que mais influenciou o paisagismo europeu
dessa época, onde os jardins, hortas, pomares e outros espaços semelhantes tinham pouco
apelo natural, com o foco ainda em seus edifícios arquitetônicos. Para Ferraz, estas raízes
ocidentais somadas à forte influência que a igreja católica exerceu sobre as sociedades da
época resumiram a paisagem natural ao pano de fundo das pinturas. Os elementos naturais,
até então, serviam mais para equilibrar a composição visual do que para agregar algum valor
ou significado, uma vez que os ideais de valorização do homem ainda eram fortemente
cultivados entre os artistas da época. (CLARK, 2009 APUD FERRAZ 201-).
Foi partir do século XVI que a percepção de paisagem ocidental se abre ao exterior
e põe a natureza em foco, originando os mais diversos estilos de paisagismo nos jardins
europeus; também é a partir daqui que o conceito de paisagem, até então abstrato, começa
se estabelecer, de um lado cientificamente, isto é, a paisagem começa a ser encarada como
algo concreto e palpável, uma porção observável do espaço passiva de estudo, observação,
delimitação e planejamento; do outro, linguisticamente, uma vez que começam a surgir os
primeiros termos ligados ao conceito de paisagem que conhecemos hoje, como “landschaft”,
do alemão (primeira palavra a designar paisagem em todo o Ocidente).

“O termo ‘paisagem’ procede uma língua comum, mas nas


línguas românicas, deriva do latim pagus, que significa país, com sentido
de lugar ou porção territorial. Assim desta derivam as diferentes formas:
paisaje (castelhano), paysage (francês), paesaggio (italiano) e paisagem
(português). As línguas germânicas, por sua vez, apresentam um claro
paralelismo através da palavra originária land, com um sentido
praticamente igual, e de que derivam landschaft (alemão), landscape
(inglês), landschap (holandês), entre outros.

(ALBUQUERQUE, 2006, p.59).


63

Os séculos seguintes foram marcados por grandes transformações e descobertas na


área da percepção e registro da paisagem. A “arte dos jardins”, como ficou conhecida a
prática humana de intervir na natureza para criação de visuais e composições (a ideia
embrionária do paisagismo) propagou-se por escolas de arte de toda a Europa, que formulou
o ideal ocidental de paisagem – regado de influências orientais – e a propagou mundo afora.
É no final do século XVIII que, dentre todos os estudiosos e artistas, dois nomes de
extrema importância para a construção do conceito contemporâneo de paisagem aparecem:
Alexander Von Humboldt e Karl Ritter. Considerados os pais da Geografia, Humboldt e
Ritter expandiram o conceito de paisagem para um patamar mais amplo do que era até então
admitido e pensado. Seus ideais defendiam a paisagem como uma ciência mais complexa e
multifacetada, não resumindo-se ao meio vegetal (embora também o englobe) e cuja
compreensão deveria levar em conta aspectos históricos, sociais e ambientais de cada lugar.
(Maximiano, 2004)
Logo, a paisagem é agente transformadora do homem ao mesmo tempo que é
transformada por ele; é um elemento espacial dinâmico que, embora possa ser planejado,
nunca chegará a um fim absoluto uma vez que, assim como a sociedade, está sempre se
transformando. A observação da ação humana sobre uma determinada paisagem dá origem
ao conceito de paisagem cultural, opondo-se à paisagem natural, que passou a ser
reconhecida como aquela livre ou pouco afetada pela interferência humana.
Essa paisagem cultural pode ser classificada em rural ou urbana, dependendo da
grandiosidade do impacto humano ao longo do tempo. As paisagens de cultura rural possuem
o elemento natural em predominância na sua composição, enquanto a paisagem urbana tem
no elemento antrópico seu principal destaque.
Para Albuquerque (2006), os estudos da dualidade entre o natural e o cultural ganham
mais espaço com os trabalhos de Otto Schulter, no início do século XX, pois “a geografia
cultural e a geografia social se encontram em sua obra, convergindo para o entendimento da
paisagem cultural.” Os estudos de Schulter, por possuírem a intervenção humana como
principal foco na análise da paisagem, expandiu ainda mais o conceito de paisagem para o
nível de abrangência pelo qual o entendemos hoje, além de abrir portas para outras áreas da
ciência juntarem-se aos estudos da paisagem e seus impactos no ser humano, entre elas o
urbanismo.
É importante ressaltar que as mudanças no conceito de paisagem não
desconsideraram ou invalidaram as primeiras definições existente, mas ampliaram o leque
64

semântico do termo, permitindo que fosse analisado sob outros parâmetros e envolvendo
outras variáveis, sem prejuízo das demais. Essa multiplicidade de sentidos priva o termo de
um único significado correto, mas de forma geral e com base em tudo que foi aqui relatado,
podemos compreender a paisagem como uma porção mensurável do espaço terrestre que
engloba um conjunto de elementos, bióticos e abióticos, em sua composição, estando
intimamente ligada às práticas da coletividade que a habita (quando existe).
A vida em coletividade altera a paisagem, as cidades são frutos da coletividade, logo
as cidades alteram a paisagem e por isso é tão indissociável dela. A cidade possui e produz
paisagens culturais o tempo todo. As ações humanas transformam e modificam a paisagem
natural, moldando-a e adaptando-a cada vez mais aos nossos anseios ou ideologias. Essas
modificações originam a paisagem urbana, que, ainda segundo o autor, podem ser
transformadas ao longo do tempo e são sempre marcadas por um conjunto de elementos e
técnicas produzidas pelo homem e moldadas para atender suas necessidades.
Essas transformações temporais também são ressaltadas por Macedo&Sakata (2010),
que afirmam que a paisagem urbana “pode ser considerada como a expressão morfológica
das diferentes formas de ocupação e, portanto, de transformação do ambiente em um
determinado tempo”.
Bertrand (1972 APUD MACIAL E LIMA, 2011) também reconhece a paisagem
como esse misto da obra humana com as composições da mãe-natureza. Ele diz que a
paisagem é uma porção do espaço caracterizada por um tipo de combinação dinâmica de
elementos geográficos diferenciados, físicos, biológicos e antrópicos, que ao se enfrentarem
dialeticamente uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto geográfico indissociável
que evolui em dinâmica própria de cada um dos elementos individuais.
Para Cullen (2000), paisagem urbana é a arte de tornar coerente e organizado,
visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano,
enquanto paisagismo envolve a habilidade de planejar e representar esses emaranhados.
Logo, é possível concluir que mesmo o caos agressivo e cinza das grandes cidades pode,
sim, ser considerado como paisagem.
Sendo assim, têm-se em conta a indissociabilidade entre paisagem e cidade. Faz-se,
então, necessária a compreensão destas paisagens e de seu papel dentro do âmbito do parque
urbano, afinal de contas, o projeto e estudo dos parques urbanos está intimamente ligado
com o planejamento das paisagens urbanas (FERREIRA, 2006). O parque, devido a sua
extensão, relaciona-se paisagisticamente com o meio urbano em duas escalas de percepção,
65

que chamaremos aqui de “macro” e “micro”. Para Metzger (2001) e Abbud (2006), a escala
de percepção ou observação é inerente a qualquer paisagem e influencia diretamente no
impacto que ela possui no observador. Essa escala pode ser percebida duas escalas: a do
indivíduo e a da cidade.
Na escala da cidade, a escala de quem observa de fora, temos o parque como um dos
vários ambientes que compõem o mosaico urbano, onde ele interage visualmente com os
outros espaços da cidade, construídos ou não. Nesta escala, o parque é quase sempre visto à
distância e em sua totalidade, como uma grande mancha verde em meio ao caos da cidade e,
por isso, dificilmente fará o indivíduo sentir-se inserido neste espaço e gozar dos benefícios
que ele pode oferecer.
Na escala do indivíduo, a escala de quem observa de dentro, o parque torna-se, então,
o mosaico de ambientes. Torna-se o refúgio verde do homem social, onde ele resgata seu elo
com a natureza cercando-se de elementos e ambientes naturais. É nesta escala de percepção
que os elementos artificiais se perdem no meio do verde da paisagem, e este assume o
protagonismo das visuais. É também nesta escala que as paisagens naturais do parque urbano
assumem uma forte influência sobre a psique humana, sobre sua saúde física e mental
(FERREIRA, 2006), e que o projeto dessas paisagens ganha tanta importância.
O papel da vegetação nas paisagens como um dos principais propiciadores da saúde
física e da beleza a é ressaltado por vários estudiosos e profissionais. Marx (1981) considera
as plantas como o principal agente expressivo da paisagem. Em concordância, Paiva e
Gonçalves (2002 APUD FERREIRA 2006) afirmam que:

“[...] a importância do vegetal na paisagem urbana está


no lazer, pois as diversas categorias de espaços verdes urbanos é que
fazem a aproximação do homem urbano com a natureza. Porém, seja
qual for a função da utilização do vegetal no espaço; proteção, estética,
entre outros, estará sempre relacionado com o clima e, em última
análise, com o conforto do homem. Em outras palavras, é o estado de
perfeita satisfação física, psíquica ou moral, por fim o bem-estar e a
qualidade de vida.”

(Paiva e Gonçalves, 2002 apud Ferreira, 2006, p.18)

A partir das considerações dos autores, é interessante observar que tanto a paisagem
como o paisagismo contemporâneo ganharam novos sentidos frente o momento histórico em
que nos encontramos. Ao contrário do que se era esperado das antigas paisagens (os jardins
66

italianos e franceses do século XVII, por exemplo), que eram quase que exclusivamente
estéticas, os novos projetos de paisagem buscam mais que um visual exuberante.
Segundo Londe (2014), os conceitos de qualidade ambiental e qualidade de vida
tornaram-se inseparáveis. A chamada “consciência ecológica”, que surge frente à
urbanização desenfreada e inconsequente que tomou conta das cidades, tem permeado a
cultura humana e tem interferido diretamente na forma como o homem produz suas cidades.
Temas como saúde, preservação, sustentabilidade, conforto ambiental e bem-estar individual
e coletivo tornaram-se diretrizes para a produção do espaço urbano e consequentemente, de
suas paisagens.
A responsabilidade dos projetistas de espaços livres não se resume ao verde. Embora
seja um componente importante da paisagem e dos espaços livres da cidade, os edifícios, as
ruas, os mobiliários e outros elementos abióticos não são menos importantes, uma vez que
são os elementos-chave de uma paisagem cultural. Para Cullen (2006), a paisagem urbana
também é dotada do poder de atração ou repulsão de acordo com a forma como seus
elementos abióticos são percebidos. O autor afirma que um conjunto de edifícios pode ser
dotado de um poder de atração sensorial que um edifício isolado jamais poderia oferecer.
Quando estendemos os pensamentos de Cullen aos outros elementos físicos do tecido urbano
citados por Cavalheiro e Del Picchia (1992), temos que a paisagem urbana, em seu todo, é
capaz de despertar sensações diversas no indivíduo.

Teóricos como Cullen, Lynch e Lamas apontam a influência que o conjunto de


elementos físicos da cidade exerce sobre a forma como o ser humano percebe o seu entorno
e sobre as maneiras como as paisagens urbanas são interpretadas e sentidas. Essas
interpretações são oriundas da forma como o indivíduo lê os espaços que o cercam e interfere
diretamente na forma que este se apropria destes espaços.

As impressões transmitidas pela paisagem, para Abreu (1998), estão diretamente


ligadas às memórias que os habitantes possuem da cidade e de seus espaços. Essas memórias
possuem duas esferas: a individual e a coletiva. Na esfera individual, a paisagem é percebida
sob o olhar particular de cada indivíduo e vem carregada de conceitos, experiências e
lembranças próprias de cada um. A esfera coletiva, mais interessante às cidades como um
todo, tem um viés mais simbólico e diz respeito “às lembranças construídas socialmente e
referenciadas a um conjunto que transcende o indivíduo” (Albuquerque, 2006, p.15).
67

As memórias coletivas atribuídas à paisagem apresentam um viés mais cultural e não


dependem da vivência de uma ou outra pessoa específica, mas da constante vivência de uma
sociedade em um espaço. São memórias construídas ao longo do tempo que, quando
depositadas sobre uma paisagem, acumulam significados e abstrações que se estendem à
toda coletividade, abraçando as vivências passadas e as perspectivas futuras. É uma memória
dinâmica e viva, que preserva em si parte da história do lugar (àquela que conseguiu
permanecer viva na consciência de um grupo através do tempo) ao mesmo tempo que se
reinventa, juntamente com a cidade. Pesavento (2005), diz que:

“Todo traço do passado possui em si uma sucessão de


temporalidades objetivas acumuladas, ou seja, as marcas da
passagem dos anos e do seu uso e consumo pelos atores sociais que
percorreram este espaço. (PESAVENTO, 2005, p.13).

Apesar de bastante diferentes entre si, a relação entre a memória individual e a


memória coletiva é estreita. Em síntese, temos que a memória coletiva é um forte molde para
a memória individual, uma vez que nenhum ser plenamente social é capaz de criar conceitos
e opiniões próprias sem interferência dos conceitos e opiniões do grupo aonde está inserido,
enquanto a memória individual é a forma como absorvemos a memória coletiva, além de ser
uma ponte para acessá-la, isto é, através da memória de um indivíduo podemos ter acesso a
uma época ou um momento que não é mais realidade na memória coletiva “vigente”.
(Pesavento, 2005)

O zelo para com a memória, sobretudo à coletiva ou “da cidade”, é essencial à


concepção de espaços livres públicos. Isso porque estes espaços, por terem como principal
objetivo servir à coletividade na prática do convívio, precisam ser percebidos pela população
a que se destina de forma positiva e desejável. Precisa considerar o que existe de positivo e
de negativo na memória daquele grupo. Caso contrário, a coletividade tenderá a modificar o
espaço até adequá-los às suas necessidades e torna-lo pertencente àquela realidade.

Logo, projetar o tecido urbano e a relação dos seus espaços e elementos físicos não
pode carregar somente um pensamento funcionalista e técnico. A sensibilidade de
compreender as dinâmicas socais de cada lugar e perceber a realidade das cidades como algo
particular e intrínseco àquele local e àquela gente é a chave para compor novas paisagens
68

urbanas que se integrem com as existentes e despertem o interesse de apropriação por parte
dos indivíduos.

“[...] Para que os parques urbanos estejam integrados à


paisagem, é preciso que ele seja um lugar para a cidade, e não um
elemento que não possua uma sincronia com a dinâmica urbana, é
necessário que haja uma identificação lugar. Os parques urbanos
como espaços livres públicos, são de enorme importância para o
cotidiano da cidade. São neles que se expressam as diversas
atividades que movimentam e caracterizam o urbano. É onde se
produzem as memórias, tanto as individuais e históricas, mas
principalmente as coletivas, visto que no espaço público há a
expressão do sentido de coletividade, de integração das relações
sociais do dia a dia. (ALBUQUERQUE, 2006, p.117).
69

2.4 QUALIDADE DE VIDA

O crescimento acelerado (e por vezes descontrolado) das cidades, somado aos estilos
de vida contemporâneos, cada vez mais apressados e automáticos, tem trazido à tona a
discussão sobre a qualidade de vida no espaço urbano. Trata-se de um tema muito
abrangente, permeando o imaginário social de forma que qualquer indivíduo é capaz de
apresentar alguma compreensão ou consideração sobre o assunto. Vivemos numa era onde
a busca pela qualidade de vida não é um simples modismo, mas sim um dos principais
objetivos a serem alcançados pelo homem (Nobre, 1995). Tornou-se, hoje, um assunto tão
frequente que alguns de seus aspectos já viraram convenção entre a maioria das pessoas, por
exemplo: quem há de dizer que uma boa caminhada matinal é prejudicial à saúde? Ou quem
defenderá uma jornada exaustiva de 12 horas de trabalho como digna ou aceitável?

Para Pereira et. al. (2012), a preocupação do homem com a qualidade de vida não é
exatamente nova. A novidade seria a compreensão mais ampla de todos os fatores e variáveis
que se enquadram e que devem ser considerados neste tema; o reconhecimento de que o
bem-estar do ser humano precisa “valorizar parâmetros mais amplos que o controle de
sintomas, a diminuição da mortalidade ou aumento na expectativa de vida”. (PEREIRA ET
AL. 2012, p.241).

Embora considere positivo o fato de que os estudiosos e pesquisadores ampliaram


seus horizontes sobre o conceito de qualidade de vida, o autor também deixa claro que o
tema ainda apresenta imprecisões conceituais e metodológicas por causa disso. O autor
ressalta que “dependendo da área de interesse o conceito, muitas vezes, é adotado como
sinônimo de saúde [...], felicidade e satisfação pessoal [...], condições de vida [...], estilo de
vida [...], dentre outros”, com um ponto sempre em comum: o caráter bom e positivo do
termo. (PEREIRA ET. AL., 2012, p.241).

Essas imprecisões dificultam seu estudo, sua avaliação e mesmo o emprego deste
termo em trabalhos acadêmicos, por isso não dispensa esclarecimentos e delimitações para
a correta utilização de seu significado.

Nobre (1994) define qualidade de vida como sendo a “sensação íntima de conforto,
bem-estar ou felicidade no desempenho de funções físicas, intelectuais e psíquicas dentro da
realidade da sua família, do seu trabalho e dos valores da comunidade à qual pertence.” Sua
concepção é muito semelhante à da Organização Mundial de Saúde (OMS), que define a
70

qualidade de vida como sendo “a percepção do indivíduo de sua inserção [...] no contexto
da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos [...] e
preocupações”.

Para Nahas (2006 apud BORGES, 2008) a qualidade de vida é “a condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais, modificáveis ou não,
que caracterizam as condições em que vive o ser humano.”

Almeida, Gutierrez e Marques (2012) juntam-se à discussão reforçando o que é


defendido por Ferreira (2012), no tocante à variedade de óticas existentes e define a
qualidade de vida como:

“[...] uma concepção que envolve parâmetros das áreas de


saúde, arquitetura, urbanismo, lazer, gastronomia, esportes,
educação, meio ambiente, segurança pública e privada,
entretenimento, novas tecnologias e tudo o que se relacione com o
ser humano, sua cultura e seu meio.”
(Almeida, Gutierrez e Marques, 2012, p.7)

Estes autores ainda ressaltam a dificuldade de se discutir e estudar o tema, afirmando


que essa vasta pluralidade de perspectivas faz deste conceito, ainda hoje, um quebra-cabeça
em constante construção.
As várias perspectivas sob as quais podemos analisar a qualidade de vida de alguém,
podem ser enquadradas em quatro grandes grupos ou abordagens: o socioeconômico, o
psicológico, o biomédico e o holístico (Day e Jankey, 1996). Na abordagem socioeconômica,
os fatores sociais são os principais indicativos de qualidade de vida. Esta abordagem
popularizou-se no meio político e administrativo, onde a qualidade ambiental era sinônimo
de sucesso da gestão pública em proporcionar o bem-estar de seus cidadãos através de
índices (desemprego, criminalidade, mortalidade, etc). Apesar de não ser uma abordagem
incorreta, e ainda muito utilizada nos dias de hoje quando tratamos de administração pública
(da qual se tratará mais a frente), os autores a classificam como incompleta por considerar
os fatores externos suficientes para avaliar a qualidade de vida de uma população.
A abordagem psicológica considera, primordialmente, a percepção do indivíduo
sobre sua própria condição. Este tipo de abordagem é extremamente individual pois depende
diretamente da vivência de cada pessoa em determinado meio, cultura ou época. Essa linha
71

de pensamento, no entanto, é muito limitada já que sua avaliação é demasiadamente


subjetiva, dificultando sua aplicação (ou sua aplicação apenas) no estudo da qualidade de
vida de grandes massas, como no caso das cidades.
A abordagem médica, também com caráter subjetivo, tem na saúde física e mental
seu principal alicerce e a trata como fator determinante na capacidade de se viver de forma
plena e digna. Essa abordagem é muito utilizada no meio da medicina do que em qualquer
outra área, isso porque trata da questão de proporcionar aos enfermos uma melhor qualidade
de vida ao longo de seu tratamento e recuperação. Segundo esta abordagem, “as avaliações
da qualidade de vida foram usadas para justificar ou refutar tratamentos, no entanto essas
avaliações acabaram por mostrar somente o óbvio, por exemplo, o fato de que uma cirurgia
do coração pode realçar a qualidade de vida (ou a sobrevida) de pacientes cardíacos.” (Day
e Jankey, 1996 APUD Pereira. Et. all. 2012)
A abordagem holística ou pluridimensional considera o conceito de qualidade de vida
como um conjunto de variáveis externas e internas ao indivíduo que não podem ser
resumidas numa única perspectiva e que devem ser avaliadas como um todo. Essa
abordagem tenta abraçar tanto o viés subjetivo (bem-estar, felicidade, satisfação pessoal)
quanto o objetivo (condições de moradia, de saúde, de infraestrutura urbana) do conceito,
buscando entender o conceito de uma forma tão multifacetada como o próprio ser humano.
Apesar de ser mais recomendada para se atingir uma compreensão mais ampla de algum
contexto a ser estudado, a aplicação plena desta abordagem é dificultada justamente por
conta de sua abrangência. A necessidade de se estabelecer parâmetros mais objetivos de
avaliação sempre acaba privilegiando os fatores externos ou internos da qualidade de vida,
a depender dos objetivos do pesquisador.
Apesar deste oceano semântico, é possível perceber dois pontos importantes no que
tange a definição de “qualidade de vida”. O primeiro trata da tendência existente de se
estabelecer um conceito sempre baseado no senso comum positivo sobre a qualidade de vida
e os fatores indicadores dessa positividade (infraestrutura física, condição financeira, saúde
psicológica, etc). O segundo ponto revela que a grande maioria dos autores que procuram
definir o conceito de qualidade de vida pairam entres dois olhares: o objetivo, mais
quantitativo e qualitativo, e o subjetivo, mais intuitivo, amplo e abstrato. Na primeira
situação, encara-se o tema sob a ótica de elementos e variáveis mais concretas, buscando o
estabelecimento de padrões que possam avaliar a qualidade de vida com certa absolutez ou
72

precisão. São fatores externos à personalidade humana, como acesso à saúde, alimentação,
moradia, lazer, transporte e outras necessidades à vida urbana. (Pereira, 2012).
Na segunda situação, apesar de existirem, sim, variáveis concretas (como contexto
social, cultural e histórico), encara-se o tema de forma mais aberta uma vez que se está
lidando diretamente com a personalidade humana. É a parte interna ao homem. Aqui que
entram as características da qualidade de vida avaliadas sob a perspectiva da impressão
humana e psicológica de cada indivíduo. Em síntese: o que é bom para mim pode não ser
bom para você.
Apesar de distintos, esses dois olhares andam de mãos dadas e nenhum pode ser
isolado ou descartado quando o objetivo é avaliar e diagnosticar a qualidade de vida de um
indivíduo ou de um grupo. Minayo (2000 apud. ALMEIDA, GUTIERREZ E MARQUES,
2012) dá ênfase ao caráter híbrido deste conceito, que mescla fatores biológicos, sociais,
mentais, ambientais e culturais. O autor ressalta que:
.
Essa divisão de esferas de percepção busca esclarecer a
problemática da multidisciplinaridade presente em estudos sobre
qualidade de vida, visto que esse é um tema de grande
abrangência semântica. É importante considerar que, por
existirem diversas formas de definição sobre o termo, a adoção
de somente uma delas parece imprudente, pois esse ainda é um
campo em formação e em processo de definição de conceitos e
verdades. Logo, tais definições são aceitas e utilizadas, porém,
devem ser analisadas com olhar crítico e de forma situada em
relação aos aspectos objetivos e subjetivos de análise, além do
fato de serem complementares entre si.
(Almeida, Gutierrez e Marques, 2012, p.22)

No entanto, quando o assunto trata de qualidade de vida urbana, de forma geral e não
focalizada em uma cidade ou grupo específico, é mais comum que se discutam apenas (ou
com maior ênfase) as variáveis externas (ALVES ET. AL, 2017). À luz de outros autores
como Santos & Martins (2002) e Ulengin (2001), os autores destacam que a qualidade de
vida nas cidades é muitas vezes vista e avaliada sobre os seguintes parâmetros: condições
ambientais, condições materiais coletivas, condições socioeconômicas e as facilidades de
acesso à serviços urbanos (saúde, transporte, comunicação, etc).
73

Sendo assim, este trabalho há de utilizar o conceito de qualidade de vida de maneira


relacionada às condições ambientais e urbanas do projeto e sua relação com a saúde, bem-
estar e seus desdobramentos, focalizando as variáveis externas ao ser humano e mais ligadas
ao espaço físico e condições da cidade, como acesso a transporte, a lazer, a serviços, à
segurança e aos benefícios trazidos pelos espaços verdes. Isso porque o objetivo aqui não é
utilizar o conceito para chegar a um veredito sobre o grau de qualidade de vida dos ceará-
mirinenses (visto a necessidade de um trabalho bem mais complexo e multidisciplinar) mas
sim para basear algumas decisões no tocante aos benefícios dos parques urbanos e seu
impacto no que Londe e Mendes (2014) chama de qualidade ambiental.
Para o autor, a busca por qualidade ambiental pode ser entendida como a construção
de uma coexistência harmônica entre as cidades e o meio ambiente que as cercam, através
da expansão consciente da malha urbana e a implantação de áreas verdes nas cidades. Essas
áreas verdes são de extrema importância pois servem como oásis em meio ao concreto e ao
asfalto, logo, devem fazer parte do planejamento urbano e não serem resumidas às sobras
espaciais que muitas vezes são originadas de um lote vazio ou de um encontro de ruas. Para
o autor: .
“Estas áreas [...] proporcionais inúmeros benefícios que asseguram a
qualidade ambiental do espaço urbano, tais como conforto térmico,
[...] atenuação da poluição do ar, sonora e visual e abrigo para fauna.”

(Nucci, 2008 apud Londe e Mendes, 2014, p.265)

Ainda segundo o autor, a existência dessas áreas verdes é indispensável às cidades


uma vez que nelas os problemas ambientais ganham maior amplitude e, consequentemente,
os problemas de saúde decorrentes destes ganham mais espaço. É possível perceber que as
áreas verdes estão diretamente ligadas à saúde dos habitantes da cidade, além de estarem
intimamente ligadas ao lazer e recreação da população e, por isso, são indicadores de
qualidade de vida.
Londe e Mendes (2014) afirmam que:
74

No contexto da qualidade de vida urbana, as áreas verdes,


além de atribuir melhorias ao meio ambiente e ao equilíbrio
ambiental; contribuem para o desenvolvimento social e traz
benefícios ao bem-estar, a saúde física e psíquica da população, ao
proporcionarem condições de aproximação do homem com o meio
natural, e disporem de condições estruturais que favoreça a prática de
atividades de recreação e de lazer. Desse modo,
quando dotadas de infraestrutura adequada, segurança, equipamentos
e outros fatores positivos, poderão se tornar atrativas à população, que
passará a frequentá-las, para a realização de atividades como
caminhada, corrida, práticas desportivas, passeios, descanso e
relaxamento; práticas importantes na restauração da saúde física e
mental dos indivíduos.

(Londe e Mendes, 2014, p. 269)

Para os autores a pauta da conscientização ecológica que emergiu nas últimas


décadas acabou vinculando os conceitos de qualidade ambiental e qualidade de vida urbana
de forma que não se pode mais falar de um sem, necessariamente, tocar o outro. Ainda
acrescentam que “a inexistência das áreas verdes urbanas demonstra o
descaso do poder público para com a saúde física e mental dos cidadãos, a ausência de uma
visão ampliada do futuro e a fragilidade do planejamento urbano e das políticas públicas.”
reforçando a ligação existente entre o meio ambiente o bem-estar humano.
Os estudos sobre os benefícios causados pelos espaços verdes na vida do homem
urbano têm mostrado que o poder e influência positivas destes espaços não se resumem
apenas aos fatores externos e quantificáveis, mas também aos internos e psicológicos. Sim,
uma boa qualidade ambiental pode deixar alguém mais feliz! Segundo pesquisa realizada
por Barton e Pretty (2010), apenas cinco minutos de exercício em áreas verdes podem ser
suficientes para trazer melhoras psíquicas a um indivíduo, contribuindo positivamente com
seu humor e mesmo com sua autoestima. O estudo também sugere que problemas físicos de
natureza psicológica, como depressão e sedentarismo, podem aproveitar os benefícios
mentais trazidos por estes espaços verdes. (SZEREMETA E ZANNIN, 2013)
É inevitável tratarmos da qualidade de vida e não mencionarmos o importante papel
que o poder público possui no assunto. A garantia da qualidade de vida urbana é dever do
Estado, e esta é de direito de todos, logo é papel da gestão pública planejar e gerir cidades
que proporcionem espaços que contribuam com a constante melhoria desta qualidade de vida
nos aspectos externos e internos, quando possível, ao indivíduo.
75

Como já evidenciado nos capítulos anteriores, a ideia de parques urbanos se


desenvolve juntamente com a preocupação em construir cidades mais saudáveis e limpas na
era industrial, tamanho seu impacto benéfico na vida do homem. Seus ideais passaram então
a permear o planejamento urbano em nível legislativo. No Brasil, a crescente consciência
ecológica surgida na década de 60 e a construção e preservação destes espaços em prol da
qualidade de vida urbana passa a estar presente nos novos projetos e legislações urbanas e
ambientais. O conceito de qualidade de vida através dos espaços verdes aparece também na
Constituição Federal de 1988, que diz, em seu artigo 225, que “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
Diante do exposto, compreende-se que o bom projeto de parque urbano é aquele que
visa a aferição de qualidade de vida urbana e ambiental (nos seus diversos aspectos) através
dos seus espaços, dos seus serviços e das suas paisagens, que quebram com as visuais típicas
dos centros urbanos e servem como ferramenta capaz de potencializar os efeitos e o
significado destes espaços sobre um indivíduo ou sobre uma coletividade.

Figura 34: O parque deve ser um indicador positivo de qualidade de vida.

Fonte: veja.com.br (acesso em outubro de 2020).


76

A segunda parte deste trabalho trata do processo de


caracterização do universo de estudo em dois níveis: a cidade de
Ceará-Mirim e o Parque Boca da Mata. A metodologia desta etapa
consistiu em levantamentos documentais e bibliográficos sobre
os assuntos abordados, visitas in loco à área do Parque e
entrevistas à profissionais e funcionários envolvidos com o local.
A primeira parte deste capítulo aborda a história de Ceará-
Mirim e seu atual contexto urbano, destacando aspectos
importantes do município, como sua morfologia e suas dinâmicas
de expansão, segundo a metodologia de Panerai (2006).
No que se trata do parque, serão abordados aspectos
indispensáveis à compreensão do lugar: sua localização,
processo de formação, dimensões, caracterização ambiental e
condicionantes legais.
77

3. CEARÁ-MIRIM DOS VERDES CANAVIAIS

Ceará-Mirim é um município localizado no litoral leste do Estado do Rio Grande do


Norte (RN). Com cerca de 724.838km², é o maior em área território da Região Metropolitana
de Natal (RMN) – da qual faz parte desde sua instituição, no ano de 1997, embora seja o quinto
mais populoso, com aproximadamente 73.886 habitantes (quantidade estimada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, no ano de 2020) (Figura 35).

Segundo Hora Neto (2015), a grande área do município é herança de sua estreita relação
com o plantio de cana e dos grandes latifúndios que, hoje ociosos, compõem a paisagem ceará-
mirinense. A construção histórica da cidade será tratada mais a frente neste capítulo.

Ceará-Mirim faz fronteira ao norte com a cidade de Maxaranguape, ao sul com Ielmo
Marinho, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. A oeste, tem-se o município de Taipu e a leste,
o Oceano Atlântico, que banha a praia de Muriú.

Figura 35. Localização de Ceará-Mirim;

Fonte: Hora Neto (2015), produzido por Amalpas (2015);


78

3.1 BREVE HISTÓRICO

“Ceará-Mirim da Usina São Francisco


Ceará-Mirim da Praia Muriú
Ceará-Mirim dos verdes coqueirais
E dos canaviais
Cidade do Patú [...]”

(Trecho do hino do Munícipio)

A história de Ceará-Mirim, cujo nome provém do “vocábulo indígena ‘Ce-ará-mirim,


que significa ‘canto do papagaio pequeno.” (CASTRO, 1992, P. APUD HORA NETO, 2015),
começou por volta do século XVI, com a forte relação comercial entre os índios potiguares
Janduís, habitantes das margens do Rio Ceará-Mirim (Figura 36), e os portugueses, seus
colonizadores, que vinham em busca do Pau-Brasil – material muito abundante na região
(IBGE, 1960). Segundo Senna (1974), apesar de não haver um centro urbano consolidado neste
momento histórico, o território de Ceará-Mirim já apresentava algumas aldeias, todas afastadas
umas das outras e sustentadas pela prática do escambo, com cerca de 11.000 habitantes
espalhados em todo o território.
Figura 36. Rio Ceará-Mirim: o despontar de uma história.

Fonte: cronicastaipuenses.blogspot.com (acesso em outubro de 2020)

O processo de colonização português nas terras de Ceará-Mirim foi, durante grande


parte do século XVI, lento. Como resultado, a coroa portuguesa ainda não possuía significativa
organização política e social no local, o que fragilizava seu domínio e controle sobre as relações
79

comerciais do território e sobre os próprios indígenas, que começaram a apresentar resistência


à ideia de aculturação e desapropriação de terras pelos portugueses ao passo que estreitavam
suas relações de amizade com outros povos europeus, como espanhóis, franceses e holandeses.
(HORA NETO, 2015; SENNA, 1974).

Com o poderio ameaçado, os portugueses partiram, no final do século XVI, para uma
abordagem mais agressiva em toda a província do Rio Grande: era hora de estabelecer de vez
o domínio português. Os anos que se seguiram foram marcados por forte violência e
escravização do povo indígena: suas aldeias foram desfeitas, seus membros foram vendidos ou
escravizados e suas terras foram desapropriadas e cedidas a pessoas confiáveis da coroa
portuguesa através dos acordos de sesmarias. O vale do Ceará-Mirim (como eram conhecidas
as terras que cercavam o rio de mesmo nome) tornou-se então uma grande malha de latifúndios,
caracterizando uma estrutural espacial “concentradora e excludente, que seria a base para as
futuras atividades agrícolas implantadas na região de Ceará-Mirim.” (HORA NETO, 2015,
p.27)

De fato, agricultura e pecuária foram os dois grandes pilares que movimentaram e


nortearam a economia ceará-mirinense até o início do século XIX. As terras férteis que
rodeavam o rio tornaram o solo de Ceará-Mirim reconhecido em toda a província como de
ótima qualidade para realização dessas atividades mais primárias. Segundo Cruz (2015), a
plantação de algodão e criação de gado eram populares não só em Ceará-Mirim, mas em toda
a província do Rio Grande. Isso porque era uma forma mais rápida e barata de movimentar a
economia, ao contrário da produção de açúcar que, embora já existisse no nordeste brasileiro,
ainda se tratava de uma atividade mais cara e complexa, que ainda passava por uma fase inicial
de consolidação. Bertrand (2010) acrescenta que:

“Até meados do século XIX, os engenhos não


desempenhavam papel importante na economia do
Rio Grande do Norte. Em número reduzido,
permaneceram confinados a algumas várzeas na
Zona da Mata e na área litorânea sul da capitania.

(Bertrand, 2010, p.30)

Apesar do desenvolvimento econômico, Ceará-Mirim experimentou pouco


desenvolvimento urbano durante a era da agropecuária. Isso por que, até 1882, ainda não era
sequer reconhecido como município, sendo considerado parte do território de Extremoz.
(IBGE, 2019) Logo, não havia a presença (e nem a necessidade) de autonomia política e nem
80

dos tradicionais espaços urbanos e elementos arquitetônicos que caracterizavam os centros das
cidades católicas da época – os largos, as grandes igrejas, os prédios de poder público. Dessa
forma, o vale do Ceará-Mirim preservou seu caráter mais rural, formado por grandes
propriedades privadas que prosperavam com a prática da agropecuária. (Cascudo, 2002).

Todavia, em meados do século XIX:

“...o espaço econômico do Rio Grande do Norte


antes dedicado principalmente ao cultivo de algodão
e à pecuária extensiva no interior da província
sofrera modificações ocasionadas tanto por fatores
naturais como econômicos.”
(Neto, 2015, p.28)

Dentro das causas naturais, o autor cita fortes secas entre 1840 e 1846, que assolaram
os agricultores, dizimando as plantações de algodão (produto que detinha o destaque nas
plantações potiguares o longo de todo o século XVIII), rebanhos e desestabilizando a economia
do vale, até então bastante promissora. Já nos fatores econômicos, tem-se a busca dos
proprietários rurais por formas novas e mais seguras de produzir em suas terras e o crescente
mercado de produção de cana-de-açúcar, que já estava bem mais consolidada em toda região
Nordeste do país graças aos investimentos do império na modernização e industrialização do
setor açucareiro e ao destaque cada vez maior do Brasil no cenário internacional de exportação
de açúcar.

Em 1840, Ceará-Mirim Figura 37. Engenho Carnaubal.

recebeu seu primeiro engenho,


implantando por Antônio Bento Viana,
chamado Carnaubal (Figura 37). A boa
qualidade da terra não decepcionou e
nos anos que se seguiram, diversos
outros latifundiários voltaram-se para
a produção de cana, tornando a
atividade açucareira o novo carro-
chefe do vale do Ceará-Mirim, que até
o final do século XIX já era um dos
principais produtores de cana de todo
o Rio Grande do Norte.
Fonte. Acervo de Gibson Machado (195-)
81

O desenvolvimento trazido pelo setor açucareiro e o investimento nas terras ceará-


mirinenses atribuiu-lhes uma visibilidade imensa frente o mercado potiguar e fortaleceu as
conexões urbanas do vale com as cidades ao seu redor. Tal qual a economia, a forma de produzir
o espaço também passava por uma profunda transformação. A organização dos latifúndios
rompeu com os costumes dos antigos agricultores e passou a organizar-se segundo a relação de
engenho/casa grande (que tomava o engenho como o coração da propriedade), em torno dos
quais os outros elementos do espaço eram implementados (como as senzalas, capelinhas,
estradas, etc).

Neste momento histórico, Ceará-Mirim, que estava apenas a algumas décadas de se


tornar um município independente, já era palco de relações sociais e comerciais complexas,
tanto interna quanto externamente aos limites de seu território. Essas relações permitiram à
cidade experimentar seus primeiros processos de urbanização, que foram completamente
moldados pela vontade dos senhores de engenho, que utilizavam de seu poder e influência para
construir o espaço urbano. (NETO, 2015; CRUZ, 2015)

Segundo ressaltam Freitas e Ferreira (2011), o espaço urbano congrega materialidades


e imaterialidades, intenções, anseios, necessidades e práticas daqueles que o criam e o recriam,
“uma vez que seus interesses, suas escalas de ação determinam processos que, materializados
no espaço definem e redefinem a configuração da cidade.” (p.4). Neste contexto, o capital entra
como elemento chave na produção do espaço das cidades capitalistas: quem possui o poder
capital possui o poder de gerir, comprar, vender e consequentemente, materializar perspectivas
pessoais ou de determinado segmento no tecido da cidade. A produção capitalista do espaço
urbano gera desigualdades, exclusões e privilégios e com Ceará-Mirim não foi diferente.

Durante seus primeiros passos como núcleo urbano, Ceará-Mirim (conhecida até então
como povoado Boca da Mata) era um local habitado por agricultores e comerciantes de grande
poder aquisitivo. Segundo documentos retirados da biblioteca virtual do IBGE, ali “conservou-
se um núcleo de ostentação e luxo. Surgiram os bailes aristocratas, as carruagens forradas
com seda e as festas ricas e pomposas. Esses traços que marcaram uma Era caracterizaram,
no tempo, a etapa patriarcal e escravocrata do açúcar.” (IBGE, 20--?)

Hora Neto (2015) chama atenção para a importância que os eixos de integração
intermunicipal tiveram no processo de crescimento e consolidação da cidade, uma vez que o
povoamento surgiu no cruzamento das estradas que conectavam o sertão potiguar aos
municípios de Natal e Extremoz. Esses eixos eram dotados de um fluxo constante no sentido
82

capital-interior/interior-capital, por onde passavam viajantes, comerciantes e carregamento de


produtos, por exemplo, o que trouxe o dinamismo necessário ao povoado para desencadear
profunda alteração na organização territorial do povoado. Ainda segundo o autor:

“[...]os pontos de cruzamento de estradas referem-se


respectivamente, ao que hoje corresponde à Linha
Férrea (Natal/Ceará- Mirim/Extremoz), às estradas
litorâneas (Trairi /Potengi /Jacoca /Carnaubal/ Quiri/
Maxaranguape /Oceano) e os cruzamentos centrais do
povoado.”
(Hora Neto, 2015, p.31)

Foi nesta época que o povoado rompe com a paisagem rural e seus elementos espaciais
e ganha forma de vila, com as típicas casas duplamente geminadas, sem recuos e com telhados
em duas águas. Em 1855, Ceará-Mirim ganha o título de vila e se torna a sede do município de
Extremoz graças às facilidades ali encontradas e ao crescente desenvolvimento proveniente do
setor açucareiro.

Ainda na segunda metade do século XIX, toma forma o núcleo urbano hoje conhecido
como os bairros Centro, organizado ao redor da referida linha férrea, e Santa Águeda, onde
estão algum dos edifícios arquitetônicos mais marcantes do século XIX, como a Igreja Matriz
Nossa Senhora da Conceição, o Mercado Público de Ceará-Mirim e o Casarão onde hoje
funciona o Colégio Santa Águeda (Figura 38 e 39). Silveira (2015) descreve a Ceará-Mirim
deste momento como uma vila com ares majestosos, onde se respirava os ares da Corte. Este
núcleo forma-se à margem esquerda do rio Ceará-Mirim, que se tornou um limitador de
crescimento do tecido urbano e assim se mantém até os dias de hoje.

Figura 38. Largo da Igreja Matriz em suas primeiras décadas de ocupação.

Fonte. Acervo de Gibson Machado.


83

Figura 39. Mercado Público de Ceará-Mirim.

Fonte. Acervo de Gibson Machado.

É em 1882 que Ceará-Mirim conquista, enfim, o título de município independente e se


desliga, territorial e politicamente, de Extremoz. Durante as três décadas seguintes, até o início
do século XX, o desenvolvimento urbano e econômico de Ceará-Mirim esteve atrelado à
economia açucareira (embora houvessem ainda os comerciantes e agropecuaristas, estes se
apresentavam mais como coadjuvantes à cultura da cana) e o município ocupou o posto de
cidade mais importante no cenário açucareiro potiguar, chegando a produzir 60% do açúcar do
estado. (SANTOS, 2010, P.11 APUD MONTENEGRO, 2004, P.35)

Do final do século XIX para o início do século XX, a crescente industrialização do


mercado açucareiro e os sucessivos investimentos tecnológicos na produção de seus derivados
forçaram os engenhos ceará-mirinenses a modernizarem-se para manter-se competitivos
nacional e internacionalmente (a maioria dos engenhos do município, nesta época, ainda
utilizavam técnicas rudimentares no processo de produção da cana, como a moagem por tração
humana ou animal).

Começaram a aparecer então os engenhos “a vapor”, tendo o primeiro deles sido


instalado no início da década de 70 dos anos oitocentos, chamado Bicas, propriedade de José
Mendes. O local não chegou a funcionar dada a complexidade técnica do equipamento, o que
desmotivou grande parte dos senhores de engenho da época e os tornou menos receptivos à
novidade. (Montenegro, 2004)

Seguindo o fluxo do progresso tecnológico, apareceram então as usinas, muito


superiores aos engenhos, tanto em tamanho como em maquinário. Gradativamente, os engenhos
que não se adaptaram aos moldes industriais foram perdendo espaço e tornando-se obsoletos
84

até que, abandonados, tornaram-se fantasmas na paisagem de Ceará-Mirim (Figura 40).


Segundo, Souza (1999):

“Hoje, quem passar pelo vale do Ceará-Mirim, poderá


perceber a intensidade que a atividade canavieira teve
naquela região, ao ver a quantidade de chaminés
solitárias dos antigos engenhos, dos quais muitos
estão em ruínas.”
(Souza, 1999, p.19)

Figura 40. Casa Grande do Engenho Estrela, em Ceará-Mirim: um dos exemplares de uma
glória esquecida.

Fonte. Acervo de Carla Belke, em flickr.com (acesso em outubro de 2020)

Nas quatro primeiras décadas do século XX, quatro usinas foram fundadas no vale do
Ceará-Mirim: a Ilha Bela (2013), a Guanabara e a São Francisco (1929 – Figura 41) e a Santa
Terezinha (1948). Em 1937, a Guanabara deixou de existir e tornou-se propriedade da Ilha Bela
e, em 1964, a Santa Terezinha teve o mesmo fim.

As usinas trouxeram transformações no contexto e nas relações socioeconômicas do


município: a figura imponente do senhor de engenho desaparecia e este passava a ocupar o
posto de arrendador de terras para as usinas; os canaviais tornaram-se maiores e extensos para
fazer jus a potência de produção que possuíam as usinas; a automação dos processos produtivos
geraram desemprego para uma parcela de camponeses que, morando perto dos engenhos,
85

tiravam dali seu sustento, culminando em um êxodo rural que resultou numa periferia
empobrecida no núcleo urbano do município. (Montenegro, 2004)

Figura 41. Usina São Francisco.

Fonte: tribunadonorte.com.br (acesso em setembro de 2020)

Apesar da glória econômica vivida por Ceará-Mirim no começo do século XX, este
apogeu proporcionado pela indústria açucareira não durou muito. Inúmeros foram os fatores
que levaram ao declínio da economia açucareira no Rio Grande do Norte, os quais Bertrand
elenca a seguir:

“[..]a insuficiência dos engenhos em realizar


melhorias no seu processo produtivo, gerando um
atraso tecnológico; a queda do preço do produto no
mercado internacional; a incapacidade de realizar
melhorias, em tempo hábil, na infraestrutura
(construção de estradas, pontes, estradas de ferro,
canalização de rios, dentre outros); por fim, a volta do
interesse do governo e produtos para o cultivo de
algodão, que apresentavam um novo momento de
aquecimento.
(Bertrand, 2010, p.40)
86

Segundo o autor, esse declínio acabou resultando no abandono de grande parte dos
engenhos e usinas operantes no município, transformando Ceará-Mirim numa região
empobrecida que nada lembra a cidade que um dia foi destaque no RN.

Em Ceará-Mirim, nos anos 1970, problemas administrativos e financeiros afetaram as


últimas duas usinas do município. Montenegro explica que:

“Numa extremidade, estavam os fornecedores de cana


reclamando das formas de pagamento. Na outra, os trabalhadores
rurais, através dos sindicatos, exigindo melhorias salariais. Na
verdade, essas empresas foram se desintegrando e fecharam por
falta de condições para cumprir com débitos contraídos. As
usinas Ilha Bela e São Francisco foram adquiridas em 1971 por
um único grupo empresarial, culminando na unificação da
produção com a criação da Companhia Açucareira Vale do
Ceará-Mirim (CAVCM), sendo esta a única funcionando no
município atualmente, fabricando apenas álcool.

(Montengero, 2004, p.47)

De acordo com reportagem do NOVO JORNAL, publicado em dezembro de 2015, o


fechamento dessas usinas “amargou a economia ceará-mirinense”, que agora subsiste através
do comércio, principalmente, e do serviço público. (Figura 42)

Figura 42. Ruínas da Usina Ilha Bela.

Fonte. Acervo de Carla Belke, em flickr.com (acesso em outubro de 2020)


87

Felizmente, a crescente integração com a capital Natal tem facilitado a busca e a oferta
de serviços não encontrados pelos moradores no município (seja de saúde, lazer ou educação).
No entanto, esta realidade tem transformado Ceará-Mirim em uma cidade dormitório para as
novas gerações, que apesar de morarem no município, não fazem dele palco de suas vivências
cotidianas.

As raízes histórias de Ceará-Mirim são perfeitamente perceptíveis nos diversos


elementos que formam a cidade, sejam eles visíveis, como seu traçado, sua arquitetura e sua
paisagem, ou invisíveis, como a forma que seus moradores enxergam e se relacionam com o
local. Essas raízes, embora não façam mais parte do contexto atual do município, carregam
valores e explicações sobre a cidade, e merecem ser lembradas. (Figura 43)

Figura 43. Vista aérea do entorno da Igreja Matriz (2018), contemplando parte dos bairros
Centro e Santa Águeda, núcleos iniciais de ocupação.

Fonte: franciscoguiacm.blogspot.com (acesso em outubro de 2020)


88

3.2 ATUAL CONTEXTO URBANO DO MUNICÍPIO

Para compreender melhor o tecido urbano ceará-mirinense, é importante entender o


macrozoneamento proposto pelo Plano Diretor de Ceará-Mirim (PDCM, 2006). Segundo o
artigo 15º, o munícipio é dividido em três macrozonas, as quais regem o tipo e a forma de
ocupação do solo (Mapa 01). São estas:

• MACROZONA URBANA: corresponde à área municipal que já se encontra


ocupada em caráter urbano, isto é, com características propícias de uma cidade
urbanizada, com multiplicidade de usos e pleno acesso aos elementos de
infraestrutura urbana (água, esgoto, eletricidade, dentre outros);
• MACROZONA RURAL: trata da área do território municipal que, por suas
características naturais, destina-se ao uso e ocupação de populações rurais,
dedicadas à prática da agropecuária ou de outras atividades não rurais e que, por
sua importância estratégica, deve ter suas dinâmicas e identidade
cultural/ambiental protegidas e preservadas.
• MACROZONA DE EXPANSÃO URBANA: são as zonas que ainda não
foram submetidas à processos de urbanização, com baixa densidade
populacional, mas que possua sistema viário projetado e possa receber
infraestrutura urbana e programas/políticas voltadas à expansão da cidade;

Mapa 01. Macrozonas do Município de Ceará-Mirim.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do PDCM (2006) e Silva (2016).


89

Nos aprofundaremos agora em cada uma dessas macrozonas para compreender melhor
a situação de cada uma, começando pela macrozona rural.

Esta é a maior macrozona do munícipio uma vez que os assentamentos rurais e grandes
propriedades de terra ainda marcam o cenário de Ceará-Mirim, herança da cultura agrícola e
canavieira da cidade, que perdurou até meados do século XX. Segundo o censo IBGE 2010,
cerca de 45% da população vive nesta macrozona. Dada sua vasta extensão territorial, o
município conta atualmente com diversos assentamos rurais em diferentes níveis de
consolidação urbana, muitas vezes chamados pelos moradores de “distritos”. São exemplos
Ponta do Mato, localizado às margens da RN-064, Terra da Santa e Massaranduba, ambos
localizados às margens da BR-406. Segundo Lopes (2008 APUD HORA NETO, 2015), esses
assentamentos foram surgindo de maneira arbitrária dentro do município utilizando,
principalmente, as estradas, rodovias e ferrovias como eixo de crescimento. (Mapa 02)

De acordo com Montenegro (2004), a existência e resistência desses assentamentos


reflete a adaptação das populações rurais aos novos contextos sociais e econômicos do
município, bem como suas novas formas de produzir e utilizar o espaço em prol de sua
subsistência. Para a autora, a reinvenção dessa utilização do espaço frente às novas
condicionantes (favoráveis ou não) é um dos fatores chave para que essas comunidades não se
tornem obsoletas e/ ou excluídas do fluxo socioeconômico que permeia os centros urbanos.

Mapa 02. Assentamentos rurais em Ceará-Mirim (em amarelo) em contraste


com os núcleos urbanizados (em vermelho).

Fonte: Modificado pelo autor a partir de Hora Neto (2015).


90

O nível de integração entre estes assentamentos e os núcleos urbanos do município


também é muito variado. Os mais privilegiados, no entanto, são aqueles que se encontram às
margens das principais vias estaduais ou federais. Isso por que seus habitantes desfrutam de
melhores estradas e, em certos casos, de transporte público intermunicipal.

Tratando então das macrozonas urbanas, é importante esclarecer o que o Plano Diretor
do município considera um núcleo urbano. De acordo com o PDCM (2006):

“3º Área urbana é aquela que atende simultaneamente aos


seguintes critérios:
I- Definição legal pelo Poder Público;
II- Existência de, no mínimo, quatro dos seguintes
equipamentos de infra-estrutura urbana:

a) malha viária com canalização de águas pluviais;


b) rede de abastecimento de água;
c) rede de esgoto;
d) distribuição de energia elétrica e iluminação pública;
e) recolhimento de resíduos sólidos urbanos;
f) tratamento de resíduos sólidos urbanos;
g) densidade demográfica superior a cinco mil
habitantes por km²;”

(PDCM, 2006)

Conforme esta definição, Ceará-Mirim apresenta dois centros urbanos já consolidados.


O primeiro e mais antigo trata-se da sede do poder público municipal, o qual se consolidou
graças a todo o processo descrito no capítulo sobre a história do município. É também neste
núcleo que se encontra o Parque Boca da Mata.

O segundo trata-se do núcleo urbano formado às margens das praias de Muriú e Jacumã,
no litoral do município, há cerca de 20km do núcleo sede. Segundo Hora Neto (2015), o
surgimento deste núcleo praieiro é mais recente e tem maior ligação com o mercado turístico
no litoral potiguar e é independente dos fatores que acarretaram a formação do primeiro núcleo,
não sendo, portanto, tema pertinente a este trabalho. (Mapa 03)
91

Mapa 03. Núcleos urbanos de Ceará-Mirim (em vermelho), com destaque ao núcleo sede.

Fonte: IDEMA.

Figura 44. Igreja Matriz Nossa


Senhora da Conceição.
O núcleo sede é onde são
encontrados a grande maioria dos
equipamentos do munícipio, tais
como praças, escolas, hospitais,
comércios e órgãos públicos, além
das zonas e edifícios de interesse
histórico da cidade (Figura 44) É
subdividido em sete bairros: Santa
Águeda, Centro, Novos Tempos,
São Geraldo, Luís Lopes Varela,
Passa e Fica e Planalto (Mapa 04).
Fonte: cearamirinvelho.blogspot.com
(acesso em outubro de 2020)
92

Mapa 04. Subdivisão dos bairros de Ceará-Mirim.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do PDCM (2006) e Google Maps (2020).

A consolidação deste núcleo deu-se em três momentos distintos, cujas características


foram cristalizadas no tecido urbano e são perceptíveis através de suas formas e elementos
(Mapa 05). Foram eles:

• MOMENTO 01: caracterizado pelas ocupações iniciais às margens do Rio Ceará-


Mirim, no final do século XIX e começo do XIX. Enquadra os bairros de Santa Águeda
e Centro, onde estão localizados os edifícios e equipamentos de interesse histórico e
patrimonial de acordo com o PDCM.
93

• MOMENTO 02: caracterizado pelo crescimento da cidade durante a segunda metade


do século XX, graças ao rico desenvolvimento atrelado à cultura da cana. Enquadra o
restante dos cinco bairros do município.
• MOMENTO 03: momento atual e caracterizado pela expansão do tecido urbano na
forma de conjuntos habitacionais. Teve início no começo dos anos 2000, com o estouro
dos programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida. Esta expansão tem
ocorridos bairros do Planalto e São Geraldo, às margens da BR-406, no interior da
Macrozona de Expansão Urbana.

Mapa 05. Ceará-Mirim: momentos e sentidos de crescimento.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Maps (2020).

A importância que a malha viária possuiu na urbanização de Ceará-Mirim é clara. Em


seu primeiro processo de expansão, a cidade cresceu no sentido sul (ao norte está o rio Ceará-
94

Mirim, que funcionou como uma barreira geográfica para o crescimento nessa direção), ao
longo das duas principais vias da cidade: Av. Enéas Cavalcante e Av. Luís Lopes Varela.

Estas duas vias cruzam todo o núcleo urbano e fazem conexão com a BR-406, RN-064
e RN-307, sendo vias de intenso fluxo de moradores ou viajantes, de automóveis ou de
pedestres. É graças a seu intenso fluxo e visibilidade que ao longo destas vias também se
concentram a maior quantidade de estabelecimentos de comércio e serviço. (Mapa 06)

Mapa 06. Uso do Solo em Ceará-Mirim (predominância por quadra);

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Maps (2020).


95

A partir do início dos anos 2000, a BR-406 torna-se o novo eixo de crescimento urbano,
no sentido oeste e sudeste. As novas áreas urbanas, caracterizadas pelos vários conjuntos
habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), encontram-se no que o PDCM
define como as macrozonas de expansão urbana, que são as áreas nas imediações da BR-406 e
RN-064, conforme mostrado no Mapa 07. (Ceará-Mirim, 2006)

Mapa 07. Macrozona de expansão urbana no núcleo sede de Ceará-Mirim;

Fonte: Produzido pelo autor a partir do PDCM, 2006 (2020);

Mapa 08. Conjuntos habitacionais em Ceará-Mirim.

Existem ao todo, sete


conjuntos de habitação de
interesse social, localizados
de acordo com o Mapa 08.

[1] Novo Horizonte;


[2] São José;
[3] Cond. Res. Adriano;
[4] Natureza 1;
[5] Natureza 2;
[6] Maninho Barreto;
[7] Aloysio Franco;
[8] Guararapes.

Fonte: Produzido pelo autor a partir de Silva, 2016 (2020);


96

Estas macrozonas experimentaram um acelerado processo de urbanização a partir da


virada do último século, principalmente entre 2010 e 2015. Com a rápida implementação dos
conjuntos, o planejamento urbano acabou não acompanhando o processo de urbanização e isso
resultou em áreas carentes de equipamentos e infraestrutura pública (sobretudo nos bairros de
Planalto e São Geraldo) tais como transporte, escolas, hospitais, dentre outros. (Silva, 2016)
Para Hora Neto (2015):

“Essas novas áreas urbanas seguem o modelo centro-periferia de


urbanização, característico dos países subdesenvolvidos, onde a
concentração dos serviços urbanos é estruturada no centro da cidade,
enquanto que a periferia se urbaniza desprovida de planejamento e
subequipada. [...] Percebe-se então que principalmente os equipamentos
voltados à saúde, comércio (supermercados e lojas especializadas) e
transporte não abrangem de maneira satisfatória os novos loteamentos
localizados na macrozona de expansão urbana da cidade.”

(Neto, 2015, p.46-47)

Ao fazer uma sobreposição entre o mapa de usos do solo e o de expansão urbana


podemos perceber o que é dito pelos autores. A zona urbana consolidada nas últimas 2 décadas
(Momento 3) mostra uma variedade de usos bem escassa, sendo quase exclusivamente
residencial (Mapa 09).
Mapa 09. Uso do solo com destaque nos novos tecidos urbanos.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Maps. (2020)


97

Essa falta de diversidade acaba por prejudicar não apenas o direito à cidade dos
moradores, que não tem os serviços básicos ao seu pleno alcance, mas também a vitalidade
dessas áreas (Jacobs, 2009). Para a autora, a diversidade de usos é importante para a dinâmica
urbana pois garante que diferentes pessoas realizem diferentes atividades em diferentes horários
no mesmo entorno, diminuindo a atmosfera de abandono ou insegurança.

Dentre os espaços dos quais essas novas áreas carecem encontramos os espaços verdes
e áreas públicos de uso recreativo¹. O Mapa 10 demonstra as áreas de abrangência dos espaços
livres públicos existentes na cidade Ceará-Mirim. A dimensão das áreas levou em consideração
o pensamento de Jesus e Braga (2005), que estipula um raio de abrangência médio de 500m
para espaços livres com área entre 450 e 20.000m² e um de 200m para espaços com área entre
60 a 500m².

Mapa 10. Área de abrangência dos espaços livre públicos de Ceará-Mirim.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Maps. (2020)

¹ Foram levados em consideração apenas os espaços implementados com alguma infraestrutura para atender a
população (bancos, iluminação e calçamento, por exemplo).
98

Observou-se que estes espaços são frequentes no centro urbano e contemplam a maioria
da população residente na área. Quanto aos tecidos habitacionais, apesar da falta de diversidade
de usos ser um padrão recorrente de forma geral, o conjunto Guararapes, no Planalto, é o único
a sofrer com a absoluta falta de espaços livres, sendo completamente excluído das áreas de
abrangência. No entanto, o bairro faz fronteira com os limites do Parque Boca da Mata, que
poderia apresentar uma solução a este problema com a implementação de uma área visitável
nos arredores.

Em matéria ambiental, o PDCM prevê a existência de quatro tipos de Zonas de Proteção


Ambiental (ZPA). Embora o documento não especifique o perímetro geográfico dessas ZPA, o
artigo 24º e seus parágrafos atribuem as caracterizações de cada uma para fins de classificação.
São elas:

“§1º. A Zona de Proteção Ambiental I – ZPA I constitui-se de áreas de


domínio público ou privado, destinadas a recuperação ambiental urbana, à
proteção dos mananciais, à proteção das áreas estuarinas e seus ecossistemas
associados, e as várias formas de vegetação natural de preservação
permanente, inclusive manguezais, sendo incluídas as margens dos rios e
bacias fechadas de águas pluviais. [...]

§2º. A Zona de Proteção Ambiental II – ZPA II constitui-se de áreas de


domínio público ou privado, que venham a ser classificada pelo órgão
ambiental do município como áreas de risco sujeitas aos eventos ambientais,
que possam trazer riscos aos assentamentos humanos e ao patrimônio
natural, histórico, turístico e cultural ou que apresentem espécies ameaçadas
ou em risco de extinção, classificadas em listas oficiais.

§3º. A Zona de Proteção Ambiental III – ZPA III constitui-se de áreas de


domínio público ou privado, destinadas à proteção integral dos recursos
ambientais nela inseridos, especialmente os ecossistemas lagunares,
associados às formações dunares móveis ou com vegetação de restinga
fixadora e as demais formas de vegetação natural de preservação
permanente[...].
99

§4º. A Zona de Proteção Ambiental IV – ZPA IV se constitui de áreas de


domínio público ou privado, que estejam inseridas na área de abrangência
de Unidades de Conservação da Natureza, sejam elas de Uso Sustentável ou
de Proteção Integral, e destinam-se à conservação do sistema natural a fim
de assegurar o bem-estar da população e conservar ou melhorar as condições
ecológicas locais, evitando a descaracterização das belezas naturais, dos
recursos hídricos e sistemas ecológicos ocorrentes, que constituem fonte de
exploração turística da região e do Estado, compreendendo, especialmente,
as Unidades de Conservação da Natureza e áreas
non aedificandi da orla marítima e sede do município.

(CEARÁ-MIRIM, 2006, p.25-26)

O Parque Boca da Mata, tratado neste trabalho, encontra-se na categoria de ZPA IV. De
acordo com o PDCM, a utilização dessa categoria de ZPA deve possuir, primordialmente, viés
de caráter ambiental e ecológico. No entanto, o plano diretor também prevê a possibilidade de
utilização dessas áreas para urbanização desde que para fins de habitação social, para
regularização fundiária em AEIS ou no interesse da administração pública – desde que não
acarrete impactos negativos à área e nem prejudique a fauna e a flora local e com o devido
licenciamento ambiental (arts. 25º a 27º do Plano Diretor).
100

4. O PARQUE BOCA DA MATA

O Parque Boca da Mata localiza-se na região lindeira do núcleo urbano sede de Ceará-
Mirim, mais precisamente à sudeste do perímetro urbano, às margens da BR-406 (ver figura
45). É margeado pelos bairros Planalto e Luís Lopes Varela.

O presente capítulo tem como objetivo apresentar os principais aspectos do parque,


como seus limites territoriais, sua atual situação ambiental, seus constituintes naturais e a
legislação incidente, reunindo o máximo de informações possível para melhor compreender o
local e fundamentar a proposta da área visitável.

Figura 45. Perímetro do Parque Boca da Mata (à noroeste, o núcleo sede de Ceará-Mirim);

Fonte. Produzido pelo autor com base em imagens de satélite do Google Earth (2020).
101

4.1 PROCESSO DE FORMAÇÃO

Após compreender um pouco sobre o município de Ceará-Mirim e sua história, é


possível perceber que as práticas das queimadas e do desmatamento sempre estiveram atreladas
ao processo de urbanização graças ao mercado açucareiro, que movimentou a economia e
transformou a paisagem do município por mais de um século, substituindo as matas e os pastos
por grandes campos de cultivo de cana (Bertrand, 2010).

No entanto, a produção ceará-mirinense de açúcar perdeu força e prestígio a partir de


1970 devido a fatores como a decadência das lavouras de cana, o baixo preço do açúcar e as
dívidas dos agricultores com o poder público (Santos, 2001). Atualmente, os verdes canaviais,
símbolo dos tempos dourados da cidade, encontram-se varridos pelo vazio e pelo tempo. A
imponência e imensidão destas áreas já não são tão significativas no imaginário e na paisagem
ceará-mirinense, tampouco a cidade recuperou o verde atlântico da mata que um dia cobriu o
município e que foi engolido pelo avanço das usinas e engenhos.

Até o começo dos anos 2000, apenas duas usinas seguiam em atividade no munícipio e
apenas uma encontrava-se próxima ao núcleo urbano sede: a Usina São Francisco, pertencente
à Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim Ltda (CAVCM), que se encontra no processo
de fechamento de portas.

O Parque Boca da Mata nasce da cessão de terras pertencentes à CAVCM ao poder


público municipal, através de um TAC - Termo de Ajustamento de Conduta realizado junto ao
Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), em 04/09/2008, como forma de
disciplinar a prática de queimadas irregulares da palha da cana e compensar os danos causados
pela empresa ao patrimônio ambiental do município. (Soares&Carvalho, 2013)

O parque foi, oficialmente, instituído pelo Decreto Municipal nº 2.132/2008 (celebrado


no mesmo ano em que o município recebeu às terras da CAVCM) que, dentre outras
providências, estabeleceu seus limites territoriais. Segundo este mesmo decreto, passava a ser
domínio do município, para fins de proteção e preservação, cerca de 68,9 hectares de Mata
Atlântica (ver Mapa 11).

Inicialmente o perímetro estabelecido pelo decreto dizia respeito apenas ao fragmento


vegetado em si, que foi cercado. No entanto, o documento não englobou seus arredores
imediatos, que seguiram sofrendo com os problemas ambientais decorrentes da agricultura (os
quais continuaram afetando o fragmento devido a proximidade entre ambos).
102

Mapa 11. Perímetro do Parque Boca da Mata no momento de sua instituição.

Fonte: Produzido pelo autor a partir de imagens satélites e de mapa do local disponibilizado pelo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia -IFRN. (2020)
103

Com sua instituição, o parque juntou-se ao quadro de Unidades de Conservação (UC)


do estado do RN regulamentadas pela lei de nº 9.985/2000 (Lei do Snuc), que oferece diretrizes
para implementação e gestão dessas UC. Unidades de Conservação, por sua vez, tratam-se de
espaços naturais com atributos relevantes e limites bem definidos; sua principal finalidade é
garantir a proteção, preservação e recuperação (quando for o caso) destes espaços.

Como já explicado na primeira parte deste trabalho, as UC dividem-se em dois grupos:


Unidades de Uso Sustentável e Unidades de Proteção Integral, sendo esta última classificação
subdividida em: [1] Estação Ecológica; [2] Reserva Biológica; [3] Parque Nacional; [4]
Monumento Natural e [5] Refúgio de Vida Silvestre. O Boca da Mata enquadra-se na categoria
de Parque Nacional, que segundo o art. 11º do SNUC “tem como objetivo básico a preservação
de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a
realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.”

Segundo Soares e Carvalho (2013), com sua instituição legal o parque passou a enfrentar
algumas dificuldades nas etapas técnicas de implementação, que pôs a área sob Ação Civil
Pública no Ministério Público em 2011. A ACP abordava temas como a necessidade da
produção da parte documental referente ao parque – como a catalogação de espécimes e o plano
de manejo – e da implantação do núcleo visitável da área.

A ação ainda menciona, dentre os desafios existentes, a falta de interesse público (das
gestões até então em vigor) em atender as demandas cobradas pelo SNUC, que tem usado o
processo de duplicação da BR-406 como justificativa para protelar a implantação do parque.
No entanto:

“o receio do Sr. Prefeito em implantar o Parque Municipal Boca da


Mata tendo em vista a possível duplicação da BR 406, não nos
parece razoável, uma vez que o próprio DNIT informa nos autos a
possibilidade de preservar o parque, acrescido de que somente após
processo legislativo poderá se efetuar supressão de parte do
Parque. Além do mais, mesmo que eventual legislação permita que
a pista seja duplicada utilizando uma pequena fatia de terra da
Unidade de Conservação, nem inviabiliza o Parque, nem a
perspectiva da duplicação justifica atrasar a urgente implantação
do Parque, servindo apenas de argumento para protelação por parte
da omissa administração municipal.

(trecho da ACP (2011), p.19)


104

Em 2019, a lei 1.884/19 expandiu e o território pertencente ao Boca da Mata. Segundo


o parágrafo primeiro do art. 4º, o novo perímetro do parque deixou de se resumir ao
fragmentado vegetado e passou a abraçar as terras do entorno imediato, incluindo o Rio do
Mudo e uma nova porção de área vegetada de 70,2 hectares, totalizando 139,1 hectares de mata.
A desapropriação dos terrenos lindeiros ao fragmento original e a inclusão destes na área
protegida do Parque visou a implementação de uma área de amortecimento para proteger os
fragmentos vegetados das atividades agrícolas nocivas em seu entorno e os impactos dela
resultantes, como poluição do ar, dos cursos de água e as perdas de fauna e flora.

Mapa 12. Perímetro atual do Parque Boca da Mata, após a lei 1.884/19.

Fonte: Produzido pelo autor a partir de imagens satélites. (2020)


105

4.2 ATUAL CONTEXTO DO PARQUE

Segundo levantamento realizado pelo IDEMA, o parque Boca da Mata engloba,


atualmente, cerca de 139,1 hectares de Mata Atlântica secundária em estado avançado de
regeneração. Dessa forma, além do SNUC e do Código Floresta, o local é ainda regido em
âmbito federal pelo Decreto 750/93 e pela Lei da Mata Atlântica (11.428/06), que versam sobre
intervenções em reservas deste bioma. De acordo com a definição fornecida pela APREMAVI
(Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), floretas secundárias são as que
resultam de processo natural de regeneração, em áreas onde no passado houve corte raso da
floresta primária. São geralmente encontradas em terras usadas para agricultura ou pastagem,
nas quais a floresta ressurge espontaneamente quando se cessa a atividade. Matas em estado
avançado de regeneração dizem respeito àquelas com mais de 15 anos de regeneração, onde a
“diversidade biológica aumenta à medida que o tempo passa e desde que existam remanescentes
primários para fornecer sementes.” (APREMAVI, 1987) São áreas com maior presença de
vegetação arbórea.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, mapeamentos feitos em 2006 concluíram que


os remanescentes de Mata Atlântica em solo brasileiro correspondem a apenas 27% de sua área
original, e se apresenta em diferentes fisionomias: florestas, campos, restingas, mangues, dentre
outros. No entanto, as áreas grandes e conservadas o suficiente para garantir a plena subsistência
e perpetuação da biodiversidade desse bioma chegam apenas aos 8% da área original.

A lei nº 11.428/06 (Lei da Mata Atlântica), cujo objetivo é zelar pelos remanescentes
do bioma e instituir diretrizes para sua preservação e recuperação, institui que a Mata Atlântica
pode se apresentar através de diferentes poções territoriais e formações florestais em todo
território nacional. Essas formações foram melhor regulamentadas e detalhadas pelo decreto
6.660, de 2008, e representadas no “Mapa da Área de Aplicação da Lei 11.428/2006”, elaborado
e publicado pelo IBGE em 2008 (ver Figura 46). Com base neste mapa, as formações de Mata
Atlântica no estado do Rio Grande do Norte concentram-se nas regiões litorâneas e apresentam-
se em três formações principais. São elas:

“ - FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL: É conhecida como


Mata de Interior e condicionada por dupla estacionalidade climática. Na
região tropical, é definida por dois períodos pluviométricos bem marcados,
um chuvoso e outro seco, com temperaturas médias anuais em torno de 21o
C; e na região subtropical, por um curto período de seca acompanhado de
acentuada queda da temperatura, com as médias mensais abaixo de 15o C.
106

“- ÁREAS DE FORMAÇÕES PIONEIRAS: Constituem os complexos


vegetacionais edáficos de primeira ocupação (pioneiras), que colonizam
terrenos pedologicamente instáveis, relacionados aos processos de
acumulação fluvial, lacustre, marinha, fluviomarinha e eólica. Englobam
a vegetação da restinga, dos manguezais, dos campos salinos e das
comunidades ribeirinhas aluviais e lacustres.

– ZONA DE TENSÃO ECOLÓGICA: Constituem os contatos entre


tipos de vegetação que podem ocorrer na forma de ecótono, quando a
transição se dá por uma mistura florística, envolvendo tipologias com
estruturas fisionômicas semelhantes ou claramente distintas; ou na forma
de encrave, quando a distinção das tipologias vegetacionais, ou mosaicos
entre distintas regiões ecológicas, reflete uma transição edáfica e
resguarda sua identidade ecológica.

(Brasilía, DF. 2010, p. 8,10-11)

Figura 46. Formações de Mata Atlântica encontradas no Rio Grande do Norte e em Ceará-Mirim.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Manual de Adequação Ambiental - Mata Atlântica (DF, 2010)
107

De acordo com o mapa e com as visitas feitas in loco ao perímetro do parque é possível
concluir que o Boca da Mata abriga a formação Floresta Estacional Semidecidual (FES),
enquanto o litoral ceará-mirinense (arredores da praia de Muriú) abriga as Áreas de Formações
Pioneiras. Ainda segundo Ceastro (2002) e Araújo (2009), as FES, também conhecidas como
“Mata Atlântica do Interior” ou “Mata Seca”, ocupam as áreas entre as zonas úmidas do litoral
e o ambiente semiárido e estão frequentemente ameaçadas pelas atividades agrícolas,
principalmente.

Segundo um memorial descritivo do ambientalista e estudioso do PBM Eriberto


Moreira, disponibilizado em agosto de 2020 para complementação deste trabalho, o parque
ainda não conta um catálogo formal das espécies animais e vegetais que resistem no interior da
mata, uma vez que é necessária infraestrutura física com espaços adequados ao estudo,
catalogação e observação dessas espécies. No entanto, o documento afirma que o parque conta
“com considerável presença de árvores de pau-brasil” além de “jacarés, iguanas, cobras,
carcarás, guaxinins, pássaros, [...], palmeiras [...], bromélias e cipós.”

A situação contemporânea da Mata Atlântica é preocupante, seus impactos negativos e


discussões acerca de sua preservação e recuperação já atingem nível global (Campanili, 2010).
Isso porque sua destruição tem surtido consequências tanto no meio urbano – através de
desastres como alagamentos, deslizamento de terras, piora na qualidade do ar e água e invasão
animal – como no ambiental – dano ou perda da biodiversidade citada no parágrafo anterior.

No município de Ceará-Mirim não é diferente. Segundo Soares e Carvalho (2013), as


práticas seculares do desmatamento no município:

“[...]vem acumulando um déficit ambiental sustentado pelas


atuais gerações, não só com os impactos negativos decorrentes
das queimadas na época da colheita da cana, que deixa
o município sob uma densa nuvem de fumaça, mas com o
desmatamento que chega, na atualidade, às matas ciliares do Rio
Ceará-Mirim, seus afluentes e nascentes, provocando o
assoreamento destes rios e as consequentes inundações no Vale
do Ceará-Mirim, com perdas consideráveis da flora e fauna da
região, assim como comprometendo a qualidade de vida das
pessoas que a habitam.”
(Soares e Carvalho, 2013, p.563-564)

Uma vez que o parque ainda não conta com um Plano de Manejo elaborado, decidiu-se
elaborar um mapa um zoneamento das diferentes caracterizações ambientais encontradas na
área do PBM (Mapa 13). O mesmo foi realizado através da observação de imagens de satélite
108

e de visitas in loco ao local. É possível perceber as grandes proporções de áreas degradadas


presente no local, correspondendo a quase 50% de sua área total. Estas áreas encontram-se
principalmente nas imediações do núcleo urbano, já que resultam dos canaviais, enquanto os
fragmentos de Mata Atlântica encontram-se mais afastados no sentido sudeste, onde encontra-
se a Trilha do Cientista (Figura 47).

Mapa 13. Zoneamento do PBM de acordo com as caracterizações ambientais encontradas.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)

O parque resguarda ainda uma Área de Proteção Permanente (APP) às margens do Rio
do Mudo, definida pelo Código Florestal (Lei 12.651/12). (Figura 48)
109

Figura 47. Visuais no interior da Trilha do Cientista.

Fonte: Acervo do autor (2020).

Figura 48. Visuais no Rio do Mudo.

Fonte: Acervo de Eriberto Moreira (2019).


110

As porções definidas como fragmentos vegetais de Mata Atlântica se encontram


mais a sul da BR. (Figuras 49, 50 e 51).

Figura 49, 50 e 51. Visuais dos fragmentos vegetados do PBM a partir da BR-406.

Fonte. Acervo do autor (2020);

Fonte. Soares e Carvalho (2013);


111

Figura 52 e 53. Vistas aéreas da área do PBM em 2000 e em 2010.

2000

Nas figuras 52 e 53, vemos o


parque na década anterior à instituição
da UC. É possível perceber as
atividades agrícolas realizadas nos
canaviais através dos grandes e
ortogonais rasgos no terreno, bem
como as vias informais cortando os
grandes “lotes” de plantação, por onde
passavam os maquinários. Até então,
grande parte da área do parque era
tomada pelas plantações de cana e as
queimadas eram realidade frequente
2010
no local. É importante ressaltar que o
fragmentado original de 68,9 hectares
que original o PBM já resistia à pressão
do mercado açucareiro.

Fonte. Google Earth (2000, 2010).


112

Figura 54 e 55: Vistas aéreas da área do PBM em 2015 e em 2020.

2015
Já figuras 54 e 55, vemos o
parque na década posterior à instituição
da UC (2008). Em 2015 é possível
perceber o processo de desfazimento
dos canaviais e em 2020, já com o
adensamento das novas terras ao
território do parque e encerramento das
atividades canavieiras nos seus
arredores, é possível perceber que o
verde volta a tomar conta do local. Os
elementos humanos mais demarcados

2020
como os lotes canavieiros e as vias
informais já começam a perder sua
forma e se diluir na cobertura vegetal
emergente. Atualmente essas áreas ao
redor do núcleo urbano apresentam
uma forração vegetal composta de
ervas e arbustos predominantemente,
com escassa presença de árvores.

Fonte. Google Earth (2015, 2020).


113

É importante salientar que, apesar da carência de infraestrutura, o Parque Boca da Mata


já é cenário de diversas ações de cunho cultural e educacional, desenvolvidas pelo setor de
Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação Básica de Ceará-Mirim. De acordo
com registros do ambientalista Eriberto Moreira (disponibilizado em dezembro 2019), podemos
destacar algumas que ocorreram entre 2009 e 2019:

• Ações culturais e educacionais durante a Semana do Meio Ambiente, com a presença


de gestores e instituições de ensino;

• Ações de cidadania no Parque Municipal Natural Boca da Mata com a Comissão


Permanente de Gestão Ambiental do Tribunal de Justiça COPEGAM, coordenada pelo
Dr. Cleudson de Araújo Vale, durante “O Setembro Cidadão”, onde ocorreram estudos
vivenciais com alunos da rede Municipal de Ensino. Na ocasião, foi realizada também
uma trilha ecológica, culminando com explanação sobre a importância do Parque;

• Em 05 de junho de 2009, o Setor de Educação Ambiental do Município de Ceará-Mirim,


colocou na programação da semana do Meio Ambiente, uma visita de vistoria ao
Parque, envolvendo todas as Secretarias Municipais, ONGS, Igreja e comunidade com
o objetivo de garantir medidas de preservação e proteção da área.

Ainda segundo o ambientalista, ainda não existe um projeto para a área visitável do
Parque. O que existe em termos arquitetônicos é o projeto para o pórtico de entrada do local,
cuja obra já foi orçada e licitada. Os outros equipamentos ficarão para “outra etapa”, afirmou.

É possível perceber que o Parque Boca da Mata ainda enfrenta uma série de dificuldades
no tocante à sua efetiva regularização técnica e a implementação de sua área visitável. No
entanto, é perceptível o que sua existência já tem feito pelo cenário ambiental da área e é
evidente o seu potencial para o ecoturismo, educação ambiental, pesquisas científicas, lazer,
qualidade de vida e atividades culturais. Para Soares e Carvalho (2013):

“[...] o desafio da conservação dos recursos naturais [do parque] só


será vencido com estratégias e políticas mais amplas que lidem com
a gestão do território de forma integrada, considerando todos os
usos de terra e dos recursos naturais.

(Soares&Carvalho, 2013, p.570)


114

Abaixo, vemos dois quadros (02 e 03) síntese com dados gerais sobre o parque e as
legislações incidentes, que serão usadas para nortear as propostas de projeto.

Quadro 02: Principais legislações incidentes no Parque Boca da Mata;

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

Quadro 03: Informações gerais sobre o Parque Boca da Mata;

Fonte. Produzido pelo autor a partir de Soares e Carvalho (2013).


115

Além das informações conseguidas através de pesquisas, também procurou-se ouvir as


considerações do ambientalista Eriberto Moreira¹, estudioso ceará-mirinense envolvido com o
processo de consolidação do parque. Foi elaborado para isso um formulário virtual e abaixo
serão apresentadas algumas das respostas mais importantes:

SABEMOS QUE A HISTÓRIA DA CIDADE DE CEARÁ-MIRIM ESTÁ


LIGADA À PRODUÇÃO DE CANA, QUE POR MUITO TEMPO FOI
RESPONSÁVEL PELO DESMATAMENTO E QUEIMADA DE NOSSOS BIOMAS.
QUE PREJUÍZOS ESTAS PRÁTICAS TROUXERAM OU TRAZEM PARA O PBM?

“Os impactos das queimadas de cana influenciaram a diminuição da biodiversidade


animal por meio da perda de habitat ou morte de animais que utilizam o canavial para
nidificação ou alimentação. A biodiversidade vegetal também é ameaçada em áreas
adjacentes as dos canaviais queimados, por se tornarem mais susceptíveis aos incêndios
acidentais. Esta situação causou prejuízos também especificamente à área do Parque
Municipal Natural Boca da Mata, situada em divisa com os canaviais tanto, que motivou a
desapropriação da área [...] Constatei em incêndios nos canaviais que adentraram ao parque,
onde encontramos jacarés, iguanas, serpentes e várias espécies expostas ao solo queimadas
pelo fogo da devastação.”

CEARÁ-MIRIM ATUALMENTE NÃO DISPÕE DE ESPAÇOS PÚBLICOS DO


GÊNERO “PARQUE URBANO”. COMO VOCÊ ACHA QUE A ÁREA VISITÁVEL
DO PBM SERIA RECEBIDA PELOS MORADORES? E PELAS INSTITUIÇÕES?

“Percebi, nos nossos eventos realizados no parque, grande interesse dos moradores e
instituições em conhecer a área interna do parque, participações excelentes e efetivas nos
eventos que realizamos lá. O Parque Municipal Boca da Mata é composto de áreas verdes
que traria qualidade de vida para a população. As atividades realizadas proporcionariam
diferentes benefícios psicológicos, sociais e físicos a saúde dos moradores, como, por
exemplo, a redução do sedentarismo, prática de meditação e práticas espirituais, e amenizar
o estresse do cotidiano urbano, e hoje as pessoas estão aderindo à cultura da caminhada ao
ar livre.”

QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE A IMPLEMENTAÇÃO DO PARQUE BOCA


DA MATA TRARIA AOS MORADORES DE CEARÁ-MIRIM?
116

“O Parque Municipal Natural Boca da Mata se constitui numa excelente área de lazer
para todas as idades; criação de trilhas para desenvolvimento de estudos ambientais; espaço
destinado para prática esportiva; Criação de um viveiro de plantas estruturado para fornecer
mudas para as escolas do bairro e a população em geral, privilegiando as espécies nativas da
flora existente no local; Praça de alimentação e demais estruturas com cunho ambiental,
cultural e educacional. O parque seria também um espaço factível para prática da Educação
Ambiental, com base em projetos transdisciplinares de ensino e seus temas, contribuindo
para promover uma reforma de pensamento que possibilita o pensar sistêmico.”

VOCÊ ACHA QUE A IMPLEMENTAÇÃO DO NÚCLEO VISITÁVEL DO


PBM AUXILIARIA NA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES?

“As práticas de Educação Ambiental realizadas no parque constituem-se em


importantes ferramentas para sensibilizar, capacitar e despertar os visitantes para
conscientização ambiental para que sejam futuros cidadãos responsáveis pela preservação da
biodiversidade e por uma cidade sustentável. Em nossos estudos, constatamos a emoção,
alegria e afeto principalmente das crianças e adolescentes quando visitavam o Parque Natural
Municipal Boca da Mata. Por meio de atividades lúdicas, os pequenos aprendem sobre
atitudes para conservação da natureza e a manutenção dos recursos naturais.”

O BOCA DA MATA JÁ DISPÕES DE TODA DOCUMENTAÇÃO


NECESSÁRIA COBRADA PELO SNUC? HÁ ALGUM PROCESSO EM
ANDAMENTO PARA CONFECÇÃO DESTES DOCUMENTOS?

Ainda falta o plano de manejo, Conselho Gestor, catalogação de espécies da fauna e


flora. Nenhum destes documentos estão em andamento.

QUAIS AS PERSPECTIVAS DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS COM O


BOCA DA MATA QUANTO À SUA RESTAURAÇÃO VEGETAL E ANIMAL?

“Os trabalhos de restauração vegetal e animal tem como objetivo guiar o ecossistema
para ficar o mais próximo possível da condição em que se encontrava antes da degradação.
A restauração deve trazer, reproduzir as paisagens inerentes ao ecossistema, restabelec er a
composição das espécies e os genótipos locais. Já existe alguns projetos com esta finalidade
acontecendo dentro do parque, realizados por empresas privadas que cumprem
condicionantes. Acreditamos que com um plano de manejo efetivado, e se conseguirmos
117

despertar o interesse das instituições públicas e privadas alcançaremos os resultados


esperados.”

QUE TIPO DE EQUIPAMENTOS, ESPAÇOS, LABORATÓRIOS VOCÊ


CONSIDERA NECESSÁRIO AO NÚCLEO VISITÁVEL PARA QUE O MESMO
OFEREÇA SUPORTE AOS ESTUDOS AMBIENTAIS DO PARQUE?

“Sede administrativa, auditório, alojamento para pesquisadores, ateliê de arte


ambiental, museu, biblioteca, mirante, passarelas sobre o rio e a mata, guarda corpo,
estacionamento, praça de alimentação, lixeiras em geral, prédio da Guarda Ambiental,
sinalização das trilhas. A arquitetura proporciona experiências ao ser humano, uma mudança
de vida, projetando de acordo com os pressupostos da sustentabilidade ambiental e as
necessidades de uma terra pátria.”

Além de reunir informações sobre a cidade e sobre o parque, este trabalho também
buscou coletar informações sobre aqueles que iriam utilizar o espaço: o povo ceará -
mirinense. A próxima etapa apresenta os resultados das pesquisas com a população.

¹ A entrevista foi concedida em outubro de 2020, com o intuito de organizar as ideias de Eriberto num corpo
textual. No entanto, o profissional manteve-se à disposição desde o fim de 2019, orientando e fornecendo
explicações e documentos ao longo da realização deste trabalho.
118

A terceira parte deste trabalho dedicou-se ao contato com os potenciais usuários


do projeto de área visitável para o Parque Boca da Mata, a fim de identificar suas
necessidades, compreender suas demandas e conhecer suas expectativas para um espaço
deste porte, visto que seria o primeiro em Ceará-Mirim.

Ao longo deste capítulo será apresentada a metodologia utilizada, como se deu o


processo de coleta e análise de dados junto aos envolvidos e os resultados obtidos destas
consultas.

A terceira parte deste trabalho é dedicada à exposição e


explicação dos resultados obtidos através do contato com a
população do município. A etapa contou com entrevistas
presenciais, aplicação de formulários virtuais e observações de
campo e buscou atingir dois diferentes públicos de potenciais
usuários do projeto: as pessoas físicas e as pessoas jurídicas,
visando compreender suas demandas, perspectivas e anseios
para um equipamento do gênero.

Também serão apresentados os estudos de referência


realizados a projetos de parques urbanos já existentes, a fim de
compreender o funcionamento desses locais, seus problemas e
potencialidades. Por fim, com base nesses dados, será
apresentado o programa de necessidades adotado para o
projeto.
119

5. O ESPAÇO VERDE E O CEARÁ-MIRINENSE

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos através do contato com a


população ceará-mirinenses: os potenciais usuários do projeto a ser proposto.

5.1 PRAÇAS, PRA QUÊ TE QUERO?

Uma vez escolhido o tema deste TFG, ficou evidente a necessidade de um trabalho
de pesquisa com a população ceará-mirinense. Segundo Jacobs (2009), os tempos
modernos trouxeram consigo uma perda da natureza coletiva do homem, que tem
abandonado cada vez mais, ainda que de forma involuntária, os espaços públicos de
convívio. Um agravante desse problema é o fato de que, muitas vezes, estes projetos não
são pensados para atender os anseios da população mas são, ora implementado pelas
gestões públicas com a mera finalidade de existir no tecido urbano (seja num pequeno
lote desapropriado ou num encontro de vias), ora simplórios demais, não apresentando
nenhum atrativo que motive o cidadão a deixar o conforto e segurança do seu lar ou de
outros ambientes de entretenimento fechado, como shoppings.

Dessa forma, a vitalidade¹ desses espaços fica comprometida, gerando um


impacto negativo nos arredores. Gehl (2013) afirma que os espaços públicos devem servir
à população e por isso, estar ligados ao seu cotidiano, atendendo suas perspectivas e
suprindo suas necessidades. Ainda para o autor, a vitalidade dos espaços urbanos também
tem um caráter cíclico: as pessoas vão aonde as pessoas estão e as pessoas estão,
obviamente, aonde vão. Logo é necessário, ao planejar um espaço público, ter a noção do
comportamento de uma população frente a estes espaços.

Desta prerrogativa nasceu o trabalho de pesquisa denominado “Praças, pra quê te


quero?”, realizado em 2019.1 para a disciplina de Planejamento e Projeto Urbano e
Regional (PPUR 06). Este trabalho buscou realizar a parte de pesquisa que seria,
posteriormente, necessária a esse TFG (e que não poderia ter sido executada durante a
realização do mesmo devido ao isolamento social requerido durante a pandemia da
COVID-19). O trabalho estudou a relação entre os moradores de Ceará-Mirim e a
infraestrutura de suas praças – não existindo outros parques na cidade, a praça seria o
equipamento mais próximo a ele em termos de formato e finalidade – e buscou
compreender o papel desta infraestrutura na vitalidade destes locais e no comportamento
dos usuários. Neste item serão apresentados, num panorama geral, os resultados obtidos

¹ Entende-se “vitalidade urbana” como a presença de vida humana nas vias e espaços públicos, isto é, a
presença de indivíduos indo, vindo, permanecendo e realizando suas atividades cotidianas em
determinado espaço. (Jacobs, 2009)
120

por este trabalho de pesquisa uma vez que justificam algumas decisões tomadas no
produto final do TFG.

Ao todo foram estudadas quatro praças da cidade (Mapa 14 e Figuras 57, 58, 59 e
60), em diferentes bairros e com diferentes tamanhos, níveis de infraestrutura e oferta de
equipamentos. Os locais foram observados ao longo de 60 dias (entre abril e junho de
2019). Durante as visitas, o trabalho buscou:

[1] Caracterizar e avaliar a infraestrutura do local;

[2] Observar o local durante sua utilização;

[3] Estabelecer contato com os usuários;

Na primeira etapa, as praças foram enquadradas em conceitos numéricos de 1 a 4


(sendo 1 = ruim; 2 = regular, 3 = bom e 4 = ótimo), segundo a metodologia proposta por
Angelis (2005) para análise de sua infraestrutura e integridade física. Entende-se por
infraestrutura todo o conjunto de elementos físicos que constituem o espaço, como
equipamentos, mobiliário, pavimentação, arborização, dentre outros.

Mapa 14. Espaços estudados na pesquisa de PPUR 06: Praças, pra quê te quero?

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Maps. (2020)


121

Figura 56. Praça 01 (Barão de Ceará-Mirim).

Fonte: Google Street View (2020).

Figura 57. Praça 02 (Sem nome específico);

Fonte: Google Street View (2020).

Figura 58. Praça 03 (Praça das Cinco Bocas).

Fonte: Google Street View (2020).


122

Figura 59. Praça 04 (Praça Cidade de Vagos);

Fonte: Google Street View (2020).

Através do diagnóstico de infraestrutura, percebeu-se que a boa manutenção


destes espaços públicos não é um fator que, sozinho, é capaz de responder pela sua
vitalidade. De acordo com o Quadro 01 , é possível observar que todas as praças
possuíram uma boa conceituação, mas mesmo assim enfrentavam problemas no quesito
vitalidade.

Quadro 04. Conceitos atribuídos às praças estudadas na pesquisa.

PRAÇA BARÃO DE CEARÁ-MIRIM = CONCEITO 3

PRAÇA 02 (SEM NOME ESPECÍFICO) = CONCEITO 3

PRAÇA DAS CINCO BOCAS = CONCEITO 3

PRAÇA CIDADE DE VAGOS = CONCEITO 4


Fonte: Produzido pelo autor (2019).

Na segunda etapa de visitas, os usuários e transeuntes de cada praça foram


observados por períodos de duas horas (ao todo totalizou-se 72 usuários observados).
Suas interações e comportamentos mais significativos foram anotados em planilhas
descritivas, as quais versavam sobre a faixa etária dos usuários; os ambientes e
equipamentos mais utilizados por cada faixa etária e qual tipo de atividade realizava-se
123

no local por cada indivíduo ou grupo de indivíduos – estas atividades foram divididas em
quatro tipos:

RECREAÇÃO: definida por atividades ativas de cunho recreativo em qualquer


de suas modalidades e em qualquer tipo de espaço;

ESPORTE: definida por atividades ativas de cunho esportivo em qualquer de


suas modalidades e em qualquer tipo de espaço;

CONTEMPLAÇÃO: definida por atividades passivas (tais como sentar, deitar,


caminhar) onde o indivíduo, sozinho ou acompanhado, usufrui de sua estada no espaço;

CONVIVÊNCIA: definida por atividades passivas (tais como conversar, namorar)


onde o indivíduo, acompanhado, utiliza o espaço como cenário de interações sociais;

As atividades de cunho ativo Gráfico 01. Percentual de atividades realizadas


nas praças por categoria;
apresentaram-se como a grande
preferência dos indivíduos
observados, sendo o tipo de atividade
buscada por cerca de 57.8% deles.
Estes tipos de atividade (recreação e
esporte) mostraram também estar
intimamente à vitalidade desses locais,
uma vez que as praças que ofereciam
equipamentos próprios para estas
atividades apresentavam maior
quantidade de usuários em diferentes
Fonte: Produzido pelo autor (2020).
horários do dia.

O gráfico de faixa etária dos indivíduos aponta para a grande quantidade de


jovens ocupando estes espaços, através da formação de grupos para a realização de
atividades de convivência e esporte, principalmente. Também chama atenção a baixa
quantidade de crianças. As encontradas durante as visitas estavam sempre acompanhadas
por adultos, devido a faixa etária, e, por isso, estavam sempre em ambientes que
favorecessem a estada de seus supervisores (locais com sombra, bancos, iluminação, etc).
124

Gráfico 02. Faixa etária dos usuários observados nas praças.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Ao serem indagados sobre a situação, alguns dos entrevistados atribuíram o fato


à ausência de equipamentos infantis (como parquinhos) na maioria das praças da cidade
e de equipamentos que atraíssem também os pais ou responsáveis, pois uma vez que estes
precisam frequentar o local para que os pequenos também frequentem, é necessário que
também vejam atividades de seu interesse ou, caso contrário, “não compensa sair de casa
e ir até a pracinha só pra ficar vendo os menino brincar”. (adaptado de entrevista realizada
com usuária da Praça Barão de Ceará-Mirim em maio de 2019).

Uma dinâmica existente entre os usuários foi ainda observada nas praças
estudadas. A primeira diz respeito à utilização das áreas de uso passivo: àquelas
caracterizadas pela presença de mobiliários como bancos, mesas, gazebos, dentre outros.
Estas áreas tendem a ser menos utilizadas quando:

[1] Ficam muito longe das vistas da rua ou das zonas de maior movimento, por
causa da sensação de insegurança;

[2] Não há ninguém por perto realizando alguma atividade que vitalize a área.

No entanto, essas condicionantes não se aplicam com a mesma intensidade às


áreas de uso ativo, que mostraram ser utilizadas em qualquer horário e em qualquer local
do espaço público, independente da presença de terceiros. Dessa forma, as áreas de uso
ativo funcionam como um chamariz inicial de usuários para a praça e, quando utilizadas,
125

potencializam o poder de atração das áreas passivas pois anulam as condicionantes que
dificultam seu uso. O trabalho exemplifica está dinâmica no contexto da Praça Cidade de
Vagos:
“Na Praça da COHAB, situação semelhante
também se apresentou: na primeira visita, fim de semana,
as quadras e o quiosque estavam em pleno
funcionamento, e era possível perceber a presença de
usuários em toda a extensão da praça. Na segunda visita,
em dia de semana, quando apenas uma das quadras estava
sendo utilizada, os praticantes do convívio ficaram
próximos a esta, e mais longe da outra, que apesar de
iluminada, estava vazia.

(Mendes, 2019, p.58)

A terceira etapa do trabalho teve como principal objetivo o contato com os


usuários destes espaços. Neste momento da pesquisa, levou-se em consideração o
conceito de cidade dormitório, que em muito já se aplica ao local. Esse termo refere-se à
cidades com economia pouco dinâmica, cujas atividades não são suficientes para fixar e
empregar toda população e por isso, parte significativa desta gente apenas reside no local,
mas trabalha ou estuda em outra cidade (Ojima, Pereira, Silva, 2008). No caso de Ceará-
Mirim, encontramos um contexto econômico não muito próspero. Como já visto no
capítulo sobre a história do município, Ceará-Mirim despontou como cidade graças à
indústria açucareira, que gerava emprego, renda e movimentava a economia da cidade.
No entanto, com o declínio na produção do açúcar e com o fechamento das usinas, os
ceará-mirinenses voltaram-se para Natal e, atualmente, uma parcela significativa da
cidade exerce parte de suas atividades cotidianas na capital.

Por essa razão, a pesquisa divide a população ceará-mirinense em dois grandes


grupos: aqueles que habitam a cidade de forma integral e àqueles que a habitam como
cidade dormitório, os moradores “temporários”. Essa divisão teve como objetivo detectar
as diferenças entre as necessidades e perspectivas dos dois grupos para com os espaços
públicos e seus equipamentos. Nos dois casos foram realizadas entrevistas com esses
moradores, totalizando 122 entrevistados (58 do primeiro grupo e 64 do segundo, entre
homens e mulheres, jovens e adultos).

Os entrevistados do primeiro grupo responderam entrevistas presenciais,


realizadas durante as visitas de campo, que versavam sobre sua frequência no local,
126

hábitos de lazer, opiniões pessoais e perspectivas para espaços públicos do gênero. Os


do segundo responderam entrevistas virtuais, focadas nos mesmos temas.

No caso do primeiro grupo, encontramos uma população que ainda enxerga seus
espaços públicos como potenciais espaços de lazer, ainda que careçam de equipamentos
ou atividades mais atrativas. Também percebeu-se que o poder de atratividade das praças
mais bem equipadas transcendia seu entorno imediato, isto é, os espaços que
apresentavam mais variedade de atividades ativas e passivas acabava chamando usuários
de outros bairros para dentro de si e não apenas os moradores das imediações.

No caso do segundo grupo, encontramos uma realidade completamente diferente.


Vejamos os gráficos a seguir:

Gráfico 03. Moradores temporários: o Gráfico 04. Moradores temporários:


que fazem na capital? quanto tempo passam fora?

Fonte: Produzido pelo autor (2020). Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Trata-se de uma parcela populacional que mais vive em Natal que em Ceará-
Mirim, seja por estudo ou trabalho, cujos padrões de lazer são mais exigentes graças ao
cotidiano da capital, que oferece shoppings, praias ou mesmo espaços públicos mais
interessantes, como o caso do Parque das Dunas, mencionado por alguns dos
entrevistados. Quando indagados sobre a busca pelo lazer em suas horas vagas, apenas
36% dos entrevistados disseram enxergar bons espaços de lazer em Ceará-Mirim. Dos
127

64% restantes, a maioria alegou não gostar de sair de casa por “não encontrar nada
interessante pra fazer na cidade.” (adaptado das entrevistas realizadas em maio de 2019).

Gráfico 05. Moradores temporários: onde


buscam lazer e recreação?

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Dos que buscam lazer dentro de Ceará-Mirim, 58% afirmou não buscar lazer em
praças ou espaços do gênero justamente pela falta de atrativos. Quando indagados sobre
os atrativos que os motivariam a frequentar estes espaços, os entrevistados apontaram,
principalmente, a presença de arborização, de segurança e de equipamentos que
permitissem o exercício físico e a prática da convivência.

Os 42% que disseram buscar estes espaços públicos para o exercício do lazer
apontaram a prática do esporte e da arte (cantar, dançar, tocar) como as principais
justificativa para o uso destes espaços.

Fazendo um apanhado das perspectivas dos dois grupos, concluiu-se que as praças
ainda existem como espaço de lazer em potencial, mas que precisam ser reestruturadas
para atender às expectativas e demandas da população, tornando-as mais atraentes e
cheias de vitalidade. De acordo com o gráfico 06, vemos a opinião dos 122 entrevistados
sobre a atratividade das praças em Ceará-Mirim:
128

Gráfico 06. Opinião dos ceará-mirinenses sobre usas praças.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Ainda dentro do quesito atratividade, buscou-se o conhecimento de quais


elementos, na perspectiva dos entrevistados, tornam um espaço verde atrativo e quais
destes mesmos elementos mais sentem falta nos espaços de Ceará-Mirim. O resultado é
explicitado nos gráficos 07 e 08:

Gráfico 07. Aspectos que mais tornam os espaços verdes atrativos.

Gráfico 08. Aspectos que mais são ausentes nas praças de Ceará-Mirim.

Fonte: Produzidos pelo autor (2020).


129

Os resultados desta pesquisa ajudaram a compreender mais sobre a visão que


diferentes moradores, de diferentes bairros e com diferentes rotinas tem das praças da
cidade e que atributos seriam mais atrativos e funcionais num projeto do gênero. Também
revelou um pouco mais sobre como a população ceará-mirinense usa estes espaços e com
que finalidade deixam suas casas para utilizar o espaço público. Este conhecimento há de
tornar-se em diretrizes projetuais para o parque proposto, visando um projeto mais
compatível com a realidade e opinião dos moradores.
130

5.2 UM PARQUE PARA GRANDES PÚBLICOS

Ao longo dos estudos realizados sobre os parques urbanos, observou-se que seus
variados equipamentos atendem a população em diversas escalas, oferecendo suporte
também à atividades de grandes grupos ou públicos. Logo, além das informações
coletadas sobre os moradores da cidade, que buscam os espaços públicos para
entretenimento pessoal, viu-se também a necessidade de compreender a relevância e a
necessidade de equipamentos de maior porte, como auditórios e pavilhões, que excedem
a escala do indivíduo.

Em Ceará-Mirim, a ausência ou escassez desses equipamentos em espaços


públicos acaba por dificultar ou apresentar inconveniências dos mais diversos tipos às
instituições ou entidades que desejam promover eventos científicos, esportivos,
religiosos, culturais ou artísticos, como questões burocráticas ou de pouca oferta pra uma
alta demanda¹. Essas instituições, muitas vezes, acabam tendo que recorrer a espaços de
terceiros, como clubes ou outras instituições, para poder usufruir de alguma infraestrutura
que porventura não possuam.

Para compreender as necessidades dessas instituições e suas perspectivas para um


projeto de parque urbano em Ceará-Mirim, elaborou-se um formulário virtual que foi
aplicado, prioritariamente, ao pessoal ligado à direção e gestão desses locais (diretores,
vice-diretores ou supervisores), que conhecessem bem as necessidades e atividades ali
exercidas. Nos casos em que foi possível um contato mais próximo com esses gestores
(telefonemas ou entrevistas virtuais), foi possível aprofundar-se nas questões presentes
no formulário e atingir um grau maior de subjetividade nas respostas. Inicialmente,
pretendiam-se alcançar apenas as entidades educacionais e da gestão pública, no entanto,
durante a realização da aplicação dos primeiros formulários, a fala de uma entrevistada
revelou que as instituições religiosas também compartilhavam das necessidades por
espaços externos e, por isso, foram adicionadas ao rol de instituições procuradas.

“Os espaços externos que existem em Ceará-Mirim não servem apenas às


escolas, mas o pessoal das igrejas também usa [esses espaços] para fazer
cultos, congressos ou apresentações. Eles inclusive, às vezes, chegam a
utilizar o espaço das escolas para realizar seus eventos quando necessitam
de um local que tenha cozinha, salas de aula, ou coisas do tipo, por que
você não acha isso disponível aqui [na cidade], ou quando acha, não está
funcionando.”

- Mª Auxiliadora, supervisora da E.E. Augusto Meira (2000-2017)


¹ Informações retiradas dos formulários aplicados. O documento virtual ficou disponível para resposta de
agosto a novembro de 2020.
131

Ao todo foram alcançadas onze instituições, sendo sete de ensino, duas religiosas,
uma artística e um órgão público. (Quadro 02)

O formulário abordou pontos como a presença ou ausência de infraestrutura nas


instituições, a presença ou ausência de infraestrutura urbana para suportar seus eventos,
os tipos de eventos realizados por elas e o impacto que um espaço como o Boca da Mata
poderia oferecer caso oferecesse os equipamentos desejados. Essas informações serão,
assim como as coletadas no subcapítulo anterior, serão usadas pra fundamentar o
programa de necessidades escolhido para o projeto.

Quadro 05. Instituições onde foram aplicados os formulários.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)

De acordo com a pesquisa, a existência do Parque Boca da Mata é conhecida por


100% dos gestores dessas instituições. No entanto, apenas três das onze alcançadas
relataram já ter utilizado o espaço, enquanto o restante afirmou nunca ter procurado o
local para realização de seus eventos. (Gráfico 09)
132

Gráfico 09. Utilização do Boca da Mata por parte das entidades municipais.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)

Esta informação contrasta com o fato de que todas as instituições entrevistadas


procuram espaços externos para a realização de suas programações. Mas porque não
procurar o Boca da Mata? Ainda segundo o Gráfico 09, é possível perceber que as razões
de sua não utilização estão ligadas à falta de infraestrutura no local. A Figura 61 apresenta
um “Espectro de Frequência” na realização de atividades externas, construído a partir de
uma nota autoavaliava (de 1 a 10) que as gestões atribuíram às suas instituições.

Gráfico 10. Espectro de Frequência na realização de eventos externos.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)


133

Quanto aos eventos externos realizados por essas entidades, optou-se por dividi-
los em quatro categorias, definidas da seguinte forma:

• ATIVIDADES RECREATIVAS: são aquelas ligadas ao lazer ou ao esporte.


• ATIVIDADES CELEBRATIVAS: são aquelas ligadas à comemoração/
celebração de alguma data/ evento (aqui estão inseridos os cultos religiosos).
• ATIVIDADES ACADÊMICAS: são aquelas ligadas à disseminação do
conhecimento.
• ATIVIDADES ARTÍSTICAS: são aquelas voltadas à prática da arte e da cultura,
através do exercício de canto, danças, apresentações, exposições, etc.

O Quadro 03 faz uma tipificação dos eventos realizados pelas instituições em cada
categoria. O Gráfico 11, por sua vez, retrata a porcentagem de cada categoria dentro do
total de atividades citadas nos formulários.

Quadro 06. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)

Gráfico 11. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)


134

As atividades recreativas e celebrativas se mostraram a maior razão para procura


de espaços externos, correspondendo a 75,6% das atividades citadas, as quais demandam
ambientes mais amplos e mais robustos. O formulário também questionou quais locais
eram mais buscados para realização destas atividades e dois espaços se destacaram por
terem sido mencionados pela maioria dos entrevistados: o Clube do UNISESP e o Palácio
dos Esportes Anderson Elói.

O primeiro trata-se de um espaço privado localizado no bairro Luís Lopes Varela.


O local conta com cozinha, salas, banheiros, piscinas, área de estacionamento interno e
um átrio para realização de atividades. É o único clube da cidade com esta infraestrutura,
fazendo com que a demanda pelo seu espaço seja alta tanto entre as instituições como
entre os moradores, que o procuram para realização de aniversários ou casamentos. É
geralmente preferido para eventos de longa duração, por causa de sua infraestrutura e da
versatilidade de layouts que comporta, podendo se adequar às necessidades dos usuários.

Figura 60: Reunião pública administrativa no átrio do clube do UNISESP.

Fonte: cearamirimnoticias.com. Acesso em outubro de 2020.

O segundo espaço trata-se de um edifício público localizado no bairro Santa


Águeda. O espaço consiste basicamente em uma quadra central poliesportiva,
135

arquibancadas, banheiros e vestiários (estes dois últimos em péssimo estado de


funcionamento, segundo um dos gestores entrevistados). O espaço é bastante utilizado
para escolas e órgãos do município para eventos com públicos muito grandes ou para
apresentações artísticas, como quadrilhas juninas ou desfiles, que acontecem na quadra.

Figura 61: Abertura dos Jogos Internos do CEEP, no Palácio Anderson Elói.

Fonte: Acervo de Cristovam Lima (2019).

Gráfico 12. Grau de satisfação das instituições


O prédio foi bastante criticado pelos
entrevistadas com espaços da cidade.
entrevistados pela falta de estacionamento
externo e pelo péssimo desempenho acústico
e térmico. No entanto, sua intensa procura
deve-se ao fato de que, como já explicado,
Ceará-Mirim não dispõe de muitas opções de
espaços semelhantes para atender as
demandas das instituições, o que gera
concorrência em épocas festivas do ano,
além da habitual burocracia para conseguir a
concessão destes espaços. Segundo o
Gráfico 12, apenas 4 das 11 instituições
alcançadas encontram-se satisfeitas com a
oferta de espaços externos na cidade. Fonte: Produzido pelo autor. (2020)
136

As outras 7 instituições encontram-se divididas em insatisfeitas (as que acreditam


na necessidade de novos equipamentos para atender a demanda existente) e as
razoavelmente satisfeitas (que acreditam que Ceará-Mirim possui uma boa oferta de
equipamentos, mas que parte deles precisam ser reestruturados/melhorados). Dentre estas
encontram-se principalmente as escolas municipais, que são mais carentes de
infraestrutura, e as instituições religiosas que, pela natureza de suas atividades, buscam
constantemente espaços fora de suas congregações para realizar eventos de maior público.
Estes espaços acabam sendo, muitas vezes, as quadras das escolas ou de praças da cidade,
ou, em casos de comemorações muito grandes, são realizados na rua pela falta de espaços
estruturados que comportem os fiéis. Foi o caso do Centenário da Assembleia de Deus
em Ceará-Mirim, evento que ocorreu no largo do Monumento Rotary, na entrada da
cidade, que reuniu cerca de 900 pessoas às margens da BR-406.

Figuras 62 e 63: Cultos evangélicos acontecendo nas quadras da E.E. Ubaldo


Bezerra (à esquerda) e da E.E Celso Cicco (à direita).

Fonte: Acervo do Pr. Abdênego Xavier (2017)


Figuras 64: Largo do Monumento Rotary.

Fonte: Street View (2020).


137

Figuras 65: Largo do Monumento Rotary durante o evento do Centenário.

Fonte: Jesuíno Produções (2019).

Ainda de acordo com os resultados obtidos, constatou-se que 5 das 11 instituições


consultadas já deixaram de realizar aulas ou eventos por falta de infraestrutura física em
seu interior e por inviabilidade de usar a da cidade (ou mesmo por inexistência dela).
Dentre os principais espaços citados por estas estavam: quadras, espaços amplos e
cobertos e espaços de auditório.

Quando apresentados à hipótese do Parque Boca da Mata contemplar suas


necessidades através da implantação de novos equipamentos de lazer, cultura e educação
para a cidade, os gestores mostraram-se bastante receptíveis à ideia. “Valorizaria muito
a cidade, bem como atenderia às necessidades sociais, culturais e religiosas da
população de modo geral.”, disse Lucineide Souza, uma das entrevistadas. Joaracy
Peixoto, diretora do CEEP, acrescenta que “há somente pontos positivos desde que tenha
uma logística de segurança e manutenção destes espaços”.¹

Os gestores ainda tiveram a oportunidade de apontar, dentre uma série de


equipamentos apresentados, três que consideravam de maior utilidade à sua instituição se
implementados na área visitável do parque. Os resultados são apresentados no Gráfico
13.

¹ Citações retiradas das respostas recebidas no mês de agosto de 2020.


138

Gráfico 13: Preferência por equipamentos das instituições entrevistadas.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Um segundo formulário também foi elaborado e direcionado às instituições de


ensino, apenas. O formulário versou sobre a relação destas escolas com o ensino e contato
com o meio ambiente e com o tipo de atividade que elas poderiam realizar numa área
como o Boca da Mata.

Os gestores destas escolas mostraram interesse em utilizar o espaço do parque


como extensão da sala de aula, um local para os alunos poderem aprender de forma prática
sobre o meio ambiente. Por isso, além dos equipamentos estudados ao longo deste
capítulo, é importante pensar na implementação de espaços destinados à estas
instituições. De acordo com as respostas recebidas foi possível constatar que há um
interessa de se utilizar o espaço do parque para atividades extraclasse e, se possível, ter
no local espaços que sirvam como extensão do ambiente e da infraestrutura escolar. Esses
aspectos serão levados em consideração na elaboração do programa de necessidades.
139

6. ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Para auxiliar na elaboração do programa de necessidades do projeto e na


compreensão do funcionamento de um parque urbano, optou-se por realizar também
estudos de referência em parques que possuíssem características semelhantes ao que se
pretende propor para Ceará-Mirim. Ao todo foram realizados três estudos de referência:
um direto - Parque das Dunas (Natal/RN) – e dois indiretos – Parque do Cocó
(Fortaleza/CE) e Parque Villa-Lobos (São Paulo/SP).

Estes estudos também buscaram observar diferentes aspectos projetuais e


urbanísticos de cada parque, como sua relação espacial e visual com o entorno,
distribuição de seus equipamentos e estruturação de seus acessos e circulações. Ao final,
é apresentado um quadro síntese com os principais aspectos, semelhantes ou não,
observados.
Figura 66. Parques escolhidos para o estudo de referências.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


140

6.1 ESTUDO DIRETO: PARQUE DAS DUNAS – NATAL (RN)

O Parque das Dunas (PDD) corresponde, dentro do macrozoneamento do Plano


Diretor de Natal (RN), cidade onde está localizado, a uma Zona de Proteção Ambiental
(ZPA 02). Criado pelo Decreto Estadual 7.237/77, o parque foi a primeira UC implanta
no estado, abrigando cerca de 1.172 hectares de Mata Atlântica e sendo reconhecido pela
UNESCO como Patrimônio Ambiental da Humanidade. (IDEMA, 2015)

O parque estende-se da zona leste à sul do município, estando adjacentes aos


bairros de Mãe Luiza, Tirol, Lagoa Nova, Nova Descoberta, Capim Macio e Ponta Negra.
É também delimitado pela Via Costeira, que liga Ponta Negra à Mãe Luiza e percorre boa
parte do litoral natalense. Apesar do tamanho, o parque conta apenas com uma área de
setor público: o Bosque dos Namorados, incorporado ao bairro Tirol, com cerca de 7
hectares (Mapa 15).

Mapa 15: Área do PDD (em cores) com o Bosque dos Namorados em destaque.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Earth.


141

O único acesso ao Bosque é pela Av. Alexandrino de Alencar, perpendicular à


Av. Salgado Filho (uma das principais vias arteriais da cidade), por onde ingressam
automóveis e pedestres. Para chegar ao local, o usuário pode utilizar-se das linhas de
ônibus existentes, ir de carro ou ir a pé (Mapa 16).

Mapa 16: Principais vias de acesso ao Bosque dos Namorados.

Fonte: Produzido pelo autor a partir do Google Earth.

Durante a visita percebeu-se que o acesso ao parque apresenta dois principais


pontos negativos: por não existir estacionamento público interno no local, aqueles que
vão de carro precisam encontrar “vaga” nos acostamentos da Alexandrino de Alencar, e
para aqueles que vão a pé, a caminhada pode não ser muito agradável por causa das
extensas fachadas cegas dos prédios institucionais que situam-se ao longo da
Alexandrino, que trazem uma sensação de constrangimento e insegurança (Figura XX).

Figura 67: Fachadas cegas registradas em diferentes pontos da Alexandrino de Alencar.

Fonte: Acervo do autor. (2020)


142

Além disso, a localização do Bosque dos Namorados e sua relação espacial com
seu entorno urbano não é favorável à visibilidade do local. O parque se esconde
visualmente dos fluxos e olhares urbanos, que são mais intensos em outros trechos da
Alexandrino de Alencar.

A entrada no parque é paga e custa o valor de R$1,00, o local funciona de terça-


feira à domingo, e 8h às 17h30. Em seu interior, o usuário encontra um espaço bastante
arborizado, onde o paisagismo é composto principalmente pela flora nativa¹ do bioma do
próprio parque (Mata Atlântica), composto predominantemente de vegetação arbórea de
grande porte, que tem total protagonismo nos cenários do parque. É um ambiente onde a
arquitetura natural sobrepõe-se à arquitetura humana, onde os equipamentos e edificações
parecem ser apenas um complemento da paisagem e não um foco. Essa vegetação alta e
densa potencializa, também, a sensação do usuário de estar imerso no meio natural.

O parque apresenta uma gama variada de equipamentos e espaços, os quais não


apresentam uma padronização arquitetônica. É possível perceber o uso de diferentes
materiais e sistemas construtivos ao se percorrer o local, como alvenaria convencional,
estruturas metálicas e estruturas tensionadas.

Figura 68: Mapa dos espaços, caminhos e equipamentos do Bosque dos Namorados.

TRAÇADO PRIMÁRIO
TRAÇADO SECUNDÁRIO

Fonte: Produzido pelo autor. (2020)


143

Figura 69: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados.

01 02

03 04

05 06

07 08
Fonte: Acervo do autor. (2020)
144

Figura 70: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados (continuação).

09 10

11 13
Fonte: Acervo do autor. (2020)

Como é possível observar, o programa de necessidades do Bosque dos Namorados


não conta equipamentos e nem com espaços direcionados à prática de jogos esportivos.
Os equipamentos de apoio são escassos. Banheiros, bebedouros e lanchonetes são
encontrados apenas no Centro de Visitantes, no oposto extremo da entrada do bosque,
fazendo com que os usuários precisem percorrer grandes distâncias para utilizá-los.

Os passeios internos do parque organizam-se em uma hierarquia perceptível de


três níveis. Tem-se como traçado principal o anel viário, em asfalto, (representado pelo
cinza mais escuro na figura 68) que dá a volta em toda a área do local e estabelece contato
com todos os equipamentos. Estes caminhos são utilizados pelos usuários para realização
de atividades como cooper e ciclismo, ou são utilizados pelos automóveis que precisam
transitar por dentro do parque e entre os equipamentos. O traçado secundário, executado
em concreto (cinza mais claro na figura 69), se estrutura por dentro do anel viário e é
exclusivo para pedestres. Ao longo dos caminhos que compões este traçado encontramos
os mobiliários como lixeiras e bancos. O traçado terciário não consiste em caminhos bem
definidos, mas em áreas de terra batida por onde se pode andar e acessar algumas áreas
145

(como os parquinhos e mesas de piquenique) que não estão organizadas em torno dos dois
primeiros traçados, mas distribuídas entre as árvores.

Figura 71: Traçado principal. Figura 72: Traçado secundário.

Fonte: Acervo do autor. (2020) Fonte: Acervo do autor. (2020)

O mobiliário do parque é simples em questão de design e de material. São, em sua


maioria, de concreto e de madeira, em bom estado de conservação, e são distribuídos ao
longo dos caminhos secundários e terciários, permitindo que o usuário desfrute de
diferentes áreas de uso ativo e passivo enquanto caminha pelo local.

Figura 73: Mobiliários encontrados ao longo dos caminhos do Bosque.

Fonte: Acervo do autor. (2020)


146

O local conta ainda com a presença de esculturas, totens informativos e


paginações de piso que conferem uma identidade visual ao local; além de oferecer a
possibilidade de se realizar trilhas por dentro das matas dunares. (Figura 74)
Figura 74: Casa Mãe Terra: famoso ponto do bosque.

Fonte: olhares.com (outubro de 2020)

O Bosque oferece espaços para o lazer, para a cultura e para a educação, mas não
para o esporte (com exceção da corrida e do ciclismo). O local não dispões de quadras ou
equipamentos semelhantes direcionados para este fim, fazendo com o que os usuários
procurem usar outros espaços para atividades como jogar bola, por exemplo.

Em síntese, o local mostrou-se muito confortável térmica e acusticamente, bem


conservado e com uma boa oferta de espaços e programações para a população. Seu
programa é complexo e abrange todas as idades, oferecendo ao natalense um espaço verde
de qualidade para vivências e convivências.
147

6.2 ESTUDO INDIRETO: PARQUE DO COCÓ – FORTALEZA (CE)

“Reencontrar o silêncio, encantar-se com o


belo, partilhar vivências, construir memórias. Há
muito o que se viver no parque do Cocó.” (Jornal
Diário do Nordeste, 2016)

Situado em meio ao centro urbano da cidade de Fortaleza, capital do estado do


Ceará (BR), encontra-se o Parque Estadual do Cocó. Trata-se de uma UC que recebe esse
nome por causa do rio Cocó, que corta toda a extensão do mesmo e é fundamental para a
existência da fauna e da flora de seus arredores, além de suportar ecossistemas como
matas ciliares e manguezais. O parque possui uma área aproximada de 1.155 hectares de
Mata Atlântica, sendo o maior parque urbano de Fortaleza e a quarto maior do Brasil.

Mapa 17: Perímetro do Parque do Cocó (Fortaleza – CE).

Fonte: skycrappercity.com (acesso em outubro de 2020)

A preservação da área influenciada pelo Rio Cocó “sempre foi o objetivo de


grupos da sociedade civil e de governos estaduais e municipais” (Superintendência
Estadual do Meio Ambiente – SEMACE – 2010), e a luta pela instituição e
regulamentação dessa área de preservação remonta aos anos 70, quando, graças à
desativação das salinas que antes existiam na área do parque, os primeiros movimentos
148

socioambientais surgiram contra a utilização das margens do rio para a construção civil.
O movimento “pró-Cocó” ganhou força na década seguinte e em 1989, através do decreto
20.253, o governo estadual desapropriou cerca de 1.046 hectares pertencentes às margens
do rio e instituiu a criação do Parque Ecológico do Cocó (também ampliou a área do
parque em 1993, através do decreto 22.587), que, segundo a SEMACE, visa:

Proteger e conservar os recursos naturais existentes, de


forma a recuperar e manter o equilíbrio ecológico necessário à
preservação da biota terrestre e aquática e propiciar condições
para atividades de educação, recreação, turismo ecológico e
pesquisa científica. [...] Também objetiva o contato direto da
população com o ambiente natural, envolvendo-se nas suas
ações de preservação e controle, despertando o espírito
conservacionista das populações ribeirinhas. (SEMACE, 2010)

Contudo, a oficialização e regularização do Parque Estadual do Cocó só veio


ocorrer em 2016, juntamente com a implementação dos projetos de áreas visitáveis que
possui. Atualmente, a população pode usufruir dos benefícios do parque em três
diferentes setores de uso público: o Parque do Cocó, na Av. Padre Antônio Tomás, o
Parque Adahil Barreto, na rua Major Virgilio Borba e o Polo de Lazer Tancredo Neves,
às margens da BR-116, no qual foram realizadas desapropriações e implantas quadras
poliesportivas.

Neste estudo de referências serão analisados apenas os espaços do Parque do Cocó


e o do Parque Adahil Barreto por possuírem um maior tamanho, um programa mais
complexo e estarem mais consolidados no tecido urbano e no parque.

A área visitável Parque do Cocó é tida como a principal área pública deste parque
urbano. Com cerca de 37.200m², o projeto é do fim de 2016 e concentra os principais
equipamentos do parque.

Essa área caracteriza-se por ser um setor espacial bem distinto do interior florestal
do parque. Trata-se de uma área mais aberta tanto espacial, quanto visualmente
(principalmente porque não possui uma arborização tão densa quanto às trilhas). (Figura
75)

Além de todos os equipamentos que possui, o parque também possui diversos


espaços robustos¹, como os pátios gramados, que podem ser usados para descanso,
piquenique, brincadeiras ao ar-livre e outras atividades que não estão especificadas em
¹ Entende-se como espaço “robusto” aquele que apresenta a possibilidade de utilização para diferentes
propósitos. Definição retirada do livro “Responsive Environments: a manual for designers.” (1985)
149

seu programa de necessidades. A versatilidade destes espaços é um aspecto interessante


deste projeto.

Figura 75: Parque do Cocó: área Parque do Cocó.

Fonte: g1.com (acesso em outubro de 2020)

A integração visual do projeto com o entorno é muito privilegiada pelo fato de ser
uma área de livre acesso, não possuindo barreiras físicas ou visuais que impeçam o
indivíduo de adentrar o parque ou que indiquem que sua entrada não é desejada. O local
transmite uma mensagem convidativa ao espectador, exibindo seus atrativos sem inibição
como se o chamasse para vê-los e utilizá-los.

O amplo e acolhedor espaço verde, que se estende pelas margens sul da Av. Padre
Antônio Tomás por cerca de 600m, contrasta bastante com os prédios verticais da margem
norte, enfatizando a atmosfera de tranquilidade tão inerente aos espaços verdes. A
topografia também se faz grande aliada da área, uma vez que a via se encontra numa
porção mais elevada e há um constante declive na direção norte-sul dentro da área,
permitindo aos que transitam pela rua ou calçada ter uma visão privilegiada da extensão
do parque e uma leitura rápida do conteúdo do espaço (equipamentos, caminhos,
mobiliário, etc).

A integração espacial também é um ponto positivo deste projeto, tanto quando


olhamos para a cidade como para o parque em si. Na primeira perspectiva, temos a área
como um espaço verde bem localizado no tecido urbano, num entorno adensado e com
grande presença de uso comercial e residencial. Por ser uma via de fluxo intenso, a Av.
150

Padre Tomás é bem atendida pelo transporte público rodoviário da cidade, contando com
um grande número de linhas de ônibus que passam pela área. O local é ainda atendido
pelo Bicicletar, sistema de bicicletas públicas de Fortaleza, pelo Bus Rapid Transit – BRT
(linha de ônibus-expresso da cidade) e possui um estacionamento interno para automóveis
de médio porte. Dessa forma, é possível chegar ao parque através de diversos modais de
transporte e de variados pontos da cidade.

Sob o segundo olhar, é possível perceber que os espaços e passeios do parque são
bastante integrados entre si. Justamente pela falta de barreiras físicas, as rotas de entrada
e saída do parque são diversas. Não existe, atualmente, uma hierarquia muito marcante
entre os passeios internos do parque ou um padrão de desenho específico em seu traçado,
o que permite fluxos variados por entre os vários equipamentos e locais de atividades
realizadas. Esses passeios internos são sinuosos e variam em relação à sua cobertura,
podendo ou não ser pavimentado. A arborização pouco densa do local, no entanto, auxilia
na leitura do espaço de quem percorre esses caminhos, permitindo ao usuário traçar a
melhor rota para chegar onde deseja.

Apesar da forte integração física camuflar este fato, é possível perceber uma
organização do programa em quatro diferentes zonas, definidas pelos usos e
equipamentos que apresentam: zona esportiva, zona verde, zona cultural-contemplativa e
zona de ensino. (Figura 76)

Figura 76: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque do Cocó.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


151

A área visitável Adahil Barreto encontra-se mais a sul do Parque do Cocó, é menor
que a primeira e apresenta uma série de diferenças quanto a estruturação do seu espaço.
O local é cercado, estabelecendo pontos específicos de acesso ao pedestre e ao veículo
motorizado; o seu traçado possui uma hierarquia mais perceptível: tem-se uma circulação
central (mais larga), onde é possível a circulação de automóveis e, a partir desta, tem-se
circulações mais estreitas, direcionadas aos pedestres e ligando os principais
equipamentos e espaços.

Figura 77: Um dos acessos à área Adahil Barreto.

Fonte: indicoemfortaleza.com (acesso em outubro de 2020).

O espaço apresenta Figura 78: Mapa dos espaços e equipamentos


do Adahil Barreto.
um paisagismo muito
semelhante à primeira área:
vegetação nativa que se por
toda a extensão do local,
espaçadas de tal forma que
se permite boa visualização
dos arredores e dos
equipamentos. O programa
de necessidades da área
Adahil Barreto também é
mais simples e mais voltado
para o lazer do usuário
(Figura 78). Fonte: Produzido pelo autor (2020).
152

Em ambas as áreas têm-se um mobiliário mais simples, em concreto e metal, que


varia entre bancos, postes de iluminação, totens informativos e quiosques. Esses
mobiliários são dispostos, principalmente, ao longo das vias de fluxo. O local ainda
oferece atividades como escalada e percursos arbóreos, supervisionados por funcionários
do espaço.

Em 2017 realizou-se um concurso de ideias para a revitalização do Parque do


Cocó. Um dos aspectos interessantes da proposta vencedora foi a implementação de 17
novas áreas visitáveis ao parque, categorizadas em quatro núcleos com diferentes
finalidades: o Núcleo da Memória, o Núcleo Esportivo, o Núcleo do Laboratório da
Natureza e o núcleo Beira-mar (Figura 79). Cada nova área apresentou uma proposta e
um programa mais direcionado ao contexto urbano e ambiental em do entorno. A proposta
ainda apresentou diretrizes paisagísticas e arquitetônicas para as novas áreas, abordando
temas como sustentabilidade e conforto ambiental.

Figura 79: Mapa da proposta para revitalização do Parque do Cocó.

Fonte: skycraper.com (acesso em outubro de 2020).


153

6.3 ESTUDO INDIRETO: PARQUE VILLA-LOBOS – SÃO PAULO (SP)

O Parque Villa-Lobos, assim nomeado como uma homenagem ao compositor


carioca Heitor Villa-Lobos, localiza-se na zona oeste de São Paulo, no Alto dos Pinheiros,
às margens do Rio Pinheiros. Com uma área equivalente a cerca de 73,1 hectares, a ideia
de implementação do parque surgiu em 1987 e o mesmo foi instituído em 1988, pelos
Decretos Estaduais 28.335 e 28.336, que propuseram transformar o local numa área de
lazer e cultura para a população.

Mapa 18: Localização do Parque Villa-Lobos, São Paulo (SP).

Fonte: Google Maps (acesso em outubro de 2020).

Este parque foi escolhido como estudo de referência devido ao contexto do local
onde foi implementado: um antigo aterro sanitário utilizado como depósito de lixo e de
entulhos tirados do rio pela CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais
de São Paulo), o que torna um exemplo de recuperação de áreas ambientalmente
degradadas e uma prova de que é possível, com tempo e com trabalho, transformar os
espaços e as paisagens urbanas marcadas pela destruição ou pelo descaso.

Segundo o portal Cidade São Paulo, a recuperação do parque começou com o


processo de remoção das milhões de toneladas de lixo e recuperação do solo degradado a
partir de processos de adubação em massa, visando “transformar a área inóspita em terra
154

fértil novamente”, um processo de suma importância para o sucesso do projeto e que só


foi concluído em 1989.

No ano seguinte iniciou-se o plantio das mudas escolhidas. No projeto não foram
utilizadas apenas plantas nativas do ecossistema original do local (Mata Atlântica), mas
plantas de outros biomas que se adaptaram ao clima paulista, o que proporcionou uma
diversidade estética ao paisagismo do parque. O projeto ainda está em progresso, já que
muitas mudas ainda precisam de tempo para atingir a idade adulta, outras ainda serão
plantadas e edificações ainda serão erguidas.

Localizado na Av. Prof. Fonseca Rodrigues e estendendo-se por cerca de 800m


ao longo desta via, o acesso físico ao parque ocorre através de três grandes portões, que
possibilitam a entrada de diferentes modais de transporte. As circulações internas do
parque foram pensadas para suportar o trânsito de pedestres, bicicletas e veículos
automotivos (tendo vias especiais para este último grupo, dimensionadas e sinalizadas
apropriadamente).

Já o acesso visual para o parque não é muito privilegiado pela topografia do local.
Nas imediações da Av. Fonseca Rodrigues, a visão que o motorista ou pedestre tem ao
olhar para o lote onde se encontra o parque é a de um talude elevado, não sendo possível
ter noção da amplitude espacial do lugar ou ter visão de seus equipamentos, que acabam
sendo excluídos da paisagem urbana. No entanto, o extenso talude gramado e repleto de
árvores em meio a uma avenida marcada por grandes edifícios denuncia a existência do
parque, ainda que este não possa ser visto diretamente pelo lado de fora (Figura 80).

Figura 80: Vista para o interior do parque da Av.Prof. Fonseca Rodrigues.

Fonte: Google Street View (acesso em outubro de 2020).


155

O parque conta com equipamentos de uso ativo e passivo (todos com versões
acessíveis) nas áreas de esporte, lazer e cultura, que incluem ciclovia, quadras, trilhas,
campos de futebol, playground, aparelhos de ginástica, pista de cooper, tabelas de street
basketball e bosques, cujos locais de implantação não evidenciam um zoneamento por
uso ou por função. Equipamentos de caráter educacional também aparecem pontualmente
no programa de necessidades do parque, como o Orquidário Ruth Cardoso e a Vila
Ambiental, mas estes são mais voltados à disseminação que à produção do conhecimento.
(Figura 81)

Figura 81: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque Villa-Lobos.

Fonte: areasverdesdascidades.com.br (acesso em outubro de 2020).

Os espaços de apoio ao usuário também são muito presentes e bem distribuídos


ao longo de todo o parque, não sendo necessário deslocar-se por grandes distâncias para
ter acesso a telefones, lanchonetes, banheiros ou áreas de estacionamento. O local conta
ainda com uma equipe terceirizada para auxiliar com a segurança do local, que trabalha
juntamente com a Polícia Militar nesta tarefa.
156

Um ponto interessante de salientar diz respeito às paisagens encontradas no


Parque Villa-Lobos. Enquanto o Parque do Cocó e o Parque das Dunas, ambos instituídos
sobre áreas já cobertas por Mata Atlântica, apresentam uma paisagem mais florestal, o
Villa-Lobos apresenta uma paisagem mais campestre, composta principalmente por
vegetação rasteira. As árvores tem um papel mais pontual neste parque: ora aparecem
espalhadas pelos grandes campos gramados, ora aparecem reunidas em formações mais
densas, constituindo pequenos bosques.

Visto as dificuldades técnicas e o tempo necessário para se recuperar uma


paisagem florestal em sua integridade (isso quando é possível fazê-lo), é natural cogitar
que o projeto foi pensado para aproveitar os grandes espaços descampados, antes
ocupados por lixo, dando forma a áreas abertas, quase como clareiras, dotadas de robustez
e de grande permeabilidade visual. Essas áreas acabam servindo não apenas aos usuários
do parque em suas práticas cotidianas, mas também a evento, feiras e espetáculos. (Figura
82).

Figura 82: Vista superior dos caminhos do parque.

Fonte: galeriadaarquitetua.com.br (acesso em outubro de 2020).

A amplitude e limpeza vegetal destes espaços também colaboram com o destaque


dos edifícios arquitetônicos na paisagem do parque (Figura 83). Apesar de não terem uma
linguagem padrão quanto aos materiais ou sistemas construtivos, os equipamentos do
Villa-Lobos compartilham ousadia nas suas formas (como a abóboda metálica do
Orquidário ou o balanço gigantesco da Ilha Musical). Uma vez que estes não precisam
competir com a vegetação arbórea e nem são escondidos por ela, como acontece no
Parque das Dunas, seu apelo cênico constrói paisagens onde o construído sobrepõe-se ao
natural.
157

Figura 83: O Parque Villa-Lobos e a amplitude e limpeza do cenário, evidenciando o


Orquidário Ruth Cardoso (ao fundo).

Fonte: canalitapevi.com (acesso em outubro de 2020).

A implementação do Villa-Lobos vem mostrar como mesmo as áreas urbanas que já


perderam seu apelo econômico ou ecológico podem ser convertidas em espaços benéficos
à população quando há engajamento das gestões públicas (Figura 83). O parque também
exalta a questão da importância da recuperação ambiental, que por vezes acaba sendo
ofuscada diante da ideia de que só é viável (ou interessante) preservar.

E essa mesma questão pode ser levado além do viés ambiental. As cidades
enfrentam todos os dias diversos tipos de degradação, seja de sua cultura, de sua memória,
de seu patrimônio, de sua gente ou de sua forma e é importante buscar meios de resgatar
aquilo que foi perdido, não apenas de conservar o que não se perdeu.

O resgaste e avivamento da cultura também faz parte da proposta do Villa-Lobos,


cuja homenagem ao compositor vai além do nome e é também manifestada através de
programações e eventos musicais abertos à população, onde são executados os clássicos
de Heitor Villa-Lobos.

Uma vez que o produto final deste trabalho envolve a intervenção em áreas
degradadas pelas queimadas em Ceará-Mirim, o estudo do Villa-Lobos pode expandir
horizontes no tocante às medidas que podem ser pensadas para situações como essas.
158

6.4 QUADROS SÍNTESE

O Quadro 07 apresenta a síntese dos principais aspectos de cada referência


estudada, que foram utilizados para nortear decisões durante o processo de projeto.

Quadro 07. Quadro Síntese dos Estudos de Referência.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


159

O Quadro 08 abaixo apresenta, de maneira abrangente, alguns pontos que foram


vistos como de grande importância para o projeto com base nos contatos que se
estabeleceu com seus potenciais usuários.

Quadro 08. Quadro Sínteses das Entrevistas e Formulários.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

7. O PROGRMA DE NECESSIDADES

Após a etapa de coleta e análise de dados explanada anteriormente, tornou-se


possível a construção de um programa de necessidades preliminar que atendesse ao
solicitado pelo Decreto Municipal 1.884/19 e que também contemplasse as necessidades
da população ceará-mirinense. Os constituintes desse programa foram separados em
quatro categorias, conforme o esquema a seguir (Quadro 08):
160

Quadro 09. Programa de Necessidades Preliminar.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


161

A quarta e última etapa visa apresentar a proposta da área


visitável para o Parque Boca da Mata, cumprindo o objetivo geral
deste trabalho e finalizando-o.
Ao longo dos próximos capítulos serão apresentados o
conceito escolhido, o processo projetual, as tomadas de
decisões e justificativas pertinentes. Ao final será explicada a
proposta final, que acompanha 6 pranchas em apêndice a este
trabalho.
162

8. CONCEITO

RAIZ s. feminino

[2] Eixo de uma planta vascular [...], descendente e subterrâneo;

[6] Aquilo que provoca a existência de algo; fonte, origem.

[7] Vínculo emocional estabelecido com lugar em que nasceu.

(adaptado do Oxford Languages, 2019)

Diante dos estudos e análises realizadas nos capítulos anteriores, percebeu-se que a
palavra raiz funcionava como denominador comum dos conteúdos trabalhados e, por isso,
deveria ser adotada como conceito deste projeto.

A escolha deste conceito dá-se justamente pela multiplicidade de significados que esta
palavra carrega, com ênfase em três deles: a raiz como origem, a raiz como elemento botânico
e a raiz como vínculo de pertencimento.

No primeiro, temos as raízes históricas de Ceará-Mirim e sua profunda e importante


relação com a cultura canavieira. Hoje apagadas e esquecidas nas ruínas dos grandes engenhos
ou nas usinas desativadas, essas raízes foram motivo de glória para o município e por décadas
nortearam o crescimento da cidade e modificaram suas paisagens.

No segundo, temos as raízes vegetais dos ecossistemas que um dia fizeram parte das
terras ceará-mirinenses e que foram durante muito tempo sufocadas pelas raízes acima citadas.
Hoje, degradadas, necessitam de recuperação e preservação.

Por último, temos as raízes afetivas do ceará-mirinense para com sua cidade, que
precisam ser fortalecidas para que não se apaguem frente ao intenso processo de integração
entre a cidade e a capital.

Estas diferentes raízes permeiam e se entrelaçam neste projeto, que visa resgatá-las e
fortalecê-las através de quatro diretrizes propositivas:

1. PROMOVER A VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA DA CIDADE.

A área visitável, batizada de Bosque Boca da Mata (BBM), deverá ser um local de
exaltação à memória da cidade; um local que promova o contato entre o ceará-mirinense e a
163

rica história do município - cristalizada de maneira material e imaterial na cidade - através de


espaços, equipamentos e elementos de comunicação visual que apresentem ao usuário
(munícipe ou não) a glória muitas vezes esquecida da “Ceará-Mirim dos verdes canaviais”.

2. RECUPERAR O CONTEXTO AMBIENTAL DO PARQUE BOCA DA


MATA.

Como visto no Mapa 13, grande parte do Boca da Mata encontra-se em estado de
degradação graças as atividades canavieiras. Compreende-se, também, que um dos objetivos
do bosque, como parte de uma Unidade de Conservação, é “contribuir para a preservação e a
restauração da diversidade de ecossistemas naturais” (SNUC, art. 4º). A busca pela restauração
deve ser realizada através de um projeto paisagístico voltado para as espécies do bioma nativo
e à criação de áreas dedicadas exclusivamente para fins de recuperação da Mata Atlântica.

3. PROMOVER A PESQUISA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

De acordo com os estudos realizados percebeu-se que o Parque Boca da Mata ainda está
em fase de receber pesquisas sobre suas condições ambientais e que as institucionais
educacionais veem grande potencial na área para realização de atividades extraclasse. Dessa
forma, é interessante que o parque disponha de equipamentos e áreas reservadas para a prática
da pesquisa e educação ambiental, tanto para entidades internas como externas.

4. CONECTAR O BOSQUE À CIDADE E SEUS MORADORES.

O projeto deve estar voltado às demandas da população e integrado com as dinâmicas


do seu entorno, de forma que seja útil a todo o munícipio nas esferas do lazer, da cultura e da
preservação ambiental. Deve ser também um local de experiências únicas e agradáveis ao
usuário; um local que conquiste espaço no imaginário do cidadão ceará-mirinense; um local
que ofereça condições para a construção de memórias e vivências marcantes em solo ceará-
mirinense.

9. BOSQUE BOCA DA MATA: PRIMEIROS ESTUDOS

Este capítulo tem como principal objetivo apresentar o processo projetual da proposta
do Bosque Boca da Mata e suas justificativas. Inicialmente será apresentado o recorte espacial
escolhido e uma análise de seu entorno segundo a metodologia de Gatti (2013). Será então
apresentado o processo projetual do parque, desde os zoneamentos iniciais até a proposta final.
164

Além do que será apresentado neste capítulo, o trabalho conta ainda com seis pranchas da
proposta, disponibilizadas como produto anexo deste trabalho.

9.1 O RECORTE E O ENTORNO

Adentrada a etapa de projeto, a primeira decisão tomada foi sobre o recorte espacial a ser
trabalhado, uma vez que o tamanho da área do parque é muito superior à da intervenção. Duas
diretrizes principais foram adotadas para tal escolha:

• INSERIR O PROJETO DENTRO DE UMA ÁREA DEGRADADA:

Por se tratar de uma proposta para um parque já existente e com limites territoriais já
definidos por lei, a intervenção deve ser feita dentro deste perímetro, preferencialmente em uma
área em estado médio ou avançado de degradação, já que o local ainda não dispõe de um plano
de manejo que possa mensurar o impacto de uma intervenção humana deste porte em áreas de
mata ou nortear sobre como executá-la. A intervenção numa área degradada também é
preferível pois não interfere nos fragmentos de Mata Atlântica que ainda resistem, possibilita
maior liberdade criativa para o desenho da área pública e, através de um plano paisagístico com
viés de reflorestamento, pode vir a tornar o bosque um novo fragmento de mata.

A grande quantidade de áreas degradadas no Boca da Mata oferece um vasto leque de


possibilidades para o local de implantação, no entanto, a segunda diretriz apresenta um caráter
determinante para a escolha do recorte.

• CONECTAR O PROJETO AO TECIDO URBANO E SUAS DINÂMICAS:

Segundo Jacobs (2009) e Gehl (2013), a vitalidade dos espaços públicos é intimamente
ligada às dinâmicas urbanas, por isso, sua localização acaba sendo um fator de grande
relevância no grau de sucesso ou insucesso destes locais. Um espaço público deve ser inserido
no cotidiano de uma cidade, tanto fisicamente, através de infraestrutura, ruas e acessos, como
funcionalmente, atendendo suas demandas.

Dessa forma, é indispensável que o recorte trabalhado tenha ligação física com a cidade, de
forma que possa ser acessado e utilizado com facilidade e segurança pela população. No caso
do Boca da Mata, grande parte do seu território encontra-se afastado do núcleo urbano
(inclusive os fragmentos de Mata), o que limita a escolha do recorte às áreas marginais da
cidade, onde funcionavam os canaviais a CAVCM.
165

Com base nessas condicionantes, optou-se por implementar a área visitável às margens da
BR-406, na entrada sudeste da cidade. Essa área possui campos degradados dos dois lados da
via: à leste, marginando o bairro Luís Lopes Varela, à oeste, marginando o bairro Planalto. O
mapa 14 destaca estes campos, considerando-os como área potencial de implantação por
atenderem as referidas diretrizes. (Figura 84)

Figura 84. Área Potencial de Implantação para o Bosque Boca da Mata.

Fonte. Produzido pelo autor a partir do Google Earth (2020).

Após a definição da área potencial de implantação, realizou-se uma análise das


condicionantes urbanas do entorno, para definir as melhores estratégias de intervenção e
zoneamento da área. Como entorno considerou-se o tecido urbano dentro de um raio de 400m
a partir da API. Para as análises, foi utilizada a metodologia proposta por Gatti (2013), que
consiste no mapeamento de: pontos de interesse do local, fluxos viários e problemas e
potencialidades da área, para que se permita a “visualização das relações entre os usos
existentes da cidade e a qualidade do espaço urbano. Esta relação permitirá a identificação de
novas possibilidades de projetos, baseados no uso cotidiano que mereça uma infraestrutura
166

adequada, ou mesmo na requalificação de áreas de conflito.” (GATTI, 2013, p.13) Os mapas


produzidos serão expostos a seguir e posteriormente comentados. (Mapas 19 a 23)
Mapa 19. Mapa de fluxo de não motorizado nas principais vias do entorno.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


167

Mapa 20. Mapa de fluxo motorizado nas principais vias do entorno.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


168

Mapa 21. Mapa dos principais pontos de interesse e potencialidades do entorno.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


169

Mapa 22. Mapa dos principais problemas do entorno.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


170

Mapa 23. Perfil topográfico do local e visuais analisadas.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


171
Figura 85: Visuais ao redor da API.
A Figura 84 mostra as visuais
analisadas. Nas imagens 1 e 2, vemos
alguns ângulos da API à leste da BR,
sob a perspectiva do pedestre a partir
da pista de cooper e é possível ter

1 noção da proporção da área do parque,


que se estende até o horizonte.
Ainda deste lado, tem-se uma
janela visual (pontilhada na imagem 3)
que se abre após o término do muro
vegetal (à direita na imagem) existente

2
ao longo da BR e enquadra diretamente
para a API. Esta área local também
apresenta as cotas mais elevadas na
Janela visual
topografia, oferecendo visibilidade aos
equipamentos em todo o eixo viário ao
redor, tanto para pedestres como para

3
motoristas.
Na API à oeste da BR, é
possível perceber uma paisagem
semelhante à do lado oposto. No
entanto, a baixa topografia nas porções
centrais da área pode acabar ocultando
os equipamentos do local entre as

4 massas vegetais que serão propostas.

5 6
Fonte. Acervo do autor e Google Street View (2020).
172

Além disto, apesar de possuir uma boa visibilidade a partir da BR, a vista desta API é
obstruída no Planalto, graças a um muro de vegetação existente ao longo de toda à Rua Jurandir
Carvalho. (visuais 5 e 6).
Conforme observado nos mapas, o local oferece condições favoráveis a implantação da
área visitável. As vias que contornam o local concentram os fluxos de entrada e saída da cidade,
apresentando constante movimentação de pedestres e de veículos (tanto dos munícipes como
daqueles que estão apenas de passagem pela BR-406). A presença do bosque no local encontra
nestas vias um eixo de fácil visualização e acesso aos transeuntes, visto que o entorno também
apresenta pontos de transporte público e um eixo de fluxo de bicicletas na pista de cooper.
A pista de cooper da Luís L. Varela consiste ao mesmo tempo em uma zona potencial,
pelo seu poder de atratividade e frequente utilização, e uma zona de conflito, por não prever a
infraestrutura adequada (como sinalização e paginação) para harmonizar as atividades de
caminhada e ciclismo, que são atualmente realizadas no mesmo espaço. Além disto, a partir de
observações realizadas no local, percebeu-se a existência de uma “Zona de Insegurança” ao sul
da pista de cooper (Mapa 22), numa área não edificada/urbanizada da Luís L. Varela (essa área
será discutida mais à frente), que compromete a sua plena utilização.
Vê-se também que a existência de um equipamento como um parque público, isto é,
voltado para a recreação dos moradores é necessária ao local. Como visto no Mapa 10 (Uso do
Solo do munícipio) e no mapa 22, o entorno da área escolhida carece de áreas verdes e se
encontra, sobretudo o bairro do Planalto, fora da área de abrangência das praças da cidade,
levando seus moradores a procurar opções de lazer em locais mais distantes.
A porção do Planalto que vai da Rua Francisco Martiniano até a extremidade sul do
bairro ainda apresenta uma carência no que tange a diversidade de usos, sendo uma zona
exclusivamente residencial (com a presença de alguns raros pontos comerciais de bairro), o que
ajuda a compreender a razão dos fluxos nesta área serem mais fracos que no resto das vias, visto
que não há uma dinâmica urbana que integre aquele contexto urbano com o resto da cidade. Já
no entorno do bairro Luís L. Varela, é possível perceber uma variedade no uso do solo,
sobretudo nos eixos da BR-406 e Av. Luís Lopes Varela, o que, segundo Jacobs (2009)
contribui com a vitalidade da área. Essa vitalidade pode ser percebida através dos fluxos nestas
vias, que variam de moderado a intenso.
Ainda sobre o uso do solo é importante ressaltar que existem quatro equipamentos de
grande relevância ao redor da API, destacados no Mapa 21: três são instituições de ensino
(inclusive o CEEP, que foi entrevistado para a elaboração da Etapa 3), que concentram
diariamente um público de crianças e jovens – potenciais usuários do bosque, e o quarto é o
173

aeródromo de Ceará-Mirim, que pode ser utilizado como atrativo para a área do parque graças
as atividades de voo recreativo que realiza.
Em síntese, o local apresenta uma série de condicionantes que Gehl (2003) julga
apropriada para “o processo de autoalimentação, de autorreforço” (p.64) da vida nas cidades,
isto é, espaços e dinâmicas que favorecem a implantação do Bosque Boca da Mata e que, ao
mesmo tempo, são reforçadas e favorecidas por ele, gerando mais vitalidade no tecido urbano
e oferecendo mais seus moradores.

9.2 O ZONEAMENTOS, PASSEIOS E PAISAGENS

O zoneamento foi elaborado a partir do agrupamento funcional dos componentes do


programa de necessidades, originando quatro zonas:

• ZONA CULTURAL: dedicada à realização de eventos e reuniões de grande


público. Abriga o pavilhão coberto, o anfiteatro e os átrios multiuso como seus
principais espaços.
• ZONA RECREATIVA: esta zona reuniu os equipamentos ligados ao lazer e
ao esporte, tais como playgrounds, academia ao ar livre, quadras, dentre outros.
• ZONA EDUCACIONAL: nesta zona ficaram os equipamentos ligados ao
ensino e reuniões de menor público. Aqui se destacam os museus (cultural e
ambiental), a área de exposições e o auditório.
• ZONA DE PESQUISA: abraça todos os espaços ligados à função de pesquisa
e estudo do Parque Boca da Mata, como laboratórios, viveiros e alojamentos de
animais.

A disposição destas zonas na Área Potencial de Implantação teve base em três aspectos
do local percebidos nos estudos de entorno: a inexistente oferta de espaços públicos de lazer e
recreação no bairro Planalto, à oeste da BR-406, a alta cota topográfica às margens da Av. Luís
Lopes Varela, à leste da BR-406 (próxima à interseção das duas vias) e a existência da Pista de
Cooper de Ceará-Mirim, também às margens da referida avenida, local bastante utilizado pelos
moradores e que recebe um fluxo constante de usuários todos os dias.

De um lado da BR, havia a pretensão de locar a Zona Recreativa no Planalto, pois o


bairro é uma área em processo de expansão urbana que não dispõe de espaços verdes e nem de
lazer para seus moradores e que poderia se beneficiar das dinâmicas geradas pela presença do
bosque. Do outro lado, a topografia poderia ser utilizada para dar visibilidade ao local,
174

evidenciando seus equipamentos logo na entrada da cidade e atraindo a atenção dos que
transitam pela BR-406; ainda deste lado, concluiu-se que seria interessante integrar o bosque
com a pista de cooper, como uma forma de expandir sua extensão, sua estrutura e aproveitar a
vitalidade que ela já apresenta.

É interessante ressaltar que a administração pública de Ceará-Mirim já possui um local


de acesso previsto para a área visitável do parque, que se encontra justamente ao final do
percurso da pista. Nesta entrada foi licitada a construção de um pórtico (Figura 85 e 86), que
segundo o ambientalista Eriberto Moreira, é o único edifício arquitetônico proposto para o local
até então.
Figura 86. Ponto de acesso previsto pela Luís L. Varela.

Fonte: Acervo do autor (2020).


Figura 87. Projeto do pórtico de entrada para o parque.

Fonte: Acervo de Eriberto Moreira (2020).


175

Deste ponto surgiu a ideia de dividir o bosque em duas áreas e aproveitar o que de
melhor ambos os lados da BR tinham para oferecer. A BR-406 não mais cruzaria apenas o
Parque Boca da Mata, mas também seu bosque. Essa decisão tomou como o base o estudo de
referência ao Parque do Cocó, em Fortaleza, cujo projeto de revitalização conta com diversos
núcleos visitáveis ao longo da extensão do parque, os quais dispõem de diferentes equipamentos
ou são destinados à diferentes objetivos.

Assim, o zoneamento deu-se da seguinte forma (Figura 87): a zona cultural (1), seria
locada à leste da BR-406, ao final da pista de cooper, região onde a topografia iria evidenciar o
pavilhão e o anfiteatro, que deveriam possuir forte expressão arquitetônica. O acesso principal
seria realizado pela Av. Luís L. Varela, no local já previsto pela gestão do município. Mais a
sul, ainda deste lado da BR, seria locada a zona de pesquisa (2). O local seria mais afastado do
restante dos equipamentos dado o seu caráter privativo e para que ficasse mais próximo aos
fragmentos vegetais de Mata Atlântica. Nos arredores da zona de pesquisa estariam ainda
locados o viveiro municipal e os “lotes escolares”, que serão discutidos mais a frente.

A zona recreativa (3) foi locada no Planalto, no cruzamento da rua Jurandir Carvalho
com a rua Luiz Francisco Martiniano. Nesta última via propôs-se um ponto de acesso pela
proximidade com a parada de ônibus local e por ser de fácil visualização para os motoristas da
BR. A zona educacional (4) foi disposta a sul da zona recreativa, próxima ao aeródromo de
Ceará-Mirim, para facilitar uma já pensada integração com o local.

Figura 88. Croqui do zoneamento preliminar.

BR-406

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


176

Ao receber uma porção do parque em seu perímetro, o Planalto se beneficia em duas


esferas: interna e externa ao bairro. Na interna, tem-se o impacto positivo na paisagem do bairro
(que é pouco arborizado) e na qualidade de vida de seus moradores, que terão um local amplo
para lazer e convivência nos arredores. Na externa, o bosque pode propiciar uma maior
integração do bairro com a cidade, através do recebimento de usuários de outros bairros, de
eventos e outras atividades.

O zoneamento inicial também contou com um espaço destinado à implantação de um


percurso histórico (5) ligando a zona recreativa à zona educacional, que seria implementado
na faixa de 50 metros de largura entre a pista de pouso do aeródromo e a BR-406 (Mapa 25).

Mapa 24. Mapa do zoneamento preliminar em foto aérea.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

A ideia do percurso neste local foi posteriormente modificada por motivos legais e de
segurança. No primeiro, tem-se a existência da faixa de 15m correspondente a área non
aedificandi em ambos os lados da BR-406 (Lei 6.766/79), reservada para a expansão da via; no
segundo, tem-se o fato de que o aeródromo pode receber aviões de grande porte em casos de
177

emergência, não segundo seguro permanecer nas imediações da via nestas situações. O percurso
foi levado então para o interior das zonas recreativa e de educacional, ainda como transição
entre as duas. As margens da BR ganharam outra finalidade: a implementação de bosques
acústicos, que serão melhor explicados no item que trata da proposta final.

Para conectar os dois lados da BR, foi proposta uma passarela mirante ligando a zona
recreativa, no lado oeste, à zona cultural, no lado leste (Figura 88). Dessa forma, o usuário não
precisaria sair de uma área do parque para cruzar a BR em direção à outra (embora pudesse
fazê-lo, se preferisse, já que os acessos propostos para ambas as áreas ficam próximos) e ainda
teria uma visão privilegiada do bosque e dos fragmentos vegetais do parque, mais a sul da BR.

Figura 89. Primeiros estudos volumétricos da passarela elevada.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

Definidas as zonas, fez-se o pré-dimensionamento dos equipamentos do parque (que


serão detalhados em capítulo próprio) no intuito de se realizar um estudo de massas em escala
aproximada, decidir o local de cada equipamento e a relação espacial entre eles através dos
passeios.

Os equipamentos foram distribuídos em pontos estratégicos do terreno, considerando


aspectos como o potencial paisagístico, a topografia e o tipo de equipamento (por exemplo, não
manter muito próximos dois equipamentos de impacto sonoro, para que não entrem em conflito
se utilizados ao mesmo tempo). Optou-se por dispô-los de forma orgânica ao longo do bosque,
reforçando a atmosfera orgânica desejada para o espaço. Também se prezou por manter os
principais prédios mais afastados uns dos outros, para que o usuário fosse levado a percorrer o
local ao se deslocar de um equipamento a outro, experimentando as diversas possibilidades de
178

passeios existentes. Os equipamentos de apoio foram locados próximos aos equipamentos


principais e na quantidade de pelo menos um de cada tipo em cada lado da BR.

Quanto aos acessos, foram adicionados mais três acessos à rua Jurandir Carvalho, no
Planalto: dois exclusivos para pedestres com acesso para a zona recreativa e um para
automóveis com acesso direto à zona educacional e ao aeródromo. Esses acessos apareceram
para que os moradores do Planalto pudessem ter acesso ao bosque por diferentes pontos do
bairro, já que o bosque se estende por cerca de 500m ao longo da Jurandir Carvalho. A figura
XX apresenta um croqui da disposição escolhida para os equipamentos do parque, bem como
os principais eixos de passeio que serviram de base para o desenho dos caminhos do local.

Figura 90. Zoneamento com equipamentos e definição de eixos de passeio.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


179

Curvas, ramificações, fluidez. É Figura 91. Croquis digitais demonstrando a


evolução dos passeios do Setor Cultural.
nos passeios do bosque que o conceito
“raiz” se traduz em formas espaciais. O
processo de concepção dos passeios
evitou as retas e seus ângulos, e buscou
criar percursos orgânicos e irregulares
que, somados ao paisagismo arbóreo,
simulem a aleatoriedade e beleza de um
ambiente florestal. (Figura 90 e 91)
Os caminhos do parque foram
desenhados visando a sobreposição de
dois traçados: o principal e o
secundário.
O traçado principal consiste em
circulações mais largas, ligando os
principais equipamentos do bosque e
facilitando a leitura espacial do local.
Foram pensadas (a nível de dimensão e
calçamento) para suportar a passagem
de veículos automotivos em situações
de necessidade. Junto a este traçado foi
implementada a ciclofaixa do parque.
O traçado secundário apresenta
caminhos mais estreitos, ramificados e
aleatórios. Sem ponto de partida ou de
chegada específicos, esses caminhos
servem à experiência do passeio em si.
As áreas de uso passivo do bosque
foram espalhadas ao longo destas
circulações, nas proximidades das áreas Fonte. Produzido pelo autor (2020).
de uso ativo.
180

Figura 92. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Recreativo.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

Quando sobrepostos, estes caminhos oferecem ao usuário a possibilidade de traçar


diferentes rotas para se chegar a um mesmo local, podendo se utilizar de apenas um dos traçados
ou da mistura de ambos. As curvas também potencializam o “fator surpresa” dos espaços e
equipamentos do local, uma vez que estão constantemente mudando o campo de visão do
usuário enquanto este caminha. Dessa forma, os elementos arquitetônicos, ora ocultos pela
vegetação, vão sendo revelados conforme o indivíduo percorre o espaço, em cada mudança de
direção e de perspectiva. (Figura 92)

Figura 93. Croquis digitais dos caminhos e da vegetação ao redor do pavilhão.

VISADA 01

VISADA 02
181

Visada 01

Visada 02

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

10. O BOSQUE BOCA DA MATA: A PROPOSTA

Concluído o processo de estudos de entorno e de refinamento dos croquis e desenhos,


chegou-se à proposta final de implantação da área visitável para o Parque Boca da Mata. Esta
proposta veio acompanhada de três ações de entorno, que buscam resolver dois dos problemas
apontados no Mapa 22 (o conflito de usos na pista de cooper e a zona de insegurança na Luís
L. Varela) e aproveitar a potencialidade do aeródromo, localizado nas imediações da área de
implantação (Mapa 21). Os locais de intervenção são observados na Figura 94.

Essas ações serão inicialmente comentadas para que só então seja apresentada a
proposta final do bosque propriamente dito.
182

Figura 94. Implantação do BBM e ações no entorno.

12 22
2 2
1
Reestruturação da Pista
Urbanização da Luís L. Varela
(10.2)
de Cooper (10.1)

42
2
1 da Mata
Bosque Boca
(10.4)

Fonte. Produzido pelo autor (2020).

Integração com o
aeródromo (10.3)

32
2
0 50 100 150m
Fonte. Produzido pelo autor (2020).
183

10.1 REESTRUTURAÇÃO DA PISTA DE COOPER

A pista de Cooper de Ceará-Mirim encontra-se ao longo da Av. Luís Lopes Varela e


consiste numa faixa de cerca de 950m de extensão que vai desde a entrada da cidade, pela BR-
406, até o Hospital Percílio Alves. A pista reúne um grande número de usuários diariamente,
entre jovens, adultos e idosos, que a utilizam para corridas e para ciclismo. Sua utilização
ocorre, principalmente, no começo da manhã (entre 5h às 8h) e no fim da tarde (a partir das
16h) - horários em que foram observados o maior número de usuários no local.

A pista pode ser dividia em dois trechos de acordo com a sua inserção no meio urbano:
o primeiro trecho tem início no Hospital Percílio Alves e estende-se por 530m no sentido
sudeste ao longo da Av. Luís Lopes Varela. Este trecho encontra-se numa região
completamente edificada, onde é possível encontrar uma diversidade de usos ao longo da pista,
com ênfase nos de comércio e serviço (como já mencionado nos capítulos anteriores, a Av. Luís
Lopes Varela concentra uma grande quantidade de edifícios deste tipo, pois é uma via de grande
fluxo).

O segundo trecho inicia-se onde o primeiro termina e estende por mais 420 metros a
sudeste, margeado pelos campos degradados que compõem o Parque Boca da Mata, culminando
no acesso ao bosque pela Luís L. Varela. É uma área sem tecido urbano edificado e, portanto,
não apresenta as mesmas dinâmicas e vitalidade que são encontradas no primeiro trecho. Por
causa disso, este trecho acaba sendo subutilizado pelos usuários da pista pois passa uma
sensação de vazio e de insegurança, principalmente no fim da tarde, quando começa a escurecer.
Observações realizadas no local revelaram que uma parcela considerável dos usuários prefere
percorrer apenas o primeiro trecho, indo até a margem do tecido edificado e voltando pelo
mesmo caminho, evitando seguir o restante da pista.

Além disto, foram percebidos alguns outros problemas no espaço da pista que
prejudicam sua plena e confortável utilização:

• O local não possui mobiliário urbano adequado para dar suporte às atividades ali
realizadas;
• Não há distinção e nem sinalização vertical ou horizontal adequada para as atividades
de ciclismo (ciclofaixa);
• Falta sombreamento arbóreo ao longo da pista, o que dificulta sua utilização fora dos
horários acima mencionados;
184

Visto isso, decidiu-se propor uma reestruturação da pista de cooper com o objetivo de
oferecer mais conforto ao usuário e tornar o espaço ainda mais atrativo à população.
Considerando também que a pista concentra o principal fluxo de pedestres da Luís L. Varela e
dá acesso ao parque por esta mesma via, a reestruturação do local é também positiva ao bosque
uma vez que alimenta uma potencialidade percebida em seu entorno. A intervenção gira em
torno de proposições paisagísticas, de mobiliário e de redimensionamento do segundo trecho
do local, visando aproximar o local da ideia de corredor verde.

Figura 95. Croqui esquemático de um corredor verde.

Fonte. archdaily.com (acesso em novembro de 2020).

O paisagismo proposto para a pista de Cooper difere do utilizado para o parque por ser
direcionado a uma área de via urbana e que, por isso, necessita de alguns cuidados especiais
quanto ao porte e ao tipo da vegetação, para que não interfiram em elementos como calçadas,
encanamentos ou fiações elétricas. Para nortear a escolha das espécies, observou-se algumas
diretrizes presentes no Manual de Arborização de Natal (2009), como dimensão das árvores,
espaçamento entre espécies e tamanho de canteiros adequados.

Segundo o IBF (Instituto Brasileiro de Florestas), vegetação nativa é aquela que “é natural,
originária da região em que vive, ou seja, que cresce dentro dos seus limites naturais incluindo
a sua área potencial de dispersão” (IBF, 2006). Dito isso, a seleção priorizou a implementação
de espécies nativas do clima tropical e subtropical do tipo arbórea, com copas frondosas que
pudessem oferecer sombreamento ao longo do caminho, com raízes profundas e também com
apelo estético, através da coloração de flores e/ou folhas. As espécies escolhidas serão
implementadas em ambos os lados da pista, nos canteiros gramados que a separam das vias de
185

fluxo automobilístico. A intenção é criar dois “muros” vegetais ao longo do percurso, formando
um corredor verde que focalize a atenção do usuário para a extensão do caminho à sua frente.

Esses muros, no entanto, deverão diferir em questão de porte. Ao lado oeste da pista, no
canteiro adjacente à Av. Luís Lopes Varela, serão utilizadas apenas árvores de pequeno/médio
porte (entre 5 e 10 metros de altura), enquanto ao lado leste, no canteiro oposto, serão utilizadas
árvores de médio ou grande porte, preferencialmente (acima de 10 metros de altura). A decisão
foi assim tomada pois ao longo do canteiro da Luís Lopes Varela encontram-se os postes de
fiação elétrica, que possuem cerca de 9m de altura. Dessa forma, restringindo o porte das
árvores locadas deste lado, evita-se o conflito entre fios e galhos e a consequente necessidade
de podas agressivas.

É importante ressaltar que em alguns trechos da pista já existe vegetação (em grande
parte são pequenos coqueiros, cujas copas não oferecem sombreamento), bem como forração
do tipo grama, que serão mantidas. Nos quadros abaixo (Quadro 04 e 05) encontram-se as
sugestões de espécies-modelo para serem utilizadas no paisagismo da pista de Cooper.

Quadro 10. Espécies sugeridas para o canteiro oeste, próximo a fiação elétrica.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


186

Quadro 11. Espécies sugeridas para o canteiro leste.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

As escolhas acima também prezaram pela variedade visual entre espécies, como no
modelo do caule, das copas e da floração. Esta última que foi pensada para ocorrer em diferentes
épocas do ano, dependendo da árvore, a fim de conferir diferentes colorações ao entorno da
pista de cooper dependendo de qual árvore (ou árvores) estejam florindo.

Para a adequada construção dos muros arbóreos, as espécies devem ser locadas ao longo
de toda a pista de cooper, respeitando os intervalos aconselhados para o plantio. Segundo o
Manual de Arborização (2009), entre árvores de pequeno porte, aconselha-se um
distanciamento entre árvores de 5m, para médio porte, 8m e para grande porte, 12m.

Quanto ao mobiliário a ser implementado, optou-se por suprir a pista de Cooper apenas
dos mobiliários mais indispensáveis ao conforto do usuário. Dentre esses mobiliários estão:
bancos, lixeiras, (novos) postes de iluminação e a Estação de Apoio ao Atleta (EAA), que será
mais à frente apresentada.
187

• QUANTOS AOS BANCOS: estes serão


Figura 96. Banco dos canteiros da cidade.
realizados em concreto, pelo baixo custo
e fácil reposição no caso de depredação.
O modelo deverá ser o mesmo que já é
usado nos canteiros da cidade, de forma
a preservar a linguagem desses
mobiliários. Os bancos serão locados às
margens da pista, dentro dos canteiros a
cada 50m e, de preferência, próximo às
arvores e aos postes de iluminação, para
que de dia não fiquem expostos ao sol e,
Fonte. Acervo do autor. (2020)
à noite, não fiquem reclusos no escuro.
Figura 97. Lixeiras sugeridas para o local.

• QUANTOS ÀS LIXEIRAS: também


serão realizadas em concreto, pela
mesma razão dos bancos. Serão
dispostas em conjuntos de 5 recipientes
(quatro para coleta seletiva e um para
lixo orgânico, devidamente identificadas
por cor). As lixeiras devem ser locadas
junto aos bancos, de forma alternada, ou
seja, um conjunto a cada 100m.

Fonte. Archiexpo.com
Acesso em novembro de 2020

• QUANTO Á ILUMINAÇÃO: Atualmente, a iluminação da pista de cooper é feita por


pequenos postes locados em ambos os canteiros. No entanto, essa iluminação apenas é
efetiva pois não existem corpos arbóreos densos que ocultem esses postes nem
bloqueiem sua luz. Uma vez que um projeto paisagístico foi proposto para os canteiros,
a mudança no mobiliário de iluminação torna-se necessária. Os novos postes serão
locados no centro da pista a cada 15m e ao longo de toda sua extensão. Eles possuirão
5m de altura, com duas hastes de iluminação, em formato de T, garantindo uma
iluminação mais efetiva e sem interferência dos corpos folhosos.
188

Figura 98. Atuais postes de iluminação (à esquerda) e o sugerido (à direita).

Fonte. postesdecorativos.com.br
Fonte. Acervo do autor. (2020)
Acesso em novembro de 2020

• QUANTO À EAA (ESTAÇÃO DE APOIO AO ATLETA): consiste num pequeno


espaço coberto projetado para oferecer suporte aos corredores e ciclistas da pista de
cooper. O local conta com sanitários, paraciclos, um banco e um bebedouro público, e
visa oferecer melhores condições para o exercício dos usuários. A E.A.A é executada
em alvenaria de tijolinhos de barro aparentes com cobertura em telha de fibrocimento,
a fim de manter uma linguagem natural que orne com a vegetação do entorno. Foram
implementadas três E.A.A ao longo da pista de cooper: uma no começo do percurso,
vizinho ao hospital Percílio Alves, uma no meio e uma no final (às portas do Bosque
Boca da Mata.)

Figura 99. Modelo elaborado para a E.A.A.

Fonte. Produzido pelo autor (2020).


189

O segundo trecho da pista, que admite maior intervenção por causa de seu entorno não
edificado, será completamente redimensionado para comportar os fluxos de pedestres e de
bicicletas de madeira ideal. Os canteiros laterais serão ampliados, bem como a faixa de
circulação, que dedicará uma porção para a implementação da ciclofaixa de duplo sentido, com
paginação e sinalização adequada. (Prancha 02)

Figura 100. Redimensionamento sugerido para o segundo trecho da pista.

Fonte. Acervo do autor. (2020)

Com base no que foi exposto, essa reestruturação tem como objetivo potencializar os
atrativos da pista de cooper, tornando sua utilização mais confortável e segura para os usuários
em diferentes horários do dia. As Figuras 101 e 102 apresentam, sob um mesmo ponto de
observação, um “antes e depois” da pista de acordo com a proposta. (Ver Prancha 02)

Figura 101. Pista de cooper atualmente.

Fonte. Acervo do autor. (2020)


190

Figura 102. Pista de cooper reestruturada.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

10.2 URBANIZAÇÃO DA LUÍS L. VARELA

Como já mencionado neste trabalho, a Av. Luís Lopes Varela é uma das principais vias
do munícipio, cortando-o de sul a norte e ligando a BR-406 com a RN-307. Por ser uma via de
intenso fluxo, tanto de carros como de pedestres, as quadras que se estabeleceram ao longo de
sua extensão apresentam um caráter bem voltado para o setor comercial, de serviço e
institucional. (Mapa 06)

Apesar de seu potencial, a urbanização em torno desta via não se expandiu no sentido
leste devido ao perímetro dos canaviais da CAVCM, que permaneceram em atividade até o
começo dos anos 2000. A porção leste do trecho inicial dessa via, no entanto, foi sequer
urbanizada. Como trecho inicial entende-se a fração da via compreendida entre o seu
cruzamento com a BR-406, a sul, e o seu cruzamento com a Rua João Fonseca Neto, a norte
(esta é a mesma fração que corresponde ao trecho 02 da pista de cooper, discutido no
subcapítulo anterior).

Esta porção está inserida dentro do espectro de áreas degradadas do parque, que foram
inseridas dentro do seu perímetro através da Lei 1.884/19, a qual ampliou área da UC com o
intuito de criar uma zona de amortecimento (SOARES E CARVALHO, 2013). Na figura 101
é possível perceber a dimensão dessas áreas ao longo do trecho 02 da pista de cooper.
191

Durante o estudo do entorno foi perceptível que a ausência de edifícios (e,


consequentemente, de pessoas) afeta a vitalidade local de forma negativa, criando a “zona de
insegurança” vista no mapa 22 e comprometendo inclusive o potencial da pista de cooper neste
trecho. Visto que o bosque se encontra na interseção da Av. Luís L. Varela e da BR-406,
próximo a esta “zona de insegurança”, optou-se por propor a urbanização deste trecho da via,
ligando à área do parque com a área já urbanizada da cidade e completando esta “brecha” não
edificada do tecido urbano, cuja existência hoje não faz mais sentido graças ao encerramento
das atividades canavieiras no local. (Mapa 25)

Mapa 25. Zona a ser urbanizada (em amarelo).

Fonte. Produzido pelo autor (2020)

A proposta visa a implantação de quatro novas quadras e cinco novas vias neste trecho
(quatro paralelas à Luís L. Varela e uma perpendicular conectando as quatro primeiras),
conferindo maior diversidade de usos ao local, mais urbanidade e potencializando os fluxos de
automóveis e pedestres entorno do bosque. A intervenção possui uma área de 5,7 hectares, com
143 novos lotes idealizados inicialmente com as dimensões 10mx20m, mas que podem ser
agrupados de acordo com a necessidade do equipamento a ser implementado. A figura 103
mostra um esquema da disposição das novas quadras e vias dentro da área de intervenção.
192

Figura 103: Novas quadras da Luís L. Varela.

Fonte. Produzido pelo autor (2020)

As quadras 01 e 04, por estarem Figura 104: Corte esquemático das novas vias.
em contato direto com o fluxo
privilegiado da Luís L. Varela, serão
destinadas a implementação de
equipamentos de comércio, serviço ou
uso misto, de forma que se tenha um
fluxo de pessoas e atividades no local
durante o dia, enquanto as 02 e 03
podem ser estendidas ao uso
institucional. As novas vias foram
projetadas para oferecer circulações de
duplo sentido e baias de
estacionamento aos veículos (o que
não ausenta os edifícios de fornecerem
às suas próprias vagas previstas em lei)
e calçadas confortáveis aos pedestres Fonte. Produzido pelo autor (2020)

(Figura 104).
193

Segundo o art. 26º do PDCM, faz-se necessária a arborização destas vias, que deve ser
feita com as espécies propostas para a pista de cooper, no intuito de se criar uma unidade visual
entre as áreas.

As edificações da área devem obedecer, além das prescrições urbanísticas básicas do


plano diretor, aquelas previstas pela Lei 1.884/19, que regulamente a área do parque onde a
proposta está inserida. Segundo a referida lei, o gabarito das novas edificações fica restrito a
uma altura máxima de 8m e seu uso não deve produzir ruídos, gases, odores ou rejeitos que
possam causar dano ambiental.

Os lotes das novas quadras devem, ainda, pertencer ao poder público e ser entregues ao
direito privado através da cessão de uso, visto que, segundo a lei do SNUC, fica proibida a
existência de propriedade privada dentro do perímetro de um parque. Segundo o Plano Diretor
de Ceará-Mirim, a utilização dos territórios de ZPA IV (caso do PBM) é sim, possível, para
fins de urbanização desde que:

- Seja devidamente autorizada pelo poder municipal, com o devido licenciamento


ambiental e esteja de acordo com o Plano de Manejo da unidade; (art. 25º, PDCM, 2006)

- Não acarrete a supressão da vegetação arbórea ou arbustiva das áreas verdes do


munícipio. (art. 26º, PDCM, 2006) Este não seria o caso, já que a área da intervenção está
fortemente degrada e não apresenta corpos vegetais significativos.

- Possua fins de interesse público, de habitação social ou de regularização fundiária;


(art. 27º, PDCM, 2006)

Compreende-se que, dentre as três intervenções propostas para o entorno do BBM, esta
é a mais complicada do ponto de vista ambiental, visto que sua implementação dependeria de
estudos mais profundos da área e de documentos que ainda não foram elaborados pela gestão
municipal, como o Plano de Manejo da unidade. No entanto, a partir do que já foi exposto, vê-
se que a proposição desta intervenção é legalmente viável e benéfica ao bosque e à cidade,
sendo, portanto, válida. (Ver Prancha 01)
194

10.3 INTEGRAÇÃO COM O AERÓDROMO DE CEARÁ-MIRIM

O aeródromo municipal consiste num edifício institucional de uso privado, localizado


às margens da BR-406. O edifício se encontra nas imediações da área de implantação da
proposta e, inicialmente, cogitou-se sobre a possibilidade de integrá-lo ao parque, tornando-o
mais um atrativo para a população. (Figuras 105 e 106)

Figura 105. Localização do aeródromo. Figura 106: Hangar do aeródromo.

Fonte. Produzido pelo autor a partir Fonte. Acervo do autor. (2020)


do Google Earth (2020)

O hangar consiste numa grande cobertura em concreto pré-moldado que abriga os


veículos e um pequeno edifício interno com algumas salas e banheiros. O local foi visitado em
setembro de 2020 a fim de coletar mais informações sobre o funcionamento do local e concluir
se sua integração ao parque era uma possibilidade. Para tanto, entrevistou-se o sr. Elias
Marinho, guarda-campo e responsável pela manutenção do aeródromo e que também reside no
local.¹

Segundo Marinho, o aeródromo de Ceará-Mirim é um espaço pertencente ao poder


público que é cedido para o funcionamento de duas instituições: a Associação de Ultraleves de
Ceará-Mirim e o Aeroclube de Natal, que usa o local para o exercício prático das aulas de voo
ministradas na sede. A cada uma destas instituições é destinado 50% do espaço do hangar para
a guarda dos veículos (Figura 107 e 108).

¹ Entrevista realizada em 9 de setembro de 2020.


195

Figura 107. Modelo de aeronave do aeroclube.

Fonte. Acervo do autor. (2020)

Figura 108. Modelo de aeronave da associação de ultraleves.

Fonte. Acervo do autor. (2020)

Durante a entrevista, Marinho afirmou que apesar de ser um edifício utilizado por
instituições do direito privado, seu acesso é público (o que não é sabido por grande parte da
população), sendo permitido o livre acesso para passear pelo local e conhecer os aeromodelos.
Ele afirmou ainda que o aeródromo já teve convênio com a prefeitura municipal durante a
primeira década dos anos 2000, através do qual recebiam investimentos para manutenção do
local e realização de atividades (inclusive direcionadas ao público, como voos recreativos e
contemplativos), mas que após a cessão do convênio, o uso do local ficou mais restrito às
instituições que o mantém.

Quanto à possibilidade de integração com o parque, Marinho acredita ser, sim, viável,
visto que o local ainda possui a estrutura necessária para oferecer atividades de voos à
196

população interessada e desde que haja a devida parceria com a administração pública do
município. A lei 1.884/19

Dito isto, optou-se por integrar a área do aeródromo ao BBM, oferecendo uma opção de
lazer diferenciado ao usuário: o voo. A atribuição de um uso público ao aeródromo também
ajuda na justificativa da sua permanência na área do parque, visto que segundo a Lei do SNUC,
áreas particulares dentro dos limites de um Parque Nacional (categoria do PBM) devem ser
desapropriadas. O equipamento também já atende às normas previstas pela Lei Municipal
1.884/19 no que tange seu gabarito (máximo de 8m) e seu uso (não produtor de ruídos, odores,
gases ou rejeitos nocivos à vida ambiental), facilitando sua adequação ao novo contexto
legislativo que rege as terras onde está locado.

A intervenção no aeródromo não visa alterar a estrutura já existente, mas integrá-la ao


restante do parque através dos passeios internos e da implementação de espaços de permanência
em seu torno, como um deck contemplativo de onde se possa observar a decolagem e o pouso
dos aeromodelos. Mais detalhes serão dados no capítulo sobre a implantação do projeto.

10.4 O BOSQUE BOCA DA MATA

Este capítulo apresentará a proposta da área visitável propriamente dita. Conforme já


evidenciado no item sobre zoneamento, o BBM possui quatro setores: o setor de Cultura e
Eventos, o Setor de Pesquisa, o Setor de Recreação e Esportes e o Setor Educacional, assim
divididos de acordo com o caráter de seus principais equipamentos. Os dois primeiros setores
estão localizados a leste da BR-406, no bairro Luís L. Varela e ao longo da avenida de mesmo
nome. Os dois últimos estão localizados à oeste da BR, no bairro do Planalto, ao longo da Av.
Jurandir Carvalho.

A área total de intervenção é de 171.200m² (cerca de 17 hectares), estando 132.300m² à


oeste e 38.900m² à leste, e é cercada por grades para que se controle o acesso sem prejudicar a
permeabilidade visual. Para facilitar a compreensão do projeto, há de se explicar a composição
e funcionamento de cada setor separadamente. Conforme esquematizado na Figura 108, é
possível ver a posição dos setores no entorno urbano.
197

Figura 109. Implantação e setorização do Bosque Boca da Mata.

Setor cultura e eventos


(10.4.1)

Setor de pesquisa
(10.4.2)

Setor de recreação
(10.4.3)

Setor educacional
(10.4.4)

0 40 80 120m

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


198

10.4.1 Setor Cultura e Eventos


2

Para uma melhor compreensão, recomenda-se a observação da Prancha 03 juntamente


com a leitura do capítulo. Neste setor, o acesso viário é único e se dá pela Av. Luís LVarela (no
local já previsto pela administração municipal), onde estará locado o pórtico de bilheteria da
Figura 87 e por onde deverão ingressar veículos (de usuários e de funcionários) e pedestre. O
estacionamento público do setor conta com 40 vagas para automóveis (devendo duas serem
destinadas a idosos e uma a cadeirantes) e duas para ônibus. Além deste estacionamento, o local
ainda conta com dois pequenos estacionamentos internos para apoio à Estação de Pesquisa e ao
Pavilhão, que dispõem de 15 vagas, o acesso a esses estacionamentos se dá mediante
autorização competente.¹

O acesso está localizado ao fim da pista de cooper, funcionando como uma espécie de
arremate pra ela. A ciclofaixa deste setor também se conecta com a ciclofaixa proposta para a
pista, permitindo que o ciclista possa continuar o circuito dentro do parque ao cruzar a
bilheteria. A ciclofaixa, assim como os passeios, foi pensada para ser orgânica e para permitir
o acesso aos principais equipamento. Ao entrar neste setor, o pedestre se depara com um átrio
multiuso e, a partir dele, segue seu caminho dentro local. Os átrios multiuso foram pensados
para serem espaços amplos e pavimentados, dotados de robustez, que podem ser utilizados para
múltiplos fins (jogos, apresentações, feiras, etc). Cada setor conta com um átrio multiuso.

Figura 110. Átrio multiuso do Setor Cultura e Eventos.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


¹ A quantidade de vagas de estacionamento foi calculada segundo o Código de Obras de Natal, visto que o de Ceará-
Mirim não abordava todos os equipamentos presentes. O total de vagas do projeto está descrita no Quadro 15.
199

Os principais equipamentos deste setor são o pavilhão, o mirante e o anfiteatro, todos


posicionados em pontos estratégicos da topografia. O pavilhão e o mirante foram locados juntos
(visto que o mirante encontra-se na cobertura de um complexo de pequenos edifícios onde se
encontram os ambientes de apoio do pavilhão, como salas de aula e depósitos) na curva
topográfica mais alta, para conferir mais visibilidade aos dois de dentro e de fora do parque.
(Figura 111)

Figura 111. Um dos passeios principais do setor (ao fundo vê-se a cobertura do pavilhão).

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

O mirante oferece uma vista para os antigos campos canavieiros. O usuário pode acessá-
lo de duas formas: pela rampa em uma extremidade ou pela parede de escalada na outra. O
anfiteatro foi locado num ponto de considerável declividade topográfica, a fim utilizar o
desnível para a instalação das arquibancadas. (Figura 112)
200

Figura 112. Localização e volumetria dos principais equipamentos do setor.

mirante (02)

Pavilhão (01)

Anfiteatro (03)
3)

01

02
201

03
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

Os equipamentos de apoio (posto de segurança, de informações, banheiros e


ambulatórios) foram reunidos num edifício único aqui chamado de núcleo de apoio. Os núcleos
de apoio foram assim pensados para facilitar a supervisão, manutenção e vigilância destes
espaços (principalmente fora do horário de funcionamento do parque). Estes núcleos estão
localizados em pontos de fácil acesso e visualização (os banheiros são os únicos espaços do
núcleo de apoio que podem ser encontrados em mais de um local).

Este setor conta ainda com áreas menores de uso ativo e passivo, como um playground
infantil, áreas de convivência e quiosques (que podem ser cedidos pela gestão municipal às
pessoas de interesse particular para venda de lanches, por exemplo). As áreas de uso passivo
foram posicionadas ao longo das circulações e sempre nas proximidades dos equipamentos de
uso ativo, de forma a contornar o problema visto nas praças da cidade (onde as zonas de uso
passivo, se muito reclusas, acabam sendo abandonas/subutilizadas). Essa lógica de distribuição
de áreas passivas foi adotada em todos os setores.

Deste setor, o usuário pode se deslocar diretamente para o Setor de Pesquisa (mais a sul)
e para o Setor de Recreação e Esporte, do outro lado da BR-406. O cruzamento da BR acontece
através de uma passarela-mirante em estrutura metálica, da qual é possível ter uma visão
panorâmica do parque e dos fragmentos de Mata Atlântica a sul do local. O acesso à passarela
é completamente rampeado e segue à inclinação de 0,833% (NBR 9050/20), promovendo uma
202

subida tranquila para cadeirantes e para ciclistas que desejam cruzar os setores. No Setor
Cultura e Eventos a passarela encontra-se anexada ao núcleo de apoio (Figura 113), enquanto
no Setor Recreação e Esportes ela encontra-se na área do lago. A circulação da passarela possui
2,40m de largura e 80m de extensão. A passarela está elevada a 6m de altura, permitindo que
os veículos transitem sem problemas pela BR, e é completamente vedada por telas metálicas, a
fim de proteger o usuário sem comprometer a vista.

Figura 113. Núcleo de Apoio do setor e acesso à passarela-mirante.


a

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

Do ponto de vista da BR, a passarela serve como um elemento arquitetônico que


denuncia a existência do parque e a conexão entre ambos os setores, além de também servir
para receber os elementos de comunicação visual da entrada da cidade, como um pórtico de
entrada. (Figura 114).

Figura 114. Passarela-Mirante: um caminho sobre as árvores (e sobre a BR).


a

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


203

10.4.2 Setor de Pesquisa

Para uma melhor compreensão, recomenda-se a observação da Prancha 05 juntamente


com a leitura deste item.

Este é o menor setor do Bosque Boca da Mata. O local encontra-se a sul do Setor Cultura
e Eventos e a transição entre eles acontece ao longo de uma via automobilística acessada apenas
por pessoal autorizado (no caso de veículos, já que os pedestres podem visitar o setor se
seguirem a pé por esta mesma via). Neste setor concentram-se os principais equipamentos de
pesquisa ambiental. (Ver Prancha 05)

O estacionamento do local conta com 14 vagas para carros (devendo ser uma destinada
a idosos e uma a cadeirantes) e 2 vagas para ônibus. Optou-se por afastar este setor do restante
do parque por três motivos:

• Preservar o caráter mais reservado e mais técnico do local;


• Permitir uma aproximação maior com os fragmentos de Mata Atlântica nativos, que se
encontram mais a sul.
• Locar, ao longo da via que liga ambos os setores, o viveiro municipal e os lotes-escola.

Os lotes escola consistem em porções de terra dentro do Setor de Pesquisa destinadas à


“adoção” por partes das instituições de ensino da cidade, isto é, são como lotes usados como
extensão da infraestrutura da escola; um pedaço delas dentro do BBM, onde podem trabalhar a
educação ambiental e proporcionar aulas de campo a seus alunos em parceria com a equipe
técnica do setor.

Sob a responsabilidade deste setor encontram-se os dois bosques de restauração do


BBM. Estes bosques consistem em espaços cercados e voltados exclusivamente para estudos
acerca do reflorestamento e recuperação do bioma do Parque Boca da Mata, cujo acesso é dado
apenas a pessoal autorizado. Segundo Martins (2005), a recuperação de áreas degradas é um
processo bastante complexo e requer “monitoramento constante e cuidado intensivo”.
(adaptado de Martins, 2015 p.26) Dentro deste monitoramento estão inseridos processos como
controle de pragas, registros periódicos da evolução da flora e experimentação de técnicas de
enriquecimento e manejo do solo, atividades que não seriam possíveis realizar adequadamente
em toda a extensão do parque visto que estaria sempre sendo afetado pela ação humana presente
no espaço público.
204

Por isso foram idealizados os boques, para garantir a segurança do perímetro a ser
reflorestado e dos estudos nele realizados. O BBM conta com um bosque de restauração no
Setor Cultura e Eventos e um no Setor Educacional, ambos com aproximadamente 10.000m² e
cada um com sua Estação de Pesquisa própria, através da qual se tem o acesso ao interior dos
bosques.

Figura 115. Localização do Setor de Pesquisa (em vermelho) e áreas


relacionadas a ele (em verde).

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

10.4.3 Setor Recreação e Esportes

Para uma melhor compreensão, recomenda-se a observação da Prancha 04 juntamente


com a leitura deste item.

Este é o maior setor do BBM e encontra-se à oeste da BR-406, no bairro do Planalto.


Devido seu tamanho, o local apresenta três acessos viários. O principal, por onde entram
pedestres e veículos, que localiza-se na Rua Francisco Martiniano e é de fácil visualização,
tanto da BR-406, como do acesso principal do Setor Cultura e Eventos, na Av. Luís L. Varela.
Os outros dois acessos dão-se pela rua Jurandir Carvalho, e são exclusivos para pedestres.
205

O estacionamento desse setor encontra-se no cruzamento da Jurandir Carvalho com a


Francisco Martiniano, podendo ser acessado de qualquer uma das vias. O espaço conta com 48
vagas para carros (devendo ser 3 destinadas a idosos e uma a cadeirantes) e 2 vagas para ônibus.
Neste setor, ao contrário, do que acontece no Setor Cultura e Eventos, não há vias
automobilísticas em seu interior. Pensando nisso, estabeleceu-se um eixo retilíneo cortando
todo o setor e alcançando os principais equipamentos, por onde pode haver o fluxo
automobilístico em casos de necessidade. (Figura 116)

Figura 116: Eixo automobilístico.


Com exceção do lago, mais
direcionado à contemplação, os
principais equipamentos deste setor são
voltados para o uso ativo: playgrounds,
academia ao ar livre, quadras, pista de
skate e Complexo Esportivo. Esses
equipamentos estão dispostos ao longo
das circulações principais, sendo
também alcançados pela ciclovia. O
Complexo Esportivo dispõe de três
quadras de tamanho profissional,
arquibancadas, banheiros e vestiários. O
local é destinado a realização de eventos
de público, como jogos escolares e seu
acesso se dá mediante autorização visto a
complexidade do programa interno. As
quadras recreativas, por sua vez, estão
sempre abertas e disponíveis para o
público. (Figura 117) Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

As áreas de uso passivo foram distribuídas ao longo das circulações secundárias e nas
proximidades das áreas ativas, assim como no setor cultural.

O setor apresenta ainda o acesso pela passarela-mirante, localizado no lago artificial,


que o conecta com o Setor Cultura e Eventos e cruza a BR-406 por cima, oferecendo uma visão
privilegiada do lago e dos bosques acústicos nas margens da BR. (Figura 118)
206

Os bosques acústicos, como foram chamados, consistem em faixas vegetais que


margeiam a BR-406, em sua área non aedificandi. Esses espaços visam diminuir o impacto
visual e sonoro da via dentro do BBM, ajudando a imprimir nos usuários a sensação de se estar
imerso no meio natural (Ver Prancha 04)

Figura 117: Quadras recreativas do setor.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

Figura 118: Acesso à passarela-mirante no lago do setor.

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


207

Além dos habituais quiosques, este setor conta também com dois espaços para
restaurantes localizados próximos à sua entrada principal. Visto que o Planalto carece de
equipamentos deste tipo, eles foram assim posicionados para ficarem próximos ao CEEP
(instituição de ensino vizinha ao bosque, ver no mapa 21) e atrair a atenção de estudantes e
professores que procurem um local para fazer alguma refeição durante o dia.

Este conecta-se com o Setor Educacional, a sul, o qual será tratado no item seguinte.

10.4.4 Setor Educacional

Para uma melhor compreensão, recomenda-se a observação da Prancha 05 juntamente


com a leitura deste item.
Como já explicitado, o Setor Educacional localiza-se a sul do Setor Recreação e Esporte,
a oeste da BR-406. O acesso a este setor pode ser feito pelos caminhos internos do BBM ou
pelo acesso viário da Rua Jurandir Carvalho, que permite a entrada de veículos e de pedestres
e leva diretamente ao Complexo Educacional e ao Aeródromo, para o caso do usuário estar
vindo apenas utilizá-los e não tenha interesse em atravessar o restante do parque. (Ver na
Prancha 05)
O setor conta com uma área de estacionamento com 40 vagas para carros (devendo ser
2 de idosos e uma de cadeirantes). Há ainda um pequeno estacionamento de apoio para a
Estação de Pesquisa do setor, com 8 vagas. Os três principais atrativos deste setor são:

• O Percurso Histórico-Ambiental;
• O Complexo Administrativo/Educacional;
• O Aeródromo de Ceará-Mirim (que embora não possua fins educacionais como
os demais, ficou neste setor pela sua proximidade).

O Percurso Histórico-Ambiental consiste numa pequena trilha com cerca de 220m de


extensão, que liga o Átrio Multiuso do Setor Recreação ao Complexo Educacional e seus
arredores. A estrutura do percurso tem o formato de raiz, com um eixo central e 4 ramos, cada
um deles tratando de um tema diferente relacionado à cidade ou ao parque e culminando em
algum equipamento ou espaço cênico referente ao tema. (Figura 119)
208

Figura 119: Esquema da Trilha Histórico-Ambiental.

-EIXO 01 (MARROM): Trata sobre a história


de Ceará-Mirim.
Finaliza em: Museu da Cidade.

-EIXO 02 (LARANJA): Trata da história da


indústria açucareira no município.
Finaliza em: Chaminé de Usina (escultura).

-EIXO 03 (AMARELO): Trata do processo de


formação do Parque Boca da Mata.
Finaliza em: Aeródromo

-EIXO 04 (VERDE-ESCURO): Trata da Mata


Atlântica (panorama geral).
Finaliza em: Museu Botânico.

-EIXO 05 (VERDE-CLARO): Trata da Mata


Atlântica (panorama do parque).
Finaliza em: Cabelo-de-Índio (Escultura)¹
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

A ideia do percurso é Figura 120: Croqui digital de totem informativo para a


Trilha Histórico-Ambiental.
oferecer ao usuário um passeio
interativo, no qual ele tenha
liberdade de escolher por qual
caminho seguir e, assim, com
qual conteúdo terá contato e
sobre o quê aprenderá. Os
caminhos serão dotados de
elementos de comunicação
visual como totens, placas e
esculturas nas cores
designadas para tornar a
experiência mais imersiva e
personalizada para cada tema.
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)
(Figura 120)

¹ A flor conhecida como “Cabelo-de-Índio” é uma espécie nativa do Cerrado que floresce após queimadas. A escultura
dessa flor no BBM visa simbolizar o florescer de uma nova história nessa área já tão agredida pelo fogo.
209

O Complexo Administrativo e Educacional é onde se concentra toda a parte


administrativa do BBM (cuja composição programática pode ser vista com mais detalhes no
Quadro 12 e onde estão locados o museu cultural e o auditório.

O aeródromo, por sua vez, manteve a estrutura base do hangar, mas recebeu um deck
contemplativo e um “Museu da Aviação” em suas imediações, onde os usuários do parque
podem ir para observar os voos e conhecer mais da história do aeródromo.

Apesar do aeródromo estar sendo considerado parte integrante do BBM, optou-se por
delimitar e cercar a área do local, de forma que seja possível controlar o acesso e impedir os
usuários de se aproximarem da pista de pouso por motivos de segurança. Essa decisão foi
tomada pois, mesmo sendo um equipamento que oferece atividades de lazer, o aeródromo ainda
é uma instituição de interesse particular que também realiza atividades não relacionadas ao
Boca da Mata. Dito isso, definiu-se dois pontos de acesso ao seu perímetro: um ligando-o ao
Setor Educacional (Figura 121, acesso 01) e um ligando ao Setor Recreativo (Figura 21, acesso
02), ambos destinados à pedestres. Esses acessos ocorrem através de portões que podem ser
fechados de acordo com a necessidade do aeródromo.

Figura 121: Acessos para o perímetro do aeródromo.

02

01

Fonte. Produzido pelo autor. (2020)


210

Voltando ao panorama geral do BBM, como já abordado no item “Passeios e


Paisagens”, as circulações de pedestres foram divididas em dois tipos (Ver Prancha 05):
De forma geral, os passeios
Figura 122: Isometria modelo dos passeios principais.
principais do bosque serão mais
largos, com 6m de largura, e serão
acompanhados pela ciclofaixa de
sentido duplo, com 3m. Os
mobiliários destes caminhos serão
locados sobre a faixa pavimentada e
serão de caráter mais funcional e mais
ligados ao descanso do que a
permanência. A pavimentação destes
caminhos será realizada em tijolinho
intertravado na cor terracota, sendo
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)
admitida sua mistura com tijolos
intertravados na cor cinza para composição de mosaicos ou outros desenhos no piso. A escolha
dessas cores e revestimentos serão justificadas no capítulo sobre a proposta paisagística. Os
mobiliários devem ser de concreto e a iluminação será feita através de postes de luz
posicionados em ambas ar margens do passeio. (Figura 122)

Os passeios secundários serão


Figura 123: Isometria modelo dos passeios secundários.
mais estreitos, com cerca de 2.50m de
largura. Os mobiliários deste caminho
serão localizados do lado de fora do
passeio, no meio da forração vegetal, e
devem possuir um caráter mais lúdico,
recreativo, intimista e voltados para a
educação ambiental. Para este caminho
desejava-se uma pavimentação mais
rústica e natural, mas que também
prezasse pela acessibilidade desses
caminhos para os usuários com
mobilidade reduzida. Para contemplar Fonte. Produzido pelo autor. (2020)
211

ambas as intenções, optou-se pela utilização do saibro, ou terra batida. Os mobiliários destes
caminhos devem ser de madeira e/ou de ferro e a iluminação será feita por postes balizadores,
muito comuns em jardins. (Figura 122)

O BBM apresenta ainda vias Figura 124: Isometria modelo das vias automobilísticas.
voltadas para o fluxo automobilístico
(bem como os estacionamentos) no
interior do bosque devem possuir
sentido duplo e ser executadas em
paralelepípedo e terão 5m de largura
para suporte o duplo sentido de
veículos. Estas vias devem contar com
pelo menos uma calçada lateral de
1,50m, com fins de circulação apenas.
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)

10.4.5 Diretrizes Paisagísticas

A proposta paisagística para o Bosque Boca da Mata tem viés vegetal e arquitetônico,
uma vez que a paisagem é composta pela presença de elementos de ambas as naturezas (Abbud,
2006). A seguir serão apresentadas as justificativas e decisões tomadas para estas duas esferas
do paisagismo.

Dentro do âmbito do paisagismo vegetal, o projeto foi mais restritivo e priorizou a


utilização de árvores “de sombra” nativas do bioma local: a floresta estacional semidecidual da
Mata Atlântica. Dessa forma, o projeto paisagístico visa, além de oferecer beleza e conforto ao
parque, auxiliar na recuperação da mata local, oferecendo benefícios como: reestabelecimento
das dinâmicas naturais do bioma, abrigo e alimento para a fauna e manutenção mais simples
devido a adaptação ao local. (Martins, 2015)

Conforme já exposto anteriormente, o PBM ainda não dispõe de um catálogo oficial de


espécies locais. Por isso, foi necessária a realização de consultas a fontes externas para a
confecção de um catálogo próprio. Dentre estas fontes encontram-se duas principais: o Manual
de Adequação Ambiental - Mata Atlântica (produzido e disponibilizados pelo Ministério do
Meio Ambiente, 2010) e o Manual Técnico de Vegetação Brasileira (produzido e
disponibilizado pelo IBGE, 2012).
212

A composição paisagística levou em consideração o conceito dos planos visuais


apresentados por Abbud (2006), que divide a paisagem em planos de piso (vegetação de
forração), de parede (aquilo que se está no nível dos olhos, como árvores e equipamentos) e de
teto (copas das árvores). No plano de piso, tem-se uma forração uniforme de vegetações
herbáceas ao longo de todo terreno, a qual será mantida no projeto. Os planos de parede e de
teto foram trabalhados de formas diferentes nas áreas de uso ativo e passivo, e combinados com
o apelo estético das espécies coletadas para o catálogo. Estas foram divididas em três grupos,
de acordo com a sua finalidade no projeto:

GRUPO 01 – ESPÉCIES DE “PREENCHIMENTO” DA PAISAGEM

As espécies aqui agrupadas consistem em árvores de médio e grande porte com estética
simples e copa frondosa, que serão utilizadas para preencher a extensão espacial do bosque com
o verde vegetal e para preencher a paisagem no “plano-parede” das áreas onde o destaque se dá
sobre outro elemento, como nos casos dos edifícios arquitetônicos e das áreas de uso ativo. No
primeiro caso, têm-se a intenção de que as cores e materiais do elemento edificado se
sobressaiam frente ao elemento vegetal; no segundo, tem-se a situação onde o usuário, focado
em sua atividade (seja um jogo esportivo ou uma apresentação artística), não deposita muito de
sua atenção no entorno, logo, em ambos os casos, o apelo estético da vegetação foi um atributo
dispensado. Nessas áreas as árvores serão locadas com maior espaçamento, para que se
evidencie a amplitude do bosque e para que deixe o céu fique visível, marcando a presença do
azul e das nuvens no “plano-teto”. (Figuras 125, 126 e 127)

Esse grupo também será utilizado no contorno da área visitável, definindo um muro
visual e ocultando as vastas áreas degradadas ao redor, e nos bosques acústicos, localizados em
ambos os lados da BR-406. (Quadro 13)

Figura 125: Croquis de paisagismo na Clareira do Agricultor, no Setor Cultura e Eventos.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


213

Figura 126: Croquis de paisagismo ao redor do pavilhão.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Figura 127: Zona de paisagismo de grupo 01, no setor Cultura e Eventos.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

GRUPO 02 – ESPÉCIES DE “DESTAQUE” DA PAISAGEM

As espécies deste grupo são caracterizadas pelas suas copas floridas, coloridas e de forte
apelo estético. Essas espécies serão utilizadas para dar destaque a determinadas áreas do parque,
criando zonas de cor em meio ao verde predominante. As áreas abraçadas por este grupo serão
as de uso passivo, como bosques de convivência, áreas de piquenique e áreas de quiosques.
Nestas áreas são realizadas atividades mais voltadas ao convívio e à contemplação, tais como
214

passear, brincar, namorar, descansar, e por isso o paisagismo do local deve ser atraente. Ao
longo dessas áreas as espécies devem ser distribuídas mais próximas umas das outras, no intuito
de criar uma atmosfera mais intimista restringindo o campo visual nos planos de parede e de
teto. (Figura 128 e 129)

Dentro deste quadro também foram inseridas algumas espécies frutíferas, no intuito de
atrair pequenos animais a estas zonas, como saguis e aves. Esses bichinhos se beneficiam das
árvores ao mesmo tempo que compõem o panorama visual e sonoro destas áreas. (Quadro 14)

Figura 128: Croqui de paisagismo para áreas de uso passivo.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Figura 129: Zona de paisagismo de grupo 2, no Setor Recreação e Esportes.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


215

GRUPO 03 – ESPÉCIES “SÍMBOLO” DO PARQUE

Juntamente à cana e às usinas, os coqueirais também são um símbolo de Ceará-Mirim,


e ainda marcam presença na paisagem da BR-406. Esta espécie também é mencionada no hino
do município e aparece no brasão da cidade. Dada essa valorização, resolveu-se criar uma
pequena família de palmeiras nativas (por se assemelharem visualmente ao coqueiro) para
compor a paisagem vegetal do parque. (Quadro 12)

Essas espécies normalmente não oferecem o mesmo potencial de sombreamento das


árvores de copa frondosa e nem o mesmo peso visual, por serem vegetais esguios. Por isso
optou-se por priorizar a utilização dessas espécies em duas áreas nas quais elas seriam mais
percebidas e onde o sombreamento não seria tão necessário: nas entradas do bosque e nas
margens de ambos os eixos retilíneos de passeio, o que liga o pavilhão ao anfiteatro (no setor
cultural) e que corta o setor recreativo. (Prancha 06)

Quadro 12: Espécies de grupo 03.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


216

Quadro 13: Espécie de grupo 01.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


217

Quadro 14: Espécie de grupo 02.

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


218

No viés arquitetônico, optou-se por homenagear a paisagem mais industrial das usinas
do munícipio. A principal referência visual utilizada para orientar as decisões do projeto foi o
Parque Fundidora, em Monterrey (México). O local está localizado onde antes funciona uma
empresa metalúrgica e preserva diversos dos edifícios originais, resultando na paisagem vista
na (Figura 130). Também se observou algumas características da Usina São Francisco, em
Ceará-Mirim (Figura 131).

Figura 130: Parque Fundidora, México.

Fonte: tripadvisor.com (acesso em novembro de 2020).

Figura 131. Usina São Francisco, Ceará-Mirim.

Fonte: tribunadonorte.com (acesso em novembro de 2020).


219

Com base nessas referências foram identificados alguns materiais, linguagens e cores
comuns nesses cenários tais como:

• Ênfase nas estruturas metálicas;


• Presença de elementos arquitetônicos verticais (chaminés e torres,
principalmente);
• Uso de alvenaria aparente (expondo os tijolos);
• Predominância de cores terrosas.

Estes materiais foram, então, utilizados dentro do projeto para a proposição das
volumetrias dos equipamentos e revestimentos utilizados. (Prancha 06)

10.4.6 Pré-dimensionamento dos Equipamentos

Embora não tenha alcançado a fase de projeto dos equipamentos, este trabalho realizou
o pré-dimensionamento dos espaços existentes a fim de compreender suas dimensões dentro da
área de implantação e chegar o mais próximo possível da escala real de intervenção.

Para este pré-dimensionamento foram utilizados o Manual do Arquiteto (2011), outros


Trabalhos Finais de Graduação com temática semelhante e conhecimentos pessoas adquiridos
ao longo do curso. O Quadro 14 apresenta o pré-dimensionamento que se deu com base no
programa de necessidades (Quadro 09) e é importante lembrar que alguns destes espaços foram
adaptados e mesclados entre os setores na proposta final.

Quadro 15: Pré-dimensionamento do programa de necessidades.


220

Fonte: Produzido pelo autor (2020).


221

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou propor um projeto de área visitável para a UC Parque Boca da
Mata, em Ceará-Mirim/RN, alinhando-o com as necessidades do povo e com o contexto urbano
e ambiental encontrado no local. Como pode ser visto através do produto final e das
metodologias utilizadas ao longo do processo de construção do trabalho, o mesmo atingiu seus
objetivos (geral e específicos).

Foi possível perceber, através dos estudos realizados, que a cidade de Ceará-Mirim
apresenta potencial (e necessidade) para a implementação de um parque urbano, visto que o
município ainda não dispõe de um espaço semelhante e, graças ao processo de rápida expansão
dos conjuntos habitacionais, tem originado tecidos urbanos carentes de áreas verdes. Através
da metodologia consultiva aplicada, foi possível também ter noção dos anseios e expectativas
daqueles que serão os usuários do local, os quais se mostraram receptivos à ideia de um espaço
deste tipo, considerando-o como de grande importância para a cidade e para o meio-ambiente.
O contato com a população auxiliou ainda na aproximação entre as necessidades do ceará-
mirinense e o programa de equipamentos proposto para o local, o que permitiu que o projeto
fugisse da genericidade e fosse mais direcionado aos diferentes tipos de demanda das pessoas
e das instituições do município como um todo. Além de atender estas demandas, o projeto
buscou também entregar espaços de educação, de pesquisa, de valorização histórica, de
construção de memórias e de preservação ambiental.

A proposta também buscou integrar-se espacial e paisagisticamente com o entorno,


propiciando visibilidade ao parque e respeito ao contexto ambiental ali encontrado, tanto
preservando os elementos vegetais existentes como propondo a restauração das massas vegetais
através da flora nativa.

Compreende-se que este trabalho é apenas um passo no processo de estudo e proposição


para o Parque Boca da Mata (tendo em vista a multidisciplinaridade envolvida em questões
ambientais e a necessidade de diversos outros estudos mais aprofundados nessas questões), mas
que ainda assim apresenta potencial significativo para contribuir com as discussões acerca da
implementação deste parque urbano em diversas esferas (urbana, projetual e paisagística) visto
que os estudos aqui realizados e metodologias aplicadas servem de respaldo teórico e técnico
para o estabelecimento de diretrizes projetuais.
222

Em suma, o Bosque Boca da Mata, se adequadamente implementado e mantido pelo


poder público, pode ser de grande benefício para Ceará-Mirim e para o ecossistema do local,
sendo um indicador positivo de qualidade de vida urbana e ambiental, além de contribuir com
a restauração da fauna e da flora que por tanto tempo foi agredida pela agricultura.
223

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APÊNDICES
230

(VER VOLUME DE 6 PRANCHAS


DISPONIBILIZADO JUNTO COM
ESTE TRABALHO)

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