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ARQUITETURA E URBANISMO
NOVEMBRO.2020
EDVALDO MENDES JÚNIOR
NOVEMBRO . 2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ -CT
BANCA EXAMINADORA:
..........................................................................................................
Hélio Takashi Maciel de Farias (Orientador)
..........................................................................................................
Paulo José Lisboa Nobre (Membro Interno)
..........................................................................................................
Camila Gomes Sant’Anna (Convidada Externa)
AGRADECIMENTOS...
... a Deus, por estar sempre olhando por mim e pela minha família,
principalmente nestes tempos de pandemia, e sem o qual nada seria
possível.
... aos meus pais, Edvaldo Mendes e Mª Auxiliadora, por todo apoio,
amor, cuidado, e encorajamento que me deram desde o dia em que nasci.
... ao meu orientador, Hélio Takashi, pelo suporte, pela paciência, pela
atenção e por todo o conhecimento que dividiu comigo ao longo do curso
e da realização deste trabalho.
... a Aline Dayane, Janine Ariane e Laurence Campos, por terem sido
meus primeiros companheiros na jornada árdua da graduação. Destino a
eles não apenas gratidão, mas também muitas saudades.
... a toda a minha turma, por fazerem da sala de aula um local de alegria,
de amizade, de união, de partilha e de novas experiências. Vocês tornaram
a graduação uma experiência incrível, pessoal!
... a Carlos Roberto, por todo o apoio que me deu nos meus momentos
de crise e insegurança, tanto dentro da universidade, como fora dela.
Obrigado por acreditar em mim e sempre me encorajar a perseguir meus
objetivos, obrigado pela força que você me dá, obrigado por ser sempre
tão presente e tão compreensivo. Obrigado.
Os parques públicos aparecem no século XVIII como uma alternativa às transformações sociais
e espaciais sofridas pela cidade pós-industrial. O crescimento urbano desordenado, o aumento
da poluição e o adoecimento físico e mental proveniente do caos urbano faz destes espaços
verdes verdadeiros oásis; locais com potencial de proporcionar inúmeros benefícios aos
cidadãos. No caso do Parque Boca da Mata, em Ceará-Mirim/RN, este potencial não tem sido
plenamente aproveitado. O local possui uma área de cerca de 69 hectares legalmente protegida,
que abraça uma zona de resquício de Mata Atlântica, importante bioma brasileiro. Apesar de
ser uma área, em tese, destinada à população para o exercício da ciência, da cultura e do lazer,
o local carece de qualquer infraestrutura que suporte sua utilização, além de zonas em processo
de contínua degradação. Esse trabalho vem estudar a área, através de leituras bibliográficas,
entrevistas e visitas in loco, e apontar soluções que insiram o local no cotidiano dos ceará-
mirinenses, com o objetivo de apresentar uma proposta de área visitável dentro do Parque Boca
da Mata, respeitando seu entorno, contemplando as necessidades dos cidadãos e considerando
ideais de recuperação ambiental e democratização de seus espaços. Os objetivos específicos
são: [1] Atentar para as alternativas de projeto possíveis e apropriadas ao caso estudado,
considerando os diferentes tipos de parque e seus impactos; [2] Considerar os contextos urbano,
socioeconômico e natural do Parque Boca da Mata a fim de traçar os melhores caminhos de
intervenção. [3] Estabelecer diretrizes para a implantação da área visitável baseando-as nas
informações levantadas ao longo do trabalho.
Public parks appear in the 18th century as an alternative to the social and spatial transformations
suffered by the post-industrial city. Disorganized urban growth, increased pollution and
physical and mental illness from urban chaos make these green spaces a real oasis; with the
potential to provide countless benefits to citizens. In the case of Parque Boca da Mata, in Ceará-
Mirim / RN, this potential has not been fully exploited. The site has an area of about 69 hectares
legally protected, which embraces an area of remnants of the Atlantic Forest, an important
Brazilian biome. Despite being an area, in theory, destined to the population for the exercise of
science, culture and leisure, the place lacks any infrastructure that supports its use, in addition
to areas in a process of continuous degradation. This work comes to study the area, through
bibliographic readings, interviews and on-site visits, and to point out solutions that insert the
place in the daily life of Ceará-Mirinenses, in order to present a proposal for a visitable area
within Parque Boca da Mata, respecting its surroundings, considering the needs of citizens and
considering ideals for environmental recovery and democratization of their spaces. The specific
objectives are: [1] Pay attention to the possible design alternatives and appropriate to the case
studied, considering the different types of park and their impacts; [2] Consider the urban,
socioeconomic and natural contexts of Parque Boca da Mata in order to outline the best
intervention paths. [3] Establish guidelines for the implementation of the visitable area based
on the information gathered during the work.
KEYWORDS: Urban Parks; Public Green Spaces; Degraded areas; Environmental Recovery;
FIGURAS
Figura 01. Aula de campo realizada pelos alunos da E. M. Virgílio Luiz.................................21
Figura 02. Interior da Trilha do Cientista, no Parque Boca da Mata..........................................23
Figura 03. Setores urbanos segundo Cavalheiro &Del Picchia (1992) .....................................29
Figuras 04 e 05: Mercado Público de Ceará-Mirim (acima) e Praça Onofre Lopes (abaixo),
localizada em frente ao primeiro. Ambos são exemplares de espaços públicos, porém apenas a
praça trata-se de um espaço livre...............................................................................................31
Figuras 06. O espaço livre como local de encontro, convívio e liberdade.................................34
Figura 07. O jardim chinês: a natureza como cenário místico da vida humana.......................35
Figura 08. O jardim egípcio: a natureza como complemento da vida humana.........................36
Figura 09. Jardim de Villa Lante, em Bagnaia (Ítalia)..............................................................37
Figura 10. Jardim do castelo de Vaux le Vicomte (França).......................................................38
Figuras 11 e 12. Parque da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo
(Brasil), planta baixa dos caminhos (à direita) e vista aérea (à esquerda) .................................39
Figura 13. Vista aérea do Central Park, em Nova York (EUA)................................................41
Figura 14. Etapas do Park Movement e suas principais características....................................42
Figura 15. Passeio Público (Rio de Janeiro)..............................................................................43
Figura 16. Campo de Santana (Rio de Janeiro).........................................................................43
Figura 17. Jardim Botânico (Rio de Janeiro).............................................................................44
Figura 18. Parque Ibirapuera (São Paulo).................................................................................44
Figura 19. Parque do Flamengo (Rio de Janeiro).....................................................................45
Figura 20. Exemplo de Parque Linear.......................................................................................50
Figura 21. Exemplo de Parque Temático.................................................................................50
Figura 22. Bosques arborizados do Parque Villa-Lobos: oásis verdes em São Paulo..............52
Figura 23. Parque Renné Giannetti – MG (1897) - Linha Eclética............................................54
Figura 24. Mapa do Parque Renné Giannetti............................................................................54
Figura 25. Parque Ibirapuera – SP (1954) - Linha Moderna.....................................................54
Figura 26. Mapa do Parque Ibirapuera. ...................................................................................54
Figura 27: Mapa do Jardim Botânico – PR (1991) – Linha Contemporânea. ..........................54
Figura 28: Mapa do Jardim Botânico. ......................................................................................54
Figura 29: Subdivisão das Unidades de Conservação...............................................................56
Figura 30: Exemplos de APP...................................................................................................57
Figura 31: Parque das Dunas: UC em Natal (RN)...................................................................58
Figura 32. Porcentagens de RL em propriedades rurais............................................................58
Figura 33. Reconstrução ilustrativa dos Jardins da Babilônia...................................................60
Figura 34: O parque deve ser um local de felicidade.................................................................75
Figura 35. Localização de Ceará-Mirim..................................................................................77
Figura 36. Rio Ceará-Mirim: o despontar de uma história.......................................................78
Figura 37. Engenho Carnaubal................................................................................................80
Figura 38. Largo da Igreja Matriz em suas primeiras décadas de ocupação............................82
Figura 39. Mercado Público de Ceará-Mirim...........................................................................83
Figura 40. Casa Grande do Engenho Estrela, em Ceará-Mirim: um dos exemplares de uma
glória esquecida.........................................................................................................................84
Figura 41. Usina São Francisco................................................................................................85
Figura 42. Ruínas da Usina Ilha Bela.......................................................................................86
Figura 43. Vista aérea do entorno da Igreja Matriz (2018), contemplando parte dos bairros
Centro e Santa Águeda, núcleos iniciais de ocupação...............................................................87
Figura 44. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.............................................................91
Figura 45. Perímetro do Parque Boca da Mata (à noroeste, o núcleo sede de Ceará-Mirim)..100
Figura 46. Formações de Mata Atlântica encontradas no Rio Grande do Norte e em Ceará-
Mirim......................................................................................................................................106
Figura 47. Visuais no interior da Trilha do Cientista............................................................109
Figura 48. Visuais no Rio do Mudo.......................................................................................109
Figura 49, 50 e 51. Visuais dos fragmentos vegetados do PBM a partir da BR-406.............110
Figura 52 e 53. Vistas aéreas da área do PBM em 2000 e em 2010.......................................111
Figura 54 e 55: Vistas aéreas da área do PBM em 2015 e em 2020.......................................112
Figura 56. Praça 01 (Barão de Ceará-Mirim).........................................................................121
Figura 57. Praça 02 (Sem nome específico)...........................................................................121
Figura 58. Praça 03 (Praça das Cinco Bocas)........................................................................121
Figura 59. Praça 04 (Praça Cidade de Vagos)........................................................................122
Figura 60: Reunião pública administrativa no átrio do clube do UNISESP...........................134
Figura 61: Abertura dos Jogos Internos do CEEP, no Palácio Anderson Elói........................135
Figuras 62 e 63: Cultos evangélicos acontecendo nas quadras da E.E. Ubaldo Bezerra (à
esquerda) e da E.E Celso Cicco (à direita)...............................................................................136
Figuras 64: Largo do Monumento Rotary..............................................................................136
Figuras 65: Largo do Monumento Rotary durante o evento do Centenário..........................137
Figura 66. Parques escolhidos para o estudo de referências..................................................139
Figura 67: Fachadas cegas registradas em diferentes pontos da Alexandrino de Alencar....141
Figura 68: Mapa dos espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados.............................142
Figura 69: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados............................................143
Figura 70: Espaços e equipamentos do Bosque dos Namorados (continuação).....................144
Figura 71: Traçado principal..................................................................................................145
Figura 72: Traçado secundário...............................................................................................145
Figura 73: Mobiliários encontrados ao longo dos caminhos do Bosque................................145
Figura 74: Casa Mãe Terra: famoso ponto do bosque............................................................146
Figura 75: Parque do Cocó: área Parque do Cocó...................................................................149
Figura 76: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque do Cocó.........................................150
Figura 77: Um dos acessos à área Adahil Barreto..................................................................151
Figura 78: Mapa dos espaços e equipamentos do Adahil Barreto..........................................151
Figura 79: Mapa da proposta para revitalização do Parque do Cocó.......................................152
Figura 80: Vista para o interior do parque da Av.Prof. Fonseca Rodrigues............................154
Figura 81: Mapa dos espaços e equipamentos do Parque Villa-Lobos....................................155
Figura 82: Vista superior dos caminhos do parque.................................................................156
Figura 83: O Parque Villa-Lobos e a amplitude e limpeza do cenário, evidenciando o Orquidário Ruth
Cardoso (ao fundo)...............................................................................................................................157
Figura 84. Área Potencial de Implantação para o Bosque Boca da Mata..............................165
Figura 85: Visuais ao redor da API.........................................................................................171
Figura 86. Ponto de acesso previsto pela Luís L. Varela.......................................................174
Figura 87. Projeto do pórtico de entrada para o parque..........................................................174
Figura 88. Croqui do zoneamento preliminar.........................................................................175
Figura 89. Primeiros estudos volumétricos da passarela elevada..........................................177
Figura 90. Zoneamento com equipamentos e definição de eixos de passeio.........................178
Figura 91. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Cultural...........179
Figura 92. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Recreativo.......180
Figura 93. Croquis digitais dos caminhos e da vegetação ao redor do pavilhão.....................180
Figura 94. Implantação do BBM e ações no entorno..............................................................182
Figura 95. Croqui esquemático de um corredor verde...........................................................184
Figura 96. Banco dos canteiros da cidade...............................................................................187
Figura 97. Lixeiras sugeridas para o local.............................................................................187
Figura 98. Atuais postes de iluminação (à esquerda) e o sugerido (à direita).........................188
Figura 99. Modelo elaborado para a E.A.A............................................................................188
Figura 100. Redimensionamento sugerido para o segundo trecho da pista............................189
Figura 101. Pista de cooper atualmente.................................................................................189
Figura 102: Pista de cooper reestruturada..............................................................................190
Figura 103: Novas quadras da Luís L. Varela.........................................................................192
Figura 104: Corte esquemático das novas vias.......................................................................192
Figura 105. Localização do aeródromo..................................................................................194
Figura 106: Hangar do aeródromo..........................................................................................194
Figura 107. Modelo de aeronave do aeroclube.......................................................................195
Figura 108. Modelo de aeronave da associação de ultraleves.................................................195
Figura 109. Implantação e setorização do Bosque Boca da Mata..........................................197
Figura 110. Átrio multiuso do Setor Cultura e Eventos.........................................................198
Figura 111. Um dos passeios principais do setor (ao fundo vê-se a cobertura do pavilhão)...199
Figura 112. Localização e volumetria dos principais equipamentos do setor.........................200
Figura 113. Núcleo de Apoio do setor e acesso à passarela-mirante.......................................202
Figura 114. Passarela-Mirante: um caminho sobre as árvores (e sobre a BR).........................202
Figura 115. Localização do Setor de Pesquisa (em vermelho) e áreas relacionadas a ele (em
verde)......................................................................................................................................204
Figura 116: Eixo automobilístico...........................................................................................205
Figura 117: Quadras recreativas do setor................................................................................206
Figura 118: Acesso à passarela-mirante no lago do setor.......................................................206
Figura 119: Esquema da Trilha Histórico-Ambiental.............................................................208
Figura 120: Croqui digital de totem informativo para a Trilha Histórico-Ambiental.............208
Figura 121: Acessos para o perímetro do aeródromo............................................................209
Figura 122: Isometria modelo dos passeios principais............................................................210
Figura 123: Isometria modelo dos passeios secundários........................................................210
Figura 124: Isometria modelo das vias automobilísticas.......................................................211
Figura 125: Croquis de paisagismo na Clareira do Agricultor, no Setor Cultura e Eventos...212
Figura 126: Croquis de paisagismo ao redor do pavilhão.......................................................213
Figura 127: Zona de paisagismo de grupo 01, no setor Cultura e Eventos............................213
Figura 128: Croqui de paisagismo para áreas de uso passivo................................................214
Figura 129: Zona de paisagismo de grupo 2, no Setor Recreação e Esportes.........................214
Figura 130: Parque Fundidora, México..................................................................................218
Figura 131. Usina São Francisco, Ceará-Mirim......................................................................218
MAPAS
Mapa 01. Macrozonas do Município de Ceará-Mirim..............................................................88
Mapa 02. Assentamentos rurais em Ceará-Mirim (em amarelo) em contraste com os núcleos
urbanizados (em vermelho).......................................................................................................89
Mapa 03. Núcleos urbanos de Ceará-Mirim (em vermelho), com destaque ao núcleo sede.....91
Mapa 04. Subdivisão dos bairros de Ceará-Mirim...................................................................92
Mapa 05. Ceará-Mirim: momentos e sentidos de crescimento.................................................93
Mapa 06. Uso do Solo em Ceará-Mirim (predominância por quadra).....................................94
Mapa 07. Macrozona de expansão urbana no núcleo sede de Ceará-Mirim............................95
Mapa 08. Conjuntos habitacionais em Ceará-Mirim................................................................95
Mapa 09. Uso do solo com destaque nos novos tecidos urbanos...............................................96
Mapa 10. Área de abrangência dos espaços livre públicos de Ceará-Mirim.............................97
Mapa 11. Perímetro do Parque Boca da Mata no momento de sua instituição.......................102
Mapa 12. Perímetro atual do Parque Boca da Mata, após a lei 1.884/19...............................104
Mapa 13. Zoneamento do PBM de acordo com as caracterizações ambientais encontradas...108
Mapa 14. Espaços estudados na pesquisa de PPUR 06: Praças, pra quê te quero?.................120
Mapa 15: Área do PDD (em cores) com o Bosque dos Namorados em destaque..................140
Mapa 16: Principais vias de acesso ao Bosque dos Namorados.............................................141
Mapa 17: Perímetro do Parque do Cocó (Fortaleza – CE)......................................................147
Mapa 18: Localização do Parque Villa-Lobos, São Paulo (SP)..............................................153
Mapa 19. Mapa de fluxo de não motorizado nas principais vias do entorno.........................166
Mapa 20. Mapa de fluxo motorizado nas principais vias do entorno......................................167
Mapa 21. Mapa dos principais pontos de interesse e potencialidades do entorno.................168
Mapa 22. Mapa dos principais problemas do entorno............................................................169
Mapa 23. Perfil topográfico do local e visuais analisadas......................................................170
Mapa 24. Mapa do zoneamento preliminar em foto aérea......................................................176
Mapa 25. Zona a ser urbanizada (em amarelo)......................................................................191
QUADROS
Quadro 01: Características das linguagens Eclética, Moderna e Contemporânea....................53
Quadro 02: Principais legislações incidentes no Parque Boca da Mata.................................114
Quadro 03: Informações gerais sobre o Parque Boca da Mata...............................................114
Quadro 04. Conceitos atribuídos às praças estudadas na pesquisa........................................122
Quadro 05. Instituições onde foram aplicados os formulários................................................131
Quadro 06. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.........................................133
Quadro 07. Quadro Síntese dos Estudos de Referência..........................................................158
Quadro 08. Quadro Sínteses das Entrevistas e Formulários....................................................159
Quadro 09. Programa de Necessidades Preliminar.................................................................160
Quadro 10. Espécies sugeridas para o canteiro oeste, próximo a fiação elétrica..................185
Quadro 11. Espécies sugeridas para o canteiro leste..............................................................186
Quadro 12: Espécies de grupo 03...........................................................................................215
Quadro 13: Espécie de grupo 01.............................................................................................216
Quadro 14: Espécie de grupo 02.............................................................................................217
Quadro 15: Pré-dimensionamento do programa de necessidades...........................................219
GRÁFICOS
Gráfico 01. Percentual de atividades realizadas nas praças por categoria.............................123
Gráfico 02. Faixa etária dos usuários observados nas praças.................................................124
Gráfico 03. Moradores temporários: o que fazem na capital?.................................................126
Gráfico 04. Moradores temporários: quanto tempo passam fora?...........................................126
Gráfico 05. Moradores temporários: onde buscam lazer e recreação?....................................127
Gráfico 06. Opinião dos ceará-mirinenses sobre usas praças..................................................128
Gráfico 07. Aspectos que mais tornam os espaços verdes atrativos.......................................128
Gráfico 08. Aspectos que mais são ausentes nas praças de Ceará-Mirim...............................128
Gráfico 09. Utilização do Boca da Mata por parte das entidades municipais.........................132
Gráfico 10. Espectro de Frequência na realização de eventos externos..................................132
Gráfico 11. Atividades realizadas pelas instituições entrevistadas.........................................133
Gráfico 12. Grau de satisfação das instituições entrevistadas com espaços da cidade............135
Gráfico 13: Preferência por equipamentos das instituições entrevistadas...............................138
SIGLAS
ACP – Ação Pública Civil
RL – Reserva Legal
UC – Unidade de Conservação
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................28
6. ESTUDOS DE REFERÊNCIA........................................................................................139
7. O PROGRMA DE NECESSIDADES.............................................................................159
8. CONCEITO.......................................................................................................................162
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................223
APÊNDICES
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1. INTRODUÇÃO
Os projetos de espaços verdes, sejam eles praças, jardins, canteiros ou parques, tem ganhado
cada vez mais espaço dentro do planejamento urbano. Isso porque, apesar das facilidades que
oferece às nossas rotinas apressadas, a vida na cidade também pode trazer impactos negativos
ao ser humano, que podem atingi-lo de maneira física e psicológica. Neste contexto, a inserção
de espaços verdes no meio urbano vem para criar cidades mais naturais e menos agressivas, que
disponham de locais onde o homem pode descansar da poluição, do barulho, do estresse e da
correria tão inerentes aos centros urbanos.
Estes projetos estão, muitas vezes, associados a áreas de preservação, em forma de parques
urbanos. No Brasil, essas áreas podem ser encontradas de diversas formas: Áreas de
Preservação Ambiental (APP), Reservas Legais (RL), Unidades de Conservação (UC), dentre
outras definidas pelo Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/12) e pela Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (Lei 9.985/00). A adequada
integração entre essas áreas e o tecido urbano, além de assegurar o bem-estar dos ecossistemas
brasileiros e preservar nossas riquezas ambientais, também pode colaborar com um
desenvolvimento mais saudável e sustentável para as cidades.
Sabe-se, no entanto, que apesar da consciência ambiental que já permeia os novos projetos
urbanos, nem sempre as cidades tem êxito em se desenvolver de forma equilibrada com seu
entorno natural. Este foi o caso de Ceará-Mirim – cidade localizada no Rio Grande do Norte
(RN) - cujo histórico de desenvolvimento apresentou, até o final do século XX, uma relação
bastante conflituosa com a questão ambiental. Ligada à atividade agrícola desde as primeiras
ocupações, a cidade é marcada por uma paisagem campestre (moldada por interesses políticos
e inconsequente exploração econômica), onde grandes latifúndios tomam conta do que um dia
fora, segundo levantamentos realizados pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente (IDEMA), bioma de Mata Atlântica.
Apesar do avançado estado de degradação do bioma, cerca de 139 hectares de mata ainda
resistem às margens da BR-406. No intuito de preservar este fragmentado vegetal e buscar sua
recuperação, foi instituído o município o Parque Boca Mata (PBM). Criado pelo Decreto
Municipal 2.132/2008 e expandido pela Lei Municipal 1.884/2019, o PBM juntou-se ao quadro
de UC do Rio Grande do Norte. O estado possui hoje um total de 238mil hectares em área em
unidades de conservação, dos quais 0,8% estão em áreas de Mata Atlântica (IDEMA, 2017).
21
As terras que hoje compõem o parque pertenciam à Companhia Açucareira Vale do Ceará-
Mirim (CACVM) e eram canaviais ativos até o começo dos anos 2000, quando foram
desapropriadas a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta, resultante de um acordo entre
a Promotoria de Justiça da cidade e a usina São Francisco. As porções mais degradadas destas
terras encontram-se no entorno imediato do tecido urbano enquanto os fragmentos florestais
encontram-se mais a sul da cidade, ao longo da BR-406, onde houve menos interferência dos
canaviais.
Atualmente, o parque não possui uma área visitável destinada ao público pois carece da
infraestrutura e de equipamentos adequados. No entanto, algumas atividades mais relacionadas
à pesquisa e à educação ainda são realizadas próximas às áreas florestais, de forma mais
esporádica (Figura 01 e 02).
A ausência desta infraestrutura acaba por não explorar o completo potencial do parque para
atividades de educação, cultura, pesquisa e lazer e, por isso, a implementação de uma área
visitável tem sido pautada pela gestão pública e pela equipe de pesquisadores ligados ao parque
desde sua fundação, em 2008. Apenas em 2019, no entanto, a gestão municipal estabeleceu, por
22
decreto, a existência dessa área. A Lei Municipal 1.884/19 prevê o acesso do público ao parque,
através da implantação de equipamentos e programas que propiciem o contato com a natureza
e que ofereçam suporte às práticas de cultura, lazer e educação do município.
Diante deste cenário, vê-se que um projeto para um local de uso público no parque não é
apenas necessário, mas também desejável, para que o parque possa exercer seu papel na
melhora da qualidade de vida da população, bem como no estudo e recuperação da natureza
que abriga.
Dessa forma, este trabalho vem com o objetivo geral de apresentar uma proposta de área
visitável para o Parque Boca da Mata, que respeite seu entorno e contemple as necessidades
da cidade e dos moradores. Para isso, buscou-se os seguintes objetivos específicos:
Este trabalho também contribuirá das mais diversas formas com o projeto físico do
parque urbano para o Parque Boca da Mata, que, por ser passível de realização, pode embasar-
se nas propostas aqui apresentadas, sejam elas conceituais, arquitetônicas, de programa, de
localidade, dentre outros aspectos. As decisões tomadas são desdobramentos de estudos dentro
do tema aplicados à realidade urbana de Ceará-Mirim e não apenas de arbitrariedades ou
convenções, de forma a evidenciar a importância de se mesclar conhecimentos teóricos e
práticos na hora de se pensar um projeto, principalmente aqueles que, por possuírem um caráter
mais urbano, devem entender e atender às necessidades de uma coletividade.
O exercício acadêmico que é proporcionado por um projeto deste porte e tipo também
é muito proveitoso para o estudante e futuro profissional de Arquitetura e Urbanismo.
Contemplando as três áreas de formação deste curso na UFRN - arquitetura, paisagismo e
urbanismo - o trabalho permite estudar e praticar cada uma delas: na primeira tem-se o
25
Esta etapa possui caráter teórico e busca definir alguns conceitos pertinentes ao tema
principal deste trabalho: os parques urbanos. Para isso foram reunidos alguns autores para falar
sobre as definições, tipos e classificações destes espaços. Será abordado ainda um pouco sobre
sua história (origem e evolução) e sobre as legislações brasileiras que versam sobre este tema.
A etapa ainda conta com dois capítulos menores, também teóricos, sobre temas
complementares: paisagem urbana e qualidade de vida.
Consiste na parte final do trabalho, com caráter mais propositivo. Nesta etapa será
apresentado o conceito do projeto, seu recorte espacial e os estudos realizados sobre seu
entorno. Há ainda de se expor o processo projetual da proposta e, por fim, o resultado final da
área visitável para o PBM, que será também apresentada nas seis pranchas em apêndice a este
trabalho.
27
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
locais de lazer e convivência dá aos espaços públicos um caráter mais social e os espaços
livres, nas formas de praças, parques, jardins e outras áreas verdes, ganham destaque.
São eles: os espaços de construção (aqueles que abrigam a arquitetura erguida pelo
homem - hospitais, casas, fábricas, comércios e afins), os espaços de integração urbana (rede
rodo-ferroviária – ruas, estradas, trilhos, pontes) e, por fim, os espaços livres (praças,
parques, terrenos vazios, matas, corpos de águas, etc) (CAVALHEIRO&DEL PICCHIA,
1992). É nesta última categoria - os espaços livres - que continuaremos a nos aprofundar,
afinal de contas, este é um termo extremamente amplo e faz-se necessário entender como as
áreas verdes se enquadram dentro deste conceito.
A primeira e mais primordial classificação que devemos considerar quando tratamos
de espaços livres é se ele é público ou privado quanto à seu acesso e gestão, isso porque, a
partir desta classificação, veremos que os espaços livres ganham conotações completamente
diferentes diante da cidade e da população (LIMA et al, 1994. DEGREAS & RAMOS,
2015).
Os espaços livres de caráter privado são propriedade de uma pessoa ou um grupo,
logo o acesso é restrito e o espaço, mesmo livre, comumente não possui função social. Nesta
categoria podemos citar os quintais e jardins residenciais, os lotes vazios para especulação
imobiliária, os estacionamentos de empreendimentos e as terras particulares mal ou não
aproveitadas das zonas rurais. Para Albuquerque (2006), o espaço livre e o espaço público
são geralmente confundidos, no entanto, a característica primordial do espaço que se pode
chamar de público está na sua função social, que age em prol das relações, manifestações e
práticas coletivas, além das características morfológicas determinadas pelo tecido urbano. O
autor ressalta que “esses espaços devem ser acessíveis a toda população, não havendo
barreira impedindo a circulação e também ser um espaço de materialização das relações
sociais através das práticas espaciais” (ALBUQUERQUE, 2006, P.54)
É importante ressaltar também que nem todo espaço público será, necessariamente,
livre. Na cidade existem espaços construídos que podem ser acessados por todos e utilizados
por todos, cujo principal papel é servir à população, como os edifícios pertencentes à gestão
pública (prefeituras, secretárias, mercados), por exemplo (Figuras 04 e 05).
No entanto, quando falamos de espaços livres e de caráter público, falamos então de
espaços abertos destinados à cidade (geralmente sob a responsabilidade do poder público),
como praças, jardins, átrios e parques, onde a prática do convívio, da coletividade e da
cidadania é encorajada. São espaços de liberdade. Segundo Degreas & Ramos (2015), os
espaços livres são aqueles que privados de qualquer edificação (independentemente de sua
31
forma ou tamanho) e aquilo que conhecemos como “sistema de espaços livres” é fruto da
relação dos espaços livres públicos e privados.
Figuras 04 e 05: Mercado Público de Ceará-Mirim (acima) e Praça Onofre Lopes (abaixo),
localizada em frente ao primeiro. Ambos são exemplares de espaços públicos, porém apenas a
praça trata-se de um espaço livre.
De acordo com o Código Civil (Lei 10.406/2002), bem público (e aqui se incluem os
espaços livres dos quais falamos) são bens de domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno, ou seja: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e
suas respectivas autarquias, não podendo ser negociados ou cedidos à entidades privadas,
devendo servir a população de forma boa, igualitária e justa.
Segundo Macedo&Sakata (2010), os espaços livres (quando entregues para uso e
ocupação do coletivo) são de extrema importância para a cidade como um todo pelos
32
Lima (1994), por sua vez, é mais criteriosa que Llardent e que o MMA em sua
classificação dos espaços livres e áreas verdes, apresentando uma concepção mais
compatível com o que é admitido neste trabalho. A autora classifica estes espaços da seguinte
maneira:
33
A autora, além de reconhecer o fato de que nem todo o espaço urbano livre é uma
área verde e ressaltar a importância da presença de vegetação arbórea para esta classificação,
ainda traz a questão da permeabilidade do solo nessas áreas ao sustentar que espaços
arborizados no meio de um mar de impermeabilização asfáltica são melhor classificados
como áreas de arborização urbana do que como espaços verdes (LIMA, 1994). Logo, sob a
perspectiva da autora, áreas verdes não são caracterizadas pela presença de qualquer tipo de
vegetação em qualquer lugar da cidade. São as árvores de grande porte e o solo permeável
os dois principais fatores que caracterizam uma área verde dentro do sistema de espaços
livres.
Os parques urbanos, por sempre contarem com esses dois elementos devido suas
grandes proporções, podem ser considerados como áreas verdes “absolutas”, isto é, sempre
categorizados desta forma pelos autores de forma unânime, ao contrário de outros espaços
públicos de menor porte (como praças e jardins), que podem vir a ser áreas verdes, mas nem
sempre serão assim classificados. Contudo, não poder ser considerado uma área verde não
invalida o potencial de um espaço livre tornar-se um espaço de liberdade, uma vez que ainda
podem propiciar o exercício do convívio, da cidadania e do lazer na cidade (Figura 06).
34
Neste subcapítulo será abordado o tema principal deste trabalho: os parques urbanos.
Será realizado, inicialmente, um panorama sobre a história desses espaços e depois
apresentados seus conceitos, tipos e classificações. Ao final,
Figura 07: O jardim chinês: a natureza como cenário místico da vida humana.
Os egípcios, por sua vez, encaravam a natureza como uma auxiliar à vida humana.
Seus jardins não possuíam o apelo estético como papel principal. Eram jardins de suporte à
vida coletiva, que serviam para plantio, sombreamento e irrigação, produzidos em menor
escala e sempre postos na posição de submissão aos elementos arquitetônicos. Esse modo
de pensar os jardins foi a principal influência para os modelos de jardins ocidentais até o fim
36
do século XV, passando pela antigas Grécia, Roma e Pérsia e se estendo até a Europa
medieval, quando os jardins praticamente, sendo elaborados quase sempre em claustros e
destinados ao cultivo (Figura 08).
Nesta época, grande parte dos países europeus passavam por um período de revisão
e reinvenção de alguns conceitos da cultura, da filosofia, da arte e da ciência. A forma de
produzir jardins foi uma pauta de grande destaque. Para Ferreira (2016), os novos projetos
de jardins que apareceram no final do século XVI estavam cortando sua ligação com os
preceitos greco-romanos (inclusive por causa das influências orientais que já existiam) e
ingressando numa tendência de valorização e abraço à natureza. O autor afirma que:
No que tange aos estilos estéticos dos jardins renascentistas, três países ganham
destaque: a Itália, a França e a Inglaterra.
Os jardins italianos foram marcados por sua organização racional, retilínea e pelo seu
paisagismo relativamente simples, contando com a presença de árvores, basicamente,
resultando numa paisagem “desenhada com régua e compasso” (Figura 09). Eram jardins
baseados em uma interpretação dos jardins da Roma e Grécia antigas, contando com muitas
fontes, estátuas e vegetações esculturais (topiaria). Esses espaços se encontravam,
majoritariamente, nas encostas ou declives, para aproveitar a vista, principalmente. Por causa
disso, a adaptação à topografia tornou-se outra característica muito forte dos jardins
italianos, o que resultava na presença de grandes escadarias, rampas e cursos de água, sempre
integrados com a arquitetura. (LOBODA, 2015; FERREIRA, 2016; ALBUQUERQUE,
2006). Eram jardins ligados ao conceito de prazer e de permanência, onde a população podia
usufruir dos benefícios naturais e tirar uma folga do calor e das turbulências urbanas.
Também possuía forte viés intelectual, sendo um local onde os estudiosos e os artistas
podiam discutir e refrescar suas mentes.
geométricos (Figura 10). No entanto, o jardim francês superou seu predecessor na incansável
busca pela natureza domada e entrou para a história como um ícone nesse estilo de jardim.
Tratavam-se de espaços que apresentavam uma “rígida distribuição axial, a simetria, a
perspectiva, o uso de topiarias e a sensação de grandiosidade”, dando pouco espaço para as
curvas ou para os desníveis. (Albuquerque, 2006, p. 76)
A inflexível busca pela perfeição foi, no entanto, o que condenou o jardim francês.
Apesar de ter vigorado e influenciado os jardins europeus até meados do século XVIII, o
estilo francês começou a perder espaço para o romantismo curvo e sinuoso que vinha dos
jardins ingleses. Caracterizado pela organicidade, o jardim inglês buscava desprender-se do
conceito de natureza dominada e reproduzir nos espaços a graciosidade e irregularidade que
era percebida na natureza, isto é, reproduzir a natureza selvagem e toda a liberdade e
aleatoriedade de sua estética em espaços projetos e destinados ao homem. O estilo do jardim
inglês é o que mais se aproxima do que percebemos hoje nos projetos de parques urbanos.
(ANGELIS&LOBODA, 2015; ALBUQUERQUE, 2006). Segundo Terra (2004):
Figura 11 e 12: Parque da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo
(Brasil), planta baixa dos caminhos (à direita) e vista aérea (à esquerda).
É importante ressaltar que, apesar das grandes extensões que os jardins europeus
costumavam atingir, eles não possuíam caráter público, muito menos função social. Eles
eram espaços afastados dos centros urbanos e muitas vezes inseridos em propriedades
privadas, ou, quando “públicos”, eram abertos à uma parcela bem resumida da população,
como nobres. Além disso, esses espaços verdes tinham a princípio uma função mais estética
do que qualquer outra. Neste período, essas áreas eram vistas como áreas de contemplação,
locais para ver e para ser visto, que visavam o prazer da vista e do olfato principalmente
(ANGELIS&LOBODA, 2005; BOVO, 2009).
Essa realidade só viria mudar na passagem do século XVIII para o XIX, com a
realidade da cidade industrial que era vivida pelas cidades da Europa. O desenvolvimento
tecnológico somado ao inchaço populacional das cidades devido ao êxodo rural,
mergulharam as cidades europeias num mar de poluição, degradação e insalubridade.
Consequentemente, toda sorte de doenças físicas e psicológicas estouraram no meio da
população; o tecido urbano também estava adoecido e desordenado. A ocupação
desenfreada, a mecanização do homem e a ineficiência da cidade em acomodar e atender
tanta gente originou a urgência de uma reforma na infraestrutura urbana que pudesse
contrapor a realidade industrial. Os pensamentos higienistas europeus do século XIX
também tiveram grande influência nessa reforma, defendo a criação de espaços verdes no
40
meio do tecido urbano para proporcionar mais saúde para o homem através da melhora da
qualidade do ar.
É a partir daí que os jardins existentes, antes privativos, são abertos à coletividade
para que lhe proporcionasse locais de lazer, paz, saúde e folga do estresse urbano. Os
primeiros projetos de espaços verdes destinados ao uso público também ganham destaque
no planejamento urbano como uma forma de contornar o caos que se instalava nas cidades
industriais. Pode-se dizer, dessa forma, que “a ideia do parque urbano sempre esteve ligada
à noção de higidez, à necessidade do lazer como recuperação das energias (psicológica e
física dispendidas no trabalho) e à importância do encontro social e do contato com a
natureza.” (MOHR, 2003, P.36)
Na Inglaterra do século XIX, os primeiros parques surgem a partir dos chamados
Victorian Parks ou Parques Reais (ALBUQUERQUE, 2006). Esses parques, antes
pertencentes à nobreza, são transformados em espaços públicos e abertos à população. Além
do impacto imediato que proporcionaram, estes espaços também serviram de modelo para a
concepção de novos parques urbanos por toda a Inglaterra e, mais tarde, por toda a Europa.
Os parques deste período estavam esteticamente ligados aos desenhos românticos dos jardins
ingleses e funcionalmente relacionados às demandas de lazer e recreação das cidades que,
expandindo-se aceleradamente, pediam por uma infraestrutura que abrandasse os efeitos
físicos e psicológicos causados sobre os cidadãos. Eram locais enxergados como pulmões
verdes, como oásis naturais em meio ao caos urbano.
O desenvolvimento dos parques urbanos ganha ênfase no século seguinte, Scalise
(2002) cita dois momentos de grande importância nesse processo: as reformulações urbanas
de Haussmann, em Paris, e nos parques americanos, como o Park Movement por Frederick
Law Olmsted, em Chicago e Boston. Para a autora, entender esses momentos é essencial
para a compreensão de como “as várias concepções de parque foram se modificando de
acordo com a época, influenciadas tanto por características socioeconômicas quanto
culturais das populações e em parte pela localização nos vários territórios.” (SCALISE,
2002, p.19)
Magnoli (2006), no entanto, ressalta que a reforma parisiense não teve um caráter
social marcante e atribui aos parques norte-americanos um enorme destaque devido sua
preocupação em oferecer não apenas um espaço aberto, mas também equipamentos públicos
e tratamentos físicos que tornassem este espaço mais adequado às particularidades de cada
cidade. Segundo a autora:
41
Para Cranz (1997 APUD ALBUQUERQUE, 2006, p.87), o movimento dos parques
americanos é dividido em quatro períodos: os jardins contemplativos, os parques de
vizinhança, os parques recreativos e o sistema de espaços livres (sendo os dois últimos os
mais influentes no contexto brasileiro).
No Brasil, apesar de espaços públicos como praças e largos datarem dos primeiros
séculos de colonização, os parques públicos aparecem na transição do século XVIII para o
XIX, quando era vivido:
De certa forma, o Brasil reproduziu em seu território toda a história dos parques
urbanos desde o século XVII em menos de dois séculos. Os parques urbanos brasileiros
tiveram sua fase de pompa e elegância, utilizando a estética renascentista na produção de
espaços destinados à elite; depois foram popularizados e abertos à coletividade e por fim,
passaram a ser projetados de acordo com cada realidade urbana seguindo as diretrizes de
saúde física, psicológica, exercício do lazer e conservação do meio ambiente.
Essas transições aceleradas devem-se, segundo Barcelos 1999 APUD Ferreira, 2016,
aos fortes e profundas transformações sociais que o país sofreu ao longo do século XX,
sobretudo após os anos 60, onde questões como a consciência ecológica e o direito à cidade
passaram a permear os novos projetos de espaços urbanos até se tornarem constitucionais
em 1988, com a nova constituição brasileira.
46
Para Bovo (2009), os parques urbanos se caracterizam como “áreas verdes muito
grandes, que podem estar próximas ou afastadas dos centros urbanos, muitas vezes com
funções específicas como, parques temáticos - por exemplo, hortos florestais, jardins
botânicos e áreas de preservação ambiental.” (BOVO, 2009, p48.)
Macedo e Sakata (2010) trazem outra definição para parque urbano, que apesar de
concordante com as já citadas, traz uma outra qualidade destes espaços: a independência
física e morfológica que possuem frente ao tecido urbano. Para os autores os parques são:
Galender (1992 APUD Melo, 2017), em sua definição de parque urbano, também
ressalta a independência urbana que esses espaços devem possuir para serem considerados
como parque. Segundo o autor:
Ferreira (2019), por sua vez, elenca um outro componente essencial na composição
e na definição de parques urbanos: a vegetação arbórea. Para o autor, independente de
47
qualquer se seja sua função, tamanho e morfologia, os parques urbanos devem incluir “a
obrigatoriedade da presença de vegetação arbórea, pois a massa vegetal e os seus efeitos
positivos no ambiente urbano é que fazem o diferencial do parque para os outros tipos de
áreas verdes, como as praças e os jardins.”
Além da independência morfológica e da presença de arborização, é possível atentar
para um fator determinante na classificação de um parque urbano, presente na definição de
vários autores citados, que é seu tamanho. Ao contrário de outras áreas verdes como praças
e jardins, que podem muito bem ser implementadas em lotes vazios, sobras de quadras ou
encontros de vias, os parques precisam possuir um tamanho significativo.
Apesar de não haver consenso técnico ou uma convenção classificativa em relação
ao tamanho dos parques, Kliass (1993) apresenta a seguinte divisão, considerando os parques
que possuem o lazer como uma de suas finalidades:
Além das funções citadas por Mascaró - lazer (possibilidade de convívio social e
recreação em áreas oferecidas para a população), estética (diversificação da paisagem e
embelezamento da cidade) e ecológica (oferecimento de melhorias no clima, na qualidade
do ar, do solo e do bem-estar da fauna e flora) - Vieira (2004 APUD LONDE&MENDES
2014) ainda cita duas outras contribuições intrínsecas aos parques urbanos, são elas: a função
educativa, que classifica estes espaços como locais de atividades extraclasse e
desenvolvimento humano e consciência ambiental, e a função psicológica, que atribui a estes
espaços a capacidade de oferecer melhoria na qualidade da saúde mental e física dos seus
frequentadores.
Para Scalise (2002), essas funções desempenhadas pelos parques não se submetem a
um padrão por sempre responderem a uma necessidade social; alguns estão vinculados à
proteção ambiental, apresentando um uso menos intenso enquanto outros são feitos para
atrair as massas. Os equipamentos também “variam dos que tem seu ponto alto nos culturais,
esportivos e recreativos aos que possuem como atração principal os caminhos e as áreas de
estar sob uma densa arborização. Essa diversidade é reflexo das necessidades do parque, do
pensamento e do gosto de um grupo, de uma época.” (SCALISE, 2002, pg. 18).
Ainda sobre a diversidade dos tipos e formas dos parque urbanos, Magnoli (2006)
acrescenta que os projetos de parques urbanos, desde meados do século XIX até os dias
atuais, apresentam “específicas metas sociais a atingir, [...], cada modelo corresponde a uma
intenção de contribuir para a solução de problemas decorrentes das transformações iniciadas
pelos processos de industrialização e urbanização.” (MAGNOLI, 2006, pg 204).
Ramos (1985) APUD Maymone (2009), apresenta uma classificação que subdivide
os parques urbanos em três categorias principais de acordo com sua finalidade, são elas: os
Parques de Preservação, que visam a conservação e manutenção de valores naturais que
necessitam ser perpetuados; os Parques Especiais, que são aqueles que se destinam a uma
atividade específica, como jardins botânicos ou zoológicos e, por fim, os Parques
Recreativos, que consistem em áreas verdes com toda sorte de equipamentos que visam
buscam atender as necessidades da população.
O autor traz ainda outra subdivisão, classificando o parque em quatro categorias: os
parques metropolitanos, os parques lineares, os parques ecológicos ou Uso Múltiplo e os
parques temáticos. Segundo o autor, os parques metropolitanos são aqueles que abrigam
áreas destinadas à recreação da população, podendo também abrigar áreas de conservação
49
ou unidades de uso sustentável. Estes parques, segundo Plano Diretor de Sistema de Parques
Metropolitanos (PDSPM)/Região Metropolitana (RMR), podem possuir diversas escalas:
Os parques lineares são aqueles destinados a uso recreativo que se estendem ao longo
de uma linha ou eixo pré-definido. São parques que, normalmente, interligam diferentes
pontos da cidade e possibilitam ao indivíduo estar inserido na natureza nos seus caminhos
cotidianos. O autor ressalta que “além do caminhar, andar de bicicleta como forma de
recreação, esses corredores passam a interessar mais como maneira de chegar a diferentes
lugares e fazer ligações com áreas esportivas, culturais e de lazer.” (MAYMONE, 2009).
Os parques ecológicos ou de uso múltiplo são aqueles que possuem áreas de
preservação permanente (nascentes de água, fauna ou flora dignas de proteção, matas
nativas) que ocupam pelo menos 30% da área total da unidade e que apresentam, também,
ofertas diversas de uso para a população (lazer, educação, etc).
Os parques temáticos são, segundo Soja (1996 APUD MAYMONE, 2009) são
“híbridos contemporâneos que – como a maioria dos fenômenos pós-modernos – cruzam as
fronteiras que normalmente separam os até então distintos reinos da cultura, da economia,
da filosofia, da sociologia e da política [e que] equivalem-se a modelos mutantes que servem
como laboratórios civilizacionais que têm sua arquitetura limitada à simbologia e à estética,
50
possível apenas como uma experiência isolada e bem definida.” É um modelo mais moderno
de parque que não está necessariamente ligado ao verde ou aos elementos naturais.
Figura 22: Bosques arborizados do Parque Villa-Lobos: oásis verdes em São Paulo.
Os projetos de parques urbanos podem ser tão diversos quanto às próprias funções
destes espaços. Atualmente, estes projetos desprendem-se das já passadas fórmulas espaciais
e paisagísticas dos jardins dos séculos XVII e XVIII e passam a assumir novas configurações
de acordo com a finalidade do projeto e com as intenções projetuais do
arquiteto/urbanista/paisagista, que pode, inclusive, beber de uma ou mais fontes dentro das
diversas linhas paisagísticas existentes.
Macedo e Sakata (2010) discorrem, sob uma perspectiva paisagística, sobre os
projetos de parques urbanos no Brasil. Os autores afirmam que, apesar dos parques terem
sido amplamente adotados no final do século XIX como uma resposta às demandas sociais
na Europa e nos Estados Unidos, no Brasil eles surgiram em resposta à vontade das elites de
“copiarem” o padrão internacional de produção de parques urbanos. Essa cultura perdurou
por grande parte do século XX, sendo fortemente influenciada por três linguagens
paisagísticas e morfológicas: a Eclética, a Moderna e a Contemporânea.
O paisagismo eclético, que marcou presença durante o Brasil Império (séculos XVIII
XIX), refletia a busca da coroa portuguesa pelos padrões europeus de praças, parques e
jardins, adaptando-os à vegetação tropical. Tratou-se de uma corrente bastante aberta a
modismos estilísticos e a elementos decorativos nas paisagens criadas, como gazebos e
pequenos pavilhões, e pode ser dividida em duas vertentes: a clássica, mais inspirada
inspiração nos jardins franceses, e a romântica, nos jardins ingleses.
A chegada do modernismo no Brasil, por volta da década de 30, foi um divisor de
águas na forma de se pensar as paisagens. Foi um momento em que se rompeu
completamente com os padrões ecléticos dos parques e se adotaram novas formas de projetar
estes espaços, que passaram a apresentar programas de necessidades mais vastos e
complexos. O espaço livre moderno era pensado para o uso e para a permanência do usuário,
contratando com as finalidades de passeio ou passagem do ecletismo.
O paisagismo modernista também “possibilita a formação de uma identidade própria
da arquitetura paisagística nacional”, onde os novos espaços se identificam e se relacionam
com a paisagem local, através de elementos construtivos e vegetais característicos de cada
realidade.¹ Dentre os grandes nomes do paisagismo modernista está Burle Marx, tido como
o responsável pela introdução dos preceitos modernistas no âmbito do paisagismo brasileiro,
principalmente quanto ao uso da vegetação nativa. (MACEDO, 2003)
¹ A valorização de um “paisagismo nacional” na produção dos novos espaços públicos fez parte da mensagem pregada
pelo pensamento Regionalista, lançado no Nordeste e difundido ainda no começo do movimento Modernista. O
Regionalismo tinha como objetivo a valorização da cultura e da identidade brasileira.
53
O paisagismo contemporâneo (final do século XX) vem romper com algumas das
amarras modernistas sobre como pensar e produzir espaços. É uma linha paisagística mais
marcada pela liberdade e experimentação na concepção dos projetos, onde é possível
utilizar-se de preceitos modernistas mais ligados a funcionalidade e também beber do
romantismo e da estética eclética, trazendo o que há de mais interessante em cada uma.
Nas figuras abaixo (23 a 28) é possível observar um exemplar de cada linha
paisagística comentada acima.
Figura 25: Parque Ibirapuera – SP (1954) - Figura 26: Mapa do Parque Ibirapuera.
Linha Moderna.
Figura 27: Mapa do Jardim Botânico – PR (1991) – Figura 28: Mapa do Jardim Botânico.
Linha Contemporânea.
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual
se aplicam garantias adequadas de proteção.” Esses espaços são regulados por esta mesma
lei, de nível federal, que estabelece critérios para criação e gestão dessas unidades.
As UC’s são áreas onde se conservam parcelas integrais ou remanescentes, mas ainda
significativas, de ecossistemas valiosos à fauna e flora brasileira, além de buscarem a
utilização sustentável dos recursos naturais que protege e a valorização da relação do homem
com a natureza.
Segundo o SNUC (2000), as UC’s são divididas em dois grandes grupos: Unidades
de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável, cujos principais objetivos são
“preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com
exceção dos casos previstos nesta Lei” e “compatibilizar a conservação da natureza com o
uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”, respectivamente. (trechos retirados
dos parágrafos 1º e 2º, do inciso II, artigo 7º da lei do SNUC).
Esses grupos, por sua vez, dividem-se em diversos tipos de espaços verdes, incluindo
os parques, como é possível ver na Figura 29:
Ainda de acordo com CFB, toda propriedade de caráter rural deverá “manter área
com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das
normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais
mínimos em relação à área do imóvel.” (artigo 12º do CFB), isto é, toda pessoa física ou
jurídica que possuir propriedade rural deverá delimitar uma porcentagem de área para
instituição da RL (Figura 32). Vale lembrar que, assim como as UC, as RL também podem
ser exploradas para fins econômicos, desde que com a devida responsabilidade ambiental. A
porcentagem de RL em cada propriedade varia de acordo com sua localização.
Para o autor, essa relação homem-paisagem deu-se de duas formas distintas nas
antigas civilizações orientais e ocidentais. Essas relações foram norteadas, principalmente,
pela filosofia, busca da estética, política, religião, ciência, dentre outros aspectos de cada
época, povo e local e influenciaram fortemente na forma como a paisagem era percebida e
registrada na arte e na arquitetura. (Maximiano, 2004)
Sob o olhar ocidental, temos uma constante oposição entre o homem e a natureza
como principal pilar da percepção da paisagem. O domínio antropomórfico sobre o meio
natural era claro e, por vezes, louvado. A forma de perceber e produzir paisagens dessa época
estava intimamente ligada aos ideais de ordem, ciência e racionalidade, atributos associados
ao homem e muito valorizados pela sociedade ocidental.
semântico do termo, permitindo que fosse analisado sob outros parâmetros e envolvendo
outras variáveis, sem prejuízo das demais. Essa multiplicidade de sentidos priva o termo de
um único significado correto, mas de forma geral e com base em tudo que foi aqui relatado,
podemos compreender a paisagem como uma porção mensurável do espaço terrestre que
engloba um conjunto de elementos, bióticos e abióticos, em sua composição, estando
intimamente ligada às práticas da coletividade que a habita (quando existe).
A vida em coletividade altera a paisagem, as cidades são frutos da coletividade, logo
as cidades alteram a paisagem e por isso é tão indissociável dela. A cidade possui e produz
paisagens culturais o tempo todo. As ações humanas transformam e modificam a paisagem
natural, moldando-a e adaptando-a cada vez mais aos nossos anseios ou ideologias. Essas
modificações originam a paisagem urbana, que, ainda segundo o autor, podem ser
transformadas ao longo do tempo e são sempre marcadas por um conjunto de elementos e
técnicas produzidas pelo homem e moldadas para atender suas necessidades.
Essas transformações temporais também são ressaltadas por Macedo&Sakata (2010),
que afirmam que a paisagem urbana “pode ser considerada como a expressão morfológica
das diferentes formas de ocupação e, portanto, de transformação do ambiente em um
determinado tempo”.
Bertrand (1972 APUD MACIAL E LIMA, 2011) também reconhece a paisagem
como esse misto da obra humana com as composições da mãe-natureza. Ele diz que a
paisagem é uma porção do espaço caracterizada por um tipo de combinação dinâmica de
elementos geográficos diferenciados, físicos, biológicos e antrópicos, que ao se enfrentarem
dialeticamente uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto geográfico indissociável
que evolui em dinâmica própria de cada um dos elementos individuais.
Para Cullen (2000), paisagem urbana é a arte de tornar coerente e organizado,
visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano,
enquanto paisagismo envolve a habilidade de planejar e representar esses emaranhados.
Logo, é possível concluir que mesmo o caos agressivo e cinza das grandes cidades pode,
sim, ser considerado como paisagem.
Sendo assim, têm-se em conta a indissociabilidade entre paisagem e cidade. Faz-se,
então, necessária a compreensão destas paisagens e de seu papel dentro do âmbito do parque
urbano, afinal de contas, o projeto e estudo dos parques urbanos está intimamente ligado
com o planejamento das paisagens urbanas (FERREIRA, 2006). O parque, devido a sua
extensão, relaciona-se paisagisticamente com o meio urbano em duas escalas de percepção,
65
que chamaremos aqui de “macro” e “micro”. Para Metzger (2001) e Abbud (2006), a escala
de percepção ou observação é inerente a qualquer paisagem e influencia diretamente no
impacto que ela possui no observador. Essa escala pode ser percebida duas escalas: a do
indivíduo e a da cidade.
Na escala da cidade, a escala de quem observa de fora, temos o parque como um dos
vários ambientes que compõem o mosaico urbano, onde ele interage visualmente com os
outros espaços da cidade, construídos ou não. Nesta escala, o parque é quase sempre visto à
distância e em sua totalidade, como uma grande mancha verde em meio ao caos da cidade e,
por isso, dificilmente fará o indivíduo sentir-se inserido neste espaço e gozar dos benefícios
que ele pode oferecer.
Na escala do indivíduo, a escala de quem observa de dentro, o parque torna-se, então,
o mosaico de ambientes. Torna-se o refúgio verde do homem social, onde ele resgata seu elo
com a natureza cercando-se de elementos e ambientes naturais. É nesta escala de percepção
que os elementos artificiais se perdem no meio do verde da paisagem, e este assume o
protagonismo das visuais. É também nesta escala que as paisagens naturais do parque urbano
assumem uma forte influência sobre a psique humana, sobre sua saúde física e mental
(FERREIRA, 2006), e que o projeto dessas paisagens ganha tanta importância.
O papel da vegetação nas paisagens como um dos principais propiciadores da saúde
física e da beleza a é ressaltado por vários estudiosos e profissionais. Marx (1981) considera
as plantas como o principal agente expressivo da paisagem. Em concordância, Paiva e
Gonçalves (2002 APUD FERREIRA 2006) afirmam que:
A partir das considerações dos autores, é interessante observar que tanto a paisagem
como o paisagismo contemporâneo ganharam novos sentidos frente o momento histórico em
que nos encontramos. Ao contrário do que se era esperado das antigas paisagens (os jardins
66
italianos e franceses do século XVII, por exemplo), que eram quase que exclusivamente
estéticas, os novos projetos de paisagem buscam mais que um visual exuberante.
Segundo Londe (2014), os conceitos de qualidade ambiental e qualidade de vida
tornaram-se inseparáveis. A chamada “consciência ecológica”, que surge frente à
urbanização desenfreada e inconsequente que tomou conta das cidades, tem permeado a
cultura humana e tem interferido diretamente na forma como o homem produz suas cidades.
Temas como saúde, preservação, sustentabilidade, conforto ambiental e bem-estar individual
e coletivo tornaram-se diretrizes para a produção do espaço urbano e consequentemente, de
suas paisagens.
A responsabilidade dos projetistas de espaços livres não se resume ao verde. Embora
seja um componente importante da paisagem e dos espaços livres da cidade, os edifícios, as
ruas, os mobiliários e outros elementos abióticos não são menos importantes, uma vez que
são os elementos-chave de uma paisagem cultural. Para Cullen (2006), a paisagem urbana
também é dotada do poder de atração ou repulsão de acordo com a forma como seus
elementos abióticos são percebidos. O autor afirma que um conjunto de edifícios pode ser
dotado de um poder de atração sensorial que um edifício isolado jamais poderia oferecer.
Quando estendemos os pensamentos de Cullen aos outros elementos físicos do tecido urbano
citados por Cavalheiro e Del Picchia (1992), temos que a paisagem urbana, em seu todo, é
capaz de despertar sensações diversas no indivíduo.
Logo, projetar o tecido urbano e a relação dos seus espaços e elementos físicos não
pode carregar somente um pensamento funcionalista e técnico. A sensibilidade de
compreender as dinâmicas socais de cada lugar e perceber a realidade das cidades como algo
particular e intrínseco àquele local e àquela gente é a chave para compor novas paisagens
68
urbanas que se integrem com as existentes e despertem o interesse de apropriação por parte
dos indivíduos.
O crescimento acelerado (e por vezes descontrolado) das cidades, somado aos estilos
de vida contemporâneos, cada vez mais apressados e automáticos, tem trazido à tona a
discussão sobre a qualidade de vida no espaço urbano. Trata-se de um tema muito
abrangente, permeando o imaginário social de forma que qualquer indivíduo é capaz de
apresentar alguma compreensão ou consideração sobre o assunto. Vivemos numa era onde
a busca pela qualidade de vida não é um simples modismo, mas sim um dos principais
objetivos a serem alcançados pelo homem (Nobre, 1995). Tornou-se, hoje, um assunto tão
frequente que alguns de seus aspectos já viraram convenção entre a maioria das pessoas, por
exemplo: quem há de dizer que uma boa caminhada matinal é prejudicial à saúde? Ou quem
defenderá uma jornada exaustiva de 12 horas de trabalho como digna ou aceitável?
Para Pereira et. al. (2012), a preocupação do homem com a qualidade de vida não é
exatamente nova. A novidade seria a compreensão mais ampla de todos os fatores e variáveis
que se enquadram e que devem ser considerados neste tema; o reconhecimento de que o
bem-estar do ser humano precisa “valorizar parâmetros mais amplos que o controle de
sintomas, a diminuição da mortalidade ou aumento na expectativa de vida”. (PEREIRA ET
AL. 2012, p.241).
Essas imprecisões dificultam seu estudo, sua avaliação e mesmo o emprego deste
termo em trabalhos acadêmicos, por isso não dispensa esclarecimentos e delimitações para
a correta utilização de seu significado.
Nobre (1994) define qualidade de vida como sendo a “sensação íntima de conforto,
bem-estar ou felicidade no desempenho de funções físicas, intelectuais e psíquicas dentro da
realidade da sua família, do seu trabalho e dos valores da comunidade à qual pertence.” Sua
concepção é muito semelhante à da Organização Mundial de Saúde (OMS), que define a
70
qualidade de vida como sendo “a percepção do indivíduo de sua inserção [...] no contexto
da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos [...] e
preocupações”.
Para Nahas (2006 apud BORGES, 2008) a qualidade de vida é “a condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais, modificáveis ou não,
que caracterizam as condições em que vive o ser humano.”
precisão. São fatores externos à personalidade humana, como acesso à saúde, alimentação,
moradia, lazer, transporte e outras necessidades à vida urbana. (Pereira, 2012).
Na segunda situação, apesar de existirem, sim, variáveis concretas (como contexto
social, cultural e histórico), encara-se o tema de forma mais aberta uma vez que se está
lidando diretamente com a personalidade humana. É a parte interna ao homem. Aqui que
entram as características da qualidade de vida avaliadas sob a perspectiva da impressão
humana e psicológica de cada indivíduo. Em síntese: o que é bom para mim pode não ser
bom para você.
Apesar de distintos, esses dois olhares andam de mãos dadas e nenhum pode ser
isolado ou descartado quando o objetivo é avaliar e diagnosticar a qualidade de vida de um
indivíduo ou de um grupo. Minayo (2000 apud. ALMEIDA, GUTIERREZ E MARQUES,
2012) dá ênfase ao caráter híbrido deste conceito, que mescla fatores biológicos, sociais,
mentais, ambientais e culturais. O autor ressalta que:
.
Essa divisão de esferas de percepção busca esclarecer a
problemática da multidisciplinaridade presente em estudos sobre
qualidade de vida, visto que esse é um tema de grande
abrangência semântica. É importante considerar que, por
existirem diversas formas de definição sobre o termo, a adoção
de somente uma delas parece imprudente, pois esse ainda é um
campo em formação e em processo de definição de conceitos e
verdades. Logo, tais definições são aceitas e utilizadas, porém,
devem ser analisadas com olhar crítico e de forma situada em
relação aos aspectos objetivos e subjetivos de análise, além do
fato de serem complementares entre si.
(Almeida, Gutierrez e Marques, 2012, p.22)
No entanto, quando o assunto trata de qualidade de vida urbana, de forma geral e não
focalizada em uma cidade ou grupo específico, é mais comum que se discutam apenas (ou
com maior ênfase) as variáveis externas (ALVES ET. AL, 2017). À luz de outros autores
como Santos & Martins (2002) e Ulengin (2001), os autores destacam que a qualidade de
vida nas cidades é muitas vezes vista e avaliada sobre os seguintes parâmetros: condições
ambientais, condições materiais coletivas, condições socioeconômicas e as facilidades de
acesso à serviços urbanos (saúde, transporte, comunicação, etc).
73
Segundo Hora Neto (2015), a grande área do município é herança de sua estreita relação
com o plantio de cana e dos grandes latifúndios que, hoje ociosos, compõem a paisagem ceará-
mirinense. A construção histórica da cidade será tratada mais a frente neste capítulo.
Ceará-Mirim faz fronteira ao norte com a cidade de Maxaranguape, ao sul com Ielmo
Marinho, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. A oeste, tem-se o município de Taipu e a leste,
o Oceano Atlântico, que banha a praia de Muriú.
Com o poderio ameaçado, os portugueses partiram, no final do século XVI, para uma
abordagem mais agressiva em toda a província do Rio Grande: era hora de estabelecer de vez
o domínio português. Os anos que se seguiram foram marcados por forte violência e
escravização do povo indígena: suas aldeias foram desfeitas, seus membros foram vendidos ou
escravizados e suas terras foram desapropriadas e cedidas a pessoas confiáveis da coroa
portuguesa através dos acordos de sesmarias. O vale do Ceará-Mirim (como eram conhecidas
as terras que cercavam o rio de mesmo nome) tornou-se então uma grande malha de latifúndios,
caracterizando uma estrutural espacial “concentradora e excludente, que seria a base para as
futuras atividades agrícolas implantadas na região de Ceará-Mirim.” (HORA NETO, 2015,
p.27)
dos tradicionais espaços urbanos e elementos arquitetônicos que caracterizavam os centros das
cidades católicas da época – os largos, as grandes igrejas, os prédios de poder público. Dessa
forma, o vale do Ceará-Mirim preservou seu caráter mais rural, formado por grandes
propriedades privadas que prosperavam com a prática da agropecuária. (Cascudo, 2002).
Dentro das causas naturais, o autor cita fortes secas entre 1840 e 1846, que assolaram
os agricultores, dizimando as plantações de algodão (produto que detinha o destaque nas
plantações potiguares o longo de todo o século XVIII), rebanhos e desestabilizando a economia
do vale, até então bastante promissora. Já nos fatores econômicos, tem-se a busca dos
proprietários rurais por formas novas e mais seguras de produzir em suas terras e o crescente
mercado de produção de cana-de-açúcar, que já estava bem mais consolidada em toda região
Nordeste do país graças aos investimentos do império na modernização e industrialização do
setor açucareiro e ao destaque cada vez maior do Brasil no cenário internacional de exportação
de açúcar.
Durante seus primeiros passos como núcleo urbano, Ceará-Mirim (conhecida até então
como povoado Boca da Mata) era um local habitado por agricultores e comerciantes de grande
poder aquisitivo. Segundo documentos retirados da biblioteca virtual do IBGE, ali “conservou-
se um núcleo de ostentação e luxo. Surgiram os bailes aristocratas, as carruagens forradas
com seda e as festas ricas e pomposas. Esses traços que marcaram uma Era caracterizaram,
no tempo, a etapa patriarcal e escravocrata do açúcar.” (IBGE, 20--?)
Hora Neto (2015) chama atenção para a importância que os eixos de integração
intermunicipal tiveram no processo de crescimento e consolidação da cidade, uma vez que o
povoamento surgiu no cruzamento das estradas que conectavam o sertão potiguar aos
municípios de Natal e Extremoz. Esses eixos eram dotados de um fluxo constante no sentido
82
Foi nesta época que o povoado rompe com a paisagem rural e seus elementos espaciais
e ganha forma de vila, com as típicas casas duplamente geminadas, sem recuos e com telhados
em duas águas. Em 1855, Ceará-Mirim ganha o título de vila e se torna a sede do município de
Extremoz graças às facilidades ali encontradas e ao crescente desenvolvimento proveniente do
setor açucareiro.
Ainda na segunda metade do século XIX, toma forma o núcleo urbano hoje conhecido
como os bairros Centro, organizado ao redor da referida linha férrea, e Santa Águeda, onde
estão algum dos edifícios arquitetônicos mais marcantes do século XIX, como a Igreja Matriz
Nossa Senhora da Conceição, o Mercado Público de Ceará-Mirim e o Casarão onde hoje
funciona o Colégio Santa Águeda (Figura 38 e 39). Silveira (2015) descreve a Ceará-Mirim
deste momento como uma vila com ares majestosos, onde se respirava os ares da Corte. Este
núcleo forma-se à margem esquerda do rio Ceará-Mirim, que se tornou um limitador de
crescimento do tecido urbano e assim se mantém até os dias de hoje.
Figura 40. Casa Grande do Engenho Estrela, em Ceará-Mirim: um dos exemplares de uma
glória esquecida.
Nas quatro primeiras décadas do século XX, quatro usinas foram fundadas no vale do
Ceará-Mirim: a Ilha Bela (2013), a Guanabara e a São Francisco (1929 – Figura 41) e a Santa
Terezinha (1948). Em 1937, a Guanabara deixou de existir e tornou-se propriedade da Ilha Bela
e, em 1964, a Santa Terezinha teve o mesmo fim.
tiravam dali seu sustento, culminando em um êxodo rural que resultou numa periferia
empobrecida no núcleo urbano do município. (Montenegro, 2004)
Apesar da glória econômica vivida por Ceará-Mirim no começo do século XX, este
apogeu proporcionado pela indústria açucareira não durou muito. Inúmeros foram os fatores
que levaram ao declínio da economia açucareira no Rio Grande do Norte, os quais Bertrand
elenca a seguir:
Segundo o autor, esse declínio acabou resultando no abandono de grande parte dos
engenhos e usinas operantes no município, transformando Ceará-Mirim numa região
empobrecida que nada lembra a cidade que um dia foi destaque no RN.
Felizmente, a crescente integração com a capital Natal tem facilitado a busca e a oferta
de serviços não encontrados pelos moradores no município (seja de saúde, lazer ou educação).
No entanto, esta realidade tem transformado Ceará-Mirim em uma cidade dormitório para as
novas gerações, que apesar de morarem no município, não fazem dele palco de suas vivências
cotidianas.
Figura 43. Vista aérea do entorno da Igreja Matriz (2018), contemplando parte dos bairros
Centro e Santa Águeda, núcleos iniciais de ocupação.
Nos aprofundaremos agora em cada uma dessas macrozonas para compreender melhor
a situação de cada uma, começando pela macrozona rural.
Esta é a maior macrozona do munícipio uma vez que os assentamentos rurais e grandes
propriedades de terra ainda marcam o cenário de Ceará-Mirim, herança da cultura agrícola e
canavieira da cidade, que perdurou até meados do século XX. Segundo o censo IBGE 2010,
cerca de 45% da população vive nesta macrozona. Dada sua vasta extensão territorial, o
município conta atualmente com diversos assentamos rurais em diferentes níveis de
consolidação urbana, muitas vezes chamados pelos moradores de “distritos”. São exemplos
Ponta do Mato, localizado às margens da RN-064, Terra da Santa e Massaranduba, ambos
localizados às margens da BR-406. Segundo Lopes (2008 APUD HORA NETO, 2015), esses
assentamentos foram surgindo de maneira arbitrária dentro do município utilizando,
principalmente, as estradas, rodovias e ferrovias como eixo de crescimento. (Mapa 02)
Tratando então das macrozonas urbanas, é importante esclarecer o que o Plano Diretor
do município considera um núcleo urbano. De acordo com o PDCM (2006):
(PDCM, 2006)
O segundo trata-se do núcleo urbano formado às margens das praias de Muriú e Jacumã,
no litoral do município, há cerca de 20km do núcleo sede. Segundo Hora Neto (2015), o
surgimento deste núcleo praieiro é mais recente e tem maior ligação com o mercado turístico
no litoral potiguar e é independente dos fatores que acarretaram a formação do primeiro núcleo,
não sendo, portanto, tema pertinente a este trabalho. (Mapa 03)
91
Mapa 03. Núcleos urbanos de Ceará-Mirim (em vermelho), com destaque ao núcleo sede.
Fonte: IDEMA.
Fonte: Produzido pelo autor a partir do PDCM (2006) e Google Maps (2020).
Mirim, que funcionou como uma barreira geográfica para o crescimento nessa direção), ao
longo das duas principais vias da cidade: Av. Enéas Cavalcante e Av. Luís Lopes Varela.
Estas duas vias cruzam todo o núcleo urbano e fazem conexão com a BR-406, RN-064
e RN-307, sendo vias de intenso fluxo de moradores ou viajantes, de automóveis ou de
pedestres. É graças a seu intenso fluxo e visibilidade que ao longo destas vias também se
concentram a maior quantidade de estabelecimentos de comércio e serviço. (Mapa 06)
A partir do início dos anos 2000, a BR-406 torna-se o novo eixo de crescimento urbano,
no sentido oeste e sudeste. As novas áreas urbanas, caracterizadas pelos vários conjuntos
habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), encontram-se no que o PDCM
define como as macrozonas de expansão urbana, que são as áreas nas imediações da BR-406 e
RN-064, conforme mostrado no Mapa 07. (Ceará-Mirim, 2006)
Essa falta de diversidade acaba por prejudicar não apenas o direito à cidade dos
moradores, que não tem os serviços básicos ao seu pleno alcance, mas também a vitalidade
dessas áreas (Jacobs, 2009). Para a autora, a diversidade de usos é importante para a dinâmica
urbana pois garante que diferentes pessoas realizem diferentes atividades em diferentes horários
no mesmo entorno, diminuindo a atmosfera de abandono ou insegurança.
Dentre os espaços dos quais essas novas áreas carecem encontramos os espaços verdes
e áreas públicos de uso recreativo¹. O Mapa 10 demonstra as áreas de abrangência dos espaços
livres públicos existentes na cidade Ceará-Mirim. A dimensão das áreas levou em consideração
o pensamento de Jesus e Braga (2005), que estipula um raio de abrangência médio de 500m
para espaços livres com área entre 450 e 20.000m² e um de 200m para espaços com área entre
60 a 500m².
¹ Foram levados em consideração apenas os espaços implementados com alguma infraestrutura para atender a
população (bancos, iluminação e calçamento, por exemplo).
98
Observou-se que estes espaços são frequentes no centro urbano e contemplam a maioria
da população residente na área. Quanto aos tecidos habitacionais, apesar da falta de diversidade
de usos ser um padrão recorrente de forma geral, o conjunto Guararapes, no Planalto, é o único
a sofrer com a absoluta falta de espaços livres, sendo completamente excluído das áreas de
abrangência. No entanto, o bairro faz fronteira com os limites do Parque Boca da Mata, que
poderia apresentar uma solução a este problema com a implementação de uma área visitável
nos arredores.
O Parque Boca da Mata, tratado neste trabalho, encontra-se na categoria de ZPA IV. De
acordo com o PDCM, a utilização dessa categoria de ZPA deve possuir, primordialmente, viés
de caráter ambiental e ecológico. No entanto, o plano diretor também prevê a possibilidade de
utilização dessas áreas para urbanização desde que para fins de habitação social, para
regularização fundiária em AEIS ou no interesse da administração pública – desde que não
acarrete impactos negativos à área e nem prejudique a fauna e a flora local e com o devido
licenciamento ambiental (arts. 25º a 27º do Plano Diretor).
100
O Parque Boca da Mata localiza-se na região lindeira do núcleo urbano sede de Ceará-
Mirim, mais precisamente à sudeste do perímetro urbano, às margens da BR-406 (ver figura
45). É margeado pelos bairros Planalto e Luís Lopes Varela.
Figura 45. Perímetro do Parque Boca da Mata (à noroeste, o núcleo sede de Ceará-Mirim);
Fonte. Produzido pelo autor com base em imagens de satélite do Google Earth (2020).
101
Até o começo dos anos 2000, apenas duas usinas seguiam em atividade no munícipio e
apenas uma encontrava-se próxima ao núcleo urbano sede: a Usina São Francisco, pertencente
à Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim Ltda (CAVCM), que se encontra no processo
de fechamento de portas.
Fonte: Produzido pelo autor a partir de imagens satélites e de mapa do local disponibilizado pelo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia -IFRN. (2020)
103
Segundo Soares e Carvalho (2013), com sua instituição legal o parque passou a enfrentar
algumas dificuldades nas etapas técnicas de implementação, que pôs a área sob Ação Civil
Pública no Ministério Público em 2011. A ACP abordava temas como a necessidade da
produção da parte documental referente ao parque – como a catalogação de espécimes e o plano
de manejo – e da implantação do núcleo visitável da área.
A ação ainda menciona, dentre os desafios existentes, a falta de interesse público (das
gestões até então em vigor) em atender as demandas cobradas pelo SNUC, que tem usado o
processo de duplicação da BR-406 como justificativa para protelar a implantação do parque.
No entanto:
Mapa 12. Perímetro atual do Parque Boca da Mata, após a lei 1.884/19.
A lei nº 11.428/06 (Lei da Mata Atlântica), cujo objetivo é zelar pelos remanescentes
do bioma e instituir diretrizes para sua preservação e recuperação, institui que a Mata Atlântica
pode se apresentar através de diferentes poções territoriais e formações florestais em todo
território nacional. Essas formações foram melhor regulamentadas e detalhadas pelo decreto
6.660, de 2008, e representadas no “Mapa da Área de Aplicação da Lei 11.428/2006”, elaborado
e publicado pelo IBGE em 2008 (ver Figura 46). Com base neste mapa, as formações de Mata
Atlântica no estado do Rio Grande do Norte concentram-se nas regiões litorâneas e apresentam-
se em três formações principais. São elas:
Figura 46. Formações de Mata Atlântica encontradas no Rio Grande do Norte e em Ceará-Mirim.
Fonte: Produzido pelo autor a partir do Manual de Adequação Ambiental - Mata Atlântica (DF, 2010)
107
De acordo com o mapa e com as visitas feitas in loco ao perímetro do parque é possível
concluir que o Boca da Mata abriga a formação Floresta Estacional Semidecidual (FES),
enquanto o litoral ceará-mirinense (arredores da praia de Muriú) abriga as Áreas de Formações
Pioneiras. Ainda segundo Ceastro (2002) e Araújo (2009), as FES, também conhecidas como
“Mata Atlântica do Interior” ou “Mata Seca”, ocupam as áreas entre as zonas úmidas do litoral
e o ambiente semiárido e estão frequentemente ameaçadas pelas atividades agrícolas,
principalmente.
Uma vez que o parque ainda não conta com um Plano de Manejo elaborado, decidiu-se
elaborar um mapa um zoneamento das diferentes caracterizações ambientais encontradas na
área do PBM (Mapa 13). O mesmo foi realizado através da observação de imagens de satélite
108
O parque resguarda ainda uma Área de Proteção Permanente (APP) às margens do Rio
do Mudo, definida pelo Código Florestal (Lei 12.651/12). (Figura 48)
109
Figura 49, 50 e 51. Visuais dos fragmentos vegetados do PBM a partir da BR-406.
2000
2015
Já figuras 54 e 55, vemos o
parque na década posterior à instituição
da UC (2008). Em 2015 é possível
perceber o processo de desfazimento
dos canaviais e em 2020, já com o
adensamento das novas terras ao
território do parque e encerramento das
atividades canavieiras nos seus
arredores, é possível perceber que o
verde volta a tomar conta do local. Os
elementos humanos mais demarcados
2020
como os lotes canavieiros e as vias
informais já começam a perder sua
forma e se diluir na cobertura vegetal
emergente. Atualmente essas áreas ao
redor do núcleo urbano apresentam
uma forração vegetal composta de
ervas e arbustos predominantemente,
com escassa presença de árvores.
Ainda segundo o ambientalista, ainda não existe um projeto para a área visitável do
Parque. O que existe em termos arquitetônicos é o projeto para o pórtico de entrada do local,
cuja obra já foi orçada e licitada. Os outros equipamentos ficarão para “outra etapa”, afirmou.
É possível perceber que o Parque Boca da Mata ainda enfrenta uma série de dificuldades
no tocante à sua efetiva regularização técnica e a implementação de sua área visitável. No
entanto, é perceptível o que sua existência já tem feito pelo cenário ambiental da área e é
evidente o seu potencial para o ecoturismo, educação ambiental, pesquisas científicas, lazer,
qualidade de vida e atividades culturais. Para Soares e Carvalho (2013):
Abaixo, vemos dois quadros (02 e 03) síntese com dados gerais sobre o parque e as
legislações incidentes, que serão usadas para nortear as propostas de projeto.
“Percebi, nos nossos eventos realizados no parque, grande interesse dos moradores e
instituições em conhecer a área interna do parque, participações excelentes e efetivas nos
eventos que realizamos lá. O Parque Municipal Boca da Mata é composto de áreas verdes
que traria qualidade de vida para a população. As atividades realizadas proporcionariam
diferentes benefícios psicológicos, sociais e físicos a saúde dos moradores, como, por
exemplo, a redução do sedentarismo, prática de meditação e práticas espirituais, e amenizar
o estresse do cotidiano urbano, e hoje as pessoas estão aderindo à cultura da caminhada ao
ar livre.”
“O Parque Municipal Natural Boca da Mata se constitui numa excelente área de lazer
para todas as idades; criação de trilhas para desenvolvimento de estudos ambientais; espaço
destinado para prática esportiva; Criação de um viveiro de plantas estruturado para fornecer
mudas para as escolas do bairro e a população em geral, privilegiando as espécies nativas da
flora existente no local; Praça de alimentação e demais estruturas com cunho ambiental,
cultural e educacional. O parque seria também um espaço factível para prática da Educação
Ambiental, com base em projetos transdisciplinares de ensino e seus temas, contribuindo
para promover uma reforma de pensamento que possibilita o pensar sistêmico.”
“Os trabalhos de restauração vegetal e animal tem como objetivo guiar o ecossistema
para ficar o mais próximo possível da condição em que se encontrava antes da degradação.
A restauração deve trazer, reproduzir as paisagens inerentes ao ecossistema, restabelec er a
composição das espécies e os genótipos locais. Já existe alguns projetos com esta finalidade
acontecendo dentro do parque, realizados por empresas privadas que cumprem
condicionantes. Acreditamos que com um plano de manejo efetivado, e se conseguirmos
117
Além de reunir informações sobre a cidade e sobre o parque, este trabalho também
buscou coletar informações sobre aqueles que iriam utilizar o espaço: o povo ceará -
mirinense. A próxima etapa apresenta os resultados das pesquisas com a população.
¹ A entrevista foi concedida em outubro de 2020, com o intuito de organizar as ideias de Eriberto num corpo
textual. No entanto, o profissional manteve-se à disposição desde o fim de 2019, orientando e fornecendo
explicações e documentos ao longo da realização deste trabalho.
118
Uma vez escolhido o tema deste TFG, ficou evidente a necessidade de um trabalho
de pesquisa com a população ceará-mirinense. Segundo Jacobs (2009), os tempos
modernos trouxeram consigo uma perda da natureza coletiva do homem, que tem
abandonado cada vez mais, ainda que de forma involuntária, os espaços públicos de
convívio. Um agravante desse problema é o fato de que, muitas vezes, estes projetos não
são pensados para atender os anseios da população mas são, ora implementado pelas
gestões públicas com a mera finalidade de existir no tecido urbano (seja num pequeno
lote desapropriado ou num encontro de vias), ora simplórios demais, não apresentando
nenhum atrativo que motive o cidadão a deixar o conforto e segurança do seu lar ou de
outros ambientes de entretenimento fechado, como shoppings.
¹ Entende-se “vitalidade urbana” como a presença de vida humana nas vias e espaços públicos, isto é, a
presença de indivíduos indo, vindo, permanecendo e realizando suas atividades cotidianas em
determinado espaço. (Jacobs, 2009)
120
por este trabalho de pesquisa uma vez que justificam algumas decisões tomadas no
produto final do TFG.
Ao todo foram estudadas quatro praças da cidade (Mapa 14 e Figuras 57, 58, 59 e
60), em diferentes bairros e com diferentes tamanhos, níveis de infraestrutura e oferta de
equipamentos. Os locais foram observados ao longo de 60 dias (entre abril e junho de
2019). Durante as visitas, o trabalho buscou:
Mapa 14. Espaços estudados na pesquisa de PPUR 06: Praças, pra quê te quero?
no local por cada indivíduo ou grupo de indivíduos – estas atividades foram divididas em
quatro tipos:
Uma dinâmica existente entre os usuários foi ainda observada nas praças
estudadas. A primeira diz respeito à utilização das áreas de uso passivo: àquelas
caracterizadas pela presença de mobiliários como bancos, mesas, gazebos, dentre outros.
Estas áreas tendem a ser menos utilizadas quando:
[1] Ficam muito longe das vistas da rua ou das zonas de maior movimento, por
causa da sensação de insegurança;
[2] Não há ninguém por perto realizando alguma atividade que vitalize a área.
potencializam o poder de atração das áreas passivas pois anulam as condicionantes que
dificultam seu uso. O trabalho exemplifica está dinâmica no contexto da Praça Cidade de
Vagos:
“Na Praça da COHAB, situação semelhante
também se apresentou: na primeira visita, fim de semana,
as quadras e o quiosque estavam em pleno
funcionamento, e era possível perceber a presença de
usuários em toda a extensão da praça. Na segunda visita,
em dia de semana, quando apenas uma das quadras estava
sendo utilizada, os praticantes do convívio ficaram
próximos a esta, e mais longe da outra, que apesar de
iluminada, estava vazia.
No caso do primeiro grupo, encontramos uma população que ainda enxerga seus
espaços públicos como potenciais espaços de lazer, ainda que careçam de equipamentos
ou atividades mais atrativas. Também percebeu-se que o poder de atratividade das praças
mais bem equipadas transcendia seu entorno imediato, isto é, os espaços que
apresentavam mais variedade de atividades ativas e passivas acabava chamando usuários
de outros bairros para dentro de si e não apenas os moradores das imediações.
Fonte: Produzido pelo autor (2020). Fonte: Produzido pelo autor (2020).
Trata-se de uma parcela populacional que mais vive em Natal que em Ceará-
Mirim, seja por estudo ou trabalho, cujos padrões de lazer são mais exigentes graças ao
cotidiano da capital, que oferece shoppings, praias ou mesmo espaços públicos mais
interessantes, como o caso do Parque das Dunas, mencionado por alguns dos
entrevistados. Quando indagados sobre a busca pelo lazer em suas horas vagas, apenas
36% dos entrevistados disseram enxergar bons espaços de lazer em Ceará-Mirim. Dos
127
64% restantes, a maioria alegou não gostar de sair de casa por “não encontrar nada
interessante pra fazer na cidade.” (adaptado das entrevistas realizadas em maio de 2019).
Dos que buscam lazer dentro de Ceará-Mirim, 58% afirmou não buscar lazer em
praças ou espaços do gênero justamente pela falta de atrativos. Quando indagados sobre
os atrativos que os motivariam a frequentar estes espaços, os entrevistados apontaram,
principalmente, a presença de arborização, de segurança e de equipamentos que
permitissem o exercício físico e a prática da convivência.
Os 42% que disseram buscar estes espaços públicos para o exercício do lazer
apontaram a prática do esporte e da arte (cantar, dançar, tocar) como as principais
justificativa para o uso destes espaços.
Fazendo um apanhado das perspectivas dos dois grupos, concluiu-se que as praças
ainda existem como espaço de lazer em potencial, mas que precisam ser reestruturadas
para atender às expectativas e demandas da população, tornando-as mais atraentes e
cheias de vitalidade. De acordo com o gráfico 06, vemos a opinião dos 122 entrevistados
sobre a atratividade das praças em Ceará-Mirim:
128
Gráfico 08. Aspectos que mais são ausentes nas praças de Ceará-Mirim.
Ao longo dos estudos realizados sobre os parques urbanos, observou-se que seus
variados equipamentos atendem a população em diversas escalas, oferecendo suporte
também à atividades de grandes grupos ou públicos. Logo, além das informações
coletadas sobre os moradores da cidade, que buscam os espaços públicos para
entretenimento pessoal, viu-se também a necessidade de compreender a relevância e a
necessidade de equipamentos de maior porte, como auditórios e pavilhões, que excedem
a escala do indivíduo.
Ao todo foram alcançadas onze instituições, sendo sete de ensino, duas religiosas,
uma artística e um órgão público. (Quadro 02)
Gráfico 09. Utilização do Boca da Mata por parte das entidades municipais.
Quanto aos eventos externos realizados por essas entidades, optou-se por dividi-
los em quatro categorias, definidas da seguinte forma:
O Quadro 03 faz uma tipificação dos eventos realizados pelas instituições em cada
categoria. O Gráfico 11, por sua vez, retrata a porcentagem de cada categoria dentro do
total de atividades citadas nos formulários.
Figura 61: Abertura dos Jogos Internos do CEEP, no Palácio Anderson Elói.
6. ESTUDOS DE REFERÊNCIA
Mapa 15: Área do PDD (em cores) com o Bosque dos Namorados em destaque.
Além disso, a localização do Bosque dos Namorados e sua relação espacial com
seu entorno urbano não é favorável à visibilidade do local. O parque se esconde
visualmente dos fluxos e olhares urbanos, que são mais intensos em outros trechos da
Alexandrino de Alencar.
Figura 68: Mapa dos espaços, caminhos e equipamentos do Bosque dos Namorados.
TRAÇADO PRIMÁRIO
TRAÇADO SECUNDÁRIO
01 02
03 04
05 06
07 08
Fonte: Acervo do autor. (2020)
144
09 10
11 13
Fonte: Acervo do autor. (2020)
(como os parquinhos e mesas de piquenique) que não estão organizadas em torno dos dois
primeiros traçados, mas distribuídas entre as árvores.
O Bosque oferece espaços para o lazer, para a cultura e para a educação, mas não
para o esporte (com exceção da corrida e do ciclismo). O local não dispões de quadras ou
equipamentos semelhantes direcionados para este fim, fazendo com o que os usuários
procurem usar outros espaços para atividades como jogar bola, por exemplo.
socioambientais surgiram contra a utilização das margens do rio para a construção civil.
O movimento “pró-Cocó” ganhou força na década seguinte e em 1989, através do decreto
20.253, o governo estadual desapropriou cerca de 1.046 hectares pertencentes às margens
do rio e instituiu a criação do Parque Ecológico do Cocó (também ampliou a área do
parque em 1993, através do decreto 22.587), que, segundo a SEMACE, visa:
A área visitável Parque do Cocó é tida como a principal área pública deste parque
urbano. Com cerca de 37.200m², o projeto é do fim de 2016 e concentra os principais
equipamentos do parque.
Essa área caracteriza-se por ser um setor espacial bem distinto do interior florestal
do parque. Trata-se de uma área mais aberta tanto espacial, quanto visualmente
(principalmente porque não possui uma arborização tão densa quanto às trilhas). (Figura
75)
A integração visual do projeto com o entorno é muito privilegiada pelo fato de ser
uma área de livre acesso, não possuindo barreiras físicas ou visuais que impeçam o
indivíduo de adentrar o parque ou que indiquem que sua entrada não é desejada. O local
transmite uma mensagem convidativa ao espectador, exibindo seus atrativos sem inibição
como se o chamasse para vê-los e utilizá-los.
O amplo e acolhedor espaço verde, que se estende pelas margens sul da Av. Padre
Antônio Tomás por cerca de 600m, contrasta bastante com os prédios verticais da margem
norte, enfatizando a atmosfera de tranquilidade tão inerente aos espaços verdes. A
topografia também se faz grande aliada da área, uma vez que a via se encontra numa
porção mais elevada e há um constante declive na direção norte-sul dentro da área,
permitindo aos que transitam pela rua ou calçada ter uma visão privilegiada da extensão
do parque e uma leitura rápida do conteúdo do espaço (equipamentos, caminhos,
mobiliário, etc).
Padre Tomás é bem atendida pelo transporte público rodoviário da cidade, contando com
um grande número de linhas de ônibus que passam pela área. O local é ainda atendido
pelo Bicicletar, sistema de bicicletas públicas de Fortaleza, pelo Bus Rapid Transit – BRT
(linha de ônibus-expresso da cidade) e possui um estacionamento interno para automóveis
de médio porte. Dessa forma, é possível chegar ao parque através de diversos modais de
transporte e de variados pontos da cidade.
Sob o segundo olhar, é possível perceber que os espaços e passeios do parque são
bastante integrados entre si. Justamente pela falta de barreiras físicas, as rotas de entrada
e saída do parque são diversas. Não existe, atualmente, uma hierarquia muito marcante
entre os passeios internos do parque ou um padrão de desenho específico em seu traçado,
o que permite fluxos variados por entre os vários equipamentos e locais de atividades
realizadas. Esses passeios internos são sinuosos e variam em relação à sua cobertura,
podendo ou não ser pavimentado. A arborização pouco densa do local, no entanto, auxilia
na leitura do espaço de quem percorre esses caminhos, permitindo ao usuário traçar a
melhor rota para chegar onde deseja.
Apesar da forte integração física camuflar este fato, é possível perceber uma
organização do programa em quatro diferentes zonas, definidas pelos usos e
equipamentos que apresentam: zona esportiva, zona verde, zona cultural-contemplativa e
zona de ensino. (Figura 76)
A área visitável Adahil Barreto encontra-se mais a sul do Parque do Cocó, é menor
que a primeira e apresenta uma série de diferenças quanto a estruturação do seu espaço.
O local é cercado, estabelecendo pontos específicos de acesso ao pedestre e ao veículo
motorizado; o seu traçado possui uma hierarquia mais perceptível: tem-se uma circulação
central (mais larga), onde é possível a circulação de automóveis e, a partir desta, tem-se
circulações mais estreitas, direcionadas aos pedestres e ligando os principais
equipamentos e espaços.
Este parque foi escolhido como estudo de referência devido ao contexto do local
onde foi implementado: um antigo aterro sanitário utilizado como depósito de lixo e de
entulhos tirados do rio pela CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais
de São Paulo), o que torna um exemplo de recuperação de áreas ambientalmente
degradadas e uma prova de que é possível, com tempo e com trabalho, transformar os
espaços e as paisagens urbanas marcadas pela destruição ou pelo descaso.
No ano seguinte iniciou-se o plantio das mudas escolhidas. No projeto não foram
utilizadas apenas plantas nativas do ecossistema original do local (Mata Atlântica), mas
plantas de outros biomas que se adaptaram ao clima paulista, o que proporcionou uma
diversidade estética ao paisagismo do parque. O projeto ainda está em progresso, já que
muitas mudas ainda precisam de tempo para atingir a idade adulta, outras ainda serão
plantadas e edificações ainda serão erguidas.
Já o acesso visual para o parque não é muito privilegiado pela topografia do local.
Nas imediações da Av. Fonseca Rodrigues, a visão que o motorista ou pedestre tem ao
olhar para o lote onde se encontra o parque é a de um talude elevado, não sendo possível
ter noção da amplitude espacial do lugar ou ter visão de seus equipamentos, que acabam
sendo excluídos da paisagem urbana. No entanto, o extenso talude gramado e repleto de
árvores em meio a uma avenida marcada por grandes edifícios denuncia a existência do
parque, ainda que este não possa ser visto diretamente pelo lado de fora (Figura 80).
O parque conta com equipamentos de uso ativo e passivo (todos com versões
acessíveis) nas áreas de esporte, lazer e cultura, que incluem ciclovia, quadras, trilhas,
campos de futebol, playground, aparelhos de ginástica, pista de cooper, tabelas de street
basketball e bosques, cujos locais de implantação não evidenciam um zoneamento por
uso ou por função. Equipamentos de caráter educacional também aparecem pontualmente
no programa de necessidades do parque, como o Orquidário Ruth Cardoso e a Vila
Ambiental, mas estes são mais voltados à disseminação que à produção do conhecimento.
(Figura 81)
E essa mesma questão pode ser levado além do viés ambiental. As cidades
enfrentam todos os dias diversos tipos de degradação, seja de sua cultura, de sua memória,
de seu patrimônio, de sua gente ou de sua forma e é importante buscar meios de resgatar
aquilo que foi perdido, não apenas de conservar o que não se perdeu.
Uma vez que o produto final deste trabalho envolve a intervenção em áreas
degradadas pelas queimadas em Ceará-Mirim, o estudo do Villa-Lobos pode expandir
horizontes no tocante às medidas que podem ser pensadas para situações como essas.
158
7. O PROGRMA DE NECESSIDADES
8. CONCEITO
RAIZ s. feminino
Diante dos estudos e análises realizadas nos capítulos anteriores, percebeu-se que a
palavra raiz funcionava como denominador comum dos conteúdos trabalhados e, por isso,
deveria ser adotada como conceito deste projeto.
A escolha deste conceito dá-se justamente pela multiplicidade de significados que esta
palavra carrega, com ênfase em três deles: a raiz como origem, a raiz como elemento botânico
e a raiz como vínculo de pertencimento.
No segundo, temos as raízes vegetais dos ecossistemas que um dia fizeram parte das
terras ceará-mirinenses e que foram durante muito tempo sufocadas pelas raízes acima citadas.
Hoje, degradadas, necessitam de recuperação e preservação.
Por último, temos as raízes afetivas do ceará-mirinense para com sua cidade, que
precisam ser fortalecidas para que não se apaguem frente ao intenso processo de integração
entre a cidade e a capital.
Estas diferentes raízes permeiam e se entrelaçam neste projeto, que visa resgatá-las e
fortalecê-las através de quatro diretrizes propositivas:
A área visitável, batizada de Bosque Boca da Mata (BBM), deverá ser um local de
exaltação à memória da cidade; um local que promova o contato entre o ceará-mirinense e a
163
Como visto no Mapa 13, grande parte do Boca da Mata encontra-se em estado de
degradação graças as atividades canavieiras. Compreende-se, também, que um dos objetivos
do bosque, como parte de uma Unidade de Conservação, é “contribuir para a preservação e a
restauração da diversidade de ecossistemas naturais” (SNUC, art. 4º). A busca pela restauração
deve ser realizada através de um projeto paisagístico voltado para as espécies do bioma nativo
e à criação de áreas dedicadas exclusivamente para fins de recuperação da Mata Atlântica.
De acordo com os estudos realizados percebeu-se que o Parque Boca da Mata ainda está
em fase de receber pesquisas sobre suas condições ambientais e que as institucionais
educacionais veem grande potencial na área para realização de atividades extraclasse. Dessa
forma, é interessante que o parque disponha de equipamentos e áreas reservadas para a prática
da pesquisa e educação ambiental, tanto para entidades internas como externas.
Este capítulo tem como principal objetivo apresentar o processo projetual da proposta
do Bosque Boca da Mata e suas justificativas. Inicialmente será apresentado o recorte espacial
escolhido e uma análise de seu entorno segundo a metodologia de Gatti (2013). Será então
apresentado o processo projetual do parque, desde os zoneamentos iniciais até a proposta final.
164
Além do que será apresentado neste capítulo, o trabalho conta ainda com seis pranchas da
proposta, disponibilizadas como produto anexo deste trabalho.
Adentrada a etapa de projeto, a primeira decisão tomada foi sobre o recorte espacial a ser
trabalhado, uma vez que o tamanho da área do parque é muito superior à da intervenção. Duas
diretrizes principais foram adotadas para tal escolha:
Por se tratar de uma proposta para um parque já existente e com limites territoriais já
definidos por lei, a intervenção deve ser feita dentro deste perímetro, preferencialmente em uma
área em estado médio ou avançado de degradação, já que o local ainda não dispõe de um plano
de manejo que possa mensurar o impacto de uma intervenção humana deste porte em áreas de
mata ou nortear sobre como executá-la. A intervenção numa área degradada também é
preferível pois não interfere nos fragmentos de Mata Atlântica que ainda resistem, possibilita
maior liberdade criativa para o desenho da área pública e, através de um plano paisagístico com
viés de reflorestamento, pode vir a tornar o bosque um novo fragmento de mata.
Segundo Jacobs (2009) e Gehl (2013), a vitalidade dos espaços públicos é intimamente
ligada às dinâmicas urbanas, por isso, sua localização acaba sendo um fator de grande
relevância no grau de sucesso ou insucesso destes locais. Um espaço público deve ser inserido
no cotidiano de uma cidade, tanto fisicamente, através de infraestrutura, ruas e acessos, como
funcionalmente, atendendo suas demandas.
Dessa forma, é indispensável que o recorte trabalhado tenha ligação física com a cidade, de
forma que possa ser acessado e utilizado com facilidade e segurança pela população. No caso
do Boca da Mata, grande parte do seu território encontra-se afastado do núcleo urbano
(inclusive os fragmentos de Mata), o que limita a escolha do recorte às áreas marginais da
cidade, onde funcionavam os canaviais a CAVCM.
165
Com base nessas condicionantes, optou-se por implementar a área visitável às margens da
BR-406, na entrada sudeste da cidade. Essa área possui campos degradados dos dois lados da
via: à leste, marginando o bairro Luís Lopes Varela, à oeste, marginando o bairro Planalto. O
mapa 14 destaca estes campos, considerando-os como área potencial de implantação por
atenderem as referidas diretrizes. (Figura 84)
2
ao longo da BR e enquadra diretamente
para a API. Esta área local também
apresenta as cotas mais elevadas na
Janela visual
topografia, oferecendo visibilidade aos
equipamentos em todo o eixo viário ao
redor, tanto para pedestres como para
3
motoristas.
Na API à oeste da BR, é
possível perceber uma paisagem
semelhante à do lado oposto. No
entanto, a baixa topografia nas porções
centrais da área pode acabar ocultando
os equipamentos do local entre as
5 6
Fonte. Acervo do autor e Google Street View (2020).
172
Além disto, apesar de possuir uma boa visibilidade a partir da BR, a vista desta API é
obstruída no Planalto, graças a um muro de vegetação existente ao longo de toda à Rua Jurandir
Carvalho. (visuais 5 e 6).
Conforme observado nos mapas, o local oferece condições favoráveis a implantação da
área visitável. As vias que contornam o local concentram os fluxos de entrada e saída da cidade,
apresentando constante movimentação de pedestres e de veículos (tanto dos munícipes como
daqueles que estão apenas de passagem pela BR-406). A presença do bosque no local encontra
nestas vias um eixo de fácil visualização e acesso aos transeuntes, visto que o entorno também
apresenta pontos de transporte público e um eixo de fluxo de bicicletas na pista de cooper.
A pista de cooper da Luís L. Varela consiste ao mesmo tempo em uma zona potencial,
pelo seu poder de atratividade e frequente utilização, e uma zona de conflito, por não prever a
infraestrutura adequada (como sinalização e paginação) para harmonizar as atividades de
caminhada e ciclismo, que são atualmente realizadas no mesmo espaço. Além disto, a partir de
observações realizadas no local, percebeu-se a existência de uma “Zona de Insegurança” ao sul
da pista de cooper (Mapa 22), numa área não edificada/urbanizada da Luís L. Varela (essa área
será discutida mais à frente), que compromete a sua plena utilização.
Vê-se também que a existência de um equipamento como um parque público, isto é,
voltado para a recreação dos moradores é necessária ao local. Como visto no Mapa 10 (Uso do
Solo do munícipio) e no mapa 22, o entorno da área escolhida carece de áreas verdes e se
encontra, sobretudo o bairro do Planalto, fora da área de abrangência das praças da cidade,
levando seus moradores a procurar opções de lazer em locais mais distantes.
A porção do Planalto que vai da Rua Francisco Martiniano até a extremidade sul do
bairro ainda apresenta uma carência no que tange a diversidade de usos, sendo uma zona
exclusivamente residencial (com a presença de alguns raros pontos comerciais de bairro), o que
ajuda a compreender a razão dos fluxos nesta área serem mais fracos que no resto das vias, visto
que não há uma dinâmica urbana que integre aquele contexto urbano com o resto da cidade. Já
no entorno do bairro Luís L. Varela, é possível perceber uma variedade no uso do solo,
sobretudo nos eixos da BR-406 e Av. Luís Lopes Varela, o que, segundo Jacobs (2009)
contribui com a vitalidade da área. Essa vitalidade pode ser percebida através dos fluxos nestas
vias, que variam de moderado a intenso.
Ainda sobre o uso do solo é importante ressaltar que existem quatro equipamentos de
grande relevância ao redor da API, destacados no Mapa 21: três são instituições de ensino
(inclusive o CEEP, que foi entrevistado para a elaboração da Etapa 3), que concentram
diariamente um público de crianças e jovens – potenciais usuários do bosque, e o quarto é o
173
aeródromo de Ceará-Mirim, que pode ser utilizado como atrativo para a área do parque graças
as atividades de voo recreativo que realiza.
Em síntese, o local apresenta uma série de condicionantes que Gehl (2003) julga
apropriada para “o processo de autoalimentação, de autorreforço” (p.64) da vida nas cidades,
isto é, espaços e dinâmicas que favorecem a implantação do Bosque Boca da Mata e que, ao
mesmo tempo, são reforçadas e favorecidas por ele, gerando mais vitalidade no tecido urbano
e oferecendo mais seus moradores.
A disposição destas zonas na Área Potencial de Implantação teve base em três aspectos
do local percebidos nos estudos de entorno: a inexistente oferta de espaços públicos de lazer e
recreação no bairro Planalto, à oeste da BR-406, a alta cota topográfica às margens da Av. Luís
Lopes Varela, à leste da BR-406 (próxima à interseção das duas vias) e a existência da Pista de
Cooper de Ceará-Mirim, também às margens da referida avenida, local bastante utilizado pelos
moradores e que recebe um fluxo constante de usuários todos os dias.
evidenciando seus equipamentos logo na entrada da cidade e atraindo a atenção dos que
transitam pela BR-406; ainda deste lado, concluiu-se que seria interessante integrar o bosque
com a pista de cooper, como uma forma de expandir sua extensão, sua estrutura e aproveitar a
vitalidade que ela já apresenta.
Deste ponto surgiu a ideia de dividir o bosque em duas áreas e aproveitar o que de
melhor ambos os lados da BR tinham para oferecer. A BR-406 não mais cruzaria apenas o
Parque Boca da Mata, mas também seu bosque. Essa decisão tomou como o base o estudo de
referência ao Parque do Cocó, em Fortaleza, cujo projeto de revitalização conta com diversos
núcleos visitáveis ao longo da extensão do parque, os quais dispõem de diferentes equipamentos
ou são destinados à diferentes objetivos.
Assim, o zoneamento deu-se da seguinte forma (Figura 87): a zona cultural (1), seria
locada à leste da BR-406, ao final da pista de cooper, região onde a topografia iria evidenciar o
pavilhão e o anfiteatro, que deveriam possuir forte expressão arquitetônica. O acesso principal
seria realizado pela Av. Luís L. Varela, no local já previsto pela gestão do município. Mais a
sul, ainda deste lado da BR, seria locada a zona de pesquisa (2). O local seria mais afastado do
restante dos equipamentos dado o seu caráter privativo e para que ficasse mais próximo aos
fragmentos vegetais de Mata Atlântica. Nos arredores da zona de pesquisa estariam ainda
locados o viveiro municipal e os “lotes escolares”, que serão discutidos mais a frente.
A zona recreativa (3) foi locada no Planalto, no cruzamento da rua Jurandir Carvalho
com a rua Luiz Francisco Martiniano. Nesta última via propôs-se um ponto de acesso pela
proximidade com a parada de ônibus local e por ser de fácil visualização para os motoristas da
BR. A zona educacional (4) foi disposta a sul da zona recreativa, próxima ao aeródromo de
Ceará-Mirim, para facilitar uma já pensada integração com o local.
BR-406
A ideia do percurso neste local foi posteriormente modificada por motivos legais e de
segurança. No primeiro, tem-se a existência da faixa de 15m correspondente a área non
aedificandi em ambos os lados da BR-406 (Lei 6.766/79), reservada para a expansão da via; no
segundo, tem-se o fato de que o aeródromo pode receber aviões de grande porte em casos de
177
emergência, não segundo seguro permanecer nas imediações da via nestas situações. O percurso
foi levado então para o interior das zonas recreativa e de educacional, ainda como transição
entre as duas. As margens da BR ganharam outra finalidade: a implementação de bosques
acústicos, que serão melhor explicados no item que trata da proposta final.
Para conectar os dois lados da BR, foi proposta uma passarela mirante ligando a zona
recreativa, no lado oeste, à zona cultural, no lado leste (Figura 88). Dessa forma, o usuário não
precisaria sair de uma área do parque para cruzar a BR em direção à outra (embora pudesse
fazê-lo, se preferisse, já que os acessos propostos para ambas as áreas ficam próximos) e ainda
teria uma visão privilegiada do bosque e dos fragmentos vegetais do parque, mais a sul da BR.
Quanto aos acessos, foram adicionados mais três acessos à rua Jurandir Carvalho, no
Planalto: dois exclusivos para pedestres com acesso para a zona recreativa e um para
automóveis com acesso direto à zona educacional e ao aeródromo. Esses acessos apareceram
para que os moradores do Planalto pudessem ter acesso ao bosque por diferentes pontos do
bairro, já que o bosque se estende por cerca de 500m ao longo da Jurandir Carvalho. A figura
XX apresenta um croqui da disposição escolhida para os equipamentos do parque, bem como
os principais eixos de passeio que serviram de base para o desenho dos caminhos do local.
Figura 92. Croquis digitais demonstrando a evolução dos passeios do Setor Recreativo.
VISADA 01
VISADA 02
181
Visada 01
Visada 02
Essas ações serão inicialmente comentadas para que só então seja apresentada a
proposta final do bosque propriamente dito.
182
12 22
2 2
1
Reestruturação da Pista
Urbanização da Luís L. Varela
(10.2)
de Cooper (10.1)
42
2
1 da Mata
Bosque Boca
(10.4)
Integração com o
aeródromo (10.3)
32
2
0 50 100 150m
Fonte. Produzido pelo autor (2020).
183
A pista pode ser dividia em dois trechos de acordo com a sua inserção no meio urbano:
o primeiro trecho tem início no Hospital Percílio Alves e estende-se por 530m no sentido
sudeste ao longo da Av. Luís Lopes Varela. Este trecho encontra-se numa região
completamente edificada, onde é possível encontrar uma diversidade de usos ao longo da pista,
com ênfase nos de comércio e serviço (como já mencionado nos capítulos anteriores, a Av. Luís
Lopes Varela concentra uma grande quantidade de edifícios deste tipo, pois é uma via de grande
fluxo).
O segundo trecho inicia-se onde o primeiro termina e estende por mais 420 metros a
sudeste, margeado pelos campos degradados que compõem o Parque Boca da Mata, culminando
no acesso ao bosque pela Luís L. Varela. É uma área sem tecido urbano edificado e, portanto,
não apresenta as mesmas dinâmicas e vitalidade que são encontradas no primeiro trecho. Por
causa disso, este trecho acaba sendo subutilizado pelos usuários da pista pois passa uma
sensação de vazio e de insegurança, principalmente no fim da tarde, quando começa a escurecer.
Observações realizadas no local revelaram que uma parcela considerável dos usuários prefere
percorrer apenas o primeiro trecho, indo até a margem do tecido edificado e voltando pelo
mesmo caminho, evitando seguir o restante da pista.
Além disto, foram percebidos alguns outros problemas no espaço da pista que
prejudicam sua plena e confortável utilização:
• O local não possui mobiliário urbano adequado para dar suporte às atividades ali
realizadas;
• Não há distinção e nem sinalização vertical ou horizontal adequada para as atividades
de ciclismo (ciclofaixa);
• Falta sombreamento arbóreo ao longo da pista, o que dificulta sua utilização fora dos
horários acima mencionados;
184
Visto isso, decidiu-se propor uma reestruturação da pista de cooper com o objetivo de
oferecer mais conforto ao usuário e tornar o espaço ainda mais atrativo à população.
Considerando também que a pista concentra o principal fluxo de pedestres da Luís L. Varela e
dá acesso ao parque por esta mesma via, a reestruturação do local é também positiva ao bosque
uma vez que alimenta uma potencialidade percebida em seu entorno. A intervenção gira em
torno de proposições paisagísticas, de mobiliário e de redimensionamento do segundo trecho
do local, visando aproximar o local da ideia de corredor verde.
O paisagismo proposto para a pista de Cooper difere do utilizado para o parque por ser
direcionado a uma área de via urbana e que, por isso, necessita de alguns cuidados especiais
quanto ao porte e ao tipo da vegetação, para que não interfiram em elementos como calçadas,
encanamentos ou fiações elétricas. Para nortear a escolha das espécies, observou-se algumas
diretrizes presentes no Manual de Arborização de Natal (2009), como dimensão das árvores,
espaçamento entre espécies e tamanho de canteiros adequados.
Segundo o IBF (Instituto Brasileiro de Florestas), vegetação nativa é aquela que “é natural,
originária da região em que vive, ou seja, que cresce dentro dos seus limites naturais incluindo
a sua área potencial de dispersão” (IBF, 2006). Dito isso, a seleção priorizou a implementação
de espécies nativas do clima tropical e subtropical do tipo arbórea, com copas frondosas que
pudessem oferecer sombreamento ao longo do caminho, com raízes profundas e também com
apelo estético, através da coloração de flores e/ou folhas. As espécies escolhidas serão
implementadas em ambos os lados da pista, nos canteiros gramados que a separam das vias de
185
fluxo automobilístico. A intenção é criar dois “muros” vegetais ao longo do percurso, formando
um corredor verde que focalize a atenção do usuário para a extensão do caminho à sua frente.
Esses muros, no entanto, deverão diferir em questão de porte. Ao lado oeste da pista, no
canteiro adjacente à Av. Luís Lopes Varela, serão utilizadas apenas árvores de pequeno/médio
porte (entre 5 e 10 metros de altura), enquanto ao lado leste, no canteiro oposto, serão utilizadas
árvores de médio ou grande porte, preferencialmente (acima de 10 metros de altura). A decisão
foi assim tomada pois ao longo do canteiro da Luís Lopes Varela encontram-se os postes de
fiação elétrica, que possuem cerca de 9m de altura. Dessa forma, restringindo o porte das
árvores locadas deste lado, evita-se o conflito entre fios e galhos e a consequente necessidade
de podas agressivas.
É importante ressaltar que em alguns trechos da pista já existe vegetação (em grande
parte são pequenos coqueiros, cujas copas não oferecem sombreamento), bem como forração
do tipo grama, que serão mantidas. Nos quadros abaixo (Quadro 04 e 05) encontram-se as
sugestões de espécies-modelo para serem utilizadas no paisagismo da pista de Cooper.
Quadro 10. Espécies sugeridas para o canteiro oeste, próximo a fiação elétrica.
As escolhas acima também prezaram pela variedade visual entre espécies, como no
modelo do caule, das copas e da floração. Esta última que foi pensada para ocorrer em diferentes
épocas do ano, dependendo da árvore, a fim de conferir diferentes colorações ao entorno da
pista de cooper dependendo de qual árvore (ou árvores) estejam florindo.
Para a adequada construção dos muros arbóreos, as espécies devem ser locadas ao longo
de toda a pista de cooper, respeitando os intervalos aconselhados para o plantio. Segundo o
Manual de Arborização (2009), entre árvores de pequeno porte, aconselha-se um
distanciamento entre árvores de 5m, para médio porte, 8m e para grande porte, 12m.
Quanto ao mobiliário a ser implementado, optou-se por suprir a pista de Cooper apenas
dos mobiliários mais indispensáveis ao conforto do usuário. Dentre esses mobiliários estão:
bancos, lixeiras, (novos) postes de iluminação e a Estação de Apoio ao Atleta (EAA), que será
mais à frente apresentada.
187
Fonte. Archiexpo.com
Acesso em novembro de 2020
Fonte. postesdecorativos.com.br
Fonte. Acervo do autor. (2020)
Acesso em novembro de 2020
O segundo trecho da pista, que admite maior intervenção por causa de seu entorno não
edificado, será completamente redimensionado para comportar os fluxos de pedestres e de
bicicletas de madeira ideal. Os canteiros laterais serão ampliados, bem como a faixa de
circulação, que dedicará uma porção para a implementação da ciclofaixa de duplo sentido, com
paginação e sinalização adequada. (Prancha 02)
Com base no que foi exposto, essa reestruturação tem como objetivo potencializar os
atrativos da pista de cooper, tornando sua utilização mais confortável e segura para os usuários
em diferentes horários do dia. As Figuras 101 e 102 apresentam, sob um mesmo ponto de
observação, um “antes e depois” da pista de acordo com a proposta. (Ver Prancha 02)
Como já mencionado neste trabalho, a Av. Luís Lopes Varela é uma das principais vias
do munícipio, cortando-o de sul a norte e ligando a BR-406 com a RN-307. Por ser uma via de
intenso fluxo, tanto de carros como de pedestres, as quadras que se estabeleceram ao longo de
sua extensão apresentam um caráter bem voltado para o setor comercial, de serviço e
institucional. (Mapa 06)
Apesar de seu potencial, a urbanização em torno desta via não se expandiu no sentido
leste devido ao perímetro dos canaviais da CAVCM, que permaneceram em atividade até o
começo dos anos 2000. A porção leste do trecho inicial dessa via, no entanto, foi sequer
urbanizada. Como trecho inicial entende-se a fração da via compreendida entre o seu
cruzamento com a BR-406, a sul, e o seu cruzamento com a Rua João Fonseca Neto, a norte
(esta é a mesma fração que corresponde ao trecho 02 da pista de cooper, discutido no
subcapítulo anterior).
Esta porção está inserida dentro do espectro de áreas degradadas do parque, que foram
inseridas dentro do seu perímetro através da Lei 1.884/19, a qual ampliou área da UC com o
intuito de criar uma zona de amortecimento (SOARES E CARVALHO, 2013). Na figura 101
é possível perceber a dimensão dessas áreas ao longo do trecho 02 da pista de cooper.
191
A proposta visa a implantação de quatro novas quadras e cinco novas vias neste trecho
(quatro paralelas à Luís L. Varela e uma perpendicular conectando as quatro primeiras),
conferindo maior diversidade de usos ao local, mais urbanidade e potencializando os fluxos de
automóveis e pedestres entorno do bosque. A intervenção possui uma área de 5,7 hectares, com
143 novos lotes idealizados inicialmente com as dimensões 10mx20m, mas que podem ser
agrupados de acordo com a necessidade do equipamento a ser implementado. A figura 103
mostra um esquema da disposição das novas quadras e vias dentro da área de intervenção.
192
As quadras 01 e 04, por estarem Figura 104: Corte esquemático das novas vias.
em contato direto com o fluxo
privilegiado da Luís L. Varela, serão
destinadas a implementação de
equipamentos de comércio, serviço ou
uso misto, de forma que se tenha um
fluxo de pessoas e atividades no local
durante o dia, enquanto as 02 e 03
podem ser estendidas ao uso
institucional. As novas vias foram
projetadas para oferecer circulações de
duplo sentido e baias de
estacionamento aos veículos (o que
não ausenta os edifícios de fornecerem
às suas próprias vagas previstas em lei)
e calçadas confortáveis aos pedestres Fonte. Produzido pelo autor (2020)
(Figura 104).
193
Segundo o art. 26º do PDCM, faz-se necessária a arborização destas vias, que deve ser
feita com as espécies propostas para a pista de cooper, no intuito de se criar uma unidade visual
entre as áreas.
Os lotes das novas quadras devem, ainda, pertencer ao poder público e ser entregues ao
direito privado através da cessão de uso, visto que, segundo a lei do SNUC, fica proibida a
existência de propriedade privada dentro do perímetro de um parque. Segundo o Plano Diretor
de Ceará-Mirim, a utilização dos territórios de ZPA IV (caso do PBM) é sim, possível, para
fins de urbanização desde que:
Compreende-se que, dentre as três intervenções propostas para o entorno do BBM, esta
é a mais complicada do ponto de vista ambiental, visto que sua implementação dependeria de
estudos mais profundos da área e de documentos que ainda não foram elaborados pela gestão
municipal, como o Plano de Manejo da unidade. No entanto, a partir do que já foi exposto, vê-
se que a proposição desta intervenção é legalmente viável e benéfica ao bosque e à cidade,
sendo, portanto, válida. (Ver Prancha 01)
194
Durante a entrevista, Marinho afirmou que apesar de ser um edifício utilizado por
instituições do direito privado, seu acesso é público (o que não é sabido por grande parte da
população), sendo permitido o livre acesso para passear pelo local e conhecer os aeromodelos.
Ele afirmou ainda que o aeródromo já teve convênio com a prefeitura municipal durante a
primeira década dos anos 2000, através do qual recebiam investimentos para manutenção do
local e realização de atividades (inclusive direcionadas ao público, como voos recreativos e
contemplativos), mas que após a cessão do convênio, o uso do local ficou mais restrito às
instituições que o mantém.
Quanto à possibilidade de integração com o parque, Marinho acredita ser, sim, viável,
visto que o local ainda possui a estrutura necessária para oferecer atividades de voos à
196
população interessada e desde que haja a devida parceria com a administração pública do
município. A lei 1.884/19
Dito isto, optou-se por integrar a área do aeródromo ao BBM, oferecendo uma opção de
lazer diferenciado ao usuário: o voo. A atribuição de um uso público ao aeródromo também
ajuda na justificativa da sua permanência na área do parque, visto que segundo a Lei do SNUC,
áreas particulares dentro dos limites de um Parque Nacional (categoria do PBM) devem ser
desapropriadas. O equipamento também já atende às normas previstas pela Lei Municipal
1.884/19 no que tange seu gabarito (máximo de 8m) e seu uso (não produtor de ruídos, odores,
gases ou rejeitos nocivos à vida ambiental), facilitando sua adequação ao novo contexto
legislativo que rege as terras onde está locado.
Setor de pesquisa
(10.4.2)
Setor de recreação
(10.4.3)
Setor educacional
(10.4.4)
0 40 80 120m
O acesso está localizado ao fim da pista de cooper, funcionando como uma espécie de
arremate pra ela. A ciclofaixa deste setor também se conecta com a ciclofaixa proposta para a
pista, permitindo que o ciclista possa continuar o circuito dentro do parque ao cruzar a
bilheteria. A ciclofaixa, assim como os passeios, foi pensada para ser orgânica e para permitir
o acesso aos principais equipamento. Ao entrar neste setor, o pedestre se depara com um átrio
multiuso e, a partir dele, segue seu caminho dentro local. Os átrios multiuso foram pensados
para serem espaços amplos e pavimentados, dotados de robustez, que podem ser utilizados para
múltiplos fins (jogos, apresentações, feiras, etc). Cada setor conta com um átrio multiuso.
Figura 111. Um dos passeios principais do setor (ao fundo vê-se a cobertura do pavilhão).
O mirante oferece uma vista para os antigos campos canavieiros. O usuário pode acessá-
lo de duas formas: pela rampa em uma extremidade ou pela parede de escalada na outra. O
anfiteatro foi locado num ponto de considerável declividade topográfica, a fim utilizar o
desnível para a instalação das arquibancadas. (Figura 112)
200
mirante (02)
Pavilhão (01)
Anfiteatro (03)
3)
01
02
201
03
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)
Este setor conta ainda com áreas menores de uso ativo e passivo, como um playground
infantil, áreas de convivência e quiosques (que podem ser cedidos pela gestão municipal às
pessoas de interesse particular para venda de lanches, por exemplo). As áreas de uso passivo
foram posicionadas ao longo das circulações e sempre nas proximidades dos equipamentos de
uso ativo, de forma a contornar o problema visto nas praças da cidade (onde as zonas de uso
passivo, se muito reclusas, acabam sendo abandonas/subutilizadas). Essa lógica de distribuição
de áreas passivas foi adotada em todos os setores.
Deste setor, o usuário pode se deslocar diretamente para o Setor de Pesquisa (mais a sul)
e para o Setor de Recreação e Esporte, do outro lado da BR-406. O cruzamento da BR acontece
através de uma passarela-mirante em estrutura metálica, da qual é possível ter uma visão
panorâmica do parque e dos fragmentos de Mata Atlântica a sul do local. O acesso à passarela
é completamente rampeado e segue à inclinação de 0,833% (NBR 9050/20), promovendo uma
202
subida tranquila para cadeirantes e para ciclistas que desejam cruzar os setores. No Setor
Cultura e Eventos a passarela encontra-se anexada ao núcleo de apoio (Figura 113), enquanto
no Setor Recreação e Esportes ela encontra-se na área do lago. A circulação da passarela possui
2,40m de largura e 80m de extensão. A passarela está elevada a 6m de altura, permitindo que
os veículos transitem sem problemas pela BR, e é completamente vedada por telas metálicas, a
fim de proteger o usuário sem comprometer a vista.
Este é o menor setor do Bosque Boca da Mata. O local encontra-se a sul do Setor Cultura
e Eventos e a transição entre eles acontece ao longo de uma via automobilística acessada apenas
por pessoal autorizado (no caso de veículos, já que os pedestres podem visitar o setor se
seguirem a pé por esta mesma via). Neste setor concentram-se os principais equipamentos de
pesquisa ambiental. (Ver Prancha 05)
O estacionamento do local conta com 14 vagas para carros (devendo ser uma destinada
a idosos e uma a cadeirantes) e 2 vagas para ônibus. Optou-se por afastar este setor do restante
do parque por três motivos:
Por isso foram idealizados os boques, para garantir a segurança do perímetro a ser
reflorestado e dos estudos nele realizados. O BBM conta com um bosque de restauração no
Setor Cultura e Eventos e um no Setor Educacional, ambos com aproximadamente 10.000m² e
cada um com sua Estação de Pesquisa própria, através da qual se tem o acesso ao interior dos
bosques.
As áreas de uso passivo foram distribuídas ao longo das circulações secundárias e nas
proximidades das áreas ativas, assim como no setor cultural.
Além dos habituais quiosques, este setor conta também com dois espaços para
restaurantes localizados próximos à sua entrada principal. Visto que o Planalto carece de
equipamentos deste tipo, eles foram assim posicionados para ficarem próximos ao CEEP
(instituição de ensino vizinha ao bosque, ver no mapa 21) e atrair a atenção de estudantes e
professores que procurem um local para fazer alguma refeição durante o dia.
Este conecta-se com o Setor Educacional, a sul, o qual será tratado no item seguinte.
• O Percurso Histórico-Ambiental;
• O Complexo Administrativo/Educacional;
• O Aeródromo de Ceará-Mirim (que embora não possua fins educacionais como
os demais, ficou neste setor pela sua proximidade).
¹ A flor conhecida como “Cabelo-de-Índio” é uma espécie nativa do Cerrado que floresce após queimadas. A escultura
dessa flor no BBM visa simbolizar o florescer de uma nova história nessa área já tão agredida pelo fogo.
209
O aeródromo, por sua vez, manteve a estrutura base do hangar, mas recebeu um deck
contemplativo e um “Museu da Aviação” em suas imediações, onde os usuários do parque
podem ir para observar os voos e conhecer mais da história do aeródromo.
Apesar do aeródromo estar sendo considerado parte integrante do BBM, optou-se por
delimitar e cercar a área do local, de forma que seja possível controlar o acesso e impedir os
usuários de se aproximarem da pista de pouso por motivos de segurança. Essa decisão foi
tomada pois, mesmo sendo um equipamento que oferece atividades de lazer, o aeródromo ainda
é uma instituição de interesse particular que também realiza atividades não relacionadas ao
Boca da Mata. Dito isso, definiu-se dois pontos de acesso ao seu perímetro: um ligando-o ao
Setor Educacional (Figura 121, acesso 01) e um ligando ao Setor Recreativo (Figura 21, acesso
02), ambos destinados à pedestres. Esses acessos ocorrem através de portões que podem ser
fechados de acordo com a necessidade do aeródromo.
02
01
ambas as intenções, optou-se pela utilização do saibro, ou terra batida. Os mobiliários destes
caminhos devem ser de madeira e/ou de ferro e a iluminação será feita por postes balizadores,
muito comuns em jardins. (Figura 122)
O BBM apresenta ainda vias Figura 124: Isometria modelo das vias automobilísticas.
voltadas para o fluxo automobilístico
(bem como os estacionamentos) no
interior do bosque devem possuir
sentido duplo e ser executadas em
paralelepípedo e terão 5m de largura
para suporte o duplo sentido de
veículos. Estas vias devem contar com
pelo menos uma calçada lateral de
1,50m, com fins de circulação apenas.
Fonte. Produzido pelo autor. (2020)
A proposta paisagística para o Bosque Boca da Mata tem viés vegetal e arquitetônico,
uma vez que a paisagem é composta pela presença de elementos de ambas as naturezas (Abbud,
2006). A seguir serão apresentadas as justificativas e decisões tomadas para estas duas esferas
do paisagismo.
As espécies aqui agrupadas consistem em árvores de médio e grande porte com estética
simples e copa frondosa, que serão utilizadas para preencher a extensão espacial do bosque com
o verde vegetal e para preencher a paisagem no “plano-parede” das áreas onde o destaque se dá
sobre outro elemento, como nos casos dos edifícios arquitetônicos e das áreas de uso ativo. No
primeiro caso, têm-se a intenção de que as cores e materiais do elemento edificado se
sobressaiam frente ao elemento vegetal; no segundo, tem-se a situação onde o usuário, focado
em sua atividade (seja um jogo esportivo ou uma apresentação artística), não deposita muito de
sua atenção no entorno, logo, em ambos os casos, o apelo estético da vegetação foi um atributo
dispensado. Nessas áreas as árvores serão locadas com maior espaçamento, para que se
evidencie a amplitude do bosque e para que deixe o céu fique visível, marcando a presença do
azul e das nuvens no “plano-teto”. (Figuras 125, 126 e 127)
Esse grupo também será utilizado no contorno da área visitável, definindo um muro
visual e ocultando as vastas áreas degradadas ao redor, e nos bosques acústicos, localizados em
ambos os lados da BR-406. (Quadro 13)
As espécies deste grupo são caracterizadas pelas suas copas floridas, coloridas e de forte
apelo estético. Essas espécies serão utilizadas para dar destaque a determinadas áreas do parque,
criando zonas de cor em meio ao verde predominante. As áreas abraçadas por este grupo serão
as de uso passivo, como bosques de convivência, áreas de piquenique e áreas de quiosques.
Nestas áreas são realizadas atividades mais voltadas ao convívio e à contemplação, tais como
214
passear, brincar, namorar, descansar, e por isso o paisagismo do local deve ser atraente. Ao
longo dessas áreas as espécies devem ser distribuídas mais próximas umas das outras, no intuito
de criar uma atmosfera mais intimista restringindo o campo visual nos planos de parede e de
teto. (Figura 128 e 129)
Dentro deste quadro também foram inseridas algumas espécies frutíferas, no intuito de
atrair pequenos animais a estas zonas, como saguis e aves. Esses bichinhos se beneficiam das
árvores ao mesmo tempo que compõem o panorama visual e sonoro destas áreas. (Quadro 14)
No viés arquitetônico, optou-se por homenagear a paisagem mais industrial das usinas
do munícipio. A principal referência visual utilizada para orientar as decisões do projeto foi o
Parque Fundidora, em Monterrey (México). O local está localizado onde antes funciona uma
empresa metalúrgica e preserva diversos dos edifícios originais, resultando na paisagem vista
na (Figura 130). Também se observou algumas características da Usina São Francisco, em
Ceará-Mirim (Figura 131).
Com base nessas referências foram identificados alguns materiais, linguagens e cores
comuns nesses cenários tais como:
Estes materiais foram, então, utilizados dentro do projeto para a proposição das
volumetrias dos equipamentos e revestimentos utilizados. (Prancha 06)
Embora não tenha alcançado a fase de projeto dos equipamentos, este trabalho realizou
o pré-dimensionamento dos espaços existentes a fim de compreender suas dimensões dentro da
área de implantação e chegar o mais próximo possível da escala real de intervenção.
Este trabalho buscou propor um projeto de área visitável para a UC Parque Boca da
Mata, em Ceará-Mirim/RN, alinhando-o com as necessidades do povo e com o contexto urbano
e ambiental encontrado no local. Como pode ser visto através do produto final e das
metodologias utilizadas ao longo do processo de construção do trabalho, o mesmo atingiu seus
objetivos (geral e específicos).
Foi possível perceber, através dos estudos realizados, que a cidade de Ceará-Mirim
apresenta potencial (e necessidade) para a implementação de um parque urbano, visto que o
município ainda não dispõe de um espaço semelhante e, graças ao processo de rápida expansão
dos conjuntos habitacionais, tem originado tecidos urbanos carentes de áreas verdes. Através
da metodologia consultiva aplicada, foi possível também ter noção dos anseios e expectativas
daqueles que serão os usuários do local, os quais se mostraram receptivos à ideia de um espaço
deste tipo, considerando-o como de grande importância para a cidade e para o meio-ambiente.
O contato com a população auxiliou ainda na aproximação entre as necessidades do ceará-
mirinense e o programa de equipamentos proposto para o local, o que permitiu que o projeto
fugisse da genericidade e fosse mais direcionado aos diferentes tipos de demanda das pessoas
e das instituições do município como um todo. Além de atender estas demandas, o projeto
buscou também entregar espaços de educação, de pesquisa, de valorização histórica, de
construção de memórias e de preservação ambiental.
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