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1. Introdução
Este estudo tem como objetivo realizar um diagnóstico dos Municípios que firmaram
termo de adesão para realizar a gestão das praias marítimas com a Secretaria de
Coordenação e Governança do Patrimônio da União (SPU) – que, a partir de 2023, passou
a ser vinculada ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI). A
Confederação Nacional de Municípios (CNM) elaborou um levantamento no ano de 2019 e
neste Estudo Técnico atualiza os governos municipais que realizaram a adesão até o mês
de março de 2023. A finalidade é monitorar e identificar os fatores sociais e econômicos que
influenciam a adesão voluntária dos governos municipais. Em um segundo momento, a
entidade procurou estabelecer a correlação com os Municípios vinculados ao Mapa do
Turismo Brasileiro, que também passou por atualizações entre o período de 2019 a março
de 2023.
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Os dados que viabilizaram este estudo foram obtidos por meio do levantamento
disponibilizado no site da SPU, considerando a data de 3 de março de 20231, em que os
Municípios solicitaram por meio da assinatura do termo de adesão a municipalização da
gestão das praias marítimas.
O Estudo Técnico foi dividido em cinco partes: a) na primeira foram apresentados os
dispositivos legais que viabilizaram a municipalização das praias marítimas urbanas e
rurais; b) na seção seguinte foi apresentado um diagnóstico da municipalização das praias
marítimas no Brasil, identificando a quantidade de Municípios de forma regionalizada que já
municipalizaram a gestão das praias marítimas; c) na terceira é apresentado um panorama
da situação pós municipalização de alguns Municípios, a partir de contato da CNM com os
gestores; d) na quarta são apresentadas as conexões da municipalização das praias
marítimas com o Mapa do Turismo Brasileiro e, por fim, e) são analisados os benefícios e
as responsabilidades da gestão e os desafios enfrentados pelas municipalidades.
A aprovação da Lei 13.240, de 2015, e suas atualizações, por meio da Lei 13.813, de
2019, autorizou a União a transferir aos Municípios a gestão de orlas e praias marítimas,
estuarinas, lacustres e fluviais federais, inclusive as áreas de bens de uso comum com
exploração econômica, tais como calçadões, praças e parques públicos.
Com essa aprovação, a Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da
União (SPU), vinculada atualmente ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços
Públicos (MGI), publicou no Diário Oficial da União a Portaria 113, de 12 de julho de 2017,
que regulamenta, por meio do Termo de Adesão à Gestão de Praias (TAGP), a ser
assinado pelo Município solicitante e pela SPU, e estabelece regras e critérios para que a
União promova a transferência das praias marítimas urbanas aos Municípios. Vale destacar
que a transferência apenas ocorrerá se o Município proceder à solicitação voluntária para a
SPU.
1 A SPU atualiza periodicamente o status dos municípios. Os dados desse estudo foram extraídos em 03/03/2023.
Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/patrimonio-da-uniao/arquivos-anteriores-privados/tagp-e-
normativos/tagp-e-normativos.
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No ano de 2019, com a publicação da Portaria 44, a Secretaria de Patrimônio da
União ampliou a aplicabilidade da Portaria 113/2017 e do Termo de Adesão, incluindo a
possibilidade de transferência de gestão da União para os Municípios também das praias
marítimas não-urbanas.
Quanto à transferência da gestão das outras tipologias previstas na Lei nº 13.240
citadas (orlas e praias estuarinas, lacustres e fluviais federais, áreas de bens de uso comum
com exploração econômica, tais como os calçadões, as praças e os parques públicos), até
2023 não tiveram a respectiva regulamentação para possibilitar essa ampliação. A CNM
destaca que a regulamentação das outras tipologias terá uma abrangência territorial maior,
estimada em mais de 2 mil Municípios elegíveis. Todavia, ainda que a municipalização
dessas tipologias não esteja regulamentada, atualmente sua destinação pode ocorrer
mediante cessão e permissão de uso juntamente com a SPU.
Acrescenta-se também áreas que não podem ser passíveis de municipalização, ou
seja, excessões à elegibilidade da política, listadas na Lei 13.240/2015:
I - os corpos d’água;
II - as áreas consideradas essenciais para a estratégia de defesa nacional;
III - as áreas reservadas à utilização de órgãos e entidades federais;
IV - as áreas destinadas à exploração de serviço público de competência da União;
V - as áreas situadas em unidades de conservação federais.
A entidade explica que a regulamentação do art. 14 da Lei 13.240, de 2015, por meio
das portarias, possibilita o aprimoramento da gestão dos espaços litorâneos, ensejando
uma melhoria continuada, orientada para o uso racional e a qualificação urbanística e
ambiental desses territórios, bem como um aprimoramento do ordenamento urbano e
ambiental das praias integrado às atividades turísticas e aos serviços.
A municipalização versa sobre as responsabilidades de o Ente municipal promover o
uso e a ocupação adequados das praias, assegurar o livre acesso, fortalecer medidas de
proteção ambiental integradas ao uso e ao ordenamento das praias e estabelecer
procedimentos administrativos e judiciais para realizar a fiscalização, incluindo a aplicação
de sanções e multas.
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Com a municipalização segundo a pasta governamental, o Ente local apresentaria a
vantagem de aprimorar as ações de ordenamento por meio dos normativos urbanísticos e
ambientais locais para melhor destinar cessões e permissões de usos nesses espaços.
Importante destacar que a municipalização das praias não transfere o domínio ao Ente
municipal; essas áreas continuam pertencendo à União com as responsabilidades
imputadas, porém, a gestão passa a ser realizada pelo Ente municipal.
Com a regulamentação da lei, 295 Municípios estão enquadrados nas normas para a
promoção da gestão das praias marítimas pelo Ente local. A elegibilidade desses 295
Municípios envolve critérios da SPU, dentre eles ser defrontantes com o mar.
Mesmo com a elegibilidade, a municipalização requer a adesão voluntária pelo Ente
municipal por meio de assinatura do Termo de Adesão. Levantamento aponta que apenas
um conjunto de Municípios elegíveis manifestou formalmente o interesse em promover a
gestão das praias marítimas. A entidade destaca que uma parcela de Municípios que
manifestaram o interesse ainda aguarda análise e parecer da SPU até o momento de
elaboração deste estudo, a serem detalhados a seguir.
A região Nordeste possui a maior quantidade dos elegíveis, com 164, que
corresponde a 55% dos 295. O Estado da Bahia (BA) se destaca na região por apresentar a
maior quantidade de Municípios, isto é, 37 Municípios elegíveis para promover a gestão das
praias. Já a região Sudeste representa 19%, o que equivale a 57 Municípios, na qual o
Estado do Rio de Janeiro (RJ) apresenta 27 dos elegíveis para a municipalização. Na
sequência, a região Sul apresenta o percentual de 17%, equivalente a 52 Municípios. O
Estado de Santa Catarina (SC) se destaca com 30 Municípios, seguido do Estado do Rio
Grande do Sul (RS), com 16 Municípios com elegibilidade. A região Norte apresenta 7% dos
elegíveis, o que equivale a 22 Municípios. Nessa região, o Estado do Pará apresenta a
maior quantitade de Municípios elegíveis, isto é, 17.
Considerando a abrangência dos 295 Municípios elegíveis a municipalizar as praias
marítimas, 145 (quase 50%) requereram a municipalização, considerando dados de março
de 2023. Este mapeamento da CNM revela um aumento de aproximadamente 18% nos
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Municípios em comparação com o diagnóstico anterior elaborado pela instituição, no ano de
2019, que apontava 94 solicitantes à municipalização (32% dos elegíveis). Dos 145 que
solicitaram atualmente, a região Nordeste lidera, com 71, seguida da Sudeste, com 37,
conforme Quadro 1.
Após a solicitação, existe uma tramitação interna da SPU, com prazo para o aceite
ou não da municipalização que podem variar de acordo com a complexidade e
especificidades do caso, seja por dificuldade de delimitação técnica da área a ser
municipalizada, ou por entraves de judicialização ou regularização nessas terras, entre
outros, podendo passar por um processo mais moroso.
Importante ressaltar que o indeferimento ou a revogação da solicitação pode ocorrer
em contextos de descumprimento das obrigações e exigências da União, por exemplo,
quando o Município não se enquadra por motivos de sensibilidade ambiental ou parte da
área integra Unidades de Conservação. Também, a municipalização pode ser revogada ou
cancelada por solicitação direta do próprio Ente municipal, mediante notificação à SPU com
o mínimo de 180 dias de antecedência, gerando a reversão automática da área à União,
cumprindo os atos e procedimentos previstos em portaria.
Quando o termo de adesão é aprovado pela SPU, com a publicação no Diário Oficial
da União, o Município passa a ter que cumprir algumas obrigações para garantir seus
direitos em promover a gestão, que serão descritas na seção 6 do estudo.
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Considerando o mapeamento do período de março de 2023, 32 Municípios aguardam
a análise da solicitação do requerimento (vide Quadro 2), com destaque para o Estado do
Rio de Janeiro, que tem 9 Municípios aguardando essa análise.
Em relação a pedidos indeferidos até março de 2023, são 19 Municípios que estão
nessa situação, sendo que 16 estão localizados na região Nordeste.
Quanto aos Municípios que tiveram seus requerimentos aprovados, ou seja, já estão
com as praias municipalizadas, houve um aumento de 23 em relação ao levantamento de
2019, totalizando 81 Municípios já liberados para realizar a gestão das praias marítimas,
divididos por região no Gráfico 1.
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Gráfico 1 – Quantidade de Municípios já liberados para a gestão de praias, por região
Quantidade de Municípios
35
31 26
30
25
24
20
15
10
5
0
0
Nordeste Sul Sudeste Norte
Região
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3.2 Municipalização na região Nordeste
Vale destacar que na região Nordeste a equipe técnica responsável por essa gestão
está alocada em sua maioria nas secretarias de urbanismo, turismo, infraestrutura e meio
ambiente. Isso demonstra que o tema é transversal e a municipalização tem sido promovida
por diferentes órgãos setoriais nos Municípios.
Na região Sul, 52 Municípios são aptos a solicitar a gestão das praias marítimas, nos
quais 32 iniciaram o processo junto à SPU, 26 Municípios já promovem a gestão local na
região, 5 pedidos ainda estão em análise técnica e consta 1 com indeferimento. O Estado
de Santa Catarina apresenta 12 Municípios que realizam a gestão local das praias, sendo o
maior número no país. O Estado do Rio Grande do Sul ocupa a segunda posição, junto com
Espírito Santo, com 11 Municípios, e Paraná, com 3.
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Quadro 6 – Situação do processo de municipalização até março de 2023, região Sul
Municípios
Região Situação
Solicitantes
Deferido 26
Em análise técnica 5
Sul
Indeferido 1
Total 32
Fonte: Elaboração CNM. Secretaria de Patrimônio da União.
A região Sudeste ocupa a segunda posição com 57 Municípios aptos para solicitar a
gestão das praias marítimas. Desse total, 37 fizeram a solicitação da gestão das praias,
sendo que 24 já foram aceitos a promover a gestão local. Na região, o Estado de São Paulo
lidera com 10 Municípios que já realizam a gestão das praias, seguido do Espírito Santo
com 11 e o Estado do Rio de Janeiro com 3 já com as praias municipalizadas. Dos que
estão aguardando análise na região Sudeste, 9 são no Rio de Janeiro e 1 em São Paulo.
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pasta federal e monitoramento após a adesão, para identificar dificuldades e melhor
posicionar políticas e programas de apoio ao fortalecimento da gestão das praias e também
identificar os desafios locais, a fim de promover o aperfeiçoamento contínuo da política.
A CNM destaca que em 2017 os primeiros Municípios receberam a aprovação para a
gestão de praias, o que significa que em 2023 já contam com o aval da União há seis anos,
totalizando 30 Municípios. Portanto, em um primeiro momento a entidade buscou contato
com Municípios aprovados nos primeiros anos da regulamentação da lei, por indicar uma
maior experiência. Além disso, foram contatados Municípios de regiões e portes diferentes,
turísticos e não turísticos, mapeando as principais dificuldades e desafios nas diferentes
realidades municipais. Adicionalmente, procurou identificar as possibilidades e potenciais de
estruturação de taxas que podem vir a incidir no aumento de arrecadação municipal e
melhorias na gestão das orlas. Considerando as manifestações das equipes municipais, a
entidade indentificou preliminarmente desafios e oportunidades referentes a elaboração do
Plano de Gestão Inegrada (PGI) e possibilidades de ampliação de receitas municipais.
2
A SPU disponibiliza um manual de elaboração do PGI, com o detalhamento das etapas, que pode ser
acessado em: https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/patrimonio-da-uniao/destinacao-de-imoveis/gestao-
de-praias/manual-do-projeto-orla_abril-de-2022.pdf.
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instituída, a SPU estadual poderá acompanhar, além da comissão nacional para apoiar
quanto às diretrizes federais. Com a primeira consolidação do produto, o mesmo deve ser
disponibilizado para consulta pública para receber contribuições, e ao serem ou não
incorporadas, alcançar a versão final a ser levada a audiência pública para apresentação do
documento, que servirá de base para as ações futuras e adaptação dos outros normativos
municipais para as áreas em questão.
Essas especificidades, mobilização de pessoal e estrutura mínima necessárias, que
são importantes para o processo de planejamento, foram apontados como um desafio, por
dificuldade de aderência, organização e mobilização dos membros do comitê, também
podendo ser por falta de recursos e equipe especializada para elaborar as etapas ou para
contratação de consultorias, por exemplo. Também como desafios à elaboração desse
instrumento foi possível identificar processos desintegrados relacionados à comunicação
entre secretarias municipais, gerando morosidade na efetivação das diretrizes. Quanto a
essa questão, pode-se exemplificar que é comum a delegação conjunta das decisões entre
secretarias de Planejamento/Licenciamento Urbano, Turismo e Meio ambiente, para a
construção, concepção e formulação das diretrizes relacionadas à ocupação da orla.
Alguns dos Municípios contatados pela CNM optaram por contratar, com recursos
próprios, consultoria para apoio na elaboração do plano, o que não retira a exigência da
instalação da coordenação municipal e do comitê para apoio e acompanhamento. Foi
relatada também a possibilidade de apoio à elaboração do PGI por meio de universidades,
como é o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que, com o apoio do
Ministério do Turismo e outros órgãos, lançou em 2021 projeto que selecionou 10
Municípios turísticos para elaborar todo o processo do projeto Orla, em conjunto com as
prefeituras, além de outras ações de valorização do turismo local, com cronograma de
ações nos selecionados previstas para até o fim de 2023.
Com a consolidação do PGI, é importante manter a mobilização do comitê gestor e
demais interessados, para que as diretrizes pactuadas sejam implementadas com
monitoramento de maneira participativa e inclusiva e com previsão de revisão do
instrumento em prazo pactuado no próprio PGI do Município – a SPU sugere que esse
prazo não seja superior a 5 anos, mas condiciona-se às alterações do espaço e dinâmicas
ao longo dos anos para demandar uma revisão. Além disso, é essencial compatibilizar a
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agenda das ações previstas aos recursos disponíveis no Município e aos normativos
municipais, tornando possíveis as ações.
Importante ressaltar que 68% dos Municípios deferidos até março de 2023 têm
menos de 100 mil habitantes, ou seja, no geral os que têm menos recursos e capacidade
técnica para fazer essa gerência, o que pode potencializar os desafios.
Todo esse processo e desafios relacionados ao PGI podem ser comparados aos ritos
de elaboração da política urbana como um todo, desde os códigos de obras e edificações,
processos de licenciamento, parcelamento do solo, leis de uso e ocupação até o próprio
Plano Diretor Municipal, pelo seu equivalente caráter participativo e multidisciplinar, que vai
de encontro a múltiplas questões durante o processo, como discordância entre diferentes
interessados no espaço, graus variados de ocupações informais que envolvem dimensões
sociais específicas e consequentemente conflitos em proporções diversas. Portanto, a
entidade reforça a importância de uma análise das demandas, fragilidades e das legislações
municipais como um todo, compatibilizando-as, resultando em normativos que sejam
factíveis e impulsionadores do desenvolvimento urbano integrado e sustentável, e para que
a entrada nessa iniciativa à municipalização das praias seja positiva ao Município e seus
cidadãos.
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diversos, casamentos, instalação de cabos subterrâneos, colocação de material publicitário
etc, reafirmando o potencial da política no âmbito municipal.
Portanto, este pode se mostrar um importante instrumento para o Município, se
houver uma gerência eficiente dessas cobranças, taxas e fiscalização, e é importante
esclarecer que assim que a adesão do Município é confirmada pela SPU, ou seja, a
municipalização da gestão é autorizada, o ente já passa a ter a competência de instituir
novas cobranças ou taxas, de acordo com normativos municipais, além de poder contratar e
executar obras necessárias à implementação de infraestrutura urbana, turística ou de
interesse social, mesmo sem o PGI aprovado, pois este só é obrigatório após os três anos
de assinatura do termo.
Porém, como mais um desafio foi relatada dificuldade nessa etapa, por falta de
referência para a cobrança e regulamentação dos instrumentos, como a Cessão (onerosa
ou gratuita) e a Permissão de Uso, a primeira englobando atividades com fins econômicos
(barracas, quiosques, publicidade etc), observando procedimentos licitatórios cabíveis (Lei
9.636, de 1998), e a segunda referente a eventos de curta duração, de natureza recreativa,
esportiva, cultural, religiosa ou educacional (Lei 9.636, de 1998 e Decreto 3.725, de 2001),
ou seja, desafio para organizar a regulamentação desse leque de possibilidades para a
diversificação dos usos pela população e aumento de receitas para o Município.
Apesar das liberações descritas a partir da municipalização, a entidade alerta que de
acordo com a cláusula 8 do Termo de Adesão, o Município deve observar que obras que
promovam alterações permanentes na área municipalizada requerem a aprovação prévia da
SPU, ou seja, é importante que a gestão municipal observe esses pontos para identificar os
limites da autonomia e os casos que impliquem em consulta formal à Superintendência da
União no Estado, antes de realizar tais alterações.
Apesar das dificuldades relatadas, existem alguns Municípios que, de acordo com
relatos, de fato têm avançado nessa implantação e veem de forma positiva a
municipalização, por terem conseguido instituir taxas que viabilizaram o aumento de receita
por meio do uso e ocupação oneroso da orla, por exemplo, por meio dos quiosques,
barracas, eventos, e instalação de peças publicitárias etc. Essa verba, no geral, pode, por
exemplo, compor fundos municipais destinados ao investimento em desenvolvimento e
manutenção da orla, ou turismo no geral.
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Outros Municípios que já gerenciam suas orlas, apesar de não terem ainda
aumentado a arrecadação, relataram que a municipalização das praias possibilitou a
realização de projetos de revitalização do espaço, que além de atrativo para negócios e
turismo, pode aumentar a qualidade de vivência e uso do espaço, segurança para a
população, instalação de mobiliário, além de possibilitar aumento da acessibilidade
universal.
A CNM, assim como os gestores consultados de modo geral, entendem como
importante a adesão voluntária e os avanços dos Entes municipais em promover a
municipalização. Todavia, para que os Municípios possam fomentar e obter melhores
resultados conforme apontados pelos próprios gestores, que estão diariamente atuando
com a gestão das praias, é importante o fortalecimento de apoio técnico e financeiro para o
reforço dos quadros municipais para efetivar a realização desse arcabouço normativo na
prática, envolvendo iniciativas e diálogos intergovernamentais, gerando melhorias para a
população. Importante ressaltar que aos Municípios que não optarem pela municipalização
da gestão, ou seja, não assinarem o termo junto a SPU, ficam mantidas as competências de
aprovação de eventos, exigência dos alvarás municipais etc, mas a cobrança pelo uso do
espaço comparado a uma locação é da União, que por meio da SPU deve ser informada
dessa demanda de uso pelo Município.
Criado no ano de 2004, o Mapa do Turismo Brasileiro foi instituído pelo Ministério do
Turismo pela Portaria MTur 313, de 3 de dezembro de 2013, e se encontra na sua décima
versão, definida e chancelada pela Portaria/Mtur 197, de 14 de setembro de 2017. O Mapa
é uma das estratégias previstas no Programa de Regionalização do Turismo (PRT) e tem o
intuito de orientar as ações, o desenvolvimento de políticas e o recorte territorial que deve
ser trabalhado no âmbito do Ministério do Turismo. É um instrumento de ordenamento e
auxilia tanto o governo federal quanto os Estados no desenvolvimento das políticas públicas
para o turismo e orienta a atuação do Ministério do Turismo, tendo como foco a gestão, a
estruturação e a promoção do turismo de forma regionalizada e descentralizada.
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Em 2015, o Ministério do Turismo, por meio da Portaria 144, categorizou os
Municípios das regiões turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro, com o intuito de identificar
o desempenho da economia do setor nos Municípios mapeados. Esse instrumento, previsto
como uma estratégia de implementação do Programa de Regionalização do Turismo,
agrupou os Municípios em cinco categorias para facilitar a criação de políticas públicas e
investimentos. As categorias foram nominadas de “A” a “E”, sendo os Municípios com
categoria “A” os mais preparados e com produtos turísticos mais desenvolvidos, e os
Municípios com categoria “E” os que mais necessitam de investimentos e estruturação da
atividade.
A versão do Mapa do Turismo acessado em abril do ano de 2023 contava com
16683 Municípios categorizados, divididos em 342 regiões turísticas. Os critérios atendidos
pelos Municípios que compõem o Mapa foram definidos pelos órgãos estaduais de turismo
em conjunto com as instâncias de governança regional e o Ministério do Turismo.
A estratégia foi consolidada no Plano Nacional de Turismo 2018-2022. O Plano é o
instrumento que estabelece diretrizes e estratégias para a implementação da Política
Nacional de Turismo da qual o Mapa faz parte. O objetivo principal desse documento é
ordenar as ações do setor público, orientando o esforço do Estado e a utilização dos
recursos públicos para o desenvolvimento do turismo.
O PNT foi elaborado de forma coletiva, com o apoio das áreas técnicas do Ministério
do Turismo, Embratur e agentes públicos e privados, por meio da Câmara Temática do
Plano Nacional de Turismo, constituída dentro do Conselho Nacional de Turismo, da qual a
CNM faz parte. Esse documento espelha os anseios do setor e do cidadão que consome
turismo. Neste contexto, o conjunto de medidas propostas neste documento contribui para
consolidar o turismo como um eixo estratégico efetivo de desenvolvimento econômico do
país.
A área de Turismo da CNM, explica que a partir de 2023 a atualização do Mapa
deixou de ser exigida a cada dois anos e sua atualização pode ser realizada a qualquer
momento, considerando o cumprimento das obrigações, critérios, orientações,
3Os Municípios turísticos categorizados são atualizados periodicamente e a última versão atualizada pode ser
consultada em página do Ministério do Turismo: https://www.mapa.turismo.gov.br/mapa/init.html#/home. O
quantitativo utilizado nesse estudo é referente ao mês de abril de 2023.
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compromissos e os procedimentos regulamentados pelo Ministério do Turismo (BRASIL,
2023).
[...] o Brasil passou a ocupar o 32º lugar num total de 141 países. O país perdeu a 1ª
colocação no pilar de recursos naturais para o México, passando a ocupar a 2ª
posição no ranking global. Considerando os indicadores que compõem o pilar de
recursos naturais, o Brasil continua tendo a melhor performance no que se refere a
variedade de espécies conhecidas. 4
O órgão global de turismo [WTTC] prevê que o setor de turismo aumentará sua
contribuição para o PIB em US$ 15,5 trilhões até 2033, representando 11,6% da
economia global, e empregará 430 milhões de pessoas em todo o mundo, com
quase 12% da população empregada no setor.(BRASIL, 2023) 5
De acordo com dados do ‘World Travel & Tourism Council’ (WTTC), em 2022, o setor
de turismo apresentou uma alta de 22% comparado ao ano de 2021, atingindo US$ 7,7
trilhões de contribuição para o PIB dos países. Essa recuperação representou 7,6% da
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economia global em 2022, maior contribuição desde 2019, embora seu PIB global ainda
estivesse 22,9% atrás do pico de 2019 (WTTC, 2023).6
Além de Municípios turísticos, o Mapa prevê que, ainda que um Município não receba
o turista em seu território, ele pode ser beneficiado pelo turismo em sua região ou mesmo
fazer parte da rede de atendimento ao turista. Assim, nem todos os 1668 Municípios do
Mapa do Turismo Brasileiro são de fato turísticos. Alguns estão lá por se beneficiar da
atividade mesmo sem receber o turista. Outros poderão cooperar com o desenvolvimento
regional por meio de sua produção artesanal, agroindustrial ou têxtil, e essa produção pode
ser escoada nos Municípios vizinhos que recebem o turista, por exemplo.
As áreas técnicas de Planejamento Territorial e Turismo da entidade realizaram uma
intersecção dos Municípios que integram o Mapa do Turismo e os Municípios que estão
promovendo a gestão local de praias urbanas. Considerando os 295 Municípios que
possuem praias marítimas urbanas, 195 estão vinculados ao Mapa do Turismo. Já sobre
aqueles 145 que de fato solicitaram a municipalização da gestão das praias, 111 fazem
parte do Mapa do Turismo, distribuídos por região e categoria turística na Quadro 9.
Fazendo o recorte dos 81 Municípios que já estão fazendo a gestão, ou seja, aqueles
que já tiveram seus processos deferidos, 66 estão incluídos no Mapa do Turismo. Destes,
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Disponível em: https://wttc.org/research/economic-impact. Acesso em: 25 ago. 2023.
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30 Municípios estão na região Nordeste, 17 na região Sudeste e 19 na região Sul, divididos
por categoria turística no Quadro 10, e também separados por Estado no Quadro 11.
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Das 5 categorias turísticas, a que lidera é a “B”, com 24 dos 66 Municípios, e em
segundo a “A”, com 17 (Quadros 10 e 11). Na região Norte, como detalhado, ainda não há
nenhum Município deferido, porém um dos dois Municípios da região que estão aguardando
análise está no Mapa do Turismo.
Sendo as categorias “A” e “B” as com o maior número de Municípios, pode-se
perbecer que os Municípios mais preparados e com produtos turísticos mais desenvolvidos
avançaram mais na gestão de praias, uma vez que o segmento “sol” é um importante vetor
para a economia local.
Segundo o estudo da WTTC (2023), observa-se a considerável recuperação da
capacidade do setor de turismo em gerar empregos. No ano de 2022, foram criados 21,6
milhões de novos empregos, atingindo mais de 295 milhões, o que representa um em cada
11 vagas de empregos criadas no mundo.7
Em relação ao turismo doméstico, podemos destacar sua relevância para a
reativação da atividade no Brasil. Mesmo que não tenhamos ainda atingido os níveis de pré-
pandemia, a intenção de viagem vem aumentando consideravelmente, conforme transcrição
a seguir:
7
Disponível em: https://wttc.org/research/economic-impact. Acesso em: 25 ago. 2023.
8
Disponível em: https://www.panrotas.com.br/mercado/economia-e-politica/2023/06/servicos-seguem-
sustentando-crescimento-economico-diz-cnc_197484.html. Acesso em:30 ago. 2023. Disponível em:
http://turismo.gov.br. Acesso em: 25 ago. 2023.
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arrecadação municipal. Além disso, os Municípios poderão cobrar o aluguel de praias para
eventos e shows. O que pode certamente fomentar o turismo nos Municípios.
Mas isso é uma via de mão dupla. É preciso planejar para que a estruturação da
oferta e a construção de novos equipamentos turísticos não gere impactos negativos ao
meio ambiente, principalmente em razão da capacidade de carga de cada atrativo. Além
disso, deve-se considerar os riscos de degradação ambiental e os problemas ocasionados
pelo excesso de barracas, quiosques e outras construções que possam restringir o acesso
à praia. São importantes a ordenação e a fiscalização dos espaços, além dos usos da faixa
de praia, respeitando-se as características de cada uma delas.
É essencial a integração das áreas de exploração das atividades econômicas – por
exemplo, turismo – e os serviços correlatos com os usos e a ocupação do solo. As praias
são bens públicos de uso comum da população, portanto, o livre acesso a elas e ao mar,
em qualquer direção ou sentido, é assegurado por lei, com exceção dos espaços
considerados de segurança nacional e as áreas protegidas.
A partir do momento em que o Município é responsável pela gestão, compete a ele
também a fiscalização das praias. Dessa forma, caberá integrar as ações de turismo e
serviços com o planejamento urbano de forma a impedir a urbanização das praias e suas
areias de forma a dificultar ou mesmo restringir o acesso da população ou provocar danos
ambientais.
Para novos projetos de loteamentos, é fundamental verificar a tipologia dos usos de
solo para a instalação de equipamentos turísticos ou mesmo de maneira a assegurar o
acesso da população às praias, não sendo permitida a privatização destas.
Já nas situações de loteamentos, dos grandes complexos turísticos, casas de
veraneios, condomínios ou empreendimentos à beira mar, sem acesso à praia, é obrigação
do Município, com órgãos que tratam da política urbana e ambiental, definir as áreas de
passagem. Assim, caberá ao Município notificar o proprietário para as adequações.
Já em relação à disposição ou mesmo aluguel de mesas, cadeiras, guarda-sóis nas
areias, estes devem ser dispostos conforme a demanda; portanto, é ilegal a reserva de
locais ou restrição de acesso.
No que se refere à instalação de quiosque de praia/barraca, é permitida – em
conformidade com as diretrizes urbanas e ambientais e de forma específica no projeto Orla
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– sua instalação ou adequação de metragem, desde que seguindo as normas locais e
desde que ocorram nos chamados calçadões. Vale ressaltar que a instalação de quiosques
ou mesmo regularização – aqui entendidas como construções permanentes nas areias das
praias – é vedada. De acordo com a SPU, todas essas questões passam a ser obrigação do
Município e, quando não executadas, o Município está sujeito a multa ou mesmo à rescisão
do Termo por inadimplemento de cláusulas. A ocupação das áreas em desconformidade
com a lei tem provocado o cumprimento de Termo de Ajuste de Conduta.
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outras ações publicitárias deverão constar em legislação própria ou serem pactuadas no
âmbito do Plano de Gestão Integrada do Projeto Orla.
Já em relação à fiscalização com a municipalização, o Município tem competência
para aplicar sanções e multas. No que se referem aos recursos provindos da fiscalização, a
SPU esclarece que:
[...] o art. 14 da Lei nº 13.240, de 2015 não falou na destinação dos recursos,
todavia, como aquele dispositivo traz um regramento específico sobre os recursos
auferidos (o direito dos Municípios sobre a totalidade das receitas auferidas com as
utilizações autorizadas), se a intenção fosse de restringir a destinação dos recursos
ele o teria feito expressamente. (BRASIL, 2015)
Em linhas gerais, os recursos advindos de multas deverão ser aplicados nas áreas
objeto do presente termo, ou seja, nas praias urbanas municipalizadas, conforme as
legislações que incidem sobre o tema. Com relação aos recursos advindos das utilizações
autorizadas, caberá ao Município a definição de onde aplicar, ou seja, nesse caso não há
uma vinculação na destinação dessas receitas. A entidade sinaliza que existem Municípios
que optaram por destinar para fundos ou secretarias locais de turismo, planejamento urbano
ou meio ambiente, ao passo que outros têm aplicado em diversas áreas. É importante que o
gestor tenha clareza da origem dos recursos para que possam aplicar em conformidade
com a Lei 13.240, de 2015, evitando a destinação do recurso em desconformidade com a
lei.
A CNM chama atenção do gestor para as obrigações e as responsabilidades no que
diz respeito às responsabilidades imputadas aos Municípios quanto ao uso, ordenamento e
gestão das praias urbanas, bem como obrigações de adequação da legislação urbanística
local, elaboração de plano de ordenamento da orla e fiscalização. O gestor local deve
avaliar a capacidade de atendimento das responsabilidades e realizar uma avaliação antes
de firmar assinatura do Termo de Adesão, avaliando o corpo técnico, o diagnóstico de
planejamento, a gestão dos recursos humanos e financeiros para a realização da
fiscalização e da infraestrutura física.
Considerando os relatos das experiências e desafios apontados pelas administrações
locais, a CNM reforça a importância do fortalecimento dos diálogos e trocas de experiências
intergovernamentais, capacitando e gerando melhorias para a população.
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Área Técnica de Planejamento Territorial e Área Técnica deTurismo / CNM
Habitação / CNM
E-mail: turismo@cnm.org.br
E-mail: habitacao@cnm.org.br
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