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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC

Curso de Arquitetura e Urbanismo

ESCOLA DE MÚSICA E DANÇA

GAMA – DF
2020
LAÍS LANE DE FARIAS DIAS

ESCOLA DE MÚSICA E DANÇA

Monografia apresentada como requisito


para conclusão do curso de Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário do
Planalto Central Apparecido dos Santos –
UNICEPLAC.

Orientadora: Profa. Me. Nicole Carneiro


Ferrer Santos

GAMA – DF
2020
D541e

Dias, Laís Lane de Farias.


Escola de música e dança. / Laís Lane de Farias Dias. –
2020.

67 p. il : color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Centro


Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos -
UNICEPLAC, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Gama-DF,
2020.
Orientação: Profa. Me. Nicole Carneiro Ferrer Santos.

1. Espaço arquitetônico. 2. Conforto acústico. 3.


Vulnerabilidade juvenil. I. Título.

CDU: 72
LAÍS LANE DE FARIAS DIAS

ESCOLA DE MÚSICA E DANÇA

Monografia apresentada como requisito


para conclusão do curso de Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário do
Planalto Central Apparecido dos Santos –
UNICEPLAC.

Gama, 08 de dezembro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Profa. Me. Nicole Carneiro Ferrer Santos
Orientadora

________________________________________
Prof. Octávio dos Santos Sousa
Examinador

________________________________________
Prof. Ricardo Luiz Targino
Examinador
AGRADECIMENTOS

A Deus, sempre, por ter me conduzido a fazer as melhores escolhas, que


influenciaram diretamente na disposição e no tempo dedicados a este trabalho.
Aos professores, todos eles, que apresentaram as muitas facetas da
arquitetura, através da forma singular de lesionar de cada um, pela a animação que
mostravam nas matérias ministradas, deixando os projetos, que pareciam monótonos
a princípio, cheios de significado, e pelas ótimas indicações de livros.
Ao coordenador deste curso, pelos melhores conselhos, e porque graças a
um de seus e-mails, pude ter conhecimento do evento de arquitetura que mudou
completamente a minha visão sobre o papel do arquiteto e urbanista na sociedade.
Aos meus colegas/amigos de curso por todas risadas, ajuda nos trabalhos,
conversas, e as aventuras proporcionadas em todas as visitas técnicas que fazíamos.
Aos meus familiares e amigos do colégio que me diziam por vezes:
“Arquitetura é a tua cara, Laís”, ou “Você sempre gostou, né? De fazer essas coisas
pequenininhas1”, e especialmente a minha prima arquiteta, que sempre que podia me
contava das experiências que tinha na profissão.
Agradeço também aos funcionários da biblioteca, pela paciência e disposição
no atendimento. Talvez alguns não tenham se dado conta de como seu trabalho é
fundamental.

1 Minha irmã mais nova se referindo às maquetes.


RESUMO

O presente trabalho trata-se de um projeto arquitetônico de um edifício de uso escolar,


destinado para o ensino da música e da dança com ênfase na funcionalidade espacial
e no conforto acústico dos ambientes. Para tal, os procedimentos metodológicos
utilizados foram os de pesquisas teóricas e bibliográficas, comprovadas
cientificamente em sua maioria, e pesquisas empíricas que se deram através de
análises de tipologias arquitetônicas com características desejáveis. No que se refere
as estratégias construtivas apresentadas nesta leitura, as normas técnicas e
legislações são as que respaldam e solidificam essas escolhas. O trabalho também
traz à tona o índice de vulnerabilidade juvenil no DF, e como o contato de crianças e
adolescentes com essas artes modifica e melhora esse quadro. Portanto, é nessa
linha de raciocínio que os estudos socioeconômicos e históricos do local confirmam a
relevância do projeto, que enfoca não só no contexto educacional e seus benefícios,
como também no contexto cultural que será vivenciado e aprendido dentro da
edificação.

Palavras-chave: Escola de Música e Dança; Espaço Arquitetônico; Conforto


Acústico; Vulnerabilidade juvenil.
RESUMEM

El presente trabajo es un proyecto arquitectónico de un edificio de uso escolar,


destinado a la enseñanza de música y danza con énfasis en la funcionalidad espacial
y en el confort acústico de ambientes. Para este fin, los procedimientos metodológicos
utilizados fueron los de investigaciones teóricas y bibliográficas, en su mayoría
científicamente comprobadas, e investigaciones empíricas que se dieron mediante el
análisis de tipologías arquitectónicas con características deseables. Con respecto a
las estrategias constructivas presentadas en esta lectura, las normas técnicas y las
legislaciones son las que respaldan y solidifican estas elecciones. El trabajo también
destaca el índice de vulnerabilidad juvenil en el Distrito Federal, y cómo el contacto de
niños y adolescentes con estas artes modifica y mejora esta situación. Por lo tanto, es
en esta línea de razonamiento que los estudios socioeconómicos e históricos del lugar
confirman la relevancia del proyecto, que no se centra solo en el contexto educativo y
sus beneficios, sino también en el contexto cultural que será experimentado y
aprendido dentro de la edificación.

Palabras clave: Escuela de Música y Danza; Espacio arquitectónico; Confort


acústico; Vulnerabilidad juvenil.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Distribuição não uniforme do som em superfície côncava ........................ 17


Figura 2 - Uso de elementos difusores sobre superfície côncava ............................. 17
Figura 3 - Uso de elementos difusores em paredes paralelas .................................. 17
Figura 4 - Mapas do Japão........................................................................................ 20
Figura 5 - Localização da Escola de Música Tohogakuen ........................................ 21
Figura 6 - Reformulação do edifício .......................................................................... 21
Figura 7 - Corte perspectivado da Escola de Música Tohogakuen ........................... 22
Figura 8 - Primeiro andar da Escola de Música Tohogakuen .................................... 22
Figura 9 - Salas parcialmente envidraçadas ............................................................. 23
Figura 10 - Térreo da Escola de Música Tohogakuen ............................................... 23
Figura 11 - Subsolo da Escola de Música Tohogakuen ............................................ 24
Figura 12 - Modelo 3D ............................................................................................... 25
Figura 13 - Fachada lateral da Escola de Música Tohogakuen................................. 25
Figura 14 - Sala de aula ............................................................................................ 26
Figura 15 - Mapas da Austrália ................................................................................. 27
Figura 16 - Localização do Centro de Música Victor McMahon ................................ 27
Figura 17 - Planta de localização .............................................................................. 28
Figura 18 - Térreo do Centro de Música Victor McMahon ......................................... 29
Figura 19 - Sala de ensaio em conjunto .................................................................... 29
Figura 20 - Acesso público por rampa ....................................................................... 30
Figura 21 - Primeiro andar do Centro de Música Victor McMahon ............................ 30
Figura 22 - Fachada Sul do Centro de Música Victor McMahon ............................... 31
Figura 23 - Fachada Norte do Centro de Música Victor McMahon............................ 31
Figura 24 - Interior do Centro de Música Victor McMahon ........................................ 32
Figura 25 - Interior - Galeria ...................................................................................... 33
Figura 26 - Grafismo..................................................................................................33
Figura 27 - Advence Australia Fair ............................................................................ 33
Figura 28 - Mosaico decorativo de São Kevin ........................................................... 34
Figura 29 - Mapas da Alemanha ............................................................................... 35
Figura 30 - Localização da Casa Ballet am Rhein..................................................... 35
Figura 31 - Entrada do edifício .................................................................................. 36
Figura 32 - Térreo da Casa Ballet am Rhein ............................................................. 36
Figura 33 - Primeiro andar da Casa Ballet am Rhein ................................................ 37
Figura 34 - Segundo andar da Casa Ballet am Rhein ............................................... 37
Figura 35 - Terceiro andar da Casa Ballet am Rhein ................................................ 37
Figura 36 - Corte AA ................................................................................................. 38
Figura 37 - Sala de Ensaio com plateia ..................................................................... 38
Figura 38 - Sala de Ensaio comum ........................................................................... 38
Figura 39 - Fachada lateral da Casa Ballet am Rhein ............................................... 39
Figura 40 - Interior da Casa Ballet am Rhein ............................................................ 40
Figura 41 - Índice de Vulnerabilidade Juvenil no Distrito Federal.............................. 41
Figura 42 - Escolas de música e de dança em Ceilândia .......................................... 42
Figura 43 - Mapa de Ceilândia .................................................................................. 43
Figura 44 - Distribuição da frequência escolar por faixa etária em Ceilândia ............ 45
Figura 45 - Distribuição onde a escola em que estudam está situada ...................... 45
Figura 46 - Localização do terreno em Ceilândia ...................................................... 46
Figura 47 - Mapa viário - Ceilândia ........................................................................... 47
Figura 48 - Circunvizinhança do lote ......................................................................... 47
Figura 49 - Topografia do lote ................................................................................... 48
Figura 50 - Vista lateral direita do lote ....................................................................... 48
Figura 51 - Vista lateral esquerda do lote....................................................................50
Figura 52 - Vista da avenida na frente do lote ........................................................... 49
Figura 53 - Condicionantes climáticas.........................................................................50
Figura 54 - Fluxograma...............................................................................................54
Figura 55 - Setorização...............................................................................................54
Figura 56 - Descrição da parede.................................................................................55
Figura 57 - Máscara Solar...........................................................................................56
Figura 58 - Volumetria.................................................................................................57
Figura 59 - Resultado..................................................................................................57
Figura 60 - Planta do Subsolo.....................................................................................58
Figura 61 - Planta do Térreo/Implantação...................................................................58
Figura 62 - Planta do 1º Pavimento.............................................................................59
Figura 63 - Planta do 2º Pavimento.............................................................................60
Figura 64 - Sala de aula prática - Teclado...................................................................60
Figura 65 - Planta do 3º Pavimento.............................................................................61
Figura 66 - Jardim com espelho d'água no térreo.......................................................62
Figura 67 - Terraço no 2º Pavimento...........................................................................62
Figura 68 - Espaço descampado atualmente..............................................................63
Figura 69 - Praça de Apresentações...........................................................................63
LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Coeficiente de absorção acústica de alguns materiais...............................18


Tabela 2 - População por faixa etária de Ceilândia.....................................................44
Tabela 3 - Programa de necessidades da Escola de Música e Dança.........................52
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................................................. 5
RESUMO..................................................................................................................... 6
RESUMEM .................................................................................................................. 7
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 8
LISTA DE TABELA ............................................................................................................................... 11
SUMÁRIO ................................................................................................................. 12
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 14
2. PANORAMA TEÓRICO ........................................................................................ 16
2.1. Qual a importância da música e da dança na aprendizagem? ................................................... 16
2.2. Que relevância tem as formas e os materiais na construção de uma Escola de Música e Dança?
........................................................................................................................................................... 16
3. ESTUDOS DE CASO ............................................................................................ 20
3.1. Escola de Música Tohogakuen: .................................................................................................. 20
3.2 Centro de Música Victor McMahon: ........................................................................................... 26
3.3 Ballet am Rhein: .......................................................................................................................... 34
4. ÁREA DE INTERVENÇÃO .................................................................................. 41
4.1. Histórico de Ceilândia – RA IX: ................................................................................................... 42
4.2. Dados demográficos:.................................................................................................................. 44
4.3. O Sítio ......................................................................................................................................... 46
5. O Projeto .............................................................................................................. 51
5.1. Programa de Necessidades ........................................................................................................ 51
5.2. Fluxograma e Setorização .......................................................................................................... 53
5.3. Análise Bioclimática.................................................................................................................... 55
5.4. Conceito e Partido ...................................................................................................................... 56
5.5. Pavimentos ................................................................................................................................. 57
5.6. Paisagismo .................................................................................................................................. 61
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 64
REFERÊNCIAS: ....................................................................................................... 65
13

INTRODUÇÃO

Entre as principais formas de arte, encontram-se a música e a dança, sendo


as mais antigas e representativas artes cênicas2 da humanidade. As duas surgem no
período paleolítico e mesolítico, sendo utilizadas primordialmente em rituais religiosos
e festividades, exercendo também um papel militar em algumas sociedades. Acredita-
se que desde que o homem existe ele dança, visto que o primeiro documento que
apresenta um ser humano dançando tem 14.000 anos, e os primeiros instrumentos
musicais cerca de 40.000 anos (BRIOSCHI, 2003; MEIRA, 2009).
O ensino dessas artes dependia do contexto cultural em que estavam
inseridas, ocorrendo de maneira informal, passando de pais para filhos ou mediante a
contratação de mestres pelas famílias abastadas. Embora sejam práticas antigas, o
ensino musical através de escolas especializadas, como ocorre hoje, e um
significativo desenvolvimento na construção de instrumentos musicais, data de
meados do século XVIII na Europa, vindo difundir-se posteriormente para o mundo.
Apesar de estarem sendo construídas há alguns séculos, as escolas de
música e/ou dança nem sempre dispõem de um ambiente apropriado para o ensino.
Isso se dá principalmente em regiões menos desenvolvidas, que se preocupam em
ter os equipamentos, mas se esquecem da importância do espaço utilizado. A partir
dessa problemática surge o tema abordado no presente estudo, visando chegar em
soluções reais e efetivas para essa tipologia espacial.
O objetivo geral deste trabalho é projetar um edifício escolar voltado para o
ensino da música e da dança que seja adequado às atividades realizadas. Em razão
disso, os objetivos específicos buscam demonstrar a importância do projeto
arquitetônico, analisar espaços destinados ao ensino dessas artes, avaliar a
efetividade do desempenho acústico em casos específicos e propor um sítio onde a
escola cause um impacto positivo à comunidade, atendendo também ao programa de
necessidades.
O método utilizado inicialmente foi a pesquisa teórica, com o propósito de
analisar os benefícios obtidos através da arquitetura no ensino da música e da dança

2 A arte cênica abrange o estudo e a prática de toda forma de expressão que necessita de uma
representação, como o teatro, a música ou a dança. EQUIPE BRASIL ESCOLA. Arte Cênica. Brasil
Escola. Disponível em:<https://brasilescola.uol.com.br/artes/arte-cenica.htm>. Acesso em: 05 de maio
de 2020.
14

para crianças e adolescentes, mediante o estudo de espaços bem planejados. A


finalidade é encontrar um denominador comum entre os projetos apresentados, por
meio de características individuais que apresentem um bom desempenho.
Para tanto, o trabalho está fundamentado na legislação vigente e em diversas
pesquisas, como a bibliográfica e a científica, que contam com livros de acústica
aplicada a arquitetura, história da arte e periódicos que abordam os benefícios da
educação musical; e como as pesquisas documentais e de levantamentos, através de
entrevistas e questionários que estão diretamente ligados às pesquisas de caráter
quantitativo.
O trabalho está dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo aborda os
motivos que justificam a escolha do tema. O segundo capítulo traz comprovações da
importância do ensino dessas artes e de soluções construtivas específicas para esse
tipo de edificação. Já o terceiro capítulo, descreve três interessantes edifícios pelo
mundo que trazem soluções e ideias para o projeto em questão. O quarto capítulo
trata de alguns dados essenciais sobre a região em que o projeto será locado. O quinto
capítulo apresenta ao leitor as futuras estratégias arquitetônicas e o programa de
necessidades que será desenvolvido. Por fim, o sexto capítulo traz as considerações
finais que encerram o tema.

1. JUSTIFICATIVA

O tema da escola de música e dança surgiu do apreço pessoal da autora por


essas artes, tendo seu primeiro contato com a música ainda na barriga de sua mãe.
Muito além de uma maneira de se expressar, a música gera uma sensibilidade para
quem dela se apropria. Como traz a peça teatral de William Shakespeare3, “[...] O
homem que não tem a música em si e que não se emociona com um concerto de
doces sons é capaz de traições, de estratagemas e de rapinas”.
No contexto mundial, o ensino dessas artes tem gerado um elo entre as
diversas culturas, além de ser uma das formas mais didáticas e simples de se
transmitir as tradições de cada povo. É também através dessas formas de expressão

3
A fala original encontra-se na peça teatral “O Mercador de Veneza”, dita pelo personagem Lorenzo na cena I
do ato V. SHAKESPEARE, William. O Mercador de Veneza. Shakespeare.mit.edu, 2020. Disponível em:
<http://shakespeare.mit.edu/merchant/full.html>. Acesso em: 18 de jun. de 2020.
15

que nascem o respeito e a consideração por aquilo que é diferente, tendo em vista
que é preciso estudar a história de cada ritmo, dança ou instrumento utilizado.
Desse modo, além de uma forma de lazer, a música pode educar as pessoas,
facilitar o aprendizado e transformar ambientes. E é partindo desse pressuposto que
o ensino e, essencialmente, o acesso a ele, tem notória importância, visto que projetos
de escolas de música feitos em lugares carentes, violentos ou por vezes esquecidos
têm gerado resultados positivos à população que deles usufrui. Diversos estudos
foram e continuam sendo feitos sobre os benefícios que a prática e o convívio com as
artes podem trazer ao ser humano, principalmente quando o contato ocorre ainda na
infância.
A exemplo disso, tem-se o projeto Uma Nota Musical que Salva em João
Pessoa-PB, que objetiva livrar crianças e jovens do tráfico através da música, tendo
como sala de aula apenas uma garagem, mas contando com o apoio financeiro da
comunidade e de professores voluntários que enxergam sua importância (UOL, 2017).
Em escala maior, há o projeto EDISCA (Escola de Desenvolvimento e Integração
Social para Criança e Adolescente) em Fortaleza-CE, que tem como missão promover
o desenvolvimento humano de crianças e adolescentes em circunstância de
vulnerabilidade social. Fundada em 1991, a escola soma mais 270 apresentações no
Brasil e no exterior, e conta com professores que foram ex-alunos da instituição,
provando sua relevância para os mesmos (TRIBUNA DO CEARÁ, 2015).
No que tange a arquitetura, a escolha do projeto tem a intenção de ressaltar
a importância da acústica nesse tipo de edificação. Empregando um pouco de atenção
aos sons e ruídos que podem ser ouvidos em cada tipologia arquitetônica, percebe-
se que uma acústica bem aplicada pode mudar a percepção do indivíduo em qualquer
ambiente, seja em um hospital, aeroporto ou, principalmente, em salas de aula de
música e dança, visto que é necessário a boa compreensão dos sons para o
aprendizado e execução das atividades.
16

2. PANORAMA TEÓRICO

2.1. Qual a importância da música e da dança na aprendizagem?

Através de vários estudos ao longo do tempo, a neurociência comprovou os


benefícios que a música e a dança trazem para a aprendizagem do ser humano.
Atividades musicais estimulam a resolução de tarefas espaciais, capacidade de
atenção, operação de categorização e raciocínio. Muito antes desses estudos, na
Grécia, a música já exercia papel fundamental na formação da sociedade, “visto que
entre os gregos a música mantinha vínculos muito íntimos com a medicina, a
astronomia, a religião, a filosofia, a poesia, a métrica, a dança e a pedagogia”
(CORREIA, 2010).
Pesquisas nessa área apontam três condições que tornam a aprendizagem
mais eficiente: a possibilidade de mais entradas de informações para o nosso cérebro,
além das percepções advindas da visão, audição, olfato, paladar e tato; a ativação de
várias áreas do cérebro que funcionam de forma inter-relacionadas, formando
conexões, como entre a audição e o tato, por exemplo; e quando há emoção envolvida
(ESTADÃO, 2018). É nesse contexto que a música e a dança se mostram relevantes,
pois geram a abertura dessas entradas de informações, além de envolver os
indivíduos emocionalmente em suas práticas.
O desenvolvimento analítico e crítico também são trabalhados, pois a dança
e a música permitem a manifestação da singularidade de cada um, da sua forma única
de ver, inventar e pensar, sendo incentivos à criatividade humana. Outro fator
importante desenvolvido é a memorização, que mesmo não se sabendo ao certo o
motivo, pode ampliar através da música a capacidade da memória para textos, por
exemplo (ROCHA; BOGGIO 2013).

2.2. Que relevância tem as formas e os materiais na construção de uma Escola


de Música e Dança?

Quanto às salas de música, a forma das superfícies que compõem os


ambientes deve servir para evitar o desenvolvimento de erros acústicos (Figura 1 e
2), como eco, pontos de intensidade sonora insuficientes e ondas estacionárias. Ao
se projetar estes espaços é possível determinar que as formas das superfícies
17

internas determinem a direção da propagação dos raios sonoros pelo posicionamento


e pelas formas das paredes, tetos e pisos (SOUZA; ALMEIDA; BRAGANÇA, 2016),
conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 1 - Distribuição não uniforme do som em superfície côncava

Fonte: Bê-á-bá da acústica arquitetônica, 2016 (adaptado)

Figura 2 - Uso de elementos difusores sobre superfície côncava

Fonte: Bê-á-bá da acústica arquitetônica, 2016 (adaptado)

Figura 3 - Uso de elementos difusores em paredes paralelas

Fonte: Bê-á-bá da acústica arquitetônica, 2016


18

Em relação aos materiais, todos apresentam capacidade própria de reduzir a


intensidade sonora quando aplicados entre a fonte e o receptor. Possuem também a
capacidade de absorver o som, diferenciando-se, contudo, pelo grau e a maneira com
que o absorvem (Tabela 1). Tudo isso influenciará na reverberação do ambiente,
levando-se em consideração que quanto maior for a quantidade de materiais
absorventes, menor será o tempo de reverberação e, em oposição, quanto menor a
quantidade, maior será esse tempo (SOUZA; ALMEIDA; BRAGANÇA, 2016).

Tabela 1 – Coeficiente de absorção acústica de alguns materiais

Fonte: ABNT, 1992 (adaptado)

A importância de se considerar essas características nos materiais, está em


decorrência dos vários estilos diferentes de música estudados, que contam com
tempos diferentes de reverberação. Outro aspecto importante que deve ser pensado
são as aberturas. Quanto mais próximas as portas forem de cômodos adjacentes, por
exemplo, maior será a influência sonora de um cômodo sobre o outro. E as janelas,
sempre que possível, devem apresentar vedações resilientes para aumentar sua
capacidade de isolamento (SOUZA; ALMEIDA; BRAGANÇA, 2016).
Vale a pena destacar que no Brasil as escolas de música são projetadas como
escolas comuns, sendo relativamente raro encontrar essas salas de aulas com boas
condições acústicas. Como bem traz o livro Acústica de salas projeto e modelagem,
“um estudo de 2012, realizado em Santa Maria-RS, demonstrou que todas as salas
medidas apresentam STI4 inferior a 0.6, o que indica que as salas têm qualidade

4 STI, do inglês Speech Transmission Index, conhecido em português por Índice de Transmissão da
Fala, trata-se de um parâmetro acústico que descreve a inteligibilidade do discurso em um ambiente,
dependendo basicamente do tempo de reverberação e do ruído de fundo. O STI pode variar de 0
(péssima inteligibilidade) a 1 (perfeita inteligibilidade). BRANDÃO, Eric. Acústica de salas projeto e
modelagem. Editora: Blucher, São Paulo, 2016. p. 541
19

acústica apenas aceitável”, isso sem considerar o ruído de fundo (causado por uma
outra fonte sonora, que neste caso, são os alunos), diminuindo ainda mais essa
qualidade (BRANDÃO, 2016, pg. 556).
Já as salas destinadas ao ensino da dança, seja qual for o tipo, precisarão de
piso específico que proporcione conforto e segurança aos dançarinos, possibilitando
um melhor amortecimento para impacto. Uma entrevista feita com o professor
especialista em dança, José Luiz pelo Kerche & Kerche News, exemplifica bem as
características do piso ideal para algumas modalidades de dança
(Kercheekerchenews, 2011):

O piso para aulas de Ballet Clássico [...] é construído a partir de uma treliça
de madeira apoiada sobre coxins de borracha, a treliça é coberta com placas
de compensado, que por sua vez são cobertas com linóleo. Quanto a
flexibilidade, ele não deve ser macio demais, pois muita maciez induz a um
trabalho muscular aumentado, assim como pouca maciez, no caso duro, leva
a ondas de choque por todo o corpo, que com a repetição pode provocar
micro lesões nas articulações.

No caso do sapateado, o ideal seria um piso de madeira mais dura e em


formato tábua corrida, que deve ser colocada também sobre uma base de treliça de
madeira que não leve espuma ou outros materiais isolantes. É necessário
principalmente produzir um som agradável ao toque com o sapato, para propagar o
som sem grande esforço dos sapateadores (Kercheekerchenews, 2011).
20

3. ESTUDOS DE CASO

Para compor os estudos de caso foram escolhidos uma Escola de música, um


Centro de música e uma Casa de ensaios para balé. Embora estejam em continentes
distintos, os projetos mostram sua similaridade no estilo arquitetônico moderno,
através da materialidade e da volumetria de traços retos. O destaque desses edifícios
está na inusitada solução acústica, na inteligente ocupação do terreno e nos espaços
adequados para as atividades, respectivamente.

3.1. Escola de Música Tohogakuen:

A escola de música Tohogakuen está localizada em Chofu, entorno


suburbano de Tóquio – Japão (Figura 4), com área construída de 5.829 m² e 11,3 m
de altura, próxima a comércios, residências, escola, hospital e um parque (Figura 5).
O projeto foi concluído em 2014 pelo escritório Nikken Sekkei com a intenção de criar
um lugar apropriado para aprendizagem da música, com um estilo diferente do visto
em escolas tradicionais.

Figura 4 - Mapas do Japão

Fonte: Publicdomainvectors, 2016 e Google Earth, 2020 (adaptado)


21

Figura 5 - Localização da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Google Earth, 2020 (adaptado)

Esta escola veio para substituir o antigo edifício, que contava com uma
distribuição de salas tradicionais em fila dupla ao longo de um corredor sem luz natural
e com pouca ventilação. Isso tornava os espaços de aprendizado semelhantes aos de
confinamentos solitários. A partir disso, o arquiteto dispôs as salas de forma dinâmica,
com os tamanhos adequados para o estudo de cada instrumento (Figura 6) e criou
poços de iluminação para entrada de luz natural (Figura 7).

Figura 6 - Reformulação do edifício

Fonte: Architecture, [201-]


22

Figura 7 - Corte perspectivado da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Architecture, [201-] (adaptado)

No primeiro andar está localizada a maioria das salas (Figura 8) que se


encontram separadas umas das outras por corredores e por pátios internos,
permitindo que sejam parcialmente envidraçadas sem a perda da qualidade acústica,
visto que a música pode ser ouvida pelos corredores, mas não dentro das salas. Essa
estratégia possibilitou gerar conexões visuais entre os músicos que praticam outros
instrumentos (Figura 9).

Figura 8 - Primeiro andar da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Architecture, [201-] (adaptado)


23

Figura 9 - Salas parcialmente envidraçadas

Fonte: Architecture, [201-]

No térreo (Figura 10), encontram-se as atividades administrativas, salas de


professores e de reuniões, além de um amplo espaço livre, o foyer, que tem vista para
o cemitério adjacente ao edifício, o que não é tido como algo ruim, pois “a morte, tanto
para chineses, japoneses, tibetanos e indianos, influenciados pela cultura budista, é
ocasião de júbilo” (KUBOTA, 2004). O projeto visou valorizar o uso de bicicletas, por
isso conta com um bicicletário ao invés dos comuns estacionamentos.

Figura 10 - Térreo da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Architecture, [201-] (adaptado)


24

No subsolo (Figura 11), encontram-se salas para grupos maiores de pessoas


e para os instrumentos mais barulhentos, como a percussão, que usam o solo para
absorção acústica, além de estar concentrada a maioria das salas de máquinas.

Figura 11 - Subsolo da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Architecture, [201-] (adaptado)

Quanto ao sistema estrutural e construtivo, destaca-se o uso do concreto


aparente e do vidro, além de madeira na parte interna. Como visto anteriormente nas
plantas, os pavimentos não se repetem, por isso, para se chegar à modulação
adequada foi utilizado o modelo BIM em camadas, como mostra a figura 12, onde
pilares foram colocados nas interseções, aproveitando a largura do corredor como um
subsídio de ajuste.
25

Figura 12 - Modelo 3D

Fonte: Architecture, [201-]

O edifício se utiliza do contraste claro e escuro dos materiais para dar o


aspecto sério à instituição que, por sua vez, tem os cheios e vazios como identidade
visual da sua volumetria, além de trazer ritmo às fachadas da escola, conferindo um
certo dinamismo (Figura 13).

Figura 13 - Fachada lateral da Escola de Música Tohogakuen

Fonte: Architecture, [201-]


26

Para garantir a boa qualidade do som, o arquiteto usou esquadrias de alta


performance acústica, e material a prova de vibrações na laje. Já nos ambientes
internos, foi empregado painéis de absorção acústica nos tetos e nas paredes, feitos
de borracha laminada com madeira de diversas larguras, variando de 15 cm a 42 cm,
aprisionando o som nas salas de aula (Figura 14).

Figura 14 - Sala de aula

Fonte: Architecture, [201-]

As principais contribuições dessa Escola de Música para o projeto estão: na


solução incomum de salas parcialmente envidraçadas, que permitem as conexões
visuais, sem perda da qualidade acústica; no cuidado de se fazer as salas com
tamanhos diferentes para cada tipo de atividade e em suas aberturas internas, que
fazem o edifício respirar sem perder a privacidade.

3.2 Centro de Música Victor McMahon:

O Centro de Música Victor McMahon está localizado em Toorak um subúrbio


de Melbourne em Vitória – Austrália (Figura 15), com cerca de 1.000m² de área
construída, está inserido entre residências, tendo a companhia de dança Bellacize, a
estação de trem e o rio Yarra em sua proximidade circundante (Figura 16). Projetado
pelo escritório Baldasso Cortese Architects, o edifício teve sua conclusão em 2014.
27

Figura 15 - Mapas da Austrália

Fonte: Vecteezy, [201-] e Goolge Earth, 2020 (adaptado)

Figura 16 - Localização do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Goolge Earth, 2020 (adaptado)

O projeto se trata de uma expansão no Campus Heyington da Faculdade St


Kevin, visto que o seu Campus Glendalough não comportava mais o Centro de
música, que pedia uma nova instalação para suprir as necessidades do seu programa
de música para estudantes juniores e seniores, e para toda comunidade universitária,
que o utilizava para apresentações. O terreno escolhido para essa expansão é estreito
e íngreme, mas permitiu a criação de dois acessos distintos (Figura 17).
28

Figura 17 - Planta de localização

Fonte: Archdaily, 2015 (adaptado)

No térreo (Figura 18), encontram-se algumas das salas práticas, com seus
respectivos depósitos, a sala audiovisual, a oratória e um grande espaço para recitais
e ensaios em conjunto (Figura 19). Ao observar a planta baixa, percebe-se que a
galeria é o ponto de encontro entre os dois acessos, podendo ser utilizada para
apresentações informais. O projeto mostra-se adequado e acessível às pessoas de
mobilidade reduzida, contendo um elevador e rampas (Figura 20).
29

Figura 18 - Térreo do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Archdaily, 2015 (adaptado)

Figura 19 - Sala de ensaio em conjunto

Fonte: Archdaily, 2015


30

Figura 20 - Acesso público por rampa

Fonte: Archdaily, 2015 (adaptado)

No primeiro andar (Figura 21), tem-se as salas práticas de violino/viola,


instrumento de sopro, clarinete, trompete, instrumentos de metais e piano, além de
um mezanino para ensaios em conjunto, um depósito e a área administrativa,
composta da sala de coordenação e do escritório de música.

Figura 21 - Primeiro andar do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Archdaily, 2015 (adaptada)


31

Os materiais empregados no exterior do edifício constituem uma paleta


robusta de cores sóbrias, que fazem referência ao patrimônio arquitetônico do
Mosteiro de St Kevin, na Irlanda. A fachada sul está revestida com zinco-carvão
(Figura 22) e a fachada norte com cerâmica (Figura 23). As janelas contam com vidros
triplos, que por sua vez, proporcionam melhor desempenho acústico e térmico.

Figura 22 - Fachada Sul do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Archdaily, 2015

Figura 23 - Fachada Norte do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Archdaily, 2015


32

Em contraposição, o interior é convidativo, com paredes brancas e cinzas


vitorianos (Figura 24), e com pisos em carpete e tetos em madeira devidamente
escolhida por sua beleza e propriedades acústicas (Figura 25). Grafismos foram
escolhidos para celebrar a vida de Victor McMahon como mostra a figura 26. "Advance
Australia Fair” foi representado na escadaria para proporcionar um senso de
pertencimento e uma oportunidade de aprender música fora de espaços
especialmente projetados para isso (Figura 27).

Figura 24 - Interior do Centro de Música Victor McMahon

Fonte: Archdaily, 2015


33

Figura 25 - Interior - Galeria

Fonte: Archdaily, 2015

Figura 26 - Grafismo Figura 27 - Advence Australia Fair

Fonte: Archdaily, 2015 Fonte: Bcarch, 2019


34

Para homenagear St. Kevin, foi feito um mosaico dourado e preto, em um


espaço revestido com pedra azulada para criar uma sensação monástica. Duas
pequenas aberturas trazem luz natural, uma delas à oeste proporciona uma luz
ambiente ao longo do dia (Figura 28), enquanto uma fenda na parede junto ao teto
possui um dramático shaft de luz que marca as horas do dia. Este fecho de luz recai
sobre o mosaico decorativo anualmente, na manhã do dia 3 de junho - Dia de São
Kevin.
Figura 28 - Mosaico decorativo de São Kevin

Fonte: Archdaily, 2015

Apreende-se desse Centro de música, a utilização de dois acessos


separados, para que não só os estudantes tivessem acesso, mas que a comunidade
também pudesse usufruir. Além disso, o projeto é cheio de significado no seu interior,
servindo de inspiração e dando a sensação de pertencimento aos alunos. Por fim, há
grande uso de criatividade e beleza na composição entre os materiais acústicos, cores
neutras e a iluminação.

3.3 Ballet am Rhein:

O Ballet am Rhein (Balé do Reno) está localizado em Düsseldorf no estado


da Renânia do Norte-Vestfália – Alemanha (Figura 29), com área construída de 4.500
m² e 12 m de altura, ladeado por residências e uma antiga estação de bonde,
35

encontram-se também comércios e pontos de ônibus em sua proximidade (Figura 30).


Concluído em 2015, o edifício foi projetado pelo escritório GMP Architekten para ser
um local de ensaios para companhia alemã Ballet am Rhein.

Figura 29 - Mapas da Alemanha

Fonte: Stepmap, [201-] e Google Earth, 2020 (adaptado)

Figura 30 - Localização da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Google Earth, 2020 (adaptado)

O projeto foi feito visando atender a nova necessidade da companhia de Ballet


am Rhein, que apesar de ter dois teatros a sua disposição, precisou de um espaço
exclusivo para ensaios. A entrada do edifício (Figura 31) se dá por um vestíbulo com
36

grandes vidros, além de uma cantina anexada, que dão as boas-vindas aos visitantes
com um generoso espaço de acesso, onde as zonas de circulação conduzem a todos
os pavimentos do edifício.

Figura 31 - Entrada do edifício

Fonte: Archdaily, 2016

Como mostram as figuras 32, 33, 34, 35 e 36 o edifício dispõe do seguinte


programa de necessidades: duas grandes salas de ensaio com pé direito duplo no
térreo, sendo uma delas planejada para abrigar uma plateia de 112 pessoas e
equipada com tecnologia de palco (Figura 37), três salas menores no segundo andar,
também com pé direito duplo (Figura 38), vestiários, banheiros, sala de estar, espaço
para fisioterapia, cantina e apartamentos para artistas convidados.

Figura 32 - Térreo da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016 (adaptado)


37

Figura 33 - Primeiro andar da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016 (adaptado)

Figura 34 - Segundo andar da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016 (adaptado)

Figura 35 - Terceiro andar da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016 (adaptado)


38

Figura 36 - Corte AA

Fonte: Archdaily, 2016 (adaptado)

Figura 37 - Sala de Ensaio com plateia

Fonte: Archdaily, 2016

Figura 38 - Sala de Ensaio comum

Fonte: Archdaily, 2016


39

No tocante a sua materialidade, as fachadas são compostas de painéis de


concreto têxtil de face lisa, reforçados com arestas vivas e fibra de carbono, com
espessura de 40 milímetros e sua classificação é SB 4, correspondendo à classe mais
alta de concreto exposto, além de janelas de grande formato e armações de metal
escuro (Figura 39).

Figura 39 - Fachada lateral da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016

A estrutura de suporte consiste em concreto armado. O teto acima das salas


de balé foi projetado com concreto pré-tensionado reforçado uniaxial; em áreas com
grandes vãos, corpos ocos de plástico reciclado são integrados aos tetos. Eles
garantem economia significativa de material e peso sem afetar as propriedades
estáticas do teto de concreto.
No interior, os arquitetos dispensam elementos de design dominantes,
optando por um estilo minimalista. As cores das paredes permeiam entre o branco e
o cinza do próprio concreto aparente (Figura 40), e a luz natural dos ambientes se dá
através de grandes faixas de janelas.
40

Figura 40 - Interior da Casa Ballet am Rhein

Fonte: Archdaily, 2016

Desse último estudo, infere-se para o projeto as grandes e adequadas salas


para dança, que ao utilizar o pé direito duplo, dão mais liberdade para saltos e
acrobacias. O minimalismo dos ambientes internos, permite maior concentração dos
bailarinos aos passos ensaiados, sem que haja distrações em volta; além de um fluxo
bem pensado, que separa as áreas adjacentes das salas de aula. Ademais, conta com
uma sala com plateia, onde podem ser feitas pequenas apresentações intimistas.
41

4. ÁREA DE INTERVENÇÃO

A escolha do sítio teve como base dois fatores importantes. O primeiro vem
do desejo de projetar um ambiente que ajude a tirar crianças e adolescentes de
situações de vulnerabilidade, através do ensino da música e da dança. O segundo
trata-se da carência que a cidade em questão apresenta em ter espaços apropriados
e gratuitos para o aprendizado dessas artes.
Para isso, foi utilizada a pesquisa que analisa o Índice de Vulnerabilidade
Juvenil para a Área Metropolitana de Brasília, realizado em 2015 pela Codeplan com
dados do PDAD 2013. Para tal, foram considerados quatro indicadores: riscos à
evasão escolar, baixa renda, violência e risco a gravidez precoce em adolescentes a
partir de 15 anos. Analisando todas as RAs do DF, a pesquisa traz as regiões
classificadas em níveis de vulnerabilidade que vão de muito baixa a altíssima (Figura
41).

Figura 41 - Índice de Vulnerabilidade Juvenil no Distrito Federal

Fonte: Codeplan.df.gov.br, 2015


42

Partindo desse pressuposto, pôde-se aferir Ceilândia, Recanto das Emas e


Paranoá com um nível altíssimo de vulnerabilidade, por isso, o número de habitantes
foi decisivo para a escolha da região, visando que a escola pudesse atender o maior
número de pessoas. Logo, Ceilândia que é a mais populosa, foi escolhida. Apesar de
oferecer alguns serviços do tipo (Figura 42), não contam com arquitetura adequada,
principalmente no âmbito acústico e espacial, uma vez que a maioria dessas escolas
são na verdade residências que foram “adaptadas” para receber alunos. Além disso,
quase todas as escolas são privadas, o que inviabiliza o acesso para parte da
população.

Figura 42 - Escolas de música e de dança em Ceilândia

Fonte: Google Maps, 2020 (adaptado)

4.1. Histórico de Ceilândia – RA IX:

Inaugurada em 27 de março de 1971, a Região Administrativa de Ceilância


surgiu em virtude de um grande projeto de relocação de pessoas que moravam em
áreas não regulares. Isso se deu por meio da Campanha de Erradicação de Invasões
(CEI), que originou o nome da cidade. Os novos moradores vieram transferidos das
43

ocupações não regulares da Vila Tenório, Vila do IAPI, Vila Esperança, Vila Bernardo
Sayão Colombo e Morro do Querosene (CODEPLAN, 2018, pg. 9).
Em decorrência da chegada constante de migrantes e da criação do Programa
Habitacional da Sociedade de Habitação de Interesse Social – SHIS; em 1976, foi
criada a QNO (Quadra Norte “O”) e, em 1977, o Núcleo Guariroba, situado na
Ceilândia Sul. Surgiram depois os Setores “P” Norte e “P” Sul (1979). Em 1985, foi
expandido o Setor “O”, em 1988 ocorreu o acréscimo do Setor “N”, em 1989, o Setor
“P” Sul e QNQ e em 1992, o Setor “R”. Atulamente, como mostra a figura 43, Ceilândia
está subdividida em diversos setores. O projeto urbanístico foi elaborado pelo
arquiteto Ney Gabriel de Souza, com dois eixos cruzados em ângulo de 90º, formando
a figura de um barril. (CEILANDIA.DF, 2019).

Figura 43 - Mapa de Ceilândia

Fonte: Ceilandia.df.gov.br, [201-]

Localizada a 26 km de Brasília, Ceilândia possui uma área urbana de 29,10


km² e 432.927 habitantes, sendo a cidade mais populosa do DF de acordo com o
PDAD 2018. A cidade é cortada por cinco estações de metrô e tem como rodovia de
ligação do Distrito Federal a DF-459, que permite o acesso à BR-060, via Goiânia-São
Paulo, e liga Ceilândia à Taguatinga e Samambaia (ANUÁRIO DO DF, 2020).
44

4.2. Dados demográficos:

Os dados demográficos que são relevantes para o projeto, e por isso aqui
abordados, são os da faixa etária da população, escolaridade, economia e
infraestrutura urbana de Ceilândia. Para tal, foram utilizados os resultados obtidos de
questionários feitos em domicílio pela PDAD (Pesquisa Distrital por Amostra de
Domicílios) no ano de 2018, que abrangeu quase todos os domicílios da região.
No que tange a faixa etária dos habitantes, é importante observar a quatidade
de pessoas de 10 a 17 anos na RA de Ceilândia, pois trata-se do público alvo deste
projeto. Analisando a tabela 1, calcula-se uma média de 89.580 pessoas na faixa
etária desejada, sendo 20,7% da população total.

Tabela 2 – População por faixa etária de Ceilândia

Fonte: Codeplan.df, 2018 (adaptado)

Sobre a escolaridade, 96,5% dos moradores com cinco anos ou mais de idade
declararam saber ler e escrever. Para as pessoas entre 4 e 24 anos, 55,4%
frequentam a escola. A frequência escolar, por faixa de idades, é apresentada na
Figura 44. Entre aqueles que frequentavam a escola, 82,2% estudavam na RA
45

Ceilândia (Figura 45) e o principal meio de transporte declarado foi a pé para 51% dos
respondentes.

Figura 44 - Distribuição da frequência escolar por faixa etária em Ceilândia

Fonte: Codeplan.df, 2018

Figura 45 - Distribuição onde a escola em que estudam está situada

Fonte: Codepla.df, 2019

Segundo a Associação Comercial de Ceilândia (ACIC), lojas, escritórios de


advocacia, cabeleireiros e cartórios representam a maior parte da economia da
cidade. Cerca de um terço dos moradores (36,6%) trabalham na cidade, e a renda
média mensal por família na região é de R$ 2.407 mil, e a individual é de R$ 604
(ANUÁRIO DO DF, 2018).
Por fim, de acordo com o levantamento, para as questões referentes à
infraestrutura urbana, verificou-se que a maioria dos domicílios estão em ruas
asfaltadas (86,3%), com iluminação pública (94,1%), calçadas (83,3%), meios-fios
46

(77,6%), abastecimento de água pela rede geral (99,5%), esgotamento sanitário


(91,3%), fornecimento de energia elétrica (99,0%) e recolhimento de lixo (85,8%).

4.3. O Sítio

O terreno escolhido se encontra no Setor Oeste, QNN 11, Bloco A de


Ceilândia (Figura 46). Na circunvizinhança do lote, como traz o mapa da figura 47,
existem dois pontos de ônibus, além de uma estação de metrô, sendo uma localidade
bem servida de transporte público, já na figura 48, pode-se ver as edificações mais
próximas do lote, como igreja, mercado, correio, lojas e estacionamentos.

Figura 46 - Localização do terreno em Ceilândia

Fonte: Geoportal, 2020 (adaptado)


47

Figura 47 - Mapa viário - Ceilândia

Fonte: Geoportal, 2020 (adaptado)

Figura 48 – Circunvizinhança do lote

Fonte: Geoportal, 2020 (adaptado)

O lote se enquadra na LUOS DF (Lei Complementar de Uso e Ocupação do


Solo do Distrito Federal), permitindo que seja destinado para o ensino de dança, de
música, artes cênicas, espetáculos entre outros. Sua área é de 25m x 25m, totalizando
625m² e com um metro de desnível (Figura 49), com taxa de ocupação de 100%, não
48

exigindo taxa de permeabilidade, coeficiente de aproveitamento máximo de 4, altura


máxima de 36,5 metros e potencial construtivo de 2.500m² (DODF, 2019, pg.79). Para
melhor entendimento, as figuras 50, 51 e 52 trazem vista do local.

Figura 49 – Topografia do lote

Fonte: Geoportal, 2020 (adaptado)

Figura 50 - Vista lateral direita do lote

Fonte: Da autora, 2020


49

Figura 51 – Vista lateral esquerda do lote

Fonte: Da autora, 2020

Figura 52 – Vista da avenida na frente do lote

Fonte: Da autora, 2020


50

Através da carta solar e rosa dos ventos de Brasília, pode-se verificar que a
frequência dos ventos tem sua maior ocorrência na primavera, outono e inverno na
direção leste e no verão na direção noroeste. Analisando também a direção que o sol
nasce e se põe no lote, foi feito um esquema básico que mostra as fachadas com
maior incidência solar e de ventos quentes, que precisarão ter suas aberturas
protegidas por anteparos (Figura 53).

Figura 53 – Condicionantes climáticas

Fonte: Geoportal, 2020 (adaptado)


51

5. O Projeto

A Escola de Música e Dança apresentada neste trabalho, foi pensada para


receber crianças e adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos, com o intuito de
ensiná-los os fundamentos do canto, de instrumentos de corda, sopro, percussão e
algumas das principais danças aprendidas na atualidade, que são: hip hop, ballet
clássico e dança contemporânea. Não tem, contudo, a intenção de ser
profissionalizante, mas de forma amadora, objetiva-se gerar o interesse nessas artes
desde cedo, e ser um agente norteador na vida dos alunos que aspiram a carreira de
músicos e dançarinos.
Para que o edifício seja acessível a todo tipo de pessoas, o projeto levará em
consideração as recomendações e obrigações que a norma NBR 9050:2015 traz para
edificações. Algumas dessas regras já previstas serão: o uso de rampas para vencer
desníveis; largura das circulações com no mínimo 1,20; sanitários e vestiários
acessíveis; vagas de estacionamento exclusivas para pessoas com deficiência; e nas
áreas com vegetação, impedir as plantas de avançarem na faixa de circulação livre,
seja pelo solo ou de forma aérea, respeitando para isso a altura mínima de 2,10m
(ABNT, 2015).

5.1. Programa de Necessidades

O programa de necessidades da Escola de Música e Dança, foi pensado


levando em consideração o horário de funcionamento, o público alvo, quantidade de
funcionários e atividades ali desempenhadas, mostrado na tabela 3. No que tange ao
pré-dimensionamento dos ambientes, foi gerado a partir de pesquisas de vários
projetos com a mesma tipologia, além dos estudos de caso. Contudo, o
estacionamento seguiu à exigência do nº de vagas que traz a LUOS. Em relação aos
estilos de dança e tipos de instrumentos que serão ensinados, foram escolhidos
aqueles que são mais procurados pelos jovens brasileiros, analisando os cursos
básicos que são ofertados por grandes instituições no Brasil.
52

Tabela 3 – Programa de necessidades da Escola de Música e Dança


53

Nota:
( * ) = Número indefinido de usuários
( ** ) = Área não computada
Fonte: Da autora, 2020

5.2. Fluxograma e Setorização

Logo abaixo, na figura 54, são mostrados os fluxos e acessos entre os setores
e ambientes do projeto. A formação que se vê, surgiu da ideia de separar o local de
ensino destinado à música do destinado à dança, não só por pedirem um tratamento
arquitetônico diferente, mas também para evitar que os alunos se percam pelo edifício
nos primeiros dias de aula. Contudo, no centro da edificação, encontram-se
passarelas que fazem a conexão visual, não só dos espaços, como também dos
adolescentes que irão passar por ali, além de terraços convidativos em cada setor,
permitindo a troca de experiências (Figura 55).
54

Figura 54 - Fluxograma

Fonte: Da autora, 2020

Figura 55 - Setorização

Fonte: Da autora, 2020


55

5.3. Análise Bioclimática

Em relação às estratégias bioclimáticas que foram adotadas, o projeto seguiu


a norma NBR 15220-3:2005, que traz algumas diretrizes construtivas para zona
bioclimática 4, onde se encontra o DF. Nessa norma, é dito que: As aberturas para
ventilação devem ser sombreadas e médias5; as vedações externas devem ser
pesadas, mas com a cobertura leve e isolada; no verão, é interessante propor o
resfriamento evaporativo e massa térmica para resfriamento, além da ventilação
seletiva quando a temperatura interna for superior à externa.
Seguir essas estratégias permite que o edifício alcance níveis de eficiência
energética, que são atingidos através da coleta de alguns dados. De acordo com o
Guia para Etiquetagem de Edifícios, devem ser observados a envoltória, a iluminação
e o condicionamento de ar que a construção apresenta (MMA, 2015). Visto isso, a
tecnologia construtiva idealizada para a Escola foi a de paredes pesadas, coberturas
leves (Figura 56), abertura central para entrada de luz natural e a utilização de brises
nas aberturas que necessitam de proteção solar (Figura 57).

Figura 56 - Descrição da parede

Fonte: Projeteee.mma.gov, 2020

5Abertura médias são aquelas com tamanho entre 15% e 25% da área de piso. ABNT, Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Desempenho Térmico de Edificações. Disponível em:
<http://labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/normalizacao/Termica_parte3_SET2004.pdf>. Acesso
em: 23 de jun. de 2020
56

Figura 57 - Máscara Solar

Fonte: Da autora, 2020

5.4. Conceito e Partido

O projeto objetiva representar com criatividade as atividades ali


desempenhadas, a fim de estimular a cultura e a transformação da mente, orientando
os jovens a fazerem boas escolhas para a vida adulta. Isso foi traduzido mediante um
partido arquitetônico de organização de arranjo espacial ortogonal, com sistema
estrutural modular, para promover fluidez e dinamicidade.
Além disso, a volumetria surge da justaposição de cheios e vazios, junto com
o uso de elementos arquitetônicos para conforto ambiental, propiciando um jogo de
sombras e luzes no interior da edificação (Figura 58). A dinâmica pretendida se dará
através de grafites de Mikael Omik e Daniel Toys nas paredes cegas, brises, e vazios
ritmados, gerando uma composição harmônica, tal qual em uma orquestra sinfônica,
que mesmo composta por vários instrumentos, cria uma só melodia (Figura 59).
57

Figura 58 - Volumetria

Fonte: Da autora, 2020

Figura 59 - Resultado

Fonte: Da autora, 20205.5. Pavimentos

5.5. Pavimentos

O edifício é composto de 5 pavimentos, distribuindo os ambientes nas


formações apresentadas a seguir:
- Subsolo (Figura 60): Pavimento destinado ao estacionamento de veículos dos
funcionários, com 8 vagas, casa de máquinas e bombas, além de um jardim central
que recebe luz natural, com o objetivo de tirar a sensação de clausura comum nesses
lugares.
58

Figura 60 - Planta do Subsolo

Fonte: Da autora, 2020

- Térreo (Figura 61): Tem a função de receber e dá as boas-vindas aos alunos e


visitantes, por meio de três acessos distintos que dão para o foyer, com jardim central,
e que direcionam as pessoas para à biblioteca, midiateca ou para o café.

Figura 61 - Planta do Térreo/Implantação

Fonte: Da autora, 2020


59

- 1º Pavimento (Figura 62): Destinado para ser o setor administrativo da escola, como
também conter parte do setor de serviço. Nele encontra-se a secretária, as
coordenações, direção, sala de reunião, sala de professores e funcionários, copa,
vestiários e dois terraços, que oferecem um espaço de convívio e descanso.

Figura 62 - Planta do 1º Pavimento

Fonte: Da autora, 2020

- 2º Pavimento (Figura 63): Projetado para abrigar o setor de música, esse pavimento
conta com salas práticas divididas pelos tipos de instrumentos, sala de ensaio em
conjunto, aula de canto, cabines acústicas, dedicadas para a prática de qualquer
instrumento em horário diferente das aulas, instrumentoteca, sala audiovisual e um
terraço. As salas contam com painéis acústicos para média e baixa frequência,
levando em conta a atividade que será realizada no local, como mostra a figura 64.
60

Figura 63 - Planta do 2º Pavimento

Fonte: Da autora, 2020

Figura 64 - Sala de aula prática – Teclado

Fonte: Da autora, 2020

- 3º Pavimento (Figura 65): Neste último pavimento encontra-se o setor de dança com
três salas para os três ritmos diferentes de dança, vestiários e dois terraços jardins,
além de um pé-direito de 4m para a melhor execução de saltos e acrobacias.
61

Figura 65 - Planta do 3º Pavimento

Fonte: Da autora, 2020

5.6. Paisagismo

No decorrer do desenvolvimento deste trabalho, percebeu-se como poucas


escolas de música e/ou dança faziam intervenções paisagísticas, principalmente as
de pequeno porte. Apesar de não serem o alvo principal da proposta, essas
intervenções fazem toda diferença quando bem aplicadas, sendo capazes de
trabalhar uma série de estímulos.
Como bem traz o livro Projeto de Paisagismo I, “Diferente da pintura, em que
a visão é predominante, ou até mesmo da escultura, em que se pode incluir o tato, o
paisagismo, por trabalhar com elementos vivos, têm a capacidade de estimular todos
os sentidos” (GALINATTI; GRABASCK; SCOPEL, 2019, pg. 28). Em vista disso, o
projeto foi pensado, desde sua concepção, para oferecer espaços que abrigassem
paisagens.
Os jardins da escola foram projetados para contrapor a forte urbanização do
entorno, objetivando prover um microclima para o edifício, uma vez que a zona
bioclimática 4 pede, entre outros, o uso de técnicas de resfriamento evaporativo, como
a presença de água e vegetação que auxiliam na redução da temperatura, como traz
a figura 66.
62

Figura 66 – Jardim com espelho d’água no térreo

Fonte: Da autora, 2020

Em cada pavimento foi feito pelo menos um espaço com vegetação, que além
de contemplativo, também funciona como espaço de convivência (Figura 67).

Figura 67 - Terraço no 2º Pavimento

Fonte: Da autora, 2020

Na área externa, ao lado do edifício, há um espaço descampado que não


recebe atenção da população (Figura 68), por conta disso, como uma gentileza
urbana, foi planejada uma praça de apresentações (Figura 69) que atenderá não só
os alunos da instituição, como também à comunidade local, além de vivificar o lugar
que está sem uso atualmente.
63

Figura 68 - Espaço descampado atualmente

Fonte: Google Earth, 2020 (adaptado)

Figura 69 - Praça de Apresentações

Fonte: Da autora, 2020


64

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de conclusão de curso exposto, objetivou apresentar e comprovar


os benefícios e a importância que uma escola de música e dança proporciona para as
pessoas que dela participam e para o meio no qual se é inserida.
Um dos problemas que o tema se obrigou a resolver, foi o de projetar uma
instituição educacional, além das convencionais existentes, que atenuaria a
vulnerabilidade juvenil da cidade de Ceilândia-DF, a qual está entre as cidades que
mais oferecem riscos aos adolescentes. Outro aspecto negativo que se pretendeu
solucionar foi a falta de conforto acústica e espacial nesse tipo de edifício. E foi por
meio das análises e estratégias abordadas que o tema se confirmou como uma
solução cabível à problemática observada.
No âmbito acadêmico, a realização do trabalho com todas as pesquisas que
o permeou acrescentaram um conhecimento específico mais aprofundado sobre
certos aspectos da arquitetura. De fato, todos os anos de aprendizado na universidade
servem para nortear e fundamentar um futuro profissional. Porém, é através do projeto
final que o estudante pode se direcionar para uma das diversas áreas que lhe será
permitido atuar, desenvolvendo assim uma primeira experiência com aquilo que se
pretende exercer profissionalmente.
65

REFERÊNCIAS:

ADMINISTRAÇÃO Regional de Ceilândia. Ceilandia.df.gov.br, [201-]. Disponível


em: <http://www.ceilandia.df.gov.br/category/sobre-a-ra/mapas/>. Acesso em: 08 de
jun. de 2020

ADMINISTRAÇÃO Regional de Ceilândia. Ceilândia: Maior cidade do DF


completa 48 anos de história e crescimento. Disponível em:
<http://www.ceilandia.df.gov.br/2019/03/20/ceilandia-maior-cidade-do-df-completa-
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