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Rio de Janeiro
2021
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Rio de Janeiro
2021
3
AGRADECIMENTOS
DEDICATÓRIA
RESUMO
METODOLOGIA
A observação das práticas dos professores das escolas citadas foi um importante
método de investigação complementando as informações sobre o cotidiano dos
professores no sentido de verificar a sua práxis consolidando os dados coletadas no
questionário aplicado nas escolas.
7
Nesse sentido, a arte na escola de hoje desde as séries iniciais é fundamental para
a formação desse sujeito inteiro, consciente e atuante no mundo. Contudo, apesar do
ensino da Arte ser parte integrante do Currículo Nacional e Sistemas de Ensino as escolas
de séries iniciais demonstram através de seus Planos de Ensinos e Planos de aula
dificuldades em desenvolver o trabalho pedagógico nessa área.
Para construir esse tema o trabalho aqui apresentado fará um recorte histórico,
destacando alguns fatos relevantes para a discussão da arte na escola. Na sequência
apresenta os significados percebidos na escola sobre o ensino de artes no segmento como
os documentos Nacionais e locais (municipais) definem o currículo de artes das series
iniciais e como os professores de arte utilizam esse conhecimento na prática de sala de
aula.
O professor, portanto, das séries iniciais constroem sua prática a partir de sua
formação acadêmica, formação em serviço e do que a rede de ensino dispõe, e é claro de
suas preferências em determinada linha de trabalho.
9
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................. 3
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................... 4
RESUMO ...................................................................................................................................... 5
METODOLOGIA ......................................................................................................................... 6
CAPÍTULO I……………………………………………………………………………………10
O SURGIMENTO DA ARTE NA ESCOLA
CAPÍTULO II…………………………………………………………………………………...26
O SIGNIFICADO DA ARTE PARA A AESCOLA
CAPÍTULO III............................................................................................................................ 31
COMO OS DOCUMENTOS NACIONAIS E LOCAIS (MUNICIPAIS) DEFINEM O
CURRÍCULO DE ARTES DAS SERIES INICIAIS
3.1 - PCNs
3.2 - Base Nacional Comum Curricular
3.3 - Como alguns Municípios organizam seus currículos de artes
CAPÍTULO IV…………………………………………………………………………………39
OS PROFESSORES SOBRE ARTE-EDUCAÇÃO NA PRÁTICA DE SALA DE AULA
4.1 - Análise de Dados Coletados através de Questionário
4.2 - As práticas de Artes em Sala de Aula
CONCLUSÃO..............................................................................................................................49
ANEXO…………………………………………………………………………………………51
Questionário
Entrevista Ana Mae
Boletim arte na escola
BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………………….64
10
CAPÍTULO I
Nise da Silveira
1
Valorizavam a escolástica como método e filosofia, priorizavam os
exercícios de memória e o raciocínio voltado para análise textual. Essas concepções
indicam que praticamente o ensino da Arte não tinha espaço a não ser através do teatro
religioso protagonizado pelos indígenas da catequese assim como a música utilizada
através do Canto Gregoriano.
1 Pensamento cristão da Idade Média, baseado na tentativa de conciliação entre um ideal de racionalidade,
corporificado esp. na tradição grega do platonismo e aristotelismo, e a experiência de contato direto com a
verdade revelada, tal como a concebe a fé cristã; escolasticismo. (Oxford Languages - 2020)
12
2 O volume de novas ideias e pensamentos que buscavam reexplicar o mundo com base na visão
iluminista assumiu grandes proporções durante o século XVII. No propósito de reunir esse conjunto de
ideias, alguns intelectuais franceses, como Denis Diderot e D’Alembert, foram os responsáveis por
produzir uma grande enciclopédia (publicada entre 1755 e 1772) que pudesse fornecer ao público as
principais ideias do movimento iluminista. A enciclopédia tinha como elementos norteadores a liberdade
individual, comercial, industrial, de pensar, escrever e publicar; oposição clara às ideias religiosas e ao
absolutismo político, que eram considerados obstáculos para a liberdade. Publicado por: Lilian Maria
Martins de Aguiar na página Mundo Educação UOL.
13
No século XIX a família Real vem para o Brasil e com eles surgem novas
demandas. A mineração foi uma atividade importante que criou uma classe
intermediária impulsionando transformações políticas. Com elas veio a necessidade de
se reafirmar como classe e a educação escolarizada se apresentaram como importante
instrumento de ascensão social.
Nesse período as camadas populares perderam o interesse pela arte, pois não
se identificaram com os traços da nova proposta trazida pelos franceses. Romanelli
(2010, p.20) concluiu que “este processo de interrupção da tradição da arte colonial,
que já era uma arte brasileira e popular, acentuou o afastamento entre a massa e a arte”
reforçando mais uma vez que a arte não é prioridade para a sociedade brasileira.
Romanelli (2010,p.41) mais uma vez aponta que:
A educação era para poucos e com foco na literatura, o ensino de artes era
direcionado para a burguesia aristocrática com uma reforma apenas metodológica da
antes desenvolvida. O desenho artístico foi introduzido valorizando a cultura de fora e
os padrões de beleza grego-romana e não fieis a realidade da época e que desprezava
os valores da expressão artística já produzida no País. O desenho técnico seguia o
mesmo princípio de moldes estrangeiros principalmente dos EUA que se preocupavam
com a competição entre os mais bem desenhados produtos europeus e investiu na
formação dos jovens americanos com o ensino da Arte aplicada a indústria.
Rui Barbosa foi conhecido pelos seus pareceres sobre educação que reformava
o ensino primário e secundário no município da Corte e do ensino superior em todo o
Império.
Rui Barbosa.”
3 Maria Cristina Gomes Machado. O Projeto de Rui Barbosa:o papel da educação na modernização da
sociedade - UEM
17
sala de aula.
uma orientação segura para a condução dos alunos, por parte do professor, nas salas de
aula. Para tanto, foram elaborados manuais segundo uma diretriz que modificava o papel
pedagógico do livro, que, em lugar de ser um material destinado à utilização dos alunos,
se converte no material essencial para o professor, expondo um modelo de
procedimentos para a elaboração de atividades que representem a orientação
metodológica geral prescrita. Barbosa (2010, p.58) afirma que:” Até hoje nenhum
projeto de Lei concedeu mais de 50 linhas ao ensino da Arte ou ensino do Desenho que
na concepção de Rui Barbosa, estão identificados e assim continuariam na escola oficial,
até 1948, pelo menos.”
que movimentou o mundo das artes com novas tendências das artes plásticas. Nomes
como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral,
Vítor Brecheret, Heitor Villa-Lobos, Menotti del Pichia, Guilherme de Almeida e
Sérgio Milliet marcaram presença.
E dez anos depois dez anos depois veio à lei, LDB nº 5692/71 com ela o ensino
das outras linguagens da arte são incluídas no currículo que passou a ser denominada
como Educação Artística e como disciplina obrigatória no currículo escolar do 1º e 2º
grau. A reforma na estrutura curricular não garante mudanças e nem melhoria do ensino
de artes. A disciplina ainda não é vista como uma disciplina importante no contexto
escolar, aliás, a visão do ensino de arte ainda estava vinculada como atividade, havendo
uma desvalorização da mesma., “esse é um momento em que o próprio ensino de arte
está se encontrando e passando por diversos problemas, principalmente em relação à
formação do professor” conforme FUSARI e FERRAZ (2009).
Um dos problemas foi garantir formação dos professores para exercer este
ensino com qualidade, mas não havia estrutura e nem muitos cursos específicos nas
universidades, assim começam a surgir algumas dificuldades, pois os professores não
possuíam preparo e experiência para exercer com domínio todas as linguagens
artísticas exigidas no ensino de arte.
21
Nos anos 70 surge outra tendência que foi a Pedagogia Tecnicista tomando
como referência novamente as orientações da educação tradicional e escolanovista.
Segundo Ferraz e Fusari (2009, p.52): “Foi neste contexto favorável que na década de
1970 a Educação Artística passou a ser obrigatória no ensino formal, carregando,
entretanto, uma perspectiva conceitual e ideológica desfavorável configurada pelo
tecnicismo e pela polivalência.”
A primeira toma forma na educação com proposta pelo educador Paulo Freire
que trouxe o diálogo entre os sujeitos e, portanto, envolvia a relação professor e aluno
em condições de igualdade dialogando sobre problemas cotidianos buscando
transformar a sociedade. Segundo Fusari e Frraz (2009, p.54), “Somente considerando
o local onde se dá a vida para essas pessoas é que se torna possível um trabalho de
educação conscientizadora”.
22
Já a Pedagogia Histórico – Crítica, que surgiu nos anos 80, tinha a intenção de
preparar o aluno para a vida social por meio do conhecimento acumulado pela sociedade.
Consideram o conhecimento como um imprescindível instrumento de empoderamento
dos sujeitos como cidadãos, críticos, conscientes e participativos.
A arte era concebida como ferramenta que incluia as mentes mais “talentosas”
deixando de fora os que não conseguiam atingir esse patamar técnico. Como vemos essa
ideia é recorrente na história do ensino de Artes.
Ana Mae Barbosa 4 conta no texto como foi esse movimento de Arte-
educadores que diante da movimentação política sentiram necessidade de criar a
Associação de Arte Educadores de São Paulo para garantir a permanência do ensino de
Arte no Currículo escolar e tiveram apoio inclusive no Congresso e a criação da Pós-
Graduação em Artes com Doutorado, Mestrado e Especialização, feito sob sua
orientação.
Nos anos 90 os Arte-Educadores tiveram que continuar sua luta para manter
Arte como componente curricular obrigatório na nova LDB 9.394/96, contudo, não
especificava as linguagens artísticas (Artes Visuais, Música, Teatro e Dança), apenas
informava que a Arte é um componente curricular obrigatório.
4 Texto publicado em: Revista Digital Art& - Número 0 - Outubro de 2003 - http://www.revista.art.br/
25
CAPÍTULO II
Inquietações sobre como o ensino de Artes nas séries iniciais são escassas e os
motivos da desvalorização dessa área na escola, não só como disciplina, mas também
como instrumento fundamental na formação integral do homem que gera tantas
controvérsias entre os profissionais na escola.
agindo como procedimento eficaz para estimular o aluno a elaborar uma leitura crítica do
ambiente social e cultural no qual ele faz parte interagindo ativamente mobilizando
dimensões praticas e teóricas do conhecimento em arte.
A consequência da falta de espaço para o debate sobre essa temática agrava ainda
mais o problema e dentre eles está o trabalho desinteressante e distante da realidade, quase
uma “pseudo aula de artes.”
No mundo que nos cerca se observarmos perceberemos que a vida está repleta
de “Arte” por todos os lados e, portanto, desprezar o seu potencial educativo é um
equívoco grave.
Olga Reverdel5 diz que o Teatro por exemplo tem uma função eminentemente
educativa e através da diversão proporciona desenvolvimento emocional, intelectual e
moral correspondendo aos anseios e desejos que vão gradativamente sendo descobertos.
Desenvolve a criatividade, perceção, observação, memória, desinibição, interação,
expressão corporal, facial, vocal, enfim, saberes que contribuem para outras áreas do
conhecimento alem da fruição do espetáculo. Esse despertar dependerá de profissionais
que trilhando por muitos caminhos possam dar condições para o aprendizado
estimulando, facilitando e transitando pelo interesse dele e do aluno, ou seja, para ambos
o processo será compensador e transitando por um mesmo caminho, unidos e renovados
MEIRA (2010, p.12) em seu livro sobre o afeto na relação entre professor e aluno
diz que:
Vivemos novos tempos e novos paradigmas surgem para explicar essa realidade.
Necessitamos ter novos olhares para atender ao desafio que o presente nos impõe e
compreender a incerteza do futuro sem nos deixar imobilizar pela complexidade do
mundo.
e de qualidade social para todas as crianças vem sendo também um grande desafio, se
pensarmos nos inúmeros contextos sociais e educacionais que temos hoje.
A principal característica da educação atual talvez seja de se ter outro olhar sobre
o homem considerando-o na sua totalidade, em diversos aspectos, pois a escola hoje não
consegue cumprir a sua missão de atender as necessidades educacionais dos futuros
cidadãos se detendo apenas no desenvolvimento cognitivo.
O professor que tem papel central nessa construção através da sua relação
pessoal com a arte e de seus interesses estéticos e históricos reflete os valores que
atribuem ao trabalho de arte no momento de construir os currículos e planeamentos para
suas turmas.
Obviamente são muitos desafios que precisamos enfrentar a partir do que muitos
artistas, educadores e arte-educadores já deixaram de legado para nós. A História do
Ensino de Artes nos mostra quanta luta foi travada para usufruirmos as conquistas mas
principalmente de continuar construindo novos caminhos.
31
CAPÍTULO III
3.1 - PCNs
Faz um breve histórico desde o surgimento da arte conhecida pelo homem e sua
32
A ideia de uma BNCC surge em nosso país em 1980 mas já era feita em
diversos outros países, por diversas conjunturas e o que acabou se tornando motivo para
o Brasil “copiar” um modelo de países desenvolvidos como solução para o atraso em
vários setores brasileiros. Inclusive essa tendência foi bem contundente através dos
movimentos artísticos importados da Europa, mas isso é uma outra história.
6 Parecer_4_AR_Maria_Helena_Webster.pdf (mec.gov.br)
35
Destaco aqui um trecho do documento que traz uma crítica sobre o ensino de
Arte:
“Nas escolas, a arte passou a ser entendida como mera proposição de
atividades artísticas e seus professores deveriam conhecer todas as
linguagens artísticas, mesmo aquelas para as quais não se formaram;
descuidando-se da capacitação e do aprimoramento profissionais.
Lutou-se para que a Arte se tornasse presente nos currículos das escolas
no Brasil e fizesse parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de l996 - Lei 9394 (Art.26). Buscou-se, assim, dar ao estudo
da Arte a mesma importância das outras áreas do conhecimento.”
http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Produ%C3%A7%C3%B5es%20SME/Cadernos%20de%20Ativi
dades%20Pedag%C3%B3gicas/Proposta%20Curricular%20-%20Anos%20Iniciais.pdf
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Enquanto as demais áreas têm quadros separados por ano e uma introdução para
cada área, o “tema Artes” divide espaço e não apresenta texto de apresentação ou qualquer
menção em todo documento a não ser o quadro que segue abaixo.
CAPÍTULO IV
• Eu adoro artes.
• Acho importante valorizar as diferentes áreas
• Muito enriquecedora para o desenvolvimento das crianças
• Ótimo! Quanto mais cedo os alunos tiverem contato e informações sobre arte, mais
influência e criatividade terão.
• Acho muito importante para desenvolver diversas habilidades nos alunos.
• A inclusão da arte nas séries iniciais é de suma importância. Trabalhar com a arte de
forma significativa e contextualizada desde as séries iniciais, trabalhando as
linguagens artísticas, desenvolvendo assim sua percepção, criatividade e
conhecimento, faz com que ela passe a ter mais autonomia e desenvolva o senso
crítico e entenda a importância que a arte tem para o mundo.
• Importantíssima
• Importante para ampliar a visão de mundo dos alunos, despertar a criatividade e
criticidade através da arte.
• Ótimo.
• Fundamental, pra desenvolver a criatividade e expressão nos alunos.
• Essencial
• Importante
• Acho importante.
• Importante e necessário.
• Importante, porque precisamos trabalhar a criatividade dos alunos o quanto antes.
• De grande significado
• Interessante
• Fundamental
• Acho muito mportante. Pois contribui na formação dos alunos como seres humanos na
sua integralidade, ao realizar trabalhos artísticos, a criança tem a oportunidade de
expressar seus sentimentos e emoções, que muitas vezes passam desapercebidos na
tarefas cotidianas.
• Muito bom
• Muito importante
• Um ótimo enriquecimento para o currículo. Novos conhecimentos..
• Sim
• Esporadicamente.
• Sim. Com pouca frequência.
• Sim. 1 vez por semana.
• Peço as professoras que incluam
• Sim, algumas vezes
• Sim, mas não com muita frequência.
• Sim,com todas as semanas.
• Raramente
• Sim Uma vez na semana
• Não
• No caso da Educação Especial e de suma importante, pois muitos deles se expressam
melhor através de cores e expressões.
• Bom.
• Sim. Pelo menos 1 vez por semana.
• Sim! Fazia mensalmente .
• Sim.
• Poucas vezes, normalmente ligada a datas comemorativas.
• Sim, conforme os assuntos vão surgindo, tento contextualizar com a pintura, com a
música e a dança.
• Algumas vezes.
Isso pode significar uma atitude de preservação do que já está posto e de certa
forma dominado mantendo uma certa “zona de conforto” para os profissionais.
Em sua opinião quais são as dificuldades para a arte ser desenvolvida como
área curricular nas séries iniciais?
45
Percebemos que dos professores das séries iniciais são exigidas muitas
competências sobre didáticas, práticas de ensino, conhecimento em todas as áreas,
psicologia, neurociências e outras habilidades. No entanto, os Cursos de formação de
professores e/ou Pedagogia não se propõem a oferecer conhecimento para todo esse
trabalho e mais especificamente de artes. Observando a grade curricular de algumas
instituições do Curso Normal e de Pedagogia, verificamos que a maioria disponibiliza
uma carga horária entre 40 a 60 horas para Metodologia de Ensino de Artes que focam
geralmente em Artes Visuais deixando de fora todas as outras linguagens ou faz um breve
resumo de todas.
Outro debate importante, mas que considero como um percalço que pode
potencializar a importância da ampliação da carga horária na Formação dos Professores
quando se discuti de quem é a responsabilidade do Ensino de Artes nas séries iniciais: do
pedagogo ou do professor de área?
Uma coisa não deveria excluir a outra e se adequar, pois, seria contraditório após
anos de luta para estender o ensino de Artes da Educação Infantil ao 9º ano se não
tivermos a disposição de legitimar esse lugar para os professores com formação Normal
ou em Pedagogia.
Duarte Jr. (1985, pag.36) diz que “a educação, que deveria significar o auxilio
aos indivíduos para que pensem sobre a vida que levam que deveria permitir uma visão
do todo cultural onde estão se desvirtua nas escolas.” E refletindo o que representa as
Artes para o homem e revisitando toda a história da humanidade, a relevância do papel
de educadores através do domínio do conhecimento nesta área para ter um desempenho
eficiente e coerente na atuação no ensino da Educação Básica deve ser bandeira de luta
de todos que se interessam pelo ensino de Artes nas Séries Iniciais.
Escola 2
Escolas analisadas
Incluiu Teatro
Incluiu Dança
Incluiu Música
0 5 10 15 20 25
Nº de professores
Queremos apresentar duas questões em relação ao gráfico acima: primeiro considerando que
o ensino de Artes ao abordar quatro linguagens artísticas tem uma complexidade e dificultam o
trabalho de forma competente pois não possuem formação adequada e por isso apresenta-se como um
caminho desafiador entre tantos outros no Ensino Fundamental e a segundo questão é a contradição
percebida entre o que propõe o currículo e o que de fato os profissionais apresentam na sala de aula
nos trazendo a preocupação sobre o ensino recebido pelo alunos e a tarefa incongruente dos
professores que agem como se estivesse trabalhando arte na escola e o mais grave, invalidando o
conhecimento que os alunos levam para a sala de aula por não perceber possibilidades de trabalho que
a sua formação não possibilitou.
49
CONCLUSÃO
A História do Ensino de Arte ainda nos mostra fortes influências nos tempos
atuais que explicam as dificuldades apontadas aqui de desenvolver um trabalho
pedagógico consistente.
ANEXOS
Índice de anexos
ANEXO 1
QUESTIONÁRIOS
53
54
ANEXO 2
Arte & Cultura| 22/06/2006
Ana Mae Barbosa é a principal referência no Brasil para o ensino da arte nas escolas. Professora aposentada
da Universidade de São Paulo, acredita que a arte estimula a construção e a cognição das crianças e
adolescentes, ajudando a desenvolver outras áreas de conhecimento.
Filha de uma família tradicional, Ana nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada com os avós em Pernambuco.
Sonhava em estudar Medicina, mas isso era um absurdo para toda a família. “Como uma mocinha vai ficar
com um monte de homens vendo corpos nus?”, questionava a avó.
Acabou caindo na “vala comum” da época e foi estudar Direito. Para pagar os estudos, teve que partir para o
ensino. “As únicas profissões aceitáveis eram ser professora ou casar”, disse. Odiava aquilo. Odiava o ambiente
repressor das salas de aula. Por ironia, foi em um cursinho para concurso de professora primária que conheceu
Paulo Freire. Na primeira aula, o tema da redação era “por que eu quero ser professora?”. Ana Mae escreveu
o que sentia, que odiava educação. No entanto, apenas quatro horas de conversa com o mestre foram
suficientes para destruir todos os seus preconceitos. “Só então compreendi que educação não era aquilo que
eu tive. Eu passei por um processo de abafamento e moldagem. Mas ele me ensinou que a
Educação poderia ser libertadora”.
E Ana Mae transferiu aquele sentimento o para a arte-educação, na Escolinha de Artes de Recife. Mudou-se
para São Paulo para fugir da ditadura militar. Foi para os Estados Unidos, fazer mestrado e voltou como a
primeira doutora brasileira em arte-educação e comandou as pesquisas sobre o tema na Escola de
Comunicações e Artes da USP.
CARTA MAIOR – Existe um debate hoje sobre a obrigatoriedade da existência de artistas práticos
especialistas nas escolas. Esse seria um grande passo para a
Arte-Educação? ANA MAE BARBOSA- O artista não necessariamente é um bom professor. Existe um estudo
que defende ter ao lado de um artista um arte-educador trabalhando junto. Um profissional que conheça as
fases de desenvolvimento da criança. Um arte-educador tem o preparo, conhece as fases de desenvolvimento
e construção plástica da criança. É necessário que entenda as fases de recepção da obra de arte; entenda
como articula o desenvolvimento social e cognitivo da criança. Por isso, eu defendo a presença dos dois
profissionais ao lado das crianças. Os melhores projetos de arte-educação do mundo atuam dessa forma. Teve
um projeto fantástico na Bahia, chamado Quietude da Terra. Uma curadora canadense veio ao Brasil e
convidou vários artistas internacionais importantes. Eles trabalharam juntos com arte-educadores
juntamente com crianças de rua de Salvador e atingiram um resultado excelente.
CM - Mas isso é factível para a realidade estrutural da educação?
AMB - Eu estou cansada dessa conversa de que custa caro. Custa caro colocar os menores na Febem. Um
país que gasta mais dinheiro com prisão do que com educação tem que mudar. É factível. Acontece que, em
55
países como a Inglaterra, Portugal e Canadá eles estão atentos a isso e defendem a Arte na Educação. Eles
fazem o trabalho em conjunto do professor com o artista. É preciso aliar esse trabalho. O contato do artista é
importante para provocar e trazer os debates contemporâneos para as salas de aula, abrindo os
olhos para diferentes codificações.
Eu organizei recentemente um livro (“Arte-Educação Contemporânea” – Editora Cortês) que tem um artigo
que trata de um colégio no Canadá com artistas e arte-educadores. Já temos os arte-educadores nas escolas,
agora é preciso criar projetos para que coloquemos artistas, das diversas áreas, nas instituições de ensino. O
grande problema é que no Canadá eles têm um grande respeito à multiculturalidade. Eles fazem questão de
mostrar os diversos códigos, como o dos africanos, o indígena. Isso é magnífico. No livro, eles colocaram
também umas fotos que mostram a variedade de expressões.
CM - Mas a falta de investimentos no Brasil reflete-se apenas na ausência dos artistas dentro das escolas ou
estende- se também à questão da capacitação? AMB - Não é capacitação, o problema é a atualização. Qualquer
professor precisa estar atualizado. Eu não concebo um professor que não procure, em um ano inteiro, um
curso, uma conferência, ao menos para trocar idéias. A atualização deve, então, ser permanente
e não algo esporádico como esta tal capacitação!
Há uma coisa meio perversa nos que chamam isso de capacitação. O professor é capaz. Atualização significa
que o professor é capaz, está formado, e se ele não se atualiza constantemente será apenas um repetidor de
formas e apostilas que nenhuma capacitação vai resolver. Eu acho que o investimento primeiro deve ser
destinado à atualização constante. Uma coisa perversa que a Secretaria de Educação do Estado (de São Paulo)
fez foi achar que o que eles chamam de capacitação fosse feito apenas nas escolas. Eles pensam que os
professores que saem para cursos tendem a voltar decepcionados para a escola, por não conseguirem depois
programar aquilo que aprenderam. Então os professores ficariam desmotivados. Essa não é a minha
experiência. Em todos os casos que conheço, os professores vão e voltam com um empenho tremendo.
Fizemos uma pesquisa recente do Centro Cultural Banco do Brasil que ilustra o que estou dizendo. Em 2004,
eles me chamaram e disseram que queriam fazer uma pesquisa para saber como o professor usa, em sala de
aula, o material que eles preparavam para acompanharem as exposições, com slides, fotos e um livreto com
os conceitos de arte- educação. Eles contrataram uma empresa para fazer a pesquisa. Rejane Coutinho
(doutora em Artes pela ECA-USP) e eu para dialogar, desenhando a pesquisa e depois para avaliá-la. Foram
quatro exposições em um ano: “África”; “Nuno Ramos, um artista homem, brasileiro e contemporâneo”;
“Rosana Palazyan, uma artista mulher, brasileira e contemporânea”; e “Antoni Tàpies, da galeria de Paris”.
Cada professor recebia um kit. Primeiro, queríamos fazer um CD, mas depois descobrimos que nem
todos têm acesso a computador. Então, fizemos transparências.
Tem uma outra professora, a Elza, que, se fosse para eu identificar uma heroína, eu a escolheria. Ela já tem
sessenta anos, dá aula em três turnos na Cidade Tiradentes, um lugar onde não tem nenhum espaço cultural,
cinema, nada. Há, sim, classes de cinqüenta crianças em uma escola paupérrima. A escola em que ela
trabalhou na pesquisa tinha apenas cinco turmas. Ela conseguiu dinheiro para levar todos os alunos. Ela era
uma professora correta, mas "careta", que deu um salto enorme em seu trabalho. Neste trabalho, escolhemos
56
a quinta série, pois ela é a exemplar fase na iqual a criança deixa o professor generalista e passa para o
especialista. É quando ela terá que fazer a junção das diferentes disciplinas.
CM – Então, explique para nós e para o leitor: por que é importante ter isso tudo na
escola? AMB - Para trabalhar construção e cognição. Na construção da Arte utilizamos todos os processos
mentais envolvidos na cognição. Existem pesquisas que apontam que a Arte desenvolve a capacidade cognitiva
da criança e do adolescente de maneira que ele possa ser melhor aluno em outras disciplinas. A música
desenvolve diversos processos cognitivos, comparando, organizando, selecionando. Em Arte, opera-se com
todos os processos da atividade de conhecer. Não só com os níveis racionais, mas com os afetivos e
emocionais. As outras áreas também não afastam isso, mas a Arte salienta ou dá mais espaço. Para
desenvolver a criatividade em ciência, a criança tem que ter certo QI racional. Para desenvolver através da
Arte, a necessidade de QI é muito menor. Significa que ele procura outros caminhos cognitivos. Eu acho que,
em primeiro lugar, a função da Arte na Educação é essa, desenvolver as diferentes inteligências.
Isso fica patente com o exemplo dos Estados Unidos, onde existe um teste equivalente ao Enem - aliás, o
Enem é cópia do deles. Eles pesquisaram quais os currículos dos alunos que mais se destacaram no teste, nos
anos 90. Todos eles haviam tido no mínimo dois cursos de artes. Lembre-se de que, lá, eles escolhem o
currículo. Só aqui que currículo é igual à receita médica. Mas isso não era suficiente. Além disso, é preciso
desenvolver o país culturalmente. Arte é uma fatia enorme da produção humana. E com uma vantagem imensa
de rever cada época. Diferente do fato, o objeto arte permanece para ser revisto, relido ou reconcebido. Isso
é essencial: operar no mundo com conhecimento.
CM – Por que não funciona? AMB - Se formos analisar o que aconteceu em outros países, percebe-se que eles
voltaram para trás. Não deu certo na Espanha, e eles importaram um espanhol para desenhar o currículo que
temos hoje. No lado que conhecemos e que chamamos de Ocidente, o melhor exemplo é o do Canadá. Eles
se recusaram completamente a ter um currículo nacional. É puro desejo de controle das instituições. O
interessante é que, quando surgiu essa reforma, eu me posicionei contra, fizemos todo um movimento. Aí eu
fui até a Argentina e lá tinha um movimento imenso. Pois lá também estava acontecendo a mesma coisa. E o
espanhol que elaborou o currículo nada mais fez do que oferecer desenho para colorir: ele tinha o contorno
de tudo e chamava as universidades hegemônicas para colorir em cada país. Aqui eles escolheram a
Universidade de São Paulo. No Chile, foi a Católica. Na Argentina, foi a de Buenos Aires. Mas lá tinha um
grande problema. A Universidade de Buenos Aires não tinha cursos de Educação. Estava um movimento muito
forte. Foi até bom. Eu gritava contra e eles aplaudiam. Criei alguns inimigos. Mas, no fim, aconteceu o que
prevíamos, não deu certo. Depois sobrou um vácuo...
BOLETIM ARTE NA ESCOLA • EDIÇÃO #79 • JANEIRO / FEVEREIRO / MARÇO 2016
POLÊMICA
Desde que o texto foi apresentado, vários profissionais e entidades educacionais estão
trabalhando na reformulação da proposta. No caso específico da disciplina Arte, a maior
discussão girou em torno do texto preliminar apresentar as linguagens dança, teatro, música
e artes visuais como sub-componentes. Os profissionais também chamaram a atenção para
outros aspectos do documento, por exemplo, os objetivos estabelecidos para cada etapa da
educação básica. A Federação de Arte Educadores do Brasil – São Paulo (Faeb/SP) chegou
a publicar um manifesto apontando questões que precisam ser alteradas. Já a educadora
Ana Mae Barbosa organizou um abaixo assinado pelo site change.org pedindo a retirada do
termo sub-componente e também a mudança do nome da disciplina para Artes, já que
engloba quatro linguagens específicas. É possível visualizar todas as mudanças solicitadas
até o momento no site do MEC:
Para ampliar o debate, o Boletim Arte na Escola convidou alguns profissionais para
responder à seguinte questão: Em relação à Arte, você acha a proposta da BNCC coerente
e realizável na nossa realidade de ensino? Por quê? Quais são os pontos positivos e os
negativos?
Confira mais sobre o BNCC na matéria “Os novos rumos da formação profissional” que
promove um debate de como deve ser a formação do professor e sua atuação nas escolas.
¹Disponível em:<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/relatorios-
analiticos/pareceres/Aldo_Victorio_Filho_ARTE.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2016.
BIBLIOGRAFIA
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
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