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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

PROJETO DE PESQUISA
TÍTULO PROVISÓRIO:

DOCÊNCIAS POÉTICAS: DIÁLOGOS ENTRE PRÁTICAS,


SABERES E SUBJETIVIDADES DE PROFESSORES-
ARTISTAS NO CONTEXTO DO ENSINO PROFISSIONAL,
TÉCNICO E TECNOLÓGICO.

UBERLÂNDIA
2022
TÍTULO PROVISÓRIO:

DOCÊNCIAS POÉTICAS: DIÁLOGOS ENTRE PRÁTICAS, SABERES E


SUBJETIVIDADES DE PROFESSORES-ARTISTAS NO CONTEXTO DO ENSINO
PROFISSIONAL, TÉCNICO E TECNOLÓGICO.

Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós- Graduação


em Educação - FACED, da Universidade Federal de Uberlândia
– UFU. Linha de Pesquisa “Saberes e Práticas Educativas” –
Temática: Arte e educação.

Doutoranda: Márcia Maria de Sousa


Orientador: Prof. Dr. Narciso Larangeira Telles da Silva

Equipe de pesquisa: Márcia Maria de Sousa


Prof. Dr. Narciso Telles

UBERLÂNDIA
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

RESUMO
A pesquisa tem por temática a arte e a educação, tem como eixo delimitador investigar
como professores de Arte de um Instituto Federal atuam enquanto Professores-Artistas
ao estabelecerem interrelações entre os processos arte-educativos e os processos de
criação e produção artísticos autorais que realizam no e em interação com o contexto de
atuação profissional. Tem por objetivo geral valorizar as práticas arte-educativas
desenvolvidas por professores de Arte enquanto Professores-Artistas que atuam nos
territórios do ensino, da pesquisa e da extensão, abarcando as dimensões ética, estética,
política e cultural na formação integral e na produção artística atual. A pesquisa
caracteriza-se por uma investigação cartográfica, de abordagem qualitativa e exploratória.
Tem por base epistemológica a complexidade (Morin) por apresentar uma visão complexa
e ampliada da realidade social contemporânea como fenômeno multifacetado e
multidimensional, a abordagem metodológica de análise dos dados será a análise do
discurso na perspectiva das práticas discursivas (Foucault). Os métodos de construção de
dados serão a observação de ações ocorridas no âmbito do campo de atuação profissional
e artístico, a entrevista semiestruturada e registros imagéticos (fotos e produções visuais).
A análise dos dados será realizada considerando-se os construtos filosóficos, pedagógicos
e artísticos, por meio de um processo de triangulação dos dados construídos pela
percepção da pesquisadora (notas da observação), pelo relato dos participantes (respostas
às entrevistas) e pela análise do material visual produzido pela pesquisadora (imagens –
fotos e esquemas visuais).
Palavras-chave: Arte, Educação, Professor-Artista, Educação Profissional e
Tecnológica.

1. INTRODUÇÃO

Ser Professor, ser Artista. Como duas profissões aparentemente tão distintas se
amalgamam no Professor de Arte? Como pensar o Professor – submetido à
sistematização de conhecimentos, saberes e práticas, comprometido com processos de
ensino, aprendizagem e avaliação, profissional socialmente tão desvalorizado –,
conjugado ao Artista – profissional da criação, da inventividade, da experiência estética,
que tem a liberdade e a sensibilidade como premissas de atuação, cujo mito da genialidade
e do talento inato lhe conferem um status social singular – num mesmo profissional?
Segundo Loponte (2005, p.45), nos livros e no discurso predominante sobre Arte

Em geral, reforça-se a figura do artista como homem, branco e europeu


e com um talento inato, preferencialmente já surgido na infância. As
narrativas biográficas que os acompanham são em geral narrativas
lendárias, com um tom de hagiografia, aquelas biografias elogiosas de
santos.

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Já a visão social sobre o professor é comumente marcada pela caracterização da


profissão como sendo eminentemente feminina e vocacional, principalmente no que tange
ao Ensino Básico, e que, apesar de ser reconhecida como importante para a sociedade, é
economicamente pouco valorizada e mal remunerada.
Buscando descontruir os estereótipos que cercam essas duas profissões, procuro
nesta pesquisa explorar o binômio Professor-Artista, de modo a conhecer os saberes, as
práticas e as subjetividades que constituem os professores de Arte na atualidade como
profissionais que, ao transitarem por e entre os campos da Educação e da Arte,
estabelecem múltiplas conexões nas dimensões éticas, estéticas, políticas e culturais,
presentes tanto no campo da Arte como no campo da Educação, que nos permitem
ultrapassar narrativas como as citadas por Loponte (2005), ou seja, não mais condizentes
com a realidade contemporânea.
Para tanto, esta pesquisa procura investigar a atuação do professor de Arte com o
foco na junção entre a docência e a prática artística, ou seja, explorando a diversidade de
conexões que se estabelecem entre as práticas de ensino da Arte e as produções artísticas,
tanto da poética pessoal como das propostas coletivas que ocorrem nas interações arte-
educativas e culturais que o professor de Arte estabelece em diferentes territórios por onde
circula e/ou habita (instituições de ensino, comunidades escolares, grupos de estudo,
coletivos artísticos, projetos culturais, entre outros).
Tendo como referência as minhas experiências de arte-educadora que tem
enfrentado na vida profissional compreensões estereotipadas tanto sobre o fazer artístico
como sobre a atuação do professor de Arte, e que ao mesmo tempo, vivência a
potencialidade do trabalho com a Arte no contexto escolar como propulsora da formação
sensível e integral do sujeito, situo esta pesquisa num contexto específico: o Ensino de
Arte na Educação Profissional, mais precisamente, na atuação docente e artística de
professores de Arte que trabalham em um Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia localizado na região do Triângulo Mineiro em Minas Gerais.
Isso porque este tem sido o meu campo de atuação profissional nos últimos anos
e o mesmo tem se mostrado um espaço que, pela estrutura na qual foi criado1,

1
Os Institutos Federais foram criados a partir da Lei nº 11.892 de 2008 e compõe a Rede Federal de
Educação Profissional Científica e Tecnológica que tem na educação integrada e na verticalização do ensino
seus princípios fundantes. Os Institutos Federais ofertam cursos presenciais e à distância em vários níveis
e modalidades de ensino: técnicos (integrados e subsequentes ao Ensino Médio), tecnológicos,

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proporciona condições de desenvolvimento docente-artístico que precisam ser mais


conhecidas e valorizadas no sentido de ser uma instância educativa na qual o Ensino da
Arte tem um papel fundamental na formação do estudante como uma área de
conhecimento que agrega as dimensões ética, estética, cultural e política da constituição
humana.
Entre as finalidades e características dos Institutos Federais presentes no Art. 6º
da Lei nº 11.892 de 2008, destaco os incisos IV e VIII que sinalizam a valorização da
Arte e da Cultura como conhecimentos fundamentais na formação integral proposta:

“IV – orientar sua oferta formativa em benefício da consolidação e


fortalecimento dos arranjos produtivos, sociais e culturais locais,
identificados com base no mapeamento das potencialidades de
desenvolvimento socioeconômico e cultural no âmbito de atuação do
Instituto Federal;” [...]
VIII - realizar e estimular a pesquisa aplicada, a produção cultural, o
empreendedorismo, o cooperativismo e o desenvolvimento científico e
tecnológico;”

Desse modo, a delimitação do campo de pesquisa tem como objetivo explorar


um espaço singular de atuação para o professor de Arte, relativamente recente no
cenário educativo brasileiro, e no qual a produção artística e cultural deve ser
estimulada na perspectiva da construção de conhecimentos e reconhecimento de
potencialidades que visem o desenvolvimento socioeconômico, científico e tecnológico.
Reconheço assim, a necessidade de dar visibilidade para a atuação docente-
artística dos professores de Arte que atuam nesse contexto educativo (cuja área
específica de formação pode ser em Artes Visuais, Teatro, Dança ou Música) e que
denomino como Professores-Artistas2, pelo fato de serem profissionais que atuam na
docência em Arte (em diferentes níveis e modalidades de ensino), e que tem neste
espaço de atuação profissional a possibilidade de cultivar as dimensões ética, estética,
política e cultural da Arte e da Educação, tanto na produção poética autoral como na
interação artística e cultural com os estudantes e a comunidade acadêmica.

bacharelados, licenciaturas, PROEJA, além de formação inicial e continuada - FIC ou qualificação


profissional e Pós-Graduação Lato Sensu e Stricto Sensu.
2
A opção pela grafia na qual o substantivo Professor antecede o substantivo Artista, com um hífen “ - ”
entre eles, sinaliza a opção por representar tanto uma complementaridade contínua entre estas duas
profissões, como um mesmo nível de importância de conhecimentos envolvidos na atuação profissional de
quem se dedica ao Ensino da Arte em uma instituição de ensino regular.

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Desse modo, o Problema de Pesquisa incide em compreender a seguinte questão:


Como as práticas docentes-artísticas desenvolvidas nos âmbitos do ensino, da pesquisa,
da extensão e da produção artística autoral por cada professor de Arte enquanto Professor-
Artista no contexto específico do campus em que atua, desvelam conexões entre as
dimensões ética, estética, política e cultural que contribuem com uma melhor
compreensão do efetivo papel do Ensino de Arte na Educação Profissional proposta pelos
Institutos Federais?
Tal problema se estende ainda às seguintes questões: Como investigar as práticas
docentes-artísticas dos professores de Arte sujeitos desta pesquisa, de modo a abranger a
complexidade das conexões por eles estabelecidas em sua atuação profissional? Como
dar visibilidade aos processos docentes-artísticos realizados pelos sujeitos da pesquisa
compreendendo-os em sua multidimensionalidade de conhecimentos e práticas?

HIPÓTESE

Vivenciar o processo de criação-reflexão da prática artística por meio de uma


experimentação constante de sua poética autoral/pessoal em conexão com as práticas
docentes construídas e compartilhadas nas relações com os estudantes e com seus pares,
é para o professor de Arte, uma estratégia de atuação profissional, um modo de existência
e de posicionamento ético, estético, político e cultural enquanto Professor- Artista que
busca desconstruir os estereótipos que persistem sobre o trabalho do artista e do arte-
educador. A hipótese acima me parece fundamental de ser verificada no sentido de melhor
compreender e dimensionar o papel do ensino de Arte no contexto dos Institutos Federais.
Isso considerando que, no Ensino Técnico e Tecnológico preconizado pela proposta de
criação dos Institutos Federais, cabe ao professor de Arte desenvolver a tríade ensino-
pesquisa-extensão, primando pela articulação entre ciência, cultura e trabalho
(FRIGOTTO, 2010). O que significa vincular conhecimentos artísticos, estéticos e
culturais a pesquisas e práticas que visam a formação integral do estudante, contribuindo
com a ampliação e aprofundamento do universo teórico-prático do mesmo.

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OBJETIVO GERAL

Valorizar as práticas arte-educativas desenvolvidas por professores de Arte enquanto


Professores-Artistas que atuam nos territórios do ensino, da pesquisa, da extensão e da
produção artística autoral, abarcando as dimensões ética, estética, política e cultural na
formação integral e na produção artística atual.

Objetivos específicos:
a) Conhecer as práticas docentes-artísticas desenvolvidas pelos professores de Arte no
âmbito do ensino, da pesquisa, da extensão e da poética autoral no contexto de atuação
profissional;
b) Identificar a diversidade e complexidade das conexões estabelecidas entre elementos
pedagógicos e artísticos que compõem as práticas docentes-artísticas dos professores
de Arte pesquisados;
c) Analisar os significados e sentidos educativos e artísticos que permeiam as práticas
docentes-artísticas ocorridas na atuação profissional dos professores de Arte
participantes da pesquisa na perspectiva da atuação enquanto Professores-Artistas;
d) Tornar visíveis a multidimensionalidade, a amplitude e a diversidade de relações,
conhecimentos e territórios enredados nas práticas educativas, artísticas e culturais
desenvolvidas por esses profissionais no contexto do Ensino Profissional, Técnico e
Tecnológico do Instituto Federal no qual atuam.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A contemporaneidade, tem exigido de professores e artistas novos olhares e


atitudes sobre os processos pedagógicos e artísticos, de modo que estes tem reinventado
constantemente suas práticas.
Segundo Lima e Cunha. (2016, p.160-161)

A função do professor de mero transmissor de informações orais já


não é suficiente para as novas gerações (Z, alfa e Beta que estão por
vir) a postura e o lugar do professor foram deslocados, assim como o
artista do séc. XIX, com o surgimento da fotografia.

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Para essas autoras, nesse movimento de deslocamento, o professor de Arte passa


a ser uma referência artística para o aluno, seja para refletir sobre técnicas, conceitos ou
colaborar na realização de projetos individuais, colaborativos ou participativos.
Por sua vez, os artistas têm buscado desenvolver percursos poéticos de criação e
execução de trabalhos artísticos que provoquem a reflexão e aproximação do público com
a obra e do artista com a sociedade, sendo estes propositores de perspectivas e
questionamentos estéticos e culturais, mas também sociais e filosóficos envolvidos na
vida do homem contemporâneo.
Para Forte (2013, p.40)
Um professor-artista também pode ser aquele que encara duas
profissões, a de artista e a de professor, mas também pode ser aquele
que produz subjetividades no envolvimento com práticas artísticas sem
que necessariamente elas recebam o nome de arte, que de alguma forma
contaminem outros espaços desse professor-artista, espaços da sala de
aula, que se incorporem aos seus planejamentos e às suas atividades
enquanto professores.

Temos nesse ponto de vista, o Professor-Artista como um sujeito que assume o


papel de criador e produtor não apenas de Arte e de Cultura, mas de subjetividades
individuais e coletivas que se constituem na interação com seus estudantes e outros pares.
Assim, a adoção do termo Professor-Artista nesta pesquisa para se referir ao
professor de Arte concebe a ideia de um profissional que integra e contempla a prática
docente institucionalizada com a produção artística autoral, sendo ambas permeadas por
encontros, partilhas e trocas de conhecimentos e vivências educativas e artísticas em
constante fluxo e conectadas por diferentes pontos de interesse e atuação.
Nesse ponto nos aproximamos do paradigma ético-estético como base para a
compreensão da subjetividade como propõe Félix Guattari (1992). Para esse autor a
subjetividade seria definida como

o conjunto de condições que torna possível que as instâncias individuais


e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território
existencial auto-referencial, em adjacência ou em relação de
delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva (GUATTARI,
1992, p.19)

Entre essas condições, Guattari (1992) inscreve a Música e as Artes Visuais como
“Universos de referência incorporais” que participam de modo significativo no

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processo de composição da subjetividade, afirmando que a dimensão estética intensifica


nos sujeitos a emancipação na criação de sua subjetivação.
Nesse mesmo sentido, acrescento a contribuição de Vigotski (1999) como um
aporte teórico, cujo conceito de Arte nos permite pensar na sua importância como
elemento fundamental na constituição da subjetividade.
Para esse autor “A Arte é uma espécie de sentimento social” (VIGOTSKI,
1965/1999, p. 308), que provoca um modo específico de pensamento pela via dos
sentimentos e dos sentidos que são socialmente compartilhados e nos aproxima de
diferentes contextos históricos e culturais. Sua importância consiste não no que é capaz
de produzir enquanto produto ou objeto artístico, mas no que causa em nós, nas
mobilizações que provoca, no contato com o desconhecido, com o inusitado que
possibilita novos encontros e relações, tanto do ponto de vista social, como da
subjetividade de cada sujeito.
Ao contemplar o conhecimento artístico em nossa formação estamos contribuindo
com o desenvolvimento das funções psíquicas superiores da imaginação e da criação.
Vigotski (1999) compreende a imaginação como uma função vital do ser humano, que
associada à criação (exercício de escape à repetição), possibilitam um modo diferente de
conhecer e interpretar o mundo, ou seja, de apreender as informações que as experiências
sociais e culturais nos proporcionam.
Assim, as práticas com as linguagens da Arte ampliam a criatividade e a
imaginação, desenvolvem a expressividade humana no sentido de habilitar o sujeito para
dizer o que não tem como ser dito com palavras, mas que se comunica por imagens, sons
e gestos, além de provocar o movimento de revisitar o passado para tecer novos futuros.
Pela perspectiva de Vigotski (1999), confirmo o entendimento de que a Arte deve
fazer parte dos processos formativos de modo a mobilizar o sujeito para expandir
pensamentos, vivências, reflexões e expressões, mediando os significados sociais e os
sentidos pessoais que são atribuídos à vida cotidiana e à forma como os conhecimentos
sistematizados são elaborados e reelaborados.
Nesse sentido, o conceito de Arte de Vigotski (1999) se aproxima do que temos
atualmente como ideia que perpassa as manifestações artísticas contemporâneas, ou seja,
da Arte não mais ser entendida como um conjunto de produtos, mas como um processo
que coincide temporalmente com a vida do artista e, espacialmente com o

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mundo no qual ele vive. Como expressa Archer (2008), na contemporaneidade “A arte é
um encontro contínuo e reflexivo com o mundo em que a obra de arte, longe de ser o
ponto final desse processo, age como iniciador e ponto central da subsequente
investigação do significado” (ARCHER, 2008, p. 236).
Ao ter a Arte como área de conhecimento com a qual lida nos processos de ensino
e de aprendizagem, o professor de Arte acaba por extensão trabalhando com vivências
que ativam a percepção dos sentidos e da subjetividade, que por sua vez ampliam a
experiência educativa para além de conteúdos formalizados e aprendidos
conceitualmente.
Por sua vez, é necessário ao professor de Arte uma postura condizente com a
amplitude subjetiva do trabalho que realiza e dos sentidos que desperta tanto nele como
nos estudantes, assim como no contexto social e cultural onde opera.
Assim, o paradigma ético-estético que citei anteriormente em Guattari encontra
ressonância na ideia da vida como obra de arte, que podemos observar tanto em Nietzsche
(2012) como em Foucault (1985). Enquanto Nietzsche (2012) pensa a existência como
um fenômeno estético no qual a Arte adquire uma justificação prática como possibilidade
de vivenciar e suportar as mazelas da vida, Foucault (1985), que tem as leituras de
Nietzsche como referência e inspiração, apresenta a “estética da existência” como sendo
a culminância de uma postura ética que tem como base as práticas de “cuidado de si”.
Nas palavras de Nietzsche, "Como fenômeno estético a existência ainda nos é
suportável, e por meio da arte nos são dados olhos e mãos e, sobretudo, boa consciência,
para poder fazer de nós mesmos um tal fenômeno" (2012, p. 124 §107). Para este filósofo,
pensar a existência humana como obra de arte pode ser uma forma de encarar a vida como
um processo constante de autocriação que se desenvolve num cenário de múltiplas
relações que não se revelam pela razão, mas que podem ser melhor percebidas pela
sensibilidade artística do sujeito como um modo de superação da própria vida.
A Arte na sua perspectiva, supera a razão na medida em que não recorre a uma
verdade metafísica como fundamento para compreender a realidade. Segundo Nietzsche:
"[...] necessitamos de toda arte exuberante, flutuante, dançante, zombeteira, infantil e
venturosa, para não perdermos a liberdade de pairar acima das coisas, que o nosso ideal
exige de nós. (2012, p. 124 §107)

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Desse modo, ao tomar a Arte como um modo de existência incorporada à vida, tal
qual nos propõe Nietzsche (2012), o sujeito é capaz de interpretar o mundo por meio da
sensibilidade artística, o que o possibilita exercer sua potência criadora numa atitude
crítica e autônoma.
Por sua vez, Foucault (1985), ancorado nas leituras que empreende sobre a
filosofia grega em função dos estudos sobre a questão da constituição do sujeito e dos
processos de subjetivação realizados do final dos anos 70 até sua morte em meados dos
anos 80, argumenta que as práticas de “cuidado de si”3 desenvolvidas na antiguidade
constituem uma “cultura de si” que possibilitam pensar numa arte da existência para o
tempo presente.
As práticas de “cuidado de si” são tomadas por Foucault (1985) como um conjunto
de técnicas e exercícios que foram desenvolvidas tanto individualmente, por meio de
ações que cada sujeito empreende sobre si mesmo, como coletivamente, ou seja, como
prática social. O cultivo constante dessas práticas de cuidado de si proporciona um saber
sobre si mesmo, configurado numa espécie de estilo de vida, assim como um modo de
conhecimento sobre a sociedade. As práticas de cuidado de si são constitutivas do sujeito,
sendo ele formado (e não determinado) pelos atos e atitudes que se internalizam no seu
modo próprio de agir, elas devem proporcionar ações e pensamentos de transformação e
modificação ao longo de sua existência, de modo que o sujeito seja capaz de tomar as
rédeas de sua vida com liberdade e autonomia para viver conforme suas escolhas.
Segundo Foucault (1985), o paradigma filosófico da modernidade teria afastado o
cuidado de si do pensamento filosófico, sendo necessário retomar essa concepção ética
como uma forma de se libertar das normas e imposições que nos condicionam. Para este
autor, ao realizarmos práticas de cuidado de si refletimos sobre nossas próprias condições,
desejos, limites e potencialidades e “esculpimos” (criamos), tal qual uma obra de arte,
uma nova forma de viver, uma “estética da existência”.

3
A respeito da expressão “cultura de si”, Foucault explica que “Por essa expressão é preciso entender que
o princípio do cuidado de si adquiriu um alcance bastante geral: um preceito segundo o qual convém ocupar-
se consigo mesmo é em todo caso um imperativo que circula entre numerosas doutrinas diferentes; ele
também tomou a forma de uma atitude, de uma maneira de se comportar, impregnou formas de viver;
desenvolveu-se em procedimentos, em práticas e em receitas que eram refletidas, desenvolvidas,
aperfeiçoadas e ensinadas; ele constituiu assim uma prática social, dando lugar a relações interindividuais,
a trocas e comunicações e até mesmo a instituições; ele proporcionou, enfim, um certo modo de
conhecimento e a elaboração de um saber”. (FOUCAULT, 1985, p. 50).

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Desse modo, compreendo a estética da existência como uma referência coerente


com a realidade contemporânea, no sentido de fornecer princípios para modos de pensar
e agir de forma ética, de promover a liberdade de criar e transformar própria vida
conforme esta lhe pareça mais significativa, em detrimento à submissão a padrões morais
de comportamento e de conduta social.
Considero assim a aproximação com a estética da existência de Foucault (1985)
como um aporte para pensar a Arte enquanto elemento fundamental na constituição
humana da Vida de toda e qualquer pessoa, e mais especificamente da constituição do
Professor-Artista, que tem o ensino da Arte e a produção artística como práticas que
proporcionam experiências ativadoras de sentidos pessoais e coletivos que o
propulsionam a buscar a sensação de beleza de acordo com a percepção pessoal do que
faz sentido para cada sujeito conforme a realidade experienciada.
Para Galvão,
A “estética da existência”, que deriva de um processo de trabalho sobre
si estabelecido pelo sujeito, é de fundamental importância de ser pensado,
pois, ao constituir estilos diferenciados de vida, promove o surgimento
de focos de resistência aos mecanismos de poder e dominação que têm
como objetivo normalizar e padronizar os modos de vida dos sujeitos
(GALVÃO, 2014, p. 157).

Ao desenvolvermos um processo de “cuidado de si”, ou seja, um processo de


descoberta e empreendimento de práticas que integram aspectos físicos e mentais,
práticos e conceituais, técnicos e poéticos, que por sua vez promovam uma existência na
qual se busca bem estar (mas também estranhamento e deslocamento) emocional,
intelectual, psíquico, social, cultural e político, estamos nos constituindo sujeitos
conscientes da condição de nossa existência em constante construção e transformação.
Isso implica na construção de uma vida percebida e experimentada pela ótica da
Arte (livre, criativa e imaginativa), de uma estética da existência, e não da visão
mercadológica/capitalista (pré estruturada, normatizada e padronizada) tão valorizada
pelas políticas educacionais implementadas nos últimos anos no Brasil, que no caso do
contexto de atuação dos professores de Arte que participam desta pesquisa, preconizam
uma ênfase na formação técnica voltada para o mercado de trabalho e não para a formação
integral do sujeito na qual o trabalho é uma dimensão fundamental da vida.
Nesse aspecto, a postura ética defendida por Foucault (1985) como modo de
existência se apresenta como referência para a atitude profissional cada vez mais
necessária de ser valorizada e visibilizada nas práticas dos professores de Arte em geral

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e na perspectiva dos Professores-Artistas que atuam na formação profissional, como é o


caso desta pesquisa.
Desse modo, alguns questionamentos se fazem necessários como fundamentais
para serem melhor explorados durante a pesquisa de campo que pretendo empreender:
Quais, entre as práticas artísticas e docentes desenvolvidas por cada um dos professores
de Arte participantes desta pesquisa podem ser consideradas como práticas de cuidados
de si e que por sua vez constituem existências estéticas que os posiciona como
Professores-Artistas? Como as práticas voltadas para a poética pessoal reverberam e
transformam as práticas pedagógicas e vice-versa, num movimento de constante
construção e transformação das relações entre Arte, Vida e Educação? Em que medida
as existências estéticas dos professores de Arte pesquisados potencializam a atuação
profissional de cada um como Professores-Artistas e também como um coletivo de
profissionais que tem a Arte como campo de existência e resistência no contexto do
Instituto Federal em que atuam?
Me arrisco assim a pensar as práticas docentes-artísticas como práticas de cuidado
de si, que ao serem exercitadas pelo professor de Arte configuram sua existência estética
como Professor-Artista, uma vez que são essas práticas criadas e experimentadas por ele
ao longo se sua vida profissional, que lhe possibilitam uma constituição enquanto sujeito
que vive formas singulares e próprias de perceber a vida em diferentes aspectos (sonoro,
visual, corporal, sinestésico, tátil), superando dificuldades, proporcionando
conhecimentos e ativando afetos que impactam na constituição de outras subjetividades.
Assim entendidas, suas práticas profissionais se convertem numa atitude de
afirmação de uma existência estética, ética e política que não se rende aos padrões
educativos e de ensino que entendem a Arte e a Educação de modo estereotipado, ou seja,
limitadas a expressões individuais, a reproduções de modelos ou a técnicas de produção
de objetos. Por sua vez, essa atitude repercute na resistência a práticas arte- educativas
que se revestem de um caráter normativo (técnico) e regulado por padrões de beleza que
mais tolhem a capacidade criativa e imaginativa de estudantes e professores, do que
possibilita o desenvolvimento do seu potencial artístico e crítico.
Desse modo, ouso pensar que se o professor de Arte almeja uma vida profissional
que reverbere na formação integral de seus estudantes, assim como em produções
artísticas autorais que expressem sua visão de mundo, é preciso que ele esteja

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imbuído da ideia de que sua vida seja de fato uma obra de arte em constante processo de
construção e transformação. Isso porque, quando se toma a vida como obra de arte, seja
pelo viés proposto por Nietzsche (2012) de ajustar artisticamente nossas forças e
fraquezas como pulsão que potencializa a nossa condição humana para existir, ou pela
perspectiva de Foucault (1985) de assunção de uma atitude ética e estética com a
existência humana, o professor de Arte torna-se testemunho da possibilidade de uma
existência docente-artística comprometida com sua autonomia e emancipação enquanto
sujeito e coletividade.
Por essa ótica, podemos afirmar que o professor de Arte, ao incorporar a postura
de Professor-Artista tem um papel fundamental na formação integral, que por sua vez
condiz com o ensino de Arte que se faz necessário na contemporaneidade e que
compreende a Arte como Conhecimento e Cultura (BARBOSA,1998).
Por isso, a investigação proposta nesta pesquisa busca produzir conhecimentos
sobre a complexidade dos múltiplos e heterogêneos processos de criação e produção em
Arte e sua participação na formação integral dos estudantes do Ensino Técnico e
Tecnológico, no sentido de agenciar a capacidade de criação, de expressão, de reflexão e
de invenção sobre a vida, a cultura, a sociedade e a história desses sujeitos.
Por esta perspectiva, a presente pesquisa de doutorado se apresenta como uma
possibilidade de discussão do papel da Arte na formação integral do sujeito e da atuação
do professor de Arte enquanto Professor-Artista, ou seja como profissional comprometido
com uma postura pedagógica criadora e dialógica, no sentido expresso por Freire (2000)
de provocar e propor “leituras de mundo” a partir do compartilhamento de vivências,
desejos, angústias, conquistas, retrocessos, expectativas, memórias, afetos, entre outros
fatores, que compõe as subjetividades individuais e coletivas de professores e estudantes
e que se atravessam no processo de criação e produção de um trabalho artístico.

3. JUSTIFICATIVA

Apesar da relação professor-artista ter sido tema de várias pesquisas que tratam da
importante complementaridade entre esses dois universos de atuação profissional que se
aproximam e se distanciam de maneiras diversas na composição do sujeito que ensina e
que produz Arte (ALMEIDA, 2009; FORTE, 2013, 2018; HONORATO, 2014;

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LAMPERT, 2016; LIMA; CUNHA, 2016; LOPONTE, 2005; LORENZONI, 2018;


MOMOLI, 2019; MOSSI, 2017; PASTE, 2017; PEREIRA, 2016; VELLOSO, 2019),
são poucos os trabalhos que se voltam para analisar as nuances e o alcance desse binômio
na performance de professores de Arte que atuam em instituições de ensino profissional,
técnico e tecnológico, como é o caso dos Institutos Federais.
A maioria das pesquisas nessa área específica ficam no âmbito dos professores de
Arte que atuam em cursos de formação superior contemplando inclusive questões
pertinentes à essa relação na formação docente inicial, como é o caso de Almeida (2009),
Lampert (2016), Paste (2017) e Forte (2013) e iniciativas de formação continuada como
na tese de Pereira (2016), só para citar alguns exemplos.
No entanto, as pesquisas encontradas que tratam das condições específicas de
trabalho dos professores de Arte nos moldes do cargo de professor E.B.T.T.4, ou seja, que
consideram a atuação desses profissionais abarcando ações de ensino, pesquisa e extensão
com vistas à uma formação integral do sujeito, tendo como pano de fundo a preparação
para o trabalho, são bastante significativas e apontam a necessidade de que este campo de
atuação seja mais explorado (AMARAL, 2014, 2021; DIEHL, 2015; GUIMARÃES,
2017; SIQUEIRA, 2019).
Cabe notar ainda que, apesar do Ensino Profissional ter no Brasil uma história
antiga de relação com a formação profissional em várias carreiras voltadas para campo
da Arte que remonta à criação da Academia Imperial de Belas Artes em 1816 e dos Liceus
de Artes e Ofícios a partir de 18505, este difere da proposta de ensino profissional e
técnico dos atuais Institutos Federais.
Isso porque, a criação dos Institutos Federais implementada efetivamente a partir
de 2008, tem como horizonte a formação integral do estudante, articulada ao seu
desenvolvimento pleno e ao mundo do trabalho, contribuindo com a ampliação e
aprofundamento do universo teórico-prático do mesmo (FRIGOTTO, 2010).
Desse modo, justifico a importância desta pesquisa sobre as nuances e
especificidades da atuação do professor de Arte na Educação Profissional, uma vez que
as demandas educacionais atuais apontam a necessidade de extrapolar a aprendizagem

4
O trabalho do professor de Arte no contexto dos Institutos Federais se inscreve no cargo de Professor
E.B.T.T. (Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico) cuja carreira acadêmica prevê a atuação
profissional em diferentes níveis de ensino, além do desenvolvimento de ações de ensino, pesquisa e
extensão com estudantes e comunidade acadêmica.
5
Sobre a história da relação do Ensino da Arte com a Educação Profissional, ver mais em: Licenciatura em
Artes Visuais. CIAR-UFG. Disponível em: <https://publica.ciar.ufg.br/ebooks/licenciatura-em-artes-
visuais/modulo/2/001.html>. Acesso em: 22 jun. 2022.

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sistemática da escola, abrangendo a complexidade e a diversidade como possibilidades


de inclusão dos diferentes sujeitos que ocupam esse espaço educativo.
Ao provocar no estudante a experiência do processo de vivência artística e
cultural, ou, seja, da dimensão estética que compõe sua subjetividade, tal qual o artista a
experimenta em seu percurso poético, o professor de Arte contribui sobremaneira com a
formação da identidade cultural de todos os envolvidos nos processos educativos,
reverberando na produção cultural no âmbito de alcance do Instituto Federal em que atua.
Por sua vez, provocar essa experimentação com os estudantes adquire sentido se
o professor vivencia uma prática artística em constante processo de investigação, na qual
busca trilhar diferentes caminhos num mesmo território, ressignifica conceitos e cria
outras possibilidades. Daí nossa inquietação em conhecer os percursos poéticos dos
professores de Arte e suas ressonâncias nas práticas docentes em Arte realizadas nos
espaços em que atuam, de modo a acompanhar o movimento de retroalimentação entre
ambos.
Assim, a motivação para a realização desta pesquisa incide na necessidade de
argumentar sobre a potência criadora e transformadora da Arte - que perpassa as
experiências docentes-artísticas propostas e vivenciadas pelos professores de Arte - como
possibilidade de constituição de uma formação integral sensível, crítica, política e
inventiva diante do trabalho, da cultura, da sociedade, enfim da própria vida.

4. METODOLOGIA

4.1. Contextualização

Considerando que esta pesquisa tem nas relações entre sujeitos seu foco de
investigação, se caracterizando pela produção de conhecimentos a partir do
acompanhamento de processos humanos dinâmicos e da constituição de suas
subjetividades, entendemos que a abordagem metodológica definida deve contemplar a
liberdade e a complexidade como princípios.
Desse modo, esta pesquisa caracteriza-se por uma investigação cartográfica, de
abordagem qualitativa e exploratória. Da perspectiva ontológica, é de natureza
subjetiva por procurar valorizar as práticas arte-educativas desenvolvidas por

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professores de Arte enquanto Professores-Artistas que atuam nos territórios do ensino, da


pesquisa e da extensão, abarcando as dimensões ética, estética, política e cultural na
formação integral e na produção artística atual. Considero que o exercício de atribuição
de valor, nessa perspectiva, se dará por meio da análise das nuances e intensidades das
práticas observadas, por estar inserido no contexto (tempo-espaço) educativo, artístico
histórico, social e cultural dos sujeitos da pesquisa. Os parâmetros de observação serão
definidos e estruturados durante o curso da investigação visando desvelar as dimensões
éticas, estéticas, políticas, culturais, dentre outras, que só se tornam visíveis por meio das
particularidades e especificidades das ações artístico-pedagógicas. Tem por base
epistemológica a Complexidade conforme postula Morin (2005), por apresentar uma
visão complexa e ampliada da realidade social contemporânea, ou seja, como fenômeno
multifacetado composto por inúmeras interações e por interferências entre várias
unidades, mas também por desordem, incertezas, indeterminações e fenômenos
aleatórios, enfim, em relação com o acaso (MORIN, 2005).
Conforme define Morin (2005, p.13) “[...] a complexidade é um tecido
(complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente
associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo”, ou seja, uma trama de ações,
acontecimentos, interações, determinações, retroações e acasos que constitui um
fenômeno.
Nessa perspectiva, o olhar do pesquisador para a realidade a ser investigada deve
considerar a sua multidimensionalidade e a infinidade de nuances que a constituem devem
ser respeitadas como inerentes a ela, de modo que a busca pela sua compreensão diz
respeito “ao mundo empírico, à incerteza, à incapacidade de ter certeza de tudo, de
formular uma lei, de conceber uma ordem absoluta” (MORIN, 2005, p.68).
Nesse mesmo sentido, encontro na Cartografia o aporte metodológico que se
apresenta compatível com o percurso de investigação que pretendo empreender nesta
pesquisa. Partindo da ideia de “Rizoma” (Deleuze & Guattari, 1995) como uma estrutura
que não se define pelos seus limites externos, podemos pensar as práticas docentes-
artísticas, objeto de investigação desta pesquisa, como experiências abertas que não se
encerram na materialização de um produto, sendo que cada aspecto de sua execução
(conceitual, matérica, técnica, sensível, etc) pode a qualquer momento, estabelecer uma
conexão com outras dimensões de outras estruturas e em outros contextos não pensados
previamente.

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Segundo Kastrup (2015, p. 32)

“A cartografia é um método formulado por Gilles Deleuze e Félix


Guattari (1995) que visa acompanhar um processo, e não representar
um objeto. Em linhas gerais, trata-se sempre de investigar um processo
de produção. De saída, a ideia de desenvolver o método cartográfico
para utilização em pesquisas de campo no estudo da subjetividade se
afasta do objetivo de definir um conjunto de regras abstratas para serem
aplicadas. Não se busca estabelecer um caminho linear para atingir um
fim”.

Por sua vez, a proposição de Luigi Pareyson (1993) de que “A arte é um tal fazer
que enquanto faz inventa o por fazer” reafirma essa compatibilidade da Cartografia como
método de pesquisa que permite acompanhar processos arte-educativos em curso,
abrangendo a multiplicidade de conexões que a experiência com a arte propicia e os
diversos modos e intensidades com que afetam os sujeitos que a vivenciam.
A abordagem metodológica de análise dos dados será a Análise do Discurso
na orientação da Análise das Práticas Discursivas conforme Foucault (2008), na qual
o discurso é configurado por enunciados, ou seja, produções de diferentes naturezas que
formam sistematicamente os objetos de que falam produzindo efeitos de sentido.
Na perspectiva de Foucault, a análise das práticas discursivas busca
[...] compreender o enunciado na estreiteza e singularidade de sua
situação; de determinar as condições de sua existência, de fixar seus
limites da forma mais justa, de estabelecer suas correlações com os
outros enunciados a que pode estar ligado, de mostrar que outras formas
de enunciação exclui [...] A questão pertinente a uma tal análise poderia
ser assim formulada: que singular existência é esta que vem à tona no
que se diz e em nenhuma outra parte? (FOUCAULT, 2008, p.31)

De acordo com Fischer (2003, p. 377) a atitude metodológica que aprendemos


com Foucault consiste em “[...] prestar atenção à linguagem como constituidora, como
produtora, como inseparável das práticas institucionais de qualquer setor da vida humana
[...]”.
Nessa perspectiva, a pesquisa minuciosa de práticas ordinárias e de rituais do
cotidiano “[...] pode propiciar a possibilidade de nos defrontarmos com coisas ditas e
coisas feitas, fatos surpreendentes, questionados naquilo que até então tinham de óbvios
e mostrados a partir de saliências, reticências, descontinuidades, acasos históricos”
(FISCHER, 2003, p. 378).

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Assim, a análise das práticas discursivas possibilitará compreender a


multidimensionalidade e complexidade das conexões estabelecidas pelos professores de
Arte em suas práticas docentes-artísticas, de modo a abarcar os múltiplos e heterogêneos
aspectos envolvidos nas relações entre os sujeitos participantes da investigação e os
territórios nos quais suas práticas ocorrem.

4.2 Procedimentos de levantamento dos dados

Sendo essa uma pesquisa que se pretende aberta e inventiva no modo de conhecer,
na qual os procedimentos possam ser criados a partir de relações de confiança, afeto e
cumplicidade construídas entre pesquisador e pesquisados, podemos concluir que
A cartografia nos permite inscrever, num plano de forças onde
pesquisador e pesquisado estão mergulhados na experiência, no
propósito de construir pistas como indicações para a efetiva validação
da investigação, como procedimento não para ser aplicado, mas para ser
experimentado. A prática cartográfica é avessa a unificações e promove
sua abertura a variações, a multiplicidades, a desvios e a
indeterminações, pois o cartógrafo não varia de método, mas faz o
método variar. (PASTE, 2017, p. 11-12)

Assim, como Paste (2017), percebo na Cartografia uma abordagem metodológica


qualitativa que possibilita transitar pelos territórios da docência e da produção artística e
poética dos professores de Arte, conhecendo e analisando as práticas que constituem seus
processos docentes-artísticos nos diferentes tempos- espaços que configuram suas
subjetividades enquanto Professores-Artistas.
Desse modo, os encontros entre pesquisadora, sujeitos da pesquisa e contextos nos
quais ocorrem suas práticas docentes-artísticas acontecerão presencialmente durante o
período de um ou dois dias, conforme a disponibilidade dos professores de Arte
pesquisados de receberem a pesquisadora no seu campus de atuação para acompanhar e
observar práticas de ensino, pesquisa e/ou extensão e práticas artísticas autorais que os
mesmos considerarem significativos conforme a sua realidade e que estejam em
consonância com os objetivos da pesquisa expostos previamente pela pesquisadora no
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Durante a minha presença como pesquisadora no contexto de atuação do sujeito
pesquisado - que pode abranger desde o campus do Instituto Federal no qual atua, a outros
locais que este perceber como pertinentes de serem explorados, como por

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exemplo, ateliês, espaços culturais da cidade, entre outros de escolha do professor de Arte
- pretende-se que seja possível realizar registros imagéticos (fotos e esquemas visuais) de
espaços, ações e produções docentes-artísticas que despontem como significativos para o
sujeito pesquisado e para a pesquisadora durante o percurso. É importante esclarecer que
os registros realizados por meio de fotografia respeitarão o direto de imagem das pessoas
retratadas de modo a terem como foco detalhes e fragmentos que componham o ambiente
da pesquisa, evitando o risco de que por meio da foto seja possível identificar pessoas.
Também pretendo realizar durante o período de imersão no contexto de atuação docente-
artística, uma entrevista semiestruturada com o professor de Arte de cada campus
visitado, sendo a mesma prevista para ter duração de 90 minutos e ocorrer em local e
horário definidos pela pessoa entrevistada, seguindo o Roteiro de Entrevista
Semiestruturada contendo 12 perguntas divididas em 3 blocos e registrada por meio de
gravação de áudio.
Os encontros com cada professor de Arte no seu contexto específico de atuação
(campus e cidade) serão agendados em conformidade com o calendário acadêmico do
Instituto Federal em questão, respeitando as especificidades de cada campus, os recessos
e feriados locais e períodos de férias escolares. Desse modo, os encontros ocorrerão nos
períodos entre outubro a dezembro de 2022 e fevereiro a junho de 2023.
As estratégias de construção de dados serão a observação, a entrevista
semiestruturada (individual) e o registros imagéticos por se apresentarem como
possibilidades abertas e sujeitas à complexidade dos processos que possam aproximar e
experimentar os sujeitos da pesquisa.
Uma vez que a pesquisa cartográfica estabelece que o pesquisador acompanhe o
ritmo dos processos numa posição de atenção ao acontecimento para captar sua
expressividade e singularidade (KASTRUP, 2015), entendemos ser necessário
estabelecer metodologicamente etapas que contemplem registros imagéticos (fotos e
esquemas visuais) e sonoros (gravação de voz) produzidos a partir do encontro da
pesquisadora com os contextos e os sujeitos envolvidos nas práticas docentes-artísticas
dos professores pesquisados, assim como produções artísticas visuais (fotos, desenhos,
esquemas visuais, diagramas, entre outras possibilidades de notação visual) e notas de
observação (anotações) produzidas durante os deslocamentos espaciais e os trajetos
pedagógicos, artísticos e reflexivos percorridos no contexto de atuação docente-artístico
de cada um desses sujeitos e que possam ser utilizados pela pesquisadora na elaboração

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e produção de um trabalho artístico-poético autoral (Cartografia Artística6). No decorrer


da pesquisa, estas etapas podem acontecer de modo sequencial ou em momentos
concomitantes conforme a dinâmica específica de cada contexto e sujeito pesquisados,
assim como do caminho a ser traçado pela pesquisadora durante o andamento da pesquisa.
1ª etapa – Aproximações = Convite aos professores de Arte do Instituto Federal localizado
no Triângulo Mineiro, feito a partir de contato por correio eletrônico institucional, para
participação na pesquisa mediante exposição dos objetivos propostos pela pesquisadora
conforme o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
2ª etapa – Deslocamentos = Encontros com os professores de Arte no contexto de atuação
docente-artístico, observação, acompanhamento e registros de práticas de ensino,
pesquisa e/ou extensão e práticas artísticas autorais.
3ª etapa – Com Vivências = Realização de Entrevistas individuais semiestruturadas com
os professores de Arte seguindo Roteiro de Entrevista Semiestruturada.
4ª etapa – Conexões = Traçados iniciais dos territórios percorridos pela pesquisadora,
identificação das pistas encontradas nas etapas Deslocamentos e Com Vivências e
definição das possibilidades de análise.
5ª etapa – Mapeamentos = Produção de Cartografia Artística composta por desenhos de
mapas/diagramas/esquemas visuais individuais/coletivos e colagens e/ou montagens
virtuais com fragmentos de fotos e anotações, dimensionando e reconfigurando
visualmente os percursos, os territórios e as conexões percebidas pela pesquisadora
durante todo o processo de construção e análise de dados.
6ª etapa – Atravessamentos = Exposição da Cartografia Artística produzida -
compartilhamento de registros, experiências e conhecimentos vivenciados por meio da
pesquisa.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será apresentado virtualmente a
cada professor de Arte no momento do convite para participação na pesquisa e será
enviado virtualmente por meio eletrônico para assinatura. A devolução do referido Termo
assinado será realizada também virtualmente por meio eletrônico.

6
A ideia de Cartografia Artística se inscreve nesta pesquisa no sentido próximo ao apresentado por
Gonçalves & Carmo (2017) no artigo Mapas abertos, espaços experimentais em cartografias de artistas
no qual as autoras citam exemplos de artistas que utilizam procedimentos comuns aos cartógrafos (porém
numa perspectiva pessoal, metafórica e ambígua), como mote subjetivo para o processo de criação artística.

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5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DOS PARTICIPANTES

Para cumprir os objetivos propostos nesta pesquisa, pretendo desenvolver a


investigação com professores de Arte que fazem parte do quadro de professores E.B.T.T
– Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – do IFTM – Instituto Federal do Triângulo
Mineiro.
Para tanto, é preciso considerar que atualmente o quadro de professores de Arte
desta instituição de ensino é composto por 09 pessoas (entre as quais se encontra esta
pesquisadora), que esse número total de professores está distribuído em 6 cidades e 8
campi (Campus Ituiutaba, Campus Uberlândia, Campus Uberlândia Centro, Campus
Uberaba, Campus Uberaba Parque Tecnológico, Campus Patos de Minas, Campus
Patrocínio e Campus Paracatu), e que há um professor de Arte lotado em cada campus
(com excessão apenas do Campus Uberaba que possui dois professores de Arte).
Desse modo, os critérios de inclusão dos sujeitos na pesquisa serão os seguintes:

a) Ser professor E.B.T.T. efetivo da área de Arte do IFTM, independente do


tempo de atuação na instituição e da habilitação específica na graduação ser
em Artes Plásticas/Visuais, Música ou Teatro/Artes Cênicas.

b) Estar atuando em ações de ensino, ministrando o componente curricular Arte


e/ou qualquer outro componente curricular relacionado à área de Arte no
IFTM;

c) Já ter desenvolvido ou estar desenvolvendo projeto de pesquisa e/ou de


extensão no campus de atuação ou na instituição IFTM junto à Reitoria ou
ações multicampi (seja na condição de participante ou de coordenador).

d) Ter uma produção artística autoral em qualquer linguagem artistica.

Os critérios de exclusão são: a) se afastar das atividades docentes para qualificação


ou outros motivos que impeçam a continuidade da participação na pesquisa; b) desinteresse
ou falta de disponibilidade para participar da pesquisa; c) não autorizar o direito de uso de
imagem, visto que a produção artística gerada durante a pesquisa ocorrerá a partir de
registros de imagens do contexto pesquisado.
Os sujeitos pesquisados serão esclarecidos da possibilidade de deixarem de

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participar da pesquisa a qualquer momento. Entretanto mesmo se houver
impossibilidades, desistências ou abandono a investigação poderá ser realizada com um
percentual de até 37,5% da totalidade de 8 sujeitos previstos, pois como a pesquisa é
qualitativa, é possível uma análise substancial dos dados levantados com esta quantidade
de participantes.

6. RISCOS E BENEFÍCIOS

Riscos
No que diz respeito aos riscos que o projeto pode trazer aos participantes
apontamos a possibilidade de identificação, pois pode ocorrer a necessidade de utilizar
algum material imagético produzido durante a pesquisa que remeta a técnicas específicas,
à poética, à temática ou à materialidade da produção artística autoral do sujeito
pesquisado, uma vez que muitas dessas produções são ou já foram divulgadas por outros
meios como exposições, espetáculos, catálogos e apresentações. Nesse sentido, pelo
próprio caráter da pesquisa, ter sua identidade desvelada é algo passível de ocorrer ao
participante pois a sua produção artística autoral comporta singularidades que são próprias
da expressão poética de sua arte. Para evitar que os sujeitos pesquisados sejam
identificados, a denominação de cada participante no corpo da tese será feita por uma
palavra aleatória escolhida por cada sujeito pesquisado. Do mesmo modo, o campus no
qual cada participante atua será identificado na tese por um número conforme a sequência
de visita a campo realizada pela pesquisadora. Acredito que essas providências serão
suficientes para minimizar ao máximo os riscos de identificação associados à pesquisa.

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Benefícios
Acreditamos que os benefícios serão: a) a valorização do trabalho docente-
artístico realizado pelos professores de Arte enquanto Professores-Artistas; b) a
visibilidade das práticas docentes-artísticas como constituidoras de processos de
formação integral, artística e cultural dos estudantes da Educação Profissional; c) a
participação efetiva no compartilhamento de vivências pedagógicas-artísticas que
constroem uma percepção mais abrangente da atuação do professor de Arte e do artista
na sociedade; d) a modificação de conceitos ultrapassados a respeito da Arte e do Ensino
de Arte.

7. METODOLOGIA DE ANÁLISE DOS DADOS

A abordagem metodológica de análise dos dados será a Análise do Discurso


na orientação da Análise das Práticas Discursivas de Michel Foucault (2008) cujos
construtos de conhecimento possibilitarão compreender as práticas discursivas e não-
discursivas que compõem as diferentes práticas docentes-artísticas empreendidas na
atuação de professores de Arte no contexto do Ensino Profissional de um Instituto Federal.
A observação das ações de ensino, pesquisa e/ou extensão e da produção artística
autoral dos sujeitos pesquisados no contexto de atuação, assim como a entrevista
semiestruturada e os registros imagéticos comporão um conjunto de informações que será
sistematicamente organizado de modo a permitir uma análise substancial de como as
dimensões ética, estética, política, cultural, entre outras, se conectam nas práticas
docentes-artísticas do professor de Arte na perspectiva de atuação enquanto Professor-
Artista.
Desse modo, será realizada uma triangulação dos dados construídos: pela
percepção da pesquisadora (notas da observação), pelo relato dos pesquisados (respostas
à entrevista) e pela análise dos registros imagéticos produzidos (imagens - fotos e demais
produções visuais). A triangulação dos dados permitirá perceber nas práticas discursivas
e não-discursivas em jogo, a multiplicidade e a complexidade das conexões entre as
dimensões éticas, estéticas, políticas e culturais que configuram as práticas docentes-
artísticas.

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8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Submissão do projeto ao CEP/UFU 26/setembro/2022 a 26/novembro/2022

Contato com os Professores de Arte do 29/novembro de 2022


IFTM por correio eletrônico ou outro meio
institucional para apresentar a proposta
de pesquisa e fazer o convite de
participação.
29/novembro de 2022
Apresentação do TCLE
Recebimento dos TCLEs 29/novembro a 05/dezembro 2022

Encontros para Observação e 06/dezembro/2022 a 15/dezembro/2022

Entrevista com os Professores de Arte e 14/fevereiro/2023 a 30/junho/2023

Levantamento de dados 06/dezembro/2022 a 30/junho/2023


Registro/organização dos dados 06/dezembro/2022 a 30/junho/2023
levantados
Análise dos dados 06/dezembro/2022 a 30/dezembro/2023
Elaboração e produção de Cartografia 06/dezembro/2022 a 30/junho/2024
Artística

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9. ORÇAMENTO

A pesquisa não conta com nenhum tipo de financiamento institucional, agências


de fomento ou qualquer outro tipo de patrocínio.

As seguintes despesas serão custeadas pela pesquisadora:

Item Quantidade Valor Valor total


unitário
Impressão do texto da qualificação 5 R$ 16,00 R$ 80,00
(base de cálculo 80 páginas a R$ 0,20)
Impressão da Tese 5 R$ 40,00 R$ 200,00
(base de cálculo 200 páginas a R$ 0,20)
Passagem rodoviária ida e volta 2 R$ 129,16 R$ 258,32
Uberlândia-Paracatu
Hospedagem em Paracatu - diária 1 R$ 192,00 R$ 192,00

Passagem rodoviária ida e volta 2 R$ 106,20 R$ 212,40


Uberlândia-Patos de Minas
Hospedagem em Patos de Minas - diária 1 R$ 119,00 R$ 119,00

Passagem rodoviária ida e volta 2 R$ 73,73 R$ 147,46


Uberlândia-Patrocínio
Hospedagem em Patrocínio - diária 1 R$ 198,00 R$ 198,00

Passagem rodoviária ida e volta 2 R$ 59,99 R$ 119,98


Uberlândia-Uberaba
Hospedagem em Uberaba - diária 2 R$ 184,00 R$ 368,00

Passagem rodoviária ida e volta 2 R$ 68,17 R$ 136,34


Uberlândia-Ituiutaba
Hospedagem em Ituiutaba - diária 1 R$ 99,00 R$ 99,00

Deslocamentos entre rodoviária, campus e 10 R$ 60,00 R$ 600,00


hospedagem (por dia)
Refeições e lanches (por dia) 10 R$ 55,00 R$ 550,00

Impressão imagens - Cartografia Artística


Impressão digital de imagens em cores em 8 R$ 120,00 R$ 960,00
adesivo vinil laminado em placa de pvc
branco de 2 mm de espessura.
Material para montagem de exposição
1 R$ 250,00 R$ 250,00
(fita dupla face, impressões de parede e piso
entre outros).
Valor Total do investimento em 30 meses R$ 4.490,50

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