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DOI: 10.47456/krkr.v1i7.

35885

Componente Curricular Arte: as linguagens artísticas e o


ensino não-presencial em tempos de Pandemia
Art as Curricular Component: artistic languages and remote teaching in
pandemic times 305

André Luiz de Sousa


Arnaldo Leite de Alvarenga

Resumo: Este ensaio se propõe a refletir sobre a presença das linguagens artísticas
artes visuais, dança, música e teatro do Componente Curricular Arte no contexto do
Regime Especial de Atividades Não-Presenciais (REANP) da Secretaria de Estado da
Educação de Minas Gerais (SEE-MG), implementado devido à Pandemia do COVID-
19. Analisado sob a perspectiva da atuação artístico-docente, pretende-se
dimensionar a presença e as abordagens das linguagens artísticas em 2020 no
desenvolvimento de habilidades do componente curricular por meio da análise do
documento Planos de Estudos Tutorado (PET) do REANP SEE-MG. Lançando mão de
metodologias quali-quantitativas vale-se da Análise de Conteúdo Temático Categorial
(BANDIN, 2011) para examinar de quais maneiras as linguagens artísticas têm tido
condições de figurar no ensino de Arte para além da primazia histórica das artes
visuais.
Palavras-chave: Arte; Ensino Remoto; Linguagens Artísticas; Ensino-aprendizagem.

Abstract: This essay aims to reflect on the presence of artistic languages: visual arts,
dance, music and theater in Art as a Curriculum Component in the context of REANP
(Special Regime of Remote Activities) in Minas Gerais State Department of Education
(SEE-MG) implemented due to the COVID-19 pandemic. From the perspective of
artistic-teaching performance, it is intended to scale the presence and approaches of
artistic languages in 2020 in the development of skills in the curricular component
through the analysis of SEE-MG REANP document PET (Tutored Study Plans).
Through quali-quantitative methodologies, Categorical Thematic Content Analysis
(BANDIN, 2011) is used to examine in which ways artistic languages are present in art
education beyond the historical primacy of the visual arts.
Keywords: Art; Remote Teaching; Artistic Languages; Teaching-learning.

Introdução

Este ensaio se propõe a refletir sobre a presença das linguagens


artísticas do Componente Curricular Arte no Regime Especial de Atividades
Não-Presenciais (REANP) da Secretaria de Estado da Educação de Minas
Gerais (SEE-MG) no contexto da Pandemia do COVID-19, verificando as
principais estratégias e instrumentos adotados para sua implementação, a

o Aplicativo Conexão Escola. Analisados na perspectiva da atuação artístico-


docente, pretende-se dimensionar o desenvolvimento de habilidades das

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linguagens artísticas artes visuais, dança, música e teatro em tais dispositivos
metodológicos adotados no ensino remoto emergencial de 2020.
Para tanto será apresentado um panorama do Ensino de Arte no Brasil a
partir das autoras Barbosa (2012) e Ferraz e Fusari (1992), discutindo alguns
paradigmas que atravessam as práticas educativas dessa disciplina no 306

contexto escolar. Busca-se salientar, ainda, as perspectivas curriculares que

pela tradição acadêmica, reivindicando a Arte como campo de conhecimento


com epistemologias e metodologias próprias. Bem como, indaga-se sobre a
predominância das artes visuais nos conteúdos ministrados na disciplina.
Desse modo, compreende-se que a Arte como disciplina do currículo
escolar passou a figurar na educação básica em um período, relativamente,
recente1 se comparado com outras áreas disciplinares presentes na escola. E,
de lá pra cá, enfrenta desafios para o desenvolvimento de seus conteúdos e
seu reconhecimento como área de conhecimento, bem como a presença
igualitária das linguagens artísticas (artes visuais, dança, música e teatro) nas
práticas educativas do componente curricular. Sendo assim, precisa-se
dimensionar, em tempos atuais, de que maneira tais conhecimentos estão
configurados na vida escolar dos estudantes, relembrando as tradições
construídas até aqui e, talvez, repensá-las num processo que traga mais
diversidade artística para as relações de ensino-aprendizagem dessa
disciplina.
Lança-se mão de metodologias mista quali-quantitativas para examinar
de quais maneiras as linguagens artísticas dança, música e teatro têm tido
condições de figurar no ensino de Arte diante da tradição do ensino de artes
visuais no contexto escolar. A eleição da abordagem mista quali-quantitativa
fundamenta-se na possibilidade de corroboração entre dados quantificáveis e
dados qualitativos suscitados pelos paradigmas que a pesquisa se propõe.
Conforme é apontado por Sampieri, Collado & Lucio (2006), a pesquisas de
abordagem mista permitem desencadear processos de análise que vinculam

1 O ensino de Arte no Brasil, de forma obrigatória, foi inserido pela LDB Lei de Diretrizes e

como disciplina.

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relações objetivas às subjetivas no instituído de responder às indagações
levantadas.
Valendo-se da Análise de Conteúdo Temático Categorial (BANDIN,
2011), como metodologia de análise dos dados, busca-se identificar os temas
recorrentes, analisando os conteúdos dos materiais selecionados. Essa análise 307

se organiza em fases: pré-análise; exploração do material; tratamento,


inferência e interpretação dos resultados. Na pré-análise os materiais foram
organizados de acordo com os anos de escolaridade da educação básica,
fazendo uma primeira observação de suas características e como está
estruturado. Estão implicados nessa fase a escolha dos documentos, a
formulação da hipótese e dos objetivos e elaboração dos indicadores que
fundamentem a interpretação (BANDIN, 2011).
Na fase de exploração do material, foram arrolados e registrados os
principais elementos do que foi pesquisado nos materiais selecionados,
buscando sintetizar, codificar e fazer um recorte das informações levantadas.
Para Bardin, a sistematização e codificação é um processo no qual dados são
convertidos em unidades que caracterizam o conteúdo inventariado.
Na fase de tratamento, inferência e interpretação apresentam-se os
resultados obtidos de acordo com os objetivos elencados pelo estudo. Isto é,
os dados brutos obtidos nas fases anteriores foram tratados de modo a serem
significativos e válidos para o contexto estudado e, em seguida, foram
ordenados, estabelecendo um panorama condensado da conjuntura da Arte na
escola, colocando em relevo as informações obtidas na análise.

Panorama geral do Ensino de Arte no Brasil

Falar do ensino de Arte no contexto escolar brasileiro é, também,


analisá-lo a partir de uma perspectiva curricular. Quais conhecimentos são
considerados validos para compor a trajetória formativa dos estudantes nesse,
hoje denominado, componente curricular? Quais conhecimentos são
selecionados e quais são excluídos no ensino de Arte para formação de futuros
cidadãos? Conforme indicam estudiosas e estudiosos do currículo, essas

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escolhas estão relacionadas a determinados interesses e têm, por vezes,
bases políticas, econômicas e ideológicas. Isto é,

todo currículo é uma seleção interessada. Os conteúdos e


conhecimentos que o compõem passam por um longo
processo em que determinados grupos conseguem fazer valer
seus interesses. Em meio a intricadas relações de poder, 308
determinados saberes são incluídos e outros excluídos do
currículo. Ele é, portanto, o resultado desse processo de
disputa. (DUARTE; REIS, et. al, 2020, p.17)

Ou seja, o currículo como território de disputa (ARROYO, 2011) é


intensamente e constantemente contestado por diferentes grupos sociais, pois
ao currículo são direcionados interesses específicos que buscam produzir uma
sociedade inervada de seus pensamentos. Quais interesses o campo da Arte
tem direcionado ao currículo escolar?
Estudiosas do ensino de arte no Brasil remontam um possível início da
inserção da Arte, em contexto de educação/formação, à disseminação das
ideias da Missão Artística Francesa por meio da Academia Imperial de Belas
Artes, e ao período de industrialização no período da República, predominando
a cultura do desenho como estratégia principal que impactou, de alguma forma,
currículos escolares. Segundo Ana Mae Barbosa (2012) tal escolha
interessada poderia servir à nova economia do país e promover na
população, em geral, uma ampla, fácil e eficaz iniciação profissional. Por isso,
baseado em um pensamento tecnicista e utilitário, o ensino de Arte foi
orientado para a reprodução de modelos, desenhos geométricos e ao
treinamento de habilidades manuais. Assim, perguntamos: em tempos atuais,
em que medida abordagens pedagógicas como estas ainda perdura?
Em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus,
apresenta a Educação Artística com conteúdo obrigatório, mas sem um
profissional específico e/ou qualificado para desenvolvê-lo, exigindo deste
profissional polivalência em artes visuais, dança, música e teatro (FERRAZ e
FUSARI, 1992). Mesmo com o movimento da Escola Nova, como pano de
fundo, que orientava essa política, com ideais humanistas importados da
Europa e Estados Unidos, incentivando nessas aulas a livre expressão, o que
figurou, de fato, na Educação Artística foi uma repetição de expressões das

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artes visuais e plásticas de maneira prática e objetiva. Observa-se, portanto, a
reprodução acrítica de modelos (fazer cópia), livres experimentações e feituras
manuais de objetos de maneiras, muitas vezes, descontextualizadas, quase
como um passatempo, no qual não se deslumbrava o desenvolvimento de
habilidades das linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro). 309

Fazendo um salto para a década de 1990, pós-período ditatorial, temos,


em 1996, a Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na qual é
instituída a obrigatoriedade do componente curricular Arte nos diferentes níveis
da Educação Básica. Com o suporte dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), o ensino de Arte passa a ter uma orientação que ampliou as
concepções anteriores, introduzindo a criação, a contextualização e a
apreciação como eixos para o desenvolvimento pedagógico do ensino de Arte.
Esses eixos são inspirados na, hoje denominada, Abordagem Triangular 2 de
Ana Mae Barbosa, que propõe uma integração entre os eixos para que o
estudante tenha condições de identificar, experimentar e posicionar-se
criativamente e criticamente em processos educativos escolares de Arte.
Mesmo com uma mudança considerável do ensino de Arte no final do
século passado, as Artes Visuais mantinham e ainda mantêm a primazia
dos conteúdos devido à oferta de cursos de licenciatura nessa área, sendo
recente a criação e ampliação dos cursos de licenciatura das demais
linguagens artísticas. Contudo, dois movimentos curriculares nacionais
reconfiguram esse contexto na última década:
a Lei 13.278, que altera o § 6º do art. 26 da LDB, referente ao ensino da
Arte, especificando que as artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
linguagens que constituirão o componente curricular Arte, estabelecendo o
prazo de 05 (cinco) anos para a implementação de tais linguagens nas escolas,
incluindo a formação docente específica;
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que contém a Arte como um
campo de conhecimento e componente curricular da Área Linguagens e Suas

2Inicialmente denominada Proposta Triangular, a denominação foi revista pela autora, Ana
Mae Barbosa, passando a ser denominada, como Abordagem Triangular, por não considerá-la
uma prescrição, mas antes uma disposição livre e investigativa. Cf. BARBOSA, Ana Mae.
BARBOSA. Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos. 8. ed. São
Paulo: Perspectiva, 2010.

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Tecnologias, em todos os níveis da Educação Básica, evidenciando, no Ensino
Fundamental, as habilidades especificadas das 04 (quatro) linguagens
artísticas.
Longe de ser o ideal, o momento curricular que foi alcançado para Arte,
de alguma forma, avança no processo de valorização da mesma como campo 310

de conhecimento; abre possibilidades para outras disputas curriculares que


podem colocar cada linguagem artística com mais evidência nos espaços
escolares. Entretanto, a polivalência esperada de docentes de Arte ainda é um
desafio, pois estes precisam dar conta dos conteúdos de artes visuais, dança,
música e teatro mesmo sendo especialista, muitas vezes, em apenas uma. Ou
seja, pode-se considerar que a tendência é de que alguns conteúdos sejam
desenvolvidos com maior aporte pedagógico, expertises e aprofundamentos
pelo docente estético, crítico, reflexivo, metodológicos etc. enquanto outros
são conduzidos de acordo com as condições disponíveis e possíveis, sejam
elas materiais ou subjetivas do docente.
É importante enfatizar a importância do(a) especialista das linguagens
artísticas, pois este tem condições de não só desenvolver os conteúdos e
objetos de conhecimento das habilidades das artes visuais, dança, música ou
teatro, mas também de estabelecer disputas no campo curricular dentro das
escolas, argumentando artística e pedagogicamente sobre as possibilidades de
aprendizagem dos estudantes de maneira fundamentada a partir da
especificidade da linguagem, bem como, contribuir na ampliação dos
entendimentos e imaginários da Arte na escola, demonstrando que Arte não é
apenas desenho, mas uma multiplicidade de conhecimentos que formam
cidadãos pensantes, criadores e interventores na realidade em que vivem. Em
resumo, os conhecimentos de Arte, são fundamentais como saberes que
desenvolvem competências e habilidades nos sujeitos expostos a tais
na
qual estão inseridas as diversas disciplinas introdutoras dos conhecimentos
básicos necessários a qualquer cidadão inserido na sociedade em que vive , a
Arte é um alimento intelectual e sensível para construção dos sujeitos e
formação do cidadão.

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Regime Especial de Atividades Não Presenciais de Minas Gerais

A Pandemia do COVID-19 em 2020 e a necessidade de distanciamento


social reconfigurou as relações de sociabilidade e o funcionamento das
instituições. As escolas, local de intensos encontros, relações, trânsitos e
afetividades, foram fechadas, porém os processos de aprendizagem 311

precisavam ser mantidos. Quais estratégias poderiam ser adotadas para


minimizar os impactos dessa drástica mudança das interações sociais e
afetivas das crianças, jovens e adultos, bem como dos seus processos de
desenvolvimento e formação intelectual e cidadã.
Em Minas Gerais, dada a grande dimensão territorial e as múltiplas
realidades socioeconômicas e estruturais do estado, a Secretaria de Estado da
Educação (SEE-MG) elaborou estratégias diversificadas para garantir o vínculo
dos estudantes com a escola e a continuidade dos estudos. Num primeiro
momento, não era possível dimensionar que as escolas ficariam fechadas
durante tanto tempo e que o ensino não presencial tivesse de vigorar por todo
o ano letivo de 2020 e continuar em 2021.
A Resolução SEE 4.310 de 22 de abril de 20203, dispõe sobre as
normas para a oferta de Regime Especial de Atividades Não Presenciais
(REANP), e institui o Regime Especial de Teletrabalho das escolas estaduais
da Rede Pública de Educação Básica e de Educação Profissional, em
decorrência da pandemia Coronavírus (COVID-19). Essa necessidade de
adequação do ensino presencial para o remoto emergencial, ocasionou um
considerável impacto e mudanças na atuação docente, desafiando as equipes
escolares em diversos âmbitos, sejam eles administrativos ou pedagógicos, em
2021. Para os fins desse texto dar-se-á foco às estratégias instituídas para
manutenção dos vínculos pedagógicos com os estudantes e as propostas de
ensino-aprendizagem que foram elaboradas.
Antes de tudo, é preciso pontuar as múltiplas realidades de Minas Gerais
que atravessam o contexto educacional. A Rede da SEE-MG tem atualmente
3.622 escolas distribuídas em 47 regionais de ensino (SECRETARIA DE

3 A Resolução SEE Nº 4.310/2020 foi revogada em 2021, sendo substituída pela Resolução

SEE Nº4.506/2021, institui o ensino híbrido como modelo educacional para o ciclo dos anos
letivos de 2020-2021.

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ESTADO DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS, 2021) e oferta as diversas
modalidades de ensino Ensino Fundamental, Médio e Técnico
Profissionalizante, Educação Intercultural Indígena, Educação Escolar
Quilombola, Educação de Jovens e Adultos, dentre outras , que exigem, de
cada uma delas, abordagens e metodologias próprias diante de suas 312

especificidades e finalidades. Outro desafio a ser encarado no REANP são as


limitações de recursos materiais e estruturais do Estado e da própria Rede de
Ensino como livros didáticos, acesso à internet, computadores e celulares, até
mesmo a transmissão de TV aberta e rádio que foi uma estratégia pensada
pela SEE-MG e que será tratada adiante -, pois nem todas as localidades do
Estado dispõem desses recursos em larga escala e nem a qualidade
necessária. É importante ressaltar que, mesmo que algumas famílias tenham
acesso mínimo a algum desses recursos tecnológicos, ainda assim, existe um
número considerável em dificuldades e vulnerabilidades a serem solucionadas,
que retardam ou mesmo impedem a adequação, e, por consequência, a
eficácia do ensino remoto para as aprendizagens dos estudantes.
Nesse sentido, as estratégias implementadas pela SEE-MG no REANP
tentaram ser diversificadas e abrangentes num exercício de acesso equitativo.
Assim, serão detalhados a seguir os instrumentos que compõem o REANP
Plano de Estudos Tutorados (PET), Programa Se Liga na Educação e
Aplicativo Conexão Escola e de quais maneiras eles foram
operacionalizados, bem como se estes podem ser entendidos na equidade ao
acesso à educação pela via do ensino remoto emergencial.

Plano de Estudos Tutorados PET

Segundo o que consta na Resolução SEE 4.310 de 2020, o PET (Plano


de Estudos Tutorados) é um instrumento de aprendizagem para o estudante,
composto de atividades e questões a serem resolvidas de maneira
autoinstrucional com diversas informações sobre os respectivos componentes
curriculares definidos na matriz curricular. As atividades e questões condiziam
com competências e habilidade a serem desenvolvidas pelos estudantes de
acordo com o Currículo Referência de Minas Gerais da Educação Infantil, do

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Ensino Fundamental já organizado a partir da BNCC , e do Ensino Médio,
pelo Currículo Básico Comum (CBC) de Minas Gerais 4. Segundo a Resolução
4.310/2020, o PET deveria ser disponibilizado, preferencialmente, por meio
digital e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e, nos casos
extraordinários, os gestores das escolas deveriam providenciar estes materiais 313

em versão impressa para serem entregue aos estudantes.


O PET, em 2020, foi organizado em uma estrutura mensal com quatro
atividades uma atividade para cada semana sendo de responsabilidade da
SEE-MG, sua redação e disponibilização para a rede. Cada atividade pretendia
desenvolver uma habilidade do componente curricular para aquele ano de
escolaridade por meio de um conteúdo e questões a serem respondidas. No
Ensino Fundamental a seleção das habilidades e conteúdos se deu por meio
de um Plano de Ensino5 elaborado pela SEE-MG, com um ordenamento das
habilidades por bimestre e semanas a serem desenvolvidas. No Ensino Médio
o CBC era o único documento que orientava essas escolhas para o PET mas
sem uma prescrição de quais habilidades seriam trabalhadas no bimestre, mês
ou semana; sendo esta decisão de livre escolha, ao que tudo indica.
No primeiro volume do PET, em 2020, apenas alguns componentes
curriculares foram considerados Português, Matemática, História, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Ciências, Biologia, Química, Física ficando de fora Arte,
Educação Física e Ensino Religioso. A orientação complementar enviada às
escolas era que as disciplinas que não estavam comtempladas no primeiro
volume do PET fossem consideradas de maneira transversal e interdisciplinar
nos demais conteúdos. Tal fato faz levantar as seguintes questões: por qual
motivo esses componentes curriculares não foram considerados essenciais
num primeiro momento? Quais os imaginários que se têm sobre seus
conteúdos no contexto escolar e formação dos estudantes? Afirmamos que
essas disciplinas têm em seus procedimentos pedagógicos e metodológicos
mais do que os estereótipos construídos sobre elas no contexto escolar, não

4 O Currículo Referência de Minas Gerais para o Ensino Médio, elaborado de acordo com a
Base Nacional Comum Curricular, foi aprovado e homologado em abril de 2021, por isso até a
instituição do novo currículo de acordo com a BNCC recorria-se à estrutura curricular do CBC.
5 O documento está hospedado no site https://curriculoreferencia.educacao.mg.gov.br/ na aba

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são disciplinas recreativas, de lazer e/ou descanso, elas são Áreas de
Conhecimento e por isso estão no currículo.
Nos volumes seguintes, Arte, Educação Física e Ensino Religioso foram
inseridos tendo em vista o questionamento da ausência e o próprio
entendimento e percepção da situação da Pandemia no Estado, ficando mais 314

nítido de que o isolamento social e a continuidade o ensino remoto iria se dar


por mais alguns meses. Com isso, ao examinar os conteúdos presentes nos
PETs de 2020, observa-se diferenças nos volumes do Ensino Fundamental
Anos Finais e Ensino Médio, como efeito da utilização de currículos diferentes,
tendo em vista que o Currículo Referência de Minas Gerais do Ensino
Fundamental já estava adequado a BNCC, portanto as habilidades de cada
linguagem artística já estavam bem delimitada no Plano de Ensino. Porém, o
CBC que embasou a elaboração do PET para o Ensino Médio, não teve um
Plano de Ensino distribuindo as habilidades das linguagens artísticas.

apresentar um maior potencial de democratização e equidade de acesso a


todos estudantes, esperando que aqueles com acesso à internet os obtivessem
no site criado exclusivamente para esse fim
(https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/), no qual é possível encontrar
todos os materiais e orientações necessários, e, aqueles sem acesso poderiam
solicitar junto à gestão da escola a versão impressa gratuitamente.

ga n

O Se Liga na Educação constituiu-se como uma programação diária,


sendo transmitido de segunda a sexta-feira em canais estatais de televisão
aberta: a Rede Minas e a TV Assembleia. Em cada dia da semana foram
apresentadas aulas do Ensino Fundamental Anos Iniciais (4º e 5º ano), Anos
Finais (6º ao 9º ano) e Médio, organizadas por área de conhecimento, e, às
sextas-feiras, aulas exclusivas de preparação para o ENEM (Exame Nacional
do Ensino Médio). O programa é dividido em duas partes. Na primeira são
exibidas aulas de até 20 minutos de conteúdo do PET de cada componente
curricular; são gravadas em estúdio específico no qual o professor apresenta,

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dá explicações e exemplos sobre um determinado conteúdo. Na segunda
parte, é realizada transmissão ao vivo em formato tira dúvidas, no qual os
estudantes podem mandar perguntas e solicitar mais explicações ao professor
para serem respondidos naquele instante. Além dos canais estatais, as
videoaulas são transmitidas também ao vivo no YouTube permanecendo 315

disponíveis publicamente, bem como no site Estude em Casa6.


As aulas de Arte, aconteciam uma vez por mês às segundas feiras dia
de exibição da área de Linguagens e Suas Tecnologias , em um revezamento
de dois professores, cada um dando aulas para anos diferentes do Ensino
Fundamental e Médio, sendo que um dos docentes grava aulas mais
relacionadas as artes visuais e música, e outro à dança e ao teatro. Essa
estratégia parece bastante salutar para o contexto e para o ensino de Arte, pois
os conteúdos por mais que fossem direcionados especificamente para um ano
de escolaridade este poderia ser acessado por qualquer estudante ampliando o
contato com as linguagens artísticas e ampliando o entendimento que o estudo
de Arte não é apenas Artes Visuais.
Um outro aspecto que merece destaque é o fato de que um dos
professores tinha em suas aulas uma atenção para as relações étnico-raciais,
abordando temas e problemáticas culturais que colocam as produções negras
e indígenas de maneira folclorizada em nossa sociedade e não como produção
legítima de Arte. Isto é, uma abordagem folclorizada coloca artes negras
(africanas ou afro-brasileiras) e indígenas como inferiores em detrimento as de
origem europeia, consideradas eruditas. Nas aulas, percebia-se um exercício
de, dialogicamente, relacionar essas distintas formas de expressões artísticas
sem impor hierarquias qualitativas ou juízos de valor.
Nesse sentido, o Se Liga na Educação efetivou-se como um instrumento
de complementação e ampliação de possibilidades para o estudo não
presencial, ampliando o conhecimento dos conteúdos do PET por meio das
explicações e exemplos dados nas aulas.

Aplicativo Conexão Escola

6 Estude em Casa - https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/.

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O Aplicativo Conexão Escola foi um aplicativo desenvolvido para
telefone celular (smartphone), exclusivo para o sistema operacional Android,
que possibilitasse o acesso à internet patrocinada pela SEE-MG e que
estudantes tivessem oportunidades de interagir com os(as) seus(suas)
professores(as) local. Ou seja, em 2020, ao utilizar o aplicativo a internet era 316

totalmente patrocinada pelo Governo de Minas Gerais, dando acesso a todo


material do PET e às aulas do Se Liga na Educação, bem como um Chat para
interações entre estudantes e professores (MINAS GERAIS, 2021, online).
Imaginava-se, portanto, que o estudante de posse do PET e
acompanhando aulas no Se Liga na Educação, ao ter alguma dúvida, teria a
oportunidade de interagir diretamente com seu professor por uma via que
resguardasse a privacidade do professor e do estudante, não sendo necessário
utilizar aplicativos de comunicação tal qual o WhatsApp, por exemplo. Todavia,
em Minas Gerais, o acesso a aparelhos celulares, planos de dados móveis e
rede de internet banda larga são desiguais e demostram ser um desafio a parte
para uma efetiva universalização da utilização dessa ferramenta durante o
ensino remoto.
Em 2021, os estudantes receberam um e-mail institucional do domínio
da Secretaria Estadual de Educação, dando-lhes acesso às fermentas Google
For Education, com Gmail, Google Drive, Google Meet, Google Sala de Aula,
dentre outros. No aplicativo Conexão Escola 2.0, que passou a ser utilizado em
2021, continuou concedendo o patrocínio de dados moveis no uso do aplicativo
que dá acesso direto ao Google Sala de Aula, no qual o estudante pode ter
contato com todos os materiais ali postados pelo professor e equipe
pedagógica da sua escola em todas as disciplinas.
Cientes deste panorama dos instrumentos implementados no REANP
passamos para uma observação de dados levantados do Componente
Curricular Arte, neste contexto, dimensionando a presença das linguagens
artísticas e seus possíveis impactos no ensino-aprendizagem de Arte em Minas
Gerais.

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Componente Curricular Arte: as linguagens artísticas e o ensino não-
presencial

Conforme exposto anteriormente, o PET se caracterizou como uma


engrenagem fundamental do REANP da SEE-MG. Por isso, toma-se ele por
base para dimensionar de que formas as linguagens artísticas compareceram 317

no ensino remoto emergencial de Minas Gerais em 2020.


Em 2020, foram elaborados e disponibilizados o total de 09 (nove)
volumes de PETs, sendo 07 (sete) de conteúdos regulares, 01 (um)
comemorativo aos 300 anos de Minas Gerais, de caráter transversal e

avaliativa. Para os fins deste artigo, iremos analisar os sete PETs de conteúdos
regulares do Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio, ambos na
modalidade Regular Diurno. As demais modalidades de ensino têm
diversificações e especificações em suas matrizes curriculares e, portanto,
apresentam modulações a respeito da Arte em sua oferta. Apenas no Regular
Diurno este componente curricular está presente em todos os volumes
analisados.
No Ensino Fundamental Anos Finais, segundo o Currículo Referência e
o Plano de Ensino, o Componente Curricular Arte está organizado em
Unidades Temáticas: Artes Visuais, Dança, Música, Teatro e Artes Integradas.
Após apreciar os materiais disponíveis no site Estude em Casa, foi possível,
identificar em cada ano de escolaridade a quantidade de vezes que cada
Unidade Temática foi trabalhada no ano escolar de 2020:

Grafico 1
6º ANO - E. FUNDAMENTAL ANOS
FINAIS
14

2 2 2 4

ARTES DANÇA MÚSICA TEATRO ARTES


VISUAIS INTEGRADAS

Gráfico 1: Quantitativo de conteúdo/atividades por Unidade Temática do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 6º ano do
Ensino Fundamental Anos Finais (Regular). Fonte: produzido pelos autores.

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GRÁFICO 2
7º ANO - E. FUNDAMENTAL ANOS
FINAIS
17

318
4
1 1 1

ARTES DANÇA MÚSICA TEATRO ARTES


VISUAIS INTEGRADAS

Gráfico 2: Quantitativo de conteúdo/atividades por Unidade Temática do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 7º ano do
Ensino Fundamental Anos Finais (Regular). Fonte: produzido pelos autores.

GRÁFICO 3
8º ANO - E. FUNDAMENTAL ANOS
FINAIS
10
3 3 6
2

ARTES DANÇA MÚSICA TEATRO ARTES


VISUAIS INTEGRADAS

Gráfico 3: Quantitativo de conteúdo/atividades por Unidade Temática do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 8º ano do
Ensino Fundamental Anos Finais (Regular). Fonte: produzido pelos autores.

GRÁFICO 4
9º ANO - E. FUNDAMENTAL ANOS
FINAIS
11
5 4
3
1

ARTES DANÇA MÚSICA TEATRO ARTES


VISUAIS INTEGRADAS

Gráfico 4: Quantitativo de conteúdo/atividades por Unidade Temática do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 9º ano do
Ensino Fundamental Anos Finais (Regular). Fonte: produzido pelos autores.

Observa-se que a Unidade Temática Artes Visuais (54%) figura como a


linguagem artística que tem a maioria dos conteúdos presentes nos PETs
elaborados e disponibilizados aos estudantes em 2020, seguido pela Artes

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Integradas (15%) que aparecem como o segundo conteúdo mais presente no
material analisado. A Música foi a linguagem artística menos abordada,
ocupando apenas 6% de atividades e conteúdos em todos os anos de
escolaridade do Ensino Fundamental Anos Finais. De maneira semelhante
apenas 11% dos conteúdos eram de Dança e 13% de Teatro. 319

Tais quantitativos não deixam de surpreender uma vez que o Currículo


Referência de Minas Gerais e o Plano de Ensino 2020 da SEE/MG apresentam
uma distribuição igualitária das habilidades de todas as linguagens
artísticas/unidades temáticas. Esperava-se a ressonância de tais documentos
na prática educativa do ano letivo de 2020. O que poderá estar por trás desses
dados que revelam uma distribuição dissonante entre os conteúdos das
linguagens artísticas? Seria possível tecer uma relação com a tradição do
ensino de Arte no Brasil que tem sua primazia nas Artes Visuais?
Na etapa do Ensino Médio o CBC organizou-se nos seguintes Eixos
Temáticos: Conhecimento e Expressões em Artes Audiovisuais, Conhecimento
e Expressões em Artes Visuais, Conhecimento e Expressões em Dança,
Conhecimento e Expressões em Música e Conhecimento e Expressões em
Teatro. Vejamos o número de vezes em que cada um dos cinco eixos foi
tratado ao longo do ano letivo de 2020:

GRÁFICO 5
1º ANO - ENSINO MÉDIO
17

3 3
0 1

Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e


Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em
Artes Audiovisuais Artes Visuais Dança Música Teatro

Gráfico 5: Quantitativo de conteúdo/atividades por Eixo Temático do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 1º ano do
Ensino Médio (Regular-Diurno). Fonte: produzido pelos autores.

Kiri-kerê: Pesquisa em Ensino, Dossiê n.7, Nov. 2021


GRÁFICO 6
2º ANO - ENSINO MÉDIO
12

320

4
3 3
2

Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e


Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em
Artes Audiovisuais Artes Visuais Dança Música Teatro

Gráfico 6: Quantitativo de conteúdo/atividades por Eixo Temático do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 2º ano do
Ensino Médio (Regular-Diurno). Fonte: produzido pelos autores.

GRÁFICO 7
3º ANO - ENSINO MÉDIO

10

5 5
4

Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e Conhecimento e


Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em Expressões em
Artes Audiovisuais Artes Visuais Dança Música Teatro

Gráfico 7: Quantitativo de conteúdo/atividades por Eixo Temático do


Componente Curricular Arte nos PET/REANP 2020 da SEE/MG do 3º ano do
Ensino Médio (Regular-Diurno). Fonte: produzido pelos autores.

Semelhantemente ao Ensino Fundamental, na etapa do Ensino Médio as


Artes Visuais foram a que mais teve conteúdos contemplados nos PETs
ocupando 54% das atividades disponibilizadas, seguida pela Música com 15%
e Artes Audiovisuais e Teatro com 11% cada. Já a Dança foi a que menos
compareceu em propostas de ensino-aprendizagem sendo apenas 8% de suas
habilidades trabalhadas no decorrer do ano.

Kiri-kerê: Pesquisa em Ensino, Dossiê n.7, Nov. 2021


Ao atentar apenas para as questões quantitativas que se revelaram no
levantamento feito, percebe-se que há uma maior tendência e recorrência do
ensino-aprendizagem de Arte abarcar conhecimentos e habilidades das Artes
Visuais mesmo havendo orientações curriculares que preveem as demais
linguagens artísticas. Pode-se atribuir diversos motivos a esse fenômeno, tais 321

como a conformação histórica dessa disciplina no currículo escolar, ou a

alguns conteúdos e práticas dessa linguagem artística no contexto escolar, ou


o próprio percurso de formação do profissional ao formular os materiais, dentre
outras.
Por isso, é importante intensificar o entendimento de que o Componente
Curricular Arte precisa contemplar as linguagens artísticas Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro, pois essa especificação é, também, resultado de uma
grande luta da classe artística, como um todo, para a fixação e ampliação desta
disciplina no currículo escolar. Precisamos, também, pactuar entre os
profissionais que ministram a disciplina de Arte nas escolas um trabalho de
valorização das linguagens artísticas em suas especificidades na formação dos
estudantes, concedendo a estes uma oportunidade ampla e diversificada de
fazer, contextualizar e fruir as artes por meio do desenvolvimento de
habilidades artísticas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.
Torna-se urgente desenvolver um trabalhado junto à comunidade
escolar de modo a que se possa refletir sobre a efetividade dos currículos ,
na formação docente e na sensibilização dos discentes no sentido de que Arte
não é apenas Artes Visuais, mas também os conhecimentos de Dança, Música
e Teatro. Somando-se à necessidade de tecer movimentos políticos que
garantam a presença de profissionais com licenciatura plena nas diversas
linguagens na regência de suas disciplinas para minimizar as fragilidades da
polivalência nos docentes de Arte na escola. Afinal, nem sempre a polivalência
esperada do docente de fato se efetiva por se tratar de conhecimentos
específicos e exigir competências pedagógicas, didáticas e metodológicas
próprias de cada linguagem.

Kiri-kerê: Pesquisa em Ensino, Dossiê n.7, Nov. 2021


Entretanto, pode-se ver estes dados com otimismo, tendo em vista que o
PET é um material pedagógico obrigatório para toda rede; nele já constam
algumas abordagens das linguagens artísticas, que no contexto presencial
poderiam nem acontecer, pois ficariam a cargo do professor implementar o
Plano de Ensino 2020 de acordo com suas condições e possibilidade de seu 322

contexto institucional. Contudo, isso não pode nos acomodar e deixar à mercê
da boa vontade dos governantes, superintendentes de ensino e gestores
escolares, pois há a necessidade/urgência de superação dos paradigmas do
ensino de Arte na escola aqui explanados. Afinal, já é mais que o momento dos
estudantes terem acesso, efetivo, ao que regula a legislação educacional no
Brasil que, muitas vezes, é flexibilizada ou negligenciada, devido diversos tipos
interferências que não somente prejudicam uma perspectiva ampliada de Arte
na escola, mas parecem insistir em retroceder sempre, gerando atraso no
contato com os conhecimentos artísticos produzidos pela humanidade em suas
multiplicidades e diversidades de expressão, criação e fruição.

Considerações Finais

Este texto buscou situar de que maneiras as linguagens artísticas do


componente curricular Arte estão sendo consideradas na educação básica,
analisado a partir do contexto da Secretaria de Estado da Educação de Minas
Gerais durante o REANP de 2020. Desse modo, sem exaurir o tema,
oferecemos um panorama de práticas educativas de Arte no contexto da
Pandemia de Covid-19 e o empreendimento de ensino remoto emergência
como forma de garantir o direito a Educação durante o isolamento social,
tecendo relações entre o histórico da disciplina no contexto escolar e os
desafios que ainda precisam ser encarados.
É urgente que debrucemos de maneira crítica e serena sobre a
polivalência exigida de docentes de Arte, avaliando as potencialidades,
desafios e fragilidades, considerando sempre , os objetivos esperados para
o componente curricular, sua potencialidade na escola e seus efeitos junto aos
estudantes para sua formação integral.

Kiri-kerê: Pesquisa em Ensino, Dossiê n.7, Nov. 2021


Consideramos que é preciso aproveitar todas as oportunidades para
fazer valer a luta pelo ensino de Arte na educação escolar, seja presencial ou
remota, atentando-se para sua constituição como Área de Conhecimento, com
epistemologias, pedagogias e metodologias próprias; valorizando-a e
potencializando-a nos processos educativos escolares reconhecendo na 323

formação holística dos estudantes enquanto um direito de acesso a todos os


conhecimentos da humanidade; ampliando cada vez mais as experiências
formativas por meio das Artes Visuais, Dança, Música e Teatro em igualdade
de condições e justa equanimidade.

Referências:

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2011.
BARBOSA. Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos
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Site:
Estude em Casa: https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/
Currículo Referência de Minas Gerais:
https://curriculoreferencia.educacao.mg.gov.br/

Sobre os autores:

André Luiz de Sousa


andresousaluiz92@gmail.com
Artista-professor-pesquisador de Dança e Arte. Professor de Dança e Arte na
Rede Estadual de Educação de Minas Gerais e mestrando em Artes (PPG-
Artes EBA-UFMG). Graduação em Licenciatura em Dança (EBA-UFMG) e
graduação-sanduíche em Ciências da Educação (FPCE-UC).
Arnaldo Leite de Alvarenga
alda7102a@gmail.com
Bailarino, professor, coreógrafo e pesquisador. Doutor em Educação
FAE/UFMG. Professor Adjunto da Escola de Belas Artes nos cursos de Teatro
e Dança.
Recebido em: 29/06/2021
Aprovado em: 03/09/2021

Kiri-kerê: Pesquisa em Ensino, Dossiê n.7, Nov. 2021

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