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Aula 2º

A Arte na educação
e na escola

Caros(as) alunos(as),
A finalidade desta aula é fornecer informações essenciais
para a percepção da prática que irão observar. Sabe-se que o
espaço escolar, é um local em que as representações sociais se
refletem e se evidenciam é extremamente complexo, o que exige
a busca constante do conhecimento e a formação e o preparo do
educador que deve ter competências e habilidades próprias para a
compreensão do universo da arte.
Assim propomos a abordagem da presença da arte na
educação e na escola, buscando ampliar a compreensão sobre a
arte e as suas relações, com a construção do conhecimento, com a
comunidade escolar e com o entorno.
Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• entender a base teórica para o trabalho de campo desenvolvido na escola;


• refletir sobre o que é ser professor, no Ensino Fundamental e Ensino Médio, e sobre o papel que desempenha na
formação dos alunos;
• compreender que, sobretudo no ensino de Arte, o ambiente de aprendizagem requer atenção e adequação ao meio
em que a escola está inserida;
• refletir sobre mudanças que devem ocorrer no ambiente de aprendizagem testando possibilidades, hipóteses,
esquemas para melhoria da qualidade no ensino.
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Ensino Fundamental e Ensino Médio
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alunos a se comunicarem através de suas práticas artísticas e a
Seções de estudo agregarem um novo sentido a suas vidas.

1.1 O ensino de arte no 2º ciclo do


1 – Ensino de arte no segundo ciclo do ensino Ensino Fundamental e a Base Nacional
fundamental Curricular Comum - BNCC
2 – Ensino de arte no ensino médio
A Base Nacional Curricular Comum – BNCC – é um
documento normativo definidor, conjunto de aprendizagens
1 - Ensino de arte no segundo ciclo essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da
do ensino fundamental Educação Básica. Documento construído em conformidade
com os preceitos expressos na LDB/1996, nas Diretrizes
O segundo ciclo do Ensino Fundamental, que aqui Curriculares Nacionais da Educação Básica – DCN – e no
denominamos anos finais, corresponde à sequência do Plano Nacional de Educação – PNE – é:
6º ao 9º ano. De acordo com documentos orientadores,
como os PCN, e documentos normativos, como o BNCC, Referência nacional para a formulação dos
esse ciclo tem por finalidade aprofundar e pormenorizar os currículos dos sistemas e das redes escolares
conhecimentos adquiridos na fase anterior, e também dar dos Estados, do Distrito Federal e dos
início a conteúdos que serão continuados na etapa posterior, Municípios e das propostas pedagógicas
o Ensino Médio. O ritmo de aprendizado também muda, das instituições escolares, a BNCC integra
porque agora as disciplinas passam a ser ministradas por a política nacional da Educação Básica
professores distintos, para cada área de conhecimento. É, sem e vai contribuir para o alinhamento de
outras políticas e ações, em âmbito federal,
dúvida, um período transitivo que envolve várias mudanças,
estadual e municipal, referentes à formação
que inclui ainda, do ponto de vista da idade, a passagem da
de professores, à avaliação, à elaboração de
infância para a adolescência. De acordo com o Estatuto da conteúdos educacionais e aos critérios para a
Criança e do Adolescente, é considerada criança uma pessoa oferta de infraestrutura adequada para o pleno
até os 12 doze anos de idade incompletos. O grupo de faixa desenvolvimento da educação. (BNCC, p.8)
dos 12 anos completos até os 18 anos são denominados
adolescentes. Assim, a BNCC tem como meta, conforme expresso em
Na escola é o momento em que os conteúdos têm um seu texto, superar a fragmentação das políticas educacionais
aumento significativo, logo, também o grau de dificuldade. E e contribuir para o fortalecimento do regime de colaboração
é aí que a arte, como componente curricular, deve possibilitar entre as três esferas do governo, garantindo um patamar
a reflexão e ampliar os modos de ver o mundo. E de que comum de aprendizagens a todos os alunos e, para tanto, o
modo? Incentivando as criações, mostrando as inúmeras documento é, sem dúvida, instrumento fundamental.
possibilidades de ver e recriar o que vê, enfim, contribuindo Na BNCC, no Ensino Fundamental, Arte é componente
para a formação crítica e sensível, colaborando para que os curricular centrado nas linguagens: Artes Visuais, Dança,
alunos dessa etapa de ensino se apropriem do mundo a sua Música e Teatro, linguagens que articulam saberes que
volta. Para tanto, se faz necessário que o ensino da Arte esteja “envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir,
em sintonia com a realidade, dialogando com os fatos sociais. exteriorizar e refletir sobre formas artísticas. A sensibilidade,
Assim, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades
se manifestam como formas de expressão no processo de
[...] a aula de Arte deve se converter em um
aprendizagem em Arte.” (BNCC, p.193).
ambiente de ideias e de trabalhos, como um
atelier. Local onde os assuntos possam ser
A BNCC propõe, ainda, que as linguagens articulem seis
discutidos e transformados em experiências dimensões do conhecimento:
artísticas e sensíveis. Isto irá permitir a fruição
do processo criador e onde os alunos possam Criação: refere-se ao fazer artístico, quando
desenvolver sua criatividade e autonomia. os sujeitos criam, produzem e constroem.
(FREIRES, TANANTA e HOLANDA, Trata-se de uma atitude intencional e
2016, p.560) investigativa que confere materialidade
estética a sentimentos, ideias, desejos e
A arte-educadora Ana Mae Barbosa, autora da abordagem representações em processos, acontecimentos
e produções artísticas individuais ou coletivas.
triangular para o ensino de arte, afirma que “precisamos levar
Essa dimensão trata do apreender o que está
a arte que hoje está circunscrita a um mundo socialmente
em jogo durante o fazer artístico, processo
limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria permeado por tomadas de decisão, entraves,
e elevando o nível de qualidade de vida da população” desafios, conflitos, negociações e inquietações.
(BARBOSA, 1991, p.6.). O que justifica a necessidade de que Crítica: refere-se às impressões que
o professor de arte seja especialista nessa área, conhecedor impulsionam os sujeitos em direção a novas
dos elementos que a envolvem de modo que possa conduzir compreensões do espaço em que vivem, com
o processo de ensino aprendizagem em arte, habilitando seus base no estabelecimento de relações, por meio
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do estudo e da pesquisa, entre as diversas aos estudantes maior autonomia nas experiências e vivências
experiências e manifestações artísticas e artísticas” (BNCC, p.205).
culturais vividas e conhecidas. Essa dimensão
articula ação e pensamento propositivos, 1.2.1 – Habilidades que devem ser
envolvendo aspectos estéticos, políticos, desenvolvidas no 6º ao 9º anos pelas
históricos, filosóficos, sociais, econômicos e
culturais.
linguagens artísticas
Estesia: refere-se à experiência sensível dos
sujeitos em relação ao espaço, ao tempo, ao Com relação às Artes Visuais e a Dança, o documento
som, à ação, às imagens, ao próprio corpo define as seguintes habilidades que devem ser desenvolvidas
e aos diferentes materiais. Essa dimensão nos alunos:
articula a sensibilidade e a percepção, tomadas
como forma de conhecer a si mesmo, o outro • Pesquisar, apreciar e analisar formas
e o mundo. Nela, o corpo em sua totalidade distintas das artes visuais tradicionais e
(emoção, percepção, intuição, sensibilidade e contemporâneas, em obras de artistas
intelecto) é o protagonista da experiência. brasileiros e estrangeiros de diferentes
Expressão: refere-se às possibilidades de épocas e em diferentes matrizes estéticas e
exteriorizar e manifestar as criações subjetivas culturais, de modo a ampliar a experiência
por meio de procedimentos artísticos, tanto com diferentes contextos e práticas
em âmbito individual quanto coletivo. Essa artístico-visuais e cultivar a percepção, o
dimensão emerge da experiência artística com imaginário, a capacidade de simbolizar e o
os elementos constitutivos de cada linguagem, repertório imagético.
dos seus vocabulários específicos e das suas • Pesquisar e analisar diferentes estilos
materialidades. visuais, contextualizando-os no tempo e
Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, no espaço.
ao estranhamento e à abertura para se • Analisar situações nas quais as linguagens
sensibilizar durante a participação em práticas das artes visuais se integram às linguagens
artísticas e culturais. Essa dimensão implica audiovisuais (cinema, animações, vídeos
disponibilidade dos sujeitos para a relação etc.), gráficas (capas de livros, ilustrações
continuada com produções artísticas e de textos diversos etc.), cenográficas,
culturais oriundas das mais diversas épocas, coreográficas, musicais etc.
lugares e grupos sociais. • Analisar os elementos constitutivos
Reflexão: refere-se ao processo de construir das artes visuais (ponto, linha, forma,
argumentos e ponderações sobre as fruições, direção, cor, tom, escala, dimensão,
as experiências e os processos criativos, espaço, movimento etc.) na apreciação de
artísticos e culturais. É a atitude de perceber, diferentes produções artísticas.
analisar e interpretar as manifestações artísticas • Experimentar e analisar diferentes
e culturais, seja como criador, seja como leitor. formas de expressão artística (desenho,
(BNCC, p.194-195). pintura, colagem, quadrinhos, dobradura,
escultura, modelagem, instalação, vídeo,
1.2 Habilidades previstas na BNCC fotografia, performance etc.).
para o 2º Ciclo do Ensino Fundamental • Desenvolver processos de criação em
artes visuais, com base em temas ou
interesses artísticos, de modo individual,
Nos anos finais do Ensino Fundamental, o documento
coletivo e colaborativo, fazendo uso
expressa a necessidade de ampliação das interações dos alunos de materiais, instrumentos e recursos
com manifestações artísticas e culturais, de diferentes épocas convencionais, alternativos e digitais.
e contextos, salientando que as práticas artísticas “podem • Dialogar com princípios conceituais,
ocupar os mais diversos espaços da escola espraiando-se para proposições temáticas, repertórios
o seu entorno e favorecendo as relações com a comunidade” imagéticos e processos de criação nas
(BNCC, p.205). suas produções visuais.
O documento aponta, ainda, o que considera o diferencial • Diferenciar as categorias de artista,
dessa fase (2º ciclo do E.F.), que é a “[...] maior sistematização artesão, produtor cultural, curador,
dos conhecimentos e na proposição de experiências mais designer, entre outras, estabelecendo
diversificadas em relação a cada linguagem, considerando as relações entre os profissionais do sistema
das artes visuais.
culturas juvenis” (BNCC, p.205).
• Pesquisar e analisar diferentes formas de
O documento é bastante detalhado sobre as habilidades
expressão, representação e encenação
que devem ser desenvolvidas nos alunos pelas áreas temáticas da dança, reconhecendo e apreciando
de cada componente curricular e sobre o que espera do composições de dança de artistas e grupos
aprendizado oferecido por cada uma. No caso da Arte, que brasileiros e estrangeiros de diferentes
“contribua com o aprofundamento das aprendizagens nas épocas.
diferentes linguagens – e no diálogo entre elas e com as • Explorar elementos constitutivos do
outras áreas de conhecimento –, com vistas a possibilitar movimento cotidiano e do movimento
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dançado, abordando, criticamente, o reconhecendo timbres e características de
desenvolvimento das formas da dança em instrumentos musicais diversos.
sua história tradicional e contemporânea. • Explorar e identificar diferentes
• Experimentar e analisar os fatores de formas de registro musical (notação
movimento (tempo, peso, fluência musical tradicional, partituras
e espaço) como elementos que, criativas e procedimentos da
combinados, geram as ações corporais e música contemporânea), bem como
o movimento dançado. procedimentos e técnicas de registro em
• Investigar e experimentar procedimentos áudio e audiovisual.
de improvisação e criação do movimento • Explorar e criar improvisações,
como fonte para a construção de composições, arranjos, jingles, trilhas
vocabulários e repertórios próprios. sonoras, entre outros, utilizando vozes,
• Investigar brincadeiras, jogos, danças sons corporais e/ou instrumentos
coletivas e outras práticas de dança acústicos ou eletrônicos, convencionais
de diferentes matrizes estéticas e ou não convencionais, expressando ideias
culturais como referência para a criação musicais de maneira individual, coletiva e
e a composição de danças autorais, colaborativa.
individualmente e em grupo. • Reconhecer e apreciar artistas e grupos
• Analisar e experimentar diferentes de teatro brasileiros e estrangeiros de
elementos (figurino, iluminação, diferentes épocas, investigando os
cenário, trilha sonora etc.) e espaços modos de criação, produção, divulgação,
(convencionais e não convencionais) circulação e organização da atuação
para composição cênica e apresentação profissional em teatro.
coreográfica. • Identificar e analisar diferentes estilos
• Discutir as experiências pessoais e cênicos, contextualizando-os no tempo
coletivas em dança vivenciadas na escola e no espaço de modo a aprimorar a
e em outros contextos, problematizando capacidade de apreciação da estética
estereótipos e preconceitos. (BNCC, teatral.
p.207) • Explorar diferentes elementos envolvidos
na composição dos acontecimentos
Com relação à Música e ao Teatro, o documento cênicos (figurinos, adereços, cenário,
apresenta: iluminação e sonoplastia) e reconhecer
seus vocabulários.
• Analisar criticamente, por meio da • Pesquisar e criar formas de dramaturgias
apreciação musical, usos e funções da e espaços cênicos para o acontecimento
música em seus contextos de produção teatral, em diálogo com o teatro
e circulação, relacionando as práticas contemporâneo.
musicais às diferentes dimensões da • Investigar e experimentar diferentes
vida social, cultural, política, histórica, funções teatrais e discutir os limites e
econômica, estética e ética. desafios do trabalho artístico coletivo e
• Explorar e analisar, criticamente, colaborativo.
diferentes meios e equipamentos • Experimentar a gestualidade e as
culturais de circulação da música e do construções corporais e vocais de maneira
conhecimento musical. imaginativa na improvisação teatral e no
• Reconhecer e apreciar o papel de jogo cênico.
músicos e grupos de música brasileiros • Compor improvisações e acontecimentos
e estrangeiros que contribuíram para o cênicos com base em textos dramáticos
desenvolvimento de formas e gêneros ou outros estímulos (música, imagens,
musicais. objetos etc.), caracterizando personagens
• Identificar e analisar diferentes estilos (com figurinos e adereços), cenário,
musicais, contextualizando-os no tempo iluminação e sonoplastia e considerando
e no espaço, de modo a aprimorar a a relação com o espectador.
capacidade de apreciação da estética
musical. O documento traz, ainda, com relação à Arte, uma outra
• Explorar e analisar elementos unidade temática, denominada Artes Integradas, sobre a
constitutivos da música (altura, qual as habilidades contemplam (ou pretendem contemplar)
intensidade, timbre, melodia, ritmo etc.), as relações culturais e sociais e as categorias que envolvem
por meio de recursos tecnológicos (games o universo da Arte e que não devem ser ignoradas na
e plataformas digitais), jogos, canções e aprendizagem em arte.
práticas diversas de composição/criação,
execução e apreciação musicais. • Relacionar as práticas artísticas às
• Explorar e analisar fontes e materiais diferentes dimensões da vida social,
sonoros em práticas de composição/ cultural, política, histórica, econômica,
criação, execução e apreciação musical, estética e ética.
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• Analisar e explorar, em projetos mas principalmente é centrada na significação
temáticos, as relações processuais entre que esses atributos em diferentes contextos
diversas linguagens artísticas. conferem à imagem, é um imperativo da
• Analisar aspectos históricos, sociais contemporaneidade. (2016, p.9)
e políticos da produção artística,
problematizando as narrativas A educadora vai além nas reflexões, afirmando que
eurocêntricas e as diversas categorizações o conhecimento da Arte e da imagem, não só tem grande
da arte (arte, artesanato, folclore, design relevância para o desenvolvimento da subjetividade, mas
etc.).
também para o desenvolvimento no âmbito profissional e
• Analisar e valorizar o patrimônio cultural,
observa, com muita propriedade que:
material e imaterial, de culturas diversas,
em especial a brasileira, incluindo suas
Um grande número de trabalhos e profissões
matrizes indígenas, africanas e europeias,
estão direta ou indiretamente relacionados
de diferentes épocas, e favorecendo a
à arte comercial e propaganda, outdoors,
construção de vocabulário e repertório
cinema, vídeo, fotografia, à publicação de
relativos às diferentes linguagens
artísticas. livros e revistas, à produção de CDs, cenários
• Identificar e manipular diferentes para a televisão, e aos campos do design para
tecnologias e recursos digitais para a moda, indústria têxtil, design gráfico, design
acessar, apreciar, produzir, registrar digital, games, decoração etc. Não posso
e compartilhar práticas e repertórios conceber um bom designer gráfico que não
artísticos, de modo reflexivo, ético e possua algumas informações de História da
responsável. Arte. Não só designers gráficos, mas muitos
outros profissionais similares poderiam ser
mais eficientes se conhecessem, fizessem
Como dissemos anteriormente, o documento é bastante arte e tivessem desenvolvido sua capacidade
detalhado sobre cada etapa da Educação Básica e demonstra analítica através da interpretação dos trabalhos
se tratar de um projeto amplo, que pretende ir além da garantia artísticos em seu contexto histórico. Tomei
de acesso e permanência do aluno na escola, com previsão de conhecimento de uma pesquisa que constatou
implementação plena nas escolas no ano de 2020. que os camera men da televisão são mais
No interesse da disciplina, a próxima seção aborda a eficientes quando tiveram algum contato
última etapa da Educação Básica, o Ensino Médio, sobre o sistemático com apreciação da arte. (2016, p.9)
qual o ensino de Arte se reveste de críticas e polêmicas, como
veremos a seguir. Pode-se concluir, então, que as escolas de ensino médio
devem possibilitar aos seus alunos a compreensão do processo
artístico e sua história, a aquisição de novos saberes artísticos e
2 - Ensino de arte no ensino médio estéticos e, com a devida mediação dos professores, vivenciem
a Arte de modo que se tornem capazes de analisar diferentes
O Ensino Médio, há tempos, na história da educação, produtos culturais, potencializando o desenvolvimento do
é revestido de críticas e polêmicas, na mesma medida em raciocínio crítico.
que frequentemente se reveste do viés tecnicista, voltado
para a preparação para o mercado de trabalho e formação 2.1 A Arte na BNCC – competências
profissionalizante, sobretudo nas escolas públicas, ou se volta e habilidades
para a preparação para o vestibular, comum nas escolas da
A BNCC do ensino médio transformou Arte em uma
rede privada. Mas, “entre as várias fases da vida humana, a
disciplina optativa integrada ao eixo de Linguagens, junto
juventude certamente é a que mais precisa e reivindica a ação
com Educação Física, Português e Língua Estrangeira, o que
criativa”, como bem observado no texto das Orientações
para muitos arte-educadores representa o esvaziamento de
Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006, p.187).
seu ensino nessa etapa da Educação Básica.
Afirmação corroborada pela arte-educadora Ana Mae
Barbosa, quando questiona:
Estão retirando do Ensino Médio a
Retirar arte das escolas de Ensino Médio, obrigatoriedade do ensino das artes,
portanto, de adolescentes, é reduzir a duramente ampliada pela luta dos arte/
possibilidade do desenvolvimento de educadores reunidos na Federação de Arte/
habilidades importantes em outras disciplinas Educadores do Brasil (Faeb), que em abril
além das artes. Por outro lado, qual a disciplina deste ano conseguiu fazer aprovar no Senado a
no currículo que desenvolve especificamente a obrigatoriedade de música, teatro, artes visuais
percepção e a discriminação visuais? As artes e dança antes não incluída (BARBOSA, 2016,
visuais e nenhuma outra mais. Qual a que p.6).
prepara para a leitura da imagem? As artes
visuais. A leitura do discurso visual, que não Ainda assim, o documento afirma que “o trabalho com
se resume só a uma análise de forma, cor, arte no Ensino Médio deve promover o entrelaçamento de
linha, volume, equilíbrio, movimento, ritmo, culturas e saberes, possibilitando aos estudantes o acesso e
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a interação com distintas manifestações culturais populares manifestos etc.). Sua exploração permite aos
presentes na sua comunidade” (BNCC, p.483). E acrescenta que estudantes refletir e participar na vida pública,
o acesso e a interação com as diversas manifestações devem ir pautando-se pela ética. (p.489)
além das ocorridas na comunidade, se estendendo para outros O CAMPO ARTÍSTICO é o espaço de
espaços culturais, como por exemplo: em museus, exposições, circulação das manifestações artísticas em geral,
contribuindo para a construção da apreciação
concertos etc. E conclui as considerações afirmando que:
estética, significativa para a constituição
de identidades, a vivência de processos
[...] é fundamental que os estudantes possam criativos, o reconhecimento da diversidade
assumir o papel de protagonistas como e da multiculturalidade e a expressão de
apreciadores e como artistas, criadores e sentimentos e emoções. Possibilita aos
curadores, de modo consciente, ético, crítico estudantes, portanto, reconhecer, valorizar,
e autônomo, em saraus, performances, fruir e produzir tais manifestações, com
intervenções, happenings, produções em base em critérios estéticos e no exercício da
videoarte, animações, web arte e outras sensibilidade. (p.489, grifos nossos))
manifestações e/ou eventos artísticos e
culturais, a ser realizados na escola e em
Fizemos questão de citar todos os cinco campos, não
outros locais. Assim, devem poder fazer
uso de materiais, instrumentos e recursos apenas o campo artístico, para que se observe que todos têm
convencionais, alternativos e digitais, em relação com a Arte, uma vez que “arte tem conteúdo, história,
diferentes meios e tecnologias (BNCC, p.483). várias gramáticas e múltiplos sistemas de interpretação que
devem ser ensinados” (BARBOSA, 2003) o que o próprio
A BNCC prioriza cinco “campos de atuação social” (sic) documento corrobora, ao afirmar, sobre os campos de
na área de Linguagens e suas tecnologias: atuação:

O campo da vida pessoal organiza-se de A consideração desses campos para a


modo a possibilitar uma reflexão sobre as organização da área vai além de possibilitar
condições que cercam a vida contemporânea aos estudantes vivências situadas das práticas
e a condição juvenil no Brasil e no mundo e de linguagens. Envolve conhecimentos
sobre temas e questões que afetam os jovens. e habilidades mais contextualizados e
As vivências, experiências, análises críticas e complexos, o que também permite romper
aprendizagens propostas nesse campo podem barreiras disciplinares e vislumbrar outras
se constituir como suporte para os processos formas de organização curricular (como
de construção de identidade e de projetos de laboratórios de comunicação e de mídias,
vida, por meio do mapeamento e do resgate clubes de leitura e de teatro, núcleos de
de trajetórias, interesses, afinidades, antipatias, criação artística e literária, oficinas culturais e
angústias, temores etc., que possibilitam desportivas etc.). (p.489)
uma ampliação de referências e experiências
culturais diversas e do conhecimento sobre si. O documento também traz sete competências específicas
[...] (p.488) de Linguagens e suas Tecnologias, que devem ser garantidas
O campo das práticas de estudo e pesquisa aos alunos do Ensino Médio:
abrange a pesquisa, recepção, apreciação,
análise, aplicação e produção de discursos/ 1. Compreender o funcionamento
textos expositivos, analíticos e argumentativos, das diferentes linguagens e práticas
que circulam tanto na esfera escolar como culturais (artísticas, corporais e verbais)
na acadêmica e de pesquisa, assim como no e mobilizar esses conhecimentos na
jornalismo de divulgação científica. O domínio recepção e produção de discursos nos
desse campo é fundamental para ampliar a diferentes campos de atuação social e nas
reflexão sobre as linguagens, contribuir para a diversas mídias, para ampliar as formas
construção do conhecimento científico e para de participação social, o entendimento
aprender a aprender. (p.488) e as possibilidades de explicação e
O campo jornalístico-midiático caracteriza- interpretação crítica da realidade e para
se pela circulação dos discursos/textos da mídia continuar aprendendo.
informativa (impressa, televisiva, radiofônica 2. Compreender os processos identitários,
e digital) e pelo discurso publicitário. Sua conflitos e relações de poder que
exploração permite construir uma consciência permeiam as práticas sociais de linguagem,
crítica e seletiva em relação à produção e respeitando as diversidades e a pluralidade
circulação de informações, posicionamentos e de ideias e posições, e atuar socialmente
induções ao consumo. (p.489) com base em princípios e valores
O campo de atuação na vida pública assentados na democracia, na igualdade
contempla os discursos/textos normativos, e nos Direitos Humanos, exercitando o
legais e jurídicos que regulam a convivência autoconhecimento, a empatia, o diálogo,
em sociedade, assim como discursos/textos a resolução de conflitos e a cooperação,
propositivos e reivindicatórios (petições, e combatendo preconceitos de qualquer
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natureza. construir produções autorais individuais
3. Utilizar diferentes linguagens (artísticas, e coletivas, exercendo protagonismo de
corporais e verbais) para exercer, com maneira crítica e criativa, com respeito
autonomia e colaboração, protagonismo à diversidade de saberes, identidades e
e autoria na vida pessoal e coletiva, de culturas.
forma crítica, criativa, ética e solidária, Ao final do Ensino Médio, os jovens devem
defendendo pontos de vista que respeitem ser capazes de fruir manifestações artísticas
o outro e promovam os Direitos e culturais, compreendendo o papel das
Humanos, a consciência socioambiental e diferentes linguagens e de suas relações em
o consumo responsável, em âmbito local, uma obra e apreciando-as com base em
regional e global. critérios estéticos. É esperado, igualmente,
4. Compreender as línguas como fenômeno que percebam que tais critérios mudam em
(geo)político, histórico, cultural, social, diferentes contextos (locais, globais), culturas
variável, heterogêneo e sensível aos e épocas, podendo reconhecer os movimentos
contextos de uso, reconhecendo suas históricos e sociais das artes.
variedades e vivenciando-as como A fruição, alimentada por critérios estéticos
formas de expressões identitárias, baseados em contrastes culturais e históricos,
pessoais e coletivas, bem como agindo deve ser a base para uma maior compreensão
no enfrentamento de preconceitos de dos efeitos de sentido, de apreciação e de
qualquer natureza. emoção e empatia ou repulsão acarretados por
5. Compreender os processos de obras e textos.
produção e negociação de sentidos Pretende-se também que sejam capazes de
nas práticas corporais, reconhecendo- participar ativamente dos processos de criação
as e vivenciando-as como formas de nas linguagens das artes visuais, do audiovisual,
expressão de valores e identidades, da dança, da música e do teatro e nas
em uma perspectiva democrática e de interseções entre elas e com outras linguagens
respeito à diversidade. e áreas de conhecimento. Nesses processos,
6. Apreciar esteticamente as mais diversas espera-se que os estudantes considerem
produções artísticas e culturais, suas experiências pessoais e coletivas, e a
considerando suas características locais, diversidade de referências estéticas, culturais,
regionais e globais, e mobilizar seus sociais e políticas de que dispõem, como
conhecimentos sobre as linguagens também articulem suas capacidades sensíveis,
artísticas para dar significado e (re) criativas, críticas e reflexivas, ampliando assim
construir produções autorais individuais os repertórios de expressão e comunicação de
e coletivas, exercendo protagonismo de seus modos de ser, pensar e agir no mundo.
maneira crítica e criativa, com respeito Para tanto, essa competência prevê que
à diversidade de saberes, identidades e os estudantes possam entrar em contato e
culturas. explorar manifestações artísticas e culturais
7. Mobilizar práticas de linguagem no locais e globais, tanto valorizadas e canônicas
universo digital, considerando as como populares e midiáticas, atuais e de outros
dimensões técnicas, críticas, criativas, tempos, sempre buscando analisar os critérios
éticas e estéticas, para expandir as formas e as escolhas estéticas que organizam seus
de produzir sentidos, de engajar-se em estilos, inclusive comparativamente, e levando
práticas autorais e coletivas, e de aprender em conta as mudanças históricas e culturais
a aprender nos campos da ciência, cultura, que caracterizam essas manifestações.
trabalho, informação e vida pessoal e
coletiva. (BNCC, p.490 grifos nossos) HABILIDADES
(EM13LGG601)1 Apropriar-se do patrimônio
O documento atribui à área de Arte apenas a artístico de diferentes tempos e lugares,
compreendendo a sua diversidade, bem como
competência de nº 6, embora insistamos que, para nós, todas
os processos de legitimação das manifestações
demonstram afinidade com a Arte. O documento, conforme
artísticas na sociedade, desenvolvendo visão
está estruturado, discorre sobre cada uma das competências crítica e histórica.
específicas, definindo também as habilidades que cada (EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente
uma deve garantir aos alunos. Vejamos então o que versa a diversas manifestações artísticas e culturais,
competência de nº 6, respectiva à área de Arte. das locais às mundiais, assim como delas
participar, de modo a aguçar continuamente
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6 a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
Apreciar esteticamente as mais diversas (EM13LGG603) Expressar-se e atuar em
produções artísticas e culturais, processos de criação autorais individuais e
considerando suas características locais, coletivos nas diferentes linguagens artísticas
regionais e globais, e mobilizar seus (artes visuais, audiovisual, dança, música
conhecimentos sobre as linguagens e teatro) e nas intersecções entre elas,
artísticas para dar significado e (re) recorrendo a referências estéticas e culturais,
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conhecimentos de naturezas diversas As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na
(artísticos, históricos, sociais e políticos) e ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las, vocês
experiências individuais e coletivas. devem enviar por meio do portfólio – ferramenta do ambiente de
(EM13LGG604) Relacionar as práticas aprendizagem UNIGRAN Virtual.
artísticas às diferentes dimensões da vida
social, cultural, política e econômica e
identificar o processo de construção histórica Vale a pena
dessas práticas. (BNCC, p.496)

Código identificador utilizado no documento BNCC que, conforme


explicação que consta no início do documento, na Seção Estrutura
do BNCC, significa, neste caso: EM13LGG6O1 = Ensino Médio/1º Vale a pena ler
ao 3º ano/Linguagens/Competência 6/Habilidade 1. São quatro as
habilidades referentes à Competência 6, então, o último número do CANDAU, Vera Maria Ferrão e CARDOSO
código se modifica sequencialmente. JUNIOR, Wilson. Interculturalidade e ensino de artes
visuais do Colégio Pedro II. Educação. Santa Maria, v.43, n.4,
Como vimos, o conhecimento de Arte é imprescindível out./dez. 2018, p.721-740.
em todas as etapas da Educação Básica, bem como o seu
papel na história da humanidade, as influências culturais que
ela incorpora, enfim, seus reflexos em todos os contextos.
As experiências vivenciadas nas aulas de arte devem ser um Minhas anotações
espaço para que o aluno manifeste sua visão de mundo e seja
capaz de propor transformações, tanto para o seu entorno,
quanto para a sociedade como um todo.
Da mesma forma, é de extrema importância o
conhecimento do BNCC e suas definições para a Educação
Básica, ao se encaminharem para o estágio, razão da prioridade
dessa abordagem na aula em questão.

Retomando a aula

Chegamos, assim, ao final da segunda aula. Para


encerrarmos, vamos recordar algumas questões
tratadas ao longo das seções.

1 – Ensino de arte no segundo ciclo do ensino


fundamental

A primeira seção aborda o ensino de arte no segundo


ciclo do Ensino Fundamental e as especificidades próprias
dessa etapa de ensino, sobretudo em relação aos alunos que
estão vivendo um momento de transição e o que determina
a Base Nacional Curricular Comum, com relação ao ensino e
aprendizagem neste segundo ciclo, bem como as competências
e habilidades que devem ser garantidas aos alunos.

2 - Ensino de arte no ensino médio

A nossa segunda seção traz informações relevantes


sobre o Ensino Médio e a presença da Arte nessa etapa da
Educação Básica, bem como as mudanças expressas na Base
Nacional Curricular Comum, que podem representar uma
fragmentação e um esvaziamento do ensino de Arte nessa
última etapa da Educação Básica. Também aborda o que
sugere a BNCC com relação às competências e habilidades
esperadas para o Ensino Médio.

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