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Resumo
Introdução
[...] a inspiração liberalista que caracterizava a Lei 4.024/61 cedeu lugar a uma
tendência tecnicista tanto na Lei 5.540/68 como na Lei 5.692/71.
A diferença entre as duas orientações se caracteriza pelo fato de que, enquanto o
liberalismo põe a ênfase na qualidade em lugar da quantidade; nos fins (ideais) em
detrimento dos métodos (técnicas); na autonomia em oposição à adaptação; nas
aspirações individuais antes que nas necessidades sociais; e na cultura geral em
detrimento da formação profissional, com o tecnicismo ocorre o inverso.
No que se refere à arte e seu ensino, a Lei 5.691 de 1971, torna a Educação Artística
obrigatória no currículo escolar de 1º e 2º graus. Essa obrigatoriedade está prevista pelo artigo
60º onde: “Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física,
Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e
2º graus” (NISKIER, 1996, p.82).
A arte é afirmada no currículo escolar como mera atividade destituindo-a de seu
caráter de disciplina, o que fica claro na redação do Parecer nº 540/77: “não é uma matéria,
mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e
dos interesses.” (FUSARI, 1992, p.38).
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Mas esta obrigatoriedade na lei não soluciona o problema relacionado ao acesso à arte.
Aqui, abre-se o abismo que vai reforçar a distinção entre trabalho material e trabalho
artístico, sendo este último tido como supérfluo diante da sociedade capitalista que não vê na
arte a possibilidade de uma atividade com fins lucrativos.
A educação objetivava a homogeneização dos pensamentos, o cerceamento da opinião
pessoal para que a elite dominante pudesse continuar com a hegemonia. As atividades
desenvolvidas com arte na escola traduziam-se em técnicas de trabalhos artísticos sem
fundamentação teórica que apresentasse a arte enquanto uma linguagem contextualizada
historicamente.
Sem professores formados na área a providência a ser tomada foi a criação dos cursos
de licenciatura curta em Educação Artística, institucionalizados pelo Governo em 1973. Essas
graduações tinham o fim de preparar os professores reforçando a marcha que levou o ensino
da arte a caminho da mediocridade, pois esses cursos formavam professores inócuos, num
curso com duração de dois anos.
Esta formação trouxe a proposta da polivalência na formação do professor de arte,
presente no período que compreende os anos 70 e 80. Após a sua formação superior, o
professor se vê ‘apto’ a trabalhar as quatro linguagens artísticas: Artes Plásticas, Teatro,
Dança e Música. Essa formação é de caráter superficial, pois o professor deve aprender e
dominar todas as linguagens traz para a educação a idéia de que ao se trabalhar com técnicas
isoladas, estar-se-iam trabalhando todas as áreas.
Na escola estão presentes as técnicas de trabalho artístico voltadas para o
desenvolvimento da sensibilidade e da criatividade do aluno. Essas técnicas não prevêem um
conteúdo teórico acerca da história da arte ou das produções artísticas dos diversos períodos,
são atividades isoladas com o caráter de trabalhar o ‘fazer expressivo’, através de aulas com
temas, ou simplesmente com o desenvolvimento de técnicas artísticas.
Nas aulas de arte, os professores enfatizam 'saber construir' reduzidos aos seus
aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e um
'saber exprimir-se' espontaneístico, na maioria dos casos caracterizando poucos
compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas. (FUSARI, 1992, p.
32)
Diante desse quadro, os rumos que o ensino da arte toma após a implementação dos
cursos de formação dos professores têm, nas associações dos Arte–Educadores os
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movimentos para tentar mudar os rumos da arte na escola. Alguns desses movimentos tiveram
importância fundamental nas discussões sobre a polivalência e os conteúdos para a área, como
o encontro de arte-educadores realizado na Universidade de São Paulo em 1983 e que contou
com mais de dois mil professores de arte do país e que discutiu os aspectos políticos que
tentavam imobilizar o ensino da arte nesse momento histórico. E assim, diversos outros
encontros que culminaram em documentos e resoluções propondo alterações significativas
nos currículos das escolas.
Esses movimentos, entretanto, foram diluídos pelo sistema político dominante neste
período (1970-1980), que procurava veicular sentidos que nada tinham a ver com a realidade
que se apresentava, buscando moldar um padrão para que os pensamentos e sentimentos
deixassem de ser críticos e se tornassem consumistas. A televisão entrou como um veículo de
difusão e de homogeneização cultural, impondo a forma de pensar e de sentir, levando o
ensino da arte a um processo de tecnicização.
Esta visão de educação, apesar de pretender, não conseguiu a superação da
marginalidade, pois o próprio processo gerou este resultado. Sem ter a mediação crítica que
perceba esta conseqüência, temos nesta teoria apresentada, a reprodução da sociedade na qual
ela está inserida, sem a preocupação com as classes menos favorecidas.
A esse momento histórico, a educação em arte é discutida na perspectiva da
possibilidade de superação desta ordem. Quando tratada de forma a desenvolver o do olhar
pensante e sensível no intuito de formar homens mais sensíveis ao mundo que os cerca..
Na sociedade atual, de cunho capitalista, percebemos um processo voltado a
transformar tudo, inclusive a arte, numa produção proveniente de uma ação repetitiva e
desumanizada, pela falta de interesse numa mudança significativa das estruturas de base por
parte de uma parcela da população que detém a hegemonia econômica.
A arte tida como um trabalho não material que existe fruto da atividade do homem,
perde o seu caráter de criação e de produção da existência, ocultando-se no modo de produção
capitalista e a alienação surge nessa relação quando o homem, um grupo ou uma sociedade
como um todo, ficam alheios ao que é produzido pela sua própria atividade. Para Marx, esse
trabalho alienado “aliena a natureza do homem, aliena o homem de si mesmo, o seu papel
ativo, a sua atividade fundamental, aliena do mesmo modo o homem a respeito da espécie;
transforma a vida genérica em meio de vida individual.” (MARX, 2003, p.116)
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Desdobrando essa análise, temos que a arte provém de uma realidade social e ao
mesmo tempo em que interfere na sociedade, esta interfere na arte, como por exemplo a arte
ligada à religião, onde serviu aos desígnios da igreja na forma da arquitetura religiosa, nas
músicas e danças sacras, nas pinturas de santos entre outros. Por seu caráter eminentemente
comunicativo, a arte interfere na sociedade “falando a todos, mas a cada um de seu modo e
assim assegura uma universalidade através da individualidade e institui uma comunidade
através da singularidade.” (PAREYSON, 1997, p.123). Individualidade aqui entendida como
um vínculo criado entre o indivíduo e a obra de arte, nascido das experiências pessoais e da
história deste.
De um lado temos a visão da arte enquanto uma linguagem por meio da qual o artista
se expressa, por outro lado, temos a visão neoliberal que a tudo mercantiliza, inclusive a arte
que se presta então a desempenhar uma função utilitária com finalidade econômica.
Para Vázquez (1978, p.216)
O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é que
não passam de um negócio, sendo utilizados como veículos ideológicos destinados
a legitimar o lixo que propositadamente produzem. Eles definem a si mesmos como
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Em suma, o que se procura apontar aqui, com relação ao saber sensível, é que sua
desvalorização ao longo dos tempos modernos sofreu um vigoroso incremento em
nossa contemporaneidade, e do modo mais paradoxal. Isto é; na medida em que a
sociedade industrial sistematizou e ampliou esse seu ramo de negócios conhecido
como “indústria cultural”, visando a produzir e vender quinquilharias
pretensamente estéticas, e os próprios artistas se deixaram iludir pelas promessas da
razão instrumental e de sua filha direta, a tecnologia, destituindo a própria arte de
seu aspecto sensível,[...] a educação da sensibilidade humana passou
sistematicamente a perder espaço no cotidiano das pessoas. Ao pretender
(falsamente) “estetizar” a realidade urbana, a indústria cultural e os artistas que se
colocaram a seu serviço rebaixaram o nível de qualidade de seus produtos
oferecidos ao público como obras de arte e passaram a difundir a versão de que tido
em nosso entorno possui uma dimensão intrinsecamente estética, de talheres a
aeroportos, de canetas descartáveis a shoppings centers[...]
com a arte. Esse conhecimento deve servir de ponto de partida para uma práxis superadora
que busque novas percepções e novos olhares sobre o mundo e a vida.
No entanto, a arte que não se render ao fim apontado pela sociedade capitalista, é
considerada supérflua, pois não reverte lucro e tampouco auxilia no processo de manutenção
do sistema vigente.
Tornando a arte, através desse discurso, como algo supérfluo à vida da grande maioria
da população, ela fica então restrita ao privilégio de uma elite que pode adquiri-la para
enfeitar as suas paredes, enquanto que a arte como linguagem e expressão de pensamentos e
ideais, fica à margem de qualquer tentativa de torná-la como necessária ao homem.
No âmbito da educação, a questão do supérfluo também suplanta a do necessário, pois
a arte no currículo das escolas freqüentemente fica relegada à condição de disciplina voltada
ao trabalho recreativo visando o passatempo, destituída de conteúdos próprios e significativos,
voltados ao resgate do ser humano, da humanidade no homem, da sua sensibilidade, emoção e
sentidos.
A partir das considerações precedentes, estabelece-se a relação da arte no processo de
humanização do homem e o quanto a sociedade capitalista tem se utilizado da arte para fins
de mercado nas duas últimas décadas do século XX mais especificamente, descaracterizando-
a da sua origem na atividade humana enquanto uma necessidade estética e expressiva.
E é essa a arte que está disponível para a grande maioria da população: uma arte que
visa manipular consciências em prol de um ideário capitalista, no qual os homens consomem
produtos artísticos desprovidos de uma real estética e tem no artista e na arte um mundo
inacessível e distante.
Para Vázquez (1978, p. 294)
Milhões de pessoas lêem livros, ouvem música, vão ao teatro e ao cinema. Por quê?
Dizer que procuram distração, divertimento, a relaxação, é não resolver o problema.
Por que distrai, diverte e relaxa o mergulhar nos problemas e na vida dos outros, o
identificar-se com uma pintura ou música, o identificar-se com os tipos de um
romance, de uma peça ou filme? Por que reagimos em face dessas irrealidades’
como se elas fossem a realidade intensificada? [...] E se alguém nos responde que
almejamos escapar de uma existência insatisfatória para uma existência mais rica
através de uma experiência sem riscos, então uma nova pergunta se apresenta: por
que nossa própria existência não nos basta? Por que esse desejo de completar nossa
vida incompleta através de outras figuras e de outras formas? {...} É claro que o
homem quer ser mais do que ele mesmo. Quer ser um homem total
Considerações Finais
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REFERÊNCIAS
DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos : a educação (do) sensível. Curitiba :
Criar, 2000.
FUSARI, Maria de Rezende, FERRAZ, Maria Heloísa. Arte na educação escolar. São Paulo
: Cortez, 1992.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. São Paulo :
Companhia das Letras, 1995.
NISKIER, Arnaldo. LDB : a nova lei da educação : tudo sobre a lei de diretrizes e bases
da educação nacional : uma visão crítica. Rio de Janeiro : Consultor, 1996.
VAZQUEZ, Adolfo Sanches. As idéias estéticas de Marx.; trad. Carlos Nelson Coutinho. 2ª
ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.