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UM ESTUDO DE CASO
Resumo
Este estudo de caso de caráter descritivo e interpretativo foi realizado numa escola
pública de Mato Grosso. Teve como objetivo central entender como alunos dos últimos
anos do ensino fundamental concebem visualmente uma releitura de obra de arte no
contexto escolar. Foram utilizadas a observação participativa das aulas de Arte, a
análise bibliográfica e visual dos trabalhos produzidos pelos discentes. De acordo com
os resultados encontrados, é preciso esclarecer que o simples fato de modificarem a obra
de arte que foi tomada como base para a releitura, ao fazerem outro cenário, outras
formas no desenho etc., não é suficiente para revelarem um processo criativo, pois, é
preciso levar em consideração os domínios técnico e conceitual, para que os estudantes
possam desenvolver de maneira significativa suas criatividades e leituras. A releitura
visual não deve ser tratada como mera cópia ou atividade qualquer, sem importância em
sala de aula, ao contrário: contribui efetivamente para a produção de conhecimento, ao
possibilitar ao aluno realizar, de forma criativa, significativas leituras sobre qualquer
objeto visual da realidade a sua volta, mas, desde que sob orientação e mediação
adequada de um professor de Arte. Com efeito, tratar dessas questões é de fundamental
importância para que boas práticas docentes em Arte sejam produzidas nesse contexto
escolar.
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Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso. Graduado em Educação Artística com
Habilitação em Artes Plásticas (Artes Visuais) pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor de
Arte da Secretaria de Educação de Minas Gerais. E-mail: gustavocaraujo@yahoo.com.br.
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Introdução
O artigo tem como objetivo entender como alunos dos últimos anos do ensino
fundamental concebem visualmente uma releitura de obra de arte no contexto escolar.
Assim, alguns questionamentos surgiram durante o processo investigativo: os alunos
conseguem desenvolver seus processos criativos? Dominam conceitos sobre leitura e
releitura visual? Para a realização deste estudo foram utilizadas a observação
participativa das aulas de Arte e a análise bibliográfica das teorias que subsidiam as
reflexões produzidas neste manuscrito, e os trabalhos artísticos realizados pelos
discentes em sala de aula. Este estudo de caso se caracterizou como descritivo e
interpretativo, e teve como lócus de investigação uma escola da rede pública de ensino
em Cuiabá, Mato Grosso.
Foram observadas e analisadas seis turmas dos últimos anos do ensino
fundamental da rede pública de ensino de Cuiabá, Estado de Mato Grosso, que
totalizaram aproximadamente 120 alunos. Vale lembrar que essas turmas tinham duas
aulas de Arte por semana, com carga horária de 2h/a, e a obra escolhida para releitura
visual para a produção dos trabalhos foi “Monalisa”, do artista italiano Leonardo Da
Vinci, que é uma das mais populares e conhecidas obras de arte em todo o mundo, daí, a
escolha do professor de Arte em utilizá-la em suas aulas.
arte não é apenas conhecer a vida, obra e procedimentos técnicos utilizados pelo artista,
mas também, compreender e construir conhecimento em arte, através da
contextualização, da leitura e do fazer artístico.
Com o ensino da Arte obrigatório em toda a Educação Básica por meio da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 e com o reconhecimento das
principais linguagens artísticas da área da Arte – Artes Visuais, Teatro, Dança e Música
– pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, foi proposta uma renovação teórico-
metodológica desse ensino, pautada principalmente nas experiências e contribuições
dessa Abordagem. Entendo que essa teoria é importante para subsidiar os trabalhos
feitos com releitura de imagem e da obra de arte na educação nos dias atuais.
Nessa linha de pensamento, Araújo e Oliveira (2013) reforçam a ideia de que
essa proposta recebeu influências de diferentes métodos de leituras de imagens
utilizados no ensino de arte nas últimas décadas, que pudessem contribuir para a leitura
da obra visual na educação escolar, principalmente no que toca ao trabalho do professor
dessa área com alunos por uma diversidade de obras visuais, ao ressaltar a questão da
leitura e releitura da imagem da obra de arte.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997 a aprendizagem em
arte está relacionada ao desenvolvimento contínuo do processo criativo, que precisa ser
cultivado não apenas pelo aluno, mas também pelo professor de Arte, ao oferecer ao
aluno subsídios como imagens de obras artísticas, visitas orientadas a museus, pesquisas
sobre diferentes temas artísticos aprendidos na escola etc., durante seu processo de
escolarização. Dessa forma,
fazer arte e pensar sobre o trabalho artístico que realiza, assim como
sobre a arte que é e foi concretizada na história, podem garantir ao
aluno uma situação de aprendizagem conectada com os valores e os
modos de produção artística nos meios sócio e culturais (BRASIL,
1997, p.35)
À luz dessas reflexões, penso que esses estudos e pesquisas realizados nos
últimos anos sobre a arte/educação podem contribuir para que os termos leitura e
releitura ganhem mais relevância no debate educacional, a qual Pillar (2011, pp.7-8) faz
uma importante observação ao tratar desse assunto: “para compreender precisamos
decodificar e, se apenas decodificamos sem compreender, a leitura não acontece”. Ou
seja, ler é atribuir significado ao texto, imagem ou uma obra de arte. Essa teórica
entende que a leitura, a qual denomina de atribuição de significados – compreensão –, é
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feita por um indivíduo que tem uma história e experiências de vida já adquiridas, que o
possibilitará apropriar-se do mundo do qual faz parte. Neste caso, é preciso considerar e
analisar os trabalhos feitos pelos alunos, inseridos na cultura escolar, de forma
contextualizada, pois realizar a releitura de uma obra de arte leva a,
A partir dessa reflexão, a releitura visual não deve ser tratada como mera cópia,
reprodução ou atividade qualquer, sem importância em sala de aula, ao contrário:
contribui efetivamente para a produção de conhecimento, ao possibilitar ao aluno
realizar, de forma criativa, significativas leituras sobre qualquer objeto visual, mas,
desde que sob orientação e mediação adequada de um professor de Arte. Sobre esse
pensamento, Pillar (2011, p.14) contribui ao afirmar que “reler é ler novamente, é
reinterpretar, é criar novos significados”; portanto, releitura se difere de cópia.
Contudo, Buoro (2002) alerta para o fato desse termo ainda ser bastante
problemático nos dias atuais, pois “é importante perceber que a problemática que se
construiu em torno da palavra ‘releitura’ está reduzindo-se assim o seu significado. Fica,
pois, claro que há necessidade desse mesmo educador aprofundar-se na compreensão e
na contextualização da produção de releituras” (BUORO, 2002, p.22). Ou seja, se o
professor utilizar a cópia de obra de algum artista, é necessário propor que, com essa
cópia, o professor busque um conhecimento a ser elaborado sobre determinada questão.
A partir desse raciocínio, é possível dizer que o estudante vive numa sociedade
repleta de imagens: as revistas, os jornais, a televisão, cinema, outdoor, até em livros
didáticos entre tantos outros. A maioria dessas mensagens visuais está ao alcance da
população e bastantes presentes em seu cotidiano. Essa multiplicidade imagética torna
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necessário um olhar mais atento e reflexivo por parte do educador e do aluno, para
entender os potenciais comunicativos que elas transmitem, construindo conhecimento
sobre as diferentes formas de leitura, e não apenas consumir toda e qualquer informação
imagética que vem ao encontro (BUORO, 2002).
Durante as aulas de Arte realizadas com alunos dos últimos anos do ensino
fundamental, de uma escola da rede pública estadual de ensino em Cuiabá, Mato
Grosso, foi solicitado aos discentes que fizessem algumas releituras de obras de
importantes artistas da história da arte, de diferentes épocas, como Leonardo Da Vinci
(1452-1519), Edvard Munch (1863-1944) e Johannes Vermeer (1632-1675). Antes de
realizarem a produção artística, foram apresentadas aos alunos pelo professor algumas
teorias sobre leitura e releitura da obra de arte na arte-educação, de autores como
Barbosa (2012; 2008), Buoro (2002), Ferraz; Fusari (2010) e Pillar (2008; 2011; 2013)
procurando contextualizar tais imagens para a realidade dos discentes, para que
pudessem construir trabalhos significativos.
Após uma breve parte teórica sobre releitura visual apresentada pelo docente,
ficou decidido à turma de alunos que eles realizariam um trabalho de releitura a partir
da pintura “Monalisa”, do artista renascentista italiano Leonardo Da Vinci, que mostra
uma mulher, serenamente sentada, com os braços apoiados em seu colo, com um
sorriso, no mínimo, enigmático.
Ao iniciarem a releitura dessa obra, constatei nas aulas observadas que a
maioria dos alunos afirmou não saber desenhar. O que é frequente nas aulas de Arte,
pois por ser uma disciplina que alia teoria com bastante aula prática, ao se depararem
com trabalhos de arte que necessitam de certa habilidade para produzirem, como é o
caso do desenho, os alunos se sentem inseguros para realizá-lo. Isso deixa claro porque
muitos ainda concebem a disciplina de Arte na educação escolar como o espaço e
oportunidade para aprenderem desenhar, colocando a essa disciplina uma concepção
equivocada. A disciplina de Arte não forma artistas, o que de fato, não é seu objetivo,
mas sim possibilitar ao aluno da educação desenvolver sua formação estética, ampliar
seu conhecimento cultural, levar o estudante a dominar diferentes técnicas artísticas e
conceituais do campo das artes e, consequentemente, construir conhecimento a partir do
contato e acesso as diferentes manifestações artísticas, como desenho, pintura,
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fotografia, dança, música, teatro, arte computacional entre tantas outras, além de teorias
da história da arte.
Pude observar que alguns alunos fizeram os trabalhos rapidamente, na intenção
de terminar logo o desenho. Entretanto, outros demoraram mais de uma aula para
finalizar a releitura, se dedicando mais na produção da mesma. Alguns utilizaram
apenas lápis e borracha, outros experimentaram materiais como o lápis de cor. Enquanto
isso, o professor de Arte observava a realização dos desenhos, orientando-os quanto a
alguma dúvida sobre a releitura.
Um dos alunos criou elementos visuais que não estão presentes na imagem
original, como o colar no pescoço da Monalisa e os detalhes em seu cabelo, além do
fundo do desenho que representa uma paisagem bem diferente da obra original, com um
sol e três figuras que assemelham a triângulos. Nesse desenho foram utilizados o lápis
grafite e lápis de cor.
Nesse exercício o cabelo, a boca e as unhas da mulher são coloridos, assim
como o sol, localizado na parte superior esquerda da imagem. Contudo, a imagem da
mulher não apresenta contornos definidos relacionados à proporção da figura humana.
Sobre o processo inicial de criação, Ostrower (2013, p.53) assim se pronuncia:
da personagem, e dois elementos na parte inferior esquerda e direita, que mais parecem
representações de plantas. Ao fundo foi possível notar uma paisagem brevemente
esboçada, mas não finalizada. Todos esses elementos, mesmo inexistindo na obra
original de Da Vinci, foram desenhados de forma simples, sem se preocupar em dar um
melhor acabamento nas imagens. Vale lembrar que a aluna copiou, nessa tentativa de
releitura, a obra original tida como referência – Monalisa – para a produção de seu
trabalho.
Com relação ao olhar do professor de Arte, Buoro (2002) diz que é construído
basicamente pelas teorias da história da arte encontradas em livros. Com isso, os
professores dessa área têm pouco contato com o produtor-artista e suas obras, os quais
só conhecem por meio de impressos ou internet, isto é, “vemos por meio de olhos
alheios, sem que cheguemos a experimentar diretamente os caminhos de construção de
significados que somente a relação direta entre sujeito e objeto propicia” (BUORO,
2002, p.59).
É possível perceber nessas análises tentativas de realizar um exercício de
releitura visual, ora por meio da cópia da obra de arte, ora por meio da observação da
imagem original. Contudo, é preciso esclarecer que o simples fato de modificarem a
obra de arte que foi tomada como base para a releitura, neste caso, a Monalisa, de Da
Vinci, ao fazerem outro cenário, outras formas no desenho etc., não é suficiente para
revelarem um processo criativo, pois, é preciso levar em consideração os domínios
técnico e conceitual, para que os estudantes possam desenvolver de maneira
significativa suas criatividades e leituras. Para criar, é preciso ter acesso ao que já é
produzido em determinado campo; disponibilizar esse conhecimento é papel da escola e
do professor de Arte. Com efeito, ao se perder essa referência, o processo criativo passa
a ser tratado como algo espontâneo, fruto da liberdade de expressão, secundarizando o
ensino de Arte e o próprio professor dessa área.
A releitura é fundamental para que o aluno exercite a sua criatividade e
expressão, e tem no professor importante mediador nesse processo, pois, “só um saber
consciente e informado torna possível à aprendizagem em arte” (BARBOSA, 2008,
p.17). Mas, é importante que ela não seja confundida como cópia.
Sobre a docência em Arte, me parece que uma das mazelas presentes na
formação de professores dessa área nos dias atuais se depara, dentre outros problemas,
com a falta – carência – de cursos de formação inicial e continuada, como acontece no
contexto educacional em Mato Grosso. Penso que esses cursos podem ressaltar temas
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Lei n. 11.769 de 2008.
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de artes sejam criados em Mato Grosso, para que possam atender a demanda crescente
de profissionais da educação – docentes – para atuarem na rede pública de ensino. Com
efeito, além de contribuir para a qualificação e capacitação desse profissional,
contribuirá também para a melhoria da qualidade desse ensino ofertado nas escolas e,
consequentemente, para uma educação pública com qualidade.
3. Palavras finais...
Referências
BARBOSA, A. M. A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos. 8.ed. São
Paulo: Perspectiva, 2012.
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BUORO, A. B. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo:
Educ/FAPESP/Cortez, 2002.