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Abstract. In this study the term narration will be understood as the act of
narrating and narrative as what was told. The narration will be always told in
the first person (here) or in the third person (in some place). Under this
circumstance, we will always have a locus that is related to this instance of
creation of the literary text that is considered zero-point from which the
spacing of the narrative is created. Many times, we will have a delineation of
the locus of narration inside the narrative, at other times this locus only will
be assumed because the one who tells a story always tells from a place.
Analyzing the relation between the locus of narration and the locus of
narrative from the thematic axles of the coincidence and the appearance we
will have some interesting possibilities. It is what this study intends to
demonstrate.
Keywords. Locus; narration; narrative; narrator.
Dessa maneira, fica clara a importância para o topoanalista dessas relações entre
espaço da narrativa e espaço da narração. Muitos efeitos de sentido são criados a partir
dessas possibilidades e seria um erro não nos atentarmos a elas.
Vejamos alguns exemplos dessa relação entre o espaço da narração e o espaço da
narrativa.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da
Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. (Dom
Casmurro, Machado de Assis, grifo nosso)
Quando o narrador usa o advérbio aqui, ele indicia seu espaço. No caso, ele
habita o bairro Engenho Novo. Portanto, nesse momento, temos o espaço da narração
coincidindo com o espaço da narrativa. A escolha do título do romance deveu-se a um
fato que se passou no mesmo bairro em que o narrador escreve sua narrativa. Por isso o
capítulo segundo começa assim:
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos
os motivos que me põem a pena na mão.Vivo só, com um criado. A casa em que moro é
própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa
imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho
Novo a casa em que me criei na antiga rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo
aspecto e economia daquela outra, que desapareceu.
Até esse momento, o narrador ainda não passou a escrever a narrativa
propriamente dita. Ele expõe os motivos que o levaram a escrever o livro. A narrativa,
propriamente dita só começará no capítulo III:
Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela
varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e
escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. (p.
11)
Novamente, através do advérbio aqui, do pronome esta e do verbo no presente
do indicativo “relembro”, o narrador mostra-nos o espaço da narração. Após essa
introdução, no capítulo I, o narrador escreve:
Pelas nove da manhã deste dia de Setembro cheguei enfim à estação de Évora.
Nos meus membros espessos, no crânio embrutecido, trago ainda o peso de uma noite
de viagem.
Dessa maneira temos os dois espaços bem caracterizados logo de início. O
espaço da narração é o espaço da sala vazia em que o narrador está e relembra sua
história que se passou, principalmente, em Évora, espaço da narrativa. Mais à frente,
encontramos o seguinte trecho:
Referências bibliográficas