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Introdução
Desde 2001, lecionamos no curso de licenciatura em pedagogia da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Formar futuros
professores e gestores para que saibam dar aulas de artes visuais e
gerir escolas de educação básica, até 5º ano do ensino fundamental é,
entre outros, objetivo da disciplina Fundamentos teórico-
metodológicos do ensino da arte.
Na base dessa disciplina, estão as aulas que ministramos para crianças
e jovens dos 4 aos 17 anos, durante 23 anos, na Escola Criarte (1972-
1979) e na Escola da Vila (1980-1995). Outra origem está no trabalho
de formação de professores desenvolvido no Centro de Estudos da
Escola da Vila e em diferentes instituições públicas e privadas. Do
mesmo modo, incidem sobre nossas escolhas teóricas e práticas:
estudos e participações em eventos acadêmicos, as aprendizagens da
graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo (1969-1973) e na Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, onde cursei especialização em
arte/educação I e II, respectivamente em (1986 e 1990) e, as
pesquisas para o mestrado (1990-1993) e para o doutorado (1993-
2000).
Na nossa proposta de trabalho, entendemos que a aprendizagem em
artes visuais na formação inicial possui natureza autoral e genuína, ou
seja, cada futuro educador tem participação singular nos atos de
aprendizagem. Alguns princípios, listados abaixo, são relevantes para
orientar tais aprendizagens junto aos licenciandos:
*
Rosa Iavelberg é professora associada da Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo do Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada.
Líder do Grupo de Pesquisa Formação Educadores em Arte (CNPq)
http://lattes.cnpq.br/3612410780790990. rosaiave@usp.br
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Mas o que isso tem a ver com as pesquisas que tratam das
crianças e suas culturas? Segundo Giménez e Traverso
(1999), o discurso moderno caracteriza-se pela universalidade
e generalização, ou seja, nossos referenciais de análise
contemplam uma voz racional, branca, masculina, ocidental,
heterossexual, civilizada, “normal e adulta” nas análises
“sobre” e não “com” as crianças. Os autores convidam-nos a
desconfiar desses discursos que pretendem construir verdades
absolutas sobre as infâncias e reivindicam a alteridade, que
significa ouvir e respeitar as outras vozes, entre elas, as vozes
das crianças. (DELGADO e MULLER apud BRANDÃO, 2021, p.
42, grifo nosso).
Isso não significa que o professor, nas salas de aula, será passivo, se
omitindo de instigar, aprofundar, expandir e estabelecer relações entre
a arte das crianças e a do mundo em sua diversidade, numa
perspectiva não excludente.
Aos 5 anos, Martim fez uma girafa. Postei, novamente, para os “amigos
do feed” afirmando: “Martim disse que é girafa”. (5 anos)
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Como vimos, não se trata de dar voz ao Martim, isso foi algo
importante no começo do século XX, na escola renovada, pois na
cultura da escola tradicional a criança apenas escutava, repetia,
treinava habilidades e copiava o que era proposto por adultos.
O livro Desarollo de la Capacidad Creadora (1961), de Viktor
Lowenfeld – autor do modernismo da arte/educação – aborda a fala da
criança e nos mostra que o título de seu trabalho é seguido da
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Considerações finais
A arte/educação da escola renovada, principalmente a da Europa e a
dos Estados Unidos, que nasceu no final do século XIX e perdurou até
o final dos anos de 1980 do século XX, em nosso país, influenciou
práticas da livre-expressão, mas não teve o alcance necessário em
grande parte da educação básica. Porém, teve o mérito de visar a
mudanças na percepção da escola e da sociedade sobre a infância (no
singular), acreditando numa educação através da arte, por um futuro
melhor ao formar pessoas sensíveis aos problemas dos demais e ao
meio.
Entretanto, pesquisas contemporâneas nos apontam que contextos
culturais e modos de vida distintos geram assuntos e formas
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Referências
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 2. ed. São Paulo:
Perspectiva, 1972.
Filmes