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“Rádio Benjamin”:

as narrativas radiofônicas de Walter Benjamin e uma


pedagogia antifascista
RUI BRAGADO SOUSA*

Resumo: O artigo analisa as narrativas radiofônicas de Walter Benjamin, traduzidas no Brasil


com o título “A hora das crianças”. Procura-se compreender a motivação do autor judeu-alemão
em falar ao público infantil durante a dramática década de 1920 na Alemanha da República de
Weimar, de crises econômicas e ascensão do fascismo. A crítica da modernidade, da noção de
progresso contínuo, da técnica capitalista em Benjamin não poderia ser apreendida sem uma
discussão sobre os impactos do rádio na sociedade alemã, como ferramenta pedagógica libertária
em contraposição a sua apropriação como instrumento de propaganda, pelos nazistas. Nesse
processo, verifica-se o protagonismo da criança na obra de Benjamin e o pioneirismo do campo
acadêmico denominado atualmente como “Sociologia da Infância”. Em discussão paralela com o
restante de sua produção intelectual, a análise da infância constitui fundamentos para uma
“pedagogia libertária” no sentido da “emancipação” descrita por Theodor Adorno, voltada para a
autonomia do indivíduo, com forte teor antiautoritário e antifascista.
Palavras-chave: Radiopeça; Sociologia da infância; Educação libertária.
[POR FAVOR, INCLUA O TÍTULO EM INGLÊS, ABSTRACT E KEY WORDS]

*
RUI BRAGADO SOUSA é doutorando em Educação (UEM).
“O padrão pedagógico do Ocidente venha de Fénelon ou de Jean-
Jacques, dá sempre, em qualquer casa, em qualquer família
constituída, a educação do príncipe”
(Oswald de Andrade, Obras completas).

Introdução: História Social da Criança e da Família.


A análise crítica da técnica e dos Contudo, poucos pesquisadores
modernos meios de comunicação e conseguiram sair do hiato entre teoria e a
reprodução da imagem e som são temas prática, isto é, conceber de forma
bastante conhecidos na densa obra de dialética a preciosa contribuição de
Walter Benjamin. Do “simples” acender Benjamim para o ensino infantil e sua
do fósforo como experiências táteis e o crítica da modernidade através da crítica
click do fotógrafo com o inconsciente à técnica industrial.
ótico, articulando-os com a reprodução Desde os trabalhos de juventude de
técnica da arte como forma de Benjamin, como “A vida dos
“experiências de choque”, há a estudantes”, de 1915, até as obras tardias
enunciação de conceitos inéditos com a como os textos sobre Baudelaire há uma
originalidade que inserem o pensador relação dialética entre a infância e temas
alemão entre os grandes nomes da “adultos”, com a crítica literária, a
filosofia do século XX. Da mesma estética da arte e a historiografia. O
forma, seus trabalhos sobre brinquedos, lúdico, a mimese, os jogos, as
ludicidade e cultura infantil vem brincadeira constituem parte de seu
despertando o interesse dos método filológico, isto é, a inserção da
pesquisadores da Educação. Já nessas alteridade, dos excluídos, dos sem-nome
reflexões há o pioneirismo de Benjamin na história e na literatura. Já nos escritos
sobre conceito de infância como algo pioneiros de 1914-15 há o desejo de
“construído historicamente”, renovação espiritual e material da
desenvolvido posteriormente de forma sociedade, a recusa radical de não
sistemática por Philippe Ariès, em “vender a alma à burguesia”. Mas
poucos estudiosos legaram devida pequenos textos redigidos em forma
atenção ao seu perfil de brilhante... palestras radiofônicas, traduzidos
pedagogo.1 Nesse sentido, procura-se diretamente das obras completas de
demonstrar o método e as formas de Walter Benjamin em alemão,
elaboração e narração das peças organizadas por Rolf Tiedermann. Mas a
radiofônicas e a utilização de um questão que deve ser feita antes da
extraordinário meio de comunicação análise o livro é por que Benjamin
para a educação popular. É esta a tarefa interessou-se pela cultura infantil e
deste artigo, apreender a práxis juvenil em um período catastrófico na
pedagógica do legado de Benjamin para Alemanha, de crises econômicas e de
a educação e o ensino, em sintonia com tensões políticas com a escalada nazista?
sua análise técnica do rádio. A resposta parcial a esta questão só pode
ser evidenciada em justaposição com o
Em Infância berlinense: 1900, restante de sua produção intelectual,
Benjamin, como criança, produz uma sobretudo a tese de livre-docência ou
mudança radical sobre o conceito de Habilitation, o famoso e complexo
autobiografia, através de construções Origem do drama barroco alemão.
imagéticas ou “imagens dialéticas”
como ele mesmo as define. Ao buscar as Para Bernd Witte, biógrafo de Benjamin,
memórias no próprio inconsciente ele pretendia utilizar o aparato de
infantil, Benjamim privilegia o universo produção técnica para se contrapor ao
onírico, dos sonhos, a magia da infância “crescimento desmedido de uma
em sua plenitude. Com essa alteridade mentalidade de consumidores”,
ele encontra a voz da “não linguagem” estimulando o ouvinte à produção
da “não razão”, pois etimologicamente a independente através da forma dos
palavra infância remete ao período programas. Um rádio assim
anterior a fala (do latim infantia, ou antes refuncionalizado, transformado em
da fala). Ele procura “apoderar-se das médium dialógico, deveria
imagens nas quais se evidencia a essencialmente ultrapassar a “separação
experiência da grande cidade por uma entre realizador e público”, tornando-se
criança da classe burguesa” com isso o modelo de uma nova “arte
(BENJAMIN, 2017, p. 70). popular”. A tradição do Esclarecimento
[Aufklärung], no qual ele se situa nessas
Essas reflexões teóricas de Benjamin reflexões sobre o rádio, é evidenciada de
sobre a infância podem ser analisadas na forma didática nas radiopeças. A
prática, nas narrativas radiofônicas tentativa de transformar o aparato a
direcionadas ao público infantil. Textos serviço da diversão e do entretenimento
que foram escritos e narrados pelo em um instrumento de comunicação que
próprio Benjamin entre os anos de 1927 deveria promover o autoesclarecimento
e 1932 e apresentadas em duas rádios da esfera pública tinha de permanecer
alemãs em programas com cerca de vinte uma utopia, tanto naquela época como
minutos de duração. A horas das agora, mas uma utopia cujo significado
crianças2 é formado por vinte e nove social era ainda mais irrecusável do que
1
Pedagogo não no sentido strictu-sensu, restrito relação entre professor-aluno, orientando assim o
à formação pedagógica. Mas na definição mais processo de ensino e aprendizagem. (SAVIANI,
ampla e abrangente da pedagogia enquanto teoria 2011, p. 401).
2
da educação, que busca equacionar o problema Como foi intitulada no Brasil. Em outros países
da relação entre o educador e o educando, de a mesma obra é citada como “Radio Benjamin”.
modo geral, ou no caso específico da escola, a
aqueles das peças didáticas com as quais Benjamin recusa os modelos meramente
Brecht na mesma época procurava abrir evolucionistas – tanto liberais como
ao teatro uma função pedagógica. Os marxistas – que acreditam em um avanço
trabalhos jornalísticos e político- constante do devir da história. Ele opôs a
midiáticos de Benjamin nesses anos esse modelo a imagem da história como
foram de fato determinados acúmulo de catástrofes. Da mesma
crescentemente pelo intenso intercâmbio forma, ele rejeita a cultura enquanto
intelectual com Brecht.3 (WITTE, 2017, sinônimo da civilização; para Benjamin,
p. 94). a barbárie está inserida no próprio
conceito de cultura (SELIGMANN-
Fundamentação de análise: a SILVA, 2010; LÖWY, 1989, 2005).
Sociologia da infância Como crítico ferrenho da modernidade,
Há uma aproximação entre a análise da concepção linear de progresso que
sociológica da infância em Benjamin e levava a Europa invariavelmente rumo a
seu método historiográfico. O barbárie, é natural seu interesse pelas
vislumbrar outras viagens, “ouvir ou gerações vindouras, capazes de inverter
inaudito”, “tocar o intocado”, ou seja, os a “ordem do caleidoscópio”, conforme a
produtos residuais da infância que estão preciosa alegoria que remete à infância o
sempre se reordenando em formando protagonismo em uma época de
algo novo, constituem também o ofício catástrofes:
do historiador. O método da história é O processo da história, tal como se
um método filológico, escreve Benjamin apresenta no conceito da catástrofe,
(2012, p. 184), “Hofmannsthal fala em não pode solicitar mais atenção do
‘ler o que nunca foi escrito’. O leitor que pensador que o caleidoscópio nas
assim lê é o verdadeiro historiador,” ele mãos de uma criança, no qual a cada
complementa. “A construção histórica é rotação tudo o que estava em ordem
se desmorona para formar outra
dedicada à memória dos sem nome”,4
ordem. A imagem tem a sua razão de
escreve nas notas às Teses “Sobre o ser, e bem fundada. Os conceitos dos
conceito de história”, uma vez que a dominantes foram sempre os
figura do próprio historiador assemelha- espelhos graças aos quais se formou
se ao do catador, isto é, fazer história dos a imagem de uma outra “ordem”. O
detritos da história. “A história, para caleidoscópio tem de ser quebrado
Benjamin, é aproximada do modelo do (BENJAMIN, 2015, p. 156).
colecionador e daquele do
O protagonismo infantil numa
Lumpensammler, o catador de papéis”
conjuntura de tragédias anunciadas os
(SELIGMANN-SILVA, 2010, p. 52). O
coloca no centro de construção de um
historiador que salva os “detritos” da
mundo novo, capazes de inverterem a
história visa à interrupção de seu curso,
ordem social construída pelo fascismo,
o que chamamos de progresso. Esta base
quer seja de caráter jurídico, pedagógico,
teórica será aplicada na apreensão de A
social, político, enfim, cultural. Esse
hora das crianças.
destaque conferido por Benjamin às
3
Em uma conferência transmitida em 27 de projeto de uma revista intitulada Crise e Crítica.
junho de 1930 pela Rádio Sudoeste da Por razões financeiras, no entanto, o projeto não
Alemanha, em Frankfurt, ele apresentou Brecht chegou à prática. (WITTE, 2017).
4
aos seus ouvintes como “educador, político e Esta passagem remete indiretamente para a
organizador”, e o seu alter ego, o senhor Keuner, etimologia da palavra infância (in-fans, ou antes
como arquétipo do “líder”. A colaboração intensa da fala).
com o dramaturgo alemão levou Benjamin ao
crianças assemelha-se hoje ao conceito social e, para isso, dar voz e
em construção denominado “Sociologia protagonismo às pessoas de pouca idade.
da infância”, que integra um campo mais Seu objetivo é compreender o que as
amplo chamado “cultura da infância”. A crianças têm feito ao longo da história,
metodologia de Walter Benjamin, ao continuamente e até repetitivamente, que
aproximar temas aparentemente os adultos ainda não conseguem
distantes como política e religião, entender. (FARIA, 2009).
teologia e materialismo histórico, volta-
se para os excluídos da história, para os A questão que se coloca é como dar voz
sem voz e “sem-nome” (crianças, ao chamado “mudo” da história? Inicia-
prostitutas, mendigos, proletários). se, então, conforme Sarmento, “um olhar
Método este que pode ser sintetizado na caleidoscópico sobre a sociologia, no
fórmula “escovar a história a contrapelo” sentido de identificar a presença da
(BENJAMIN, 1994, p. 229). O infância no desenvolvimento do
protagonismo da criança visando a pensamento sociológico e descortinar as
alteridade possuí relação de razões para sua gritante ausência nas
aproximação e consonância com os correntes clássicas de sociologia” (apud
temas da sociologia da infância atual. FARIA, 2009, p. 23). Manuel Jacinto
Sarmento e Manuel Pinto, do Instituto de
A sociologia da infância5 visa Estudos da Criança da Universidade do
compreender as práticas sociais da Minho, buscam dar voz à criança com o
criança a partir de si mesmas, escapando objetivo de uma “autonomia conceitual”
de uma perspectiva “adultocêntrica”. que pressupõe o descentramento do olhar
Procura-se estabelecer ou construir uma do adulto como condição de percepção
pedagogia da diferença, da escuta, do das crianças e de inteligibilidade da
lúdico, das brincadeiras, para infância. A metodologia utilizada deve
compreender o mundo infantil, ter por principal escopo dar ênfase a voz
complexo em suas relações miméticas, e às crianças, isto é, a expressão da sua
em que medida tais relações constituem ação e da respectiva monitoração
algo como uma “cultura da infância”. A reflexiva. Além da técnica, o sentido
pesquisadora Ana Lúcia Goulart de Faria geral da reflexibilidade investigativa
(Unicamp) destaca que “desde Walter constitui princípio metodológico central
Benjamin já vem sendo construído outro para que o investigador adulto não
conceito de criança: capaz, produtora de projete o seu olhar sobre as crianças.
cultura, portadora de história”. Para além
do filho ou do aluno (perspectiva É nesse sentido que a análise minuciosa
adultocêntrica), a preocupação dos atuais e atenta da obra benjaminiana possibilita
pesquisadores é dar à criança as a construção de práticas pedagógicas
condições para participação como ator emancipadoras6 para a educação infantil.
5
São trabalhos pioneiros nesta temática: “Nós não estudamos as crianças e é importante
Florestan Fernandes, As “trocinhas” do Bom refletir sobre essa questão”.
6
Retiro. In: FERNANDES, Florestan. Folclore e Recuperando o itinerário intelectual de
mudança social na cidade de São Paulo. Benjamin é possível encontrar influência de
Petrópolis: Vozes, 1979. MARTINS, José de temas libertários ligados ao anarquismo, como
Souza (Coord.) O massacre dos inocentes: as sustenta Michael Löwy (2017). De acordo com o
crianças sem infância no Brasil. São Paulo: sociólogo franco-brasileiro, as obras do
Hucitec, 1991. Martins demonstra como a pedagogo Francisco Ferrer, fundador da escola
sociologia não estuda[va] as crianças. O livro foi moderna, fuzilado pela justiça militar espanhola
o marco reflexivo sobre essa temática, apontando em 1909 e do educador libertário suíço Henri
que a sociologia não incorpora[va] as crianças. Roorda, autor de “O pedagogo não gosta de
Ela contribui para a construção de um inaugurado naquele país poderia ser uma
espaço diferenciado da infância fonte de renda extra (KONDER, 1989, p.
contemporânea, que possibilite às 48). Esta resposta parcial é
7
crianças experiências reais de vida, na insatisfatória, pois conhecemos o
descoberta do mundo, de si próprias e do engajamento de Benjamin e sua crítica
outro. Um espaço que lhe oportunize a aos historicistas e a sua isenção
exploração do mundo, em vivências despretensiosa, disfarçada com a
reais, de ação e reflexão, de crescimento erudição cansativa. A resposta, portanto,
e desenvolvimento, através da mimese e só pode ser evidenciada após um exame
do lúdico; a realização plena de sua detalhado do livro em sintonia com a
infância, em suma. Sustenta-se, pois, que análise do método benjaminiano.
a infância e a pedagogia constituem tema
central no pensamento benjaminiano, Rita Ribes Pereira, uma das
tema este que deve ser analisado em organizadoras da edição, afirma com
consonância com o restante de sua razão que os textos radiofônicos de
produção intelectual, compreendendo a Benjamin apresentam de forma
tragédia do nazismo, de Auschwitz, e “miniaturizada” os grandes temas que
também direcionando-os para os perpassam sua produção intelectual, isto
problemas e dilemas da técnica e da é, a junção de magia e técnica, arte e
educação contemporânea. política, cultura e barbárie. Conceitos
aparentemente contraditórios e
A hora das crianças: narrativas antitéticos, mas que conservam em
radiofônicas Benjamin uma “reversibilidade
recíproca” entre teologia e política, da
A pergunta que deve ser feita antes da qual fala Michael Löwy (2005). Esta
análise o livro A hora das crianças é por aproximação pode ser observada numa
que Benjamin interessou-se pela cultura alegoria nas notas preparatórias para as
infantil e juvenil em um período Teses “Sobre o conceito de história”:
catastrófico na Alemanha, de crises “Meu pensamento se comporta em
econômicas e de tensões políticas com a relação à teologia como o mata-borrão
escalada nazista? Esta questão não é em relação à tinta. Ele está todo
muito simples de ser elucidada, mas ao impregnado dela. Mas se fosse ocorrer
final propomos uma hipótese segundo o mata-borrão, aí não sobraria
interpretativa. Nesse momento basta nenhum resto do que está escrito”
dizer que, naquela época [1927-32] (BENJAMIN, 2012, p.181). A relação
Benjamin passava por uma grave crise teológico-político é evidente desde a
financeira, assim como a maioria da estética do fascismo em Benjamin,8 até
população alemã, e o rádio recém na análise de temas aparentemente

crianças”, permitem uma reflexão revolucionária formular uma teoria da obra de arte não aurática
na educação. Löwy não afirma que Benjamin leu nos grandes ensaios da época do exílio.
8
ou conheceu tais escritos, pois esses autores não Benjamin (2013, p. 163) vê a ascensão do
são citados em suas obras. Contudo, é notória a fascismo na Alemanha não apenas em termos
influência do anarquismo em suas obras de políticos ou econômicos: em sua “Crônica dos
juventude, assim como do surrealismo. desempregados alemães”, afirma que o fascismo
7
Segundo Witte (2017, p. 93), a atividade de “é algo como sua imagem inversa, o
Benjamin como radiojornalista não era de modo aparecimento do anticristo. Como se sabe, este
algum uma simples atividade paralela com o arremeda a bênção que foi anunciada como
propósito de ganhar dinheiro. Pelo contrário, messiânica. Assim sendo, o Terceiro Reich
sendo um dos pioneiros desse novo médium, ele arremeda o socialismo”.
elaborou aí as experiências que o possibilitaram
corriqueiros, como uma pintura rupestre infantojuvenil. A literatura fantástica e
do período paleolítico, descrito como os contos de horror que tanto seduziram
“um instrumento de magia”, ou o Benjamin, estão representados em A
chocalho de recém-nascido que é Berlim demoníaca, uma descrição tão
analisado não apenas como um próxima do original – do escritor E.T.A.
brinquedo para estimular a audição, o Hoffmann – que faz o leitor com maior
primeiro sentido a ser excitado, mas sensibilidade sentir arrepios (imagine-se
como um instrumento “para afastar os o ouvinte). Outros temas típicos da
maus espíritos” (BENJAMIN, 1994, p. cultura berlinense surgem nos mistérios
173; 250). de Caspar Hauser, na história dos
ciganos e na prática dos bandoleiros na
No geral, A hora das crianças é antiga Alemanha.
composta por vinte e nove peças
radiofônicas e divide-se em três eixos Mas o objeto das narrativas de Benjamin
temáticos. A primeira parte do livro pode não é apenas a cultura erudita, pelo
ser descrita como a dialética entre a contrário, a cultura popular ocupa lugar
tradição e o mundo moderno, onde de destaque no livro. Essa preocupação
Benjamin compara o dialeto berlinense, com a arte popular reaparece
o comércio e as feiras de rua, na Berlim posteriormente [1937] num ensaio sobre
antiga e moderna, o tradicional teatro de o historiador e colecionador Eduard
marionetes, os parques da cidade – que Fuchs, pioneiro na utilização de fontes
também estão presentes em obras como alternativas ou pouco ortodoxas, como a
“Infância berlinense”, “Imagens do caricatura e o erotismo, na análise da
Pensamento” e “Rua de mão única”. sociedade burguesa europeia após 1848.
Há uma clara preocupação em intercalar
A segunda parte, na qual se pode dividir a cultura “superior” e aquela das classes
a obra, está relacionada à literatura e à populares;9 entre Goethe e Theodor
cultura alemã daquele período. A crítica Fontane há narrativas sobre a Borsig
literária está no centro de toda produção (então a maior indústria alemã) e uma
benjaminiana sobre a arte, desde a tese Visita à fábrica de latão. O rádio, nova
de doutoramento sobre o Romantismo forma de comunicação em massa,
alemão, uma monografia em torno de popularizou formas de conhecimento
Schlegel e Novalis, até os ensaios sobre antes inacessíveis ao grande público.
os escritores Marcel Proust, Franz
Kafka, Nicolai Leskov e Charles Pedagogicamente é possível apreender
Baudelaire, além é claro de uma alguns conceitos nesse ínterim cultural.
biografia de Goethe e um ensaio sobre Imaginemos começar uma aula sobre os
suas Afinidades eletivas. De fato, o Processos contra as bruxas [uma das
pequeno texto intitulado Doutor Fausto narrativas] com a introdução da história
é uma miniatura do clássico de Goethe, de João e Maria e a desconstrução da
em linguagem apropriada ao público imagem pejorativa que as bruxas
9
No texto “Dois Tipos de Popularidade: conhecimento pelo conjunto da sociedade, que
observações básicas sobre uma radiopeça”, era excluído do acesso ao conhecimento porque
escrito em 1932, Benjamin afirma que “antes do a “pesquisa científica transmitia seus progressos
surgimento do rádio, quase não se conheciam para os especialistas”. No mesmo artigo
meios de divulgação que fossem propriamente Benjamin (1986, p. 85) anotou: “a popularização
populares ou correspondessem a finalidades de ultrapassou o caráter da intensão filantrópica e se
educação popular” (BENJAMIN, 1986, p. 85). tornou uma tarefa com leis próprias de essência e
Para o autor, o rádio se apresentava como um forma”.
meio de comunicação para a apropriação do
herdaram da Idade Média. constante, de evolução irreversível, da
Aparentemente uma análise ingênua, o acumulação crescente, da modernização
texto mescla os processos da inquisição cujo motor reside no progresso
e o famoso Malleus Meleficarum [O científico, técnico e industrial, em suma
martelo das feiticeiras] como manual como contraponto ao paradigma do
para descobrir e punir os hereges. “Mas progresso, Benjamin valoriza as
se vocês quiserem um esboço rápido, de rupturas, o descontínuo, através do
certo modo uma introdução à vida das conceito de “Origem”.
bruxas” – diz Benjamin – “então vocês
A Origem é um protofenômeno no
devem se dedicar à leitura da peça
sentido teológico, quer seja ele o Paraíso
‘Macbeth’, de Shakespeare”. Em sentido
ou o Comunismo primitivo, ele
semelhante, na narrativa sobre a queda
representa uma idade edênica e
da Bastilha, a antiga prisão nacional da
igualitária na Terra. A Origem não é só
França, além de fazer toda a cronologia
Entstehung, um surgimento, um
da famosa fortaleza para presos políticos,
nascimento milagroso, mas sobretudo,
Benjamin descreve documentalmente
Ursprung: momento original que sempre
desde as curiosas formas de
se renova. Daí a frase misteriosa de
comunicação inventadas pelos
Walter Benjamin: “Ursprung ist der
prisioneiros, até as lendas do homem da
Ziel”, isto é, “A origem é o alvo”.
máscara de ferro. Com notoriedade,
Literalmente são “saltos” para fora da
Benjamin (2015, p. 99) conclui que “as
continuidade histórica linear que
crianças querem evidentemente
rompem com o desenvolvimento
conhecer tudo. E se os adultos só
meramente evolucionista da História
mostram a elas o lado bem comportado e
(BENJAMIN, 2011). Voltaremos ao
correto da vida, elas logo vão querer
conceito de “Origem” mais adiante.
conhecer o outro lado por si mesmas”.
Na sequência dos textos sobre vigarices
Por fim, o terceiro e último eixo temático
e fraudes, Benjamin parece anunciar uma
representa ao mesmo tempo um enigma
catástrofe com as narrativas sobre “A
e a chave para compreensão da
destruição de Herculano e Pompeia, O
motivação de Benjamin para falar ao
terremoto de Lisboa, O incêndio do
público infantil. As últimas dez
teatro de Cantão, O desastre ferroviário
narrativas radiofônicas abordam temas
da ponte do Rio Tay, A enchente do rio
distintos das anteriores, repentinamente.
Mississipi em 1927”, e conclui com as
Dois textos rompem com a tradição
curiosas “Histórias reais sobre cães”,
cultural e os costumes alemães, são eles:
onde expõe a sensibilidade e o instinto
Cagliostro, um conhecido charlatão e
do animal para reconhecer caráter, para
vigarista europeu do século XVIII, e As
aprender, e até para prever
fraudes em filatelia, ou as falsificações
“terremotos”, antes mesmo dos
entre os colecionadores de selos.
sismógrafos. Esses textos possuem uma
Lembremos que a interrupção não é algo
conexão e um objetivo e podem ser
que ocorre a esmo na filosofia
compreendidos desde que o método
benjaminiana, ela tem um objetivo,
benjaminiano seja desvendado.
assim como as pausas ou cesura no teatro
de Brecht. Oposta à concepção No final da década de 1920, a
estritamente quantitativa da problemática do fascismo às portas do
temporalidade, que percebe o poder ganha destaque nas obras de
movimento da história como um Benjamin. Para romper com a reificação
continuum de aperfeiçoamento do moderno trabalhador industrial, com
a crença ilimitada no progresso da – o tempo messiânico” (BENJAMIN,
técnica, com a concepção de tempo 2011, p. 262).
linear, homogêneo e vazio, para
Esta ideia de interrupção pode ser
“mobiliar para a revolução as energias da
melhor compreendida em sintonia com o
embriaguez”, Benjamin desenvolve o
conceito de “Origem” [Ursprung]: “O
conceito de “interrupção messiânica”. É
que é próprio da origem [e não gênese]
esse conceito de interrupção da história,
nunca se dá a ver no plano factual, cru e
associando luta de classes e teologia,
manifesto. O seu ritmo só se revela a um
marxismo e messianismo, também
ponto de vista duplo. A origem (...) tem
definido como cesura, que interliga toda
a ver com a pré e pós-história dos fatos”
sua produção intelectual. Era necessário,
(BENJAMIN, 2011, p. 34). O conceito
pois, explodir o continuum da história.
de “Origem” é certamente bastante
Seu método composto por alegorias10 e
complexo e obscuro. Segundo o filósofo
aforismos11 privilegia o uso de imagens,
Romero Freitas, especialista na obra de
como ocorre no livro das Passagens.
Walter Benjamin no Brasil, uma
Michael Löwy o descreve como “crítica
estratégia interessante é entendê-lo como
teológica” ao tempo mecânico, o que
uma espécie de “estrutura” histórica,
constitui um dos fundamentos
algo como uma ideia platônica, porém
filosóficos de sua rejeição às ideologias
historicizada, ou seja, a Ideia em
do progresso. Para Walter Benjamin, não
Benjamin não é uma mera representação
se pode pensar nenhum acontecimento
do espírito, ela possui uma realidade
empírico isolado que não tenha uma
sensível. Para Márcio Seligmann-Silva
relação necessária com a constelação
(2008), Ursprung – literalmente proto-
temporal específica em que acontece.
salto – significa saltar e fazer pontes
Mas o tempo da história é diferente do
entre fragmentos da redenção, isto é,
tempo da mecânica, ele pondera. O
uma rememoração do evento original
tempo dos calendários ou dos ponteiros
que se transforma em tradição cultural.
do relógio não contém o que ele chama
Jeanne Marie Gagnebin (1999, p. 10)
de “tempo preenchido”, pois são
reitera que Ursprung designa a origem
mecanicamente ascendentes,
como salto [Sprung] para fora da
quantitativos, em detrimento do tempo
sucessão cronológica niveladora e linear
vivido, ou da experiência. “A esta ideia
tradicional; pelo seu surgir, a origem
do tempo preenchido chama-se na Bíblia
quebra a linha do tempo.12
– e esta é a sua ideia histórica dominante
Uma vez compreendido o método
benjaminiano, sobretudo o conceito de
10
“O sentido literal não é o sentido verdadeiro. “Infância e história”, o filósofo italiano se
Deve-se aprender uma outra leitura que busque debruça sobre este complexo autor. No seminário
sob as palavras do discurso seu verdadeiro “O que é contemporâneo” (2009), ele retoma as
pensamento, uma prática que os estoicos indagações de Nietzsche em “Considerações
chamam de hyponoia (subpensamento) e à qual intempestivas”, acerca da diacronia, da não-
Filo de Alexandria dará seu nome definitivo de coincidência do tempo histórico. “(…) A via de
alegoria (de allo, outro e agorein, dizer)”. acesso ao presente tem necessariamente a forma
(GAGNEBIN, 2009, p. 34). de uma arqueologia que não regride, no entanto,
11
“Um aforismo jamais coincide com a verdade; a um passado remoto, mas a tudo aquilo que no
ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia”, presente não podemos em nenhum caso viver e,
segundo o mestre nesse estilo literário, Karl restando o não vivido, é incessantemente
Kraus. relançado para a origem sem jamais poder
12
Outro grande referencial sobre Walter alcançá-la” (AGAMBEN, 2009, p. 70).
Benjamin é Giorgio Agamben. Desde 1978, em
“Origem”, pode-se pensar numa hipótese nas notas preparatórias às Teses. As
que o motivou a falar ao público crianças representam, assim, a
infantojuvenil. Os textos catastróficos esperança; suas tradições e cultura
que predominam na terceira parte do sintonizam a vontade utópica, na qual o
livro parecem anunciar o próprio sonho primordial e a “luz do futuro” se
Apocalipse, com a chegada de Hitler ao fundem.
poder. Antes desses “terremotos”,
surgem deliberadamente os artigos sobre O rádio, recente médium de
trapaceiros, charlatães, falsificadores comunicação, assim como o cinema, foi
[Cagliostro]; é como se Benjamin apropriado pelos nazistas como
construísse, em forma de aforismos, a instrumento de propaganda em massa, ao
imagem de um impostor e a impotência ponto do próprio Hitler afirmar que não
em deter sua ascensão. A imagem teria conquistado a Alemanha sem os
alegórica dos cães, que surgem em pelo alto-falantes e o rádio (SANCHES,
menos três textos, evidencia a perda da 2018, p. 101). No ensaio sobre A obra de
percepção na era moderna, descrita no arte na era de sua reprodutibilidade
ensaio “Experiência e pobreza”: “nunca técnica, Benjamin ressalta o papel
houve experiências mais radicalmente inovador das novas formas de
desmoralizadoras que a experiência transmissão e reprodução da imagem
estratégica pela guerra de trincheiras, a com o cinema, e do som da voz humana
experiência econômica pela inflação, a com o rádio. Com ele, a amplitude do
experiência do corpo pela fome, e discurso falado extrapola os limites do
experiência moral pelos governantes”. Parlamento, atrofiando-o, e atinge o
Lembremos também da influência próprio público que, enquanto ouvinte,
freudiana em Benjamin, mas não a mera tem a impressão ilusória de que faz parte
reprodução do inconsciente pulsional, do sistema político, o que Benjamin
pelo contrário, ele busca resgatar o (1994, p. 184) chamou de “estetização da
inconsciente óptico, tátil, perceptivo, política”.13 Ao permitir que as classes
como demonstra o livro de Sérgio Paulo trabalhadoras se expressassem
Rouanet (1981) sobre os itinerários teoricamente, o nazismo lhes restringia a
freudianos em Walter Benjamin, bem participação de fato, democrática, na
intitulado Édipo e o Anjo. política.
A esta apropriação nefasta das novas
Em suma, boa parte das narrativas formas técnicas de comunicação e
infantis sintetiza o centro da filosofia propagada, Benjamim opôs a seu modo
benjaminiana, desenvolvida no ensaio uma “Pedagogia libertária”, contrapondo
sobre Eduard Fuchs e nas Teses “Sobre e denunciando o que ele denomina de
o conceito de história”. O conceito de “Pedagogia colonial”. A massificação da
que todo documento de cultura é também propaganda pelo partido nazista, seu
um documento de barbárie. Ele sabia do método de persuasão quase religioso,
fracasso iminente em deter os nazistas: tinha por objetivo preparar os jovens à
“Nossa geração teve de pagar para saber, doutrina fascista e a aderir a chamada
pois a única imagem que irá deixar é a de “juventude hitlerista”. “A pedagogia
uma geração vencida. Será este o seu proletária demonstra sua superioridade
legado aos que virão”, anotou Benjamin ao garantir às crianças a realização de
13
“[...] todos os esforços para estetizar a política
convergem para um ponto. Esse ponto é a guerra”
(BENJAMIN, 1994, p. 195).
sua infância”, pois uma sociedade Intellectuels, de Pierre Naville. Naville,
produtora de mercadorias, vê a educação então redator da revista La Révolution
com desenvoltura tão lamentável, apenas Surréaliste, dizia ser o pessimismo “a
“enquanto mercado colonial para bens fonte do método revolucionário de
culturais” (BENJAMIN, 2009, p. 118, Marx”; único meio de “escapar às
148).14 A realização plena da infância em nulidades e às desventuras de uma época
Benjamim ocorre através do teatro, do de compromisso” (LÖWY, 2002, p. 49,
jogo, do brincar, de forma lúdica. 64).
Contra acusações de “politização da A partir dessas premissas, Benjamin
criança” ou “idealismo pedagógico de desenvolveu conceitos críticos inéditos
fachada revolucionária”, Benjamin em forma de diagnóstico da sociedade
(2009, p. 123) responde exemplarmente: moderna e parece ter delegado às
“será que a escola primária crianças a função pedagógica para sua
profissionalizante, militarismo e Igreja, superação. Benjamin nunca perdeu sua
associações de juventude e escoteiros desesperada esperança na Revolução,
seriam, em sua função oculta e exata, apesar do pessimismo dos seus últimos
outra coisa senão instrumentos de uma escritos, mas redefiniu-a através de uma
instrução antiproletária dos proletários”. nova imagem alegórica, nas notas
Considerações finais preparatórias para as Teses “Sobre o
conceito de história”, invertendo os
A crítica de Benjamin às ideologias do lugares comuns da esquerda
progresso sempre esteve voltada para o “progressista”: “Marx disse que as
signo da catástrofe. Seu pensamento com revoluções eram as locomotivas da
base no romantismo é extremamente história. Mas talvez elas sejam um pouco
pessimista e melancólico, o que não se diferente. Talvez as revoluções sejam a
traduz meramente em um autor fatalista mão da espécie humana que viaja nesse
ou cético. A resignação fatalista ou o trem puxando os freios de emergência”
Kulturpessimismus intelectual deve dar (apud LÖWY, 2008, p. 213).15
lugar a um pessimismo a serviço da
emancipação, sobretudo Portanto, Benjamin exige à arte e cultura
antiprogressista. O otimismo liberal- em geral e ao rádio, aqui especificamente
burguês ou social democrático, cujo analisado, uma tarefa difícil: desfazer a
programa não é senão continuum alienação do sensório corporal, restaurar
temporal linear, deve ceder hora ao a força instintiva dos sentidos corporais
pessimismo de convergência entre teoria humanos e restituir a experiência
e práxis. Walter Benjamin tomou perdida, em prol da autopreservação da
emprestado o conceito de “organização humanidade; e fazê-lo não evitando as
do pessimismo” em La Révolution et les novas tecnologias, mas perpassando-as.
14 15
Um elemento essencial dessa Aufklärung für A mesma citação reaparece em LÖWY (2005,
Kinder (Ilustração para crianças) consiste em p. 93-94), com tradução ligeiramente
desenvolver uma imunização dos ouvintes contra modificada: “Marx havia dito que as revoluções
tudo o que é impacto e sensacionalismo, que são a locomotiva da história mundial. Mas talvez
reforçam a passividade e o consumismo. O as coisas se apresentem de maneira
ouvinte deveria aprender a discernir entre completamente diferente. É possível que as
comportamento “errado” e “certo”, ou seja, entre revoluções sejam o ato, pela humanidade que
obediência a apelos mitificadores do poder e uma viaja nesse trem, de puxar os freios de
postura que tornava transparente as artimanhas emergência”.
de seus agentes (BOLLE apud SANCHES, 2017,
p. 113).
Nesse sentido, a apropriação prática e Márcio Seligmann-Silva (2010, p. 79)
teórica do novo meio de comunicação em livro sobre a atualidade de Walter
inaugura uma metodologia para a Benjamin. Em um período de crescente
educação e instrução do ouvinte, como radicalização de ideias autoritárias e
contraponto ao uso meramente concepções retrógradas de educação, o
publicitário e político que o partido legado intelectual de Benjamin
nazista impôs aos alemães através do permanece atual e pertinente para pensar
rádio. uma práxis pedagógica libertária,
voltada para a emancipação e autonomia,
Tributário das reflexões benjaminianas capaz de inverter a ordem do
acerca da infância e educação, Theodor caleidoscópio.
Adorno procura complementar o quadro
analítico após a tragédia da guerra, do
fascismo e do holocausto. Ao contrário Referências:
de Benjamin que busca interromper o ADORNO, Theodor. Educação e emancipação.
curso catastrófico da história, Adorno faz Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003
uma análise em forma de prognóstico. AGAMBEN, Giorgio. Infância e História.
No quinto capítulo da obra Educação e Destruição da experiência e origem da história.
emancipação, intitulado “Educação após Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005.
Auschwitz”, Adorno afirma que a _____. O que é contemporâneo? E outros
exigência que Auschwitz não se repita é ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.
a primeira de todas para a educação. Ela ARIÈS, Philippe. História social da criança e da
foi a barbárie contra a qual se dirige toda família. Tradução Dora Flaksman. 2. ed. Rio de
a educação, pois a educação tem sentido Janeiro: LTC, 2017.
unicamente como educação dirigida a BENJAMIN, Walter. O conceito de crítica de
uma autorreflexão crítica. Nesse sentido, arte no Romantismo Alemão. Tradução e
como todo caráter forma-se na primeira prefácio de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo:
infância, a educação precisa se Iluminuras, 1993.
concentrar na primeira infância. O único _____. Magia, técnica, arte e política: ensaios
poder efetivo contra o princípio de sobre literatura e história da cultura; tradução
Auschwitz seria a autonomia, o poder Sergio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie
Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1994.
para a reflexão, a autodeterminação, e
não-participação. Todo o livro repleto de _____. Rua de mão única. Obras escolhidas
iluminações críticas quanto ao processo volume 2. São Paulo: Brasiliense, 1995.
educacional poderia ser sintetizado nesta _____. Charles Baudelaire: um lírico no auge do
fórmula: “a função da escola é a capitalismo. Obras escolhidas volume 3. São
desbarbarização da humanidade”. A Paulo: Brasiliense, 1996.
educação das novas gerações deveria se _____. Reflexões sobre o brinquedo, a criança e
concentrar na educação infantil, pois ali a educação. Tradução, apresentação e notas de
Marcus Vinicius Mazzari. São Paulo: Duas
residiria a única possibilidade de criar
Cidades; Editora 34, 2009.
novos seres humanos totalmente
preparados para evitar a experiência de _____. Ensaios Reunidos: escritos sobre Goethe.
São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2009.
guerra e do Holocausto.
_____. Origem do drama trágico alemão. Edição
Com esses e outros pensamentos e tradução João Barrento. Belo Horizonte:
podemos perceber a delicada Autentica, 2011.
grandiosidade da contribuição _____. O anjo da história. Organização e
benjaminiana para pensarmos hoje uma tradução João Barrento. Belo Horizonte:
Autêntica, 2012.
ética da produção cultural, conclui
_____. O capitalismo como religião. KONDER, Leandro. Walter Benjamin: o
Organização Michael Löwy; tradução Nélio marxismo da melancolia. Rio de Janeiro:
Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Campus, 1989.
Boitempo, 2013.
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de
_____. Imagens do pensamento, sobre o haxixe e incêndio, uma leitura das teses sobre o conceito
outras drogas. Edição e tradução de João de História. Tradução de Wanda Nogueira Brant.
Barrento. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. São Paulo: Boitempo, 2005.
_____. A hora das crianças (narrativas _____. Romantismo e messianismo: ensaios
radiofônicas). Tradução Aldo Medeiros. Rio de sobre Georg Lukács e Walter Benjamin.
Janeiro: Nau Editora, 2015. Tradução de Myrian Veras Baptista. São Paulo:
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