Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Literatura Primordial
A literatura medieval fora marcada por contradições, já que, no período que compreende
a Idade Média (Séc. V ao XV), evidenciam-se traços antagônicos de violência, lutas pela
hegemonia do poder, conquistas e dominações entre povos, cristianismo, luxúria e moral
ascética. No entanto, fora responsável, mesmo que lentamente, por preparar terreno à Idade
Moderna, assim diz Coelho (1991, pp. 32-33):
A Literatura medieval surge na Europa por meio de duas fontes: a Popular – prosa
“exemplar” vinda do Oriente -; e, a Culta – prosas aventurescas das novelas de cavalaria. Na
Literatura Popular destaca-se o idealismo e a visão de um mundo de magias e maravilhas. Na
Culta, os problemas da vida cotidiana, os valores ético-sociais e as lições advindas da
sabedoria prática.
Características das narrativas: Os contos de fadas destacam-se pelo “simbolismo” e
retratam as violências às crianças e às mulheres, os assassinatos e as práticas de canibalismo;
a fome e a miséria, que levam os pais a abandonarem os filhos na floresta, e os homens a
matarem as esposas para se casar com as filhas (WALKENAER, apud COELHO, 1991, pp. 33-
34).
Algumas narrativas desse período: Os Isopets – O Romance da Raposa (fábulas
baseadas nas traduções de Fedro acerca de Esopo e se expandem na Europa no Séc.
X); Disciplinas Clericalis (Pedro Alfonso) contêm conselhos morais de um pai ao filho,
reforçando provérbios e sentenças; O livro de exemplos(Clemente Sanchez, séc. XIV), coleção
de mais de trezentos contos de caráter moralizante, sentencioso e doutrinário, usado por
pregadores cristãos; O livro de Esopo (circulou na Europa, em manuscrito, por volta do Séc.
XV). A versão portuguesa apresenta um Esopo cristianizado e moralizante.
As Novelas de Cavalaria, criadas da forma Culta, em versos no Ocidente, dão origens
aos contos populares, sobretudo no Nordeste brasileiro, e tratam dos grandes feitos
heróicos. O Decameron (Boccaccio), prosa ficcional, realista e bem humorada, limita o fim da
Idade Média e início do Renascimento. Em O Decameron encontram-se os valores
contraditórios de uma época: amor cortês; luxúria; asceticismo religioso; valorização ao
cristianismo; desonestidades e falsidades; astúcias e luxúria da mulher.
Concepção da criança
Sabe-se que, até este século, as crianças não eram percebidas socialmente
como seres diferentes dos adultos, compartilhavam o mesmo tipo de roupa,
ambientes caseiros e sociais como também o trabalho. A partir do século XVIII, a
criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e
características próprias, havendo então o distanciamento da vida “adulta” e
recebendo uma educação diferenciada, que a preparasse para essa vida. Nesse
momento, a criança é vista como um indivíduo que precisa de atenção especial que
é demarcada pela idade. O adulto passa a idealizar a infância. A criança é o
indivíduo inocente e dependente do adulto devido à sua falta de experiência com o
mundo real. Até hoje, muitos ainda têm essa concepção da infância como o espaço
da alegria, da inocência e da falta de domínio da realidade. Os livros que trazem
essa concepção são escritos, então, com o objetivo de educar e ajudar as crianças
no enfrentamento da realidade.
Já com a Psicologia da Aprendizagem, a infância é tratada como uma etapa
de preparação do pensamento para a vida adulta. O pensamento infantil não tem
ainda uma lógica racional. A literatura infantil é, nesta concepção, adequada às
fases do raciocínio infantil, entendido como idade cronológica. Essas concepções
convivem, até a nossa atualidade, possíveis de serem percebidas até no modo
como os livros são selecionados e catalogados pelas editoras. No entanto, outra
concepção de infância tem sido defendida e, com ela, uma nova postura da
literatura infantil. É preciso entender que a criança é também cheia de conflitos,
medos, dúvidas e contradições, não por desconhecer a realidade, mas por trazer
em si a imagem projetada do adulto: “A imagem da criança é, assim, o reflexo
do que o adulto e a sociedade pensam de si mesmos. Mas este reflexo não é
ilusão; tende, ao contrário, a tornar-se realidade”. (ZILBERMAN, 1985, p. 18)