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Infanto-Juvenil
Marijara Rocha
Literatura
Infanto-Juvenil
Marijara Rocha
Sumário
Página 04
Origem da
1 Literatura infantil
Página 05
Origem da literatura
2 Infantil no ocidente
Página 12
Origem da literatura
3 Infantil no brasil
Página 14
Principais escritores de literatura
4 Infanto-juvenil no brasil
Página 17
Ainda não acabou:
5 Outros grandes escritores
brasileiros e suas obras
Página 35
Literatura juvenil:
6 O que a caracteriza?
Página 38
A literatura infantil
7 No processo de formação do leitor
4
1
ORIGEM DA
LITERATURA INFANTIL
• O Mercador e o Gênio;
• Aladim ou a Lâmpada Maravilhosa;
• Ali-Babá e os Quarenta Ladrões Exterminados por uma Escrava;
• As Sete Viagens de Simbá, o Marinheiro.
2
ORIGEM DA LITERATURA
INFANTIL NO OCIDENTE
Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que
as histórias eram elaboradas para se converterem em instrumento dela.
É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser diferente do
adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da
vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida
adulta.
“Chapeuzinho Vermelho”,
“A Bela Adormecida”,
“O Gato de Botas”,
“Cinderela”,
“Barba Azul”,
“As Fadas” e
“O Pequeno Polegar”.
Como bibliotecários, os Grimm tinham fácil acesso a textos e manuscritos raros. Daí em
diante os irmãos nunca abandonaram a prática de buscar narrativas em fontes impressas.
Logo, no entanto, eles passaram a buscar fontes orais e, para isso, recorreram a
amigos e conhecidos.
Assim, quando um conto lhes chegava narrado por vários contadores, os Grimm
selecionavam a versão mais próxima da forma primitiva ou original. Outras vezes
mesclavam partes de uma versão com outras, a fim de alcançar o mesmo objetivo.
Eles não tinham em vista a cristalização dos contos na forma exata em que os ti-
nham ouvido, mas a conservação de um protótipo ideal, em que estaria espelhada a
ascendência comum das múltiplas formas da narrativa popular oral: contos de fadas,
mitos, fábulas, lendas, sagas... Os contos foram sendo revistos a cada nova edição,
buscando-se destilar sua essência prototípica. Ao longo dos anos, contos recém-cole-
tados iam sendo acrescidos à antologia, outros foram excluídos, o que, no final, levou
a um gradual aumento no número de narrativas. Em 1857, a sétima e última edição
preparada por Wilhelm Grimm continha 200 contos de fadas e dez lendas infantis.
Para a criança não existe uma linha clara separando os objetos das coisas vivas; e o que
quer que tenha vida tem vida muito parecida com a nossa (BETTELHEIM, 2002, p. 67).
Dizer a uma criança que a terra flutua no espaço, atraída pela gravidade, a circular em
volta do sol, mas que a terra não cai no sol como a criança cai na terra, parece confuso para
ela. A criança sabe, por sua experiência, que tudo tem que repousar sobre alguma coisa,
ou ser seguro por algo. Só uma explanação baseada neste conhecimento pode fazê-la
sentir que compreende melhor a respeito da terra no espaço (BETTELHEIM, 2002, p. 70).
Uma criança, por exemplo, que a partir das estórias de fadas aprendeu a acre-
ditar que o que de início parecia uma figura repulsiva e ameaçadora pode, magi-
camente, transformar-se num amigo prestativo, está pronta a acreditar que uma
criança estranha com quem se encontrou e a quem teme pode também se trans-
formar de ameaçadora em companheira desejável (BETTELHEIM, 2002, p. 74).
2.6. Características
gerais das fábulas
3
ORIGEM DA LITERATURA
INFANTIL NO BRASIL
Mas, se na década de 1920 Lobato se destaca, nos anos 1930 surgem no-
vos autores, como Viriato Correia, Cecília Meireles e tantos outros que escreve-
ram poemas e histórias infantis, dando início a uma fase fértil de produção ge-
nuinamente brasileira. A literatura infantil brasileira dessa época tinha “uma
preocupação de valorizar o folclore nacional, a cultura brasileira, e está mui-
to próxima dos ideais do modernismo”, afirma a professora Regina Zilberman.
Com a decadência dessa política econômica, foi inevitável que a temática centrada
no rural deixasse de ser explorada e, a partir da década de 60, as histórias ganham as
cidades. Segundo Zilberman, a literatura infantil assume nessa época uma temática
urbana e passa a valorizar elementos políticos, dando destaque à sua condição eman-
EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ
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cipadora. Escritores renomados como Mário Quintana, Vinícius de Morais e Clarice
Lispector se interessam por escrever para o público infantil, e, na década seguinte,
despontam outros grandes nomes, como Ziraldo, Ana Maria Machado e Ruth Rocha.
Fazendo um balanço dos últimos trinta anos, Marisa Lajolo destaca “a presença
de temática e linguagem bastante articuladas com a contemporaneidade e um es-
petacular desenvolvimento da dimensão visual dos livros”. Quanto a isso, a profes-
sora ainda ressalta: “Não por acaso, o Brasil por três vezes recebeu o maior prêmio
internacional para o gênero: Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado e Roger
Melo foram contemplados com o prêmio Hans Christian Andersen. Não é pouco!”.
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PRINCIPAIS ESCRITORES DE LITERATURA
INFANTO-JUVENIL NO BRASIL
Morreu em 1948,
vítima de um derrame.
EAD / FACULDADE DO MACIÇO DE BATURITÉ
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A menina do narizinho arrebitado foi o primeiro livro infantil publicado pelo escri-
tor brasileiro Monteiro Lobato, em dezembro de 1920, pela editora Monteiro Lobato &
Cia. O livro foi incorporado posteriormente, em 1931, no livro As reinações de Narizinho.
Emília no país da Gramática é um livro infantil escrito por Monteiro Lobato e pu-
blicado em 1934. Seu lugar de publicação foi na editora ABC em novembro de 1934.
É provavelmente o livro mais original que já se escreveu sobre a Gramática, pois a língua
é figurada como um país, o “País da Gramática”, povoado por sílabas, pronomes, nume-
rais, advérbios, verbos, adjetivos, substantivos, preposições, conjunções, interjeições...
Quindim, o rinoceronte, é quem leva o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo (Emília, Pe-
drinho, Narizinho e Visconde de Sabugosa) para lá, e é ele quem tudo mostra e tudo explica.
Alguns críticos afirmam que o motivo para Lobato escrever este livro foi “vin-
gança”, por ter sido reprovado aos quatorze anos de idade na prova de Português.
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AINDA NÃO ACABOU:
OUTROS GRANDES ESCRITORES BRASILEIROS
E SUAS OBRAS
Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira.
5.2. Ziraldo
(1932)
A paixão de Ziraldo pelo desenho começou muito, muito cedo. Seu primeiro traba-
lho foi publicado aos seis (!!!) anos de idade. A partir da década de 50, Ziraldo entra
no mercado de trabalho trabalhando em diversos jornais e revistas de grande expres-
são como: Jornal do Brasil, O Cruzeiro, Folha de Minas entre outros.
Além de artista gráfico, Ziraldo é tam-
bém pintor, cartazista, jornalista, teatró-
logo, chargista, caricaturista e escritor.
Os livros de Ziraldo já foram traduzidos para várias línguas, entre elas, espanhol,
italiano, inglês, alemão e francês. Diversas publicações nacionais e internacionais,
como Vision, Playboy e GQ, utilizam trabalhos de Ziraldo em suas páginas.
I. Flicts
(1969)
A história do menino maluquinho retrata uma infância alegre, feliz, cheia de aven-
turas e principalmente saudável! Maluquinho inventava histórias e com elas, ia via-
jando junto. Maluquinho fazia poemas e saía declamando por toda a casa. Maluqui-
nho era, de fato, maluquinho! Um maluquinho saudável como toda criança deveria
ser. O livro conta a história de um menino que conseguia transformar o feio em boni-
to e o triste em alegre. O livro conta a história de um menino que via tudo por meio
da fantasia e por isso era chamado de “maluquinho”, pois fazia da vida, o que ela é
de verdade: um parque de diversões.
Ruth Rocha nasceu no dia 02 de Março de 1931, em São Paulo. Seus pais chamavam-
-se Álvaro e Esther. Desde a tenra idade, ouvia as anedotas de família, que sua mãe lhe
contava ao pé do ouvido. Quando um pouco maior, seu avô contava-lhe, de forma oral-
mente adaptada, as histórias escritas pelos irmãos Grimm e outros grandes escritores,
porém foi com a leitura de Monteiro Lobato que sua visão literária se abriu totalmente.
Publicou seu primeiro livro, Palavras, Muitas Palavras, em 1976. Este trazia di-
versas imagens e discurso coloquial, com a finalidade de mostrar às crianças que
ler poderia ser extremamente divertido. Seu segundo livro, Marcelo, Marmelo,
Martelo, foi traduzido para diversos idiomas, transformando-se em um best-seller.
Com obras que proporcionam reflexão nas crianças, com assuntos também
de cunho social, foi eleita para a Academia Paulista de Letras, e condecorada, em
1988, com a Comenda da Ordem do Ministério da Cultura. Além disso, recebeu
diversos prêmios, dentre eles o da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juve-
nil, por oito vezes o Prêmio Jabuti e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Conforme Darós (2005) “A partir da década de 70, a Literatura Infantil sofre uma
virada temática e passa a se sustentar em novos dogmas da educação: a valorização
da criatividade, da independência e da emoção infantil, o chamado pensamento crí-
tico”. Os constantes questionamentos feitos por Marcelo demonstram ao leitor que
não é preciso sempre aceitar as coisas, sem precisar entender o “porquê” das coisas.
O texto da Ruth Rocha é um convite para essa reflexão. Antes de começar a ler, é in-
teressante fazer junto com as crianças uma lista do que elas acreditam ser um “direito”.
É bom explicar que esses direitos estão devidamente registrados em um documento
chamado Declaração Universal dos Direitos da Criança, e que foi reconhecido em uma
Assembleia Geral da ONU.
Considerada pela crítica como uma das mais versáteis e completas dentre as es-
critoras brasileiras contemporâneas, a carioca Ana Maria Machado ocupa a ca-
deira número 1 da Academia Brasileira de Letras, que presidiu de 2011 a 2013.
No final de 1969, depois de ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos tam-
bém detidos, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava
cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio.
Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jorna-
lista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar
professora de Língua Portuguesa em Sorbonne. Nesse período, participou de um seleto
grupo de estudantes cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado
em Linguística e Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pe-
dro. A tese resultou no livro Recado do Nome (1976) sobre a obra de Guimarães Rosa.
Continuando a escrever para crianças, em 1977 ganhou o prêmio João de Barro pelo
livro História Meio ao Contrário. O sucesso foi imenso e levou à publicação de muitos
livros até então guardados na gaveta. Dois anos depois, junto com Maria Eugênia Sil-
veira, decidiu abrir a Malasartes, a primeira livraria infantil do Brasil , que codirigiu por
18 anos, apostando na inteligência do leitor, na criteriosa seleção dos títulos a partir de
um conhecimento acumulado, na liberdade de escolha, na convicção de que ler livro
bom é uma tentação irresistível e um direito de toda criança. O sucesso foi tal que, daí a
um ano, só no Rio de Janeiro, havia 14 livrarias que buscavam seguir o mesmo modelo.
Também foi editora, uma das sócias da Quinteto Editorial, junto com Ruth Rocha.
Há mais de três décadas vem exercendo intensa atividade na promoção da leitura e
fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da UNESCO em diferentes pa-
íses e sido vice-presidente do IBBY (International Board on Books for Young People).
Prêmios
Prêmios
Prêmios
• 1988 - Prêmio Bienal de São Paulo, Bienal de São Paulo (Menção Honrosa -
Uma das Cinco Melhores Obras do Biênio)
• 1995 - Prêmio Melhores do Ano, Biblioteca Nacional da Venezuela
• 1996 - Altamente Recomendável, Fundalectura, Bogotá, Colômbia
• 1996 - Melhor Livro Infantil Latino-americano, ALIJA - Buenos Aires
• 1997 - Prêmio Américas (Melhores livros latinos nos EUA)
Seu primeiro experimento na literatura foi aos 8 anos de idade: o livro O Pipo-
queiro João - publicado pela Nação Cariry Editora, do cineasta Rosemberg Cariry.
Prêmios
6
LITERATURA JUVENIL:
O QUE A CARACTERIZA?
Como consequência desta nova fase cognitiva, os jovens procuram na Literatura te-
máticas atualizadas que lhes transmitam respostas para os problemas que os perturbam
e, porque etariamente é uma idade de inquietação e sobressalto, este jovem público
leitor prefere livros dinâmicos, constituídos por muitos acontecimentos e vividos por
personagens com quem se possam identificar. Daí, revelarem um marcado gosto pelo
romance de aventuras e sobretudo pelo romance em série.
Por tratarem de questões humanas atemporais, as obras clássicas podem e devem ser
apresentadas aos leitores desde a infância, como explica José Nicolau Gregorin Filho,
professor de Literatura Infantil e Juvenil do Departamento de Letras Clássicas e Verná-
culas da USP. “Não há temas infantis ou juvenis, há temas humanos e importantes para
a sociedade como um todo, e a boa literatura discute isso”, aponta ele.
“A linguagem torna-se mais acessível e a leitura mais atraente, sem dúvida”, diz
Lalau, autor de mais de trinta livros infantis. “Cada autor que faz uma adaptação, lo-
gicamente, coloca no trabalho seu estilo, seu jeito de interpretar o texto. Mas acho que,
antes de tudo, a história original deve ser respeitada, para não virar outra coisa”, com-
pleta.
A autora Helena Gomes concorda que a história original deve ser preservada, mas
lembra que a missão fundamental da adaptação é cativar o leitor principiante.
“Não se pode perder de vista a função principal de toda adaptação: ser o primeiro
contato do jovem leitor com a obra, preparando-o para, no fundo, conhecer o texto ori-
ginal”, afirma ela que, entre outras obras voltadas para o público infantil, é autora de
uma adaptação (Tristão e Isolda, Berlendis e Vertecchia, 2010, finalista do Prêmio Jabuti
2011).
Mas quando o leitor já está preparado para trocar as adaptações pelo texto original?
O professor Gregorin explica que não há um limite de idade cronológica para abando-
nar os clássicos adaptados. Isso deve acontecer, segundo o especialista, quando o jovem
tiver se tornado “um leitor crítico”. “A formação do leitor não está presa à faixa etária
ou série escolar. Ela começa nos primeiros meses de vida e se prolonga durante sua
existência”, ressalta. “Evidente que o ideal seria antes de ele entrar na universidade,
mas a quantidade de resumos e receitas que os vestibulandos leem para a realização do
exame garante que esse ainda não é o momento”.
De acordo com Sodré (1988), nas obras best-sellers há o uso recorrente de pedagogis-
mos, ou seja, os autores procuram passar mensagens explícitas ou implícitas em seus
textos, que possam causar algum impacto ideológico no leitor. Porém, a característica
fundamental de qualquer best-seller é o entretenimento. Do ponto de vista estilístico,
a leitura é leve e corrida, como se o leitor estivesse lendo uma revista. Todos os acon-
tecimentos e tramas devem ser de muito fácil compreensão. Observa-se abundância de
diálogos entre os personagens nos textos, o que gera adesão do leitor à trama e explo-
ração da curiosidade.
Desta forma, acredita-se que o professor deve incentivar e valorizar essa prática,
mostrando aos alunos que os livros que eles gostam não devem ser desprezados e que
a grande maioria deles traz mensagens que precisam ser discutidas em sala de aula e,
além disso, compartilhar novas descobertas de leitura com os amigos.
Nesse sentido, acredita-se que obras como essas podem ser adotadas pelos professo-
res e constar nos acervos das bibliotecas das escolas como fonte de estímulo à leitura, ou
melhor, como leitura de inspiração e iniciação para os alunos, visto que o tema é bem
atrativo, e provavelmente eles descobrirão que a leitura é mais prazerosa do que eles
imaginavam, e não apenas uma forma de penitência. Vê-se então que cabe aos educado-
res, portanto, motivar os alunos a lerem, respeitando sua preferência por literatura de
massa ou culta, e ao mesmo tempo contribuindo com eles na proposta de uma análise
crítica sobre as obras, podendo de alguma forma subtrair as riquezas contidas. Sendo
assim, o público infanto-juvenil passará a sentir prazer ao ler e discutir com professo-
res assim amadurecendo naturalmente, diversificando, sem imposições e preconceitos
literários.
7
A LITERATURA INFANTIL
NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO LEITOR
* Pesquisa de:
Sílvia Cristina Fernandes Paiv
e Ana Arlinda Oliveira
Os livros infantis encontram, na escola, o espaço ideal para garantir atenção de seus
leitores, mesmo que estes sejam utilizados como leitura obrigatória e usados como pre-
textos utilitários, informativos e pedagógicos. Lajolo, (2008) garante que se ler é essen-
cial, a leitura literária também é fundamental.
A literatura infantil é arte. E como arte deve ser apreciada e corresponder plenamente
à intimidade da criança. A criança tem um apetite voraz pelo belo e encontra na literatu-
ra infantil o alimento adequado para os anseios da psique infantil. Alimento, esse, que
traduz os movimentos interiores e sacia os próprios interesses da criança. “A literatura
não é, como tantos supõem, um passatempo. É uma nutrição.” (Meireles, 1984, p. 32).
No entanto, não podemos esquecer que os livros dirigidos às crianças são escritos
por adulto. Adulto esse, que possui a intenção de transmitir através de seus textos, en-
sinamentos que julga, conforme sua visão adulta, interessante para criança.
No entanto, o livro nunca perdeu sua magia. Por meio do livro, o leitor é capaz de
projetar-se ao mundo da ficção. A leitura é a passagem do mundo real para o mundo
encantado dos livros. “Através do livro e da leitura, a humanidade pode divinizar-se,
homens e mulheres podem ser deuses, porque imantados pelas verdades expostas nas
escrituras” (Perrotti, 1990, p. 39).
Isso explica o fato dos contos de fadas serem fascinantes até os dias atuais, pois atin-
gem diretamente o imaginário da criança. Pois, a criança possui, ainda, uma sensibili-
dade estética, muitas vezes mais apurada que o adulto. “A criança mistura-se com as
personagens de maneira muito mais íntima do que o adulto” (Benjamin, 2002. p. 105).
Por meio da projeção da criança nos contos infantis, ela vive intensamente seus con-
flitos, medos e dúvidas. Referimos à projeção da criança nos contos infantis e ilustra-
ções, considerando o pensamento de Benjamin, quando nos diz que “não são as coisas
que saltam das páginas em direção à criança que as vai imaginando - a própria criança
penetra nas coisas durante o contemplar, como nuvem que se impregna do esplendor
colorido desse mundo pictórico” (Benjamin, 2002, p.69). É por meio do imaginário que
a criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a lidar com elas, podendo as-
sim, se reconhecer melhor e se conhecer como parte integrante do mundo que a cerca.
Monteiro Lobato, em sua obra D. Quixote das crianças, adaptação do clássico Dom
Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, retrata nos diálogos entre seus perso-
nagens Dona Benta e Emília, a necessidade em tornar a linguagem familiarizada pela
criança:
A etapa do imagismo ocupa uma pequena faixa de tempo na vida da criança, quan-
do a lógica característica da criança é substituída naturalmente pela lógica própria do
adulto. Sendo assim, o didatismo moralizante da Literatura Infantil, que se apresenta
geralmente nas escolas, o qual tende a antecipar a lógica do adulto, predispõe destruir
a capacidade mítica, queimando, de certa forma, etapas de desenvolvimento interior da
criança.
Sosa (1978) explica que não é a moral da história que fica registrada como experiên-
cias de conhecimento, mas o que fica registrada na alma da criança é o acontecimento
dramático da fábula, as espertezas e astucia embutidas nas ações das personagens. É
Para Arroyo “a natureza da literatura infantil, o seu peso específico, é sempre o mes-
mo e invariável. Mudam as formas, o revestimento, o veículo de comunicação que é a
linguagem”. (Arroyo, 1990, p. 25) O encantamento que a Literatura Infantil proporciona
ao leitor permanecerá sempre e em todos os lugares. No entanto, os problemas ainda
não superados pela Literatura Infantil encontram-se nas práticas pedagógicas que ain-
da insistem em apresentá-la com exercícios intelectuais ou pedagógicos, ensino da mo-
ral e bons costumes. Desviando, assim o poder da imaginação que a Literatura Infantil
proporciona e que seria o ideal na formação do leitor.
Sendo assim, entendemos que a Literatura Infantil é arte literária, destinada a deter-
minado público. Serve ao ensino, no entanto, não pode perder a faculdade estética. “Im-
porta que o livro infantil não se limite e nem se determine, mas que sempre extrapole e
convide à fruição” (Oliveira, 2005. p.125).
A partir disso, iniciativas são criadas com o intuito de sanar este problema educa-
cional. Iniciativas estas que se traduzem em projetos de leitura, expansão do mercado
editorial de livros didáticos, paradidáticos e livros infanto-juvenis, o incentivo a pesqui-
sas acadêmicas, e às discussões sobre a leitura em encontros, seminários e congressos,
dentre outras.
Tornou-se clichê dizer que a leitura é a chave do saber, e com isso, recai sobre ela, o
peso de responsabilidade da aprendizagem e, consequentemente, incide sobre a litera-
tura, o papel de agente instrumentalizador da transformação social. Peso este, credi-
tado pela falsa crença que os livros, por si só, resolvem o problema do analfabetismo,
repetência e evasão escolar. (Magnani, 2001, p.38).
Pelo que vimos, não seria possível, somente por meio dos livros, alcançarem um bom
desenvolvimento do pensamento do leitor e assim, garantir condições para mobilidade
social do aluno. Para que haja êxito no processo de formação de leitor, o educador deve
ter clareza de sua metodologia com a Literatura Infantil em sala de aula, despertar ques-
tionamentos e promover a construção de novos significados.
No entanto, entendemos que, para ler e escrever é preciso, antes de tudo, que a crian-
ça seja alfabetizada. E a escola é a instituição historicamente responsável para cumprir
a tarefa de alfabetizar em nossa sociedade. Lembrando que, geralmente, os primeiros
textos de leitura com que as crianças entram em contato após vencer as cartilhas, são os
textos dos livros didáticos, especialmente designados nas aulas de Língua Portuguesa.
É comum encontrarmos nos livros didáticos da Língua Portuguesa, bons textos se-
guidos de maus exercícios, ou quando não, depararmo-nos com conteúdo de um texto
geralmente fragmento ou adaptado, utilizado como pretexto para atividades de gra-
mática e redação, ocupando, assim, todo o tempo do aluno em desenvolvimento de
atividades. Não garantindo com isso, o desenvolvimento de uma leitura crítica e trans-
formadora.
Os livros paradidáticos são muito utilizados nas escolas por apresentarem caracterís-
ticas utilitaristas, ou seja, com intencionalidade determinada vinculada à escola.
Neste sentido, o livro paradidático extingue a experiência estética e trata seus leitores
de forma homogênea, o que os distingue dos livros literários. Os livros paradidáticos
apresentam uma metodologia determinada de trabalho. Pretendem, com este tipo de
trabalho, que os leitores cheguem a uma única interpretação do texto lido. Geralmente,
contém fichas de leituras, elaboradas por autores ou especialistas para serem preenchi-
das pelos leitores.
É importante lembrar que os livros literários não são livros paradidáticos, mesmo
que muitos professores esvaziem seu significado, utilizando-os com o mesmo fim. “O
texto literário é aquele que não possui compromisso com o leitor, com os textos paradi-
dáticos ou com o texto didático. Ele é estética, criação, imaginário, fantasia, pensamento
e atitude” (Almeida, 2008, p.51). Essas características do texto literário, por sua vez,
podem desencadear, como consequência, a construção da criticidade nos educandos.
De outro ponto de vista, Abramovich (1997, p.143) discute como desenvolver por
intermédio da literatura, o potencial crítico da criança. Argumenta que por meio de um
material literário de qualidade, a criança é capaz de pensar criticamente e reformular
seu pensamento. Considerando aqui, como qualidade do material literário para o bom
desempenho do processo da formação do leitor literário, textos que apresentam uma
proposta ficcional que atenta o imaginário dos leitores e os excita a compor novas pos-
sibilidades para perceber o mundo a sua volta. Contrariando, desta forma, os textos que
objetivam inculcar valores, mudar comportamentos ou informar ao leitor, por meio da
história ficcional ou dos personagens, sobre determinado assunto.
Desta forma, entendemos que o simples fato de saber ler não transforma o indivíduo
em leitor competente, mas sim, na medida em que são desafiados por leituras progres-
sivamente mais complexas e que compartilham suas visões de mundo, é que se tornam
leitores literários.
Cosson define o bom leitor como “aquele que agencia com os textos os sentidos do
mundo, compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um mo-
nólogo. Por isso, o ato físico de ler pode até ser solitário, mas nunca deixa de ser solidá-
rio” (Cosson, 2007, p.27).
Assim, percebemos que a escola nem sempre está preparada e atenta para formar
bons leitores, pois não proporciona possibilidades de encontro significativos da crian-
ça com a obra quando limita a criança ao contato apenas com textos didáticos. Pois, o
leitor, quando envolvido numa relação de interação com a obra literária, encontra sig-
nificado quando lê, procura compreender o texto e relaciona com o mundo à sua volta,
construindo e elaborando novos significados do que foi lido. Só assim, a leitura pode
contribuir de forma significativa numa sociedade letrada, no exercício da cidadania e
no desenvolvimento intelectual.
Portanto, entendemos que a escola que objetiva a formação do leitor literário, deve
ter como princípios o ensino da literatura “sem o abandono do prazer, mas com o com-
promisso de conhecimento que todo saber exige” (Cosson, 2007, pg.23). Para isso, tor-
na-se inevitável pensar a qualidade do material literário oferecido aos alunos e a forma-
ção dos professores mediadores da leitura literária.
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OLIVEIRA, Ana Arlinda de.; SPINDOLA, Arilma Maria de Almeida Spindola.
Linguagens na Educação Infantil III – Literatura Infantil – Cuiabá: Edufmt. Cadernos
da Pedagogia. São Carlos, Ano 4 v. 4 n. 7, p. 22-36, jan -jun. 2010 ISSN: 1982-4440 36,
1990.
Literatura
Infanto-Juvenil
Marijara Rocha
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