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PRESENTE
Alexandre Fernandez Vaz1
O rádio daqueles anos era não apenas um meio estabelecido, mas também um
campo de disputas por projetos políticos, estéticos e educacionais. Nesse contexto, foi
assumido como componente importante da disseminação do ideário nacional-socialista
na Alemanha. Desde 1923 se podia ouvir transmissões de maneira comercial naquele país,
e nos anos 1930, já sob domínio nazista, uma campanha na forma de política pública
ganhou a nação, vendendo aparatos movidos à energia elétrica ou bateria, a preços baixos
e tabelados, para que cada família tivesse seu aparelho de entretenimento e auscultação
ideológica disponível em casa. Seguindo uma linguagem própria do regime, o aparato se
chamava Volksempfänger, receptor popular, e vinha com pouco alcance, de forma que
fosse difícil captar ondas sonoras estrangeiras.
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Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atua no Programa de Pós-graduação
Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) e no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE),
e dirige o Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea. Pesquisador 1C CNPq.
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Este texto não recebeu ainda ampla publicação, de forma que peço que sua divulgação se restrinja
aos participantes do debate de 30.09.2021 na UFBA. Sua primeira versão foi apresentada em um
workshop intitulado Forces of Education. Benjamin and the Possibility of a Global Pedagogy em Berlim,
em 11 de janeiro de 2019. O evento foi financiado pela Walter Benjamin Society, e o convite foi de Dennis
Johannßen e Dominik Zechner. No mesmo ano, em março, ele foi base para minha participação nos
Seminários Anísio Teixeira, na Faculdade de Educação da UFRJ, realizada a partir de um convite de
Antonio Jorge Gonçalves Soares. Agradeço às entidades pelos financiamentos oferecidos, e em especial a
Dennis e Antonio Jorge pela hospitalidade e, ainda ao primeiro, pelos valiosos comentários à minha
apresentação. Da mesma forma, agradeço ao CNPq pelos sucessivos financiamentos ao Programa de
Pesquisas Teoria Crítica, Racionalidades e Educação, do qual emerge este escrito. O trabalho corresponde
ao capítulo 8 da tese que apresentei para o concurso de Professor Titular em Filosofia e Teorias da Educação
junto ao Departamento de Estudos Especializados em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina.
Sob o título de Esboços para uma Teoria Crítica do presente: cultura, política, educação, ela foi
apresentada em 18.02.2021.
A importância do rádio era tão grande que durante a Segunda Guerra Mundial,
Thomas Mann (1987), o já laureado autor de A montanha mágica, em exílio nos Estados
Unidos da América, proferiu discursos radiofônicos destinados a seus compatriotas. Sob
o título de Ouvintes alemães! (Deutsche Hörer!), os programas, que visavam desmascarar
a máquina de propaganda nazista, eram transmitidos pela British Broadcasting
Corporation (BBC), de Londres. No mesmo período, o esforço antifascista levou
intelectuais igualmente exilados, como Franz Neumann, Herbert Marcuse e Otto
Kirchheimer (2013), a compor equipes no Departamento de Estado, com o objetivo de
analisar peças de propaganda política e cultural nazistas, a fim de orientar a
contraofensiva cultural dos Aliados.
É nesse ambiente político, técnico e estético que entre 1927 e 1933, Walter
Benjamin preparou e realizou um extenso conjunto de programas radiofônicos infantis,
reproduzidos principalmente em Berlim, sua cidade natal, e em Frankfurt, e em menor
escala em outras cidades germânicas. Além das transmissões propriamente ditas, que
coincidem com um período de intensa colaboração com jornais e revistas literárias,
escreveu peças radiofônicas, programação de adultos e textos teóricos sobre o novo meio,
além de contribuições que procuravam ajudar aos berlinenses a administrar os apertos
financeiros que os assolavam sem descanso, em tempos de inflação acelerada como foram
os da segunda metade da República de Weimar.
O período dos programas radiofônicos, que durou até que Benjamin já não pôde
mais ficar na Alemanha dominada pelo nacional-socialismo, exilando-se definitivamente,
está demarcado por acontecimentos importantes na vida do autor, tanto biográficos
quanto teóricos. A segunda metade dos anos 1920 começa para ele com o fracasso do
projeto de integrar-se à Universidade ou de, pelo menos, como sugere Hannah Arendt
(2011), de convencer o pai que tinha méritos para seguir com a ajuda financeira que este
lhe destinava. Como é conhecido, foi-lhe sugerido,em 1925, que retirasse a candidatura
ao exame de Habilitação, na Universidade de Frankfurt, condição prévia para a
candidatura à carreira de nível superior. Intitulada A origem do drama trágico alemão, a
tese não teve boa recepção preliminar por parte de Hans Cornelius, o Professor
Catedrático que deveria avalizar o trabalho, ainda que tenha vindo a ser lida, anos depois,
por estudantes em seminário orientado por Theodor W. Adorno, então jovem docente em
início de carreira.
Na mesma década vem à luz o importante livro Rua de mão única e o início da
elaboração de Passagens, o primeiro elaborado como uma espécie de estudo-piloto para
o segundo, ambos vendo emergir, como nitidez, a montagem como recurso de
composição literária. É também quando Benjamin empreende a viagem a Moscou, depois
da aproximação ao marxismo representado pela leitura Georg Luckács, mas
principalmente pela convivência com a atriz e encenadora de origem letã Asja Lacis e,
por meio dela, com Bertolt Brecht. É de Lacis a coautoria de Teatro infantil proletário e
de Moscou e Nápoles, capítulos de Imagens de pensamento, é com ela que pretende
encontrar-se na capital russa entre dezembro de 1926 e 1927. Como sabemos pela leitura
do Diário de Moscou (BENJAMIN, 1980) os encontros foram rarefeitos e quase sempre
difíceis, e a relação direta com o socialismo real, apesar dos sopros de admiração pela
cidade e pelos russos, não menos que desanimadora.
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Compõe o escopo da pesquisa que dá origem a este texto um estudo sobre surrealismo e infância na obra
de Benjamin, cujos primeiros resultados vêm ganhando forma em trabalhos como Estética, Política,
Spielraum: infância e surrealismo em Walter Benjamin, que apresentei em um evento na UFSC em 2019,
e Machado de Assis, Cândido Portinari, Walter Benjamin: um pouco de loucura, outro tanto de infância em
O alienista, que compõe livro organizado por Fábio Machado Pinto, a ser brevemente publicado.
É no interior, então, de um complexo da infância e da tríade estética-técnica-
política que Benjamin elabora e apresenta seus programas radiofônicos para crianças e
jovens, os Aufklärung für Kinder (Iluminismo para crianças) e os Jugendstunden (Hora
da juventude)4. Interessa neste artigo tratar de algumas questões mais propriamente
pedagógicas das conferências radiofônicas. Isso se refere a uma maneira de transpor, de
reelaborar para as crianças e jovens uma série de temas que interessam ao filósofo
naqueles anos e que estão em suas obras mais seminais.
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A tradução brasileira do volume que reúne os textos (BENJAMIN, 2015a), feita por Aldo Medeiros, traz
como título, e exercício de fusão, A hora das crianças: narrativas radiofônicas de Walter Benjamin. A
primeira publicação em alemão, organizada por Rolf Tiedmann (1985), preferiu Aufklärung für Kinder.
O exame das transmissões radiofônicas de Benjamin – da qual temos um conjunto
de oitenta exemplares, datilografados e corrigidos a lápis ou caneta – mostram um
impulso educacional desafeito a facilitações e com rigorosa elaboração argumentativa 5,
propondo escuta ativa e atualizando, ainda que em outros termos, as considerações
educacionais realizadas por ele nos primeiros anos do século vinte, quando a ideia de uma
reforma educacional se mostrava como desafio para a juventude (BENJAMIN, 1969).
Aquelas críticas haviam sido direcionadas à escola conservadora e autoritária, assim
como aos adultos que, em disputa geracional, não permitiriam que a juventude emergisse
com toda sua potência. Participante de frações do movimento estudantil e da recusa ao
belicismo representado pela Primeira Guerra Mundial, Benjamin evocava as vantagens
da vida na natureza, da autenticidade e de uma pedagogia que fosse libertária.
Entretanto, depois de cursar dois anos uma escola no campo orientada por Jürgen
Wyenecke, Benjamin completa o ensino secundário regular em um prussiano Gymnasium
de Berlin, o Kaiser-Friedrich. Escola clássica e regular, de qualquer forma, mas, para os
padrões da época, com laivos progressistas. As críticas à educação tradicional nunca
cessaram, e reaparecem, na forma de dolorosas recordações, em Infância Berlinense:
1900. Quando a escola emerge como território da infância, quase sempre significa
desapontamento e inadequação, quando não dor e medo:
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Muitos anos depois, Adorno (1971), em movimento de respeito aos alunos, defenderia uma educação sem
facilitações, com elaboração à altura de seus conteúdos e do público que, de forma alguma deveria ser
subestimado. Em suas próprias aulas (Adorno, 2012), sugeria que a escuta fosse comprometida e
concentrada, de forma que seria melhor que os estudantes não fizessem anotações durante elas, para que
nenhum elemento da cadeia argumentativa fosse perdida. A esta questão me dediquei, Franciele Bete Petry
e eu nos dedicamos em outro momento (PETRY, VAZ, 2017)
educação: crítica à educação tradicional e defesa das experiências infantis, relação entre
magia e iluminismo, elogio da marginalidade e da loucura, história encarnada nos sujeitos
e coagulada no tempo, destruição criadora, luta de classes, cidade, experiência etc. Esses
tópicos ganham configuração formativa, como Bildung, nas transmissões radiofônicas,
convidando à escuta ativa de crianças e jovens. Tudo isso dá forma a uma pedagogia não-
escolar que obedece à premissa de que não há tema proibido aos pequenos ouvintes.
Recorro nas próximas páginas a alguns programas para tentar mostrar como eles
sintetizam aspectos importantes do pensamento de Walter Benjamin e ao mesmo tempo
ganham estrutura que, na forma e no conteúdo, propõem uma perspectiva educacional
crítica e de resistência a alguns dos imperativos do presente – o dele e o nosso. Trago na
sequência, como situações exemplares, dois temas das narrativas radiofônicas: o primeiro
chamo, retomando um motivo do próprio Benjamin, de destruição criadora; o segundo
trata da relação entre magia e iluminismo. Lembre-se que se trata, como reza um dos
títulos do programa o escolhido para o volume alemão, publicado em 1985 por Rolf
Tiedmann, o arquivista da Teoria Crítica, de Iluminismo para crianças.
3. Nápoles, Pompeia
No sonho não há espanto, na dor não há
esquecimento, porque ambos trazem já em si o seu
contrário, tal como, na calmaria, a crista e o
fundo da onda se juntam na mesma cama (Walter
Benjamin, Asja Lacis, Nápoles).
As Imagens de pensamento, de Benjamin (2015c), abrem com um texto sobre
Nápoles, escrito em parceria com Asja Lacis. Nele a cidade do Sul da Itália é antes que
descrita, interpretada. Arquitetura, caráter dos habitantes, alimentação, loucura, o
mosaico que se desenha no relato desses dois visitantes tende ao infinito e é crítico, sem
ser, por nada, raivoso. Experiente viajante, acostumado a interpretar as cidades por seus
detalhes – sejam os sob o olhar da criança em Berlim, ou do adulto em Paris, Marselha e
tantas outras – Benjamin sabe bem que “Alguns relatos de viagem fantasiosos
aquarelaram a cidade” (2013c, pos. 46), por isso sua oferta interpretativa é outra, do
avesso, poderíamos dizer, como convém a um historiador materialista disposto a andar
na contramão dos discursos totalizantes.
Foi Asja Lacis (1976) quem disse a Benjamin que as casas em Nápoles pareciam
porosas. Foi para lá que viajaram, em companhia de Bernard Reich, companheiro da atriz
e diretora letã, assim como para Pompéia e outras cidades da região. Estavam todos em
Capri entre a primavera e o verão de 1924. Lacis fora para o Sul da Itália porque recebera
uma recomendação médica para o reestabelecimento da saúde de Daga, a pequena filha
que, com uma doença respiratória, lá encontraria o clima adequado para a recuperação de
sua saúde. Reich a acompanhava e Benjamin estava de férias na cidade em que Dora, a
esposa de quem não ainda estava formalmente separado, abriria uma pensão.
Até Lacis ser convidada por Benjamin a escrever o artigo sobre Nápoles que seria
publicado no Frankfurter Zeitung em 19 de agosto de 1925, um intenso contato foi vivido
entre ambos, com longas discussões intelectuais e apresentação mútua dos respectivos
trabalhos analíticos e reflexivos. Depois da Itália, o reencontro se daria ainda em Berlim,
cidade em que atuou como anfitrião e guia para a amiga, e onde ela e Reich moraram por
algum tempo. Logo o novo encontro seria em Moscou, no inverno de 1926/1927.
A capital dos sovietes aprece, ademais, como um contraponto à cidade italiana, e não é
por acaso que na mesmas Imagens de pensamento, o texto que segue à Nápoles se chama
Moscou, igualmente escrito por Benjamin e Lacis. Ambas seriam como antíteses, mesmo
que em planos distintos, às cidades capitalistas centro-europeias: a cidade do sul da Itália
por sua resistência a se tornar uma cidade burguesa, a da margem leste da Europa por sua
simultaneidade do não simultâneo – se posso aqui empregar uma expressão de Ernst
Bloch –, com seu alto desenvolvimento técnico e estético (e político?), convivendo com
formas mais arcaicas e rudimentares de existência. São essas cidades em que, junto com
Berlim – o vértice do triângulo – Benjamin conviveu com Asja.
Nápoles seria, de certa forma, lugar para todas as atividades, desde que se queira
dela desfrutar. É por meio dos poros da arquitetura, das mercadorias espalhadas pelas ruas
e dos corpos dos napolitanos que, como um Eros urbano, a potência de desejar é
alimentada.
Tudo isso acontece, de preferência, no alarido das ruas, dando uma vida para a
cidade em que se destacam não apenas os comerciantes, mas artistas populares de todo
tipo e crianças que, em meio ao caos urbano, transformam o espaço da cidade em parque
de diversões. Nada mais distante da experiência do próprio Benjamin (2013b), cuja
infância em Berlim encontrava nos interiores o território de exploração lúdica, enquanto
as ruas eram caminhos de aventura que clamavam pela proteção dos adultos. Essa clara
separação entre vida pública e esfera privada não se pode colocar de todo no Sul da Itália.
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Neapel niemals ganz kennenlernen. Wie viele Zehntausende leben da, die im Jahr nicht einen einzigen
Brief bekommen, die nicht einmal eine Wohnung haben. Das Elend ist groß in der Stadt und der ganzen
Gegend. Aus ihr stammen denn auch die meisten italienischen Auswanderer. Als Zwischendeckpassagiere
eines Amerikadampfers haben Zehntausende schon den letzten Blick auf ihre Heimatstadt geworfen, die im
Abschied noch einmal so schön mit ihren unabsehbar gestaffelten Treppen, ineinander geschachtelten
Höfen, den Kirchen, die im Häusermeer verschwinden, daliegt. Mit diesem Blick auf die Stadt wollen auch
wir sie heute verlassen.
que também será retomado nas transmissões radiofônicas. Ruinas que fascinaram o
Benjamin visitante, que serão pensadas, em outro momento, como a história em sua
máxima expressão.
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Einer der Alten führt und hält die Laterne dicht vor ein Bruchstück frühchristlicher Fresken. Nun läßt er
das hundertjährige Zauberwort ertönen »Pompeji«. Alles, was der Fremde begehrt, bewundert und bezahlt,
ist »Pompeji«. »Pompeji« macht die Gipsimitation der Tempelreste, die Kette aus Lavamasse und die
lausige Person des Fremdenführers unwiderstehlich. Dieser Fetisch ist umso wundertätiger, als ihn die
wenigsten von denen je gesehen haben, die er ernährt. Begreiflich, daß die wundertätige Madonna, die dort
thront, eine neue kostbare Wallfahrtkirsche bekommt. In diesem Bau und nicht in dem der Vettier lebt
Pompeji für die Neapolitaner. Und immer wieder kommen Gaunerei und Elend schließlich dort nach
Hause.
Parece que às vezes é preciso da força destruidora da história para que ela seja
conhecida, por paradoxal que pareça. Afinal, “Não há documento de cultura que não seja
ao mesmo tempo de barbárie. E tanto quanto ele não está livre da barbárie, tampouco está
o processo de sua transmissão de um para o outro” (WBGS1, p. 696)8.
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Es ist niemals ein Dokument der Kultur, ohne zugleich ein solches der Barbarei zu sein. Und wie es selbst
nicht frei ist von Barbarei, so ist es auch der Prozeß der Überlieferung nicht, in der es von dem einen an
den andern gefallen ist.
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Gerade das 14. Jahrhundert, in dem dieser Glaube seine starrste und gefährlichste Fratze zeigte, war die
Zeit eines großen Aufschwungs der Wissenschaften. Die Kreuzzüge hatten begonnen; mit ihnen kamen die
neuesten wissenschaftlichen, vor allem naturwissenschaftlichen Lehren, in denen damals Arabien den
Toda essa discussão remete aos trabalhos de Benjamin sobre a capacidade
mimética, a de produzir e de reconhecer semelhanças. Saber da ordem das imagens, uma
das bases da construção da linguagem, diz respeito a um conhecimento não conceitual,
mas não irracional, que encontra no corpo seu primeiro lugar de realização em simultâneo
com a imaginação – a mágica produção secularizada de imagens. Esse processo, que
encontra nas runas e na astrologia exemplaridade, se mantém presente em experiências
estéticas, como a arte e as brincadeiras infantis (e também de adultos). Como forma de
conhecimento, é também de domínio, mas igualmente momento de renúncia a este mesmo
domínio.
übrigen Ländern weit voraus war, nach Europa. Und so unwahrscheinlich es klingt, diese neue
Naturwissenschaft beförderte mächtig den Hexenglauben. Das kam aber so: im Mittelalter war die rein
berechnende oder beschreibende Naturwissenschaft, die wir heute die theoretische nennen, noch nicht von
der angewandten, z. B. der Technik, getrennt. Diese angewandte Naturwissenschaft ihrerseits aber war
nun damals dasselbe oder jedenfalls sehr benachbart der Zauberei. Man wußte von der Natur ja sehr wenig.
(…) Was man also damals von der Natur Neues erfuhr, das kam schließlich unmittelbar oder auf Umwegen
doch wieder dem Zauberglauben, dem Glauben an den Einfluß der Gestirne, an die Kunst, Gold zu machen
und anderes, zugute.
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The knowledge that the first material on which the mimetic faculty tested itself was the human body
should be used more fruitfully that hitherto to throw light on the primal history (Urgeschichte) of the arts.
We should ask whether the earliest mimesis of objects throughdance and sculpture was not largely based
on imitation of the performances through which primitive man established relations with these objects.
Perhaps Stone Age man produced such incomparable drawings of the elk only because the hand guiding
the implement still remembered the bow with which it had felled the beast.
Como convém às narrativas radiofônicas de Benjamin, o final faz emergir uma
reflexão aberta, a seguir sendo feita em chave crítica:
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Ich habe am Anfang von der Aufklärung gesprochen, einem Zeitalter, in dem man gegen die
Überlieferungen von Staat, Religion, Kirche sehr kritisch vorging und dem wir in der Tat große Fortschritte
der Freiheit und der Kultur verdanken. Grade in diesem freien und kritischen Zeitalter der Aufklärung hat
Cagliostro seine Künste mit so viel Erfolg spielen lassen. Wie war das möglich? Antwort: Gerade weil die
Leute so fest davon überzeugt waren, daß Übernatürliches nicht wahr sei, grade darum hatten sie sich nie
Mühe gegeben, ernsthaft darüber nachzudenken, und mußten Cagliostro, der ihnen das Übernatürliche mit
der Gewandtheit eines Taschenspielers vorgaukelte, zum Opfer fallen. Hätten sie weniger feste
Überzeugungen und mehr Beobachtungsgabe gehabt, so hätte es ihnen nicht geschehen können. Das ist
auch eine Lehre von dieser Geschichte, daß Beobachtungsgabe und Menschenkenntnis in vielen Fällen
mehr wert sind als ein noch so fester und richtiger Standpunkt.
Mimetizar-se com o ambiente em momento de pavor ou graça, tentando dominar
os sentimentos, não impede que a ciência tenha seu lugar, não exatamente como
contraposição, como coexistência e continuidade, já que “a experiência mágica se torna
ciência”. Relembro que é também evocando a figura do engenheiro – a ciência e a técnica
em aplicação – que Benjamin (2013b, p. 8) dedica Rua de mão única àquela que o levou
à experiência mimética mais radical, o amor: “Esta rua chama-se Rua Asja Lacis, em
homenagem àquela que como um engenheiro a abriu no corpo do autor deste livro”.
5. Posições finais
Considero que são três, entre outras, as contribuições educacionais das
conferências radiofônicas de Walter Benjamin, todas interligadas. Começo pela última,
que é reconhecer o momento mágico, de jogo, de incerteza e de dotação de sentido que o
conhecimento deve ter, revalorizando a capacidade mimética e a força da expressão
estética. A imaginação ocorre na medida em que há um acervo de imagens rico no sujeito,
potencializando a capacidade de antecipar novas situações o recombinar o acervo
imagético à disposição, mesmo que não correspondam – como em geral acontece – ao
que depois acontecerá.
Neste sentido, e porque convidam a uma audição ativa por parte dos ouvintes, as
narrativas trafegam na direção contrária ao que anos mais tarde Max Horkheimer e
Theodor W. Adorno (1997) chamarão de indústria cultural, cujos esquemas têm como
ação o embotamento da imaginação e sua substituição pelo ordenamento do sempre igual
e compulsivamente repetido, seja na música, cinema, séries via assinatura, biografias etc.