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UMA ANÁLISE1
RESUMO
Objetiva-se caracterizar a maneira como a linguagem quadrinística foi utilizada no texto biográfico
em quadrinhos “O diário de Anne Frank” de Ari Folman e David Polonsky (2017, editora Record,
reconhecida pela Fundação de Anne Frank). Eles se inspiraram no texto em prosa “O diário de Anne
Frank”, postumamente publicado em 1947. Nele, Anne relatou fatos vividos no âmbito familiar e
fora dele, direta ou indiretamente relacionados ao holocausto ocorrido durante a Segunda Grande
Guerra Mundial (1939-1945). Na Alemanha, cerca de seis milhões de judeus morreram vítimas do
antissemitismo liderado por Adolf Hitler. Na época, nem todas as famílias judias conseguiram
refugiar em outros países, como foi o caso da família Frank, que se instalou em um esconderijo
secreto por dois anos. Observam-se alguns aspectos: a) presença de personagens fixas, apresentadas
ao leitor antes da trama; b) predomínio de legendas para a expressão da voz narrativa de Anne e
balões-fala para o retrato das interações verbais; c) multiplicidade de espaços e tempos trazidos à
trama, como a casa da família Frank antes da fuga, o esconderijo durante a perseguição aos judeus
(com detalhamento espacial), distribuição dos acontecimentos por meio de datas (recurso típico do
gênero diário pessoal) etc. Também se destaca a personificação do diário como figura feminina: a
Kitty. Na trama, há trechos do diário na forma de prosa, configurando-se em um diálogo entre diário
pessoal, (auto) biografia e histórias em quadrinhos. Por fim, o narrar inclui um ir-e-vir entre as
memórias de Anne em relação ao presente e aos seus conflitos internos (o vazio existencial, sua
paixão por Peter e a inferioridade em relação à irmã, quando os adultos as comparam). Tudo isso se
baseia na descrição dos recursos quadrinísticos presentes no objeto citado, à luz, sobretudo, dos
trabalhos de Cagnin (2014), Acevedo (1990), Ramos (2010) e Borges (2017).
INTRODUÇÃO
1 A proposta em questão está vinculada ao projeto de pesquisa “Quadrinhos e análise linguística”, coordenado pela
Professora Doutora Maria Isabel Borges.
A caracterização da linguagem dos quadrinhos presente em “O Diário de Anne
Frank em quadrinhos” será feita a partir dos estudos de Cagnin (2014), Acevedo (1990),
Ramos (2010) e Borges (2017), tendo em vista a construção dos sentidos do texto
biográfico.
O contexto de produção refere-se à época em que cerca de seis milhões de judeus
morreram vítimas do antissemitismo liderado por Adolf Hitler, na Alemanha. Naquele
período, algumas famílias judias não conseguiram refúgio em outros países, como foi o
caso da família Frank, da família Van Pels e do senhor Fritz Pfeffer, instalando-se em um
esconderijo por dois anos. O grupo de refugiados era formado por oito pessoas.
Durante os dois anos de refúgio, Anne (filha mais nova do casal Frank) relatou em
seu diário os acontecimentos de seu dia a dia, a relação familiar, o convívio com a outra
família que habitava o esconderijo e os horrores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Após o fim da guerra, Otto Frank (pai de Anne e único morador do esconderijo que
sobreviveu ao holocausto), publicou o diário da filha, dando origem à obra “O diário de
Anne Frank”, publicada em 1947.
A análise do objeto — o texto biográfico em quadrinhos “O Diário de Anne Frank
em Quadrinhos” de Ari Folman e David Polonsky (2017, editora Record, em 2017 — se dá
a partir da interpretação, por amostragem, da linguagem dos quadrinhos, em conexão com
contexto sócio-histórico relacionado à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Alguns dos
recursos quadrinísticos analisados foram: a utilização dos os balões de fala, a caracterização
das personagens, a presença ou ausência das cores nas ilustrações, as divisões das vinhetas,
os tipos de ângulos, o uso das onomatopeias.
Os anos seguintes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foram muito difíceis para
o povo alemão, que buscava se reerguer em meio à crise econômica. Sob esse contexto,
Adolf Hitler viu uma oportunidade para pronunciar seus discursos, com o objetivo de inflar
o ego do povo alemão e trazer a esperança de que a economia do país se reestabeleceria.
(CARNEIRO, 2005).
Adolf Hitler estava à frente do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães, o Partido Nazista. Hitler foi declarado embaixador da Alemanha em 1933. Com a
morte do presidente Hindenburg, em 1934, Hitler assumiu a presidência do país. Entre os
ideais defendidos por Hitler, estava a superioridade do povo alemão em relação a outras
raças. Ele culpava os judeus pela crise econômica e pela derrota da Alemanha na Primeira
Guerra Mundial (CARNEIRO, 2005).
Para Hitler, os judeus e outros grupos — negros, homossexuais, ciganos e
deficientes físicos e mentais — deveriam ser isolados e eliminados da sociedade, pois essas
categorias eram por ele consideradas como raças inferiores aos Alemães “puros”. Por
intermédio dos meios de comunicação, Hitler espalhou o ódio contra as raças “impuras” e,
por meio de seus discursos manipuladores, convenceu toda a população alemã de que os
judeus eram indivíduos perigosos e que poderiam causar a ruína do país. Por essa razão,
deveriam ser eliminados (CARNEIRO, 2005).
O Antissemitismo surgiu muito antes de Hitler. Durante a Idade Média, os judeus
foram culpados por terremotos, pela Peste Negra e pelo envenenamento de poços d’água.
Séculos depois, Hitler tirou proveito dessas ideias antissemitas para responsabilizar os
judeus pelo fracasso da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, por
consequência, pela causa da Segunda Grande Guerra (1939-19450). Os judeus também
foram culpados pelas epidemias de tifo que atingiram a Alemanha naquele período
(CARNEIRO, 2005).
Os judeus foram: a) afastados da vida econômica, social e política do país; b)
espancados em praça pública; c) proibidos de frequentar diversos lugares e de atuar
profissionalmente.
Anne Frank nasceu dia 12 de junho de 1929, na cidade alemã de Frankfurt em Main.
A garota vivia com os pais e a irmã mais velha. A partir da ascensão de Hitler ao poder e do
crescimento do antissemitismo, a família deixou a Alemanha e se mudou para a Holanda.
Otto (pai de Anne) estabeleceu seu próprio negócio em Amsterdã e a família encontrou uma
casa em Merwedeplein. Com a ameaça de guerra crescendo na Europa, Otto tentou emigrar
com sua família para a Inglaterra e Estados Unidos, porém as tentativas de emigração
fracassaram.
No dia primeiro de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia e iniciou-se a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com a chegada das tropas Alemãs à Holanda, foram
estabelecidas leis contra os judeus. Para fugir do antissemitismo, a família de Otto Frank
buscou refúgio em um esconderijo montado no prédio em que ficava a empresa de Otto —
o “Anexo secreto” — em 1942. A família Frank dividiu o “Anexo secreto” com a família
Van Pels. Ao todo oito moradores moraram no esconderijo.
Poucos dias antes de ir morar no Anexo, Anne ganhou um diário, o qual se tornou
uma espécie de melhor amiga para a garota, chamado “Kitty” (um nome do gênero
feminino). Durante os dois anos em que Anne viveu no Anexo, ela relatou os
acontecimentos do dia a dia e seus sentimentos mais profundos em seu diário. No dia 4 de
2 Esta seção foi construída com base nas informações disponíveis na página oficial da Fundação Anne Frank House e
entrevistas, todas citadas nas referências.
agosto de 1944, o esconderijo foi descoberto pelas tropas alemãs e seus moradores foram
encaminhados para campos de concentrações distintos. Quase todos os moradores
morreram. Anne faleceu em fevereiro de 1945, aos quinze anos de idade, por conta de uma
febre tifo, adquirida em um campo de concentração. O único morador sobrevivente foi Otto
Frank, pai de Anne.
Após a invasão ao Anexo pela polícia alemã, Miep Gies — funcionária do escritório
de Otto e uma das pessoas que ajudava a família Frank, com mantimentos, roupas e
informações sobre a guerra — encontrou o diário de Anne e o entregou para Otto. A partir
de então, Otto dedicou-se assiduamente à publicação do diário, dando origem à obra “O
diário de Anne Frank”, em 1947. Setenta anos após a primeira publicação de “O diário de
Anne Frank”, o texto literário ganhou formato de quadrinhos e foi lançado em cinquenta
países pelo roteirista e cineasta Ari Folman e pelo ilustrador David Polonsky.
Em uma entrevista à editora Record, Folman contou que foi convidado pela
Fundação Anne Frank para criar uma versão em quadrinhos da obra de 1947. Ambos os
autores também estão trabalhando em um filme de animação, com a previsão de lançamento
em 2019. De acordo com Folman, a criação de uma releitura em quadrinhos de “O diário de
Anne Frank” possibilita o acesso das crianças à história de Anne e o conhecimento da
intolerância com o próximo.
Folman, em uma entrevista ao site “O Globo”, apontou que a presença em sua
infância de relatos sobre o holocausto também motivou a produção de tal texto em
quadrinhos. Seus pais foram enviados para o campo de Bergen-Belsen, na Alemanha, no
mesmo dia em que Anne Frank.
A obra em quadrinhos “O diário de Anne Frank” possui o selo Anne Frank Fonds,
uma organização fundada em 3 de maio de 1957, para evitar a destruição da casa, onde
Anne Frank e sua família buscaram refúgio durante o holocausto.
Este trabalho foi feito a partir da pesquisa bibliográfica, tendo em vista o
levantamento do contexto sócio-histórico de produção do diário (texto autobiográfico) e,
por consequência, do texto biográfico em quadrinhos. Vale lembrar que a produção dessas
obras foi baseada em fatos reais. Além disso, o objeto de estudo aqui analisado se volta ao
texto biográfico em quadrinhos, sem comparação com o texto literário em prosa, o diário.
Ao lado da pesquisa bibliográfica, contou-se com a pesquisa qualitativa, para a
interpretação de alguns momentos do texto biográfico em quadrinhos, procurando a
conexão entre a linguagem quadrinística e alguns aspectos sócio-históricos. “O diário de
Anne Frank”, publicado pela primeira vez em 1947, constitui um texto autobiográfico, com
relato de acontecimentos vividos por Anne e reflexões com eles relacionados. Entretanto,
na visão de Folman e Polonsky (2017), surge um texto biográfico em quadrinhos, já que se
inspiram em um texto autobiográfico. Os fatos narrados, por meio dos quadrinhos, não
foram por eles vividos.
ANÁLISE DA OBRA
Após Anne reclamar com o Sr. Dussel sobre o conteúdo de um livro que ele havia
lhe dado, a senhora Van Daan tomou as dores do dentista e disse a Anne que dali a vinte
anos, nada mais interessaria à garota. Ouvindo as palavras da madame Van Daan, Anne
passou a imaginar seu futuro. Nele, ela havia se tornado uma garota que conhecia tudo
sobre literatura e música. Por esse motivo, não se deixava impressionar facilmente por seus
pretendentes amorosos.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ACEVEDO, Juan. Como fazer história em quadrinhos. São Paulo: Global Editora, 1990.
BORGES, Maria Isabel. Tiras cômicas: personificação e humor. In: Anais do VI Encontro
Nacional de Estudos da Imagem, III Encontro Internacional de Estudos da Imagem. Volume
15. 2017. Londrina. Universidade Estadual de Londrina. p. 53-75. Disponível em:
<http://www.uel.br/eventos/eneimagem/2017/index.php/anais/>. Acesso em: 25 maio 2018.
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Holocausto: crime contra a Humanidade. São Paulo: Ática, 2005.
FOLMAN, Ari; POLONSKY, David. O diário de Anne Frank. 3. ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Record, 2017.
RODRIGUES. Luiz Cesar B. A Primeira Guerra Mundial. 8. ed. Campinas: Ed. da Unicamp,
1988.
VIZENTINI. Paulo Fagundes. As Guerras Mundiais (1914-1945). Porto Alegre: Leitura XXI,
2003.