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A “Partilha da África” pela imprensa teuto-

brasileira

Silvio Marcus Correa1

Resumo
O presente artigo trata da “Partilha da África” pelos jornais de língua alemã no Sul do
Brasil. As notícias relativas ao domínio colonial na África passaram a ocupar maior des-
taque na imprensa teuto-brasileira após a Conferência de Berlim (1884/85). Com base
numa pequena amostra das notícias de alguns desses jornais, destaca-se a sua importância
enquanto fonte para o estudo da história da África, especialmente aquela relacionada à
expansão colonial do II Reich.
Palavras-chave: Partilha da África, Jornais em Língua Alemã, Colonialismo Alemão

Abstract
This article will discuss the “Scramble for Africa” as depicted by German newspapers in
the south of Brazil. After the Berlin Conference (1884-85), many of these German-Brazi-
lian newspapers heavily began to focus on the theme of colonialism in Africa. This article
will use a few stories taken from these newspapers, which reveal to be important sources
in further understanding the History of Africa, particularly of that related to the colonial
expansion of the Second Reich Empire.
Keywords: Scramble for Africa, German-Brazilian Newspapers, German Colonialism

1
Doutor em Sociologia pela Westfälische-Wilhelms-Universität Münster (1999). Atua como professor ad-
junto junto ao departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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A “Partilha da África” tipografada por uma “doutrina Monroe” para o con-
em alemão tinente africano e noticiavam os acon-
tecimentos como se o imperialismo e o
Entre os historiadores há um con- colonialismo fossem inelutáveis.
senso de que a “Partilha da África” debu- Da imprensa nacional, os jornais
tou no último quartel do século XIX, ten- de língua alemã representam uma fonte
do seu desfecho às vésperas da Primeira ímpar sobre o imperialismo e o colonia-
Guerra Mundial. Porém, as interpreta- lismo na África. A “Partilha da África”
ções historiográficas sobre o processo de foi assunto constante nas páginas da im-
ocupação e dominação colonial na África prensa teuto-brasileira do Brasil meri-
são diversas. No Brasil, a historiografia
2
dional. Isso permite inferir um interesse
pouco tratou desse período inicial do diferenciado dos leitores dos jornais de
colonialismo na África. No entanto, o língua alemã sobre o que se passava na-
jornalismo brasileiro não deixou de se quele continente, especialmente sobre as
preocupar com o imperialismo e o colo- colônias alemãs na África.
nialismo na outra margem do Atlântico. No caso específico do colonialismo
Durante a República Velha, a imprensa alemão, a análise do conteúdo das maté-
nacional publicava notas telegráficas rias da imprensa teuto-brasileira permi-
sobre a “Partilha da África” e, eventual- te uma divisão tanto pelos temas quan-
mente, algumas matérias. to pela ênfase atribuída aos mesmos.
Algumas matérias trataram o as- A cobertura jornalística referente ao
sunto com ênfase maior nos interesses colonialismo alemão na África apresen-
econômicos do imperialismo, outras no ta três momentos distintos: a primeira
equilíbrio de forças entre as potências fase inicia às vésperas da Conferência de
européias ou nos aspectos ideológicos Berlim e se encerra nos primeiros anos
do discurso civilizatório. Mas, em geral, do século XX.3 Esta fase foi marcada por
os periódicos nacionais não reclamaram grande entusiasmo pangermanista e por
certo otimismo diante da ocupação e do-
minação colonial na África; a segunda
2
Na historiografia de língua inglesa, o tema foi tra-
tado por vários especialistas a partir de diferen- fase ocorreu num contexto beligerante,
tes abordagens. Há também uma série de obras quando as guerras no sudoeste africano
em francês e em outras línguas européias sobre a
chamada “Partilha da África”. No Brasil, alguns e a revolta Maji-Maji na África oriental
desses livros foram traduzidos e publicados por colocaram em cheque o domínio colonial
editoras nacionais: BRUNSCHWIG, Henri. A
partilha da África negra. São Paulo: Perspectiva, alemão. Nesta fase, a ênfase das matérias
1974; KI-ZERBO, Joseph (org.) História Geral da
África. A África sob dominação colonial (1880-
1935), Vol. VII (sob a direção de A. Adu Boahen), 3
Cabe destacar que a Conferência de Berlim era
São Paulo: Ática/UNESCO, 1982; MACKENZIE, tratada na imprensa teuto-brasileira como a Con-
J. M. A partilha da África 1880-1900. São Paulo: ferência do Congo (Congo-Konferenz). Ver, por
Editora Ática, 1994; WESSLING, Henry. Dividir exemplo, matéria de primeira página da Deutsche
para dominar: a partilha da África (1880-1914). Kolonie; Porto Alegre, 06 de fevereiro de 1885,
Rio de Janeiro: Editora da UFRJ/Revan, 1998. (Arquivo Benno Mentz/PUCRS).

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foi dramática e o balanço do colonialis- mas também nos estabelecimentos de
mo menos otimista. A última fase pode ensino, de culto religioso, de comércio,
ser entendida como um réquiem para etc. Nas cidades de áreas de colonização
o colonialismo alemão na África. Nesta alemã no sul do Brasil, alguns profissio-
fase, foram noticiadas as perdas alemãs nais sem origem germânica aprenderam
de suas colônias africanas, bem como o a língua da maioria e se valeram dela
final do II Reich e do seu império ultra- para atrair a clientela.6 Também parece
marino. O tom das matérias foi de estar- não ter sido raro afro-brasileiros falarem
recimento, às vezes de indignação, dian- o alemão nessas regiões de predominân-
te dos acontecimentos que foram, tanto cia germânica.7
na Europa quanto na África, desfavorá- No último quartel do século XIX,
veis aos brios de muitos alemães e seus o crescimento econômico e demográfico
descendentes. das comunidades teuto-brasileiras atraiu
a atenção de viajantes alemães que, por
A imprensa teuto-brasileira em sua vez, divulgaram informações, nem
Santa Catarina e Rio Grande do sempre precisas, sobre o potencial do
Sul Brasil meridional enquanto mercado

A imigração e a colonização alemãs


para o Brasil meridional fizeram parte 6
Anúncios em alemão do advogado Manoel Tabor-
da e do despachante Francisco Brito nas páginas
da política de povoamento do governo do jornal Kolonie, em 1898, acusam a adaptação
imperial desde 1824.4 Os imigrantes ale- de profissionais liberais luso-brasileiros ao mer-
cado local de Santa Cruz do Sul (RS). Em seu
mães e seus descendentes chegaram a anúncio de prestação de serviço, no mesmo jornal
representar mais de 20% da população de língua alemã, Francisco Brito salientava que
ele mesmo falava alemão (derselbe spricht deuts-
sulina no final do século XIX.5 Na sua ch).
7
O viajante alemão Oscar Canstatt chegou a re-
maioria, eram agricultores, comercian-
gistrar uma singularidade na colônia de São Le-
tes, industriais e proletários. Em alguns opoldo, onde a língua alemã era soberana. Ele
testemunhou negros que lá falavam conforme
lugares e em alguns nichos profissionais, o dialeto dos seus senhores e “em conseqüência
os alemães e seus descendentes predo- encontravam-se pomeranos, suábios, como báva-
ros e saxões, pretos”. CANSTATT, Oscar, Brasil:
minavam na população sulina. Em vá- Terra e Gente (1871). Brasília: Editora do Senado
rios núcleos coloniais, a língua alemã era Federal. 2002, p.407.
Telmo Lauro Müller também coligiu frases ane-
falada não apenas nas casas e nas ruas, dóticas de negros de fala alemã na colônia de São
Leopoldo. MÜLLER, Telmo L. Colônia alemã.
Histórias e Memórias. Caxias do Sul: UCS/EST,
4
CUNHA, Jorge. Rio Grande do Sul und die deuts- 1978, p.18-25. Em Santa Cruz do Sul dos mea-
che Kolonisation. Ein Beitrag zur Geschichte der dos do século XX, havia “negros no interior que
deutsch-brasilianischen Auswanderung und der falam alemão, principalmente em Rio Pardinho,
deutschen Siedlung in Südbrasilien zwischen Picada Velha, Tereza e Herveiras” FACHEL, José.
1824 und 1914. Hamburg, Universität Hamburg, O negro no município de Santa Cruz do Sul. In:
1994 (tese de doutorado). Boletim Informativo. Centro de Estudos Sociais
5
Cf. “Os Alemães no Sul do Brasil”, in CUNHA, da Faculdade de Filosofia da Universidade Fede-
Jorge (dir.) Cultura alemã – 180 anos. Porto Ale- ral do Rio Grande do Sul. º5 e 6, jun-dez de 1968,
gre: Nova Prova, 2004, pp.15-30/191-210. p.43.

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para a Alemanha.8 Esses relatos endos- De meados do século XIX datam
savam certas teses de propagandistas da os primeiros jornais em língua alemã
colonização alemã como Friedrich Fabri, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.11
Robert Jannasch, Wilhelm Huebbe-Sch- Alguns jornais tiveram vida curta. Ou-
leiden e E. von Weber. 9
tros tiveram maior projeção e duração.
O crescimento econômico das co- A Deutsche Zeitung foi um dos mais
lônias alemãs no Sul do Brasil e suas expressivos jornais da intelectualidade
relações comerciais e culturais com a liberal teuto-brasileira de Porto Alegre e
Mutterland também foram motivos para durou até 1917.12 Entre seus jornalistas,
certas inquietações de cunho nativista destacou-se Karl von Koseritz. Em 1881,
que viram nisso uma ameaça à integrida- ele fundou seu próprio jornal: a Kose-
de nacional. Além disso, a expansão im- ritz Deutsche Zeitung. A KDZ circulou
perialista da Alemanha, especialmente até 1906, quando passou a ser chamada
na África, acirrava o “perigo alemão” tão Neue Deutsche Zeitung. Koseritz acredi-
propalado pela imprensa norte-america- tava num jornal porta voz dos interesses
na e francesa. A imprensa teuto-brasilei- dos teuto-brasileiros. Mas jamais conse-
ra foi, desde então, uma defensora dos guiu uma hegemonia diante das diver-
“interesses alemães” no Atlântico Sul e, gências políticas e religiosas da comuni-
ao mesmo tempo, serviu de escudo aos
ataques da imprensa brasileira de cunho
importância dos jornais partidários e “imparciais”
nativista contra a comunidade germâni- para a constituição de uma “esfera pública bur-
ca.10 guesa”; aventou, igualmente, a formação de outra
esfera (plebéia) por meio de outros meios de in-
formação (oralidade, etc.). PEDRO, Joana M. Nas
8
Em seu trabalho sobre a economia colonial ale- tramas entre o público e o privado. A imprensa
mã, com minuciosa análise estatística, Francesca de Desterro no século XIX. Florianópolis: Edito-
Schinzinger não levou em conta às “colônias co- ra da UFSC, 1995. No caso dos jornais de língua
merciais” na América do Sul, mas cujo comércio alemã no Sul do Brasil, não parece pertinente tal
com a Alemanha era muito significativo à época dicotomia das esferas públicas, pois a imprensa
do imperialismo. Cf. SCHINZINGER, F. Die Kolo- teuto-brasileira, tal como a comunidade teuto-
nien und das Deutsche Reich. Die wirtschaftliche brasileira, tinha estratos burgueses e plebeus.
Bedeutung der deutschen Besitzungen in Über- Vale lembrar que muitos jornais de língua alemã
see. (Wissenschaftliche Paperbacks Sozial- und tinham por proprietários comerciantes ou indus-
Wirtschaftsgeschichte) F.Steiner: Wiesbaden, triais, porém quase todos os jornais tinham suple-
1984. Por seu turno, Henri Wessling considerou mentos especiais cujas matérias e anúncios eram
insignificante o que representavam as colônias expressamente para um leitorado plebeu das colô-
alemãs para o II Reich. O comércio total com suas nias agrícolas.
colônias representava 0,5% do total do comércio 11
Para uma síntese da imprensa em língua alemã
exterior da Alemanha. WESSELING, H. Les em- em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul: KLUG,
pires coloniaux européens (1815-1919). Paris : J. “Imprensa e Imigração Alemã em Santa Cata-
Gallimard, 2009, p.263. rina”; GERTZ, René. “Imprensa e imigração ale-
9
HELL, Jürgen. “Die Politik des Deutschen Rei- mã”; respectivamente in DREHER, N. Martin;
chens zur Verwandlung der drei brasilianischen RAMBO, Arthur Blásio; TRAMONTINI, Marcos
Südstaaten in ein überseeisches Neudeutschland Justo. (Org.). Imigração e Imprensa. Porto Ale-
(1890-1914)”, Semesterbericht des Lateinameri- gre: EST - Edições, 2004, p. 13-25/100-122.
ka-Instituts der Universität Rostock, Herbstse- 12
RAMBO, Arthur B. “Imprensa em língua alemã no
mester 1966, p.47. Rio Grande do Sul”, in CUNHA, Jorge (org.) Cul-
10
Ao tratar da imprensa na capital de Santa Cata- tura alemã – 180 anos. Porto Alegre: Nova Prova,
rina no século XIX, Joana M. Pedro salientou a 2004, p.90-91.

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dade teuto-brasileira. O jornal católico Mas os alemães possuíam jornais não
Deutsches Volksblatt e o luterano Deuts- somente em sua própria língua. Em
che Post, por exemplo, disputaram com Santa Catarina, havia a Gazeta de Join-
a DZ e a KDZ o leitorado teuto-brasileiro ville desde 1877. Era um “subproduto”
no Rio Grande do Sul. da Kolonie Zeitung e procurava aplacar
Em Santa Catarina, os jornais de o antigermanismo local com sua edição
língua alemã também disputavam um em português.16 Alguns alemães con-
pequeno leitorado com suas clivagens trolavam total ou parcialmente outros
políticas, sociais, culturais e religiosas. jornais em língua portuguesa. O Diário
Em Joinville havia a Kolonie Zeitung de Porto Alegre, por exemplo, pertencia
que circulava desde 1862. Em Blumenau, desde 1914 a uma sociedade dirigida por
desde 1881 circulava a Blumenauer Zei- Willy Lüderitz.17 Em Joinville, a Gazeta
tung, um dos jornais mais importantes do Commercio foi fundada e dirigida por
em língua alemã no país. A BZ circulou Eduard Schwartz. Ele e seu filho Alfredo
até dezembro de 1938. Sob a editoria de
13
foram, respectivamente, fundador e dire-
Hermann Baumgarten, a BZ tinha uma tor do Jornal de Joinville em 1919.18
linha conservadora. Mais radical e pan- No final do século XIX, 10% dos
germanista, destacou-se Der Urwalds- jornais em circulação no Rio Grande
bote, sob a direção do pastor Hermann do Sul eram em língua alemã, sendo os
Faulhaber (até 1898) e de Eugen Fouquet principais publicados na capital.19 Entre
(até 1927). Desde 1895 circulava também eles, houve um jornal diário e que pre-
a Joinvillenser Zeitung de tendência fe- tendia circular em todo o estado. Funda-
deralista. Em 1893 reapareceu o Immi- do por Theodor Reinecken, o Täglicher
grant, sob a direção de Paulo Stelzer e da Anzeiger foi o primeiro jornal diário em
mesma linha ideológica da JZ. 14
língua alemã, mas durou apenas quatro
No Rio Grande do Sul, a imprensa anos (1901-1904).20 Na região de coloni-
em língua alemã teve seu auge no final do
século XIX, o que correspondeu também da UFRGS/ANPUH-RS, 2004.
ao predomínio econômico da comuni- 16
KLUG, J. Imprensa e Imigração Alemã em Santa
Catarina. In: DREHER, N. Martin; RAMBO, Ar-
dade teuto-brasileira em Porto Alegre.15 thur Blásio; TRAMONTINI, Marcos Justo. (Org.).
Imigração e Imprensa. Porto Alegre: EST - Edi-
ções, 2004, p.18.
13
Sobre a Kolonie Zeitung, cf. HERKENHOFF, Elly. 17
Ainda não foi possível estabelecer uma relação de
História da imprensa de Joinville. Florianópolis: parentesco entre Willy Lüderitz e o rico comer-
Editora da UFSC, 1998, p.27-58. ciante de Bremen, Franz Adolf Lüderitz, pioneiro
14
De 1883 a 1891 havia já um jornal Immigrant, da colonização alemã no sudoeste africano.
órgão do Partido Liberal. Cf. KLUG, J. Impren- 18
HERKENHOFF, Elly. História da imprensa de
sa e Imigração Alemã em Santa Catarina. In: Joinville. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998,
DREHER, N. Martin; RAMBO, Arthur Blásio; p.117-118.
TRAMONTINI, Marcos Justo. (Org.). Imigração 19
RÜDIGER, Francisco. Imprensa e esfera pública.
e Imprensa. Porto Alegre: EST - Edições, 2004, In: GERTZ, R.; FISCHER, Augusto (org.) Nós, os
p.20-21. teuto-gaúchos, Porto Alegre: Editora da Universi-
15
GANS, Magda. Presença Teuta em Porto Alegre dade/UFRGS, 1996, p.135.
no Século XIX (1850-1899). Porto Alegre: Editora 20
RAMBO, Arthur B. Imprensa em língua alemã no

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zação alemã do Vale do Rio Pardo (RS), vos do interesse em quase todos os jornais
os jornais Fortschritt (1901-1903) e San- da imprensa teuto-brasileira pelas notícias
ta Cruzer Anzeiger (1903-1907) tiveram da “África alemã”.
como redator chefe Wilhelm Kuhn. Mas Desde 1870, as agências européias
o principal jornal local e com maior lon- de notícias Havas, Reuter e Wolff cons-
gevidade em língua alemã naquela região tituíam um oligopólio das informações,
foi o Kolonie que circulava desde 1891. 21
pois havia um acordo entre essas agên-
A imprensa em língua alemã no Rio cias para o fornecimento exclusivo de
Grande do Sul e Santa Catarina apresen- serviços de informação. Os jornais bra-
tou várias clivagens e suas idiossincrasias sileiros dependiam das informações da
exigem do pesquisador uma maior atenção agência Havas que, por sua vez, repas-
sobre algumas questões de cunho ideo- sava notícias de suas associadas de Lon-
lógico. Se a maioria dos jornais de Santa dres e de Berlim.23
Catarina não tinha em seu ideário a defesa Após a conexão por cabo subma-
do Deutschtum, algumas matérias publica- rino dos continentes, as notícias so-
das, especialmente quando tinha por fonte bre a África chegavam mais rápidas
jornais alemães, poderiam suscitar eventu- ao Brasil, mas sempre passando pelas
al élan pangermanista por parte de alguns agências centrais da Europa. A agên-
leitores. Aliás, cabe indagar pelos moti-
22
cia berlinense Wolff seria a principal
agência alemã de serviços telegráficos
Rio Grande do Sul. In CUNHA, Jorge (org.) Cul- dos jornais na Alemanha e que foram
tura alemã – 180 anos. Porto Alegre: Nova Prova, fontes de várias notícias da imprensa
2004, p.93
21
Durante a campanha da nacionalização do Esta- teuto-brasileira sobre a África colonial.
do Novo, muitos jornais de língua alemã tiveram Nesses jornais, no entanto, as notícias
que abandonar o alemão e usar a língua pátria. A
dificuldade de adaptação de muitos desses jornais poderiam ser selecionadas ou mesmo
foi responsável pelo fechamento temporário ou
ajustadas às suas linhas editoriais e aos
definitivo dos mesmos.
22
Em artigo sucinto sobre a imprensa de língua ale- interesses locais.
mã em Santa Catarina, o historiador João Klug
afirmou que a defesa do germanismo (Deuts-
Cada notícia da “Partilha da África”
chtum) não fazia parte do ideário da maioria dos na imprensa teuto-brasileira, quando lida
jornais por ele analisados. A análise em curso de
quatro jornais de língua alemã de Santa Catarina de forma isolada, parece pouco interessan-
(Blumenauer Zeitung, Der Urwaldsbote, Joinvil- te pelo predomínio, entre outros aspectos,
lenser Zeitung e Kolonie Zeitung) demonstra, no
entanto, que o germanismo foi um tema caro aos do estilo telegráfico das informações. Não
editores destes jornais, coincidentemente durante
a presença alemã na África (1884-1916). A propó-
sito, a antropóloga Giralda Seyferth considerou os política de colonização na Primeira República. In
jornais Blumenauer Zeitung e Der Urwaldsbote CUNHA, Olívia M.; GOMES, Flávio dos Santos
como periódicos “comprometidos com a manu- (orgs.) Quase-cidadão: histórias e antropologias
tenção da germanidade na nova pátria”, sendo da pós-emancipaçao no Brasil. Rio de Janeiro:
que o último teria assumido uma orientação “mais Editora FGV, 2007, p.110.
nitidamente racista na construção da identidade 23
WOLLF, Jacques. « Structure, fonctionnement et
teuto-brasileira, sob influência do pangermanis- évolution du marché international des nouvelles.
mo”. Cf. SEYFERTH, Giralda. Imigração, ocu- Les agences de presse de 1835 à 1934 », Revue
pação territorial e cidadania: o vale do Itajaí e a économique, (42), n.03, 1991, p.575-601.

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raro, elas são excessivamente sucintas, re- averiguar algumas informações contidas
sumidas numa simples frase, heterogene- nas páginas dos periódicos e atribuir sen-
amente distribuídas ao longo de um perí- tido a tantas outras informações e dados
odo de menos de meio século (1884-1919) que foram publicados pela imprensa teu-
e, tais notícias só começam a evidenciar o to-brasileira.25 Ver-se-á a seguir como os
seu sentido histórico quando compiladas “interesses alemães” eram compartilhados
e devidamente organizadas num corpus pelos editores dos jornais de língua alemã
documental. no Sul do Brasil.
Nesses jornais, as informações so-
bre a África colonial foram coletadas e A “Partilha da África” pela
classificadas por assunto e de acordo imprensa de língua alemã no
com a cronologia dos acontecimentos. Brasil meridional
A partir disso, algumas notícias pare-
ciam peças de um puzzle que, ao serem Às vésperas da Conferência de Ber-
encaixadas umas às outras, permitiam lim, um jornal de língua alemã de Porto
uma melhor visualização de algumas Alegre publicou matéria de capa sobre
questões relativas à “Partilha da África”. as novas relações entre a Alemanha e a
Mas a maioria das informações era como África ocidental.26Em 15 de novembro
ponta de um iceberg. A parte submersa de 1884, o chanceler alemão, Otto von
ou aquela que não aparecia na superfí- Bismarck, fez a abertura solene da Con-
cie das páginas dos jornais foi encontra- ferência de Berlim. Poucos dias depois,
da nas páginas da historiografia sobre a uma matéria publicada na imprensa
África colonial, especialmente em língua bávara foi reproduzida nas páginas da
alemã.24 Deutsche Zeitung.27 Entre os tópicos re-
O cotejo das notícias dos jornais em lacionados à “Partilha da África”, a ma-
língua alemã com a historiografia permitiu
25
Para as guerras no sudoeste africano, as informa-
ções que apareceram na imprensa teuto-brasileira
24
A recente historiografia alemã que trata das colô- relativas às batalhas, ao envio de tropas, às estra-
nias africanas à época do II Reich tem contribuído tégias de guerras ou guerrilhas, aos números de
para uma revisão de uma história apologética ou baixas, entre outros detalhes, foram confrontadas
mesmo nostálgica que foi produzida nas décadas na medida do possível com os dados contidos nos
de 1920, 30 e 40. Entre outras obras que baliza- livros de Walter Nuhn. Cf. Nuhn, Walter. Feind
ram o presente trabalho, destacam-se: Fröhlich, Überall. Guerillakrieg in Südwest. Der Große
Michael. Imperialismus Deutsche Kolonial- Nama-Aufstand 1904-1908, Bernard & Graefe
und Weltpolitik 1880-1914, München 1994; Verlag, Bonn, 2000; Nuhn, Walter. Sturm über
FÖRSTER, Larissa; Henrichsen, Dag; BOLLIG, Südwest. Der Hereroaufstand von 1904 - Ein
Michael (Hrgs) Namibia – Deutschland. Eine düsteres Kapitel der deutschen kolonialen Ver-
geteilte Geschichte, Widerstand – Gewalt – gangenheit Namibias. Bernhard & Graefe Verlag,
Erinnergung. Wolfratshausen: Minerva, 2004; Koblenz 1989.
GRÜNDER, Horst. Geschichte der deutschen Ko- 26
“Die neuen Rechtsverhältnisse der deutschen Nie-
lonien. 5. Auflage, Paderborn : Schöningh, 2004; derlassung in Westafrika”. Deutsche Zeitung, Por-
Zeller, J.; Zimmerer, J. (Hrgs.) Völkermord in to Alegre, 31 de outubro de 1884 (Arquivo Benno
Deutsch-Südwestafrika. Der Kolonialkrieg Mentz/PUCRS).
(1904-1908) in Namibia und seine Folgen, Ch. 27
A matéria tinha sido publicada originalmente no
Links Verlag, Berlin, 2003. Münchener Allgemeinen Zeitung.

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téria anunciava a presença alemã entre Por sua vez, a Kolonie Zeitung noticiou
franceses e ingleses no continente afri- o levante na nova colônia alemã.32 Sobre
cano e os três objetivos almejados pelo o “levante dos negros” (Negeraufstand),
chanceler alemão com a Conferência em a notícia da KZ foi mais extensa do que
Berlim. Primeiro, garantir o livre comér- o que foi publicado na DZ. Informou, in-
cio; segundo, tratar da questão do Con- clusive, sobre a urgência declarada por
go; e, terceiro, definir as regras gerais da Bismarck em nomear um governador
ocupação dos territórios africanos.28 para a nova colônia, os problemas que os
Em matéria sobre o encontro de ingleses também enfrentavam na região
Henri Stanley e Bismarck, a DZ enqua- e o suposto envolvimento de um polonês
drou estas duas personagens num mo- nos levantes contra alemães e ingleses
mento histórico e no qual a Alemanha te- naquela costa. Uma semana depois, a
ria um lugar importante a desempenhar KZ voltava a dar mais detalhes sobre o
na “Partilha da África”.29 Poucos dias an- levante.33 Ainda no final de março, uma
tes do encerramento da Conferência de terceira notícia tratava do levante na
Berlim, a DZ já publicava notícia inquie- colônia alemã, onde um agente da Wo-
tante sobre conflitos entre alemães, in- ermann fora assassinado.34 Vinte anos
gleses e nativos em ambas as margens do depois, ainda se lia uma nota nas páginas
rio Cameron. Segundo informação vin-
30
da KZ sobre levantes na mesma colônia
da da Alemanha, um comerciante inglês alemã.35
teria penalizado arbitrariamente um na- Logo após o término da Conferência
tivo endividado, o que motivou a revolta de Berlim, a DZ defendeu a nova posição
dos demais. Também o rei Bell, aliado dos da Alemanha enquanto potência maríti-
alemães, teria sido alvo da hostilidade de ma (Seemacht) ao publicar em suas pági-
outros nativos que chegaram a incendiar nas matéria do jornal bávaro Münchener
sua aldeia (Belltown). No mesmo jornal, Allgemeine Zeitung.36 No final de março,
publicou-se notícia da imprensa renana a Kolonie Zeitung, de Joinville, anun-
sobre a ação repressiva dos navios de ciava uma nova ocupação alemã na cos-
guerra “Bismarck” e “Olga” em resposta ta africana onde a bandeira do II Reich
ao levante dos nativos na costa camaro-
nesa em meados de dezembro de 1884.31
CRS). Segundo a notícia da DZ, a matéria original
fora publicada na Rheinische Zeitung.
28
“Von Berlin zum Congo”. Deutsche Zeitung, Porto 32
“Tagesgeschaichte”, Kolonie Zeitung. Joinville,
Alegre, 23 de dezembro de 1884 (Arquivo Benno 06 de março de 1885 (BU/UFSC).
Mentz/PUCRS). 33
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville, 13
29
“Bismarck und Stanley”. Deutsche Zeitung, Porto de março de 1885 (BU/UFSC).
Alegre, 06 de fevereiro de 1885 (Arquivo Benno 34
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville,
Mentz/PUCRS). 27 de março de 1885 (BU/UFSC).
30
“Afrika”. Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 20 de 35
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville, 06
fevereiro de 1885 (Arquivo Benno Mentz/PU- de abril de 1905 (BU/UFSC).
CRS). 36
“Deutschland und die südliche Hemisphäre”.
31
“Afrika”, Deutsche Zeitung. Porto Alegre, 24 de Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 03 de março de
fevereiro de 1885 (Arquivo Benno Mentz/PU- 1885 (Arquivo Benno Mentz/PUCRS).

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passava a tremular. Tratava-se da região tão alemão do navio de guerra “Ariadne”
banhada pela Baía de Sangari. A riqueza que hasteou por lá a bandeira tricolor
da hinterlândia, a navegabilidade do rio, do II Reich. Segundo a fonte da notícia
a amenidade do clima e a fertilidade das (telegrama da Reuter), já havia pelas re-
terras concorriam para o futuro promis- dondezas empório de um comerciante de
sor da nova colônia, segundo matéria de Stuttgart e todos os que possuíam feito-
um jornal de Colônia e reproduzida nas rias naquela região folgaram com a ane-
páginas da KZ.37 xação, inclusive os nativos (Ebenso auch
Em 10 de novembro de 1885, outra die Eingeboren).
matéria do jornal de Munique foi publi- A ocupação “pacífica” ou manu
cada na DZ. Seu conteúdo se traduzia militari era, muitas vezes, precedida de
por uma defesa da política colonial do contatos entre nativos africanos e explo-
II Reich, justificada por fatores internos radores, comerciantes e/ou missioná-
(crescimento demográfico, comercial rios. Alguns deles tiveram papel decisivo
e industrial da Alemanha) e externos na preparação do terreno ao colonialis-
(expansão imperialista da Inglaterra e mo alemão. Entre outros, destacaram-se
da França pelo mundo). 38
Quinze anos Franz Alfred Lüderitz (1836-1885), Gus-
após a sua unificação, a Alemanha ado- tav Nachtigal (1834-1885) e Carl Peters
tava uma nova posição em relação ao (1856-1918).
hemisfério sul.39 Essa nova orientação Em 26 de julho de 1884, a DZ
de Bismarck já tinha sido reclamada pelo publicou uma matéria sobre Angra
jornal de Munique e reproduzida nas pá- Pequena, onde Lüderitz, comerciante
ginas da DZ às vésperas da Conferência de Bremen, instalou seu empório com
de Berlim. E antes de completar um mês consentimento de um régulo africano,
do término da Conferência de Berlim, a cujo nome de batismo era Joseph Fre-
DZ publicou notícia sobre nova ocupação dericks.41 Em 19 de junho de 1885, a DZ
alemã na África ocidental. Às margens 40
divulgou um necrológico de Gustav Na-
do rio Bramaia, o soberano local, Alima- chtigal.42 Este explorador, comerciante,
ni Bangali, teria feito acordos com o capi- estudioso e cônsul alemão foi um dos

37
“Tagesgeschichte”. Kolonie Zeitung, Joinville, 27 41
Antes de Adolf Lüderitz desembarcar em Angra
de março de 1885 (BU/UFSC). Pequena, seu sócio Heinrich Vogelsand já havia
38
“Deutschland und die Colonialpolitik”, Deutsche concluído negócio com as autoridades locais em
Zeitung, Porto Alegre, 10 de outubro de 1885 1883. Vale lembrar ainda que missionários euro-
(MCSHJC/Porto Alegre). peus já atuavam em regiões da atual Namíbia e al-
39
Sobre a Alemanha enquanto potência marítima, guns grupos nativos já haviam sido cristianizados
a Deutsche Zeitung publicou outra matéria antes por eles antes da Alemanha declarar o sudoeste
mesmo da Conferência de Berlim. Cf.. “Über- africano como Schutzgebiet.
seeische Politik des Deutschen Reiches”. Deuts- 42
Gustav Nachtigal faleceu dia 20 de abril de 1885.
che Zeitung, Porto Alegre, 05 de julho de 1884 O necrológico foi publicado nas páginas da Deuts-
(MCSHJC/Porto Alegre). che Zeitung quase dois meses depois. Deutsche
40
“Afrika”. Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 20 de Zeitung. Porto Alegre, 19 de junho de 1885 (Ar-
março de 1885 (M’CSHJC/Porto Alegre). quivo Benno Mentz/PUCRS).

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 467


principais protagonistas da diploma- A sociedade de comércio de Carl
cia do II Reich em questões relativas à Peters também foi tema da imprensa
África setentrional e central. Sua par- teuto-brasileira.46 O jornal de Blumenau,
ticipação na negociação diplomática Der Urwaldsbote, publicou uma matéria
referente à crise marroquina favoreceu sobre Dr. Carl Peters e sua importância
a Alemanha. Iniciava-se, então, o co- para a política colonial da Alemanha em
lonialismo alemão na África. O jornal sua fase inicial, principalmente na costa
mencionou as viagens de Nachtigal índica da África.47 Em 29 de setembro de
pelo norte da África e também pelo 1885, uma notícia sobre a presença ale-
interior do continente, onde ele selou mã na costa oriental da África apareceu
alianças e defendeu interesses do go- nas páginas da DZ.48 A matéria enfatizou
verno alemão.43 Também fez referência as dificuldades da Deutsche Ost-Afrika
à sua contribuição científica para os Gesellschaft (DOAG) diante das hostili-
estudos de geografia e etnografia afri- dades entre o sultão de Zanzibar e os bri-
canas. Essa homenagem póstuma pre- tânicos na costa africana. Refutou ainda
tendia incluir a presença alemã entre a especulação do periódico inglês Times
os “grandes exploradores” da África, sobre uma manobra militar dos alemães
como Stanley e Livingstone. nas águas do Índico.
Dois meses depois, o mesmo jornal Essas matérias, seguida de outras,
publicava notícia sobre conflitos na feitoria demonstram o quanto a imprensa teuto-
de Neu-Lübeck, na costa dos Camarões, brasileira acompanhou os acontecimen-
onde Nachtigal havia obtido um acordo tos preliminares ao tratado anglo-alemão
com autoridades locais para implantar de 1886, que reforçou a influência britâ-
uma colônia alemã em 1884.44 O irmão do nica no Zanzibar e garantiu a presença
rei Aqua, Manga Aqua, chegou a ser preso
em 1883. Para isso, comprou de uma autoridade
pelas autoridades alemãs e deportado para
local o direito de ali se estabelecer. Mais tarde, o
Angra Pequena, onde os alemães também governo alemão atendeu ao pedido de proteção de
Lüderitz e o sudoeste africano passou a ser uma
tinham outra colônia. Mas ele havia fugido zona sob proteção alemã (deutsche Schutzgebiet).
e retornado para Neu-Lübeck. Preso nova- 46
Sobre Carl Peters e sua importância para o colo-
nalismo alemão, cf. BAER, H. M. Carl Peters and
mente, a informação é que ele seria envia- German Colonialism. A Study in the Ideas and
do, dessa vez, para a Alemanha. 45 Actions of Imperialism. Stanford, Cal., 1968.
47
« Ein deutscher Kolonialpolitiker», Der Urwal-
dsbote, Blumenau, 10 de agosto de 1907 (UB/
43
A Deutsche Zeitung já tinha publicado outra UFSC); Essa matéria teve continuação na edição
matéria sobre explorações na África na qual de 14 de agosto de 1907. O jornal se posicionava
mencionava a presença de Gustav Nachtigal nas em defesa do Dr. Carl Peters acusado pela oposi-
montanhas camaronesas. Deutsche Zeitung, Por- ção social-democrata.
to Alegre, 23 de janeiro de 1885 (Arquivo Benno 48
Deutsche Zeitung. Porto Alegre, 29 de setembro
Mentz/PUCRS). de 1885 (Arquivo Benno Mentz/PUCRS). Outra
44
Segundo informação da Deutsche Zeitung, o matéria sobre a África oriental e Zanzibar já havia
conteúdo da matéria “África”, de 21 de agosto de sido publicado no mesmo jornal em 05 de junho
1885, teve Lübecker Blätter como fonte. de 1885 e cujo conteúdo tratava da tentativa dos
45
Um comerciante de Bremen, Franz A. Lüderitz, alemães em selar alianças e/ou ocupar partes cos-
decidiu instalar uma feitoria em Angra Pequena teiras do atual Kênia e Tanzânia.

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alemã na África oriental. Esse tratado de ca oriental, pouco se esclareceu sobre o
delimitação das áreas sob influência bri- conflito de interesses comerciais naquela
tânica e germânica no leste africano foi região entre a DOAG e a Imperial British
seguido de um tratado com maiores con- East Africa Company. A imprensa teuto-
seqüências em 1890 e que também foi brasileira também se limitou a informar
matéria de notícias da imprensa teuto- parcialmente sobre o que se passava em
brasileira. 49
Bagamoyo e regiões circunvizinhas, sem
Pelas páginas da Blumenauer Zei- emitir juízo sobre o dilema alemão na
tung (BZ), uma série de notícias infor- África oriental e tampouco sobre a in-
mou sobre a melindrosa situação dos ale- tervenção alemã naquela região, onde
mães na Costa Índica. O navio de guerra a DOAG fora a grande responsável pelo
“Möve” enfrentava dificuldades impetra- caos reinante.51
das pelos habitantes de Zanzibar. Outros Segundo notícia da BZ, a situação
navios foram deslocados para socorrer os parecia piorar no final do ano de 1888,
alemães naquela região. Também o sul- pois a DOAG não se encontrava em con-
tão de Zanzibar foi acusado pela morte dições de manter seus interesses na re-
de dois funcionários alemães. Até os mis- gião. A Grã-Bretanha e a Alemanha te-
sionários católicos temiam um levante riam decidido fazer um bloqueio contra
da população de Tanganyka e região cir- Zanzibar em detrimento do comércio de
cunvizinha.50 Já a KDZ informou sobre o escravos africanos e em prol dos interes-
retorno de Carl Peters à África oriental ses anglo-germânicos na região.52 Em-
em 1888. Porém, nas notícias que foram bora alemães e britânicos atuassem em
publicadas sobre os levantes na Áfri- conjunto em algumas ações repressivas
na costa do Índico, especialmente contra
49
O Tratado de Helgoland-Zanzibar (Helgoland- o sultanato de Zanzibar, e tivessem feito
Sansibar Vertrag) foi firmado em 01/07/1890 en-
acordos secretos para anexar possessões
tre os Impérios da Grã-Bretanha e da Alemanha.
A primeira reconheceu a autoridade da segunda portuguesas, havia divergência entre
sobre as ilhas de Helgoland no Mar do Norte, so-
bre a Faixa de Caprivi (território na atual Namí-
ambas as potências européias.53
bia) e ainda o controle da costa de Dar es Salaam. Nesse sentido, o jornal de Blume-
Esta última seria a capital da Deutsche Ostafrika.
Da sua parte, a Alemanha cedeu à Grã-Bretanha o nau informou que as chances de conectar
protetorado sobre a Witulândia, pequeno sultana- os domínios alemães no sudoeste e leste
to na costa do Kênia. Além disso, a Alemanha se
comprometeu a ficar neutra em qualquer ação bri-
tânica em Zanzibar. Cabe lembrar que, seis anos 51
Para Henri Wesseling, o dilema alemão consistia
depois do Tratado de Helgoand-Zanzibar, houve na decisão pela retirada ou pela intervenção ar-
uma guerra, que resultou no controle total da ilha mada. WESSELING, H. Les empires coloniaux
de Zanzibar pelos britânicos. Uma adição ao trata- européens (1815-1919). Paris: Gallimard, 2009,
do de 1890 ainda estabeleceu a esfera de interesse p.333-334.
alemã na Deutsche Süd-Westafrika (atual Namí- 52
“Tagesgeschichte”, Blumenauer Zeitung, Blume-
bia) e confirmou as fronteiras entre a Togolândia nau, 22 de dezembro de 1888 (BU/UFSC).
alemã e a Costa do Ouro britânica, bem como en- 53
Sobre os interesses alemães e ingleses pelas pos-
tre o Camarões alemão e a Nigéria britânica. sessões portuguesas na África, cf. WESSELING,
50
“Tagesgeschichte”, Blumenauer Zeitung, Blume- H. Le partage de l’Afrique, Paris: Denoël, 1996,
nau, 22 de dezembro de 1888 (BU/UFSC). p.592-596.

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africanos eram remotas devido à inter- as colônias alemãs na África. Trata-se de
venção militar britânica, especialmente um balanço do estado das colônias de
na África austral. O futuro dos interes-
54
Kamerun (Rep. Camarões), da Deutsche
ses alemães na África oriental também Süd-Westafrika (atual Namíbia) e da
dependiam das manobras britânicas na Ost-Afrika (atual Tanzânia).60 Além da
região, informava a BZ.55 O mesmo jor- participação alemã na África, a impren-
nal registrou a intenção de compra dos sa teuto-brasileira também informava
alemães de um porto na África austral, aos seus leitores sobre demais ações eu-
mas a proposta não foi aceita pelos ingle- ropéias em regiões africanas. Eventual-
ses.56 Em 1889, outra notícia publicada mente, as notícias davam margens para
na BZ informou sobre mais uma anexa- críticas aos franceses, ingleses, belgas
ção alemã na África oriental. Dessa vez, e portugueses. Assim, por exemplo, a
o comissário do império alemão, Her- Deutsche Zeitung publicou uma matéria
mann von Wissmann, ocupara Tonga, no sobre a resistência mahdista contra os
Zambeze. A propósito, uma imagem do
57
ingleses no Sudão.61 Em julho do mesmo
monumento erguido em homenagem ao ano, o mesmo jornal informou sobre re-
“conquistador alemão” em Lauteberg foi sistência nativa contra os franceses em
publicada em jornal de Blumenau.58 No Little Popo.62 Os jornais de língua alemã
suplemento da Kolonie Zeitung foi publi- do Sul do Brasil também trataram da cri-
cada outra imagem relativa à expedição se de Fachoda em 1898 envolvendo fran-
de Wissman em Bagamoyo. 59
ceses e britânicos.
Dez anos após o término da Confe-
rência de Berlim, a Deutsche Zeitung pu- As guerras coloniais na “África
blicava matéria na primeira página sobre alemã”

Desde 1885, a imprensa teuto-


54
“Tagesteschichte”, Blumenauer Zeitung, Blume-
nau, 25 de agosto de 1888 (BU/UFSC). brasileira informou sobre revoltas na
55
“Tagesteschichte”, Blumenauer Zeitung, Blume-
nau, 1o de dezembro de1888 (BU/UFSC).
“África alemã”. Mas a partir de 1904, o
56
“Tagesgeschichte”, Blumenauer Zeitung, Blume- conflito bélico no sudoeste africano sob
nau, 08 de setembro de 1888 (BU/UFSC).
57
“Neuste Nachrichten”, Blumenauer Zeitung, Blu- domínio alemão apareceu nas páginas
menau, 03 de agosto de 1889. BU/UFSC. dos jornais teuto-brasileiros e, nos anos
58
« Bilder zur Geschichte », Der Urwaldsbote, Blu-
menau, 14 de setembro de 1907 (BU/UFSC). Vale seguintes, o assunto era responsável
lembrar que vários nomes de ruas, monumentos pelo tom dramático das notícias vindas
e outras referências ao passado colonial da Ale-
manha têm sido reclamados por uma onda de da “África alemã”. Tais informações in-
“descolonização” (Entkolonisierung) para qual a
nova historiografia alemã tem contribuído signifi-
cativamente. 60
“Deutsche Colonieen”, Deutsche Zeitung, 15 de fe-
http://wissen.spiegel.de/wissen/dokument/doku- vereiro de 1895 (Arquivo Benno Mentz/PUCRS).
ment.html?id=29665604&top=SPIEGEL (con- 61
Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 02 de abril de
sultado em 10 de novembro de 2009) 1885 (Arquivo Benno Mentz/PUCRS).
59
“Ilustriertes Unterhaltuns-Blatt”, Beilage zur 62
Deutsche Zeitung, Porto Alegre, 17 de julho de
Kolonie-Zeitung, s/d. (BU/UFSC). 1885 (Arquivo Benno Mentz/PUCRS)

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quietavam o público leitor, pois a “terra Notícias sobre o envio de tropas
prometida” parecia ter se tornado terra acusavam a gravidade do conflito no
danada.63 sudoeste africano. Número de soldados
Sobre o estado beligerante no sudo- e oficiais era informado, bem como seu
este africano, nenhum jornal brasileiro despacho por qual navio ou companhia
em língua portuguesa superou a cobertu- alemã. Além do comunicado de envio de
ra dos jornais em língua alemã do Bra- soldados para o sudoeste africano, o jor-
sil meridional. Nas páginas dos jornais nal Fortschritt anunciou também uma
da imprensa teuto-brasileira havia uma mudança política que demonstrava a
gama de detalhes. Por exemplo, em abril dimensão do problema; afinal, a respon-
de 1904, um jornal de língua alemã no sabilidade pelo assunto passara do alto
interior do Rio Grande do Sul informou comandante da Schutztruppe para o pró-
sobre a recuperação do trecho ferroviá- prio ministro da guerra prussiano.66 Al-
rio entre Swakopmund e Windhuk, além guns meses após a rebelião dos hereros,
do trecho até Omaruru. Também deu de- a Kolonie Zeitung informava sobre mais
talhes sobre as posições de companhias um envio de tropas, agora de 8.000 sol-
militares no teatro da guerra e sobre o dados e, na mesma matéria, menciona-
movimento de grupos inimigos, inclusive va a inquietante aliança dos insurgentes
alguns deles com armas de fogo (mode- com outros grupos nativos, inclusive da
los 1871 e 1886). Essa matéria publicada vizinha Angola.67 Também o Fortschritt
no Fortschritt tinha como fonte notícia mencionou tentativa dos hereros em le-
da Norddeutsche Allgemeine Zeitung e var o grupo ovambo a participar da guer-
telegrama expedido pelo enviado espe- ra contra os alemães.68
cial para a África, o editor da Kölnische O elevado custo da guerra no sudo-
Zeitung. 64
Algumas semanas depois, o este africano, tanto em relação ao capital
mesmo jornal comunicou sobre sérias humano quanto financeiro, foi mencio-
perdas entre os colonos alemães no su- nado pelo Santa Cruzer Anzeiger em
doeste africano e de que uma medida do 1904.69 No mesmo ano, a Kolonie Zei-
governo alemão deveria ser anunciada tung informava que 17 milhões de mar-
em breve para o socorro dos compatrio- cos foram gastos e não havia ainda previ-
tas. 65

66
Fortschritt, Santa Cruz do Sul, 16 de julho de 1904
63
Nos primeiros anos da participação alemã na (CEDOC/UNISC). A informação sobre o comando
“Partilha da África”, um jornal de língua alemã de nas mãos do ministério da guerra chegou com um
Santa Catarina publicou matéria na qual uma co- mês de atraso.
lônia africana era terra de promissão. “Das Land 67
« Ausland », Kolonie Zeitung, Joinville, 14 de no-
Gottes in Afrika”, Blumenauer Zeitung. Blume- vembro de 1904 (BU/UFSC).
nau, 09 de junho de 1888 (BU/UFSC). 68
Fortschritt, Santa Cruz do Sul, 22 de agosto de
64
Fortschritt, Santa Cruz do Sul, 16 de abril de 1904 1904 (CEDOC/UNISC).
(CEDOC/UNISC). 69
“Ausland. Deutsch—Südwestafrika” Santa Cruzer
65
Fortschritt, Santa Cruz do Sul, 30 de abril de 1904 Anzeiger, Santa Cruz do Sul, 30 de abril de 1904
(CEDOC/UNISC). (CEDOC/UNISC).

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são para o término da guerra.70 O mes- formou sobre levantes em Angola onde
mo jornal informou que desde o início missionários portugueses, franceses e
do conflito no sudoeste africano, dados ingleses também foram vítimas dos re-
oficiais de Berlim informavam que, entre voltosos.76 Além dos portugueses em An-
alemães mortos e feridos, o número era gola, os ingleses na África do Sul também
de 671. Seriam enviados nos próximos estavam tendo dificuldades, pois o gru-
meses, no entanto, mais 1.380 soldados po Basuto teria se levantado. Segundo a
para lutar na África.71 No jornal Kolonie, notícia do Frankfurter Zeitung, 50.000
relatos de testemunhas oculares da guer- guerreiros poderiam pegar em armas.77
ra no sudoeste africano também eram Dois anos passados, um jornal de lín-
publicados, o que dava uma dimensão gua alemã de Blumenau comentou mais
subjetiva da desolação naquele territó- perdas das tropas portuguesas acossadas
rio outrora tão promissor. Extratos de
72
pelo grupo Ovambo na região fronteiriça
relatos de soldados ou colonos alemães entre Angola e Namíbia. Na mesma pá-
também eram reproduzidos nas páginas gina, informou-se ainda sobre o retorno
de outro jornal de língua alemã de cará- do líder Morenga ao sudoeste africano,
ter mais conservador e sensacionalista. 73
apesar do pedido dos alemães aos ingle-
Neste jornal, relatos de bôeres também ses de não deixá-lo em liberdade. A notí-
foram publicados, como o caso de uma cia teve desfecho racista, pois se referiu à
viúva cujo marido e filhos foram assassi- suposta traição de Hendrik Witbois que
nados pelos “hotentotes”. 74
teria custado a vida do comandante von
Em curta notícia sobre baixas nas Burgsdorff e, por isso, seria “mera estu-
tropas portuguesas na África, a Kolo- pidez contar com a fidelidade e a confian-
nie Zeitung qualificou a condição colo- ça de qualquer hotentote”.78
nial, tanto para Portugal quanto para a Em novembro de 1904, uma notícia
Alemanha, como grande dor de cabeça nas páginas da KZ anunciava a aproxi-
(grosse Kopffschmerzen).75 Outro jornal mação do término da guerra no sudo-
de língua alemã de Joinville também in- este africano. Segundo informações do
próprio Lothar von Trotha, os hereros
70
“Ausland”, Kolonie Zeitung, Joinville, 22 de no-
vembro de 1904 (UB/UFSC). 76
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung, Joinville, 25 de
71
Ausland”, Kolonie Zeitung, Joinville, 24 de no- agosto de 1905 (UB/UFSC).
vembro de 1904 (UB/UFSC). 77
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung, Joinville, 10 de
72
“Südafrika”, Kolonie, Santa Cruz do Sul, 02 de novembro de 1905 (UB/UFSC).
abril de 1904 (CEDOC/UNISC). 78
A última frase da notícia foi a seguinte: Auf Trau
73
Como exemplo, pode-se citar o relato de um sol- und Glauben bei einem Farbinge zu rechnen,
dado, publicado no Tägl. Rundschau, “Der Leu- mag es sei, wer es wolle, ist eine unverzeihliche
tenant und seine Bursche ”, Der Urwaldsbote, Dummheit. “Ausland”, Der Urwaldsbote, Blu-
Blumenau, 04 de novembro de 1905 (UB/UFSC). menau, 02 de outubro de 1907 (UB/UFSC). Vale
74
“Grausamkeiten des Hottentotten”, Der Urwal- ressaltar que a Joinvillenser Zeitung já havia noti-
dsbote, Blumenau, 11 de fevereiro de 1905 (UB/ ciado em 06 de setembro de 1907 especulações so-
UFSC). bre as intenções de Morenga em atacar os alemães
75
“Ausland”, Kolonie Zeitung, Joinville, 18 de outu- após negociar com os ingleses sua libertação e seu
bro de 1904 (UB/UFSC). retorno ao sudoeste africano.

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estavam encurralados: ou fugiam pelo iniciar a guerra contra os hereros.84
deserto, onde poderiam morrer de sede Os custos com a guerra colonial
antes de chegar à fronteira ou se rendiam no sudoeste africano foi debate acirra-
aos alemães. Na matéria do jornal ainda do no parlamento alemão. No final de
foi cogitada a probabilidade dos hereros 1906, houve inclusive o fechamento do
fugirem pelo deserto, apesar das poucas Reichstag.85A dissolução parlamentar
chances de sobrevida. Outra notícia já
79
foi tratada também nas páginas dos jor-
anunciava que a subordinação dos he- nais de língua alemã do Brasil meridio-
reros estaria prestes a ocorrer, pois um nal. Também as eleições de 1907 foram
confronto em Waterberg era esperado, assunto de várias matérias da imprensa
mas sem maiores dificuldades para as teuto-brasileira.86
tropas alemãs.80 Poucos meses depois, a Nos primeiros anos do século XX, a
KZ informou que a Schutztruppe, após representação do sudoeste africano pela
um enfrentamento de 50 horas, des- imprensa teuto-brasileira era de total de-
baratou um grupo de 2.000 hereros e solação. Uma imagem disso foi publicada
ocupou importante fonte de água na re- no jornal do redator Eugen Fouquet. Ao
gião. Meses mais tarde, a Joinvillenser
81
invés da plantação, cruzes brotavam na
Zeitung noticiou um revés no qual as tro- paisagem da África colonial.87
pas alemãs perderam 100 homens, mais Cartões postais do sudoeste africa-
munição, armas e mantimentos para os no também serviam para fazer circular
hereros.82 as imagens fotográficas de acampamen-
No início de 1906, a notícia do re- tos militares ou de locais de batalhas.
torno do General von Trotha à Alema- Os fotógrafos alemães continuaram a
nha confirmava a vitória dos alemães no reproduzir aqueles clichês das paisagens
sudoeste africano. Porém, desde 1904, dos portos de Swakopmund e Lüderitz-
notícias de assaltos dos namas contra os bucht ou de “interesse etnográfico” pelos
alemães indicavam que o sudoeste afri- grupos africanos, mas também inovaram
cano seria teatro de outra guerra.83O jor- sua oferta com paisagens bélicas e de
nal Kolonie, por exemplo, já informava gentes guerreiras.88
sobre ataques dos namas às proprieda-
des de colonos alemães antes mesmo de
84
Kolonie, Santa Cruz do Sul, 16 de janeiro de 1904
(CEDOC/UNISC).
85
Cf. GRÜNDER, Horst: Geschichte der deutschen
Kolonien. 5. Aufl. Verlag Ferdinand Schöning, Pa-
79
“Ausland”, Kolonie Zeitung, Joinville, 25 de outu- derborn 2004, p. 241
bro de 1904 (UB/UFSC). 86
Essas eleições também ficaram conhecidas como
80
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville, 27 “Hottentottenwahlen”, pois elas foram influencia-
de outubro de 1904 (BU/UFSC). das pelo desfecho da guerra no sudoeste africano.
81
“Ausland”, Kolonie Zeitung, Joinville, 26 de janei- 87
“Soldatengräber in Deutsch-Südwestafrika”, Der
ro de 1905 (UB/UFSC). Urwaldsbote, Blumenau, 08 de abril de 1905
82
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung. Joinville, 01 de (UB/UFSC).
setembro de 1905 (UB/UFSC). 88
No Centro de Documentação (UNISC) foram en-
83
“Rundschau im Auslande”, Der Urwaldsbote, contrados alguns desses cartões postais do outro-
Blumenau, 06 de janeiro de 1906 (UB/UFSC). ra acervo de fotografias do colégio Mauá.

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Em setembro de 1905, Der Urwal- Hendrik Witbois. Acrescentava-se que
dsbote informava seus leitores de que a uma nova fase começaria na colônia: a
formação de uma armada colonial (Kolo- da “guerrilha” (kleine Kriege), pois Mo-
nialarmee) seria proposta pelo governo renga ainda estava vivo.93 De fato, a JZ
ao parlamento alemão. Um mês depois, informava aos seus leitores sobre a conti-
esse mesmo assunto apareceu na pri- nuação do conflito com os Witbois.94 Em
meira página da Joinvillenser Zeitung. 1906, uma notícia sobre um ataque dos
Ventilou-se a possibilidade do general hotentotes, causando mortes entre os
Lothar von Trotha ser o comandante soldados e oficiais alemães, comprovava
desta armada.89 o desenrolar do conflito por meio da táti-
Em pouco mais de um ano de con- ca de guerrilha.95
flito, as tropas alemãs teriam perdido Se notícias das guerras no sudoeste
1432 homens, sendo 981 mortos, entre africano foram freqüentes na imprensa
os quais centenas acometidas pelo tifo.90 teuto-brasileira, a revolta Maji-Maji na
No final de 1905, a Joinvillenser Zeitung África oriental foi tema menos tratado.96
informou seus leitores do fim da guerra Entre 1888 e 1902, os alemãs realiza-
contra os hereros no sudoeste africano. 91
ram 84 operações militares na região de
Naquela mesma semana, Der Urwalds- Tanganyka, sendo que o colonialismo
bote informava do retorno de Hendrik alemão se interiorizou na região a partir
Witbois, líder dos hotentotes, ao terri- de 1901. A introdução de trabalhos com-
tório sob domínio alemão no sudoeste pulsórios e instauração de elevados im-
africano. Na mesma página, havia outra postos pela administração colonial alemã
notícia sobre levante na colônia alemã na África oriental provocaram uma das
na África oriental, onde quatro missio- maiores revoltas do período colonial en-
nários, dois comerciantes e um suboficial tre 1905 e 1906. Para reprimir a revolta
da Schutztruppe foram assassinados.92 Maji-Maji no interior de seus domínios,
No final daquele ano, a comunidade teu- os alemães adotaram a política da terra
to-brasileira foi informada da morte de arrasada. Segundo o relatório oficial do
Reichstag, 75.000 africanos foram mor-
89
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung. Joinville, 04 de tos nesta guerra.97 Porém, outras fontes
outubro de 1905 (BU/UFSC).
90
“Rundschau im Auslande”, Der Urwaldsbote,
Blumenau, 09 de setembro de 1905 (UB/UFSC). 93
“Rundschau im Auslande”, Der Urwaldsbote,
91
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung, Joinville, 15 de Blumenau, 06 de dezembro de 1905 (UB/UFSC).
dezembro de 1905 (UB/UFSC). 94
“Ausland”, Joinvillenser Zeitung, Joinville, 17 de
92
“Rundschau im Auslande”, Der Urwaldsbote, janeiro de 1906 (BU/UFSC).
Blumenau, 16 de setembro de 1905 (UB/UFSC). 95
Santa Cruzer Anzeiger, Santa Cruz do Sul, 27 de
Hendrik Witbois não era desconhecido dos lei- abril de 1906 (CEDOC/UNISC).
tores da imprensa teuto-brasileira. Em 07 de de- 96
Em suaíli, a palavra maji significa água. Os líderes
zembro de 1904, uma matéria sobre seu povo foi religiosos da revolta Maji-Maji acreditavam que
publicada no jornal Fortschritt, sob o título “Wit- seus poderes poderiam transformar as balas dos
bois auf dem Kampfstand”. Também foi publica- inimigos em água.
do na Joinvillenser Zeitung, de 09 de março de 97
WESSELING, H. Le partage de l’Afrique (1880-
1906, um testemunho de Witbois sobre os bôeres. 1914), Denoël, 1996, p.325.

474 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


permitem uma estimativa em torno de Maji-Maji no leste africano pode ter sido
150 mil mortos.98 em função da maior população alemã
Quase simultâneas, as guerras co- na África do sudoeste; aliás, em número
loniais que envolveram os alemães no de brancos, a colônia alemã do sudoeste
sudoeste e no leste da África não tive- africano concentrava o maior contingen-
ram a mesma cobertura nos jornais da te de imigrantes alemães na África.
imprensa teuto-brasileira. Talvez um Der Urwaldsbote expôs, no entan-
dos motivos seja a diferença entre ambas to, outras razões para a distinta cober-
as regiões no que tange ao contingen- tura das guerras no sudoeste e no leste
te de colonos alemães. A colônia alemã da “África alemã”.100Na África oriental,
no sudoeste africano tinha uma área de os alemães não teriam que enfrentar a
800.000 km2 e tinha o maior contin- mesma adversidade do terreno como no
gente de colonos alemães, os quais se sudoeste africano, não haveria falta de
distribuíam irregularmente no território. água, os nativos não eram tão aguerri-
Eles se organizavam em grandes proprie- dos e estavam mal armados em relação
dades rurais, onde a pecuária predomi- aos hereros e namas. Além disso, a pro-
nava como atividade econômica. Além porção entre brancos e negros era outra,
disso, havia alguns núcleos de povoa- sendo que os alemães contavam com
mento em torno de algumas estações mi- 2.000 askari em suas tropas.101
litares, da administração colonial ou de
missionários no interior e dos empórios O fim das colônias alemãs na
portuários no litoral. Já a colônia alemã África
da África oriental era um pouco maior,
com quase 1.000.000 km2, porém sem As matérias e notícias da im-
expressivo contingente de colonos ale- prensa teuto-brasileira são fontes pouco
mães. Embora a região de Tanganyka exploradas pelos historiadores para fazer
fosse mais favorável à agricultura do que um estudo da “Partilha da África”.102 En-
o sudoeste africano, os colonos brancos
que imigraram foram poucos. Numa po- 100
“Rundschau im Auslande”, Der Urwaldsbote,
Blumenau, 06 de dezembro de 1905 (UB/UFSC).
pulação branca de pouco mais de 5.000 101
Sobre os soldados negros (askari) a serviço do co-
pessoas, um número inferior a mil era de mando alemão na África oriental, a JZ publicou
interessante notícia. Cf. “Ausland”, Joinvillenser
agricultores.99 Zeitung, Joinville, 27 de outubro de 1905 (BU/
O maior número de informações UFSC).
102
Essas rivalidades eram também expressas nas
nas páginas dos jornais de língua ale- páginas da imprensa alemã, fonte de muitas
matérias dos jornais de língua alemã no Sul do
mã no Sul do Brasil sobre as guerras do
Brasil. Mas jornais e revistas da França também
sudoeste africano em relação à revolta expressavam tais rivalidades. Le Petit Journal,
por exemplo, teve várias ilustrações e notícias
criticando o colonialismo alemão na África. Re-
98
WESSELING, H. Les empires coloniaux euro- voltas populares contra o envio de soldados ale-
péens (1815-1919). Paris: Gallimard, 2009, p.336. mães para o sudoeste africano, a política colonial
99
Idem, p.335. de Bismarck e outros temas ligados às colônias

Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010 475


tre os diversos temas relacionados à fase seguido por Barbados, Trinidad e Guiana
inicial do imperialismo e do colonialismo inglesa. Calculava-se em 1.500 soldados
na África, destaca-se a rivalidade entre das Índias Ocidentais a serem expedi-
os colonizadores. Em relação aos ingle- dos para a Europa.106 Assim, a imprensa
ses, por exemplo, eles são acusados pela teuto-brasileira assinalava que a supe-
imprensa teuto-brasileira de pouca soli- rioridade numérica das tropas francesas
dariedade com os alemães em todas as e inglesas era, em grande parte, devido
“áreas de proteção” (Schutzgebiete) na aos contingentes de soldados das colô-
África. 103
Ainda não havia terminado a nias dos respectivos impérios. Sobre a
Conferência de Berlim, e a Kolonie Zei- capitulação da colônia alemã no sudoes-
tung já informava sobre atritos diplomá- te africano, a KZ também informou sobre
ticos entre Alemanha e Inglaterra tanto a desproporção do número de soldados
no sudoeste quanto no leste africano. 104
alemães (pouco mais de 3.000 homens)
Durante a guerra no sudoeste africano, que se defenderam “heroicamente” dian-
Der Urwaldsbote acusou os ingleses de te de 20.000 soldados sob a bandeira
se beneficiar com ela, inclusive vendendo britânica.107 O mesmo jornal tratava os
arma e munições aos adversários dos ale- bôeres, antigos aliados na guerra colo-
mães. Por sua vez, o KZ acusou os ingle- nial de 1904-1907, como traidores já que
ses de usar soldados negros como bucha a vitória britânica no sudoeste africano
para canhão (Kanonenfutter) na guerra dependeu das tropas sul-africanas.108
contra os alemães no sudeste africano, Na imprensa teuto-brasileira, as
onde a baixa numa batalha foi de 172 notícias sobre as colônias alemãs na Áfri-
mortos do lado britânico, sendo que 139 ca entre os anos de 1904 a 1912 perdem
africanos.105 aquela euforia do período precedente.
Além de tropas sul-africanas, os in- As guerras coloniais foram constantes
gleses recrutaram soldados de todas as nas rubricas Ausland e Aus aller Welt
partes do império para lutar tanto na Eu- até 1907. As notícias sobre a questão
ropa quanto na África. Com base em in- marroquina, no entanto, preocuparam
formação da agência Reuter, a KZ infor- os leitores da imprensa teuto-brasileira
mou que 500 jamaicanos foram enviados de 1905 até 1912 porque esteve sempre
para o front na Europa. O exemplo seria
106
“Kriegs-Allerei”, Kolonie Zeitung. Joinville, 27
alemãs na África foram tratados criticamente pelo de julho de 1915 (BU/UFSC). Ao todo foram 3
periódico parisiense. milhões o número de soldados dos domínios do
103
Sobre as relações entre ingleses e alemães duran- Império Britânico. Canadá, Austrália, Nova Ze-
te a “Partilha da África”, cf. Fröhlich, Michael. lândia, Índia e Africa do Sul forneceram mais da
Von Konfrontation zur Koexistenz: Die deutsch- metade desse contingente. Cf. WESSELING, H.
englischen Beziehungen in Afrika zwischen 1884 Les empires coloniaux européens (1815-1919). Pa-
und 1914, Bochum, 1990. ris : Gallimard, 2009, p.480-481.
104
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville, 13 107
“Kleine Nachrichten”, Kolonie Zeitung. Joinville,
de fevereiro de 1885 (BU/UFSC). 27 de julho de 1915 (BU/UFSC).
105
“Tagesgeschichte”, Kolonie Zeitung. Joinville, 03 108
“Kleine Nachrichten”, Kolonie Zeitung. Joinville,
de março de 1916 (BU/UFSC). 31 de agosto de 1915 (BU/UFSC).

476 Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.23, n.2, jul./dez. 2010


no horizonte a possibilidade de um con- inferir que as informações repassadas
fronto bélico entre a França e a Alema- pela imprensa teuto-brasileira eram
nha. Por último, as notícias durante o parciais e superficiais no que tange à
transcurso da Primeira Guerra Mundial “Partilha da África”.109Cabe ressaltar,
foram também do fim do colonialismo todavia, que o discurso da imprensa
alemão na África. As tropas do Império teuto-brasileira estava afinado com
Britânico com expressivo contingente de uma literatura colonial.110
soldados sul-africanos tomaram as pos- Com o Tratado de Versalhes, a im-
sessões alemãs do sudoeste africano e da prensa teuto-brasileira teve que se de-
África oriental, enquanto que as colônias frontar com a realidade pós-colonial da
do Togo e dos Camarões foram ocupadas Alemanha, ou seja, sem mais colônias
conjuntamente pelas forças inglesas e na África. Começava, então, um período
francesas, ambas com expressivo contin- nostálgico na imprensa teuto-brasileira
gente de soldados africanos. que retomaria a euforia pangermanista
Apesar de uma maior gama de in- com a ascensão do nazismo na década
formações sobre o que se passava nas de 1930 e suas pretensões imperialis-
colônias alemãs, os jornais teuto-bra- tas ao reivindicar as colônias africanas
sileiros do Rio Grande do Sul e Santa enquanto partes integrantes do espaço
Catarina dependiam das informações vital (Lebensraum) ao III Reich.
telegráficas e das reproduções de maté-
rias dos jornais estrangeiros. Notícias Referências bibliográficas
de jornais de Colônia, Berlim, Munique
e de outras cidades alemãs eram re- BAER, H. M. Carl Peters and German
produzidas ou serviam de fontes para Colonialism. A Study in the Ideas and
matérias da imprensa teuto-brasileira. Actions of Imperialism. Stanford, Cal.,
Isso demonstra uma fonte diferenciada 1968.
aos jornais de língua alemã do Brasil
meridional. Tal acesso às notícias da
imprensa alemã suscita dúvidas quan- 109
Por exemplo, em 1904, calculava-se em 80.000
a população herera no sudoeste africano. Em
to ao oligopólio do consórcio Reuter/ 1906, eram apenas 20.000. Cf. WESSELING,
Havas para a América Latina. Prova- H. Les empires coloniaux européens (1815-
1919). Paris : Gallimard, 2009, p.36. Esses
velmente, a agência berlinense Wolff dados não apareceram nos jornais da imprensa
foi uma fonte importante da imprensa teuto-brasileira. A historiografia demonstra, no
entanto, como algumas guerras coloniais redun-
teuto-brasileira. A gama e a qualidade daram em genocídio.
110
Sobre o tema da violência e do extermínio dian-
de informações veiculadas pelos jor-
te da alteridade africana pela literatura colonial,
nais de língua alemã no Sul do Brasil cf. BREHL, Medardus, Vernichtung der Herero.
Diskurse der Gewalt in der deutschen Kolonial-
permitiam um diferencial ao seu pú- literatur. Paderborn:Wilhelm Fink Verlag, 2007;
blico leitor. No entanto, o cotejo com WASSINK, Jörg. Auf den Spuren des deutschen
Völkermordes in Südwestafrika.München : Mar-
a recente historiografia alemã permite tin Meidenbauer, 2004.

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