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RESUMO: O presente trabalho analisa o modo como a vinda dos imigrantes alemães é representada
na Literatura Brasileira, na obra Canaã, de Graça Aranha, focalizando, nesta leitura inicial, os
personagens Lentz e Milkau, que são alemães e amigos, instalados em Porto do Cachoeiro, Espírito
Santo, apesar de defenderem ideologias diferentes. Expõe-se, para tanto, primeiramente, algumas
considerações de cunho histórico, social e cultural sobre a vinda de imigrantes alemães ao Brasil e, na
sequência, faz-se menção a obras como A Divina pastora (1847), Um rio imita o Reno (1938) e O
tempo e o vento (1949), que têm como temática a vinda e a adaptação de imigrantes alemães a esta
nova terra chamada Brasil. Adiante, analisa-se, brevemente, alguns aspectos obra Canaã (1902).
INTRODUÇÃO
divina Pastora, por exemplo, foi publicada no ano de 1847, no Rio de Janeiro, pelo autor Antônio
Vale Caldre Fião. O romance está espacialmente situado no Sul riograndense, onde uma família de
alemães parece ter conseguido se adaptar bem à realidade brasileira, o que, no entanto, está em
dissonância com os dados históricos, uma vez que os alemães tiveram dificuldades em se adaptar à
nova língua e às terras que receberam – e que, muitas vezes, não era propícia para o plantio – , além do
descaso do governo brasileiro em relaçao às promessas que haviam feito aos imigrantes (AQUINO,
2007).
A obra Canaã é publicada em 1902, por Graça Aranha, pertencendo à fase pré-modernista. O
romance, de forte cunho sociológico, representa um grupo de alemães que se instalaram no Espirito
Santo. Os primeiros imigrantes alemães chegaram àquele Estado em 1869, sendo muitos deles
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Estudante de graduação em Letras Português- Alemão na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
27º FALE - FÓRUM ACADÊMICO DE LETRAS, 15 a 17 DE JUNHO DE 2016
UNIOESTE – Câmpus de Marechal Cândido Rondon
descendentes de pomeranos e Hunsbluckers, conforme Redel (2014).
Em Canaã, os protagonistas Lentz e Milkau são dois alemães e amigos que, no entanto,
defendiam ideologias contrárias. Lentz defendia a ideia de que os alemães eram uma raça superior,
conforme ele menciona:
Já Milkau defendia a harmonia entre as raças, e que dessa harmonia surgiria uma nova geração:
Um rio imita o Reno é publicado em 1938. Escrito por Vianna Moog, o romance relata a vida
de Geraldo, na cidade de Blumentau, e problematiza a questão do preconceito em relação aos
brasileiros, pois Geraldo é um caboclo que, a despeito de ser brasileiro, sente-se estrangeiro em seu
próprio país.
O tempo e o vento é uma trilogia de Érico Verissimo, de 1949. O primeiro volume foi
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Ainda de acordo com Kuhlmann (2010), a obra Videiras de Cristais foi publicada em 1990,
por Luiz Antônio de Assis Brasil, e oferece como tema a revolta dos imigrantes contra o governo,
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dadas as promessas não compridas. Tal revolta é marcada por um conflito religioso dos imigrantes
alemães, a revolta dos Muckers, liderada por Jacobina Mauer (KUHLMANN, 2010).
Na sequência, serão analisados alguns aspectos do romance Canaã, focalizando os
personagens Milkau e Lentz.
Canaã conta a história de dois imigrantes alemães que moram em Porto do Cachoeiro, e que
apesar de defenderem posições diferentes, convivem bem um com o outro, e trabalham juntos. Maria
aparece na história, filha de pobres imigrantes, sendo abandonada, com um filho à espera.
Reconhecida como prostituta, é rejeitada da igreja e é acolhida por Milkau. Os dois se
conheceram numa festa, e ela passa a morar em uma fazenda onde continua a ser maltratada, até um
dia ser acusada de ter matado seu filho e ir para a cadeia. Na cadeia, ela recebe visitas de Milkau, que
resolve salvá-la no meio da noite, com uma fuga.
O romance Canaã é publicado em 1902, e inicia mostrando, de um lado, os primitivos da
terra, brasileiros e escravos e, do outro, os fortes e dedicados alemães e suas colônias. Pode-se notar
isso através do erudito imigrante alemão, Milkau.
No romance são descritas as maravilhas das terras brasileiras e, por outro lado, os feitos dos
alemães, com o objetivo de problematizar a quem o futuro do país deveria ser entregue, aos
brasileiros, ou aos imigrantes alemães. Lentz acreditava que, no futuro, a raça superior dominaria as
raças inferiores, ou seja, os alemães teriam o domínio sobre todas as outras raças, que seriam
eliminadas. Já Milkau acreditava que o progresso aconteceria através da miscigenação, da mistura das
raças, acreditava num mundo onde não haveria sofrimento para os homens.
Para além dos discursos preconceituosos sobre a superioridade das raças, Maria Perutz chama
atenção do leitor para as reais condições do sujeito que imigra em busca de sobrevivência, pois ela,
apesar da cor branca e da nacionalidade alemã, é delegada à margem. Não há lugar para ela no Porto
Cachoeiro, dadas suas condições de miséria. Tal representação aponta claramente para a instabilidade
de teorias raciais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho pode-se perceber que a Literatura Brasileira representou e
problematizou, no universo fictício, um pouco da realidade da vinda dos imigrantes alemães para cá.
Este trabalho deixa em aberto a discussão sobre as outras obras brasileiras que incorporaram a
temática da imigração alemã à literatura brasileira, pois trata-se, ainda, de uma pesquisa inicial e os
resultados são, portanto, elementares.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Ivânia Campigotto. A representação do imigrante alemão no romance sul rio
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grandense: a divina pastora, frida meyer, um rio imita o reno, o tempo e o vento e a ferro e a fogo.
2007. 300 f. Tese (Doutorado) - Curso de Literatura Brasileira, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2007.
ARANHA, Graça. Canaã 1.ed. Rio de Janeiro. Fundação Darcy Ribeiro, 2013.
FRUNGILLO, Mário Luiz. Controverso e contraditório: sobre Canaã, de Graça Aranha. 2008. XI
Congresso Internacional ABRALIC. São Paulo, 2008.
JOHN, Helder. A imigração alemã no Rio Grande do Sul na literatura alemã contemporânea: A
formação de uma identidade hibrida. 2015. 121 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Literatura,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.
KUHLMANNN, Mariana Corallo M. de A. A Imigração Alemã na Literatura Brasileira: uma breve
análise. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. Ed.3, Ano3. São Paulo,
2010.
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