Aulas 45 e 46 – China
O país pode ser dividido em 5 macrorregiões:
LOCALIZAÇÂO:
- É o 3º maior país do mundo em tamanho e 1º em população. Ocupa
expressiva porção da Ásia continental e possui saída para o Oceano
Pacífico.
- Possui relevo em degrau - a Oeste a Cadeia do Himalaia formada
por dobramentos modernos, o Centro é marcado pela presença de
Planaltos cristalinos, e o Leste por Planícies sedimentares.
- Sua hidrografia possui um dos maiores potenciais hidroelétricos do
mundo, com vertente para o Leste.
Os rios em destaques são:
Huang Ho – Rio Amarelo, no Nordeste, com a presença do solo
calcário de Loess, de cor amarelada e origem de aluvião (cheias), o
que torna a região alagada por ele extremamente fértil.
Yang Tsé – Rio Azul, no Sudeste, possui potencial hidroelétrico em
atividade com a usina de Três Gargantas, a maior do mundo.
- O Noroeste é marcado pela presença do deserto de Gobi e Sikiang.
- Os climas variam de temperado de montanha a Sudoeste, desértico
a Noroeste, temperado a Nordeste e monçônico a Sudeste. A
continentalidade é um fator muito presente na porção norte e
ocidental do país. Suas paisagens são marcadas por florestas
tropicais ao Sudeste, estepes e taigas no Nordeste e desertos e
vegetação de montanha no Oeste.
- A região do Himalaia (Planalto do Tibet) é formada por grande falha
tectônica e a proximidade com o Círculo do Fogo do Pacífico torna
o país sujeito aos abalos sísmicos.
GEOECONÔMIA:
Aviso Legal: Os materiais e conteúdos disponibilizados pelo Poliedro são protegidos por direitos de propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). É vedada a utilização para fins
comerciais, bem como a cessão dos materiais a terceiros, a título gratuito ou não, sob pena de responsabilização civil e criminal nos termos da legislação aplicável.
I e II – SINKIANG e MONGÓLIA INTERIOR: Regiões marcada pela
presença dos desertos: Sikiang e Gobi respectivamente.
- possui grandes reservas de minerais metálicos, e pequenas
reservas de carvão mineral e petróleo.
- pecuária extensiva.
- baixo adensamento populacional, porém existe na região do
Sinkiang um movimento separatista Uiguri, formado pela minoria
muçulmana que reivindica a independência dessa região.
III - TIBETE: Região marcada pela presença da Cadeia do Himalaia
(altas altitudes).
- possui pequena pecuária extensiva e é centro turístico.
- vazio demográfico, é considerado pelo governo Chinês região
extremamente estratégica, por funcionar como um “muro de
proteção” para todo o território, além de possuir as principais
nascentes do país (rio Amarelo e rio Azul).
- a área foi até 1950 um país livre e teocrático, liderado por Dalai
Lama, líder político e religioso do Budismo Tibetano. A incorporação
dessa região a China com o governo de Mao Tse Tung fez com que
se desenvolvesse um dos movimentos separatistas mais
articulados do país e de projeção mundial, reivindicando a
independência a região.
IV - MANCHURIA: Região do país mais rica em recursos minerais
possui a maior produção de trigo do mundo e uma grande produção
de arroz, na presença de solo de Loess.
- Grande desenvolvimento industrial, possui parque industrial
tradicional (nacional e estatizado) e parte das ZEEs, além da capital
do país, Beijing (centro do poder político e sede do PCC – Partido
Comunista Chinês).
- Grande concentração populacional.
V - CHINA DO LESTE: Região marcada pela presença de planícies
monçônicas.
- maior concentração populacional do país e uma das maiores do
mundo.
- possui a maior cidade do país, Xangai, que também é seu principal
porto.
- Maior concentração de indústrias e produção diversificada, além de
concentração da maior parte das ZEEs.
- Presença do Yang Tsé, rio Azul, e da usina de Três Gargantas, bem
como da maior produção de arroz do mundo. Possui ainda maioria
rural, porém o processo de urbanização é intenso.
HISTÓRICO:
- De formação política Imperial, o país possuía uma economia
essencialmente rural, autossuficiente e fechada.
- Maioria demográfica de origem étnica HAN, sendo o Mandarim o
idioma oficial. Dentro do país, existem várias minorias étnicas e
religiosas com diversidade linguística.
- A expansão marítima europeia promoveu grande pressão para que
o pais ampliasse suas relações econômicas internacionais. Essa
situação levou o Império Chinês à decadência, culminando com a
Guerra do Ópio no século XIX, que o fez perder o porto de Hong
Kong para o Reino Unido (Tratado de Nanquim).
- O final do século XIX e início do século XX é marcado pela
desarticulação política do Império em meio a ocupação japonesa e
sua posterior falência com a instalação do Kuomintag em 1912
(partido de cunho liberal, vinculado a burguesia nacional); pela
articulação e formação de uma resistência política promovida pelo
Partido Comunista Chinês, formado em 1921; a invasão da
Manchúria e a perda de praticamente dois terços de seu território
para o Japão; e o fortalecimento dos movimentos nacionalistas
contra o domínio estabelecido pelo país vizinho.
 GEOPOLÍTICA:
O final da 2ª Guerra Mundial em meio à desocupação japonesa do
país e ao restauro do nacionalismo, associado ainda a influência que
vinha da política e da proximidade física com a URSS, foram as bases
da Revolução Comunista Chinesa em 1949:
- Influenciado pelos ideais marxistas e apoiado pela URSS, Mao Tsé
Tung torna-se líder da revolução que a princípio segue os moldes
soviéticos de partido único (PCC); o sistema agrário foi
cooperativado, obrigando os camponeses a entregar boa parte de
suas colheitas para o governo e posteriormente a formação das
comunas populares promoveram o controle do Estado sob a
produção agrícola. O setor mais valorizado foi o industrial, que
estatizado e com ênfase na indústria de base e em armamentos,
garante à ditadura de Mao uma condição de forte repressão interna
aos opositores e de poder em meio a Guerra Fria.
- As mudanças na produção agrícola e o rompimento com as práticas
tradicionais de organização do campo, levaram a um desastre na
produção, fazendo com que os chineses passassem fome o que
fortaleceu a oposição no país contra o governo estabelecido. Essa
situação levou Mao a radicalizar a sua condição de líder do PCC e
a implementar a Revolução Cultural (1966 até 1969 oficialmente),
com uma política de padronização em relação as ordens do partido
comunista, um abandono total das tradições, promovendo,
principalmente por jovens liderados por Mao e aliciados pelo
partido, campanhas de denunciais contra os opositores do Estado
que eram presos pelo governo.
- A adoção de um rigoroso controle de natalidade, de forte inspiração
neomalthusianista, além de um sistema judiciário com níveis
altíssimos de execuções e prisões arbitrárias, estão na base de sua
administração.
- Com a morte de Mao Tsé Tung (1976) e em meio a falência, o país
passou por grandes transformações. É instalado então, sob a
liderança de Deng Xiaoping (membro do PCC, porém, contra a
Revolução Cultural de Mao), a transformação econômica do país
com:
> Adoção de um socialismo de mercado - “Um só país e dois
sistemas” - política permanece autoritária e fechada sob a liderança
do parlamento e dos membros do PCC, porém a economia se volta
parcialmente para o mercado com a abertura ao capitalismo.
>Restabelecimento a produção familiar no campo, praticando a
agricultura de jardinagem (baixíssima mecanização). Além de
investimento na produção industrial e no uso da mão de obra
abundante e extremamente barata, que passa a realizar uma
produção voltada para a exportação.
>Criação das ZEEs - Zonas Econômicas Especiais – áreas de
implantação de transnacionais interessadas em explorar a mão de
obra muito barata, mas que geram divisas para o país a partir do
pagamento de impostos, garantindo assim a manutenção do
socialismo com investimentos para o desenvolvimento da educação
e da tecnologia, nos moldes do desenvolvimentismo japonês
durante a Guerra Fria.
>Política do filho único – instalada oficialmente em 1979, a política
demográfica antinatalista tinha como objetivo conter o crescimento
vegetativo em meio aos investimentos do Estado no
desenvolvimento da economia. Política foi desfeita em 2015.
- Essas mudanças levaram o país a um contínuo desenvolvimento
econômico que o transformou no país de 2º maior PIB mundial,
membro da OMC e país permanente do conselho de segurança da
ONU, o que vem mantendo sua ascensão apesar da recente crise
econômica mundial.
2
ATUALIDADES:
Apesar da crise econômica deflagrada de 2008, o país foi um dos
primeiros a registrar taxas de crescimento em meio a recuperação do
mercado, o que o garante como país emergente (de atração de capital
internacional) e principal comprador dos títulos da dívida do governo
norte-americano.
É na atualidade o maior comprador de produtos brasileiros e o nosso
principal parceiro comercial.
O país é acusado internacionalmente de manter artificialmente a
moeda e o custo de vida muito baixo, criando o que se chamou de
dumping social e criando uma condição de concorrência desleal com
os mercados e com o custo de produção internacional. O objetivo
principal é garantir a atração de capital produtivo internacional para o
território chinês, a fim de garantir emprego e arrecadação de
impostos.
Tendo o maior parque industrial instalado no mundo, a China se torna
bastante dependente das relações econômicas internacionais, tanto
por conta da entrada de empresas transnacionais, quanto por conta
do mercado externo. Da crise econômica do neoliberalismo
deflagrada em 2008 até esse momento atual em meio a pandemia do
Covid-19, o país tem promovido articulações econômicas e políticas
para garantir o seu crescimento e sua participação na economia
global.
Conflitos:
- A região de Sikiang, província de Xinjiang, possui menos de 1,5%
da população do país. De maioria étnica Uigur, origem turca,
reivindica o separatismo e a independência em relação a China, o
que resultou em muitos ataques por parte das forças armadas e de
outros grupos étnicos (principalmente os Hans).
- Taiwan se manteve sob governo de Chiang Kai-shek de 1949
até1975, estabelecendo no país um modelo capitalista com alianças
entre o governo local, os EUA e a ONU. Taiwan tem governo
próprio, eleito democraticamente, instituições independentes,
moeda nacional, forças armadas, participa ativamente do comércio
internacional e é membro da APEC (Cooperação Econômica Ásia-
Pacífico). Para efeitos práticos, é um Estado soberano, mas apesar
disso, hoje não é mais reconhecido pela ONU e pelas principais
organizações internacionais. A China considera Taiwan uma
província rebelde, se empenhado ostensivamente no projeto de
reunificação, para assim como em Hong Kong garantir um modelo
que permite a instalação de “um país e dois sistemas”.
- O Tibete foi anexado a China em 1950, garantindo assim o controle
político-nacionalista do governo socialista sobre a nação tibetana,
como também o controle sob as nascentes dos grandes rios que
abastecem o país. O Tibete defendia política-internacional mente,
até 2017 o seu direito de independência em relação a China, hoje a
reinvindicação é pela autonomia da província.
- Hong Kong ficou sob controle da Inglaterra da Guerra do Ópio até
1997, quando o controle foi efetivamente retomado pela China. Hoje
além de Zona Econômica Exclusiva, a ilha, que é cidade estado
chinesa, também deveria ter alto grau de autonomia, uma vez que
essa foi condição estabelecida pela Inglaterra para promover a
devolução do território (“um país e dois sistemas”). O governo
chinês vem adotando ações políticas e legislativas de
recrudescimento no território, como a nova Lei de Segurança
Nacional estabelecida em 2020, o que demonstra que uma
condição autoritária e restritiva deve ser o novo modelo de
governança de Pequim em Hong Kong. (leia o texto)
Um País, Dois Sistemas?
A Nova Lei de Segurança Nacional da China e o Futuro de Hong Kong
HENOCH GABRIEL MANDELBAUM & GIOVANNA BERTOLACCINI
31 DE JULHO DE 2020
A Aprovação da Nova Lei de Segurança Nacional da China
Aproximadamente duas décadas e meia após o retorno de Hong Kong à
soberania chinesa, a questão das liberdades dos honcongueses se tornou
fundamental com a aprovação da nova Lei de Segurança Nacional (LSN) pelo
Comitê Central do Congresso Nacional do Povo (CCCNP), em Pequim. A
LSN entrou em vigor em 30 de junho de 2020, possui 66 artigos e
cobre quatro formas de atividades criminosas: secessão, subversão,
terrorismo e colusão com forças externas. Aqueles condenados por esses
crimes podem receber a pena máxima de prisão perpétua. A LSN confere ao
governo chinês o poder de estabelecer uma agência de segurança
nacional em Hong Kong, que não estará sob a jurisdição do governo local e
que terá poder para enviar alguns casos para serem julgados em Pequim.
Somado a isso, o chefe do Executivo de Hong Kong (que é formalmente
indicado pelo governo chinês) poderá nomear juízes para julgar casos que
envolvem a segurança nacional. Qualquer um que for condenado sob a
alegação de violação da LSN não poderá concorrer a eleições em Hong
Kong e, no caso de empresas, estas poderão ser multadas. A LSN também
possui caráter extraterritorial e recai sobre pessoas de fora de Hong Kong que
não são residentes permanentes da cidade. Desse modo, qualquer um que
defenda a democratização de Hong Kong ou critique os governos de Pequim
ou de Hong Kong, mesmo estando fora da jurisdição chinesa, pode sofrer as
consequências assim que chegar à cidade.
O ponto central da nova Lei é o fato de que Pequim tem poder sobre como
ela deve ser interpretada, e não algum órgão judicial ou político de Hong
Kong. Se a Lei entrar em conflito com qualquer lei de Hong Kong, a Lei de
Pequim terá primazia sobre ela. Desse modo, a LSN tem sido objeto de
polêmica, pois ela vai contra o arranjo constitucional de “Um País, Dois
Sistemas”, acordado entre a China e a Grã-Bretanha, na ocasião da
Declaração Conjunta Sino-Britânica, de 1985. O arranjo previa que após a
devolução de Hong Kong à China em 1997, Pequim conferiria autonomia
política à cidade (transformando-a em uma Região Administrativa Especial –
RAE) e resguardaria os direitos fundamentais dos cidadãos de Hong Kong,
como as liberdade de expressão, direito à livre reunião e liberdade de
imprensa, a partir de uma mini-constituição chamada de Lei Básica, em vigor
desde 1 de julho de 1997. A Lei Básica expressa que o arranjo de “Um País,
Dois Sistemas”, no qual, o sistema capitalista e o modo de vida de Hong Kong
que existiam sob o domínio britânico serão preservados durante 50 anos (até
2047). Outro aspecto fundamental é o fato de que a Lei Básica proíbe que o
governo chinês e o governo local interfiram nos assuntos da RAE de Hong
Kong.
As razões da Lei de Segurança Nacional chinesa
A China possui uma série de motivações em implementar a LSN.
Pequim defende que a nova Lei levará à estabilização de Hong Kong e à
retomada do ambiente de negócios da cidade; Desde junho de 2019, a cidade
tem sido palco de protestos, vários deles violentos, em resposta a um projeto
de lei que o governo chinês tentou aprovar, cujas implicações permitiam a
extradição de cidadãos de Hong Kong para serem julgados em tribunais do
sistema de justiça chinês comunista . Muitos honcongueses criticaram o
projeto de lei, pois ela exporia os cidadãos da RAE a tratamentos
violentos por parte das autoridades comunistas e à possibilidade de
julgamentos injustos, já que 99,9% dos julgamentos realizados em tribunais
chineses terminam em condenação. Centenas de milhares de pessoas
tomaram as ruas durante vários meses, até que o projeto de lei foi retirado em
setembro do ano passado. Mesmo assim, os protestos continuaram, pois os
manifestantes ainda possuem quatro demandas: 1) que os protestos não
sejam caracterizados como “tumultos”; 2) anistia para os manifestantes
presos; 3) um inquérito independente em relação à violência policial; e 4) a
implementação do sufrágio universal pleno. Essas demandas podem ser
entendidas como respostas ao texto da LSN, que considera o vandalismo de
certos meios de transporte como “terrorismo”, e seus autores estão sujeitos
a serem julgados na China Continental.
Com efeito, o principal fator neste cenário, no entanto, é que a China não
precisa tanto de Hong Kong quanto precisou no passado. Nos anos 1990,
Hong Kong chegou a representar 27% da economia chinesa. Em 2020, a
cidade representa menos de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Isso
ocorreu muito em razão do grande desempenho econômico da China nos
últimos 20 anos e com o crescimento de megacidades, como Shenzhen,
3
Xangai, Chongqing, Guangzhou e Pequim. Em vez de ter apenas uma cidade
para a atração de trabalhadores e investimento estrangeiro, a China agora
possui várias, que muito diferem da burocracia existente na RAE de Hong
Kong. Nesse sentido, pode-se argumentar que o governo chinês possui cada
vez menos incentivos para manter a autonomia da ex-colônia britânica e
agradar à população local.
As consequências da LSN
Em 1º de julho de 2020, primeiro dia de vigência da LSN, a polícia de Hong
Kong divulgou a informação sobre a detenção de 370 manifestantes sob
diversas acusações, dentre as quais, a violação da LSN. Nesta definição
foram inseridos manifestantes cujos crimes abrangiam, por exemplo, portar
bandeiras ou “itens que defendiam a independência”, incluindo uma menina
de 15 anos que portava uma bandeira pedindo a independência da RAE. A
polícia alertava as ações que agora eram tipificadas como crime, exibindo
faixas que indicavam a proibição de “exibir bandeiras ou estandartes, cantar
slogans, ou se comportar com intenções como secessão ou subversão, que
podem constituir ofensas”.
Um dos mais proeminentes partidos pró-democracia da cidade, o Demosisto,
encabeçado pelo jovem ativista Joshua Wong, anunciou a sua dissolução.
Enquanto isso, dois grupos pró-independência, a Frente Nacional de Hong
Kong (FNHK) e o Studentlocalism, fizeram o mesmo anúncio. O Instituto de
Pesquisa de Opinião Pública (IPOP), um grupo pró-democracia envolvido na
seleção de candidatos para as eleições locais, teve seus escritórios invadidos
pela polícia após publicar uma pesquisa que mostrava que mais de 61% dos
cidadãos não acreditam que Hong Kong ainda seja uma cidade livre.
Ninguém foi preso, mas o IPOP foi acusado de ter cometido “uso desonesto
de computador”, enquadrado em uma lei originalmente criada para combater
fraudes pela Internet.
A mudança repentina entre a liberdade de discurso e a repressão provocou
uma corrida para apagar dados das mídias sociais que pudessem ser
enquadrados na nova LSN, uma vez que o poder de polícia da lei alcança
também os ambientes virtuais. Os usuários deletaram postagens, excluíram
contas e derrubaram vídeos pelo receio da nova patrulha virtual. As
plataformas digitais que ora eram utilizadas para organizar os protestos a
favor da liberdade de Hong Kong, agora são instrumentos de vigilância por
parte do governo continental. Dessa forma, pode-se dizer que a lei ganhou
tração em sua eficácia, sobretudo a partir do pressuposto de que, além de
punir as contravenções, o dispositivo legal inibe e dissolve a própria
organização das manifestações, protestos e lideranças honconguesas pró-
ocidentais. A RAE, que sempre teve acesso ilimitado à internet, agora convive
com os receios de possuir um ambiente virtual passível de censura e
repressão a quem utiliza a web para se opor ou questionar o governo.
Com o alcance da LSN até o ciberespaço, a preocupação que paira sobre o
ideário de Hong Kong e do mundo ocidental é a de que o governo continental
está estendendo a Firewall (que regula a internet e bloqueia sites
estrangeiros) para a RAE, como disse Charles Mok, legislador de Hong Kong
ligado à tecnologia da informação, em uma postagem no seu twitter: “Nós já
estamos atrás do Firewall”. Esta perspectiva de controle, restrição,
monitoramento e punição que está sendo “exportada” para Hong Kong a partir
da nova lei, se expande para as empresas de tecnologia e comunicação que,
sendo bloqueadas na China Continental, possuem sedes na RAE e agora
estão sob jurisdição da nova lei e podem ser diretamente afetadas pela
disputa acerca da liberdade na Internet.
Com o governo de Hong Kong desenvolvendo meios para limitar a liberdade
na internet, empresas ocidentais como Twitter, Google, Zoom e Facebook,
que não operam na China Continental, ficam no meio de um embaraço entre
a liberdade dos usuários e a permanência na RAE. Como as plataformas
citadas anteriormente são espaços propícios para debates políticos, que
agora são contra a lei, as mesmas são obrigadas a liberar os dados dos
usuários ao governo honconguês quando solicitados. O descumprimento da
solicitação pode acarretar num boicote à estas empresas de modo que sejam
proibidas de funcionar em Hong Kong ou até mesmo prisão de seus
funcionários.
Este impasse sobre a liberdade no ambiente virtual recai sob as já
conturbadas e tensas relações entre EUA e China. As restrições de empresas
de tecnologia americanas fazem com que os EUA considere o bloqueio de
alguns aplicativos chineses. Os posicionamentos da comunidade
internacional contrários à LSN não param por aí. Se pronunciaram contra a
censura da nova lei: a União Europeia, OTAN, Canadá, Taiwan e Grã-
Bretanha, o outro lado do acordo e de quem a região é ex-colônia.
Os EUA declararam que não consideram Hong Kong mais uma região
autônoma, retirando o “status especial” da RAE; outros vinte e sete
Estados no Conselho de Direitos Humanos da ONU disseram que a China
precisa reconsiderar a medida pois ela abala a liberdade de Hong Kong; ao
mesmo tempo a OTAN critica a posição da China dizendo que o país não
compartilha dos mesmos valores de seus membros. A União Europeia e o
Japão, por sua vez, declararam lamentar a decisão e que a medida pode vir
a minar a autonomia do território. Já a Grã Bretanha estendeu os direitos de
residência de cidadãos britânicos em Hong Kong e reiterou que a China
não “cumpriu com sua palavra em manter promessas”; a organização Anistia
Internacional também se somou aos críticos da nova lei publicando um
documento esclarecendo 10 pontos controversos da LSN.
Em Pequim, as autoridades alegam que a legislação não afetará a liberdade
e os direitos dos cidadãos. Quanto às críticas proferidas pelos outros países
e organizações, a China diz ser falsa a afirmação de que a RAE está
perdendo a sua autonomia, e que a segurança nacional é de competência do
governo central não cabendo, portanto, interferência da comunidade
internacional. Nas entrevistas regulares do Ministro das Relações Exteriores
chinês, Zhao Lijian, já nos dias 1,2 e 3 de Junho, a partir da promulgação da
nova lei, ao ser perguntado sobre o posicionamento da China em relação às
críticas reiterou que os “assuntos relacionados à Hong Kong são puramente
relações internas chinesas” reforçando que o tema está sendo tratado como
uma questão de soberania.
Embora a lei não tenha caráter retroativo, ela prevê punições austeras para
ações/crimes que não são claramente definidos e propositalmente vagos,
constrangendo e limitando a liberdade dos cidadãos da RAE, veículos de
comunicação e empresas. Pensada para conter os protestos da oposição e
silenciar as críticas, na prática, a medida extingue a já restrita liberdade de
Hong Kong e aproxima a então Região Autônoma do modus operandi da
China Continental. A lei que paira sobre a RAE, outorgada e controversa,
questiona a vigência da máxima onde “Um País” não parece ter mais “Dois
Sistemas”.

https://neai-unesp.org/um-pais-dois-sistemas-a-nova-lei-de-seguranca-
nacional-da-china-e-o-futuro-de-hong-kong/

Guia de estudo:
- Exercícios de sala :
Aulas 45 e 46 – apostila 3
- Ler da página 122 a 127
- Revisando: 9 e 10
- Exercício propostos: 39, 41, 42, 44, 47 e 48.
- Exercícios complementares: 41, 45, 46, 47, 48 e 49.