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A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1935 –1936)

Contexto histórico geral

Há 2 versões do texto e uma delas foi descoberta a pouco tempo. Benjamin morre em
1940, foi associado a escola de teoria crítica, mas nunca foi do núcleo duro da escola de
Frankfurt. Fi exilado da Alemanha (pois era um filósofo e escritor judeu) e foi para a França.
No final dos anos XX Benjamin começa a ler Marx e esse é o primeiro elemento de sua virada
materialista. O texto de Benjamin adota uma linguagem marxista, pois usa categorias
marxistas. Essa mudança no vocabulário não afastou Benjamin das questões que já se ocupava
anteriormente. O texto também é ligado a certas literaturas e ao algum tipo de esoterismo.
“Origem do Drama Barroco Alemão” é um trabalho de crítica da arte onde Benjamin traz vários
conceitos da estética para relacionar o barroco com a arte moderna. O principal conceito
trabalhado nesse período é o de “alegoria”. Apesar de estar escrevendo sobre o barroco alemão,
Benjamin já pretendia partir os estudo sobre a arte moderna. Benjamin lança seu olhar para o
“não acabamento” das obras barrocas, relacionando com violência política e violência de
estado. Poucos compreenderam o que Benjamin quis dizer, assim foi barrado na universidade
alemã. Por conseguinte, desiste da carreira acadêmica e busca ser um intelectual público (que
não está inserido no meio acadêmico). A partir disso seus objetos de estudos mudam e passa
se ocupar com artistas e obras contemporâneas de seu tempo, por exemplo Brecht, que foi
importante nessa virada de Benjamin.

Benjamin começa a escrever textos sobre o que está acontecendo com a arte em seu tempo.
Quais as condições em que a arte se encontrava? Depois do fracasso na carreira acadêmica
internacional ele se volta às manifestações artísticas de sua época. Daí em diante se dedicou a
entender o sentido/conceito de “modernidade”, enquanto realizava um projeto como bolsista.
Apesar disso, sua vida é um fracasso exemplar, pois passou a trabalhar em “Obra das
Passagens”, em que mostra o marco arquitetônico que exemplificava a noção de cidade
moderna. Benjamin faz isso usando a imagem de Paris para compreender o que é a
modernidade. Benjamin é considerado um autor antissistema, pois sua maneira de fazer
filosofia era constelacional (se dá pela junção de diversos elementos fragmentados numa única
forma). Perde a noção de totalidade e a vida se torna fragmentada. Este é um posicionamento
filosófico em relação à história da filosofia.

O marxismo de Benjamin é heterodoxo, pois na obra das passagens (onde já há uma


aproximação com o marxismo), pega as figuras e conceitos importantes de Marx para estudar
a modernidade. As Passagens são arquivos/cadernos com títulos: a) “Marx”, b) “Teoria do
Conhecimento para a Modernidade”, c) “Prostitutas” e d) “A Fotografia”. Essas figuras são
usadas por Benjamin para pensar e ter uma visão monodológica do que seria a
contemporaneidade. O centro de tudo isso foi a poesia de Bourdelle. Benjamin não encerra a
obra das Passagens, ficando apenas com uma coleção de pensamentos nesses cadernos. A partir
disso, Benjamin vai escrevendo diversos ensaios mais curtos e textos sobre Bourdelle, textos
que foram publicados e se relacionam com as passagens.

Benjamin passava o dia na Biblioteca Nacional de Paris (onde extrai todo seu acervo de
conhecimento). Demorou para ir embora de Paris, pois todos os livros que lia estava nessa
biblioteca. Trabalhou nas passagens até o fim da vida. Deixou a Alemanha em 1923, quando
já era um grande escritor, e na França perde esse espaço e passa a ser um mero imigrante,
perdendo sua nacionalidade pela tomada dos nazistas. Mesmo sobrevivendo de bolsa, escrevia
de maneira autônoma e sem medo das consequências textos que objetivavam expor e mudar
politicamente o mundo, pois sabia francês (a língua culta da época) e escrevia em alemão.

Sobre o texto em geral

O texto “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica” é escrito em Paris. É um


texto marcado pelas experiências estéticas de vanguarda: cinema e fotografia. Foi o primeiro a
escrever sobre fotografia. Benjamin vai fazer uma ruptura com aquilo que era entendido como
obra de arte por causa do advento da fotografia. Nesse caminho ele visita artistas como Brecht.
Benjamin foi um dos primeiros a pensar nas mudanças que a concepção de arte sofreu por
causa dos avanços técnicos do século XIX. O seu foco será então entender o que é a
modernidade. Em Passagens, encontramos uma ideia de linearidade da história, Benjamin vê
no século XIX uma nova sociedade que está se apresentando, mas uma modernidade onde não
havia apenas progresso, mas também carregado de ambiguidades, elementos positivos e
negativos. O século XIX torna-se um laboratório para Benjamin que dirá: a origem da
modernidade não apresenta apenas o progresso, mas junto disso há também barbárie
(destruição, ruínas), ou seja, pensa a modernidade de modo dialético.

Contexto de guerra, técnica e polarizações

A experiência da 1ª guerra mundial vai mudar tudo. Foi um choque grande para essa geração
de intelectuais burgueses (civilizados) que nasceram no final do XIX e em famílias ricas
(bairros nobres de Berlim). Em poucos anos a realidade mudou completamente. A modernidade
já estava em germe no XIX. OAERT foi escrito em Paris e contém certo otimismo sobre o
conceito de técnica a partir do cinema. Guarda um formato de manifesto de vanguarda e não
tanto filosófico, com a intenção de ocupar o debate público. Nesse ponto de vista histórico há
a interpretação de uma discussão política no texto. Não é o caso dizer que todo cinema seja
progressista, mas que determinadas formas de fazer cinema (p.e., o cinema experimental)
propõem que as pessoas possam estabelecer uma nova relação com a técnica. Portanto, temos
de pensar nas novas relações entre homem, técnica e natureza, assim como na relação entre
técnica e progresso, visto que técnica diz respeito à relação entre homem e natureza. Uma das
polaridades do texto é: com a polarização da política surge também a proposta de polarização
da arte. Na visão de Benjamin, o fascismo vai estetizar a política (estetizar, pois Hitler usava
categorias estéticas em defesa de seu propósito político), pois Hitler tinha um projeto político-
estético, isto é, havia uma direção para a arte em seu projeto. Hitler começa uma campanha
contra a arte moderna (de vanguarda) que será banida na Alemanha (perseguição dos artistas
modernos) e confiscadas de judeus. A maior parte das coleções de arte moderna eram dos
judeus; obras caras que eram vendidas para financiar a guerra. O comissário/marketeiro de
Hitler organizou um evento no qual pegaram todas essas obras e fizeram uma exposição para
difamar a arte moderna (inclusive como uma espécie de doença mental de quem as produzia).
Após a difamação, ocorria a exposição dos artistas alemães. Isso tudo, pois Hitler sabia que a
arte poderia ser utilizada para passar valores adiante. Esse é contexto de escrita de OAERT. A
arte moderna já era perseguida na Alemanha e União Soviética (artistas morreram ou tiveram
de fugir). A Rússia, antes da revolução, foi uma incubadora de arte. Assim, o contexto que
marca o texto de Benjamin é 1) a perseguição da arte de vanguarda na Alemanha e 2) o
banimento da arte de vanguarda na União Soviética.

Benjamin quer salvar uma forma de fazer arte que já estava sendo banida, ou seja, uma forma
de fazer cinema ligada aos anos 1920 que já não estava mais acontecendo (devido a segunda
guerra). O cineasta preferido de Benjamin era o Chaplin, por isso é algo mais distante do
cinema norte americano. Benjamin está mais perto do cinema mudo ligado a questão da
imagem (cinema como montagem, uma colagem de imagens em sequência) e não algo
literário. Benjamin acredita que a potencialidade do cinema está ligada à imagem e à
montagem. O texto parece ser um último manifesto em defesa da arte de vanguarda. Para
Benjamin, o racismo e o antissemitismo não surgem espontaneamente na Alemanha, mas está
ligado à noção de reprodutibilidade técnica. O autor desconfia dos acontecimentos relacionados
à guerra, tais como os assassinatos em massa por meio da técnica (tal como as câmaras de gás).

Tradução do texto e recepção


No campo da estética, há uma 1ª versão escrita em alemão que depois foi traduzida para
o francês, sofrendo modificações e tornando-se uma versão diferente. Somente esta segunda
foi publicada, alguns autores leram e criticaram (p.e., Adorno), mas não teve a menor influência
na época (uma recepção pífia), apenas alguns amigos foram bem receptivos. Não foi lido por
nenhum grande filósofo da época, tal como Heidegger. O texto só começou a ter certa
influência após 1950.

Arte e reprodutibilidade técnica

O que acontece com a arte quando ocorre uma mudança técnica? O público do cinema
(massas populares) não era o mesmo público de arte (da arte como era considerada até então).
O público da arte muda, pois, por meio das novas técnicas como a fotografia e o cinema, as
massas adquiriam acesso a elas. Para Adorno isso era uma regressão. A interpretação de
Benjamin era influenciada pelo apreço por Brecht. Na versão francesa as palavras “fascismo”
e “comunismo” sumiram, indicando censura. Benjamin quer propor uma politização da arte
tendo o cinema como pano de fundo. Nessa defesa faz uma construção teórica para destrinchar
a relação entre arte e política (ponto de debate do marxismo). Qual era a relação entre arte e
política? O que é a função política da arte? Por exemplo: arte de esquerda relacionada ao
comunismo/socialismo. Para Benjamin, o efeito político da arte não está relacionado ao
tema da arte, mas sim ao modo de produção, desconsiderando o conteúdo artístico, ou
seja, está ligado a forma da arte (e esta tem de ser revolucionária). Isso significa que
Benjamin está mais preocupado com a forma experimental da obra de arte e não na arte como
propagando (tal como fizeram os nazistas). Benjamin, que não aderiu a nenhum partido
político, defende outra relação entre arte e política, assim, a relação pensada por Benjamin não
foi determinada pela ideologia de um partido específico, apesar de seu irmão mais velho ser
comunista e ter morrido no campo de concentração. Atualmente basta uma obra de arte
defender uma causa justa para que ela seja vista como contendo um efeito político.

Artes de vanguarda e necessidade de mudança na concepção de sujeito

Podemos dividir a arte de vanguarda em 4 tipos: a) expressionismo (França), b)


construtivismo (Rússia), c) cubismo e dadaísmo (vanguarda niilista) e d) surrealismo.
Benjamin se identificava mais com o surrealismo. O surrealismo colocou a relação entre arte e
política em outro patamar. A questão da consciência aproxima a psicanálise do marxismo. Os
surrealistas acreditavam que tal mudança política exigiria uma mudança do sujeito. Como
ocorre essa mudança? Ela não pode ser dada, exclusivamente, do ponto de vista da luta de
classes. Podemos interpretar isso como uma crítica ao sujeito moderno ocidental cartesiano que
glorifica a razão como a única forma de conhecimento. Temos de considerar que o homem não
é apenas racional, mas também sensível e, por vezes, inconsciente. Nessa relação entre arte
e política, a revolução viria primeiramente na arte e depois no campo da crítica social. Não
adianta apenas uma troca de sistema político, mas também no conhecimento do sujeito. Pensar
a relação entre arte e política, por essa perspectiva, exige uma reconfiguração da noção de
sujeito. Nesse sentido, não haveria uma verdadeira mudança política caso não houvesse
mudança na concepção de sujeito; uma crítica ao sujeito cartesiano e uma tentativa de
ampliação da percepção. Para Benjamin, o surrealismo é um movimento intelectual e político,
não meramente artístico.

Mudança na produção de arte e seus efeitos e novo sentido de arte

Como as mudanças na produção da arte influenciaram a sociedade (cultura)?


Benjamin vai pensar os modos de produção da arte atingem a cultura, daí a sua influência
materialista. De acordo com o autor, só percebemos os efeitos desses modos de produção 100
anos depois de seu advento (p.e.: Marx não viu o cinema). O cinema muda o modo de produção
da obra de arte. Essa ruptura está atrelada à questão do desenvolvimento da técnica, em especial
do cinema e da fotografia. Isso não estava no horizonte de Hegel, pois a reprodução técnica
da arte não existia em sua época (Hegel nem imaginava a fotografia). Para Benjamin, por causa
da relação entre arte e produção industrial, a concepção de arte mudou completamente e não
poderíamos mais usar as categorias estéticas da arte tradicional para definir a obra de arte.

A concepção de arte mudou, as categorias da estética tradicional (belo, gênio) não


devem mais serem usadas para analisar as novas formas de arte: fotografia e cinema.
Benjamin parte da ideia de técnica (modos de produção da arte) e seus efeitos (políticos e
sociais). A fotografia e o cinema mudaram a forma de circulação da obra de arte, assim como
os modos de recepção da obra de arte. A teoria materialista da arte, a partir de Benjamin,
exige: 1) modo de produção da arte, 2) forma de circulação da arte e 3) modos de recepção
da arte (do qual discordava Adorno, que defendia a autonomia da obra de arte, o que poderia
salvar a arte da indústria cultural; uma espécie de retorno a estética tradicional). Para Benjamin,
a autonomia não deveria ser considerado um atributo essencial da arte. O autor usa o conceito
de aura para se referir àquilo que desaparece da arte (como vinha sendo tradicionalmente
considerada) na época de sua reprodutibilidade técnica, isto é, elementos estéticos como o
gênio, a originalidade, a contemplação. Pois este tipo de arte, para Benjamin, estava em
decadência. Em Benjamin, a arte ganha um novo sentido, a partir de uma mudança conceitual
(a perca da aura).

Decadência da aura

Aura está ligado com o diagnóstico de Hegel, que dizia que os sujeitos não mais se
prostram diante das obras de arte como na antiguidade, tornando-se matéria de ciência e
reflexão. Hegel percebeu que a arte era uma manifestação do espírito e que este era um
momento de crise para a arte. Uma espécie de decadência ou desencantamento da arte. Para
Benjamin, a função ritualística, mágica e de revelação mesmo na época da estética
moderna ainda possuía resquícios de elementos religiosos e místicos. Uma marca da
relação entre homem e arte na antiguidade. Com a reprodução técnica, a arte como
mágica chega ao fim. Para Benjamin, tratar a arte como um culto ao belo seria um retrocesso
(considerando que os nazistas se apropriaram de tais termos, como originalidade, gênio entre
outros). Foi preciso se livrar do vocabulário tradicional e criar outro vocabulário para discorrer
sobre arte. Tudo isso se encaixa na decadência da aura. A reprodução técnica contribui (tem
efeito) para essa decadência da aura. Por exemplo, numa fotografia, além de exigir um
procedimento mais rápido do que a pintura de um quadro, há também menor interferência
humana (deixando algumas categorias estéticas de lado, tal como a questão do gênio). A
fotografia muda a relação com a arte do passado, enfraquecendo o sentido de originalidade e
cópia, além de possibilitar um amplo acesso por ser facilmente reprodutível. A reprodução da
fotografia substitui a originalidade da obra de arte, pela reprodução em massa. A partir dessa
nova concepção, as classes sociais específicas, que antes tinham acesso privilegiado à
contemplação de determinadas artes tradicionais, deixam de ser a única parcela da sociedade a
consumir arte, que passa a ser acessível também para as massas por meio da fotografia e do
cinema. A obra de arte original agora tem menos importância. Em resumo, a
reprodutibilidade técnica cria uma nova concepção para a arte, rompendo com as
categorias estéticas tradicionais.

Quais os conceitos necessários para falar sobre essas novas formas de arte, a fotografia
e o cinema? Podemos pensar que no sistema capitalista, ainda há o fetichismo em relação a
obra original, mas a distinção entre originalidade e cópia deixa de fazer sentido.

1) A reprodutibilidade técnica permite que a obra de arte do passado circule entre as


massas, proporcionando uma democratização ao acesso.

2) A reprodutibilidade técnica cria uma nova forma de arte com papel emancipatório.
Valor de culto x valor de exposição

A partir desse momento, o mais importante se torna a disponibilização da obra de arte.


Por exemplo, um quadro circula menos que um filme, assim o quadro da Monalisa tem valor
de exposição menor do que um filme qualquer (que é visto pelas massas). Se por um lado há
a unicidade da obra, tais como as esculturas gregas que se mantinham em apenas um local
onde pudessem ser contempladas (um aqui e agora, como único modo da realização de uma
fruição perfeita), por outro, há ampliação dessa exposição da obra de arte na época da
reprodutibilidade técnica para muitos lugares, visto que filmes e fotografias teriam maior
facilidade de circulação. Daí que há uma perca do valor de culto perante as novas formas de
arte, que ganham agora valor de exposição.

Benjamin percebeu a manifestação dessa nova tendência da arte. Diferentemente, Marx


teorizou sobre, mas não percebeu a manifestação dela. Diante disso, Benjamin quer propor uma
possível política da arte.

Em relação aos modos de reprodução da arte, a técnica se manifesta também no


âmbito da cultura. A cultura do homem é enfraquecida com as novas formas de reprodução.
Para Benjamin isso abre margem para uma nova relação com o real, isto é, devido as
consequências geradas pela produção e reprodução de sons e imagens. Antigamente a
fotografia era um item de luxo (um retrato era um objeto mais único guardado por toda vida).
No final do século XIX começa a se massificar e as fotografias passaram a estar nas mãos das
massas populares. A centralidade da imagem na vida das pessoas mudou a própria
concepção do mundo, pois antes o mundo não era reprodutivo e agora não pode mais ser
pensado sem essa noção. A imagem vai se tornar uma estrutura da própria sociedade, nossa
experiência cotidiana passa a ser pensada por imagens. Hegel não previu isso, mas percebeu
que a técnica permitia uma nova forma de interação entre homem e mundo. Bourdelle, atrelado
ao romantismo, odiava fotografia. Para ele, a fotografia era a resposta de um deus vingador que
deu a possibilidade de copiar a natureza como ela realmente é (a tecnologia da fotografia e
cinema eram tão inovadoras que poucas pessoas sabiam sobre o seu funcionamento; criava-se
boatos de que a fotografia desgastava a pele). A relação normalizada com a imagem hoje em
dia é bastante distinta do momento de sua invenção, por exemplo, muitos confundiam as telas
de cinema com o próprio real.

Avanço técnico e ampliação do real


Os enquadramentos de imagens propiciaram a evidência de detalhes da realidade que
passavam desapercebidos a olho nu (tal como hoje em dia, as fotos aéreas nos dão um novo
ângulo de perspectiva da realidade, que não teríamos sem essas imagens). Para Benjamin, as
pessoas tornavam-se conscientes de uma percepção que, até então, não era possível pelos
olhos humanos. Não só a fotografia, mas também o cinema também potencializa isso, pois é
uma montagem a partir de fragmentos da realidade contidos em imagens. Nesse sentido, para
Benjamin, a reprodutibilidade técnica seria positiva, pois ela possibilitava uma ampliação de
percepção do real. Por isso que há um rompimento com os elementos da obra de arte
tradicional, o “aqui e agora” da obra de arte desvanecia. O fato de ir até um local para ter uma
experiência única com uma obra de arte única (unicidade) e autêntica (autenticidade), era
substituído pela reprodução e circulação em massa. A circulação e o fácil acesso
possibilitaram a reinterpretação de toda história da arte, pois havia a possibilidade de “revisitar”
obras passadas (ubiquidade) e reinterpretá-las sem precisar encontrá-las em sua produção
original e em seu local. Ou seja, segundo Benjamin, era um processo de multiplicação do que
é único e uma atualização do passado sendo reproduzido. Apesar da “destruição” da antiga
concepção de arte moderna há também algo de catártico nesse processo. Essa destruição
da tradição é justamente explicada pelo conceito de aura.

Decadência da aura

No âmbito da técnica, a reprodução vai acabar com a originalidade como uma


característica essencial para a obra de arte. No âmbito social, a circulação vai romper com o
valor de culto (o lugar único), o aqui e agora da arte moderna. No campo antropológico, há
uma mudança de percepção, no que diz respeito a contemplação da obra de arte, mudando a
relação entre homem e arte. Podemos contrapor a arte tradicional moderna com a arte
reproduzida tecnicamente nos seguintes pontos. Enquanto a primeira é distante, a segunda é
próxima; enquanto a primeira é duradoura, a segunda apresenta um elemento de fugacidade;
enquanto a primeira é unitária, a segunda é repetível; e enquanto a primeira mantém uma
originalidade, a segunda traz um aspecto de padronização.

Nova recepção da arte - circulação em massa

O principal receptor para a nova obra de arte eram as massas que se aproximava da
fotografia e do cinema, ao passo que a individualidade da arte moderna era perdida. Para
Benjamin a revolução não surge das massas, mas da ideia de coletivo. A revolução é
massificada, mas só ocorre quando essa massa se torna coletiva, isto é, quando a massa se
reconhece como sujeito de ação. Benjamin via o cinema como uma continuidade das fábricas.
A fábrica domina e explora, ao passo que o cinema seria uma forma de revanche para os
trabalhadores (podemos ver isso nos filmes de Chaplin, onde o ator aparece sempre fora das
fábricas ou como um trabalhador que não se adapta às máquinas). O impulso para uma massa
se tornar coletivo se dá mediante a tomada de consciência de que são trabalhadores
explorados. Daí a importância do cinema como uma recepção coletiva.

A reprodutibilidade técnica da obra de arte emancipa, pela primeira vez na história, sua
velha existência parasitária, no que diz respeito ao valor de culto (ritualístico), e passa a ter
uma importância política.

1ª técnica: dominação da natureza.

2ª técnica: jogo conjunto entre natureza e humanidade (retoma o conceito de jogo).

Benjamin contrapõe a arte como bela aparência e retoma a arte como jogo. Assim, a
arte vem a ser mais um fazer experimental, tal como se desdobra a influência do cinema no
mundo. O cinema capta fragmentos do real e os remonta em nova totalidade livre das relações
sociais. Nesse sentido, o cinema é mais uma experimentação do real e menos um meio de fuga
da realidade. Esse jogo com o real é o que atribui esse caráter experimental na obra de arte,
sendo assim, perde-se o seu caráter de duradouro, pois o que passa a importar é o processo de
experimentação da obra de arte. Portanto, o cinema permite olhar para o real a partir de outros
pontos de vista e o fato de que o cinema seja essa experimentação (de um novo real construído
a partir de fragmentos do real) é que nos permite ver a realidade de novas maneiras. Para
Benjamin, a bela aparência é petrificada, uma obra acabada e imodificável (carrega a beleza
pela eternidade). Já o cinema, diferentemente, é inacabado, possui aberturas para a
modificação, o que não seria possível com a Monalisa, por exemplo. Olhando para um filme,
nota-se que poderia ser diferente (e uma nova produção pode acrescentar novos elementos ou
retirar elementos que já estavam presentes). Logo, se o cinema pode ser visto como uma
distração em relação aos ambientes fabris, ele também pode ser um lugar de reflexão sobre
real, por exemplo, as condições sociais e políticas do proletariado, um dos motivos de Benjamin
considerar essa inovação como uma obra de arte. Ou seja, a partir do momento que o cinema
provém um distanciamento do real e não apenas um espelhamento do real é que surge a
conscientização do próprio cinema como obra de arte.

[Fernanda]
Benjamin vai propor novas categorias estéticas para a arte que são diferentes da arte
moderna tradicional (tal como o belo e o gênio). Pois, as categorias da arte tradicional estavam
sendo utilizada pelos nazistas como legitimação artificial de um regime totalitário. Do ponto
de vista do materialismo vulgar, passamos a proliferar imagens por causa da invenção da
fotografia; em Benjamin não há essa relação causal. Benjamin, enxerga a situação da arte por
várias perspectivas, delineando uma mudança na percepção.

O conceito de aura não tem uma definição propriamente conceitual, pois é tratado em
termos de imagem do pensamento (e não de conceito). A reprodução da obra de arte, gerando
cópias, quebra com o aqui e agora da arte. Diferentemente de uma obra moderna tradicional,
que possui existência única e está em um lugar único. A fotografia é fugaz e não há nela um
processo histórico de criação (o que torna sua existência única). A reprodutibilidade técnica
rompe com a unicidade, a autenticidade e o aqui e agora da obra de arte moderna tradicional.
Uma pintura como a Mona Lisa mantém sua autenticidade independente das cópias que fazem
dela, o mesmo não ocorre com a fotografia. Mesmo assim, Benjamin vai valorizar a
fotografia como uma produção artística e não como um procedimento meramente
técnico-científico. Na fotografia é possível fazer coisas além da pintura, como ampliar a
imagem e ser editada. Uma fotografia da Mona Lisa não muda a constituição como obra de
arte, mas desvaloriza o seu aqui e agora, pois as pessoas poderiam ver a obra de arte sem
precisar ir até o local onde se encontra a obra original.

Benjamin não acredita em processo técnico ou político. Para o autor, o que confere
autoridade para algo é suas relações históricas e a reprodutibilidade técnica abala isso. Se algo
tem tradição, significa que foi transmitida histórica e culturalmente. A tese central de

Benjamin é que a aura da arte moderna tradicional desaparece com a


reprodutibilidade técnica, perdendo seu valor de unicidade e autoridade, pois deixa de
ser transmitida pela tradição. Nessa perspectiva, Benjamin enxerga um potencial
emancipatório no que vinha se tornando uma nova forma de obra de arte. Mesmo com a perca
da aura da arte tradicional a arte com a reprodutibilidade técnica ganha esse caráter
emancipatório. Para Benjamin, era reacionário manter uma tradição que não possui mais
lastro. O cinema, enquanto agente político, cultural e social trazia a oportunidade de inovação.
Para os pensadores de Viena, as obras de arte não são decadentes (a arte da antiguidade não
deixa de ser arte ou torna-se inferior a partir de uma nova maneira de produzi-la), é a percepção
acerca delas que mudaria historicamente, sendo essa percepção influenciada e determinada
pelo meio físico e cultural. Ao pensarmos numa obra de arte tradicional, podemos reconhecer
todo um lastro histórico atravessado pela obra e as marcas que ela adquiriu. A nova concepção
de arte também rompe com essa historicidade. Se antes a burguesia se contentava com um
único retrato, com o avanço da reprodutibilidade técnica, agora ocupam estúdios e possuem
muitas fotos e cópias de fotos, o que evidencia a necessidade de cada vez mais ter posse sobre
o objeto (noção de propriedade), desvinculando-se da ideia de autoridade de uma arte que
passou por processos históricos e sua unicidade (devido as cópias).

Para Benjamin não há uma dicotomia, mas uma polarização entre a obra de arte
tradicional e a reprodutibilidade técnica. Para o autor, existem proporções dadas pelas
condições de determinada época e cultura. A obra de arte perde o valor de culto (ritualístico)
e ganha valor de exposição (um valor popular), deixando de ter uma concepção aurática e
passando a ter uma concepção política. Conforme o valor ritualístico é perdido mais o valor de
exposição cresce. Para Benjamin, a função social da arte na época da reprodutibilidade técnica
é uma espécie de jogo conjunto entre homem e natureza (principalmente com o cinema), e essa
época seria o ápice dessa relação. Apesar de Benjamin ser contra a teoria do progresso, ele
está buscando um caminho para encontrar os potenciais construtivos a não apenas
destrutivos dessa nova maneira de produção da arte.

[Taisa - Cinema]

O espírito do texto é apontar as tendências que Benjamin encontra na sociedade


burguesa capitalista a partir do avanço técnico e das mudanças na concepção de arte. A questão
da “imagem” torna-se central nas relações, pois tudo precisa ser exibido (valor de exposição).

Relação entre arte e política - potencial emancipatório do cinema

O que seria a nova relação entre arte e política? Essa nova relação deve ser pensada
para lidar com as mudanças do período, tal como a emancipação da arte. As categorias
tradicionais na estética não são mais válidas. Para Benjamin, o cinema é um tipo de obra de
arte onde a mediação da técnica é fundamental (evidenciando a relação entre homem e técnica).
Se na fábrica os homens são alienados pela técnica (pelas máquinas), a noite os cinemas
(também produto da técnica), lhes proporciona uma espécie de revanche. Força de trabalho
alienada durante o dia e revanche (um momento de lazer, mas não apenas) a noite.

Para os citadinos, a questão da modernidade está atrelada a ideia de cidade moderna. A


ideia de catarse está relacionada ao efeito catártico da obra de arte, tal como a tragédia grega,
que tinha um efeito catártico para o seu povo, isto é, uma purificação das emoções (não tem a
ver com a noção de contemplação), por exemplo, na tragédia que gerava risos, choros, espantos
(efeitos físicos no corpo e não apenas moral). Era uma retomada para o corpo por meio da arte.
Diferentemente do livre jogo de Kant, que é destituído de qualquer sensação corporal. A ideia
de revanche (vingança) do cinema ocupa esse lado moral e a ideia do homem dominando a
máquina (o ator fazendo esse papel) ao invés de ser dominado, ocupa o lado catártico (2 efeitos
da reprodutibilidade técnica). Por isso (por causa dos efeitos físicos), para Benjamin a relação
entre homem e obra de arte não é algo mais meramente mental (contemplativo). O poder
do riso também está ligado a essa ideia de catarse. Assim, a ideia de catarse pode ser física,
moral ou até inconsciente.

O texto pode ser interpretado como uma espécie de análise coletiva (ideia de sujeito
coletivo). Benjamin acredita que a ideia de sujeito deve ser banida. O autor vai tentar pensar
sobre o inconsciente a partir de Jung. O cinema se relaciona com a política e reconfiguração
da própria percepção (das suas condições enquanto operário) por meio da máquina (não há
uma recusa da técnica).

Mimese, espaço de ação e tomada de consciência por meio da técnica

A decadência do conceito de bela aparência está relacionada com a ideia de mimese e


não de imitação. A origem de toda atividade artística estaria contida no conceito de mimese,
que contém tanto o conceito de ‘bela aparência’ como o de ‘jogo’. Com essa virada histórica o
que vai prevalecer é o conceito de jogo e não mais o de bela aparência. Benjamin quer repensar
o próprio sentido do que é a estética. O primeiro veículo de imitação do homem é o próprio
corpo (a imitação também é uma forma de comunicação pré-linguística). Nesse sentido, há 2
lados da arte: 1) aparência (se relaciona com a primeira técnica) e 2) interpretação/jogo
(segunda técnica). O potencial emancipatório surge na medida do fazer técnico e mecânico.
A estética tradicional carrega esses 2 sentidos (jogo e aparência). A segunda técnica amplia
nosso espaço de jogo (que é uma ampliação do espaço de experimentação). Assim, podemos
perceber uma relação progressista entre política e arte no cinema, justamente porque o cinema
fortalece esse espaço de jogo. Essa ampliação do jogo envolvendo a segunda técnica é o que
define o potencial político do cinema. Benjamin investiga qual a natureza da imagem
cinematográfica e assim está sempre distinguindo do teatro, pintura e outras obras de arte
tradicional. O pintor faz a pintura, enquanto o operador de câmera (cinegrafista) faz a imagem.
Benjamin vai exemplificar falando da diferença entre o mágico e o cirurgião: há uma
diminuição ou aumento da distância do mundo em relação a sua obra. O mágico está para
o cirurgião assim como o pintor está para o operador de câmera. Isso em relação a distância
entre o pintor e mundo, considerando sua produção de imagens. O pintor não penetra na
realidade (há uma distância natural), pois está produzindo sua obra apenas observando a
realidade (mundo) e não há uma intervenção no real.

Conceito de aproximação: com a reprodutibilidade técnica as obras de arte são


aproximadas das massas. O cineasta faz uma intervenção cirúrgica no real (constrói um novo
real); faz um filme colando fragmentos do real. O pintor opera com certo distanciamento do
real enquanto o operador de câmera intervém no real por meio do aparato técnico, captando
detalhes antes despercebidos no cotidiano.

Funções sociais do cinema: estabelecer equilíbrio entre o homem e a máquina (essa é


a função mais importante).

A ideia de cinema está ligada com essa representação do real. Na imagem


cinematográfica a distância com o mundo foi abolida. A potência política do cinema está na
própria imagem fotográfica (na natureza da imagem), isto é, na maneira em que ela é
construída. O cinema amplia o real, pois junta fragmentos do real e os une livremente. Usando
esse método para construção de filmes, o cinema tem o potencial de revelar a luta de classes,
por exemplo, unindo em uma obra, recortes de imagens dos citadinos trabalhando e também
dos citadinos ocupando o cinema. Daí que surge forças racionais e forças inconscientes. A
partir do momento que o cinema apresenta outras possibilidades de perceber o real, ele
passa a ter esse poder de ampliar nossa compreensão do real. Portanto, uma ampliação do
espaço de ação política. A partir disso o cinema quebra com uma forma unívoca de interpretar
o mundo, que já era dada e estabelecida, e permite o citadino pensar em novos espaços de ação
(essa é a relação entre arte e política).

Para Benjamin, uma das funções políticas é reorganizar o coletivo (ligado à vanguarda).
Por isso o autor aposta nesse lado experimental do cinema.

Ideia de inconsciente óptico: transformar em imagem tudo aquilo que passa


despercebido ao coletivo no cotidiano do real, assim os filmes reproduzem as cidades, as
fábricas, promovendo um potencial subversivo. Em resumo: o cinema construiu a imagem da
modernidade. Toda essa noção de modernidade surgiu com a fotografia e o cinema. Não temos
apenas o olho para apreender o real, mas todo suporte do aparato técnico que nos permite tomar
consciência de coisas mais sutis que os olhos por si só não capitava (essa é a ideia do
inconsciente sendo ampliado). É preciso desse momento de “revelação” do real para tornar o
inconsciente em consciente.

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