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Um breve panorama da história cultural do conceito de atividade1

Yves Schwartz
schwartz@up.univ-aix.fr

Em que medida existe pensamento, e qual conteúdo de pensamento se entende no uso corrente
de uma palavra em especial? Tal questionamento me parece crucial quando se trata de uma
palavra como “atividade”, que é onipresente na linguagem corrente, mas cujo conteúdo é
bastante problemático. Falamos aqui de “atividade” e não ação. Este estudo sobre o termo
atividade é de uma importância considerável e se dirige aos ergólogos, ergonomistas e aos que
se interessam pela Abordagem Ergológica os quais, fazem um uso bastante fundamental desse
conceito2.

1- Como o conceito de atividade circula hoje em dia?


O termo atividade pode ser uma palavra sem conteúdo conceitual preciso, habitando um
estado fluído, funcionando “às cegas”, na nossa linguagem diária ou em diversos campos
científicos. Qual é o menor denominador comum que poderia explicar esta fluidez do termo
“atividade”? Isto poderia ser o consumo ou a utilização de energia. Contudo, esta definição é
demasiadamente ampla e não nos dá limites fixos para preenchê-la de um conteúdo preciso. A
abordagem mais clara que nos poderia ser proposta, seria via o seu oposto: “a inércia”, que é
efetivamente o contrário de atividade. Isto poderia ser satisfatório na medida em que este
termo cobre todos os usos da palavra, tanto no campo físico (um movimento inerte não
consome energia, é estritamente o equivalente ao descanso), como na vida em geral e no reino
humano, onde esta definição por oposição mantém-se relevante, mesmo se ela se torna mais
complicada. Pode-se falar “de um vulcão em atividade”, “de um computador em atividade”,
“a atividade neurológica”, e “a atividade de uma pessoa trabalhando”. Mas, a partir desta
ampla extensão da palavra “atividade” que permite cada um compreendê-la em qualquer

1
Tradução de Jurandir Soares da Silva e Mariana Veríssimo. Este texto é uma apresentação compacta, procedente de uma
série de conferências e cursos dados desde 2004. Para mais detalhes sobre a quarta parte deste texto, ver Schwartz (2001).
Geralmente, um enfoque mais pedagógico das idéias básicas da Abordagem Ergológica se encontra em Schwartz e Durrive
(2003), e na página eletrônica https://allsh.univ-amu.fr/master-ergologie-textes. Discussões mais exaustivas podem ser lidas
em Schwartz (2000).
2
Texto originalmente publicado na Revista @ctivités, v. 4 n. 2, 2007, p. 122-133. Disponível em:
http://www.activites.org/v4n2/v4n2.pdf .

1
contexto, não apreendemos nada que nos permite construir um verdadeiro conceito. É por isso
que falo de conceito fluído, funcionando mais ou menos “às cegas”.

De acordo com o contexto intelectual, a situação pode alterar. Por exemplo, numa frase
famosa, o filósofo francês Georges Canguilhem (1966) utiliza o termo “atividade” para
identificar especificamente o que é a vida; desse uso resulta uma segmentação entre o uso do
termo em mecânica, e seu uso no reino do vivo: para ele, a Vida pode ser definida através da
atividade que está em luta permanente com “a inércia e a indiferença” 3. Não somente o
contrário da inércia, mas uma luta contra a inércia. Aqui, temos um recorte com o menor
denominador comum (denominador comum que torna homogêneos os campos dos seres vivos
e o dos seres brutos), mas ao mesmo tempo, uma melhor delimitação filosófica para permitir
construir um verdadeiro conceito de “atividade”.

O termo atividade pode, igualmente, designar um conceito básico explicitamente requerido:

 por certas tendências, certos movimentos de ergonomistas a partir dos anos 70 (ver
por exemple Guérin, Laville, Daniellou, Durrafourg et Kerguelen, 1991).

 ou por movimentos efervescentes mais ou menos ligados aos precedentes, cujo


objetivo é construir “sistemas” ou “teorias” da atividade (Béguin, 2006).

2- Qual pode ser o interesse por tal conceito, e porque propor um resumo
da história cultural dele?
A situação não foi sempre a que conhecemos hoje, em que há de um lado um uso “às cegas” e
do outro um uso explícito da palavra “atividade”. Penso certamente que se pode localizar dois
percursos do conceito de atividade que, através da história filosófica e cultural, como uma
herança, conduz à situação presente. Pode-se lhes esquematizar da seguinte maneira: uma
escadaria bifurcada4, em que suas duas vias provêm de uma mesma fonte, progredindo para
dois lados, pela direita e pela esquerda, vindo de um passado distante até a atualidade. Estes
dois caminhos não são independentes um do outro, mas para simplificar, vamos apresentá-los
separadamente.

3
“... uma análise filosófica da vida, entendida como atividade de oposição à inércia e a indiferença” (op.cit, p 173)
4
Como não existe uma tradução precisa de escalier à double volée, para não nos distanciar da alegoria proposta por
Schwartz, optamos pelo termo escadaria bifurcada, que é correntemente utilizado na construção civil.

2
O esquema nº 1 apresenta estas duas partes. Por um lado a parte esquerda, ligada às
preocupações da fundação do conhecimento verdadeiro. Por outro lado, a parte direita, ligada
ao enigma do fazer técnico ou industrioso.

Geralmente, cada conceito ou conjunto de conceitos conserva alguns elementos de sua


herança. É a primeira razão pela qual é necessário, e eventualmente fértil, estar consciente
dessa história. Esta imersão no passado pode permitir esclarecimentos de problemas que
encontramos com o uso atual da palavra “atividade”.

Poderíamos acrescentar uma segunda razão mais idiossincrática: uma vista sinóptica desses
dois caminhos, dessas duas trajetórias históricas, da noção se pode revelar uma ajuda
inestimável para identificar o que chamamos hoje uma abordagem ergológica do conceito de
atividade, com a utilização específica que ela o faz5. O conceito ergológico de Atividade pode
ser pensado como uma articulação, uma combinação ou uma síntese original, trabalhando
com essa dupla herança.

5
Esta abordagem hoje é atestada por um departamento acadêmico bem como um Master que leva este nome, e por uma rede
nacional e internacional de pessoas que compartilham esta abordagem.

3
Tal apresentação oferece uma boa oportunidade de ter uma confrontação frutuosa com os
partidários dos sistemas ou das teorias da atividade.

3. - A noção ou a ideia de “Atividade” ocorre sempre quando é necessário


resgatar a unidade do ser humano
Sempre que há algo como “atividade”, que seja a palavra ou a expressão, é, de acordo com a
nossa tese, para resolver um problema ligado à unidade do ser humano: “atividade” tem por
função, por significado ou por objetivo de reunir partes do ser humano, anteriormente
separadas, deslocadas pelo que devemos, contudo reconhecer como “boas razões filosóficas”.

Quais são os dois ramos destes processos de desmembramento e de remendagem?

3.1. - O processo de desmembramento e o retorno à unidade graças à noção de atividade

O primeiro ramo (ver parte esquerda do esquema 1) encontra a sua origem no esforço heróico
de ter em conta a possibilidade para o ser humano, aceder ao Universal, á Verdade, ao Bom,
via o entendimento, o conhecimento científico sendo então o modelo e o bom método a
seguir.

Como a verdade matemática é possível? A fim de responder a esta questão crucial, Platão
tem, a partir do início, separado, isolado “as faculdades”, as partes do espírito humano
capazes de atingir o mundo das Ideias, escapando às fascinações exercidas pelo mundo
sensível, pelas paixões, por tudo o que dilacera e divide os homens no seu seio, por tudo o que
o fixa ou o afoga nas aparências enganosas do presente. Um dos elementos mais significativos
desta ideia pode ser encontrado no início de Fédon (um Dialogo de Platão), quando a morte
aparece como a libertação da alma, após ter sido libertada do seu corpo, considerado um
obstáculo para atingir as verdades essenciais. A “boa via”, de acordo com Platão, é a idéia
seguinte: enquanto tivermos um corpo, e enquanto o nosso espírito for misturado a essa coisa
má, nunca possuiremos o objeto do nosso desejo, ou seja, a verdade. O corpo impede a nossa
busca para o exercício da nossa inteligência, (ver 65a e 66b). É por isso que, na República, a
hierarquia das funções sociais na cidade deve reproduzir a hierarquia das nossas faculdades,
com as faculdades intelectuais no ponto mais alto, controlando os outros, na medida em que
queremos que a justiça governe igualmente, tanto a cidade, quanto a nós mesmos.

Após Platão, esse empreendimento prosseguirá por meio das obras dos grandes filósofos, cada
um com a sua própria estratégia conceitual, mas sempre incluindo uma forma especial de
divisão, dentro do ser humano, entre as “faculdades”, entre as “sedes”: do espírito, da alma de

4
um lado, e do outro, o lado a da sensibilidade, o corpo, as paixões e os sentimentos, que
podem sempre obstruir o nobre trabalho do primeiro lado.

Também, nas Regras para a direção do espírito, Descartes (1628/1953) explica que na
medida em que se fala de conhecimento, temos acesso a quatro “faculdades”: o entendimento,
a imaginação, os sentidos e a memória. “Certamente o entendimento único é capaz de
perceber a verdade; mas deve ser ajudado, contudo pela imaginação, pelos sentidos e pela
memória, para que nós não deixemos de lado nenhuma das nossas faculdades” (op. cit. p. 75).

No entanto, como o vemos nesta frase, nenhum desses filósofos ignorou a necessidade de
evocar as dinâmicas obscuras que religam estas faculdades anteriormente separadas. Sem
evocar aqui a definição de alma em Aristóteles (para ele, a hierarquia entre as diferentes
funções evidentemente é mencionada, mas não como problema), Descartes, após ter mostrado
a necessidade em Regras Para a Direção do Espírito de restringir, mas não de ignorar as
outras faculdades, encontrou este problema após ter estabelecido a “terceira substância”, “a
união da alma e o corpo” na Sexta Meditação (1641/1950).

Com esta terceira substância, emerge uma verdadeira dificuldade. Essa dificuldade é ainda
efetivamente imanente à ambição de qualquer conhecimento (ver a parte esquerda do
esquema), por conseguinte diferente de segundo caminho (que ilustra o problema de unidade
através do “fazer industrioso” - parte direita do esquema): como apreender conceitualmente a
sinergia da combinação de faculdades heterogêneas? Essa combinação será necessariamente
um processo dinâmico, considerando que se deve movimentar entre poderes heterogêneos,
uma vez estes identificados e separados. Mas um processo que será provavelmente
impenetrável, na medida em que o desafio consistiria em tornar compreensível a articulação
dos poderes em presença, um entre eles sendo, no entanto, além de todo poder de
conhecimento, e mesmo, provavelmente, um obstáculo a todo pensamento racional.

Aqui, de maneira quase subterrânea, começa a construção discreta de algo como “atividade”,
cuja obscura missão é de sugerir estas estranhas e obscuras mediações, permanecendo ao
mesmo tempo no campo da ambição epistêmica.

Por exemplo, leiamos as Cartas de Descartes à Princesa Elisabeth da Boemia (1643/1899)


onde ela se esforça para compreender a relação entre a alma humana, sem extensão, e o corpo
humano, que é um elemento físico: se vossa alteza quer provar a distinção que existe entre a
alma e o corpo, diz Descartes, só os poderes da alma são necessários, o corpo então seria um
obstáculo. Outra coisa é tentar compreender como a alma “tem a força de conduzir” o corpo

5
(21/05/1643). É um problema que se exprime em termos de conhecimento, um problema
conceitual, mas que deve ligar o nosso poder de conhecimento com algo que não tem nada a
ver com isso. Não tentem pensar esta união da mesma maneira que os filósofos provaram a
distinção. Menos filosofara sobre este assunto, mais uma certeza relativa a esta união terá.
Não é realmente uma provocação, explica Descartes à Princesa (28/06/1643): “as coisas que
pertencem à união da alma e do corpo, se conhecem apenas obscuramente pelo entendimento
único, nem mesmo o entendimento assistido pela imaginação; mas se conhecem muito
claramente pelos sentidos”. Uma vez que os princípios metafísicos são bem assimilados, vale
melhor consagrar “o resto de tempo que se tem para o estudo, aos pensamentos onde o
entendimento age com a imaginação e os sentidos” (28/06/1643).

Embora a palavra “atividade” não seja mencionada nessas Cartas, a idéia de “agir com” (ou
seja, a contribuição ou a construção comum do entendimento, a imaginação e os sentidos)
mostra a necessidade mais ou menos de recosturar as diversas partes anteriormente separadas
dos poderes humanos, no interesse e para a credibilidade do conhecimento metafísico6.
Finalmente, aparece clara e distintamente que “agir com” não pode ser concebido claramente
(ver, por exemplo, Guéroult, 1953, volume II, p. 134). Parece-nos aqui, que pela primeira vez
na história da filosofia, é afirmado abertamente que um pensamento está condenado a ficar
obscuro, enigmático. E isto está vinculado ao primeiro aparecimento de algo como atividade,
ou seja, a sinergia em nós de partes “heterogêneas” de nós mesmos. Ao mesmo tempo, a tese
de existência desta sinergia é tanto oposta à tentativa ascética e heróica da separação
precedente, tão difícil de expor sob uma forma racional e conceitual, que este reconhecimento
continua assaz discreto. Contudo, pensamos que este nó de problema, mesmo tomado nesta
forma histórica passada, é altamente instrutivo para as tentativas atuais de construir
abordagens conceituais de atividade.

Após a filosofia cartesiana, podemos seguir o andamento sinuoso e em fraca visibilidade da


construção da “atividade”, concebida como o que indica a cooperação dos poderes
heterogêneos no processo do conhecimento (ver, por exemplo, Fischbach, 2002, p. 11 e
seguintes).

Quaisquer que sejam as contribuições de Spinoza ou de Leibniz, pensamos que Emmanuel


Kant é o primeiro a dar um estatuto real, neste sentido, à idéia de atividade. A palavra em

6
Não podemos nos impedir de citar aqui a carta de Descartes à Princesa Elisabeth (06/10/1645), na qual ele explica porque a
nossa alma pode sentir satisfação após esforços físicos : estes exercícios dão prova da força ou virtuosidade do corpo ao qual
esta religada.

6
alemão, “Tätigkeit”, sempre traduzida por “activity”, “atividade”, será utilizada exatamente
para denotar este poder de recostura (remendagem), de mediação, altamente enigmática,
relativa a certas faculdades humanas anteriormente desmembradas (Sensibilidade e
Entendimento no caso presente), com o objetivo de conceber como um conhecimento no
mundo do que ele chama de “fenômenos” é possível.

Isso valeria a pena estudar com um pouco mais de detalhes a palavra Tätigkeit na linguagem
kantiana7. Essa palavra não é, a nosso ver, muito claramente definida, pelas mesmas razões
que as evocadas anteriormente a propósito de Descartes. Contudo, na Crítica da Razão Pura
(ou Primeira Crítica), Kant a associa a um processo dinâmico, que se move entre duas
faculdades absolutamente heterogêneas, cuja cooperação é, no entanto absolutamente
necessária para produzir um conhecimento no mundo dos fenômenos. Além disso, no capítulo
da Primeira Crítica dedicado ao esquematismo da Razão Pura, esse “trabalho”, essa Tätigkeit
é chamada “uma arte escondida nas profundezas do espírito humano”: nós não podemos
utilizar os nossos poderes de conhecer para descrever com precisão o que os torna possível,
essa possibilidade está além deles. Nós não podemos utilizar um só poder para compreender o
que torna possível a cooperação entre eles. A atividade aparece como sendo – e isso
representará uma instrução importante para os nossos problemas ergológicos atuais - uma arte
de transgressão de nossas faculdades; e para isso, uma noção sujeita a ficar, em parte,
enigmática.

Após a Primeira Crítica, penso que o termo “Tätigkeit”, para além de se focar na legitimidade
do conhecimento, vai continuar, para Kant, a cobrir o obscuro vai-e-vem entre campos
heterogêneos. Assim, na Crítica da Razão Prática (Kant, 1788/1960), quando a nossa vontade
deve arbitrar entre as nossas motivações empíricas e a nossa participação no “mundo supra
sensível” através do compromisso da nossa razão, “Tätigkeit” é outra vez convocada quando
se trata de apontar essa viagem entre dois campos radicalmente diferentes, que é impossível
descrever conceitualmente. Igualmente, como no caso precedente, essa “atividade” (Tätigkeit)
da Razão Prática, de acordo com “princípios objetivos”, é normalmente “impenetrável”
(“unergründlich zu finden”) 8. Na Terceira Crítica, a noção “de livre jogo das faculdades”, e a
teoria do gênio estenderam o processo dinâmico da Tätigkeit, como a unidade em movimento
dos poderes do espírito9. Poderíamos resumir a contribuição deste segmento de trabalho

7
Ver Schwartz, 2001, nota 1.
8
Ver Kant, 1960, pp.83-84 et Schwartz, 2004, pp 261-295.
9
Ver a definição do “Conhecimento pragmático” do homem como um ser da “atividade livre”.

7
filosófico para aproximar o enigma da atividade como “uma obscura sinergia dos
heterogêneos em nós”.

Após Kant, essa “forma intelectual” de atividade, esse conceito penosamente clarificado de
Tätigkeit vai ter um breve, mas intenso desenvolvimento em Fichte (que pode ser considerado
como o filósofo da atividade), bem como de Hegel e Marx10 (Schwartz, 2001). O conceito de
Tätigkeit, herdado de Kant nestas condições, vai conhecer um desenvolvimento mais amplo e
mais explícito, em especial para a inteligibilidade do processo dialético da história. Mas após
1845, este conceito parece estar em declínio. Por quê? Ele fica demasiadamente amplo, pouco
rigoroso quando, abandonando o campo antropológico e a função de apontar a sinergia
enigmática das faculdades heterogêneas, ingressa entre os conceitos a utilizar para pensar as
filosofias da história, e este declínio é nítido em particular na conceitualização marxiana da
maturidade.

Contudo, com a psicologia soviética e o seu bom conhecimento da conceitualização marxiana


(Vygotski e mais ainda Léontiev, 1976, e 198411), o termo “Tätigkeit” será apropriado a partir
de sua utilização em surdina no Capital, e re-elaborado por esta psicologia. Em parte graças a
isto, a noção de atividade ganhará uma nova força nos anos 1970 e será re-apropriada pelas
duas escolas mencionadas anteriormente, a saber, a ergonomia da “atividade12” e a escola dos
sistemas ou das teorias da atividade (ver o esquema 1 acima).

3.2. – O fazer industrioso

O outro ramo é menos visível, mas igualmente importante para nós: trata-se do que
poderíamos chamar do problema do “fazer industrioso”, ou do agir técnico.

Aqui, não se trata de atividade intelectual, de atividade do espírito, no seio do campo da


filosofia do conhecimento nas suas tentativas de esclarecer os seus implícitos. O segundo
caminho, a via direita da escada (ver o segundo esquema), refere-se ao “fazer industrioso”,
onde o diálogo entre a consciência humana, seu saber conceitual de um lado, e o seu próprio
corpo do outro, com a diversidade, a relação com o mundo das mudanças onde se está
comprometido, com o hic et nunc ligados às circunstâncias (cujos aspectos singulares nunca

10
Marx, criticando Hegel por ter reduzido Tätigkeit às únicas dimensões intelectuais, “este trabalho abstrato do espírito”, o
único que se possa reconhecer (Manuscrito 1844, n° XXIII), vai amplamente utilizar este conceito até nas Teses sobre
Feuerbach (1845).
11
Ver em Léontiev, 1976, índice temático “Atividade, Tätigkeit”.
12
Da qual a figura principal é Alain Wisner (morto em 2004), Professor do CNAM, Conservatoire National des Arts et
Métiers, em Paris.

8
podem realmente ser antecipados por conceitos) coloca o problema crucial da unidade
dinâmica do ser humano num outro nível.

Como podemos admitir que o Homem, através da sua habilidade técnica, chegue a vincular
misteriosamente dimensões tão diferentes como: saber incorporado e saber metodológico,
corpo e espírito, natureza e cultura, a herança da Vida e nossa herança do espiritual? Como a
filosofia pode admitir tal escândalo, sem destruir sua heróica e ascética tentativa (outro lado
do esquema, a parte esquerda)?

A parte direita do esquema indica resumidamente como este segundo caminho, apesar deste
possível escândalo, se prossegue através do trabalho filosófico. Algo como a atividade faz
também o seu caminho neste lado, através da obscura lucidez dos grandes filósofos, ainda que
esta lucidez os afaste da marca específica e nobre da humanidade. Eles devem enfrentar esta
questão: como esta cooperação fértil das nossas partes heterogêneas é possível, dado que
desta vez o corpo é manifestamente um parceiro essencial (e não um parceiro duvidoso, como
na parte direita)?

Este “fazer industrioso”, sem jamais rejeitar os recursos dos poderes intelectuais, lhes é,
contudo anterior, e não pode, em nós, estar sujeito a nenhuma parte predominante. Para
ilustrá-lo, podemos mencionar aqui o que G. Canguilhem (1937/1969) diz no seu texto
“Descartes e a Técnica”, falando dos artesões: da “impossibilidade de uma transformação
contínua e total da ciência em ação”, resulta a constatação da “originalidade de um poder” -
liberdade e vontade - que não está “nos limites da inteligência”. Este “poder original” é um
poder enigmaticamente e dinamicamente capaz de unificar toda as nossas “faculdades”:
demasiado obscuro para merecer um nome, mas sugerindo o que chamamos a “atividade
industriosa” (op. cit. p. 100).

Poderíamos seguir a história desse estranho “poder”, salvando discretamente a sinergia de um


ser composto, através de numerosos grandes filósofos. De Platão, poderíamos reter o conceito
muito complexo de “Téchne”, que, aplicado aos artesões atenienses, pode aparecer, para
certos historiadores, como uma espécie de arte do “kairós”: conhecimento obscuro, mas
conhecimento mesmo assim (ver Schwartz, 2000, p. 457 & sq.). A dificuldade extrema para
definir esse conhecimento torna-se evidente quando vemos Platão aplicar o mesmo termo
“Téchne” às competências artesanais e ao conhecimento epistêmico e filosófico
(completamente diferentes!). Se a distinção aristotélica entre “Práxis” e “Poiésis” corre o risco
de cortar a relação entre o campo dos valores e o campo da atividade técnica - grave redução
da dimensão sintética de atividade -, na parte direita do esquema 1, encontramos, como em

9
Platão, uma relação sofisticada entre Descartes (como o sugere a citação de Canguilhem
anteriormente), Leibniz e a estranha competência do artesanato. Como esses artesões são
capazes de dominar tais quantidades de variabilidades e dificuldades locais, que a vida e os
“encontros” técnicos renovam constantemente? (ver Schwartz, 1992, p. 182-192).

A interrogação, procedente desta habilidade enigmática e inapreensível e que traz, no entanto


uma contribuição social importante para a “Riqueza das Nações”, continua com Diderot e
com a Enciclopédia. Quando, por exemplo, Diderot fala, no Artigo “Arte” da Enciclopédia,
da precedência ontológica e cronológica da prática das Artes sobre o seu “conhecimento
inoperante”13 (ou seja, um conhecimento conceitual, que não opera por si mesmo).

E podemos ainda encontrar aqui, no mesmo período, (fim do século XVIII), Kant e a Terceira
Crítica: com a noção “de talento” e a reflexão sobre o fazer artísticos (o gênio),
reencontramos esse “livre jogo das faculdades” já encontrado. Em nenhum outro lugar
anteriormente, essa noção transgressiva de Tätigkeit, como ligação dinâmica e sinérgica entre
heterogêneos foi tão amplamente desenvolvida disseminada. Encontramos na Terceira Crítica
a idéia de uma espécie de acordo perfeito entre “atividades”, cada uma delas vindo de uma
faculdade especial: “É o que acontece (…) a cada vez que um dado objeto através dos
sentidos suscita a atividade da imaginação, que compõe o diverso e que esta por sua vez,
suscita a atividade do entendimento para que o unifique nos seus conceitos” (1790/1965, §
21). Livre jogo das faculdades: Atividade como síntese ou sinergia das atividades.

Para as próximas décadas, pode-se pensar que é com uma filosofia das relações entre a Vida e
a atividade técnica, que poderemos seguir a parte direita da história do nosso conceito.
Filosofias que implicam quase sempre uma concepção das relações entre a Vida, o agir
técnico e a atividade conceitual: como essa atividade conceitual, que historicamente é
secundária em relação ao agir técnico, pode ser gerada dentro deste movimento específico
humano, e tomar seguidamente as suas distâncias com este agir técnico, do qual ela provem
(distância manifestada pela parte esquerda do esquema)?

Podemos seguir este movimento14 com, por exemplo, a filosofia Bergsoniana (Bergson,
1907/1966), o médico alemão K. Goldstein (1878-1965) (1951), o antropólogo André Leroi-
Gourhan: “Numa perspectiva mais próxima do movimento que anima os seres através do
tempo, a tecnicidade, o pensamento, a locomoção e a mão aparecem como vinculados a um
13
Em francês, “connaissance inopérative”, neologismo criado por Diderot.
14
Um desenvolvimento especial seria um necessário para localizar Nietzsche, e as relações entre o seu poder afirmativo da
vida e o movimento ascético da filosofia e a conceitualização.

10
só fenômeno, no qual o Homem dá sua significação, mas no qual nenhum membro do reino
animal é completamente estrangeiro” (Leroi-Gourhan, 1983).

E no fim da parte direita, reencontramos ainda George Canguilhem, leitor de Bergson,


Goldstein, Leroi-Gourhan, que se interroga através de toda sua obra o que é a Vida,
concebendo a saúde como um debate sempre renovado entre normas anônimas que vêm do
ambiente, e as normas que cada ser vivo produz e tenta promover, e concebendo assim o agir
técnico como a ampliação deste debate tão antigo. Como ele afirma, falando de Descartes que
faz face aos artesões, “Ver na técnica uma ação sempre num certo grau sintética, e enquanto
tal não analisável, não é, do ponto de vista cartesiano, nos parece, retirar-lhe todo valor, pois
que é ver nela um modo, ainda que inferior, de criação” (Canguilhem, 1937/1969).

Através dessa atividade técnica, considerada como a investigação ou a continuação da saúde


pela extensão dos poderes do ser vivo sobre o ambiente externo, a “atividade” concebida
como essa disposição de produzir norma na confrontação com o ambiente natural e social
pode ser vista como uma expressão da vida humana como tal, na sua manifestação global,
unificada e “sintética”: “ocorre com a medicina o mesmo que ocorre com todas as técnicas. É
uma atividade que tem raízes no esforço espontâneo do ser vivo para dominar o meio e
organizá-lo segundo seus valores de ser vivo” (Canguilhem, 1966, p. 156).

4. - O que se passa entre esses dois ramos (vias)?


Seria possível unir esses dois galhos com a proposta de um governo científico do trabalho
humano?

A partir do século XVII, causada pela "tentativa heroica" mencionada na parte esquerda do
esquema, as ciências naturais começam a crescer e com elas, a conquista das forças naturais.
Partindo das primeiras “manufaturas” (Inglaterra, século XVIII), onde se faz ainda uso
intenso do "agir técnico", mencionado no lado direito, até as “fábricas” (tal como Marx as
descreve na quarta seção do primeiro livro do Capital), os novos poderes da ciência são
introduzidos no campo da produção industrial (revolução industrial). Um novo conceito de
'trabalho', suposto ser relevante e homogêneo tanto no campo da física como no campo
humano, começa a surgir (Vatin, 1993). Em poucas décadas, esta introdução vai ser
rapidamente pensada não apenas como uma ferramenta para a fabricação de mecanização,
para racionalização técnica. Com a organização científica do trabalho (F. W. Taylor, no início
do século XX), será concebida como um meio para controlar completamente a parte direita
do nosso esquema. Ou seja, remover a incômoda presença desta atividade técnica enigmática

11
e incontrolável, esse enigmático fazer industrioso, esse legado de artesanato, que está sempre
presente, sempre em uso e exigido, apesar das tentativas de divisão, ou seja, de simplificação
do trabalho (veja Adam Smith), neste ambiente mecânico.

Notamos - é o caso da organização "científica" do trabalho - que, se as várias filosofias da


vida tornam possível construir pontes entre as duas partes de nossa escadaria, há uma
propensão permanente no lado esquerdo para remover o "vai-e-vem" para retornar à
hierarquia estrita de poderes humanos, a ponto de fazer desaparecer a questão da unidade do
ser humano.

Ergonomistas ditos da «atividade», em suas reflexões críticas de 1970 sobre a distância entre
os pressupostos do Taylorismo e a realidade in situ do trabalho industrial, produziram a
distinção entre “trabalho prescrito” e “trabalho real” ou “atual”. O que se passou, na tentativa
de conceituar a dinâmica produzida nessa distância entre o trabalho "prescrito" e o "real"?
Entre 1908 e 1933, psicólogos franceses como Henri Piéron, Lahy, Laugier, mas também
Meyerson tinham usado o conceito de atividade para mostrar a complexidade da relação entre
15
as pessoas e seu ambiente (de trabalho) . De acordo com Bronckart e Coll. (2004, citado por
P. Béguin, 2006), essa tendência foi muito ampla, perpassando por muitas disciplinas e países,
mas desapareceu com um “pacto faustiano” (Bruner, citado por Béguin, 2006), negociando a
legitimidade científica contra o abandono das abordagens qualitativas e interdisciplinares.
Assim, se essas ideias fizeram sua parte no renascimento do conceito de atividade, a
introdução de teses e principais conceitos da psicologia Soviética na época, através dos
ergonomistas franceses e da psicologia ocupacional, certamente foram decisivos para esta
renovação do conceito de atividade. Conscientemente ou inconscientemente, eles se
apropriaram do conceito de atividade ("Tätigkeit"). Herdeiros dessa longa história,
notadamente por meio do trabalho de Leontiev, eles o divulgaram na França para designar o
que se passava (mas o quê?) nessa distancia entre “trabalho prescrito” e “trabalho real”16.

15
Ver Daniellou & Martin (2007) e especialmente, a 2ª nota, mencionando a ajuda de A. Weill-Fassina. Quanto à
contribuição de Meyerson, ver P. Béguin, 2006.
16
Como evidenciado em uma correspondência (outubro de 2001) entre o professor J. Leplat, psicologia do trabalho (CNAM,
Paris) e o professor F. Daniellou, ergonomista da Universidade de Bordeaux II. Os dois trabalhavam nos laboratórios de
psicologia e ergonomia do CNAM quando ocorreu essa apropriação: "Eu acho, disse o prof. Jacques Leplat, que esse
progressivo deslocamento em favor da noção de atividade ocorreu (no seio do meu antigo laboratório) devido ao nosso
interesse por um livro organizado por Leontiev, Luria e Smirnov, ‘Pesquisas psicológicas na USSR’, particularmente, pelo
capítulo de Galperine, "ensaio sobre a formação gradual de ações e conceitos”, do qual, A. Savoyant, posteriormente, faria
uso sistemático (Savoyant, 1979). Em seguida, teve o livro de Leontiev (1972), ‘O desenvolvimento da psiquismo’, que deu
um status muito preciso para a noção" (12/05/2001). Questionado em 1997 sobre a importância da obra de Vygotski e

12
Podemos assim dizer, cremos nisso, que esse conceito de atividade foi atualizado e
estabilizado com os dois principais livros de Leontiev, traduzidos para a língua francesa
(Leontiev, 1976; 1984).

Eu poderia resumir essa longa história dizendo que, no final da parte esquerda da trajetória
deste conceito, os ergonomistas demonstraram que a antecipação completa ou padronização
dos processos de trabalho era impossível: atividade humana, como processo obscuro se
desenvolvendo entre o que é antecipado, previsto, e o que realmente é feito, é inevitável, uma
convidada em nossas vidas que nunca se pode dispensar.

Do outro lado (parte direita da Figura 1), o filósofo francês G. Canguilhem, fazendo a revisão
de um estudo de G. Friedmann sobre fábricas regidas pelo Taylorismo mundo afora, foi
conduzido por razões filosóficas relacionadas à sua concepção do que é a vida, à conclusão de
que essa ambição de controle total do fazer industrioso (parte direita) era, estritamente falar,
invivível, insuportável, impossível viver (Canguilhem, 1947, pp. 120-136).

5 - Abordagem Ergológica: três ensinamentos resultantes dessa história.


Estes dois ramos se desenvolveram separadamente. Os filósofos que falamos (parte direita) ignoraram
estudos e interrogações de especialistas do trabalho; do outro lado, esses ergonomistas (parte
esquerda) não conheciam as especulações que levou alguns filósofos a antecipar os limites do
Taylorismo. A abordagem ergológica pode ser entendida como uma síntese original, trabalhando com
essa herança dupla (ver Figura 2). Se a abordagem ergológica pode ser entendida como um ponto de
vista original sobre esses assuntos, é provavelmente porque ela tenta juntar os principais ensinamentos
dos dois ramos da história: a atividade humana é o processo dinâmico e tenso que tenta articular, ao
longo da vida, o tratamento das limitações de toda forma de normatização e apreender as muitas
oportunidades de viver, apesar de toda forma rígida de heterodeterminação.

Leontiev referente a construção de seu próprio pensamento, A. Wisner dá uma resposta clara e positiva sobre os dois autores.
Falando de Leontiev e sua análise do papel dos instrumentos da mediação, ele diz: "a parte que ele desenvolveu, o fez de
forma admirável e ela nos é muito útil na ergonomia. São seus pontos de vista sobre a relação entre a atividade (o que há de
mais amplo), a ação e a operação. O que ele mostra e que é absolutamente essencial em nossa especialidade, é que nós
gastamos nosso tempo a nos mover de acordo com essa escala" (Wisner, Pavard, Benchekroun, & Geslin, 1997, pp. 20-21).

13
Portanto, três características me parecem definir a atividade humana, implicando
consequências metodológicas e operacionais:

 Como sugere o conceito de "Tätigkeit" na parte esquerda do nosso primeiro esquema e


o enigma do agir técnico do lado direito (para cada parte, uma sinergia obscura), a
atividade humana é um "conceito transgressor, sintético e não localizável". Se é um
conceito que tenta costurar, reagregar a unidade do ser humano, ele penetra todos os
seus aspectos. Portanto, como ele (o conceito de atividade humana) não pode ser
concebido por nossos poderes conceituais, ele não pode ser propriedade de uma única
disciplina científica. A atividade pode não ser o objeto específico da psicologia, da
neurologia, da antropologia cultural... Cada apropriação exclusiva seria de algum
modo uma mutilação. Na verdade, ele interpela a todas elas, mas não pertence a
nenhuma.

 Evitar o "invivível", o "insuportável", significa uma tentativa renovada dia após dia de
garantir a sua própria saúde. Saúde aqui é um conceito muito mais abrangente do que
o estrito sentido medical; É uma tentativa de criar um espaço social, um espaço
industrioso para suas próprias normas de vida. A Vida , entre nós, (e a vida no

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trabalho, mesmo em sua menor dimensão é uma parte essencial) está sempre, mais ou
menos, buscando lutar para manter, promover seus próprios valores no mundo social e
histórico. Através dessa busca permanente, através desse peso de valores que estão
nela, a "atividade", e mais especificamente a atividade de trabalho, é um momento de
mediação entre o indivíduo e o coletivo, entre macro e microscópico da vida social: os
valores humanos e sociais não permanecem, não pode estar confinados no único posto
de trabalho ou no único local de trabalho. Um valor é sempre um operador de
mediação.

 Como sugere, no nível microscópico, a distinção entre “trabalho prescrito” e “trabalho


real", debates de normas não cessam de ocupar, de apreender a atividade humana :
debates entre as normas antecedentes, cujo “trabalho prescrito” pode ser uma delas, e
as tendências para a renormatização cuja existência é atestada no nível microscópico
pelo “trabalho real” ou “atual”. E os valores mais amplos referentes à vida social,
como mencionado acima, interferem nesses debates. Por essas razões, a atividade
humana é atravessada por contradições potenciais e se revela como uma matriz
autêntica da história humana. No entanto, se a atividade então se revela ser uma matriz
de história, ela não pode ser verdadeiramente compreendida, antecipada por qualquer
“teoria”, ou sistema, exceto se se propõe a construir uma nova teoria filosófica geral
da história17.

Para concluir, podemos perceber que o desafio de definir o conceito de atividade acarreta
consideráveis questões filosóficas, abrangendo campos tanto epistemológicos como práticos
tanto históricos como éticos.

17
É por isso que, por um lado, apreciamos as tentativas de identificar as várias mediações técnicas e sociais através das quais
o "sistema de atividades" de Leontiev pode ser melhorado em conexão com mudanças históricas (a "finnish school" e as
correntes influenciadas pelo pragmatismo filosófico); mas, por outro lado, pelas razões acima mencionadas, não podemos,
neste momento, seguir plenamente estes passos. Agradeço a Pascal Béguin por sua ajuda na identificação dessas tendências
intelectuais, e Xavier Roth por seu trabalho em tradução e aconselhamento.

15
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