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Verso a verso da música 

Como Nossos Pais


Como Nossos Pais fala sobre um problema muito comum em qualquer
época da história: o conflito de gerações. Essa é uma música que
questiona a acomodação.

Primeira parte: conselhos

Não quero lhe falar


Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Belchior começa a música nos dizendo que quer contar algo com base em sua
experiência pessoal, e não no que estudou. Sabemos que, às vezes, valorizamos
muito mais o conhecimento escrito do que o oral, e talvez o autor tenha tentado
fazer uma crítica a isso. A música tem um tom de conselho; a princípio, é como se
alguém mais velho — talvez um pai — falasse com alguém mais jovem.

Viver é melhor que sonhar


Eu sei que o amor
É uma coisa boa

Aqui temos dois conselhos de Belchior que podemos adotar pra vida: apesar de
tudo, viver a realidade é melhor do que fantasiar, e o amor é, sim, uma coisa boa.

Mas também sei


Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa

No entanto, o compositor também lembra que qualquer canto é menor do que a vida


de qualquer pessoa. Não sabemos se esse canto se refere à música ou a um lugar,
mas o significado é o mesmo: independente do que seja, a vida das pessoas importa
mais. 

Por isso, cuidado, meu bem


Há perigo na esquina

Aqui temos uma referência à violência na época da ditadura: se a vida vale mais


que o canto, é preciso ter cautela para preservá-la, porque o perigo está por todos
os lados.
Parte 2: crítica à juventude

Eles venceram e o sinal


Está fechado pra nós
Que somos jovens

Afinal, quem são “eles”? Pode ser uma referência aos militares, aos pais ou aos
mais conservadores. Algo aconteceu e fechou a porta para a juventude. É aqui que
entendemos que, na verdade, se trata de um jovem falando para outros da mesma
geração.

Para abraçar seu irmão


E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço
O seu lábio e a sua voz

Falando sobre Como Nossos Pais, Belchior comentou que a música é uma


crítica à inércia da juventude, que se acomodou quando não devia e parou de
questionar. Esse trecho da letra pode ser percebido como uma provocação,
tentando instigar o ouvinte a ir atrás do que é dele por direito. Ao mesmo tempo,
pode ser entendido como uma crítica à censura das coisas mais banais, como as
reuniões na rua.

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração

Belchior nasceu em Sobral, no Ceará, e se mudou para o sudeste em busca


de melhores oportunidades de carreira. Sabemos que a repressão durante a
ditadura era mais forte nas grandes cidades, e talvez alguns considerassem uma
boa ideia voltar para o interior.
No entanto, Belchior, que era amante da arte e estava sempre trabalhando em algo
novo, mostra na música sua crença na mudança e esperança por dias melhores.

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais
Voltamos ao questionamento com a juventude: resumindo em poucas palavras, o
cantor nos diz que faz muito tempo que ninguém faz nada, que todos estão
acomodados e que lembrar dos tempos em que a juventude se reunia é o que mais
dói nele.

Parte 3: repetição do comportamento dos “pais”


Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais

Aqui chegamos à conclusão da música, depois de tudo o que já foi dito e


questionado, ele conclui que a juventude se tornou justamente aquilo que
criticava. Esse parágrafo precisa do anterior para ser entendido: os jovens se
reuniam, lutavam nas ruas, mas hoje já não lutam mais. Depois de tudo o que
fizeram, acabaram se acomodando e cedendo ao conformismo da geração anterior.

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Apesar de os jovens afirmarem que algo mudou, na verdade são só as mesmas


coisas que aparecem disfarçadas de novidade.

Você pode até dizer


Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem

Mais uma vez o tom de conselho fica claro. O compositor reforça suas ideias, contra-
argumenta e ressalta a necessidade de esperança.

Hoje eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando o vil metal

Quem quer que seja que inspirou a consciência crítica no autor, hoje está
parado em casa, talvez tenha se conformado com a situação atual ou até aprendido
a gostar dela. Vil metal é uma forma poética de se referir ao dinheiro. 

De certa forma, a música é um pedido para que a juventude dê continuidade a


seu papel de contestar e buscar renovação, seguindo a consciência que foi
despertada e não se deixando levar pelo comodismo de se contentar com o que foi
feito e estabelecido pela geração passada. 

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