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1° edição – agosto 2021

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A MARINA TORRES

Ilustração: L. A. Designer

Edição: Lana Silva e Aline Pádua

Diagramação: Aline Pádua

Revisão: Gabriela Ferraz

Siga o Instagram da banda: @seriedropsofjupiter


Sumário
Drops of Jupiter
Dedicatória
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Epílogo
O BEBÊ DO ROCKSTAR
Sinopse
Agradecimentos
Contatos
Drops of Jupiter

Bem-vindo ao terceiro show da Drops of Jupiter!

Tem muito para acontecer durante os quatro livros principais e um


bônus especial dessa série. A Drops of Jupiter é um projeto de três autoras
brasileiras, que são apaixonadas por histórias sobre rockstars. Cada uma,
se envolverá com um livro, e então, vocês conhecerão seu personagem, e
um deles, será escrito pelas três.

A Drops of Jupiter é mais que uma banda de rock, ela é uma

família. Através de Mason, Ella, Blue e Logan, conhecerão como o amor,


pode acontecer, até mesmo, para as pessoas que não o buscam. Pode ser
em um primeiro olhar. Pode ser com seu oposto completo. Pode ser a partir
do seu inimigo. Pode ser do destino rindo da sua cara. Preparem-se, que o
show começa agora.
Com vocês,
BLUE – o cafajeste e a rockstar!
Dedicatória

Para todos aqueles que amam com a intensidade do infinito.

Para Aline, Eryka, Hilana e Kamila, que vocês nunca esqueçam a força que
tem.
Posicione a câmera do seu celular para ler o QrCode e conheça um pouquinho das

músicas que inspiraram este livro. Caso não consiga ter acesso, clique aqui
Blue Edwards é a tecladista da Drops Of Jupiter. Uma mulher
determinada, que protege todos aqueles que ama. Ninguém sente na
mesma intensidade que ela. Blue não esquece quem a machuca e o rosto de
Jake Collins é o primeiro da lista.

Jacob Collins, mais conhecido como Jake, é o vocalista da Selfish


Hearts, banda rival da Drops Of Jupiter. Adora a mídia, os fãs e ser o

queridinho das capas de revista. É o típico rockstar cafajeste. Porém, não


há nada de típico no que ele encontra no olhar sedutor de Blue Edwards, a
mulher que o odeia.

Seria pecado se sentir atraído por quem desperta seu pior lado?

As atitudes de Jacob magoaram as pessoas que Blue mais ama. Ela


não perdoa. Ele nunca pede perdão. Chegou a hora do acerto de contas.
Quando você se apaixona pelo seu maior inimigo, quais as chances
de esse ser o pior erro da sua vida?
Sinto como se estivesse prestes a pisar no céu e as borboletas no
meu estômago parecem confirmar isso, a cada bater de asas. Nunca estive

em um palco tão grande, mas os gritos alucinados da multidão lá fora só


fazem, crescer em mim, o desejo de estar de frente a eles.

Estou na lateral do palco, enquanto o restante da banda se prepara


para entrar. Antes de todos os shows, pedimos por uma noite incrível e
agradecemos pelas memórias que colecionaremos daquele dia. Nos
abraçamos mais forte essa tarde, buscando transmitir segurança para um
dia tão importante.

Meu piano acabou de ser posicionado no centro do palco. A voz de

Mason ecoará pelas caixas de som e imagens serão refletidas nos telões,
enquanto eu tocarei ao vivo um solo. Por alguns poucos minutos, eu sou
aquelas teclas. Quando meus dedos se movem e as notas musicais soam
pelo ar, sinto-me a pessoa mais forte do mundo.

Minhas mãos são grandes companheiras. Desde que vovó Olívia


me ensinou a tocar, quando tinha cinco anos, sinto-me poderosa por
conseguir transmitir algo através dos meus dedos, uma paixão capaz de
curar corações, inclusive, o meu.

Sempre me imaginei cursando música, pensava que ganharia a vida


vendendo minhas letras, e talvez, também ensinando pessoas a tocar.
Quando não se é um cantor, às vezes, parece que o sucesso está mais
distante, e por mais que minha voz não seja tão feia, definitivamente, meu

talento não está contido nas cordas vocais. Se alguém me falasse que antes
dos vinte e cinco anos, estaria fazendo show em um dos festivais mais
famosos do mundo, provavelmente, eu debocharia dessa pessoa.

Quando a Drops Of Jupiter surgiu, nós tocávamos nas festas dos


amigos da escola. Os pais de Ella e Logan iam buscar Chris e a mim em
casa, e por último, o Mason. Eles nos deixavam, avisavam sempre para ter
cuidado com drogas e garotos, as meninas para não terem bebês, e os
meninos para não se meterem em brigas. Lembro das noites que

ensaiávamos na garagem do meu pai até ele chegar do trabalho e nos

expulsar da vaga do carro.

Hoje, de pé aqui, ouvindo a euforia desse lugar, sentindo o calor


sob meus pés, o palpitar do meu coração, eu estou tão orgulhosa da garota
que sentava no pequeno banco do teclado e tocava por horas seguidas, para

lidar com todos os abandonos.

Nós conseguimos pequena, Blue! Nós estamos bem e somos


poderosas!

O apresentador sobe no palco e só percebo que não estou mais


sozinha quando sinto uma mão tocar minha cintura, Mason sorri quando
nossos olhos se encontram. Ele sempre faz isso, me encoraja com aquele
sorriso de quem acredita que sou capaz de salvar o mundo. Logan chega
logo depois, e por ser mais alto que eu, apenas beija meus cabelos. Abraço

Ella e enlaço minha mão na sua. Essa é a minha família. Quando sinto que
estou em queda livre em direção ao chão, são eles que me seguram antes
do impacto.

— Prontos para a noite que vai mudar nossas vidas? – Logan


pergunta.

Esse é o seu mantra. Todas as noites importantes que vivemos


começam com essa pergunta e só em nos olharmos, já sabemos a resposta.

O nome da nossa banda é gritado no microfone e dou o primeiro

passo. Quando o vento me alcança, ele vem acompanhado da euforia da


plateia e só consigo sorrir. Sento no meu lugar e foco nas teclas a minha
frente. Quando o primeiro Dó toma conta do palco, sei que estou pronta
para dar tudo de mim.

São notas fortes, hora rápidas, acompanhando o um minuto e meio


onde Mason fala sobre sonhos e persistência; hora lentas, enquanto ele fala
sobre amor, falhas e conquistas. As cortinas estão a ponto de se encontrar,
o nó das borlas é desfeito, sei exatamente quantos segundos o imenso
tecido preto demora para me esconder. Meu indicador toca a última tecla,
no exato momento em que o pano se fecha.

Sorrio, sentindo o coração pronto para me fazer ter um ataque


cardíaco. Olho em direção à lateral do palco e meus olhos se deparam com

cabelos desgrenhados e um sorriso presunçoso, mas quase com um fundo


de orgulho, como se os braços fortes e tatuados, cruzados de frente ao
peito, mostrassem que aquela confiança em seu rosto é um reflexo do que
acabei de fazer. Um dos feixes de luz o atinge rapidamente, fazendo minha
visão ficar mais clara, então, a decepção veio. Era Jacob Collins, o
vocalista da Selfish Hearts, um babaca da pior espécie. Tudo o que pensei
segundos atrás foi direto para o lixo, já que nada de bom vem desse
homem.

Meu piano já tinha sido carregado para o lado esquerdo do palco,

onde eu ficaria essa noite. Enquanto Mason ocupa o centro, Ella e sua
guitarra estão na outra lateral, e Logan se posiciona no alto em seu
pequeno palco particular com a bateria. As notas da guitarra começam e
contamos até três mentalmente, as baquetas de Logan encontram os pratos,

as cortinas vão ao chão e quatrocentos e oitenta mil pessoas gritam por


nós.

A sensação que se espalha pelo meu corpo é como se anjos


estivessem me recebendo no céu. É isso que cantar representa para mim,
estar em constate contato com a possibilidade da eternidade, do paraíso.
Assim, Mason começa a cantar.

“Você me amou com as piores intenções,

Tirou meus pés do chão,

Me fez sentir as nuvens,

Quando na verdade eu estava caminhando

com o meu maior pecado”


A noite foi incrível. O show e a interação com o público foi uma
experiência que nunca tínhamos vivido antes. Todos os shows são

especiais, mas essa era a nossa primeira vez em um festival, e as pessoas


sabiam todas as nossas canções. Os fãs jogaram coisas no palco, pessoas
tinham cartazes e tiaras com nossos nomes, eles ligaram as lanternas dos
celulares na hora da música de Ella, sem que nós nem pedíssemos.
Estavam ali por nós, queriam nos ver, e isso é a prova viva de que
seguimos o caminho certo.

É como se tivéssemos trilhado passos pelo caminho de tijolos de


ouro, mas só descobríssemos que pegamos a direção certa quando

chegamos ao final e olhamos para trás. Deu tudo certo!

— Blue, vai acontecer a troca de palco para a próxima atração, e


em trinta minutos, os camarins serão liberados. – Michael, nosso
empresário, me orienta. — Preciso que esteja pronta no horário, por favor.

— Certo! – concordo. E ele sai em busca de alguém.

Nesse evento precisamos ser mais rápidos, porque são muitas


bandas e pessoas, então tudo é programado e cronometrado, por isso os
avisos de Michael e também porquê, às vezes, ele fica descontrolado com a

nossa facilidade em esquecer os horários dos compromissos.

Nossas bocas não paravam de tagarelar um minuto quando


dividimos o espaço reservado para a Drops Of Jupiter. Troquei de blusa
rapidamente e retoquei o perfume, assim como, a maquiagem. Bebi o

máximo de água que consegui e roubei um pãozinho das mãos de Logan


para comer antes das pessoas começarem a entrar. Anteriormente à entrada
dos fãs, os seguranças se posicionaram, a equipe de fotos ligava a
iluminação e todo o restante da equipe ficava nos cantos, para dar espaço a
quem desejava nos conhecer.

— Chegou o seu segundo momento favorito. – Mason apoia seu


corpo na mesa ao meu lado, enquanto morde uma maçã.

— E o que você tem mais pavor. – brinco e ele faz uma careta. —

Se existem pessoas que não irão invadir seu espaço, são essas. São suas
fãs, te conhecem como ninguém e talvez te amem até mais que eu.

— Impossível alguém me amar mais do que você. — sorri


presunçoso e reviro os olhos. — Ainda sinto como se estivesse dormente.
Meu sangue com certeza está correndo mais do que um carro em
competição de rally. – comenta e sorrio.
— Depois de quase duzentas fotos e estar sentindo que sua córnea
foi queimada pelos flashes, você vai se sentir melhor. – brinco e ele

concorda.

Michael abre a porta e nos organizamos, esse é o nosso sinal. Uma


garotinha passa por debaixo dos braços dele e não consigo conter o riso
com a fofura da cena. Sua mãe entra logo atrás e cumprimenta todos nós.

Logan está com a menina no braço e pousamos juntos para registrar, de


uma forma especial, uma lembrança para aquela garota que só sente amor
por nós.

Depois de algumas horas, somos liberados e tudo que quero é uma


cama confortável. O hotel estava um caos, pois as gravadoras fizeram uma
estratégia de marketing e colocaram todas as atrações do festival no
mesmo lugar. Tinha cerca de sete bandas divididas entres os quartos e
andares do lugar. Os donos fecharam para o público e só os artistas estão

hospedados. Isso deixou os fotógrafos e canais de imprensa loucos.


Conseguir passar pela barricada que eles montaram na porta principal é um
grande trabalho, mas as equipes de segurança fazem sempre um ótimo
trabalho.

Fiquei longe do restante da banda, Michael disse que o andar foi


preenchido, mas eu estaria dividindo o corredor com o pessoal da nossa
gravadora. Me despedi dos meus companheiros quando eles desceram do
elevador no andar de baixo, cheios de presentes que ganharam essa noite.

Quando as portas se abrem, abraço a enorme sacola e caminho até minha

porta, mas sussurros chamam minha atenção.

Um homem está de costas para mim, apoiado na porta do final do


corredor. Ele não parece feliz pela forma como sua voz fica cada vez mais
rápida e seus dedos se apertam contra a madeira. Veste uma calça jeans

preta, coturnos da mesma cor e uma jaqueta de couro grande para o seu
tamanho. Suas costas são largas e mesmo me considerando alta, com meu
um metro e setenta e três centímetros, sei que ele me cobriria com
facilidade.

— Vá a merda, Johnson. – a voz potente sai fria, quase como uma


ameaça. Ele queria gritar, era perceptível, mas algo o impede.

Seu punho soca a porta com toda força e me assusto com a ação
repentina — meu cérebro de fofoqueira está concentrado demais, tentando

entender o que ele falava — a sacola cai da minha mão e o barulho, o faz
perceber minha presença.

Pela segunda vez no dia, Jake Collins está com os olhos


concentrados em mim. A expressão dura mostra o quanto seu rosto estava
tenso, algo estava tirando seus malditos miolos do lugar, mas no segundo
seguinte, a máscara do sarcasmo está ali. O sorriso debochado surge e eu
desvio o olhar.
Aproveito que a sacola está no chão e pego o cartão do quarto
dentro da bolsa.

— Ouvindo a conversa dos outros, Drops? Que feio! – seu tom é


calmo e provocador. Reviro os olhos e ele se aproxima.

— Não dirija seu veneno a mim se não consegue nem pronunciar o


meu nome, Collins. – destravo a porta e alcanço a sacola. — Aliás, é até

bom, evita que eu gaste minha saliva com pessoas que tem o intelecto
como o seu.

— Blue Dawson Edwards. – fala meu nome completo e lhe dirijo


meu olhar mais desinteressado. — Acha mesmo que não conheço meus
inimigos? Aposto que posso acertar até a última coisa que comprou no
cartão de crédito.

— Nossa, que interessante. Além de todas as coisas ruins, agora


você também virou maníaco. Vou te passar o número da minha terapeuta,

ela é ótima. Talvez assim não acabe se afogando em toda a maldade que
existe dentro de você.

Sorri pelo nariz e se encosta na parede ao lado da porta do meu


quarto. É uma pena esse garoto ser o diabo em forma de gente. Jake
Collins é um homem amargo e repugnante. Ele não mede esforços para
derrubar as pessoas e o seu alvo principal é o Mason, meu melhor amigo.
Nossas bandas fazem parte da mesma gravadora, mas nossos fãs criaram
uma rivalidade indescritível e ele alimenta isso. Não esconde de ninguém o

quanto nos detesta e todas as mídias sabem da guerra declarada entre nós.
Tudo começou a partir dele, de uma briga desnecessária, criada por um
homem que precisa pisar em alguém para se sentir bem.

A tatuagem no pescoço chama minha atenção, ela não estava ali da

última vez que nos encontramos, semanas atrás. Ele é a descrição perfeita
de um deus do rock. Maxilar forte, corpo definido, desenhos por vários
lugares do corpo, lábios finos, olhos doces e misteriosos, e uma voz capaz
de te tirar do chão. Jake é o pecado que você comete e não se sente mal por
isso. É um desperdício alguém tão bonito por fora, ser o total oposto disso
por dentro.

— Vi sua apresentação essa noite. – dá de ombros como se


estivesse desinteressado. — Quando sua banda acabar, o que todos nós

sabemos que vai acontecer logo, já que vocês são péssimos, você pode
fazer um teste para a Selfish Hearts, acho que podemos te ensinar algumas
coisas. – não consigo conter a gargalhada.

— Não que isso vá acontecer, mas eu prefiro arrancar meus dedos a


tocar para você, Collins.

Não lhe dou mais tempo para falar. Entro no quarto e fecho a porta
na sua cara. Minha paciência têm limites e Jacob parece gastá-la com mais
rapidez do que qualquer outro ser humano.

Definitivamente, eu odeio Jacob Collins.


“Por trás de você, andam dizendo por aí

Que o fogo no seu coração apagou

Tenho certeza que você já ouviu tudo isso antes

Mas você nunca teve dúvida

Eu não acredito que alguém

Sinta por você o mesmo que eu sinto agora”

WONDERWALL | Oasis

CINCO ANOS DEPOIS


— Querida, ainda não acredito que você conseguiu me convencer a
viajar para passar o final de semana com você. – vovó Olívia diz enquanto

lavo a forma dos biscoitos que preparei para nós.

— Entenda, eu não posso ficar um mês sem te ver. Meu coração é


fraco. – brinco, mas é a mais pura verdade.

— Eu também não gosto quando você trabalha demais e não

consegue ir me ver, Bae. – repreende-me carinhosamente e sorrio. Esse é a


maneira que Dona Olívia tem de chamar minha atenção.

— Tivemos show na sexta, você sabe, vovó. Não conseguiria


chegar até você antes do final da tarde. Mas amei nosso dia ontem e hoje
você vai até a gravadora comigo. – aviso e sorrio esperando seu protesto.

Tiro os biscoitos do forno e coloco entre nós na ilha da cozinha.


Mordo um e vejo que acertei o ponto. Amo cozinhar. Testar todas as
receitas que vejo nas redes sociais é meu hobby favorito. Meu pai teve uma

parcela enorme de influência no meu gosto pela culinária, sua comida é


fantástica, mas como trabalhava a semana inteira precisou ensinar Parker e
eu a cozinhar. Lembro que todos os finais de semana ele fazia sua famosa
carne no forno com batatas, e eu adorava.

— É domingo, Blue. Você tem que descansar, menina! Vou puxar


a orelha daquele homem que quer te escravizar. Ele acha que dinheiro é
tudo nessa vida! – sei que ela está falando sobre Michael.

Já é típico ouvir vovó reclamar da forma como trabalhamos muito,

mesmo depois de quase nove anos ainda fazemos sucesso, inclusive,


estamos em uma fase que nunca vivemos antes. Está sendo fantástico.

— Vamos apenas assinar um contrato de urgência, vovó, vai ser


rápido. E depois podemos ir tomar um sorvete no píer, eu vou dirigir. – ela

foi convencida na hora que falei em sorvete, mas não desfez a seriedade
contida em seu rosto.

— Deus proteja nossas vidas. – pede e gargalho. — Você no


volante é um perigo! — Sento ao seu lado e comemos.

Olívia é quem posso chamar de mãe. Quando sua filha e meu pai
resolveram acabar o casamento, eu tinha cinco anos, mas a separação
nunca foi o problema e sim o caráter de Natacha. Tenho lembranças
marcantes com minha mãe e foi ela quem me apresentou a música,

ouvíamos juntas todos os seus vinis. Recordo que me deitava em seu peito
e ela penteava meus cabelos com os dedos enquanto cantarolava todas as
canções. Não sei em que momento da vida ela se perdeu de nós.

Natacha não brigou para ficar comigo ou Parker. Não existiu


envolvimento jurídico até alguns anos depois, quando meu pai quis
assegurar que ela jamais conseguiria nos tirar dele. Existiam visitas nas
férias quando eu estava na casa da minha avó e não me recordo de viagens
dela para chegar até nós. Sua desculpa sempre foi a distância, porque o

trabalho do meu pai nos fazia estar sempre nos mudando, cada vez para
mais longe. Bom, isso nunca foi impedimento para vovó nos ver, mas
minha mãe tinha suas desculpas esfarrapadas.

Eu não tinha nem dez anos quando ela se mudou para a Europa, e

desde então, me liga duas ou três vezes por mês para saber como estou e
comentar sobre o que tem visto nos jornais. Pelo menos ela não quis se
aproveitar da minha fama, como papai pensou que aconteceria. Cheguei à
conclusão que sou tão insignificante para ela que nem ser famosa
mundialmente muda o fato de ela não me querer por perto.

Todos os verões, eu viajava para casa da minha avó e foi lá onde


aprendi tudo que sei. Na época, estava muito abalada com a partida de
Natacha, então Olívia me ensinou a tocar piano. Vovó tinha um na sala

principal e não tocava muito, mesmo tendo sido uma jovem muito
apaixonada por música. Acho que herdei muita coisa dela. Lembro que
quando nos estabelecemos em Salem e meu pai finalmente conseguiu se
fixar em um lugar, ela o obrigou a me inscrever em aulas particulares.
Papai ama Olívia e eu sou completamente encantada pela forma que eles
nunca deixaram Natacha afetar sua relação. Parker e eu seríamos capazes
de dar a vida por nossa avó, às vezes acho que meu pai também seria.
Tomo um banho relaxante e escolho uma saia longa para vestir,
passaríamos à tarde na praia, e não quero nada me apertando. Escolho

minha típica blusa preta de mangas curtas que é minha peça preferida – e
tenho várias do mesmo jeito –, a coloco por dentro da saia e calço meu
converse branco de guerra. Minha bolsa fica sempre pronta, então confiro
apenas os documentos. Aviso a equipe de segurança que vou dirigindo,

então eles apenas acompanham.

O caminho não é muito longo, a gravadora fica em uma área bem


central e como não estamos em uma época do ano de muitos turistas, as
ruas ficam mais tranquilas nesse horário da manhã.

— Não acredito que a avó mais incrível do mundo veio nos ver. —
Mason diz ao abraçar Olívia.

— Você está tão bonito, garoto. — segura seu rosto e o olha com
atenção. — O amor tem lhe feito bem. Onde está sua garota? — pergunta

por Demi.

— Em casa. Hoje vai ser rápido, ela ficou dormindo. Mas, como
está sendo sua visita a cidade? – ele enlaça o braço dela no seu e a leva
para dentro.

Conheço Mason há mais de dez anos e ele é meu melhor amigo


desde então. A banda começou por causa dele e do desejo de Chris em ver
o amigo ser o astro que merecia ser. Sinto falta dele e sei que Mason nunca
vai perdoar completamente a vida por ter levado Chris tão cedo.

Somos completos opostos. Eu sou a pessoa que se mete em brigas


por ele, mas quando ele entra em brigas por mim, ninguém o faz parar. No
início, não coloquei muita esperança na nossa relação, acreditei que ele
seria mais uma das pessoas que partiria da minha vida, sou acostumada a

isso, mas Mason começou a me acompanhar até em casa e atender meus


telefonemas na madrugada, independente de com quem ele estivesse.

Sempre ouvi histórias de que devemos ter um contato de


emergência, ele servirá para caso você sofra um acidente, seja preso, esteja
tendo um bebê, precise chorar, ser salva ou fofocar. Mason é o meu
contato de emergência. É a pessoa que será chamada caso alguma coisa,
boa ou ruim, aconteça comigo.

Os tabloides insistiam em nos inventar namoros e sempre foi

negado, pensar em beijar May é nojento. Ele é a porra de um gato, mas não
deixa de ser o garoto que me pede para conferir como está seu hálito antes
de qualquer contato que terá com alguém. Vivemos as situações mais
inusitadas, idiotas e patéticas durante esses anos de amizade, como
também dividimos os melhores momentos de nossas vidas.

Ganhamos prêmios importantíssimos, subimos nos maiores palcos


mundiais, vimos Dirty Dancing mais de cinquenta vezes e isso inclui
países diferentes, o vi encontrar a mulher da sua vida e pretendo ser tia

logo. Toda a minha família o ama, assim como a sua a mim. Sabemos tudo

um do outro e quando ele chega vovó Olívia esquece completamente que


eu sou a sua neta.

No fundo, acho que ela não consegue resistir ao charme dele, mas
não a julgo. Se existe um homem digno, esse é Mason White.

Michael e Ella ainda não chegaram, mas como ele odeia atrasos,
devem estar aqui em menos de dez minutos. Abraço Logan e sentamos na
sala de convivência para conversar. Vovó pergunta sobre a vida de todos e
entramos em uma conversa engraçada sobre os casos amorosos de Logan,
que ela sempre vê saindo na televisão.

— Vovó, vou te deixar só por alguns minutos e já volto. – aviso


quando vejo nosso empresário entrar acompanhado da minha parceira de
banda.

Eles param para falar com minha avó até porque ela é
completamente apaixonada por Ella. Logo estamos entrando no escritório
para resolver os últimos ajustes da nova turnê. Os shows começam amanhã
e precisamos assinar um dos contratos de patrocinadores que precisou de
alguns ajustes.

Tudo foi revisado com o advogado da gravadora e Parker, meu


irmão e advogado pessoal, já tinha analisado tudo e me dado a certeza que
estava como solicitado. Repassamos a ordem das músicas que seriam

cantadas e confirmamos o horário da passagem de som.

Quando saio da sala de reunião colido com um corpo forte. Mãos


grandes me seguram pelos cotovelos e me agarro a sua camisa. Tudo
acontece muito rápido.

— Desculpe, não vi você entrando. — procuro o rosto ao me


desculpar.

— Bluezinha, não se desculpe por não resistir e se jogar em mim.


— afasto meu corpo das mãos de Jacob.

— Você sempre no caminho, Collins. – olho-o feio e Logan passa o


braço pelo meu ombro.

Ele me conduz para fora da sala como se Jacob não estivesse


ocupando quase toda a passagem. Seguimos pelo corredor, que atravessa

todo o andar da gravadora, dando acesso à várias salas. Uma sensação de


familiaridade e estranheza me bate, não é sempre que tenho contato físico
com Collins, mas suas mãos sempre parecem quentes.

— O que aconteceu por aqui? — pergunto ao entrar na sala que


vovó Olívia me espera. Ela está com um sorriso enorme no rosto.

— Oh, você não vai acreditar! — fala empolgada e sorrio, sentando


ao seu lado. — Conheci um rapaz que trabalha aqui, mas não consigo
lembrar o nome dele. Ele é tão bonito, Blue, você deveria paquerar com

aquele garoto. — gargalho.

— Conheço todo mundo que trabalha aqui e nenhum serve para


namorar, vovó. — garanto.

— Esse garoto é o tipo de homem que você gosta. Cheio de

tatuagens e cara de mau, mas na verdade é um doce de pessoa. – sorrio da


sua empolgação, pelo visto ela se encantou pelo tal rapaz.

Jake.

— Todo mundo tem tatuagem e cara de mau aqui, Dona Olívia.


Mas se for quem estou pensando, eu prefiro ser presa do que me
envolver com ele. – ela me repreende com o olhar e sorrio.

Depois de beijos e se despedir de todo mundo, inclusive de


Michael, fomos juntas para Santa Mônica.

A primeira vez que estive em Los Angeles, Parker me


acompanhou. Ele é mais velho que eu seis anos e sempre foi um homem
muito bom. Fez faculdade apenas a algumas horas de distância para que eu
não precisasse ficar sempre sozinha quando papai estivesse no trabalho. É
mais reservado, mas adora contar piadas que não tem graça e mesmo assim
nos faz rir. Ele casou há alguns anos e os natais são sempre comemorados
na casa deles. A ação de graças é em Salem e nas viradas de ano, eu os

levo para viajar.

Eu ainda era muito jovem quando as coisas começaram a mudar na


minha vida e era meu irmão quem abria mão de julgamentos e causas para
não permitir que ninguém tentasse me prejudicar. Atualmente, ele trabalha
para mim e sou muito grata por todas as vezes em que ele abriu mão de

algo que lhe beneficiaria para lutar pelo meu sonho comigo.

A primeira vez que estive nessa sorveteria, Parker tinha alugado


um carro e já era pôr do sol. Definitivamente, o Píer de Santa Mônica tem
o início de noite mais encantador que já vi. Ouvimos pessoas tocarem e
cantarem, experimentamos coisas novas e o mar nos hipnotizava com sua
força bem abaixo de nós. Acredito que naquele dia algo já me dizia que
meu destino era essa cidade.

Depois de alguns anos, descobri que além de muito aconchegante,

esse lugar tem as melhores festas. Sou uma pessoa da noite, não posso
negar. Quando estou de folga e temos alguns dias entre um trabalho e
outro, eu estou dançando por toda L.A.. Festas privadas, lugares públicos,
boates, encontros sociais, restaurantes, essa cidade não para. A Cidade dos
Anjos pode te fazer pecar muito mais do que se pode imaginar e eu sou a
primeira na fila.

— Tenho uma campanha para gravar em Nova Iorque em algumas


semanas e talvez consiga ter um dia de folga, pensei em ir a Salem para

visitar. — comento com ela.

— Seu pai está menos difícil esses dias? — sua boca suja com o
sorvete e ajudo a limpar. — Ele me ligou antes da viagem e pediu para
olhar tudo por aqui, já que você não o deixa visitar. — reviramos os olhos.

— Não brigamos há uma semana, isso é um recorde nos últimos

meses. — rio sem humor.

— Jamais entenderei porque aquele homem se tornou tão


amargurado. Deveria cuidar da própria vida e lhe deixar em paz. – rio

— Vovó, e qual seria a diversão da vida dele? Acho que resta nada
ali além do que seu desejo constante de me irritar.

— No dia que ele for pagar os pecados, vai arder no fogo do


inferno. – não consigo conter a gargalhada.

Tiro várias fotos com as pessoas que se aproximam e depois de

almoçarmos, voltamos para casa. Ajudo minha avó com suas malas e
confirmo o horário do seu voo. Sempre fico preocupada de vê-la viajando
sozinha, mesmo sendo no avião da banda, mas acabamos criando esse
hábito por consequência do tempo que ficamos sem nos ver.

Durante os anos de estrada percebi que é muito fácil se sentir


sozinho. Se sentir perdido. Quanto mais alto as pessoas gritam sobre sua
perfeição, mais o seu interior expõe que você é o oposto disso. Sentir que
ninguém te ouve quando se está rodeado de pessoas é como gritar em uma

sala vazia, o eco retorna para você.

Já estive no chão muitas vezes. Pensei em jogar tudo para o alto.


Viver do seu sonho não significa que você será isento da dor que lutar por
ele traz. Conheci diversos lugares do mundo, tenho amor, família, amigos

leais, dinheiro, pessoas que acreditam em mim, mas falo com toda certeza,
para se perder basta pisar um milímetro fora da curva.

Meu ponto de equilíbrio no mundo é minha avó. Quando tudo ao


meu redor é escapável e nada é confiável, sei que tenho onde me ancorar.
Amar verdadeiramente não é sentir, mas sim, ter a certeza, de que seu lar
não é um lugar que possa ser encontrado no mapa, porque ele é o coração
de alguém.
“Eu me sinto vivo

E o mundo, eu vou virá-lo do avesso, sim!

Estou flutuando por aí em êxtase

Então não me pare agora

Não me pare”

DON’T STOP ME NOW | Queen

Você já esteve em algum lugar muito alto, um prédio, uma


montanha ou no pico de algo, respirou fundo e olhou para o que estava
abaixo de você? Nesse momento, existe um misto de sensações que são

despertadas no corpo humano. Por um milésimo de segundo a respiração

para, o coração se mantem tranquilo, seus olhos brilham, a vista é


impactante e você se sente capaz de tudo. Esse é o mesmo sentimento que
uma pessoa tem quando não possui absolutamente nada na vida e isso
muda. Eu vivi no fundo do poço por tantos anos que não conseguia mais

ver luz. Acredito que, por muitas vezes, a pá estava na minha mão
enquanto a profundidade crescia sob meus pés.

Fui o que a sociedade despreza e o meu mundo era tudo o que


tentam negar, esconder e rechaçar. Porém, foi onde as pessoas consideram
o pior lugar para se estar que eu fui salvo.

Joana era vizinha e amiga da minha mãe desde antes do meu


nascimento. Uma mulher que perdeu o marido muito cedo, o qual, não
cheguei a conhecer. Tem um filho da minha idade, Anthony, meu grande

amigo da infância. Às vezes, quando criança, me perguntava do porquê


não tinha a mesma sorte dele, de ser amado pelas pessoas que me geraram.

Não tinha inveja dele, só que meus pensamentos infantis ficavam


confusos por ele não viver o mesmo que eu vivia. Quando só se tem
contato com uma realidade, acredita-se que aquela é a única existente.
Uma criança muito jovem não entende quando vê o pai surrar a mãe até
quase a morte por diversas vezes na semana, e que isso não é normal em
outros lugares.

Lembro que em todos os meus aniversários, desde o primeiro,

Joana me deu livros. Os primeiros eram contos infantis, depois sobre


histórias de vida, biografias, e quando cheguei a pré-adolescência, livros
sobre música e grandes nomes do meio artístico. Ela enfrentou meu pai
pela primeira vez quando completei cinco anos e ainda não estava na

escola. Desde aquele dia, ela me matriculou em instituições públicas todos


os anos. Levava meus documentos e respondia por mim.

Aimee, minha mãe biológica, quando estava sóbria ou tinha forças


para circular pelo bairro, conversava por horas com nossa vizinha e
agradecia por tudo que ela fazia por mim. Mamãe era vítima e por conta da
dependência emocional e química, não conseguia se separar de Joel, meu
pai. Por um lado, eu a entendo. Ele foi sua única família já que meus avós
a abandonaram quando souberam da sua gravidez, e ela tinha apenas

dezessete anos na época.

Acredito que herdei isso dela, o amor incondicional a minha


família, só não de uma forma doentia. Quando Joel foi assassinado, eu
tinha pouco mais de dez anos, traficantes tiraram sua vida pelas dívidas
imensas que tinham, e Aimee entrou em uma depressão profunda. Joana e
eu cuidávamos dela da forma que conseguíamos, então, um dia, voltei da
escola e ela tinha tomado banho, cozinhado e estava feliz. Nunca tive tanta
esperança de que finalmente seríamos felizes. Ajudei-a a conseguir um

emprego de garçonete em uma lanchonete perto da nossa casa, mas logo

ela conheceu um novo cara.

Minha mãe estava apaixonada e ele era bom para ela, a tratava
bem, a acompanhava até o trabalho todos os dias, não a deixava se cansar e
tentou livrá-la do vício por anos. Mas, existia um detalhe que nunca

compreendi, ele me odiava. Inventava mentiras, fazia com que minha


relação com Aimee se tornasse um completo inferno e sempre gritava
comigo. Meus irmãos chegaram depois de um ano e tudo piorou. Meu
padrasto me trancava por dias em um quarto, me designava todo o trabalho
pesado, mas era o melhor pai para Cora e Nathan e um marido exemplar.

Eu nunca entendi porque as pessoas me odiavam. Eu não era capaz


de ser amado. Não sabia o motivo de tanta raiva direcionada a mim, mas
eu era o problema. Todos estavam felizes e bem, só eu era quebrado.

Acreditava que um dia, saberia o que fazia para as pessoas simplesmente


me odiarem, mas até hoje não descobri.

— Então, Jake, como a música entrou na sua vida? – a


entrevistadora aponta o microfone em minha direção.

Essa entrevista está destravando todos os meus gatilhos, mas eu


tenho que concluí-la ou Dani me matará, portanto, forço um sorriso
despreocupado.
Eu sou um ótimo ator!

— Uma professora viu talento em mim muito cedo e me fez entrar

na turma de canto da escola. Entrei para a banda do colégio e era minha


paixão naquela época. Eu era o garoto diferente, nada parecido com o
restante dos componentes da banda. Normalmente, são as pessoas mais
estudiosas ou que precisam de pontos para a faculdade que entram nesses

grupos, eu era apenas o garoto problema. Mas, tive a sorte de cruzar com
muitas pessoas que acreditaram em mim. Essa mulher mudou minha vida e
sempre serei grato a ela. — respondo com sinceridade.

Marta me ouviu cantando nos corredores por acaso e me arrastou


até o conselheiro. Seus olhos brilhavam de empolgação. Eu amava música,
discos, CD’s, festas e sentia algo diferente no meu corpo quando cantava.
Ninguém nunca tinha reparado nisso, acredito que nem eu. Quando aquela
mulher me perguntou se eu gostaria de ser um grande músico, concordei

sem nem perceber. Joana me ajudava a lidar com meus pais para ir aos
ensaios a tarde e depois da primeira aula, eu soube que aquilo era eu. Meu
dom era a minha voz!

— As pessoas comentam sobre a forma que descobriram seu


talento até hoje. Como se sentiu quando aquele caça talentos te parou na
rua? — ri, porque era a quinta vez nessa semana que me faziam a mesma
pergunta.
A mídia é incansável e ela quer ouvir de você às mesmas palavras
incontáveis vezes para ver se conseguem um deslize que acabe com você.

Olho para Daniel por cima dos ombros da repórter e ele entende que minha
paciência está no limite. Meu empresário faz um gesto indicando que essa
é a última pergunta e desvio meus olhos dele.

Eu amo ser o centro das atenções. Amo ser aclamado, ovacionado,

adorado. Sou apaixonado por fazer capas de revistas, comerciais,


participação em filmes, clipes e programas de TV. Nada disso me
incomoda, mas estou há quase onze anos no meio e existem dias que canso
de ouvir a mesma coisa que escuto desde a primeira vez que fiquei de
frente a uma câmera. As pessoas precisam buscar inovação para
acrescentar às suas fofocas e não se afundar na mesmice.

— Aos dezoito anos, eu tocava em uma esquina no centro de Nova


Iorque. O proprietário me deixava cantar para atrair os clientes. Inclusive,

vão até a loja do Wall, na 34th Street em Manhattan, ele vende bolos
incríveis. — falo descontraído para a câmera. — Ele tinha um violão,
então eu cantava na calçada e um dia Dani estava passando por lá e me
ouviu. Não falou comigo de cara, aquele canalha. — rimos. — Eu achei
que era mais alguém tentando me enrolar. Era jovem e não confiava nas
pessoas, mas ele me deixou o mais confortável possível e me convidou
para um café com alguns amigos dele. Quando entrei, Gabe Harris e
Timothy Maxine da 93 Million Miles estavam lá, na mesa com Dani, e
bom, não tinha como ser mentira. — rimos.

— Agradecemos sua participação na nossa edição mensal da


revista, gostaríamos de algumas fotos exclusivas, como combinamos
anteriormente. — ela sorri e apertamos as mãos.

Gosto de trabalhar com pessoas profissionais. Marie e eu já nos

encontramos para alguns drinks, conseguimos ser muito bons na cama e na


conversa. Espontaneamente fomos deixando de nos ver, e isso foi natural
para os dois. Sempre nos esbarramos em eventos e apareço bastante no
jornal e na revista que ela trabalha. Marie age com toda a cordialidade e
simpatia que trata todos. É competente e muito boa no que faz. Sua
inteligência é sexy.

— Eu quem agradeço por mais um momento tão agradável. Vamos


concluir as fotos ou Dani me joga do avião se eu não estiver em L.A. no

horário correto. — brinco e ela me leva até a sala que o fotógrafo me


aguarda.

O que ninguém sabe é que Dani me encontrou morando na rua,


tocando violão e cantando para conseguir jantar. Saí de casa aos dezesseis
porque não aguentava mais conviver com meu padrasto e ser um peso nas
costas de Joana. Ela adoecia de tão preocupada que ficava comigo, não
aguentava mais ver a pessoa que mais amava no mundo daquele jeito. Ela
me fez prometer que continuaria a estudar e eu caminhava para a escola

todos os dias, tomava banho nos vestiários e Anthony sempre me levava

roupas limpas, escondido da mãe dele.

Vivi dois anos caminhando entre abrigos e as calçadas de Nova


Iorque.

Posso dizer que minha vida foi definida em três momentos e por

três pessoas. Primeiro, foi Joana, a pessoa que mais amo nesse mundo e a
quem sou eternamente grato. Me ensinou sobre perseverança, força, a
importância da educação, cuidado, carinho e amor. Segundo, Marta, a
mulher que acreditou na minha voz. Foi minha primeira apoiadora na
música, acreditou que eu poderia ser mais, quem me fez descobrir e ver
que era capaz. Foi quem me ensinou sobre o batalhar por mim, não desistir
e sonhar. Terceiro, Daniel, meu empresário. O homem que mudou
completamente minha vida. Ele me ensinou sobre acreditar, crer que a vida

pode nos surpreender.

— Peter me ligou e avisou que já chegou ao aeroporto. — Dani diz


quando entramos no carro, indo em direção a minha casa.

Escolhi continuar morando em Nova Iorque e manter minha casa


aqui para ficar perto dos meus irmãos e de Joana. Meus irmãos estão na
faculdade e sempre ficam entre ir e vir. Tenho um apartamento em L.A.
porque a maioria do meu trabalho nasce lá, a gravadora, as gravações,
lançamentos e eventos. Só que minha carreira não pode ser minha única

prioridade, então encaro algumas horas de voo para ter o melhor dos dois

mundos.

— Ótimo, assim podemos ir direto para casa quando pousarmos. —


fico aliviado.

— Você está impaciente, Jake! O que tem te perturbado? — Dani

pergunta.

Não tem como disfarçar e para ele não preciso, Daniel me conhece
muito bem.

— Aimee está dando problemas. — olho as calçadas lotadas pelo


vidro da janela. — A clínica me ligou e disse que ela estava escondendo os
medicamentos de novo. Definitivamente, acho que ela nunca mais vai se
recuperar.

— Jake, ainda é recente para ela. Faz seis meses que ela teve a

overdose, foi muito grave. Ainda está em recuperação, mas ficará bem. —
tenta me tranquilizar

— Pensei que depois de anos na clínica ela melhoraria. Mas no


primeiro final de semana conosco fora daquela merda, ela fugiu e se
drogou até quase a morte. Deus, Dani! Ela perdeu quase oitenta por cento
da visão e teve paradas cardíacas. Ela estava literalmente azul na porra da
hora que a encontramos jogada em uma calçada. — sinto a revolta circular

com meu sangue.

Eu estou acostumado a vê-la definhar no vício, mas Cora e Nathan


nasceram em uma época bem melhor que a minha. Eles ficam destruídos
quando Aimee está no seu mais alto nível de descontrole. Procurei a dedo
um lugar incrível para que ela pudesse fazer um tratamento de reabilitação,

jamais a colocaria em um local que a maltratassem. É uma casa, com


profissionais responsáveis e que estou sendo avisado sobre tudo.
Sinceramente, eu sei que o vício a faz sentir coisas que nada no mundo
faria, é o que ela conheceu a vida inteira, e sei que é muito difícil se
reerguer depois de tanto tempo, mas primeiro de tudo você tem que querer.

Querer não significa sair disso com facilidade, muito pelo


contrário, a batalha pode ser muito mais dura. Só que o primeiro passo é
você desejar melhorar por você mesmo. Esse não é o caso de Aimee, não

existe nada no mundo que ela queira mais que anfetamina e cocaína. Nem
os próprios filhos. E por mais que eu tenha plena clareza disso, um por
cento de mim, ainda tem esperança que um dia ela possa nos querer mais, e
acredito que ele nunca vai acabar.

— Imbecil, pensei que nunca iria chegar. — Peter me xinga quando


sento ao seu lado no avião.

— Perdão, doce donzela em perigo, seu fiel protetor já está aqui. —


bagunço seu cabelo e aperto os botões da poltrona da primeira classe,

enquanto ele me xinga mais uma vez.

Ele volta a mexer no celular e eu peço coisas do cardápio à


aeromoça. Não importa onde eu esteja, quase sempre estarei comendo. Os
paparazzi adoram tirar fotos minhas passeando com meu café do
Starbucks, com salgadinhos, hambúrguer, biscoitos e doces.

Volto minha atenção para o meu companheiro de banda e ele está


assistindo as atualizações das redes sociais da sua ex ficante e grande
amiga. Ella é guitarrista da nossa maior concorrente, a Drops Of Jupiter,
mas ela nunca deixou meus problemas com algumas pessoas da sua banda
afetarem sua relação com Peter ou conosco da Selfish Hearts. Adorávamos
sair com ela, é engraçada e inteligente, sempre com uma resposta afiada na
ponta da língua.

Agora ela namora com o empresário da sua banda, Michael, um

cara ótimo no que faz, mas esnobe demais para o meu gosto. Não que eu
possa julgá-lo, mas já julgando.

— Dia de dor de cotovelo pela diabinha? — provoco Peter. Ele me


lança um olhar mortal e rio dele. — Não tem problema sentir saudades,
amigo. Às vezes eu também sinto falta dela nos ganhar nas noites de
poker. — sou sincero, mas Peter só revira os olhos.
— Ela é incrível e somos só amigos, você sabe. Ella sempre será
importante para mim, a conexão que temos vai além da pegação. Super

respeito seu relacionamento. E ela está feliz. — diz e é minha vez de


revirar os olhos.

Uma foto do show que a banda dela fez na noite passada aparece na
tela. Ella e Blue estão sorrindo para a câmera, e não consigo não pensar o

quanto minha inimiga número um é linda para um caralho.

— Tente não babar pela loira, Collins. — Peter zoa

— Não posso negar, o que tem de grossa tem de bonita. —


confesso e dou de ombros.

Blue Edwards me odeia e já lhe dei motivos para isso.


Literalmente, meu passado me condena. Mas ela não sabe a história toda e
não existe espaço para que eu me explique. Ela é tecladista da Drops Of
Jupiter, é fantástica no que faz e compõe algumas das letras deles. Não sou

hipócrita, ela é muito talentosa, mas seu passatempo favorito é brigar


comigo.

Eu adoro provocá-la. Aliás, a todos eles, menos a Ella, eu adoro a


diabinha. Só que Blue não aguenta qualquer tipo de desaforo e desde que
conversei com a namorada de Mason no bar, seus olhos soltam laser
quando me vê.
Bom, eu não teria problema nenhum em transferir meu ranço por
eles em tesão por ela, mas não depende só de mim.

— Cara, não sonha. — Peter fala, parecendo ler meus pensamentos.


— Daqui algumas horas ela vai estar contando os centímetros para acertar
sua cabeça com um jarro. A mulher te odeia, continue seguindo para bem
longe deles. Drops Of Jupiter e Jacob Collins, definitivamente e

completamente, tem que estar o mais longe possível um do outro. Não


estraga o que acabou de se acertar, Jake. Não faz merda.

Ele tem razão, preciso ficar o mais longe possível das pessoas
daquela banda e, principalmente, de Blue Edwards.
“Eu me sinto vivo

E o mundo, eu vou virá-lo do avesso, sim!

Estou flutuando por aí em êxtase

Então não me pare agora

Não me pare”

LOCKED OUT OF HEAVEN | Bruno Mars

Uma multidão imensa se estende a minha frente. As luzes do palco


variam entre diversas cores, a bateria de Ethan soa como uma explosão
atrás de mim e as vozes das pessoas fazem meu sangue correr em chamas.
Meu nível de adrenalina está alto e eu sempre amo essa sensação que estar

no palco desperta em mim.

— Só vocês, L.A. — grito no microfone e aponto em direção a


eles.

Os fãs cantam forte, com toda a potência dos seus pulmões, em um

único coro. Abro os braços e inclino a cabeça para o céu. É indescritível.


Quase como se a voz deles invadisse diretamente meu peito e ao mesmo
tempo em que o aperta, o liberta.

Cantar é o que me move. O que sei fazer de melhor e minha grande


paixão. Os shows fazem com que me sinta vivo.

“Eu estive aos seus pés,

Apostei todas as fichas,

Caminhei com os olhos vendados e

Você me conduziu ao paraíso.”

Canto e a guitarra de Peter finaliza a última nota da canção. As


luzes se apagam e o público vai a loucura.

— Obrigado, L.A.. Vocês fizeram dessa noite inesquecível para a


Selfish Hearts. — nos despedimos e saímos do palco.

Limpo o suor do rosto e tomo uma garrafa de água que Dani me

entrega. Minha garganta agradece. O barulho do lado de fora das cortinas


ainda é alto, mas em alguns minutos o estádio será apenas um completo
deserto.

— Dani. — chamo sua atenção. — Vi uma garota próxima ao

palco, peça para oferecerem uma visita ao camarim. Cabelo preto, saia
preta, blusa branca, batom rosa e tatuagem no braço esquerdo. Estava
quase na grade, então ainda não conseguiu sair do lugar.

— Você não perde um mísero detalhe, garoto. — ri.

— Se eu a perder essa noite, ficarei chateado. — brinco. — Vá


buscá-la para mim. – pisco para ele e sigo até os bastidores.

As fotos com fãs começam em meia hora e é suficiente para que eu


possa jogar uma água no rosto, comer alguma coisa e estar pronto para

mais algumas horas. Sento no sofá e apenas deixo meu corpo relaxar e meu
coração desacelerar. Juro que poderia dormir ali, mas minha noite está
longe de acabar.

Confiro meu celular e olho rapidamente as mensagens sobre a festa


que me espera assim que sair daqui. De preferência com a bela moça que
cantou minhas músicas a noite toda. Vi que ela estava acompanhada de um
grupo de amigas, não me importo nem um pouco em irmos todos juntos.

— Jake. — ouço a voz de Dani e sorrio. — Sua convidada chegou.

Caminho até eles e olho com cobiça para a bela mulher parada ali.
Como imaginei, as amigas estavam com ela e tem uma loira sensacional
entre elas, mas essa noite quero ser da morena, pelo menos, até agora.

— Olá, meninas. Gostaram do show? — pergunto sorridente, mas

com os olhos em quem eu quero que responda.

— Acho que você sabe o quanto é bom no que faz. — a morena


responde, me olhando cheia de segundas intenções e já quero essa boca na
minha.

— Definitivamente, agora eu estou com mais vontade ainda de te


mostrar o quanto sou bom no que faço. — aproximo meu rosto do dela,
que apenas me dá um sorriso matador.

Essa é das minhas e não vejo a hora de vê-la na minha cama mais

tarde.

— Qual é o seu nome, querida? — pergunto

— Penélope. E o seu? – pergunta descontraída, como se ela nunca


tivesse me visto na vida. Estende a mão como um sinal de apresentação e
rio.

Gostei dessa garota!


— Você pode me chamar como quiser, contanto que saia daqui
comigo hoje. – seguro sua mão e a puxo para mim.

— Só se você prometer que não estarei desperdiçando meu tempo.


– provoca, com a boca quase colada na minha.

Aproveito o momento em que seus olhos fixam nos meus e prendo


seu lábio inferior entre os dentes, solto e ao mesmo tempo que pressiono

minha boca na sua, seguro seu quadril com mais força.

— Tenho que receber as fãs para fotos. — aviso. — Me espere lá


atrás com suas amigas, podem comer e beber o quanto quiserem. Só esteja
sóbria quando eu voltar ou nossa noite acaba aqui. — falo sério para
entender que não estou brincando sobre isso.

Não gosto de ficar com pessoas que não conseguem distinguir um


carro de um cachorro de tanto álcool que tem no corpo. Gosto de sexo
ativo, de sentir a pessoa aproveitando tudo comigo. Claro, nós podemos

ficar completamente bêbados juntos, mas não me envolvo com mulheres


que já estão fora do seu estado normal de consciência quando me
encontram.

O tempo para fotos depois dos shows sempre é um momento que


passa muito rápido para mim, é cheio de descontração, conversas,
entrevistas e eu amo o contato com as pessoas que admiram nosso
trabalho. A fila que fica do lado de fora é o significado de que mesmo
depois de dez anos no mercado, as pessoas só se apaixonam cada dia mais

por nós. Atualmente, encontramos os filhos dos nossos fãs antigos, eles os
trazem para os shows e a maioria deles nos acompanham tão intimamente
que reconhecemos quando nos encontram, ficamos felizes por ver a família
deles crescendo.

Quando começamos éramos um bando de moleques e uma geração


inteira cresceu conosco, assim como nossas vidas se transformaram e nós
crescemos, é bom vê-los felizes também.

— JJ, eu adorei sua garota da noite. — Luke fala enquanto volta da


parte de trás do camarim com uma garrafa de água para mim. — Se eu
gostasse de mulheres, com certeza roubaria ela de você. — bate nas
minhas costas e rio.

— Venha para a festa com a gente. — o convido pela milésima vez

no dia. — Podemos arranjar um cara do jeito que você gosta, daqueles bem
com pinta de que tem ficha na policia. — brinco e ele revira os olhos

— Iguais a você, ainda bem que sabe. — gargalho. — Acho que


vou fazer do seu grupo mais feliz essas noite porque adorei as meninas,
mas não transe na minha frente que sua bunda é muito tentadora, eu
morderia ela.
— Você pode morder minha bunda quando quiser, Luke. Aliás,
você já costuma fazer isso. — brinco me referindo as vezes que ele briga

comigo.

Luke, entre os outros meninos da banda, é o que mais bate de frente


comigo. Somos uma família, mas pela banda ter surgido a partir de mim,
os meninos às vezes apenas concordam com minha palavra sem questionar

muito. Porém, Luke aponta o dedo na minha cara e bate o pé, ele não
abaixa a cabeça se não acredita nas ideias ou posicionamentos. E isso fez
com que abrisse espaço de fala dentro da nossa banda e hoje temos
condições de igual para igual.

Dani sai para conferir se a equipe de segurança está pronta para nos
levar para onde quisermos ir essa noite e aproveito para olhar como está
Penélope. Assim como pedi, a encontro sorridente e sóbria, em uma
conversa animada com as amigas. Gosto disso, pela forma como se tratam

imagino que possam se conhecer há muitos anos e não largariam uma a


outra durante toda a noite, mas eu irei roubar a companheira delas para a
minha cama, a não ser que todas queiram participar.

— Hey, baby. — ela está sentada no braço do sofá. Apoio uma das
minhas mãos ao seu lado e a outra em sua coxa, inclino-me em sua direção
para ficarmos cara a cara. — Te fiz esperar muito? — pergunto baixo.

— Depende, eu vou ganhar um beijo de verdade como pedido de


desculpas? — seus olhos não desgrudam dos meus e o canto dos meus

lábios se erguem.

Sem tocar em nenhuma outra parte do seu corpo, coloco minha


boca na sua com força. Ela leva as mãos até o meu pescoço e entramos em
uma sintonia alarmante. Ela brinca com minha língua e não contenho os
pensamentos de onde quero que ela esteja mais tarde. Cessamos o beijo

para recuperar o fôlego, olho para a sua cara de devassa e me aproximo da


sua orelha.

— Vá até o banheiro e tire a calcinha. — sussurro. — Se você


permitir, quero acesso livre pra te tocar em qualquer momento da noite,
não importa onde estivermos ou com quem.

— Com uma condição. Garanta que nenhuma foto minha estará


circulando por aí amanhã. Tenho um trabalho a zelar, Sr. Celebridade, não
posso ser vinculada a mais uma das suas noitadas. — eu a entendo e sei o

que falariam se fôssemos vistos juntos, mas depois de tantos anos de fama,
tenho meus truques quando preciso manter alguém em sigilo.

A grande diferença é que algumas pessoas fazem de tudo para


serem vistas comigo ou ocupar os tabloides intituladas como “minha
acompanhante da vez”, eu não me importo de verem com quem estou,
afinal, já me acostumei com as notícias. Mas, quando a pessoa não quer
isso, não a levarei para o meio do caos que é a mídia, então faço o que
posso e o que não posso para que isso não aconteça.

Por exemplo, meus seguranças já fingiram ser assaltantes e

roubaram a câmera de um paparazzi que conseguiu fotos minhas quase


transando com uma garota dentro do carro. Pode apostar, essas pessoas
surgem de onde você menos espera. Após algumas semanas, a polícia
devolveu o aparelho, depois da minha equipe tornar impossível que ele

conseguisse recuperar algo.

— Baby, você acha mesmo que eu vou deixar o mundo ver o que
quero fazer com você hoje? — olho para ela. — Quando minhas mãos
estiverem em você, ninguém vai reparar, a não ser que você gema alto. —
um sorrisinho surge em seus lábios e ela empurra meu peito para longe.

Sorri e fui ajeitar minhas coisas para irmos embora. Meu corpo está
preparado para o álcool e a nicotina.

Peter se junta a nós, assim como Luke e vamos todos no mesmo

carro. Chamaria menos atenção, porém, o espaço tem que ser dividido.
Penélope senta no meu colo, uma das amigas dela fez questão de ir com
Luke já que tinham se tornado melhores amigos durante o tempo no
camarim, uma está com Peter e a outra se aperta entre nós para caber no
banco.

Ethan disse que precisa resolver algumas coisas e apareceria no


meio da noite. O carro que segue conosco fez a rota de segurança já
programada, como se fossem nos deixar em casa, rodamos um pouco mais

até nos misturar no trânsito e ficarmos imperceptíveis.

Aproveito o tempo para brincar com a nuca de Penélope e conhecer


mais partes bonitas do seu corpo. Como a blusa está presa na saia, não
consigo ir muito longe, mas adoro sentir as curvas pesadas dos seus seios.

Passeei por suas pernas longas, mas antes de me deixar conferir


pessoalmente se está sem a peça íntima, ela coloca a calcinha dentro do
bolso da minha jaqueta.

Diaba provocadora.

O carro para no estacionamento privado da boate de um grande


amigo nosso. Temos acesso à área privada e nossa entrada é diferente do
restante das pessoas. O corredor e as escadarias nos levam a um camarote
bem alto e que dificulta a visualização das pessoas que estão na pista de

dança. É um lugar para os famosos de L.A. curtirem a noite, então não


existe perigo entre as pessoas que dividem o espaço.

Ocupamos um dos sofás e Luke se responsabiliza a pegar a


primeira garrafa de bebida. E nossa noite começa aí. As meninas dançam,
Peter tenta se aproximar de uma garota do outro lado da área vip. Luke não
demora muito para visualizar um rapaz na pista de dança, mas seu foco
inicial é beber e se divertir com as amigas de Penélope. A qual, me puxa
para dançar com ela depois de algumas bebidas e mãos bobas. Ela não

espera que eu lhe toque primeiro, estamos em uma relação mútua aqui, e

suas pegadas não são nada contidas, o que eu adoro.

Envolvo sua boca em um beijo cheio de intenções, caminhamos até


o sofá e ela monta meu colo. Seu corpo está envolto da minha jaqueta, que
fica enorme nela, então ergo sua saia o suficiente para minha mão ir direto

a sua região mais sensível. Penélope amaldiçoa contra a minha boca


quando meus dedos entram nela, que já estava pronta para mim.

Assim consigo lhe tirar o primeiro orgasmo da noite e tudo que


quero é estar completamente nu. Tomamos um bom gole de Gim e a levo
até o banheiro. O segurança nos acompanha, e já sabe todo o processo de
verificar antes de entrarmos e ficar na porta até sairmos.

Precisamos de um tempo para nos recuperar, mas logo estamos


voltando para nossos amigos. Luke já está aos beijos com um homem que

não me é estranho, acho que lembro de tê-lo visto em algum filme, mas o
álcool e o sexo podem estar bagunçando minha cabeça. As amigas de
Penélope também já estão acompanhadas, uma delas com Logan Clark da
Drops Of Jupiter, fingimos que não nos vimos e tudo correu bem.

Quando volto para o sofá, observo um casal dançando no outro


camarote, do outro lado da boate e de frente ao que estamos. A mulher
segura a mão do homem e o instiga a se movimentar com mais vontade,
mas logo que ele faz o passo, os dois caem na gargalhada. Alguém se

aproxima com bebidas na mão e vejo que é Michael Campbell, tento focar

minha atenção em quem seriam as outras pessoas, mesmo já tendo uma


boa ideia de quem sejam.

As luzes da boate se voltam para lá e iluminam Blue, que coloca as


mãos de Mason nas de Demi, provavelmente desistindo de fazê-lo tentar

dançar. Então um rosto desconhecido se aproxima do dela e rouba um


beijo rápido.

É por isso que Logan está aqui, porque está em bando.

Peter está longe demais da órbita terrestre para entender alguma


coisa, mas também tem uma garota animada ao seu lado. Ela tem que
aproveitar enquanto ele está sob efeito, depois de certa quantidade, ele fica
insuportavelmente chato.

Aviso a Penélope que quero ir para casa, ela fala com as amigas

que podemos deixá-las. Logan conseguiu fazer a loira ficar, então aviso ao
segurança para que não tire os olhos dela, não que eu acredite que ele seja
um cara ruim, mas cuidado nunca é demais. Também alerto sobre Peter, só
que eles já lidam muito bem com o nosso guitarrista.

Meu motorista particular está na porta quando saímos. Deixamos as


amigas de Penélope no endereço que nos informaram e seguimos para o
meu apartamento.

Para nós, a noite estava longe de acabar.


“É só um pouco de vinho de tinto, vou ficar bem

Não é como se eu quisesse fazer isso todas as noites

Eu tenho sido boa, eu não mereço?

Eu acho que eu conquistei isso

Na minha mente parece valer a pena (mente)

Uma realidade distorcida, uma insanidade sem solução

Eu te disse que estava bem, mas eu estava mentindo”

DANCING WITH THE DEVIL | Demi Lovato


— Sua capa está fantástica, querida. — Helen diz ao ocupar um dos

lugares do sofá próximo a mim.

Pauline envolve meu cabelo no babyliss mais uma vez, enquanto


Marcos escolhe as maquiagens que usará em mim hoje. Eles são da minha
equipe de preparo quando estou em Nova Iorque. Tenho um programa de

TV para gravar daqui a algumas horas e as borboletas o meu estômago já


estão batendo asas.

Ao contrário do que as pessoas costumam acreditar, borboletas no


estômago não acontecem apenas quando encontramos uma pessoa por
quem temos sentimentos, elas podem surgir em qualquer momento em que
você se sinta apaixonado, seja por algo ou alguém. Sempre que estou
fazendo algo que amo, sinto-as passearem dentro de mim e isso faz com
que eu me sinta viva.

— As vinte ligações do meu pai não significam a mesma coisa. –


digo e ela revira os olhos.

— O seu pai nunca vai acostumar a te ver de calcinha e sutiã em


capas de revistas, na TV, em outdoors, nos jornais. Então, acostume-se
você aos ataques de raiva dele.

Eu sei que ela tem razão, mas é tão desgastante brigar com ele
sempre que uma foto mais sexy sai ou meu corpo está mais exposto do que

ele acha certo. É incrível como ele se revolta com isso todas as vezes

mesmo depois de tantos anos. No início, Parker controlava todas as minhas


campanhas, é meu advogado e respondia pelo meu responsável legal, meu
pai. Tudo era feito como eles queriam e cansei de me sentir presa.

Eu amo o corpo feminino. Nossas formas, tamanhos, jeitos, cores e

variações delas, o poder de um corpo que nos fez ser morta, por anos, pela
soberania que carrega, e assustou os mais fracos. Feminilidade para mim é
muito além do material, são as sensações, as energias, os saberes, a
capacidade, a força, que ser mulher representa. Meu corpo é arte e
transmite dor, prazer e alegria, desperta o meu ser. Não quero escondê-lo,
quero falar através dele. Falar para outras mulheres, que por mais que a
sociedade nos ensinou a odiar a nós mesmas, precisamos conhecer outros
caminhos. Eu sei, estou em um lugar social onde as pessoas buscam mais

serem parecidas comigo do que me criticam, viver em sociedade é um


pouco menos doloroso no sentido de fazer parte do que acreditam ser o
certo, mesmo não sendo, porque não existe corpo certo ou errado.

Odiei meus seios por incontáveis anos, eles sempre foram grandes
demais para o corpo magrelo da menina que tinha problemas alimentares e
não conseguia ganhar peso porque geneticamente é assim. Já lutei demais
contra coisas que não precisam ser mudadas porque me disseram que
deveriam ser.

A vontade de mudar não era minha, era movida pelo o que cresci

ouvindo ser o certo. Quando consegui separar o que queria, do que os


outros colocaram dentro da minha cabeça, percebi que lutar contra a
sociedade é duro, mas pode ser reconfortante. E sim, sou considerada o
padrão social, o que idealizam, mas posso afirmar, não estou aqui por

querer, mas sim, porque o que me trouxe até aqui foi um problema
psicológico e físico que me fez adoecer por anos.

Porém, essa é a minha realidade e defendo as mulheres poderem ser


o que quiserem, inclusive, se encaixarem no considerado padrão. Cada
uma de nós tem que fazer o que faz feliz. Eu sou alguém que sofreu e sofre
as pressões estéticas que é ser colocada nesse lugar e estar na mídia, mas
se alcançar tudo que esse lugar te proporciona for o que deseja, eu espero
que seja muito feliz.

Quero que a minha falta de perfeição seja exposta ao mundo. Que


as minhas curvas tortas sejam vistas e reconhecidas, que eu me sinta bonita
ao apoiar campanhas e empresas que ajudam mulheres a se sentirem
incríveis e capazes usando qualquer tipo de roupa, com outros corpos
únicos ao meu lado. Lutar contra esses padrões que nos acarretam tanto
sofrimento é brigar mais uma vez pelo direito de ser livre, para ser quem
quiser e como quiser, sem sentir medo disso.
Não é a igualdade que nos torna extraordinárias, é a
incompatibilidade.

— Eu ligarei para ele, Blue. Ouvirei a primeira descarga de raiva e


depois você retorna as ligações. — Helen sugere

— Não adianta. — suspiro. — Ele só vai parar quando conseguir


jogar na minha cara o quão depravada me tornei.

— Sei que você está cansada disso, querida, mas só você pode dar
um basta nisso também. Não é mais uma criança, Blue, ele não tem mais o
poder que tinha sobre sua vida. Dê um basta. — diz e sei que ela tem
razão.

— Eu só estou cansada demais dessa merda, até para discutir. Só


quero que esse dia acabe e eu possa encontrar meus amigos. — digo

— Vai encontrar o Mason na noite de jogos hoje? — pergunta e


concordo.

Helen trabalha comigo há cinco anos e é minha assessora. Está na


faixa dos quarenta e é uma das pessoas mais inteligentes que já cruzei. Sua
capacidade de adaptação, sua forma de encarar a vida, a força que tem no
seu trabalho, na maneira como respeita meus momentos, como entende o
que eu e minha carreira precisamos. Ela foi um achado no meio dessa
loucura toda.
Depois dos jogos no hotel com Mason e Demi, tenho outras
pessoas para encontrar. Meu melhor amigo odeia quando não descanso

depois de dias de show e para completar, ele não gosta muito das pessoas
que vou encontrar hoje. Já sei até a cara que May fará para mim quando
avisar que não irei para casa e eu nunca minto para ele. Para o resto do
mundo inteiro sim, mas não para ele.

Não tenho um lugar fixo aqui, Logan é o único de nós que tem um
apartamento na cidade, por isso, sempre ficamos todos juntos. Mas depois
que Ella e Michael sempre estão junto e Demi e Mason não aguentam mais
as noitadas do nosso baixista, acabam preferindo ficar no hotel. Logan é a
minha versão masculina, nossos ritmos e momentos de vidas sempre estão
em sintonia, não me importo com o barulho porque estou no meio dele e
assim ficamos com a casa dos solteiros.

É engraçado lembrar do adolescente bonito que tentava se

aproximar de mim na escola, os cabelos grandes já existiam, mas não


como hoje. Logan era alto, másculo, era popular, cheio de piadas
engraçadas, todos o queriam perto e de cara eu o achei um babaca. Os
caras só se aproximavam de mim porque me achavam bonita, eles não se
davam nem ao trabalho de fingir por mais de uma semana que só queriam
transar com a novata gata.

Talvez, se a vida não tivesse me feito quebrar a cara tão cedo com
homens, eu teria dado uma chance para Logan e nós teríamos sido um

daqueles casais maneiros de filmes adolescentes. Provavelmente, nos

separaríamos quando a faculdade chegasse, mas seríamos lembrados.


Demorei um tempo para acreditar que ele realmente era um cara legal e
estava interessado em conhecer o que tinha além da carcaça. Então, eu usei
o fato de ele gostar de mim para fazê-lo entrar na banda. Nós

conversávamos algumas vezes, Logan era educado e respeitador, mesmo


sendo insistente, e sabia que ele tocava muito bem e acabamos nos
tornando amigos nos ensaios.

O garoto que me paquerava passou a ser meu grande amigo. Sei


que Logan lidou com seus sentimentos por mim, mas isso já foi superado
há muitos e muitos anos. Hoje somos parceiros de guerra e de vida, e eu o
amo, mas não amorosamente, mesmo que esse seja o sonho dos fãs.

— Helen, me passa a agenda do dia de novo, por favor. — peço. —

Preciso ativar os alarmes do meu celular para não esquecer de nada.

— O primeiro compromisso é as dez, programa de TV; o segundo,


acontece ao meio dia, programa de almoço na rádio local; o terceiro é às
treze e trinta, autógrafo dos catálogos da campanha de lingerie; às
dezesseis horas você tem uma reunião, com o pessoal que cuida das suas
campanhas sociais; às dezoito a banda tem a gravação do programa
transmitido aos domingos e vai até às vinte e duas; Parker precisa que você
assine alguns papéis depois disso e estará livre. — recupera o folego

depois de falar tudo.

— Mais um dia intenso. – comento, terminando de ativar o último


alarme.

— Pense pelo lado bom, amanhã seu primeiro compromisso é só às


três da tarde. – fala empolgada e sorrio.

Helen fica feliz quando consigo manhãs livres porque ela sabe que
minhas noites são intensas, quando posso dormir até tarde sempre fico de
bom humor e mais produtiva. Michael também adora quando conseguimos
horas de folga porque assim voltamos a ativa no dia seguinte, e como a
temporada de festivais e o início da nova turnê estão próximos, precisamos
de muita disposição.

Porém, a única coisa pela qual meu corpo está implorando para
hoje é muito álcool.

— Você está linda, como sempre. — Helen fala olhando meu


reflexo no espelho.

— Eu adorei esse vestido, parece a cor dos meus olhos, mas não
acho que seja a roupa ideal para algo tão cedo. Guarde-o para mais tarde.
Quero a saia jeans, a sandália mais baixa, a blusa preta bordada e o blazer
preto. Vamos pegar os acessórios dourados.
Rapidamente estou vestida e pronta. Alguns fãs estão na porta do
prédio, falo brevemente com todos, tiro fotos, dou autógrafos e combino de

vê-los melhor assim que tiver um tempo, peço que vão para casa porque a
avenida é muito movimentada e algo pode acontecer com eles. Volto para
dentro e os seguranças me guiam até o elevador, logo estamos no
estacionamento e saímos para o primeiro compromisso do dia.

As participações sempre são menos demoradas quando não está a


Drops Of Jupiter inteira. O apresentador é legal, muito tempo na mídia e já
me conhece das milhares de aparições que fiz em seu programa, sozinha e
com a banda durante todos os anos de carreira. Porém, o trânsito de Nova
Iorque é caótico em certos horários, e o meu compromisso na rádio quase
atrasou. Almocei dentro do carro, Helen sempre fica responsável por trazer
minha comida, e quando os dias são muito lotados, tenho que me alimentar
onde der.

Ella já está em seu lugar quando chego, a abraço e sento no lugar


ao seu lado. Eu sempre adorei entrevistas em rádio, pois adoro esse
universo. Olívia tinha um aparelho quando eu era pequena, nós
limpávamos a casa ouvindo os locutores, mas as melhores músicas eram as
que tocavam a noite.

Conversamos sobre os novos planos da banda, a agenda dos


próximos meses que foi divulgada oficialmente na noite anterior,
perguntam sobre o relacionamento de Ella e Michael, participamos de

brincadeiras para acertar músicas e acabamos cantando alguns trechos,

deixando claro porque Mason é o único cantor.

Na saída meu celular mostra o contato do meu pai ligando mais


uma vez.

— Oi, pai. — atendo porque não aguento mais ver meu celular

tocando.

— Nunca pensei que minha filha se tornaria uma mulher do


mundo, Blue. Cada dia fico mais envergonhado de você. Os meus amigos
olham aquelas fotos e não quero nem imaginar o que pensam sobre a
forma que criei você. Quando você se tornou tão obscena? — grita do
outro lado da linha

— Não vou mais discutir isso, pai. Você tem que respeitar as
minhas decisões e o que faço da minha vida não lhe diz respeito. Pai, o

mundo inteiro ama sua filha e todos eles já viram o meu corpo, mais uma
vez não é novidade, mas eu estou cansada de você me insultar por cada
passo que dou. — tento manter a calma para não virar uma gritaria sem
fundamento.

— Tenho pena de você, minha filha. Estou tão decepcionado com


essa pouca vergonha. É uma depravação, Blue. — ele grita mais uma e
vez.

Desligo a ligação antes mesmo dele continuar a falar. Não quero

mais, minha cabeça não aguenta mais. Eu não vou discutir mais uma vez
pela mesma coisa, não adianta. No geral, meu pai é ótimo e eu o amo, mas
ele sabe me machucar como ninguém e eu não preciso disso. Não preciso
desse lado dele.

O dia segue caótico, entre o carro, trocas de roupas em camarins,


retoques de maquiagem e compromissos. Pego o último papel que Parker
enviou e assino. Eu só quero me livrar dessa maquiagem toda e descansar
minhas pernas do salto imenso que comecei a usar no meio do dia.

O apartamento está silencioso porque Logan já estava no hotel, mas


eu tenho que me ajeitar antes de sair de novo. Preciso de um banho, me
sentir limpa e relaxada, antes de começar o turno da diversão. E é isso que
faço. Visto o vestido azul que descartei no início da manhã, ele é lindo,

claro e com detalhes na mesma cor. Tem alças grossas, é curto e justo no
corpo. Coloco meu all-star branco de guerra e ajeito uma bolsa pequena.
Passo máscara de cílios e um gloss, minha pele se vingaria se eu colocasse
base nela de novo.

— Você está atrasada, Bee. — Mason diz ao abrir a porta e olha


para o relógio no pulso. — Perdeu as duas primeiras rodadas, então a
próxima pizza é por sua conta.
— Mason White, você tem que me abraçar antes de começar a
cobrar as coisas, não seja um idiota. — falo séria e ele sorri.

Os braços longos de May envolvem minha cintura em um abraço


demorado e ele levanta meus pés do chão.

— Acho que alguém tem planos hoje a noite. — ele comenta


enfiando o nariz no meu cabelo. — Você não usa esse perfume só para nos

ver. Esse é o dos dias que você quer marcar alguém. — diz e bato em seu
ombro.

— Às vezes eu odeio você me conhecer tanto. Sabe o quão ridículo


soa você saber até qual perfume eu uso quando quero ficar com alguém?
— ele dá de ombros e entro no quarto.

Existe um limite para ser o melhor amigo de alguém? Porque, com


certeza, Mason e eu ultrapassamos ele. Eu amo Mason com tudo que há
em mim, ele é a base que mantem meus pés em equilíbrio. Somos o total

oposto, ele é silêncio quando eu sou pura explosão. Mas, em algum


momento, nos tornamos a prova viva de que os opostos se atraem e, muitas
vezes, é realmente como se ele fosse a parte que faltou na minha
personalidade e eu na dele. De alguma forma nos completamos e sabemos
o quão sortudos somos por isso.

Logan já está com uma garrafa na mão, mas preciso forrar meu
estômago de pizza antes de acompanhá-lo. Beijo o rosto de Demi e abraço
Ella, sentando ao seu lado. A noite de jogos acontece desde o dia em que

fizemos um show em uma cidade muito pequena, tudo fechava muito cedo
e não tínhamos para onde ir. Paramos em uma conveniência e compramos
todos os jogos que encontramos, nos trancamos no quarto de hotel de
Mason e jogamos por horas seguidas. Desde então, se tornou nosso ritual e

ninguém pode faltar.

Cuidamos e protegemos os nossos. É muito além do que alguém


que compartilha a carreira comigo, nós somos parceiros, nos momentos
bons e ruins. Brigamos, ficamos dias sem nos falar, mas naturalmente tudo
volta ao normal. Somos prioridade na vida um do outro.

— Blue, tome cuidado e me ligue a qualquer momento. Não confio


nessa gente com você, aquela garota ruiva é uma falsa do caralho. Por
favor, fique com um dos seguranças por perto e não hesite em me ligar. —

Mason fala antes que eu saia.

— Você é meu contato de emergência, basta um toque e você


estará indo me salvar. — brinco tentando confortá-lo. — Estarei bem e em
segurança, sei me cuidar.

— Não sabe não. — me corta e reviro os olhos.

— Fique tranquilo. Você sabe que te ligo antes mesmo de avisar a


polícia. — beijo sua bochecha e ele respira fundo. — Amo você!

— Amo você, Bee! Me ligue, porra, não deixe de avisar quando

chegar em casa ou pedir que me avisem.

Sua vontade é me trancar no lugar mais próximo, mas ele sabe que
não vai me impedir de ir.

Meu motorista para no endereço já conhecido e vamos para a boate

da noite. A festa começa dentro do carro, então quando chegamos lá, já


estou um pouco alegre demais. Entramos e alguém já chama minha
atenção. A área vip desses lugares sempre é frequentada pelas mesmas
pessoas, empresários, artistas, políticos, mas eles trazem novos rostos nas
turmas. O homem bonito que acabei de parar ao lado tem cara de ser
importante demais para estar aproveitando uma balada tão livremente, eu
poderia chutar entre deputado ou mafioso, os dois, talvez.

Ele é o cara com quem vou deixar meu cheiro essa noite.

Começamos a conversar e eu gostei que ele não demorou muito a me


beijar. Ótimo, queremos a mesma coisa. Dançamos, conversamos,
bebemos, comemos e ele é um cara legal. Descubro que é um dos sócios da
boate depois de transarmos no seu carro no estacionamento privado. O
álcool tomou conta de mim no restante da noite, mas não aceito ir para
casa com ele e volto para minhas amigas.
Depois de comemorarmos mais uma garrafa vazia, não quero mais
levantar do sofá, porque o mundo gira para todos os lados possíveis de

uma vez só. Acho que preciso ir para casa. Levanto e me apoio no sofá,
tento enxergar meu segurança, mas ver três pessoas em uma não me ajuda.
Sento novamente para tentar ligar, mas é tão fofinho, que só encosto minha
cabeça nas costas do assento.

Meu corpo apaga.

Sinto meu corpo balançar. Um braço tatuado está próximo do meu


rosto.

Tudo fica preto de novo.


“Aqui estou eu

Te abalo como um furacão

Meu corpo está ardendo, começa a gritar

O desejo está vindo, ele estoura ruidosamente

Luxúria presa até que a tempestade a liberte”

ROCK YOU LIKE A HURRICANE | Scorpions

Sinto uma coisa macia contra o meu rosto, algo felpudo nas minhas
pernas, meu corpo tão relaxado em algo que parecia de plumas. Afago meu
rosto contra o que parece um travesseiro ainda sem abrir os olhos, eu quero

ficar ali e não ver o mundo girando quando levantasse.

Mas, a cama do quarto de Logan não é tão boa assim. O cheiro


forte, másculo e viciante que está surgindo cada vez que me mexo me faz
ter certeza que não estou em território conhecido.

Que perfume gostoso. – penso e afundo o nariz no travesseiro.

Vou pensar em ficar nesse hotel mais vezes, Mason tem motivos
para se hospedar aqui.

Abro os olhos e observo o lugar, as cobertas são pretas e tudo no


quarto segue esses mesmos tons. É sofisticado e não tão sombrio como
imaginei que ficaria. Detalhes em dourado e prateado sobre os móveis,
tapetes grandes e espelhos nas paredes, um deles fica de frente a mim e me
dou conta que ainda estou vestida.

Definitivamente, esse não é o hotel de Mason. Onde caralhos eu

estou?

Sempre fui ótima em me livrar das minhas noitadas, a simpatia e


cara de paisagem enquanto entro no banheiro com todas as minhas coisas,
uso o shampoo deles e depois vou embora agradecendo e mandando
beijinho no ar. É engraçado, porque algumas vezes eles só se dão conta de
quem eu sou quando acordam depois da bebedeira e eu estou saindo pela
porta mais próxima.

O que aconteceu aqui?

Tento lembrar da noite de ontem, mas nada faz sentido desde que
saí do carro do cara que não sei o nome. Sinto algo grande se mexer ao
meu lado e pelo espelho um braço largo sobressai atrás de mim.

Como eu estou vestida ao lado de alguém que provavelmente é tão

grande e gostoso? Será que eu desmaiei de tão bêbada?

Viro meu corpo em sua direção e pulo de uma vez ficando de


joelhos na cama.

— Puta que me pariu. — quase grito. Levanto de uma vez e fico de


joelhos no colchão enquanto olho para ele. — O que merda está
acontecendo aqui? — esmurro seu peito para ele acordar.

Jacob Collins está sem camisa, com o lençol preto cobrindo-o até a
cintura, todas as tatuagens a mostra.

Merda, eu dormi com ele?

Como eu vim parar na cama do meu maior inimigo?

— Se você me bater de novo, eu vou ter que revidar e vai ser na


sua bunda. — fala com a voz ainda embargada de sono e os olhos
fechados. — Só para deixar avisado, eu adoro mulheres selvagens na
cama.
— Eu quero te matar sufocado com esse travesseiro, pare de falar
merda e não me tente! Não minta para mim, babaca, nós transamos? —

pergunto.

Ele abre apenas um dos olhos e me observa rapidamente, solta o ar


com força e senta na cama. Meus olhos são atraídos para a barra da cueca
que aparece entre o lençol que cobre quase nada do seu corpo, o cabelo

desgrenhado, o rosto com marcas de uma noite de sono profundo.

O que esse homem tem de bonito, tem de diabólico. Não quero nem
pensar o que aconteceu ontem a noite.

Parabéns por ser tão burra, Blue. Agora conte para o mundo que
contraiu uma doença desse verme.

— Bom, é novidade para mim ter que lembrar uma garota do que
acontece nessa cama. — fala soberbo. — Você sentou no meu colo ontem
na boate, tentou me seduzir e transar comigo na frente de todo mundo. Eu

sei que sou irresistível, mas nunca vi alguém tão descontrolada. — sua
expressão é séria e meu queixo cai.

Por um segundo quase acredito, bêbada eu seria capaz de fazer isso


e ele, por ser um idiota, também. Mas Jacob não consegue segurar o riso
com a minha cara de quem está falecendo nesse momento.

— Filho da mãe. — soco seu peito e ele continua rindo.


Jacob é grande, tem o corpo largo e alto. Seus músculos são
definidos no nível deuses gregos e isso se estende por todo o seu corpo. O

cabelo preto sempre bem cortado, a barba baixa e bem desenhada,


mandíbula quadrada, lábios finos, olhos castanhos. Mas, o que me faz não
querer desgrudar os olhos do seu corpo são as diversas tatuagens que se
espalham por seus braços, peito, pernas e uma flor no pescoço que não

combinaria com mais ninguém no mundo, mas nele, fica sexy.

— Se tivéssemos transado, pode apostar, todos os lugares do seu


corpo lembrariam, Blue. — me olha de forma profunda e o xingo
mentalmente.

— Homem que faz propaganda demais não sabe usar o que tem
entre as pernas, Collins, aprenda isso. — ele gargalha

— Eu, com certeza, ficarei feliz quando te provar que essa teoria é
falha aqui. — é a minha vez de gargalhar.

— Sonhar ainda é de graça, querido, aproveita. — debocho

Passo as mãos no cabelo e amarro com o elástico que sempre está


no meu braço. Meu cabelo é na altura dos ombros, então forma um
pequeno rabo de cavalo que eu acho fofo. Volto minha atenção pra o
homem a minha frente e ele está compenetrado em todos os meus
movimentos.
— O que realmente aconteceu, Collins? — pergunto e levanto em
busca das minhas coisas.

— Você desmaiou de tão bêbada e aqueles merdas que estavam


com você não se importaram. Precisa rever suas amizades urgentemente.
Aquela garota ruiva quer a sua desgraça, ela não é legal. – Ótimo, além de
Mason, o cara que mais tenho ranço no mundo também reclama das

pessoas com quem ando. Era só o que me faltava. — Pensei que você
poderia ter se afogado no próprio vômito quando te vi daquele jeito no
sofá, parecia um cadáver. Chamei a atenção deles, mas ninguém parecia
estar muito preocupado. Procurei seu segurança e não achei, então te
trouxe para casa. Me agradeça por isso.

Mil vezes merda, ninguém sabe onde estou.

Não sei se fico aliviada por ninguém sonhar que estou com Jake ou
se arranco minhas orelhas antes do pessoal conseguir contato comigo.

— Eu estava apenas com o motorista, ele estava me esperando no


estacionamento. Devem estar loucos atrás de mim. — acho a bolsa no chão
e abaixo para pegar.

— Uau, que bela visão pela manha. — Jake fala atrás de mim.

— Não seja nojento, sei que você já viu minha bunda nas revistas.
— destravo o celular e tem trinta e cinco chamadas de Mason.
— É bem melhor ao vivo. — comenta e o fuzilo com os olhos.

Todos da banda me ligaram, mais de cem mensagens e não param

de chegar. Abro a conversa no grupo da Drops e mando um áudio me


desculpando, contando que apaguei e só acordei agora, mas que estou bem.
Disco o número de Mason e vou até a varanda para explicar-me sem o
risco de ele ouvir a voz de Jake ao fundo. Como era de se imaginar, todos

estão chateados comigo, mas aliviados porque estou bem.

— Qual foi a reação de Mason White quando soube que a protegida


dele dividiu a cama com o seu rival? — ouço Jake se aproximar e olho em
direção ao quarto.

Ele está de pé, em toda a sua gloria, apenas com uma cueca justa.
Nem disfarço a conferida e Jake deu uma voltinha para que eu olhasse
mais um pouco. Idiota, porém gostoso.

Reviro os olhos e ele começa a se movimentar pelo lugar.

— Preciso de um banho. — digo

— Não precisa ficar jogando indireta, Edwards, eu tomo banho


com você. — provoca

— O homem hétero insistente é a oitava praga do Egito. — ele


gargalha mais uma vez e não consigo evitar achar engraçado também.

Não posso mentir, eu nunca esperei uma atitude assim desse


homem. Com todas as mentiras que ele inventou sobre nós todos esses
anos, ofender Mason e Demi, apoiar calunias e brigas contra a Drops Of

Jupiter. Jacob tenta transformar nossas vidas em um inferno desde que


conseguimos sucesso.

Ele se preocupar em me trazer para um lugar seguro e não me


deixar sozinha é estranho demais. Tem alguma coisa errada nessa história e

quando eu descobrir, vou arrancar as bolas dele.

— É na segunda porta a esquerda, tem toalhas. — aponta para a


direção do banheiro. —Você está fedendo a tequila. Pode tomar seu banho
tranquila, mas quero que tome café antes de sair. Você bebeu muito e
precisa colocar algo no estômago. Vou tomar banho no quarto ao lado e
nos encontramos lá em baixo. — fala normalmente enquanto caminha para
a saída do quarto.

Fecha a porta e me deixa sozinha. Hora de explorar o ambiente. O

quarto é realmente sofisticado e enorme. Nunca vi uma cama tão grande na


vida, deve ser feita por encomenda. Abro as portas para descobrir o que
tem atrás de cada uma delas, aproveito para procurar alguma câmera que
ele pode ter escondido por ali para depois usar as imagens contra mim, mas
falho na missão.

Atravesso o closet e descubro que preciso do arquiteto que


desenhou esse lugar. O banheiro é imenso, com uma banheira divina no
meio dele, uma bancada com duas pias, espelhos por todo lado, mármore

nas paredes e mais detalhes dourados. Muito vidro e coisas que parecem

ser caras demais. Não o julgo, quando terminamos as horas de show tudo
que queremos é ficar em uma banheira de água quente.

Seus produtos de uso pessoal estão todos em bandejas bem


posicionadas. Abro alguns e cheiro, é o mesmo que senti no travesseiro.

Entro no chuveiro e lavo meu cabelo, demorando o tempo necessário para


me sentir nova. Já que estou no território inimigo, vou explorar suas
potencialidades.

Recolho todas as minhas coisas que estavam espalhadas pelo


quarto, envio minha localização para o motorista e saio. Olho para o
corredor grande e cheio de portas, caminho até a escadaria e continuo a
procura dele. O carma é o pior inimigo do ser humano. Já perdi as contas
de quantas vezes amaldiçoei esse homem para o universo e hoje estou

conhecendo a casa dele, dormi na cama do seu bordel particular e agora até
meu cabelo cheira ao seu shampoo.

Deus, lembre-me de não desejar mal a mais ninguém nessa vida.

Ouço vozes e sigo em direção ao som. Deixo a sandália na


sapateira da entrada, coloco meu casaco e bolsa em uma das poltronas da
sala em conceito aberto. A sala de jantar tem uma mesa com cadeiras
demais para contar e logo o avisto na bancada da cozinha.
— Meu motorista já está vindo me buscar, estou saindo em alguns
minutos. — aviso. — Não sei por que você de repente quis ser legal

comigo e não acho que sua atitude foi sem intenções, não confio em você,
então não espere que eu agradeça até que acredite que você teve um surto e
resolveu se tornar alguém melhor. — falo

Diferente de poucos minutos atrás, ele está com uma calça de

moletom cinza. Continua sem camisa, com os cotovelos apoiados no


balcão de mármore branco, os pés no apoio do banco que está sentado e
continua comendo sua fruta enquanto me ouve.

— Sabe, eu sempre achei você problemática. — fala com


tranquilidade, enquanto termina de mastigar. Ergo uma sobrancelha para
ele. — É sério, do seu grupinho sempre desconfiei que você era meio
descontrolada.

Ele só pode estar de brincadeira com a minha cara.

— Eu não preciso do seu agradecimento, loira. Te tirei daquele


lugar pelo o que eu acredito e não por você, faria isso por qualquer pessoa.
— conclui e rio sem humor.

— Claro, porque o doce Jacob Collins é o protetor dos indefesos.


Com certeza vou acreditar em você. — debocho

— Acredite no que quiser, não preciso provar nada a você. — diz e


sorrio mais uma vez.

— E porque eu dormi no seu quarto? Esse lugar é imenso, não

tinha uma cama desocupada que fosse longe de você? — questiono e cruzo
os braços no peito.

Jacob me olha fixamente, sua expressão mostra claramente que sua


paciência está se esgotando, as linhas de expressão tensas entre os seus

olhos deixam claro que estou o incomodando. E isso me agrada porque


assim, ele mostra suas garras e eu posso confirmar mais ainda minhas
hipóteses sobre ele.

— No estado que você estava se afogaria no próprio vômito, não te


mantive em segurança para deixar você morrer debaixo do meu teto. —
fala impaciente.

— É difícil acreditar que daqui a algumas horas as revistas não


terão meu rosto estampado

— A última coisa que quero é minha imagem atrelada a você. —


me olha como se estivesse surpreso com o que falei e ri.

— Se fosse qualquer pessoa do mundo falando isso, eu levaria a


sério, mas vindo de você. — reviro os olhos. — Nossa, nem sei o que
pensar.

Nada no mundo me faz acreditar que Jake simplesmente se


preocupou comigo naquele lugar. Quando se trata dele, nada vem com
boas intenções. Eu estava vulnerável e ele me ajudou, reconheço isso, no

fundo quero ser grata por isso, mas nunca tive motivos para acreditar que
ele faria algo sem pensar em como isso beneficiaria a si.

— Já disse, isso aí é problema seu. Mas, de toda forma, de nada por


não ter deixado você lá para ser manchete de um abuso sexual ou de um

vexame, talvez um acidente de carro.

— Óbvio, você quer o título de salvador. — rio. — Sinto muito,


mas você espalhou notícias falsas sobre Mason, destruiu o evento de
lançamento da banda, deu entrevistas debochando do nosso trabalho,
tentou manchar nossa imagem a todo custo, espalhou mentiras sobre as
pessoas que eu amo nos bastidores, brigou pela merda de campanhas
publicitárias e ainda teve a capacidade de infernizar Demi. Uma noite não
me faz achar você um cara digno quando tenho uma lista de cinco anos

com coisas que provam o contrário.

Jake sai de onde está e caminha até mim em passos duros. Eu


mantenho meu olhar no seu e ele me encara. Os olhos claros carregados de
algo que não consigo entender, a mandíbula travada, respiração pesada. Eu
já o vi assim uma vez, alguns anos atrás, depois de um show, não sei o que
tinha acontecido, mas ele parecia pronto para atropelar alguém. Hoje esse
alguém sou eu.
— Eu já disse. — fala com toda a sua raiva. — Não preciso provar
porra nenhuma a você. Já que eu sou tão inescrupuloso, por que caralho

ainda está na minha casa? — a voz potente e rouca é tão dura quanto um
grito.

Aqui, cara a cara com Jacob, sem entender se tudo isso foi um
teatro ou se ele realmente se preocupou comigo, entendo que em algum

momento liberei um dos seus gatilhos. Esse homem não perde a cabeça por
nada, fui obrigada a conviver próxima a ele por muitos anos. Jake Collins
não perde a pose de rei do mundo, ele não grita ou faz escândalo, ele te
vence com um sorrisinho nos lábios.

— Que gritaria é essa? — viro a cabeça para encontrar o


telespectador da nossa briga.

O garoto não deve ter mais de dezoito anos, vestido na farda de


alguma escola cara demais estar parado no fim da escada. Ele nos olha sem

entender nada e deve ter escutado boa parte da discussão. Deve ser família
de Jacob, irmão ou primo, eles se parecem, ao mesmo tempo em que,
conseguem ser bem diferentes.

— Desculpe, Nate. Não percebi que estávamos falando tão alto. —


Jacob fala completamente calmo. — Apenas uma discussão leve, nada com
o que se preocupar.
— Um fato sobre o meu irmão. — o rapaz fala para mim. — Ele é
um péssimo mentiroso. — sorrio com sua informação.

— Não posso concordar com você. — discordo e é a vez de ele de


sorrir.

— Nathan, essa é a Blue. — Jacob diz. — Blue, esse é o meu


irmão.

Nathan estreita os olhos em minha direção, como se estivesse


tentando lembrar de onde já ouviu meu nome. Ele se aproxima um pouco
mais e me dou conta que ele será mais alto do que Jacob, com seu rostinho
de adolescente ele já é quase da altura do irmão. Seu cabelo é castanho
claro, tenho certeza que Deus esculpiu o nariz dele pessoalmente, corpo
magro e estruturado, mas as sobrancelhas grossas e os olhos eram idênticos
aos de Jake.

— Eu conheço você. — Nathan diz. — Você toca naquela banda,

né?! — antes mesmo que eu responda ele continua. — Ela é mais bonita
sem maquiagem. — fala para Jake como se eu não estivesse aqui.

— Se você for babaca igual o seu irmão, me avisa, porque um já é


difícil demais de aguentar. — digo e ele ri

— Gosto de você. — fala. — E para o ódio mortal do meu irmão,


de algumas das suas músicas também. – Jacob resmunga impaciente
— Se o seu irmão fica chateado com isso, então eu estou feliz.

Sinto o celular vibrar na minha mão e leio rapidamente a

mensagem do meu motorista avisando que está me esperando na entrada


do condomínio. Pergunto o número da casa e Jacob autoriza a entrada do
carro.

— Nathan, vou te mandar ingressos do nosso próximo show na

cidade. — digo enquanto pego minhas coisas.

— E receberá de volta apenas as cinzas. — Jake fala e reviro os


olhos.

— Deve ser realmente difícil aceitar que o nosso show é muito


melhor que o seu, mas suas atitudes mostram que você sabe a verdade. —
pisco para ele.

Lá está o olhar de ódio de novo. É legal saber que posso apertar


seus botões tão facilmente. Não tenho o trabalho de me calçar, quando

ouço a buzina apenas me despeço deles e vou embora. Peço desculpas a


Roger pela noite passada, sei que ele deve ter ficado desesperado me
procurando.

Quando o carro entra na interestadual percebo que Jacob mora em


uma área afastada do centro e apenas aproveito a vista mais limpa e longe
do caos de prédios de Nova Iorque. Eu adoro esse lugar, mas não o
suficiente para um dia morar aqui.

As lembranças da manhã de hoje vem à tona quando sinto o cheiro

dele exalando pelo carro. Shampoo maldito. No fundo, não quero admitir a
mim mesma que vi sinceridade nos olhos de Jacob quando conversamos no
quarto. Só é difícil demais acreditar que alguém que sempre mente, de uma
hora para outra simplesmente parou. Tento não pensar nas possíveis

manchetes que podem lançar durante o dia. Eu estava vulnerável, não


lembro de nada que aconteceu. Ele pode ter se aproveitado disso de
alguma forma.

Pela primeira vez na vida, eu desejo estar errada sobre Jacob


Collins.
“Tenho vivido como uma estrela porque isso tem me deixado doidão

Esqueça o carro fúnebre, porque eu nunca morrerei

Tenho nove vidas, olhos de gato

Usando cada um deles e correndo à solta”

BACK IN BLACK | AC/DC

— Você só pode estar de brincadeira. — Damon gargalha.

— Ela foi embora sem nem agradecer? — Luke pergunta.

— Aquela garota é uma megera, o que você esperava? — Peter fala


enquanto enche seu copo.

São dez da manhã e todos eles já estão servidos de uísque. O café

da manhã de Joana ainda está pesando no meu estômago, então não


aguento nada além de água ou vou vomitar.

— Eu acho que ela não tem muitos motivos para gostar do Jake. —
Ethan fala e olhamos todos para ele ao mesmo tempo. — Qual é, gente?

Ele também não gosta dela. Só acredito que Jake estava sendo sincero
porque o conheço e sei seus motivos. Nós, enfatizando, nós, sabemos que
ele jamais deixaria de ajudar alguém no estado que ela estava. Mas Blue o
odeia, não vai acreditar assim tão fácil. — dá de ombros.

— Não gostava e agora tenho pavor. — afirmo. — Peter tem razão,


ela é uma megera.

— Que você acha bem bonita, por acaso. — Damon provoca e


todos riem.

Blue Edwards é a visão de um anjo. Só não podemos esquecer que


Lúcifer era o mais bonito do céu e hoje é o dono do inferno.

Faz três dias que ela saiu da minha casa e hoje Nathan recebeu
quatro ingressos para o show da Drops Of Jupiter. Eu não quero que ele vá,
ele quer levar a namoradinha e Cora acha que não devemos apoiar a
concorrência, porque ela é a minha defensora número um, mesmo não
confessando isso com todas as palavras para o nosso irmão.

Ethan é o mais sensato de todos da Selfish Hearts, o mais centrado

e observador, provavelmente ele tem razão, mas não vamos apoiar o


inimigo, então Blue continua sendo uma mal-agradecida. Damon deveria
ser o mais responsável de nós, é casado, tem uma filha, que é a pessoa
favorita dessa banda, mas é o mais perdido de todos. Luke é intenso em

tudo que sente e, nesse momento, Blue é ingrata e continuará até ele
esquecer o acontecido. Peter não esquenta a cabeça com nada, mas nunca
gostou muito da garota e isso não tem previsão para mudar.

Na verdade, meu incômodo não começou com a banda completa,


eles se tornaram consequência das minhas brigas com Mason White. Eu
não consigo acreditar que as pessoas comprem aquela pose de bom moço
que ele prega. O cara é um tremendo enganador. Ele usa de um jeito
quieto, tímido, cheio de segredos e mistérios para conquistar a atenção do

público, para a mídia querer saber quem é o pobre Mason.

Eu sempre odiei o personagem que ele faz, não me desce a ideia


que alguém possa ser tão inocente. O cara tem quase trinta anos e ainda
age como o adolescente de dezoito que começou a fazer sucesso. Quando a
Drops Of Jupiter decolou no cenário musical, a Selfish já era número um
nas paradas de sucesso, eles são bons e eu não nego isso, mas não aceito
que Mason tente nos derrubar e manter aquela cara de cachorro que caiu da
mudança.

Na frente das câmeras ele é um doce e arquiteta tudo por trás delas.

Ele manipula todos ao seu redor. Desde que eles surgiram, se tornaram
nosso maior concorrente e eu adoro uma boa briga, só não aceito que ele
queira vencer não tendo se esforçado para isso. Basta olhar e observar o
jeito imaculado desse cara, teve tudo nas mãos a vida inteira e agora quer

competir com quem veio de baixo. Não comigo. Não tão fácil assim.

Conseguiram assinar contrato com a mesma gravadora que nós, o


que me faz conseguir certas informações sem muita dor de cabeça. Gosto
de tê-los sempre à vista. Mantenham os inimigos perto, certo? É isso que
eu faço.

Quando Peter começou a sair com Ella, a guitarrista deles, quis


arrancar sua cabeça fora, mas descobri que ela é a exceção. Ela parece
muito mais conosco do que com o pessoal da banda dela. Ella não se

importa com nosso estilo de vida e ganhou um espaço especial no meu


coração quando aguentou mais shots que o Luke, o que é quase um
milagre, alguém conseguir suportar mais álcool que Luke Adams, o que
deveria entrar para o livro dos recordes. Ella se tornou nossa parceira e eu
a adoro.

Logan, o irmão dela, não é alguém que me interessa muito. Não


que seja um babaca como Mason. Nós conseguimos conviver bem já que
ignoramos a existência um do outro na terra. Ele parece ser engraçado e

está sempre fazendo piadas pela gravadora, mas o cara não parece ser nada

muito além de capas de revista. Pelo o que já observei dele, dentro dos
negócios e na música, é esperto como Ella, mas não aguento ouvir suas
entrevistas sem revirar os olhos pelo menos dez vezes porque ele se acha
um deus.

E, finalmente, a pequena e brava, Blue. Desde que coloquei meus


olhos nela soube que era um problema. Dizem que é melhor amiga de
Mason e já perdi as contas de quantas vezes gritamos um com outro por ela
defendê-lo. É ridícula a forma como ele se esconde atrás dela e a deixa
tomar a frente de coisas como se fosse mãe dele. Ela parece um animal
raivoso quando chego perto dele, tenho certeza que transavam e escondiam
da mídia. Admito, ela é um tesão nos palcos e toca divinamente, é atrevida
e não tem receio de enfrentar ninguém, defende sua opinião com unhas e

dentes.

— Ela seria mais bonita se não me olhasse como se quisesse


arrancar meu pau. — digo

— Talvez ela tenha aprendido a socar com o amante. — se refere a


Mason. — Na próxima briga pede para ela bater no lado direito, assim eles
podem comemorar juntos. — Damon zoa.

— E a Dana, já chutou sua bunda hoje? — provoco e Luke


gargalha

— Não mete minha mulher nisso. — sua expressão muda

completamente, o que indica que anda nada bem.

Dana e Damon casaram muito jovens. Eles engravidaram logo no


começo da nossa carreira, namoravam desde o colégio e estavam
completamente apaixonados. Quando a banda foi montada e Damon

começou a mudar de vida, tudo que ele quis foi dar o mundo inteiro a ela,
mas Dana não queria nada além dele. As coisas começaram a desandar de
alguns anos para cá, quanto mais Damon trabalha, mais distante das
meninas ele fica.

Não sei como é ter que conciliar mulher, filha e uma rotina de show
frenética, mas Damon não parece conseguir lidar bem com isso. Sky, sua
filha, é o grande amor das nossas vidas, uma criança doce e linda. Ela é a
pureza a nossa volta e é a razão da vida do pai. Posso duvidar de muita

coisa nessa vida, menos do amor que Damon tem pela sua família. Meu
amigo se perdeu em algum momento e eu espero que ele se encontre
rápido, porque a cada dia que passa ele perde um pouco mais de Dana e
isso o destrói.

— Conseguimos. — Dani entra gritando com uma placa na mão.


— Disco de diamante com mais de 15 milhões de cópias vendidas com o
álbum Fallen Angel.
— Você só pode estar brincando, porra. — meu coração dispara.

— A gravadora enviou para o meu endereço. — diz eufórico. —

Olha a merda da beleza disso aqui. — vira o quadro enorme para nós.

Ethan grita em comemoração e eu não posso acreditar. Nos


abraçamos e erguemos Dani do chão, ele até odiava, mas sempre fazemos
isso quando conquistávamos algo. Ele é o causador disso. Pego o quadro

nas mãos e olho com atenção, a moldura preta grossa protege o vidro que
guarda um disco prateado e maior que o tamanho normal. A capa do CD
embaixo, do lado esquerdo, uma plaquinha com nosso nome e os números
que alcançamos gravados nela.

É inacreditável!

— Sabe quem conseguiu a porra de 15 milhões de cópias? —


Damon pergunta. — Pink Floyd com Dark Side of the Moon. Nós
conseguimos o caralho da marca de vendas do Pink Floyd. — fala atônito.

— Acho que não consigo sentir minhas pernas, preciso sentar. —


Ethan senta no sofá logo atrás de mim. — Nós temos o número do Pink
Floyd. — fala baixo, como se estivesse tentando se convencer daquilo.

— Mais um para a parede da Jô. — Dani bate no meu ombro e


sorri.

— Ela vai fazer uma puta festa. — fico mais feliz só de imaginar a
cara dela ao ver o quanto o disco brilha.

Sinto meu corpo formigar de emoção. Cada conquista, cada

número novo, todas as revistas, entrevistas, jornais, fotos, campanhas,


álbuns, mostram que consegui, que todos nós conseguimos. Meu maior
desejo é correr para Joana e abraçá-la, contar para a minha mãe a
grandiosidade que é esse disco, falar para ela que nunca mais teremos

aquela vida, que não precisaremos dormir preocupados com nada, porque
nós vencemos.

Quando a Selfish Hearts ganhou o primeiro prêmio de revelação do


ano, Joana disse que um dia queria andar pela casa e ver todas as paredes
cheias do meu talento. Hoje, ela tem um corredor repleto de conquistas.
Joana sabe quando e como conseguimos cada um deles, às vezes, até
combina almoços da banda no final de semana só para nos fazer limpar os
que ficam no alto.

— Nós poderíamos agradecer aos fãs de uma forma diferente. —


Luke diz. — Há alguns anos não fazemos nada muito íntimo, um evento
com algumas pessoas. Dani consegue cuidar disso rapidinho. — diz e
concordo

— Vocês tem uma semana antes da temporada de festivais.


Podemos pensar em um show pequeno ou um ensaio aberto para cento e
cinquenta ou duzentos fãs. — Dani sugere.
— Fantástico. — Peter diz. — Precisamos comemorar. Vamos sair
hoje, fazer alguma coisa. Jantar naquele italiano que adoramos e depois

uma comemoração exclusiva na casa do Jake.

Eu adoraria a ideia se amanhã não precisássemos passar o dia no


estúdio. Estamos trabalhando em músicas novas e planejamentos de
parcerias com alguns cantores, não paramos de trabalhar a semana inteira,

se tivermos uma noite de bebedeira não vou render metade do dia.

— Porque sempre acaba na minha casa? — questiono.

— E porque nunca podemos fazer um programa tranquilo? —


Ethan entra na conversa. — Peguei horas de estrada até aqui, só quero
comer algo bem gorduroso, assistir besteira e tomar cerveja.

Ele tem razão e aposto que deve ter virado a noite. Sempre antes
das nossas temporadas de shows interligados, Ethan viaja para o interior e
visita a família. Ele adora nos deixar loucos viajando naquela moto no

meio da madrugada, mas sempre diz que é seu momento de paz sozinho.

— Podemos cozinhar. — Damon sugere. — Cora e Nathan estão


em casa, posso levar Sky e convencer Dana a ir comigo.

— Eu amo a macarronada da Cora. — Luke fala e fazemos cara de


nojo.

— Nunca conheci alguém que cozinhasse pior. — Dani comenta e


rimos.

— Anthony pode cozinhar, hoje cedo me avisou que não estava de

plantão. — aviso e já envio mensagem para o meu melhor amigo avisando


que seu compromisso hoje é conosco.

Dani acalma nossos ânimos e começamos a trabalhar. Estou com a


melodia de uma música martelando na minha cabeça, mas ainda não

consegui desenvolver a letra. Entro na cabine de gravação e coloco os


fones. Pelo vidro consigo ver o restante da banda ocupando os sofás. Dani
de pé na mesa de som, enquanto liberam o áudio dos instrumentos já pré-
gravados para que eu cante.

Minha última visão antes de fechar os olhos e a bateria de Damon


soar nos meus ouvidos, seria um quadro engraçados de todos eles
empolgados me olhando através do vidro. Sempre me sinto ansioso
esperando a nota certa chegar para que eu comece a música. A hora exata

para dar voz às palavras de mais uma letra que pode fazer com que alguém
no mundo sinta exatamente o mesmo que eu.

Depois de horas gravando e regravando até ficar perfeito, vamos


para casa. Cada um fica responsável por levar alguma coisa para bebermos
e sei que Damon vai levar sorvete, porque é o preferido de Sky. Entro no
carro e tento não entrar nas ruas mais movimentadas, esse horário todos
estão saindo ou indo para o trabalho, então é difícil não encontrar trânsito.
— Cora. — grito da entrada. — Nate.

— Ele ainda não chegou do treino. — minha irmã grita do andar de

cima.

— A banda vem jantar, Anthony e Jô também.

Ela aparece na ponta da escada antes mesmo que eu termine de


falar.

— Se todo mundo vem e tão de repente, é porque algo muito bom


ou muito ruim aconteceu. — diz.

— Sim. — forço uma expressão de decepção e ela começa a descer


para me encontrar. — Nós ganhamos o disco de diamante. — sorrio
amplamente

— AAAAAAAAH. — ela termina os últimos degraus em passos


rápidos e se joga no meu pescoço.

Abraço seu corpo pequeno e a seguro forte. Digo que Cora é o meu

lado consciente, mesmo sendo muito mais nova que eu, é a pessoa mais
sensata que conheço. A forma como percebe todos os detalhes com
clareza, consegue ver as vantagens e problemas que alguma coisa pode
trazer. É uma líder nata. Meus olhos brilham quando ela se coloca diante
de qualquer situação porque sua mente estratégica é maior que qualquer
outra coisa que ela possa ser. A mulher é uma máquina e a imagino como
uma CEO dando milhares de ordens em uma grande empresa.

— Meu Deus, meu irmão é realmente uma estrela do rock. — a

olho ofendido, depois de colocá-la no chão.

— Agora que você percebeu? — ela revira os olhos.

— Não seja bobo, minhas amigas não me deixam esquecer quem


você é por um segundo. — rio.

Ela odeia quando interajo com suas amigas da escola, porque todas
querem pular no meu colo e não posso culpá-las.

— Não seja má com elas, é difícil cruzar com alguém tão bonito
assim. — aponto para o meu rosto.

— Cada dia tenho mais certeza que seu cérebro foi diminuindo
com o tempo. — diz e gargalho.

Deixo-a responsável por receber o pessoal e obrigar Nathan a tomar


banho assim que chegar do treino, nunca vi alguém suar tanto como aquele

garoto, enquanto me preparo para o jantar. Vasculho entre os produtos da


bancada em busca de um dos cremes que uso na barba e um pequeno
círculo dourado perdido entre eles chama minha atenção.

Rio, porque ás vezes a vida é patética. Rodo o anel entre os dedos e


me pergunto se Blue já se deu conta que perdeu algo na minha casa. Ela foi
a última mulher que esteve aqui e Cora quase nunca entra no meu
banheiro.

Pego o celular e procuro seu contato, eu sei que tenho salvo ou em

algum grupo da gravadora. Abro sua conversa e tiro uma foto do anel.

"Não precisa marcar território, docinho.”

Envio a mensagem e termino de me arrumar. Não demora muito


para resposta chegar.

“BABACA!”

Imagino seu rosto vermelho de ódio por ter perdido algo nas
minhas coisas. É claro que esse anel ainda vai me servir para alguma coisa.
Abro uma das gavetas do armário da pia e jogo lá.

“Guarde o anel, quero de volta.”

Tiro uma foto do ralo da pia e envio para ela.

“Talvez a companhia de esgoto ache para você!”


Ela está online, mas a resposta não chega. Nada melhor do que
irritar as pessoas que não gostam de você com coisas bobas, não preciso

nem de trabalho para arquitetar nada. Esse é o lado bom de implicar com a
Blue, ela perde a paciência muito fácil.

Abro sua foto no contato e ela está sorrindo. O cabelo amarrado,


pele completamente natural, a franja bem cortada chega até sua

sobrancelha, um ângulo sem pretensão de sair perfeito, consigo perceber


que suas pernas estão dobradas e acredito que estava sentada no chão. Não
dá pra ver sua roupa, apenas uma camisa branca, porque ela simplesmente
ergueu o braço sobre a cabeça, olhou para a câmera lá no alto e sorriu.

Está completamente diferente do que normalmente vejo nas


campanhas publicitárias. Assim, eu poderia jurar que ela não seria capaz
de me ferir. Ethan tem razão, eu a acho bonita, talvez mais do que deveria.
Talvez pela forma como ela não tem medo de gritar o que acredita

independente de quem você seja no mundo.

Lembro de uma reunião que tivemos na gravadora há alguns anos e


ela não aceitou fazer parte de um dos novos projetos que estavam
arquitetando. Um sonoro não para o dono da porra da gravadora. Blue é
corajosa, mas existe mais, muito mais além disso. E não sei o porquê, mas
algo em mim está louco para descobrir.

O que Blue Edwards esconde por trás daquela armadura que


carrega?
“Não diga que tudo isso é para o melhor

Eu preciso de você para mentir, para mentir para mim”

LIE TO ME | The Wanted

Não é possível! A vida está fazendo com que eu pague todos os


meus pecados com Jacob Collins. Eu acredito no ditado que fala algo sobre
pagar na terra o que se faz aqui, só não esperava que meu carma fosse ser
ele. Quando a notificação do número desconhecido apareceu no meu
celular pensei que poderia ser alguém que conseguiu achar meu número,
abri a mensagem xingando mentalmente quem tivesse vazado meu contato,
mas eu reconheceria aquele banheiro em qualquer lugar.

Jake segurando meu anel entre os dedos e a pia luxuosa de fundo,


pareciam rir da minha cara. Como diabos eu não vi esse anel caindo no
meio das coisas? Devo ter tirado porque precisava lavar o cabelo.

Merda.

Agora ele jogou o presente que Ella me deu pelo ralo da pia e ela
vai perceber que perdi, uso aquele anel há uns seis anos. Não tenho
dúvidas que ele deu fim ao objeto, é a cara dele fazer isso para me irritar.

Homem nojento!

Aperto o celular entre os dedos e leio pela milésima vez sua última
mensagem. Não vou me dar o trabalho de responder, não ficarei gastando
meus neurônios com essa perda de tempo agora, mas ele que não se
preocupe, eu vou me vingar.

— Blue. — Mason chama minha atenção. — O que aconteceu?


Você está a ponto de jogar o celular na parede.

Olho para ele e forço um sorriso convincente.

— Nada, só estou vendo as últimas notícias. Odeio essas mentiras


da mídia. — tento disfarçar

— Você está estranha desde a noite que sumiu. — comenta. — Sei


que está escondendo algo. Algum cara tá te ameaçando? — a seriedade no

seu rosto mostra que realmente está ficando preocupado.

— Claro que não, May. — tento passar confiança na minha voz. —


Só alguns comentários que me cansam. — balanço o celular enfatizando
que é sobre algo que vi nele, o que não é uma mentira completa.

Mason me olha por um tempo, ainda sério, analisando qualquer

chance que eu possa ter de vacilar sobre o que acabei de falar. Um suspiro
errado e ele sabe que estou mentindo. Não quero contar para ele que
acordei na cama de Jake Collins agora, não estando tão recente da briga
que tiveram.

May nunca é de se aborrecer facilmente, mas Collins buscou tirar


cada gota de estabilidade que ele tinha e uma hora conseguiu. Meu melhor
amigo não odeia ninguém e, quando sente algo ruim sobre uma pessoa isso
nunca dura muito, mas tenho começado a acreditar que Jacob conseguiu o

lugar de ouro no cantinho do ranço que existe dentro de Mason.

A forma como ele se refere a Jake mudou, suas expressões quando


falamos sobre ele, o jeito que seu corpo fica tenso quando esbarramos com
Collins em algum lugar. Mason ainda está a flor da pele e com razão, a
forma que agiu no último encontro que teve com Demi foi repugnante.

E mesmo não tendo culpa de nada, me sinto péssima por ele ter
avisado que eu tomasse cuidado naquela noite, que eu ligasse e, no final,
acordei do lado da pior pessoa do mundo.

— Rockstar, você sabe o quanto essas coisas são chatas. — Demi


chama sua atenção. — Parece que certos dias as pessoas querem destilar
mais veneno do que normalmente fazem.

— Exatamente, tem gente que fica mais venenoso a cada dia. —

comento com o nome de Jake aparecendo em neon na minha mente.


Mason ergue uma sobrancelha para mim e xingo o universo por fazê-lo tão
bom em me ler.

— Deixa de paranoia. — Ella joga o guardanapo nele, pois


percebeu a última olhada que dirigiu a mim. — Esse homem deveria ser
detetive e não cantor, quanta desconfiança.

Rio e me aproximo da mesa onde estão sentados. Ella estende o


braço para pegar a última fatia de pizza, dou uma tapa em sua mão e ela

me encara surpresa, aproveito para pegar o pedaço e dou uma mordida.


Todos rimos, mas sento ao seu lado para dividirmos.

— Pensei que depois da última prova de figurino nós poderíamos ir


à massagista. — Ella propõe.

— Seria incrível uma sessão com aquelas pedras quentes antes do


show de sábado. — meus ombros comemoram com antecedência.
— Não contem comigo. — Mason diz. Troco um olhar rápido com
Ella e não conseguimos evitar a gargalhada.

— Acho que a Demi ainda não conhece essa história. — confirmo


pela cara de quem não está entendendo nada que ela faz. — Primeiro
detalhe importante e que vai explicar tudo, Logan que nos apresentou esse
lugar. — ela já abre um sorriso porque ninguém espera nada normal vindo

do Logan. — Mason teve a sorte de encontrar uma nova estagiária do


local, ela era alucinada pela Drops, falou o tempo todo durante a
massagem e ainda apalpou a bunda dele. — Ella e eu gargalhamos de
novo. — Duas vezes.

— Nunca mais piso naquele lugar. — nem May está conseguindo


conter o riso com as lembranças.

— Rockstar, você não tem sorte nem na hora da massagem. —


Demi segura sua mão.

— Corrigindo, eu não tinha. — ele fala. — Você tem as melhores


mãos do mundo. — trocam um olhar cúmplice e cheio de segundas
intenções.

— Eca. — Ella interrompe o momento. — Tenho certeza que o


sexo entre vocês deve ser intenso, mas não precisa ser na nossa frente.

Ouço os penduricalhos do meu chaveiro fazerem barulho e


chamam minha atenção. Olho para a porta e Logan a abre no mesmo

instante.

— O integrante mais bonito desse grupo chegou. — anuncia e


reviro os olhos.

— Você se atrasou mais de uma hora e mora a um prédio de


distância de mim. Nós já até brigamos pela comida. — olho para a caixa

em sua mão e a chave da minha casa que ele segura na outra.

Logan e eu procuramos apartamentos juntos, queríamos no mesmo


prédio, apenas em andares diferentes, mas nas visitas só conseguimos ser
vizinhos de edifício. O que não o impede de estar mais aqui do que na sua
própria casa. Ele não tem horário e também não avisa, apenas chega e
entra, já se tornou comum. Todos nós temos a chave das casas uns dos
outros, mas só usamos em emergências, só que Logan sempre é a exceção
da regra.

Não que isso me incomode, as vezes eu só o expulso do carpete


mesmo, como também, adoro os dias que ele chega sem dizer nada e
passamos horas no sofá apenas conversando sobre sua aventura da noite,
porque tudo de mais inusitado acontece com ele, sua vida daria um ótimo
livro de comédia.

— Era para você trazer hambúrguer e não pizza. — Mason diz.


— Conheci a pizzaiola do restaurante da esquina e é uma gata. —
explica. — Compramos ali há uns cinco anos e eu nunca tinha visto aquela

perfeição de mulher. Estava no balcão e ela chegou, começamos a


conversar e eu tenho um encontro na sexta, uma pizza especial e um
número de telefone escrito na tampa da caixa, então não joguem fora. —
amarra o cabelo em um coque alto e senta ao meu lado.

O barulho de uma notificação soa e meu celular acende sobre a


mesa, com um movimento rápido pego o aparelho e coloco no colo, vejo
que a notificação é de Parker e fico aliviada. Todos os olhos ao redor estão
concentrados em mim.

— E é porque nada está acontecendo. — Mason ironiza e ri sem


humor.

— Assim não da pra te defender. — Ella fala.

— O que eu perdi? — Logan nos olha curioso.

— É só o Parker me enchendo, por favor, não entendam mal. —


justifico e mostro tela do celular. — Neguei uma campanha que valia
muito dinheiro e ele está bravo.

— Desculpa, mas seu irmão às vezes é bem idiota. — Demi xinga,


mas seus olhos são cheios de compreensão.

Ela não sabe sobre tudo, mas tem noção da relação complicada que
tenho com minha família, mais especificamente meu pai, só que Parker
também sabe me tirar dos eixos quando o assunto são negócios.

— Eu preciso ir, hoje é noite de brincar com Sunny já que não


poderei vê-la por alguns dias. — Ella levanta e começa pegar suas coisas.

— Nós também precisamos ir. — Mason levanta e Demi o


acompanha.

Logan reclama por todos estarem saindo assim que ele chegou, só
que ninguém tem culpa de ele ser o mais atrasado da noite, estamos aqui
há horas. Abraço todos eles e os levo até a porta, quando eles saem, me
encosto nela e fecho os olhos respirando aliviada por não ter deixado nada
escapar.

Logan me olha com uma sobrancelha erguida e, sem palavras, sei


que está me questionando sobre o que aconteceu.

— Preciso te contar uma coisa. — falo apressadamente. — Mas

você precisa jurar que não vai contar a ninguém, não pode nem conversar
sozinho sobre isso em voz alta. — ele me olha confuso.

— Você mandou foto pelada para alguém? — pergunta e bato em


seu braço. — Ai, sua mão é pesada.

— Prometa para mim. — peço e ergo o dedo mindinho para ele,


que enlaça o seu no meu.
— Prometo, Bluezinha. Coloque seus segredos para fora, posso ser
seu conselheiro sexy. — apoia bem as costas na cadeira e me olha com

atenção.

Agora odeio Jacob Collins um pouco mais, se é que isso é possível.


Eu preciso falar o que aconteceu para alguém ou vou ter um ataque
cardíaco aos vinte e seis anos de tanto nervoso por culpa daquela idiotice.

Por mais que Logan adore fofocar, assim como a Drops Of Jupiter inteira,
ele também é ótimo em guardar segredos e consegue me colocar nos eixos
rapidamente.

— Eu dormi com Jake Collins. — solto de uma vez.

— Você fez o que? — quase grita e seu queixo cai. — Blue


Edwards você transou com a porra do Jacob?

— Não, não foi assim. — tento explicar. — Eu estava muito


bêbada e ele me levou para a casa dele.

— Ele se aproveitou de você? — levanta depressa da cadeira. —


Aquele filho da puta, eu vou matá-lo. — puxo seu braço para que se sente
novamente.

— Só dividimos a mesma cama. — tento acalmá-lo. — Eu tenho


que te contar e preciso que me escute. — peço.

Detalho tudo que aconteceu. Desde o que aconteceu na boate, a


hora que comecei a beber demais, como o mundo ficou escuro, quando
acordei na cama dele e pensei que era o hotel de Mason, sobre tudo que

Jacob me disse, nossa briga e as mensagens de hoje.

— Esconder do Mason é ridículo, Blue. Você acha mesmo que o


Jake não vai usar isso para te provocar ou provocar ele? — Logan
questiona e eu me jogo no sofá.

— Não quero que ele se aborreça. Voltou com a Demi e está se


recuperando da morte de Chris, sem contar o ódio que tem sentido por
Jake. Não aconteceu nada demais, só preciso que ele fique longe de May
até isso passar mais. — falo tentando convencer a mim mesma que esse é o
melhor caminho.

— Ele provavelmente ficaria preocupado porque você estava


vulnerável perto daquele cara. Também ficaria um pouco puto por não ter
ligado e por ter saído sem segurança. — Logan não me acalma dizendo

isso, mas é a verdade.

— Pois é, mas agora tudo está bem, ele não precisa se preocupar
com coisas que já deram certo. Eu odeio mentir para ele, mas vai ser só por
um tempinho. — Logan concorda com a cabeça.

— Só conte antes que Jacob tenha a chance de fazer alguma piada


nojenta. Mason vai querer quebrar a cara dele. — dá uma risadinha. — De
novo.

— Isso não vai acontecer. Vou mantê-los o mais longe possível. —

afirmo. — Eu me sinto tão idiota por tudo isso ter acontecido. Não posso
ficar naquele estado quando estou longe de vocês. De uma coisa Jacob
tinha razão, algo muito ruim poderia ter acontecido comigo.

— O inferno acabou de congelar. Blue Edwards disse que Jacob

Collins tem razão em algo. — gargalha e acabo rindo também.

Jogo uma almofada nele e aproveito a sensação de conforto que


Logan me proporciona. Ele tem razão quando diz que minha casa é sua
casa, porque é isso que ele representa, lar. Sua risada alta toma conta de
todo o ambiente. Ele é completamente contagiante. A maneira como leva a
vida, a leveza que enxerga nas coisas, seu tom de voz, até as piadas
inapropriadas, fazem dele um companheiro inexplicável. Em outra vida, eu
poderia me apaixonar por ele, mas nessa, sei que sou sortuda por tê-lo

como amigo.

— Só preciso esperar um pouco e então conto tudo. — afirmo.


Finalmente a temporada de festivais começou e temos algumas

semanas de viagens para as apresentações. O primeiro é em Los Angeles,


então não precisamos sair de casa, mas daqui a dois dias estamos indo para
Lisboa. Eu gosto do ritmo de viagem, chega uma hora que minha alma
implora para sair do corpo, mas o cansaço faz parte da rotina que temos

com a Drops.

O local desse ano é inexplicavelmente imenso, tem palcos


distribuídos por todo o lugar e cada um deles é para um estilo musical
diferente. A energia dos festivais parece ser diferente, talvez por ser um
evento que reúne tanta diversidade e tantas pessoas, acabamos alcançando
novos públicos e conhecendo novas bandas.

— Quem vai entrar antes de nós? — Mason pergunta enquanto


terminamos de nos arrumar no camarim.

— Aquele pessoal da Austrália. — Logan o lembra. — Eles são


incríveis. Vou tentar assistir um pouco do show deles, já combinei com a
Bluezinha.

— Os meninos da Selfish Hearts também. — Ella fala enquanto


termina de fechar meu colar.

— Esses aí não faço tanta questão. — Logan desdenha. —


Podemos tomar umas cervejas durante o show deles para entrarmos

prontos para colocar a apresentação deles no chinelo. — ergue a mão para

mim e completo o high five.

— Não seja babaca, Logan. — Mason o repreende. — Ou teremos


que te colocar na banda deles. — brinca e rimos.

— Vocês cansam minha beleza. — Ella revira os olhos. — Deve

ser realmente difícil não poder dizer que os meninos não tem talento.

Logan afina a voz e a imita falando debochando da irmã. Mas Ella


tem razão, eles são muito bons no palco. Não que isso seja um problema,
já que sempre seremos melhores.

Confiro minha aparência no espelho e retoco o gloss. O azul dos


meus olhos estão bem destacados pela maquiagem escura que escolhi essa
noite. O glitter holográfico que coloquei nas têmporas refletem de uma
forma linda no jogo de luzes do palco, em certos shows gosto de usar.

A banda australiana entra no palco e Logan reconhece. De mãos


dadas saímos do camarim, mas é um percurso movimentado até o palco, os
artistas, os convidados, as equipes técnicas e pessoais de diversos cantores
circulam por todo o lugar.

Logan reconhece um empresário — que sempre está nas suas festas


— no meio da multidão, então saímos brevemente da rota do palco e nos
aproximamos da cabine que o homem está. Acredito que se chama

Stephen, eles nos vê e grita por Logan. Eles trocam abraços, nos

cumprimentamos e eles começam a comentar sobre a noite de hoje.

Uma figura alta chama minha atenção bem próxima a nós. Em uma
conversa animada com um grupo de pessoas um pouco atrás do amigo de
Logan, eu o vejo.

Jake Collins olha em minha direção e meu anel está pendurado no


colar em seu pescoço.
“Deixei cair, meu coração

E enquanto ele caía, você se ergueu para reivindicá-lo

Estava escuro, e eu estava acabada

Até que você beijou meus lábios”

SET FIRE TO THE RAIN | Adele

Ele fez de propósito, não é possível. Pensei que o anel já estava na


estação de tratamento de esgoto em Nova Iorque e ele está aqui, na minha
cara, pendurado no pescoço dele.
Logan me olha quando sente o aperto em sua mão se tornar mais
forte. Ele se abaixa um pouco para que eu possa falar no seu ouvido.

— Meu anel está no pescoço dele. — Logan me olha sem entender.


— Jacob Collins está a sua direita e com a merda do meu anel como
pingente do seu colar. — ele me olha surpreso e vira para olhar em direção
ao grupo próximo a nós.

Logan xinga e se volta para mim.

— Resolve isso, porque ele não veio usando seu anel por ter boas
intenções. Esse cara vai aprontar, Blue. — é possível sentir a raiva na sua
voz.

— Você acha que eu posso ser proibida de realizar o show se eu


voar na cara dele agora? — pergunto e ele ri

— Não se preocupa, se algo acontecer, serei o primeiro a quebrar


os dentes dele. — Logan fala.

— É bom que seremos expulsos juntos, a raiva de Mason e Ella vai


passar mais rápido, mas Michael com certeza teria um ataque cardíaco. —
afirmo.

Uma gargalhada forte soa e eu não preciso olhar para saber que é
dele. Logan percebe minha irritação ficar maior e se despede do amigo.
Seguimos nosso caminho inicial, seus braços envolvem meus ombros e
enlaço meus dedos nos seus.

A banda australiana é fantástica e consigo me distrair quando

Logan me rodopia algumas vezes. Dançamos, comentamos sobre o


desempenho deles com os instrumentos e eu com certeza vou conseguir o
número do baterista até o final da noite. Não posso permitir que ele volte
para casa sem conhecer a minha. Aproveitamos o show o máximo possível

e voltamos para o camarim um pouco antes de finalizarem porque tudo


vira um caos até prepararem o palco para a nova banda.

Jacob não está mais no lugar que o vi pela última vez. Coitado dele
se acha que vai escapar de mim. Vou arrancar aquele colar do seu pescoço
nem que tenha que degolá-lo.

Mason e Ella estavam nos esperando para começarmos as


entrevistas para os canais de TV. As horas passam mais rápido quando
estamos todos juntos e cheios de coisas para fazer. Alguns convidados

particulares da gravadora tiram fotos conosco e aproveito para pedir que


Helen consiga o número do rapaz da banda.

A voz de Jake Collins ecoando por todo o espaço soa mais como a
música que aquelas menininhas cantam em filmes de terror antes de tudo
dar errado. A rouquidão invejável e a potencia da sua voz enquanto
acompanha a melodia das músicas está dominando todo o local dos
camarins, e é impossível não os ouvir tocar.
Isso se chama carma, Bluezinha, carma. – minha mente diz.

Ouvimos quando eles se despedem e sabemos que em meia hora

estaremos subindo no palco. Um dos organizadores nos dá o sinal de


confirmação e ninguém mais fica no camarim além de nós e as pessoas que
trabalham diretamente com a banda.

Mason aquece a voz enquanto como mais um salgadinho, Logan

tira a camisa e veste uma jaqueta aberta. Ella coloca seus acessórios e me
afasto dela para que não tenha chances de olhar para os meus dedos.

Pego o celular e envio uma foto para minha avó, que responde
imediatamente com vários corações e confirmando que a televisão está
ligada para assistir nosso show.

— Logan, ninguém vai te cheirar no palco, não precisa tentar nos


envenenar com esse perfume. — Ella toma o frasco da mão dele e rio.

— Sua irmã tem razão, bonitão. — falo. — Todos nós estamos

cheirando como você.

— Então agradeçam, porque esse é o cheiro da perfeição. —


reviramos os olhos

Ella me puxa para sairmos do mesmo ambiente que Logan e rio da


sua falta de paciência com o irmão. Logan sempre exagera no perfume
antes das apresentações, não sei se é algum tipo de ritual, porque se for,
nem ele sabe. Ficamos em um lugar estratégico para que os meninos nos
encontrem quando chegar a hora do show.

Então, mais uma vez a vida ri da minha cara. Luke e Ethan gritam
algo para uma pessoa que não consigo ver, logo Peter nos percebe e solta
um beijo no ar para Ella, que retribui. Jake vem caminhando na direção
deles, passando a mão entre os fios molhados do cabelo. Um jeans preto se

agarra a suas pernas, está com uma camisa xadrez vermelha com preta com
alguns botões abertos e um coturno militar.

— Esse figurino pós-show o deixa mais sexy. — Ella comenta o


acompanhando com os olhos, assim como eu.

— De cueca é muito mais. — penso alto e ela me olha desconfiada.


— A calça é apertada, marca bem a bunda, de cueca deve ser bonito
também. — tento contornar o quase deslize. — Tô achando os músculos
dele cada vez mais forçados, você deveria dar uma dica quando saírem

juntos. — finjo.

— Com o seu histórico de lutadores acho que os músculos de Jake


não seriam um problema para você. — provoca e reviro os olhos.

— Realmente, os músculos não são um problema, a existência dele


que é.

Michael chama Ella e fico sozinha. Essa é a hora de pegar meu anel
de volta. Tiro o celular do bolso e digito para ele.

“Preciso falar com você.”

Vejo quando Jake pega o celular e lê a mensagem. Um sorriso

presunçoso surge em seu rosto e olha em minha direção. Aquele olhar forte
de quem sente que é dono do mundo surge em seu rosto, o que ele não
sabe é que eu também sou a dona da porra do mundo. Sustento seu olhar
até ele voltar a digitar.

“Não adianta insistir, não vou ser sua foda pré-show.”

Faço cara de nojo para o celular e encontro seu olhar divertido. A

palavra nojento sai da minha boca e ele parece segurar o riso.

“Me encontre entre as cabines. AGORA!”

Ele lê, mas Peter chama sua atenção e eles começam a conversar.
Estou a ponto de ir até lá, mas Jacob se volta para mim e sinalizo com a
cabeça para a direção certa, ele concorda brevemente e eu me afasto da

cabine da Drops.

O espaço não é tão iluminado, mas é o suficiente para que eu o veja


ocupando todo ele com sua presença. Jacob é grande, largo e alto.
Caminha com confiança e arrogância em minha direção. É possível
perceber sua imponência de longe, assim como meu anel cintilando no

meio do seu peito.

— Já disse, não adianta insistir, sexo comigo nunca é rápido, Bae.


— sua voz parece mais rouca.

— Não me chame assim. — o repreendo. — E o seu sonho de


dormir comigo nunca vai se realizar, Collins, conforme-se. — ele gargalha.

— Querida, nós já dormimos juntos. Agora precisamos praticar


aquela outra parte, a que se faz acordado. — fala sugestivo e reviro os
olhos.

— Não vou gastar minha paciência com você. Apenas me entregue


o anel, Jacob. — estendo a palma da minha mão para que ele coloque o
anel.

Porém, seus olhos passeiam rapidamente entre ela e o meu rosto, e


um sorriso de canto surge em seu rosto. Ele é rápido, segura minha mão e
leva até seus lábios. Quando sua boca toca minha pele, ela esquenta
imediatamente.

Livro-me rapidamente do seu toque.

— E o que eu ganho por ser um cara tão legal e ter guardado seu
anel com tanto cuidado? — passa a mão sobre o atual pingente.

— Ganha uma manchete falando sobre seu belo show e não


trazendo o escândalo que foi acusado de roubo. — ele gargalha mais uma

vez.

— Bae. Bae. — fala compassadamente. — Não sabia que agora


você também era humorista.

— Collins, eu quero a porra do anel. — minha paciência vai se


esvaindo.

— Só se você me contar como seus amigos reagiram ao saber que


você dormiu comigo. — diz.

Ele dá um passo em minha direção, mas continuo no mesmo lugar,

ele não me intimida. Cruzo os braços e o encaro. O sorriso presunçoso


volta ao seu rosto e os olhos castanhos estão fixos nos meus. A presença
dele sempre me incomodou, mas hoje, a forma como me olha é diferente.
Ele presta atenção em todas as minhas ações, como se estivesse curioso
para saber qual é o meu próximo passo.

— Não precisava ficar com o anel apenas para saber sobre o nosso
ódio por você, querido. — sorrio. — Todo mundo te xingou, nada de novo.
Não tem importância e não muda em nada na nossa vida. — seu sorriso

cresce e eu quero esmurrar ele.

Aqueles olhos, cheios de nuances por ora parecem verdes, ora


amarelados, me analisam por alguns segundos. É como se ele estivesse
tentando ler através de mim. Isso me deixa inquieta, porque sinto que ele

pode e essa é a última coisa que preciso agora.

Seu rosto está tranquilo, mas sei que sua língua de cobra está
pronta para soltar o veneno.

— Você mente tão mal. — desdenha. — Mason iria gostar de saber


que você adorou me ver com uma ereção matinal. — se aproxima um
pouco mais.

— Eu imagino o quão ruim deve ser sua vida. — rio sem humor. —
É patético a forma como você sempre quer nos atingir de alguma forma.

Isso é falta de sexo ou só inveja mesmo? — percebo que falei besteira na


hora que seus olhos se iluminam.

— Se quer saber se estou transando com alguém pode perguntar,


Bae. — sorri. — Só que você vai precisar se esforçar mais um pouquinho
para conseguir me levar para a cama. Eu não sou não sou fácil como
pareço. — fala convicto.
É impossível conter a gargalhada. Se não fosse Jacob Collins na
minha frente, eu até poderia dar uma chance ao cara debochado, galante,

sexual e provocativo que está comigo agora. Provavelmente eu riria das


suas péssimas piadas de duplo sentido e nós tomaríamos uma bebida
depois do show. Só que tudo isso cai por terra quando meus pensamentos
se voltam para a capacidade dele de ser cruel, aproveitador e

inescrupuloso.

Já deixei homens como ele entrarem na minha vida, mas não aceito
mais.

— Nós podemos fazer um acordo. — quebra o silêncio. — Ele


começa com você me dizendo quantas vezes você e o Mason já dormiram
juntos. — ele está falando sério e não tento evitar a crise de riso que toma
conta de mim.

— Você parece uma criança. — rio um pouco mais. — Não que

isso seja da sua conta, mas May e eu nunca tivemos nada. –— ele me olha
com os olhos cerrados. — Me devolve o anel.

— Não consigo acreditar nisso, vocês são muito sonsos e


conseguiriam esconder bem. — ignora meu pedido. — Então, você vai sair
para tomar um café comigo na cidade do próximo festival e eu te entrego o
anel.
— Pode esquecer, não vou sair com você. Coloque uma coisa na
sua cabeça, Jacob. Eu não gosto de você! Não temos o que conversar, você

não merece o meu tempo e eu estou cansada dessa palhaçada. — falo um


pouco mais alto.

— Você não gosta de mim e eu te acho bem bonitinha irritada.


Precisamos resolver nossos problemas e chegar a um consenso para isso.

— ergo uma sobrancelha para ele.

— Consenso? — nem sei por que ainda pergunto, mas cansei de


dar ouvidos a ele.

— Sim! Se vamos nos odiar ou liberar o tesão reprimido.

Não preciso ficar ouvindo esse tipo de besteira. Só quero meu anel
e se ele não vai entregar, eu vou pegar de volta. Jake consegue perceber
minha ação, e quando seguro o anel e puxo o colar do seu pescoço ele é
mais rápido e me puxa contra ele.

Sinto o impacto do meu corpo contra o meu, sua mão segura forte
minha cintura, seu rosto a centímetros do meu. Todos os lugares onde
nossos corpos se tocam parecem pegar fogo. De perto ele é ainda mais
bonito, seu corpo parece ter o tamanho ideal para abraçar o meu. Meus
olhos alcançam os seus e, por um segundo, sei que posso me perder
naquela escuridão.
Ele quebra o pequeno espaço entre nós e seus lábios estão nos
meus.
“Apenas um beijo em seus lábios ao luar

Apenas um toque do fogo ardente

Não, eu não quero confundir as coisas

Eu não quero forçar demais

Apenas um tiro no escuro e você poderá

Ser o único que eu estive esperando por toda minha vida”

JUST A KISS | Lady Antebellum

É normal sua boca parecer encaixar tão bem na minha?


Senti o meu corpo inteiro acender no momento em que toquei seus
lábios. Ela é alta, mas ainda é pequena comparada a mim, seu corpo parece

perfeito para abraçar. Minhas mãos estão na sua cintura, as dela


espalmadas no meu peito. No segundo que ela cede consigo investir com
mais força em seus lábios.

O beijo é carnal, cheio de ódio e desejo. É isso que sinto, desejo.

Ela é feroz e eu aceitaria ser devorado agora mesmo. Tudo em mim só


quer meus lábios cada vez mais colados aos dela.

Meu corpo inteiro pede pelo dela, o toque, o cheiro — que está me
enfeitiçando — a forma como sua boca me recebe, como sinto meu sangue
correr mais rápido com ela em meus braços.

Meu peito é empurrado com força e não vou contra sua vontade,
dou um passo atrás e sinto o impacto em meu rosto, que agora queima.

Ela realmente acabou de me bater?

— Nunca mais toque em mim, Collins. — ela grita.

Seu braço é forte, porque posso jurar que estou sentindo seus dedos
no meu rosto até agora.

Blue passa por mim como um furacão e a vejo sumindo no fim das
cabines.

Toco meu rosto e não consigo conter o riso. Isso é patético. Acabei
de apanhar e agora a acho ainda mais sexy.

Eu só posso estar perdendo a cabeça. A raiva deve estar me

cegando.

Definitivamente, o meu propósito mudou completamente assim que


o corpo dela colidiu com o meu. Foda-se fazer Mason perder a cabeça ou
as rixas entre as bandas, ela é quem sempre esteve batendo de frente

comigo, quem nunca se calou diante das minhas confusões. Blue sempre
chamou minha atenção, primeiro por estar sempre ao redor de Mason,
depois pela beleza, consequentemente pelo seu ódio direcionado a mim.

Mas desde que a carreguei em meus braços no dia da boate algo


mudou. Eu a quero. Quero mais ainda depois de sentir seus lábios nos
meus. Vai ser uma briga de gente grande, mas ela ceder ao beijo pode ser
uma chance de que algo mais possa acontecer. Meu propósito agora é levar
Blue para a minha cama.

Respiro fundo para acalmar meu corpo e ninguém me vê saindo


depois dela. Quem a visse agora, saberia que foi beijada e sinto uma
pontada de orgulho por ter sido por mim, mesmo ela jamais admitindo que
eu seria o causador do aumento da sua libido.

— Quem te beijou? — Luke pergunta antes mesmo que eu pare ao


lado deles e rio.
— Não diz que foi outra fã daquelas descontroladas que pulou no
seu pescoço. — Damon faz cara de preocupado.

Isso aconteceu, uma vez. Uma garota conseguiu me pegar de


surpresa, estava meio bêbado e ela só se jogou na minha boca. Eu não
retribui e a afastei de mim, porque meu cérebro gritou cadeia no mesmo
segundo. Ela provou que não era menor de idade, mas até hoje duvidamos

sobre a veracidade daquele documento, ela parecia ter a idade de Cora.


Dani a repreendeu e lhe dei apenas um autógrafo.

Eu não me importo de ficar com mulheres que gostam do meu


trabalho, isso acontece com frequência, mas temos muitas fãs jovens e elas
conseguem ser mais corajosas, então acabam fazendo loucuras que podem
ser preocupantes.

— Vocês estão viajando. — minto, com minha melhor cara de


cínico. — Não beijei ninguém.

— Eu sou o cara que mais beija na boca que você conhece. —


Peter fala. — Se existe alguém que sabe reconhecer uma boca beijada, sou
eu, e afirmo com toda certeza que sua língua estava na garganta de alguém,
JJ.

— Essa não é a pergunta certa. — Ethan indaga. — O principal


questionamento é, por que ele está tentando esconder de nós? — me olha
desconfiado.

— Ou quem ele está escondendo? — Luke semicerra seus olhos

para mim.

Eles me olham atentos e sei que não adianta mentir, minha boca
deve estar tão vermelha quanto a de Blue. Mas não posso dizer que Blue
Edwards acabou de me dar o melhor caralho de beijo do ano. Ethan ficaria

com raiva de mim, porque ele quer sempre me manter longe dos problemas
com a Drops. Mesmo sabendo quem sou, eles não acreditariam facilmente
que o beijo simplesmente aconteceu porque eu estava pirando com aqueles
olhos azuis tão intensos em mim.

Acho que nem eu estou acreditando que a beijei.

Porque eu beijei uma pessoa que me odeia? Qual o sentido dessa


burrice, Jacob? — os mini Jakes dentro da minha cabeça estão putos
comigo nesse momento.

— Fui tentar ligar para Cora e encontrei uma velha conhecida. —


tento ser convincente.

— Não sei se acredito nessa história. — Peter diz erguendo os


braços em rendição. E isso significa que ele não vai perder a cabeça pela
situação, mas sabe que estou mentindo.

Meu amigo não é de insistir muito, mas ele deixa bem claro o que
sente.

— Muito menos eu. — Damon concorda.

— Quando ele beber, ele conta. — Luke fala e leva a latinha de


cerveja a boca.

Meu rosto ainda está pinicando com as suas digitais, mas só


consigo pensar em como quero beijá-la de novo. Não acredito que perdi o

juízo com a pessoa mais descontrolada que já conheci na vida. Quando


entrei naquele corredor e a vi me esperando, eu a xinguei mentalmente por
estar tão linda. Era possível perceber sua inquietação pela impaciência em
seus passos de um lado para o outro.

Os olhos azuis estavam tão fortes e vivos, cheios de raiva e


ansiedade, marcados com uma maquiagem escura, pareciam me chamar
diretamente para ela.

Eu não sei explicar o que deu em mim, no meu estado normal de

consciência eu não faria isso, não com ela. Blue Edwards é a última pessoa
do mundo que eu tentaria algo, pelo menos era, até hoje.

Não consigo parar de pensar sobre a vontade gritante de prendê-la


contra a parede e a erguer. O quão louco eu ficaria com aquelas pernas
abraçando no meu corpo.

— Me surpreenda, princesa. – Peter grita e olho para a mesma


direção.

A Drops está a caminho do palco. Ella mostra o dedo do meio para

Peter e rimos. Logan me lança um olhar matador, então aceno e sorrio para
ele, que parece ficar ainda mais irritado. Mason está com os braços ao
redor do ombro de Blue e fala algo em seu ouvido, ela sorri e nenhum dos
dois parece perceber a nossa existência ali ou apenas não se importam.

Só que para sua má sorte, sei que estou ocupando seus


pensamentos, nem que seja com sentenças de morte.

— Rapazes, hora da entrevista. — Dani nos chama e o


acompanhamos.

Entre um show e outro, as bandas realizam uma pequena entrevista


para o canal de emissora que transmite ao vivo o festival na televisão e
canais no YouTube. Cumprimentamos o pessoal da equipe que estava a
postos e sentamos nos bancos posicionados para a câmera, a entrevistadora

nos fala brevemente sobre como seria o momento e entrega microfones


para cada um de nós.

Sempre nos demos muito bem em entrevistas, todos somos bem


desenvoltos e conseguimos transparecer nossa relação para as câmeras
com muita naturalidade. Mesmo tendo personalidades diferentes, quando
se trata do contato com o público estamos na mesma sintonia. Revistas,
entrevistas e fotos nunca foram problema para a Selfish.

— Vocês foram a terceira banda da noite no palco rock, como é

estar na programação de abertura de um festival conhecido mundialmente?


— a mulher questiona

— Nunca deixa de ser fantástico. — Luke diz e concordamos. —


Esses eventos tem uma energia diferente, a junção de tantas pessoas é

sempre contagiante.

— O primeiro dia é tão difícil quanto todos os outros, mas ficamos


honrados em estar na grande de abertura. — Damon conclui.

Bebo um pouco de água na tentativa de acalmar minha garganta um


pouco cansada e me distraio brevemente com as imagens da nossa
apresentação aparecendo na tela pouco atrás de nós. A cobra cinza em
tamanho gigante gravada no fundo preto é plano de fundo de vários
momentos exibidos, sou completamente encantado pela marca da nossa

banda. A serpente, para mim, representa coragem, força vital, espírito


aventureiro, sabedoria e força espiritual, como também, ao mesmo tempo,
pode significar sagacidade e persuasão.

— Vocês tocam nesse festival há cinco anos consecutivos, existem


histórias engraçadas de bastidores? — Peter ri logo e todos olhamos para
Luke.
— No segundo ano que estivemos aqui Luke quis se misturar com
a plateia para curtir alguns shows. — relato. — Se caracterizou inteiro para

não o reconhecerem na multidão, mas nossos fãs são os melhores e nos


conhecem bem. Ele não conseguiu andar cinco metros, seu disfarce foi
literalmente arrancado e teve que correr até chegar na área restrita com
uma multidão atrás dele. — sorrimos com a lembrança.

— Sem contar as quedas no palco. — Ethan fala.

— E as roupas que rasgam no meio da apresentação. Já perdi


algumas calças. — Peter revela.

São muitos anos juntos, é impossível não termos uma coleção de


histórias para contar. Minha memória é péssima, mas consigo lembrar de
cada momento com os rapazes. Não nos conhecíamos quando a banda
começou, todos fomos descobertos por Daniel de formas diferentes e em
realidades distintas. Eu era apenas um garoto perdido no mundo sem saber

o que ele iria me oferecer, e fui surpreendido, porque ele me ofereceu


pessoas para amar.

Cinco garotos entrando na vida adulta se uniram para realizar


sonhos que pareciam impossíveis e não demorou mais de três meses para
sermos melhores amigos um do outro. Convivíamos quase vinte e quatro
horas por dia todos os dias da semana, já até moramos juntos.
Precisávamos ensaiar e estudar muito, dedicamos toda a nossa energia à
banda e nada se compara a força de um jovem que vê possibilidades

surgirem na sua frente.

Eu só tinha Joana, Tony, Nathan, Cora e Aimee no mundo, e então


Luke, Damon, Peter e Ethan caíram de paraquedas na minha vida. As
pessoas que conseguem te conhecer intimamente sempre deixam um
pouquinho delas com você e tenho orgulho de dizer que me constituí a

partir do que cada um deles me ensinou.

— A rival de vocês está no palco agora, a Drops Of Jupiter é uma


das bandas mais esperadas da noite, o que vocês diriam para eles agora? —
a mulher pergunta.

— Acho que no teatro eles desejam algo como, quebrem a perna.


— digo e sorrio docemente. — É isso, quebrem a perna... — dou de
ombros. — Talvez literalmente. — pisco para a câmera e vejo os olhos de
Dani me fuzilarem.

— O rei das piadas idiotas não perde uma entrevista. — Ethan


alfineta mostrando que também detestou minha brincadeira e gargalho.

No telão aparece a imagem deles no palco. O primeiro a aparecer é


Mason, que está cantando e acenando para as pessoas, Logan imerso no
seu universo de baterista assim como Ethan fica, Ella está linda como
sempre e o sorriso do seu rosto parece se iluminar com a forma que a
plateia acompanha a letra e no tempo exato que a música atinge seu ápice a
câmera foca em Blue, ela está de pé, tocando um piano preto imenso, joga

a cabeça para trás e o cabelo loiro acompanha seu movimento. O brilho na


lateral do seu rosto se destaca e seus lábios formam um sorriso simples,
sem mostrar os dentes, de quem está se sentindo em êxtase.

Espero que ela sorria assim quando estiver debaixo de mim. –

penso.

Terminamos a entrevista agradecendo a todos que estiveram aqui


esta noite e por todo o carinho que recebemos. Dani dá um soco no meu
ombro assim que a porta fecha atrás de nós e rio. Me repreende por sempre
procurar confusão entre os fãs, que já devem estar com uma hashtag em
alta sobre o assunto, mas eu não poderia deixar de provocá-la, não hoje.

— Preciso foder, não quero nada além. — digo e me jogo no sofá


do camarim. — Meu plano é mandar mensagem para uma das meninas que

costumo encontrar daqui, acho que a amiga daquela atriz que Peter ficava.

— Cadê a sua velha conhecida? — Luke questiona se referindo a


resposta que inventei mais cedo.

— Está ocupada. — o que não é mentira. — Mas, estou tão


cansado da viagem e do show que quero chegar ao hotel, beber alguma
coisa forte e transar até minhas bolas encolherem.
— No meu quarto vai ter uma festinha particular, vocês estão
convidados. — Peter sorri sem escrúpulos. — Inclusive, Luke está ficando

com aquele DJ bonitão da outra noite e o convidou.

— Se ele tiver qualquer nível de pudor, nunca mais fala com você
depois dessa festa. — aviso a Luke.

Envio uma mensagem para Nate perguntando onde estão e ele

demora a responder, então encaminho para Thony, que diz já estarem a


caminho do camarim porque Joana está precisando sentar para descansar.
Quando eles chegam até nós, lhe dou um abraço forte e agradeço as
parabenizações. Pego coisas para Joana comer e beber, ela senta e arrasto
uma cadeira para colocar os pés. Ocupo o lugar ao seu lado e apenas
conversamos por algum tempo.

— Bonito colar. — ela comenta e me dou conta do objeto ainda em


meu pescoço.

Blue esqueceu e eu não consegui mais pensar nele porque meu


rosto estava ardendo.

Pode ser só uma ironia do destino ou um aviso do universo, não


importa. Mas, para a infelicidade dela, ainda existe algo que a liga a mim.
“Paciente, eles me dizem que o amor é paciente

Mas o amor nunca quer esperar meu coração bêbado

Então eu vou pegar todo meu, todo meu, todo meu amor desperdiçado

E transformá-lo em vinho.”

DEAR AUGUST | Noah Cyrus

— Querida, você estava tão deslumbrante esta noite. — a voz de


Olívia demonstra toda a sua felicidade do outro lado da linha. —
Parecendo uma estrela cadente brilhando no céu.

Mal sabe ela que, assim como uma estrela cadente, eu sinto que

colidi com um asteroide e explodi no universo de tão cansada fisicamente.

— Você gostou de May cantando sua música? — pergunto. — Foi


a primeira vez ao vivo, sempre amo quando minhas letras são cantadas por
todas aquelas pessoas.

— Claro que sim, a voz daquele menino é uma benção divina. Diga
a Logan que ele acabará pegando um resfriado se continuar tocando sem
camisa, mesmo que seja uma ótima visão. — gargalho

— Vovó, sei que Logan é o seu sonho adolescente, mas não fale
sobre isso comigo quando ele está circulando na minha cozinha, é
estranho. — é a vez de ela rir.

— Se eu fosse alguns anos mais nova, ele teria se apaixonado por


mim e não por você. A diferença é que eu não seria uma adolescente boba.

— meu queixo cai, mas não consigo conter outra gargalhada.

Desde que contei para vovó sobre Logan ter tido uma leve
paixonite por mim quando éramos jovens que ela me julga por não ter
aproveitado os bons anos de adolescência com um rapaz tão bonito e
robusto, palavras dela.

Eles se dão muito bem e Logan sempre alimenta todas as fantasias


de Olívia com suas brincadeiras quando se encontram, não guarda o seu
lado galante nem com alguém que literalmente poderia ser avó dele.

— Preciso fofocar sobre Ella. — muda de assunto rapidamente. —


É possível ver a alegria daquela garota até pela televisão. Tenho que
admitir, não gosto muito daquele Michael, mas a menina está diferente. Ela
é um doce. Se ele machucá-la, vamos precisar conversar com ele ao estilo

Edwards de solucionar corações partidos. — sorrio.

O “estilo Edwards de solucionar corações partidos” é algo que


Olívia faz comigo desde que comecei a sofrer por garotos. O primeiro
passo era me ouvir chorar e lamentar; depois cuidar de mim; o terceiro
passo era fazer o garoto pagar na mesma moeda — o que se resume a fazê-
lo ver o que perdeu; e no último, eu escrevia uma música sobre o que
estava sentindo e tocava para ela.

— Eles estão muito felizes, vovó. E pare de pegar tanto no pé do

Michael, ele é um cara legal e me faz trabalhar para que tenhamos


dinheiro. Você sabe que amo a correria dos shows. — ela resmunga coisas
que não entendo, mas sei que está discordando de tudo.

— Ohh. — fala como se recordasse algo. — Você lembra do rapaz


que conheci na gravadora? Ele cantou antes de vocês. — reviro os olhos.
— Blue, eu passaria horas apenas ouvindo a voz daquele homem no meu
ouvido. Ele é sexy! — afirma com toda convicção.
— Vovó. — quase grito. — Pelo amor de Deus, não caia de amores
por Jacob Collins, ele é o maior babaca que você já conheceu na vida! O

seu crush é o Logan, nada de Jacob. Ele é o cara que sempre inventa coisas
sobre a Drops. — explico rapidamente.

— Pobre garoto. Deve ter o coração amargurado. – sua voz é cheia


de acolhimento e compreensão. — É uma pena, tão bonito, robusto, com

tatuagens bonitas e não daquelas feitas na esquina de postos de gasolina.


Ele foi tão gentil comigo, Baezinha. – é impossível não rir. — Ele precisa
de um amor na vida dele, assim para de cuidar da vida dos outros.

— Só não vai ser o meu e nem o seu. Nada de gostar dele, está
proibido. — ela resmunga novamente.

Se Olívia soubesse que há poucas horas a boca daquele cara bonito,


robusto e com tatuagens bem feitas estava na minha, ela não me deixaria
dormir essa noite. Tento afastar os pensamentos daquele troglodita

encostando em mim para evitar a raiva que está se formando no meu peito.

Quem ele pensa que é para me beijar daquela forma?

Quando saímos do palco, Ella entrelaçou a mão na minha e percebi


que continuava sem o anel. Sai com tanta raiva daquele homem que não
lembrei de pegar o que é meu de volta, mas eu não tenho muita paciência,
nem gosto de joguinhos, muito menos com Jacob.
Ninguém me faz de idiota e ele vai descobrir isso.

Não sei qual o interesse repentino dele em mim ou o que quer fazer

com o anel e o beijo, não sei o que está tramando, mas irei descobrir.

— Pensei que fossem sair. — ouço a voz da minha avó e volto


minha atenção para ela novamente.

— Logan queria, mas pegamos uma estrada bem complicada na

volta, tudo que quero é uma cerveja e um banho.

— Amanhã vocês têm show de novo, fique em casa e descanse.


Diga ao bonitão que mandei um beijo e coloque ele de castigo, nada de
noitada hoje. — nos despedimos e desligo a chamada.

Sinto o colchão macio nas minhas costas e agradeço pela delícia


que é deitar nessa cama. Ouço barulho do lado de fora do quarto e sei que
Logan provavelmente está procurando algo para comer, nós adoramos
comida gelada e ele é o assaltante de geladeiras oficial do nosso grupo.

Escolho uma calça de pijama e uma blusa masculina que ganhei de


um cara com quem ficava há alguns anos. Olho meu reflexo no espelho e
sei que é hora do meu ritual pós show. Amarro o cabelo em um coque alto
e começo a me livrar da maquiagem, depois das roupas e quase tenho um
orgasmo quando a água molha minha cabeça.

É incrível como o meu corpo só relaxa completamente depois de


um bom banho. A adrenalina que meu corpo libera em dias de trabalho me
deixa completamente agitada, mas tudo se resolve com um bom banho.

Abro uma cerveja quando a cabeça de Logan aparece entre um


pequeno espaço na porta.

— Você está vestida? — seus olhos estão fechados.

— Não é hoje que você vai realizar o sonho de me ver como vim

ao mundo, bonitão. — o sorriso sacana em seu rosto enquanto atravessa o


quarto já me diz que ele tem uma resposta na ponta da língua que não
quero ouvir.

— Bom, eu já vi você só de calcinha e é uma visão inesquecível,


mas claro que nada como ver pelada. — deita na cama.

Jogo um travesseiro no seu rosto e o xingo.

— Você anda muito agressiva. Acho que dormir em lugares


inapropriados tem te influenciado muito mal. — ergue as duas

sobrancelhas sugestivamente.

Cerro os olhos para ele, que gargalha.

— Não me faça pensar sobre matar você enquanto estou com uma
garrafa de vidro na mão. — tomo outro gole da cerveja.

Pego o celular e aperto no ícone de mensagens para Ella que fica na


tela inicial.
“Avise ao Michael que aproveite essa noite, amanhã nada de sexo para

ele. Preciso da minha amiga.”

Logan começa a procurar um filme e desliga as luzes. Se


aconchega bem entre meus travesseiros e sei que preciso pegar outra

coberta para ele ou brigaremos a noite inteira.

Meu celular vibra e vejo o nome de Ella aparecer na tela. Uma foto
de Michael com cara de garoto birrento me faz gargalhar. Se ele sonhar
que temos milhares de fotos suas nas nossas conversas tem um ataque
cardíaco. Nós sempre comentávamos sobre como ele estava bonito,
arrumado demais, despojado, sorridente, com raiva ou tirando a paciência
dela, isso significa mandar fotos o tempo todo uma para a outra, seja do
seu namorado ou de qualquer coisa ao nosso redor.

“Quem entende os homens? Está emburrado porque não iremos dormir


juntos amanhã sendo que podemos aproveitar o hoje e não dormir.”

Rio e digito rapidamente a resposta.

“Sempre burros, até quando se trata de sexo. Vá e ensina a esse homem o


que é uma boa noite selvagem.”

Termino a cerveja em um único gole, me preparo para dormir e


pego a coberta para Logan que já sorri ao me ver abraçando o tecido, ele
sabe que o chutaria a noite inteira se precisássemos dividir.

— Seu cabelo ainda está molhado, vou ficar com frio. — reclama

quando deito a cabeça em seu ombro.

— Ninguém mandou dormir sem camisa. — deito confortável


abraçada com o seu braço.

— Vou comprar um travesseiro gigante para você dormir abraçada.


— resmunga.

— Eu espero que quando você tiver uma namorada, ela não deixe
você dormir de conchinha. — ele faz o sinal da cruz rapidamente.

— Não me rogue praga, suas maldições pegam. Deus me livre de

uma namorada.

— Gosto de dormir agarrada a alguma coisa, se você está na minha


cama, vai ser em você. Já era para ter se acostumado, já deve ter dormido
na mesma cama que eu um milhão de vezes nesses dez anos.

Eu espero o dia que todas as minhas pragas peguem em Logan. Ele


não gosta de nada que possa fazê-lo se sentir sufocado, dormir com alguém
é só depois de uma noite que o deixe esgotado. Sei que reclama quando
está comigo só pelo hábito, mas sabe que assim que pego no sono largo

dele na mesma hora.

Sempre tive o costume de dormir com alguém, fosse com meu


irmão quando éramos crianças, com Olívia, com alguém da banda quando
dividíamos o ônibus ou quartos de hotel, meus antigos namorados ou só o

meu edredom. Se faço isso, me sinto segura.

Sinto os olhos de Logan em mim e viro a cabeça em sua direção.

— Você dormiu agarrada com o Collins? — faz uma cara de nojo e


quero socar a cara dele por me lembrar da existência desse homem.

— Vai à merda, Logan. — volto a olhar para a tela e meus olhos se


tornam cada vez mais pesados.

Mas, antes de cair no limbo, me pergunto se dormi abraçada a


Jacob naquela noite.

— Sinto saudade de quando ia até o Sr. Walter depois da aula e


sentava naqueles pufes na parte de trás. Tinha dias que conseguia ler um
livro inteiro. — olho rapidamente para os livros na estante em busca de um

que chame minha atenção.

— Nossa, a livraria do Sr. Walter é um clássico daquela cidade. O


que será que aconteceu com ele? — ela está lendo a sinopse de alguma
fantasia logo atrás de mim.

— Meu pai disse que agora são os filhos dele que tomam conta do
local, mas ele ainda está lá todos os dias, admirando suas preciosidades. —
sorrio com a lembrança da adolescência.

— Pelo menos agora nós podemos comprar os livros e não só ler


pelo tempo permitido na livraria. — rimos.

— Deveríamos comprar uma edição especial de algum livro e


enviar para ele. — sugere e adoro a ideia. — Por falar no seu pai, como
estão as coisas entre vocês?

Respiro fundo e tento organizar meus pensamentos antes de


começar a falar algo sobre o caos que é a minha relação com meu pai. Ella
sabe sobre tudo que acontece na minha vida, mas é difícil falar sobre ele
com qualquer pessoa.

Cresci em uma família que todos julgavam completamente


harmônica e feliz, e realmente era, até meu pai acreditar que era um
ditador e eu seu único servo. Parker nunca teve problemas, mas eu não

podia ter muitos amigos, não viajava, quase não saía, minhas roupas eram

controladas, o meu andar sempre estava errado, a postura incorreta e minha


vida se tornou um eterno acumulo de nãos.

Com um tempo comecei a acreditar que talvez ele transmitisse toda


a sua frustração com a minha mãe para mim, porque não existe explicação

para a mania de perseguição e controle que ele quer ter sobre mim. Nada
pode justificar todas as privações que ele me fez viver, as coisas que tive
que ouvir, as ações que fui obrigada a executar, pelo simples fato dele
provavelmente me odiar.

Seu maior medo era que eu descobrisse que a vida é boa quando se
está longe dele e se não fosse pela insistência de Olívia e Parker, eu não
seria quem sou hoje.

— Não fala comigo desde a última campanha, mas Parker me

atualiza de tudo. — vasculho os livros da prateleira mais baixa.

— Espero ansiosamente pelo dia que ele vai parar de ser um


tremendo idiota. Você não é mais criança e ele parece que fica mais sem
noção a cada dia. — revira os olhos.

Sei que cada palavra é verdadeira e concordo com tudo. Já


consegui me desprender de muitas amarras que ele colocou, mas certas
coisas parecem me acompanhar como uma sombra. Quando se cresce
ouvindo as mesmas coisas, uma hora elas parecem fazer sentido.

— AAAAAAAH. — grito empolgada e abraço o livro que acabei


de encontrar. — O lançamento da Kate. Esgotou em todos os lugares.

— Você e Demi sempre falam sobre ela, pega um pra mim,


também quero ler. — pede e procuro mais dois livros.

— Ela é uma escritora fantástica e é tão linda. Nossa, eu beijaria


aquela boca o dia inteiro. — Ella ri e dou de ombros. — Vai que a
inteligência dela passa para mim pela troca de saliva.

Encontro mais exemplares e mando foto para Demi avisando que


estamos levando um para ela.

Algumas pessoas nos encontram entre as prateleiras da livraria,


tiramos fotos, conversamos um pouco com os fãs e autografamos alguns
papéis. Essa é a nossa deixa. Duas pessoas se multiplicam para uma

multidão de duzentas em três minutos e nós não sairíamos dali com


facilidade. Pagamos os livros e seguimos para o carro.

Os seguranças de Ella estavam no carro atrás do nosso, mas ela é a


motorista da vez. Ela avisa para eles que vai mudar a rota porque precisa
entregar algo na casa de um amigo e dá a partida.

Temos um show marcado para as quatro da manhã, precisaremos


pegar a estrada para viajar para uma cidade vizinha. O ônibus da Drops
sempre me faz voltar no tempo, aos primeiros anos de banda e tudo que

vivíamos naquele pequeno espaço, com camas dobráveis, violões por todo
lugar, muita música e trabalho, conhecidos a cada parada nos postos de
abastecimento, todas as conveniências que parávamos e as tradições que
criamos.

Sempre que parávamos em algum lugar na estrada, Ella e eu


comprávamos algo para guardar de recordação, a maioria das vezes eram
chaveiros, embalagens de cheetos ou m&m.

— Adoro esse lado da cidade, tem uma vista incrível. — conheço a


grande maioria dos amigos de Ella, não lembro de ninguém que morasse
nessas casas. — Quem mora aqui?

— Digamos que você conheça, mas não tão bem. — ela sorri e dá
de ombros.

Quando estacionamos na garagem privativa, Ella abre o porta-


malas e tira uma caixa bonita de presente. Vamos até a entrada e ela pede
para que eu abra a porta. O lugar é bonito e espaçoso, mas minhas pernas
param quando entramos na sala e Peter Walker está encostando na parede
conversando com Luke Adams.

— Só pode ser brincadeira. — falo para que Ella escute, mas todos
acabam ouvindo.

— Que visita ilustre. — Peter tem um sorriso sacana no rosto ao se

aproximar de nós. — A maior megera de Los Angeles na minha residência.


— Ella soca seu braço.

— Pare de ser um babaca. — o repreende e reviro os olhos.

— Se eu soubesse que viríamos aqui, tinha escolhido uma capa de

proteção contra vermes. — ele sorri para mim e retribuo.

— Calem a boca, crianças. — Ella entrega a caixa nos braços de


Peter. — Vieram de algum lugar da Europa e foi difícil de encontrar, então
a partir de hoje não faço mais apostas com você.

A forma como ele olha para minha amiga é completamente


diferente, Ella e Peter tem uma relação de anos e se tornaram praticamente
melhores amigos desde que Michael entrou na jogada. Mesmo entre todas
as brigas das bandas eles se mantiveram intactos e entendo o lugar de

neutralidade deles diante de tudo, mas eu não consigo olhar para essas
pessoas e não os ver apenas como cópias de Jake Collins.

Babacas, metidos e arrogantes na mesma proporção.

— Alguém aceita Yamazaki? — Luke ergue uma garrafa de um


dos whiskies que adoro.

— Não sei como você gosta disso. — Peter e ela falam ao mesmo
tempo e fazem uma careta.

— É um dos melhores whisky do mundo. — respondo e ganho a

atenção do loiro atrás do balcão. — É Japonês e eles sabem fazer coisas


alcoólicas como ninguém.

— Peter, ela gosta da bebida que ninguém, além de mim, gosta. —


é engraçada a forma como ele parece revelar que fez algo errado ao amigo.

— Não faça isso. — Luke cerra os olhos para mim. — Não posso gostar de
você, Bad Blonde.

— Se vou ter que aguentar vocês, preciso realmente beber. — tiro a


jaqueta e coloco no sofá junto com a bolsa. — Me sirva uma dose, Richie
Rich. — ele me olha feio e Peter gargalha atrás de nós pela forma que
chamei seu amigo.

— Não é que a megera tem razão. — Peter se aproxima de nós com


uma réplica grande do Harry Potter nas mãos. — Você é a cara do

Riquinho. — ri novamente. — Os meninos vão adorar saber disso.

Será se não sou a única que está mantendo segredo?

— Você é menos insuportável do que imaginei. — confesso. —


Pelo menos, não é uma cópia dos seus amigos babacas. — Luke sorri e sei
que está um pouco alto com a bebida.

— Não sou como eles. — afirma. — Eu nunca escondo a


identidade de quem deixa minha boca inchada. — dá de ombros e seca seu
copo.

Tento não engasgar com a bebida, mas o líquido desce queimando


na minha garganta.

Será que eles sabem?

Luke Adams pode simplesmente ter jogado uma indireta para mim

ou me confirmado que Jacob não o contou nada.

Se Peter souber, ele não vai esconder de Ella por muito tempo.
Mas, eles não teriam papas na língua e me provocariam a partir do
momento que entrei pela porta. Dou mais um longo gole na bebida e finjo
que nem ouvi.

Existe a possibilidade de eu estar apenas enlouquecendo por ter me


tornado uma mentirosa?
“Estou tão cansada de estar aqui

Suprimida por todos os meus medos infantis

E se você tiver que sair

Eu gostaria que você apenas saísse

Porque a sua presença ainda permanece aqui

E não vai me deixar em paz”

MY IMMORTAL | Evanescence

— Alguém vai chegar ao show bêbada. — Ella comenta, sentada


no sofá a minha frente.

É um alerta para que eu pare, revestido com um “tô te avisando que

o Michael vai comer suas tripas se fizer algo errado na apresentação.”

— Quero ver quanto mais o Richie Rich aguenta. — pisco para ela
vendo que Luke chegou até a metade da garrafa muito bem, mas que está
começando a ficar com os olhos pesados pelo álcool.

— Eu aposto que a megera ganha. — Peter fala e quase cuspo o


líquido que está na minha boca.

Ella o olha surpresa e gargalho.

— Não vale trocar de lado só porque ela tem peitos belíssimos,


Peter. — Luke parece indignado.

— Cara, se fosse outro dia, eu apostaria cem dólares em você, mas


não sei como você está de pé depois de ontem. — dá de ombros.

— Seus amigos te abandonam até em uma aposta de bebedeira? —

ergo uma sobrancelha para Luke. — Ótimos companheiros.

— Não se pode confiar em ninguém, Bad Blonde. — ele fala como


se estivesse me dando um conselho e sorrio.

Não sou eu que chegarei alcoolizada no show hoje. De perto Luke


é muito mais bonito, ou talvez seja a primeira vez que tenho a chance de
realmente enxergá-lo. Ele tem sardas discretas pelo rosto, olhos verdes
bem desenhados, o nariz entrega que já levou um soco ali, o maxilar

quadrado lhe dando um ar jovial e angelical. Eu o descreveria como doce,

porque seu sorriso é leve e fácil.

Talvez seja o menos babaca de todos os idiotas da sua banda.

Ao contrário do seu amigo babaca conversando com Ella há poucos


metros, acho que não gosto dele na mesma proporção que detesto Jacob.

São melhores amigos, compactuam com as mesmas atrocidades. Nunca


vou conseguir entender como Ella e Peter se dão tão bem.

— Ella me disse que você está interessado na Florence. — aponto


para Peter ainda segurando meu copo. Ele olha feio para Ella que dá de
ombros.

— Não me olhe assim, comentei sem maldade, saiu no meio da


conversa. — Ella me repreende com o olhar. — E porque esse assunto
agora, Blue?

— Porque eu super apoio esse casal. — Peter sorri para minha


amiga. — Talvez Florence consiga transformá-lo em uma boa pessoa ou o
deixe pelo menos com alguns hematomas.

Peter revira os olhos e seu celular apita, o aparelho está no balcão,


próximo a mim e involuntariamente viro a cabeça em direção a ele, assim
como Luke. A mensagem é de Ethan e avisa que ele e Jacob estão
chegando em dez minutos.

— Vamos embora agora. — pulo do banco e coloco toda a força

nos pés para não demonstrar que minha cabeça girou. — Luke sabe que
ganhei e ele vai ficar me devendo uma garrafa dessas, mas não vou ser
obrigada a dividir os metros quadrados com mais de vocês.

Ella sorri e levanta, sempre respeita meus limites. Se me trouxe

aqui é porque sabia que nada sairia do controle e que não ficaria chateada
por ter que conviver com os meninos por uma hora, mas quando a situação
se volta para os integrantes da Selfish somados ao seu vocalista, eu seria
capaz de explodi-los.

— Vamos marcar de beber após um show qualquer dia desses, Bad


Blonde. – Luke pisca galante e sorrio em concordância.

Pego minhas coisas e caminho com atenção até o carro. Quando


sento no lugar do passageiro deixo a respiração sair e Ella ri.

— Claro que estou vendo o mundo girar, só jamais o deixaria


perceber. — dou de ombros e ela gargalha.

— Você é uma ótima mentirosa, se não te conhecesse, não tinha


percebido isso há quarenta minutos. — gargalho e seguimos nosso
caminho de volta.

Ella estaciona em uma das minhas vagas e subimos para o meu


apartamento.

Mando mensagem para Helen para saber tudo que tem na minha

agenda para amanhã. Hoje temos show novamente e em algumas horas


uma equipe chega aqui para que eu possa provar roupas para a entrevista
do final da semana. Tudo precisa ser preparado com antecedência, essa é a
forma como minha assessora trabalha, para que eu possa respirar quando

necessário.

Helen foi alguém que surgiu na minha vida depois de trabalhos


com pessoas que apenas queriam dinheiro e mais dinheiro da máquina que
eles viam. Ainda bem que nos cruzamos bem jovens.

— O hambúrguer chegou. — ela sorri ao me encontrar procurando


algo na geladeira.

— Adoro essas milhares de calorias antes dos shows. — afirmo e


pego a sacola de suas mãos.

— Deveria ser lei, sempre comer hambúrguer antes das


apresentações. — rimos.

Sentamos no sofá e aproveitamos a comida vendo uma das séries


que assistíamos juntas.

Depois de provar várias peças, eu estou com calor e quase sem


álcool no corpo. Preciso de um banho e dormir um pouco antes que Ella e
eu tenhamos que começar a nos maquiar. Precisaremos sair da cidade
novamente, mais algumas horas de estrada e seremos o primeiro show da

noite.

Duas semanas se passaram desde a nossa última apresentação em


casa, estamos no Texas para mais um festival. O trabalho estava intenso,
mas consegui ver Parker no final de semana, meu pai também decidiu
voltar a falar comigo, até a nova revista sair.

Ouvi a próxima música começar e continuei retocando minha


maquiagem. Mason, Ella e Logan estavam assistindo o show de abertura.

Michael estava no sofá em ligação com Sunny e eu preferi descansar meus


pés para as quase duas horas de show que viriam.

A temporada de festivais sempre é insana, porém conseguimos uma


semana de férias quando finalizamos. Tenho pensado na rota de visitar
Olívia e depois pegar um avião direto para uma praia paradisíaca. Sou
completamente apaixonada pelo mar e sempre que posso viajo até um
novo lugar para conhecer novas praias.
Faço o último cacho no meu cabelo e o bagunço. Observo os
acessórios na mesa e sinto falta do meu anel que ainda não foi devolvido,

mas hoje o farei entregar.

Envio uma mensagem para minha assessora e peço que descubra


qual o número do camarim que a Selfish Hearts está essa noite. Não os vi
circulando pela área de convivência, o que indica que estão afastados da

parte mais central. Em pouco minutos meu celular informa a nova


mensagem.

— Mike, estou indo encontrar alguns amigos, volto antes de


subirmos no palco. — aviso e ele apenas assente.

Caminho pelas cabines e confiro o número que Helen me enviou


por mensagem. Observo bem a identificação de cada porta e cumprimento
algumas pessoas durante o percurso, tiro fotos e apenas sorrio para os que
estão mais distantes. Avisto meu alvo logo ao final do corredor de

camarins.

Porém, quando me aproximo, ouço um grito agonizante. A voz é


masculina e parece sufocada. Logo o barulho se torna cada vez mais alto
porque provavelmente estão quebrando coisas ali dentro.

Meu coração está a mil e quero dar passos para trás, retornar ao
meu lugar de tranquilidade. Mas, e se alguém estiver precisando de ajuda?
Ou ferido?

Um estrondo alto contra as paredes do lugar me fazem pular.

Alguém está brigando e não posso deixar que se matem. Com o


barulho da banda e das pessoas ao redor, apenas quem está próximo como
eu conseguirá ouvir isso tudo. É inacreditável quantas coisas ruins podem
acontecer nos bastidores de um show. Não tem seguranças por perto,

talvez já estejam lá dentro.

Alguém pode estar precisando de ajuda!

E se uma mulher estiver precisando de ajuda?

Caminho rapidamente até a porta e a maçaneta gira com facilidade.


A parte da entrada, onde recebemos os fãs para fotos, está revirada. Coisas
quebradas por todo o chão, mas os barulhos não param na parte de trás do
lugar. Deixo a porta apenas encostada para caso eu precise correr, seja
rápido.

A primeira coisa que vejo é Jacob Collins socando o espelho por


vezes consecutivas. Pelo reflexo posso ver seu rosto banhado em lágrimas,
os olhos vermelhos e turvos. Ele está fora de si. Os punhos se fecham e
voam contra a bancada, que já não tem nenhum objeto intacto.

As cadeiras estão reviradas, tudo está uma zona, inclusive o homem


à minha frente. Ele passa os dedos nos cabelos e os segura forte, um soluço
devastador ganha espaço na sua garganta.

Algo muito, muito ruim aconteceu!

Sua dor e raiva é tão intensa que Jacob está perdido dentro dessa
atmosfera, ele ainda não me viu.

Meus pés querem apenas sair desse lugar, mas não consigo deixá-lo
nesse estado sozinho. Medo do que, nesse estado, ele possa tentar fazer

consigo mesmo. Jake fecha os olhos com força e balbucia coisas que não
consigo entender porque já voltou a bater contra a madeira.

Seu braço forte parece receber toda a força do seu corpo e com um
soco todo o restante do imenso espelho se racha, vejo sangue escorrer pelo
o que sobrou do objeto na parede. Me aproximo sem pensar sobre nada,
seu punho se fecha e bate contra os cacos mais uma vez, então envolvo
minha mão em seu antebraço.

— Ei. — tento atrair sua atenção para mim. — Jake, fale comigo.

— peço, mas ele ainda olha seu reflexo misturado com sangue no que
restou do espelho. — Jake, por favor, olhe para mim.

Ele parece acordar de um transe e finalmente seus olhos cheios de


lágrimas focam em mim. Suas sobrancelhas se juntam em uma expressão
de confusão, sei que ele está pronto para gritar comigo também, mas na
verdade o ar começa a lhe faltar. Não se se é uma crise de pânico ou algo
como estresse pós-traumático, já que não sei o que aconteceu. Jacob tenta

respirar, mas o ar não flui bem.

— Mantenha os olhos em mim. — peço. — Não tire os olhos de


mim, Collins.

Estou ficando desesperada e seus olhos parecem pedir por ajuda, a


única coisa que me vem em mente é algo que Olívia fazia comigo quando

eu acordava apavorada depois que minha mãe partiu.

Aproximo meu corpo do dele, fico na ponta dos pés para que meu
peito fique o mais perto possível do seu, abraço seu pescoço e deixo nossos
corpos os mais colados que consigo.

— Sinta a minha respiração. — digo em seu ouvido, com a voz


mais tranquila que consigo. — Sinta meu peito se mover contra o seu. É
lento, compassado e tranquilo, tente acompanhar a minha respiração,
Collins, por favor.

Inspiro forte e ele tenta, mas ainda é difícil. Expiro e ele


acompanha um pouco mais. Repito as respirações fortes mais algumas
vezes. Conto nossas respirações para atrair a atenção dele para minha voz e
sua mão pousa na minha cintura, como um sinal de que está melhor.

— Senta. — quase ordeno. — Vou pegar água para você.

Sua cabeça se mantém baixa, vou até o frigobar da primeira sala e


pego duas garrafas. Jacob está sentado no chão, costas na parede, pernas
esticadas e abertas, o olhar perdido ainda está ali e ele parece tão

vulnerável, mesmo não chorando mais, seu rosto está marcado pelo rastro
das lágrimas.

— Beba um pouco. — entrego a garrafa em suas mãos e me


ajoelho no espaço entre suas pernas, ficando de frente para ele. O homem

toma quase todo o líquido de uma vez. — Onde os meninos estão?

— Tentando resolver tudo para que eu saia daqui e vá direto para


Nova Iorque. — ele está cansado, não fisicamente, algo dentro dele parece
despedaçado.

Vejo seus dedos sujos de sangue manchando a garrafa e procuro ao


redor para ver se encontro algo que possa limpar. Como ele derrubou tudo
da bancada, encontro algodão e uma garrafa do whisky de Luke.

Isso tem que servir.

— Não quero ser inconveniente. – começo a falar e tiro a garrafa da


sua mão. Jogo um pouco do líquido pelo sangue, depois o whisky e água
mais uma vez. Seus cortes não parecem tão profundos, mas são muitos. —
Mas, algo muito grave aconteceu ou alguém morreu. Sei que está sendo
difícil, só tente não se machucar, existem pessoas esperando você em casa.

Ele não protesta por nenhum segundo enquanto meus dedos


trabalham nos seus. Observa com atenção enquanto limpo o sangue com o

algodão, sem dizer uma palavra. Sinto seus olhos desviarem até mim

brevemente e depois fecharem.

— Não quero você aqui. — fala quase como um sussurro.

— E desde quando você tem poder sobre mim, Collins? — um


pequeno sorriso quase surge em seus lábios.

— Qual a primeira fonte que você vai usar para divulgar isso? —
questiona e o olho com raiva, apertando propositalmente um pouco mais o
algodão em seus dedos.

— Não me rebaixe ao seu nível, querido. Faria a mesma coisa por


qualquer outra pessoa. — pela primeira vez, o castanho dos seus olhos
realmente se fixaram nos meus. — Aprenda uma coisa, Jacob, a dor de
alguém nunca deve ser ignorada ou diminuída. Posso odiar você, mas não
deixaria de ajudar ninguém nesse estado.

— Você é melhor do que eu, Edwards. — fala depois de algum


tempo.

— Veio perceber isso agora? — pergunto seria, mas ele ri. — Não
é engraçado, Collins, é a verdade.

Sento ao seu lado e ficamos apenas ali, parados. Apenas vendo toda
a destruição ao nosso redor, quando estamos mais calmos. Jacob passa a
mão no rosto, tentando limpar os resquícios do seu sofrimento. Sua mão
ainda sangra um pouco, então jogo água mais uma vez.

Sorrio com o pensamento de que sua calça deve estar molhada o


suficiente para parecer que ele fez xixi. Me olha curioso, mas seu celular
toca e ele lê algo nele. Solta uma respiração profunda, novas lágrimas
parecem querer surgir, apoia a cabeça na parede e parece um pouco mais

aliviado.

— Boas notícias? — questiono.

— A melhor das últimas quatro horas. — confessa. — Você tem


alguém da qual precisa cuidar, Edwards? — me observa com uma
intensidade que jamais pensei em ver nele.

— Sim. — afirmo, com a imagem da minha avó na cabeça.

— Tenho quatro pessoas e uma delas foi machucada hoje, por


alguém que não merece nada além do inferno. — raiva toma conta da sua

voz. — Odeio não estar lá para protegê-los.

— Não podemos impedir coisas ruins de acontecerem com as


pessoas que amamos, mas entendo o quanto é ruim estar longe quando isso
acontece. — sorrio sem humor e vejo seus olhos vermelhos carregados de
dor.

Olívia sofreu um ataque cardíaco há alguns anos, eu estava


gravando um clipe há quase vinte e quatro horas de distância, senti meu
coração ser apertado fora do peito durante todo o percurso de volta. Sei

que se Jacob pudesse ter um poder, seria o de se teletransportar.

— Seus amigos estão todos espalhados tentando te ajudar, mas


nenhum ficou aqui com você? — procuro saber.

— Conseguir adiantar um show que foi marcado há seis meses não

é simples, Dani está resolvendo isso. Luke está tentando cuidar da


segurança em Nova Iorque. Damon está em contato com meu médico,
estava colhendo informações da equipe que costuma cuidar de nós. Ethan
está em contato com minha família, ele sempre consegue acalmar todo
mundo. E Peter ficou responsável pela pior parte. — abre a outra garrafa
que trouxe e bebe.

— O cérebro dele realmente funciona para resolver coisas sérias?


— a pergunta sai involuntariamente da minha boca.

Jake ri e isso significa que ele está um pouco mais calmo.

— Você é realmente incontrolável. — sorri. — Peter é o cara mais


centrado que conheço, quando todo mundo entra em pânico, ele consegue
focar no que interessa e toma as rédeas da situação. Eles não ficaram aqui
porque sabem que preciso que aquelas pessoas estejam bem.

Existe sinceridade em sua voz. Por alguns segundos, o Jacob


quebrado deu lugar ao homem que tem pessoas que importam muito mais

do que ele mesmo. E mesmo sendo o cara que odeio aqui, mesmo isso não

tendo mudado, espero do fundo do coração que eles consiga estar com
quem ama o mais rápido possível.

Ouvimos o apresentador anunciar que em poucos minutos a Drops


Of Jupiter sobe no palco e nos olhamos brevemente, como se nos

déssemos conta de que estamos apenas compartilhando coisas íntimas


demais.

— Você precisa ir. — avisa.

— Vou mandar uma mensagem para Luke, não é bom você ficar
sozinho. — digito rapidamente para o contato do tecladista da Selfish
Hearts.

— Blue Edwards é bem bonita quando está preocupada com seu


arqui-inimigo. — debocha.

— Sou bonita em todas as ocasiões, Collins. — afirmo e ele sorri,


confiante.

— Eu adoraria comprovar isso. — o tom sugestivo e familiar está


de volta a sua voz.

— Estava demorando para voltar a ser um babaca. — reviro os


olhos. — Seu amigo está vindo. Adeus, Collins. — levanto, mas suas mãos
seguram a minha.

Jake continua sentado, só que agora olha diretamente para os meus

olhos. Seus dedos fortes envolvem minha mão e sinto minha pele formigar.

— Obrigado, Bae. — ele está sendo sincero. — E se contar a


alguém que te agradeci por algo, negarei até a morte.

Sorrio e sem nenhuma resposta volto para minha banda. Ainda não

consigo entender bem o que aconteceu ali, foi tudo rápido e inesperado,
mas foi real. Nos bastidores, consegui descobrir que Dani adiantou o show
da Selfish para depois do nosso e eu facilmente teria obrigado Michael a
abrir mão do nosso horário para que Collins conseguisse ir mais cedo para
casa, se tivesse chegado um pouco antes.

Naquela noite, Jacob Collins subiu no palco como um rei. Fez um


show com toda a sua intensidade e paixão. Mostrou seu coração para
aquelas pessoas. Seu rosto já não estava inchado e ele conseguia sorrir de

verdade, se eu não o tivesse visto a horas atrás, não teria percebido o


quanto o brilho nos seus olhos era de angústia e não de felicidade.
“Cheguei tão longe por minha conta

Mas ultimamente, essa merda não está me deixando bem.

Levanto a cabeça e o mundo está em chamas.”

PRAY | Sam Smith

Perdi as contas de quantas vezes o meu pé bateu no chão daquele


avião. Minha cabeça parece que vai explodir e Nova Iorque nunca pareceu
tão longe. As coisas estavam tranquilas em casa, até que Cora resolveu
escolher um dia em que eu não estava perto para visitar Aimee.
Não gosto que Nathan e ela visitem nossa mãe quando não estou
com eles, porque ela pode ser bem venenosa e isso sempre magoa meus

irmãos. Jamais os impediria de vê-la, mas tento os manter o mais longe


possível. Eu sou acostumado com a pessoa amarga que Aimee tornou-se
durante os anos de reabilitação, já levei todas as pancadas que ela adora
distribuir, mas não aceito que ela seja pior do que já é para com eles.

Tony me ligou e quando pediu calma, eu já sabia que alguma


merda tinha acontecido.

Aimee pediu dinheiro a Cora, quando ela disse que não daria, ela
tentou fazer com que minha irmã deixasse o relógio e quando ela se negou
mais uma vez, nossa mãe a agrediu.

Eu nunca conseguiria acreditar e me conformar que Aimee se


tornou alguém assim. Nós só queríamos que ela pudesse demonstrar um
pouco de importância, mas minha mãe não existia mais. A mulher que

conheci quando jovem foi corroída pelas drogas e elas eram mais
importantes do que qualquer coisa.

Mesmo que o passado doesse tanto em mim, sempre fiz tudo pelo
bem-estar de Nathan e Cora, e não aceito que ela os magoe, não mais do
que já faz.

Minha irmã não teve graves contusões, apenas cortes no rosto e


alguns arranhões. Anthony cuidou dela, mas emocionalmente ela está
devastada. Melhor do que ninguém, conheço qual a sensação de ser

pisoteado pelo caos que é Aimee Collins. Quando desfiz a ligação, meu
corpo era só ódio, culpa e remorso. Eu a odeio tanto, ao mesmo tempo que
lembro da mulher que um dia amei como minha mãe. As lembranças de
quando ela ainda ocupava esse papel parecem duelar comigo todos os dias.

Ela não é mais aquela pessoa, ela não tenta mais.

Odiei-me por estar longe e tão impotente, por não ter protegido
Cora. Desejei o inferno a Aimee por rejeitar seus filhos dessa forma. Senti-
me fraco por nunca ter sido o suficiente. Mesmo depois de conquistar tudo,
de ter o mundo aos meus pés, de poder conseguir fazê-la finalmente feliz,
de dar tudo que ela sempre desejou ter, sem sofrimento, vejo que agora é
Aimee que não quer mais isso.

Meu amor nunca será o suficiente. O carinho de Cora nunca será

retribuído. A paciência de Nathan nunca será aproveitada.

O fracasso pesa em minhas costas, os motivos pelos os quais ainda


tenho esperança parecem zombar de mim. Odeio-me por ainda acreditar
que algo pode ser diferente.

O rosto de Blue surge em minha mente. Não sei como me sinto por
ela ter presenciado tudo aquilo, mas no fundo fico agradecido pela forma
que se preocupou comigo. Mesmo querendo acreditar que ela usaria aquilo
contra mim de alguma forma, tudo que vi naquele mar imenso que são seus

olhos, foi sinceridade.

Fui pego completamente de surpresa. Quando enxerguei Blue pelo


espelho, simplesmente pensei que ela começaria uma discussão ou apenas
iria embora, mas ela não me deu tempo de reagir e me desarmou
completamente. Não sei o que pensar ou achar, mas aquelas palavras,

aquele toque e a doçura em sua voz, me fazem questionar constantemente


quem é aquela mulher.

— Como está se sentindo? — Ethan questiona ao meu lado.

— É impossível explicar. — confesso. Apoio os braços no joelho e


respiro fundo.

Não tenho o que esconder de Ethan, ele sabe muito bem o que tudo
isso representa para mim.

— Não é culpa sua, parceiro. — bate no meu ombro. — Jake, pare

de carregar cargas que não são suas. O que mudaria se você estivesse lá?

— Aimee não pediria nada na minha frente. — afirmo.

— Certo, ela não pediria. Mas você acredita mesmo que ela não
aproveitaria uma chance de tentar algo com Cora assim que você desse
chance? Da mesma forma que você é esperto, meu amigo, Aimee é
milhares de vezes mais.
Sei que ele tem razão, mas não consigo parar de pensar sobre como
fui imprudente.

Tomo mais um longo gole da minha bebida e passo as próximas


horas ingerindo todo o álcool que posso. Não chegarei bêbado, conheço
meus limites, mas preciso tentar fazer meus músculos pesarem um pouco
menos.

Empurro a porta e ouço barulhos na cozinha, o que me guia


diretamente para o cômodo. Joana está fazendo algo no fogão e Cora está
sentada em uma das poltronas, com um agasalho em volta dos ombros e
pernas encolhidas.

Seu rosto vira para mim e vejo as marcas vermelhas na sua


bochecha clara. Seus olhos enchem de lágrimas e ela corre até mim.
Abraço seu pequeno corpo.

— Estou em casa. — falo contra seu cabelo. — Estou com você,

baby.

— Não quero vê-la nunca mais, Jake. — sua voz é um sussurro.

— Eu provavelmente te prenderia na casinha do cachorro, caso


pensasse o contrário. — ela ri contra meu peito.

— Você não precisava vir tão rápido. — desgruda de mim e


percebe a presença de Ethan. — Obrigada por acompanhá-lo, sei como ele
fica quando está surtando. — sorri e agradece ao meu amigo.

— Nem fodendo que eu iria ficar longe. — passo o braço ao redor

dos seus ombros e a guio até o sofá.

— Você está fedendo a álcool e suor de show. — faz uma careta.


— Apenas vá tomar um banho. — rio e ameaço sujá-la.

— Meninos. — Joana se aproxima. — Vocês estavam lindos no

show, como sempre. — sorrimos. — Agora subam, tomem banho, fiquem


confortáveis e venham comer, acabei de fazer sopa.

— Graças a Deus que viajei com você. — Ethan bate no meu


ombro. — Não existe nada melhor do que a comida da Jojo. — se afasta
em direção às escadas.

Tomo um banho demorado e as imagens de Blue Edwards surgem


na minha cabeça. O dia que ela esteve nesse quarto, o anel esquecido se
remexendo contra o meu peito, a forma como conversamos hoje. Ela pode

ser diferente de mim, não ter tido uma atitude egoísta e me ajudado, mas
ainda é ela.

Não posso esquecer que nesse momento ela já deve estar


arrependida de tudo que fez e planejando alguma forma disso não ser
esquecido. Não posso baixar a guarda. A quero na minha cama, depois de
hoje ainda mais, apenas isso.
Preciso de bebidas, mulheres, sexo e uma noite insana.

— Quando você vai para Los Angeles de novo? — Nathan

pergunta quando me passa uma panela de sopa para colocar na mesa.

— Preciso viajar depois de amanhã. Tenho uma entrevista no The


Good Morning America. — Tony sorri e sei que é um dos seus programas
favoritos. — Você deveria vir comigo, passar alguns dias em L.A. e tirar

uma folga do trabalho.

— Posso trocar meu plantão da sexta. — fico surpreso com a


facilidade que ele aceita.

Anthony não gosta da vida movimentada que tenho, a maioria das


vezes que viajamos juntos é nas férias. Talvez ele esteja precisando de um
descanso ou seduzido demais pela chance de conhecer a Robin Roberts.

Depois do jantar, Tony e Ethan assistem televisão, Joana assiste


Nathan lavar a louça e sento com Cora na varanda. Ela sabe que

precisamos conversar e eu sei que ela não quer reviver mais uma vez essa
cena.

— Tony me contou a versão dele sobre o que aconteceu. — meu


tom é calmo, não quero que se sinta pressionada. — Mas preciso saber o
que houve, docinho.

O sofá da área externa é grande, Cora está com as costas apoiadas


no encosto e olha diretamente para o horizonte escuro à nossa frente. Meus
olhos prestam atenção em cada movimento que ela faz, a forma como

brinca com os dedos por estar nervosa, não consegue manter seu olhar em
mim.

— Primeiro, ela pediu dinheiro. Eu jamais a entregaria nada, Jake,


você sabe. — sua voz é quase culpada. — Neguei, Aimee fingiu

compreender, disse que sabia que você não me permitiria isso, mas nós
éramos diferentes e meu coração era bom, eu a ajudaria. — a expressão do
seu rosto é tensa, parece que dói repetir aquelas palavras.

— Uma manipuladora do caralho. — rio sem humor. — Como


sempre foi.

— Então, depois de mudar de assunto, ela disse que precisava sair


de lá, que não estava bem e que a maltratavam. Estava machucada e
acusou seu cuidador. Neguei novamente e ela mudou completamente, me

xingou e quanto mais eu tentava a acalmar, mais agressiva ela ficava. Ela
me deu um tapa na cara.

Tento conter o ódio que circula em meu corpo, mas tudo que quero
é matar alguém agora. Matar essa mulher.

— Fiquei sem reação, então ela tentou puxar minha bolsa e eu


reagi, outro tapa veio e seguido de mais alguns. Os enfermeiros chegaram
ao ouvir os gritos dela. Suas unhas me feriram e liguei para Tony, não
queria incomodar você. — sua voz é quase um sussurro.

— Nada que envolva você, nunca, será um incômodo pra mim.


Posso confiar que você entendeu isso? — ela apenas concorda com a
cabeça. — Fico feliz que tenha ligado para o Tony, sempre recorra a ele
primeiro quando eu não estiver por perto. — peço.

— Porque ela tem que ser assim, Jake? — seus olhos se prendem
aos meus e sei que lágrimas podem cair deles a qualquer momento.

Nós fomos fodidos. Eu, ela e Nathan, cada um da sua forma, mas
um lado de nós sempre será marcado por tudo que já vivemos com Aimee.

— Isso aconteceu até antes de mim, docinho. — enxugo a lágrima


solitária que escorre pelo seu rosto. — Nós não temos culpa de nada. Antes
de você e Nate chegarem ela já estava perdida. Mas, nós somos uma
família e tivemos a chance de escolher os integrantes da nossa. Não

precisamos de nada, porque sempre teremos um ao outro.

Um pequeno sorriso surge em seu rosto e a puxo para um abraço.


Ela ainda é tão pequena e indefesa, seu corpo parece frágil quando eu
ainda posso a envolver assim. Não poder evitar que meus irmãos se
machuquem e é o mais me dói, mas tenho que acreditar nas minhas
próprias palavras, nós somos um do outro.
— Você é tão forte, Cora. Nem sabe o quanto. E corajosa. Tenho
muito orgulho da sua coragem. — ela beija meu rosto.

— Obrigada por voar até mim. — a abraço mais forte.

— Sempre te alcançarei o mais rápido possível!

Conversamos um pouco mais sobre como ela está se sentindo e


depois vai para o seu quarto descansar. Envio uma mensagem no grupo da

Selfish avisando que está tudo bem e agradecendo pela ajuda desde o
show. Converso com Dani por alguns minutos por ligação e desligo.

Quando jogo o celular ao meu lado, sinto o colar roçar contra meu
peito, ele está comigo desde aquela noite. Não sei se como um amuleto de
sorte ou azar. Meus devaneios são interrompidos quando Joana senta ao
meu lado.

Sua mão faz carinho pelas minhas costas nuas e sorrio para ela.

— Estava com saudades de você. — beijo seus dedos.

— E eu de você. Sempre! — sorri, mas logo fica séria. — Conheço


você a vida inteira e imagino o turbilhão de coisas que devem estar se
passando na sua cabeça.

Se existe alguém no mundo que sabe todos os meus próximos


passos, que me conhece mais do que a mim mesmo, é essa mulher.

— Não se afunde na escuridão de Aimee, Jake. — pede. — Não a


deixe te arrastar para esse lugar. Você tem estado radiante, meu bem.

Conquistando coisas e fazendo o mundo gritar seu nome mais uma vez,

estamos tão orgulhosos e felizes. As escolhas dela não devem controlar


suas ações. — seu jeito preocupado, me faz sorrir.

Muitas vezes, me perguntei por que Aimee tem tanto poder sobre
mim, se Joana é a verdadeira mãe que tenho. Já entendi que o passado é

pesado o suficiente para nos ancorar, mas não preciso de mais nada quando
tenho Jojo ao meu lado.

— Eu tenho tentado. — afirmo. — Principalmente, por você. — ela


balança a mão no ar e desdenha em brincadeira.

— Então faça melhor, tente por mim e por você. — sorrisos amplos
se abrem em nossos rostos.

— Você sempre será meu principal motivo. — dou de ombros.

Noite a dentro, não consigo pregar os olhos, então fico na cama,

apenas tomando meu bom e velho whisky. Sinto meu corpo cansado, mas
não consigo desligá-lo. A bebida não parece fazer efeito, meu coração
continua inquieto, a cabeça elaborando milhares de pensamentos.

Eu preciso de exaustão.

Pego o celular e digito rapidamente para Luke, ele vai entender.


“Preciso que faça o que sabe de melhor.”
“Por favor, fique onde você está

Não chegue mais perto

Não tente me fazer mudar de ideia

Eu estou sendo cruel para ser gentil”

LOVE IN THE DARK | Adele

— Está vivo depois de voos tão próximo? — Dani pergunta e pega


a jaqueta para que eu possa vestir.

Termino de fechar a calça e olho meu reflexo no espelho, gosto do


que vejo, então visto a blusa preta e jaqueta de couro. Minhas coxas estão

reclamando quando faço alguns movimentos porque transar na poltrona de

um jato não é confortável. Dani não pode sonhar que conheci uma garota
no aeroporto e a dei uma simples carona para o outro lado do estado
porque não aguentei não levá-la para cama, aliás, para o assento número 6.

Ethan colocou seu fone e dormiu o voo inteiro, tenho certeza que

soube aproveitar bem melhor as horas de viagem que ele. Anthony se


enfiou na cabine junto com a comissária de bordo para não assistir a cena,
já que nunca dormia em viagens. Quando pousamos ele me xingou de
todos os nomes imagináveis. Mandei um motorista deixar a mulher, que
não lembro bem o nome, onde quisesse e da pista de pouso mesmo fui para
casa. Tive cerca de duas horas de sono, mas o costume da rotina de shows
não me deixou abatido, o rosto continua bonito e sem olheiras profundas,
resultado de um bom sexo.

— Quando saí de casa Cora estava bem, isso vale qualquer viagem.
— ajeito o cabelo e ele me entrega o relógio.

— Ótimo. — ele realmente se sente aliviado. — Agora pare de ser


narcisista e vá colocar o microfone, estão esperando na sala ao lado.

Anthony me acompanha em cada lugar, ele está deslumbrado pela


forma como tudo acontece e ansioso para assistir o programa da primeira
fila.
Depois de todo o equipamento espalhado pela roupa, testam e me
liberam para o palco. Encontro o entrevistador no caminho e trocamos

algumas palavras, ele comenta que quer um momento de voz e violão para
abrir programa, o que Dani já tinha me avisado. Me posiciono e confiro se
o instrumento está mesmo afinado.

Meu nome é anunciado então a luz vermelha na câmera que está

virada para mim acende e eu aceno e sorrio.

— Bom dia, América. Espero que vocês aproveitem bem o café,


hoje em minha companhia. Pediram para que eu cantasse algo que vocês
conhecem e amam, mas quero compartilhar o trecho de uma nova música
que tenho dedilhado. Em primeira mão, Breathe, talvez o mais novo
sucesso da Selfish Hearts. — sorrio e pisco para a câmera.

A música não está completa e é totalmente um esboço que escrevi


enquanto estava em casa, mas tem se tornado uma das minhas favoritas.

Gravei um áudio para os meninos e eles adoraram, sugeriram algumas


partes, mas o refrão é a minha preferida.

“Segure-me,

Sinta meu peito contra o seu,

Ouça a minha voz serena,


Meu coração está colado ao seu

Tente me acompanhar.

Lento, compassado e tranquilo,

Respire,

E assim estaremos a salvo.”

A plateia aplaude e sorrio. Ocupo meu lugar no sofá ao lado da


mesa do apresentador e tomo um pouco de água.

As perguntas começam com a temporada de festivais, os novos


lançamentos da banda, o disco de platina e quais os planos para o futuro.
Quer saber sobre meus irmãos, minha relação com os meninos e falo sobre
Tony ser um grande fã do programa.

— Soubemos que você e Logan Clark estavam concorrendo a uma

campanha milionária para uma grande marca de perfumes. Você foi o


felizardo? — questiona.

— Sim. Ele é um cara bonito, tinha grandes chances de conseguir,


mas não finjo ser um bom moço e as empresas procuram pessoas reais para
suas campanhas. — lhe dou um sorriso doce e imagino Dani querendo me
matar nos bastidores. — Sabe como é, o público se identifica.

— Eu soube de uma notícia, que não se posso comentar, mas não


aguento a curiosidade. — meu peito infla em uma longa lufada de ar, já sei
que vem bomba. — Fontes me falaram que viram Blue Edwards saindo do

camarim da Selfish no show do Texas. Isso é verdade?

Mil vezes merda. Quem porra vendeu isso?

Ergo meu sorriso mais confiante e debochado, o olhar pesado e


cheio de soberba que sempre adoro usar.

— Duvido muito disso. — quase gargalho. — Cobras não se dão


muito bem com megeras, então isso é impossível. Mantemos o mínimo de
contatos com eles. — as imagens daquele dia passam como um flash na
minha mente, mas não desfaço o desdém do rosto.

Se ela me odeia, agora deve estar pensando em cem formas de me


esfaquear. Não que eu não mereça, mas a mídia sabe que Blue não se dá
bem com nenhum de nós, se afirmasse que ela estava lá nem imagino
quanta merda falariam. Às vezes, é melhor manter uma mentira, do que

arcar com as consequências da verdade.

— Mas quando o assunto é Ella Clark isso muda de figura. —


afirma e consigo sorrir com verdade agora. — Em uma entrevista recente
ela confirmou que ficou na sua casa enquanto enfrentava os momentos
difíceis que vivenciou recentemente.

— Ella Clark é um grande e velha amiga. Nossa relação sempre foi


muito além de qualquer coisa e não escondo meu amor pela pessoa incrível

que essa mulher é. Desde o início foi assim e o mundo inteiro já sabe. Não

sou o tipo de pessoa que deixa quem é importante para mim na mão, eu iria
ao Egito buscá-la se fosse preciso, minha casa foi o mínimo. — rio
imaginando como Ella está puta pelo o que disse sobre Logan e Blue. —
Inclusive, ela sempre fica muito chateada quando falo abertamente sobre

meus sentimentos a respeito dos seus companheiros em entrevistas. —


olho diretamente para a câmera. — Diabinha, por favor, me atenda, estarei
ligando para me desculpar quando terminar a entrevista. — aceno para a
câmera e todos riem.

Canto mais duas músicas e entre as trocas dos intervalos fujo de


Dani, porque sei que ele quer me socar, porque ele não entende, ninguém
compreende, inclusive eu, mas sempre que começo a baixar minha guarda,
algo ruim acontece e só a boa e velha armadura do Jake Collins consegue

resguardar Jacob Henderson Collins. E eu sempre gostei da minha


companheira de guerra.

Um vídeo da Selfish Hearts está passando no telão e voltamos ao


ar.

— Como está sendo a ponte aérea Nova Iorque, Los Angeles?

— Acho que meu corpo já não sente muito a distância, já


acostumei com o voo desgastante. Vou me instaurar por alguns meses
permanentemente em Los Angeles, muito trabalho e projetos, mas

continuarei indo para casa sempre que puder. Não aguento ficar muito

tempo longe deles.

— Não tivemos mais notícias sobre a sua vida amorosa, mate nossa
curiosidade. — pergunta e rio.

— O que posso dizer é que meu coração é grande o suficiente para

todas passarem, mas para nenhuma permanecer. — a plateia ri.

A frase soa engraçada pela forma que falo, mas é verdade, não
quero que ninguém permaneça. Não lembro a última vez que estive
apaixonado por alguém, minha vida tem se resumido a sexo e relações
casuais, não tenho tempo para compromisso ou finjo que não tenho. O que
preciso agora é estar focado com o meu trabalho, nas pessoas que precisam
de mim e fugir de compromisso.

Talvez as manchetes estejam certas, Jake Collins não se apaixona.

— Como você descreveria seus companheiros de banda? — aceito


uma xicara de café que trazem e tomo um pouco.

Sou viciado em cafeína.

— Não é difícil falar sobre os rapazes, até porque vocês também


conhecem muito deles. Peter, é o mais centrado de todos nós, por mais que
a polícia diga o contrário. — a plateia gargalha, porque sabem sobre as
fichas policiais de Peter. — Ethan, é aquele parceiro para todas as horas, é
ele quem nos ampara e, provavelmente, o único de nós que não vai para o

inferno. Luke, toma todas as nossas dores, cuida de cada detalhe e nos
protege como um leão raivoso, mesmo com aqueles olhos enormes e
doces, ele mataria alguém que fizesse algo contra nós. Sobra o Dam, não
sei nem como ele ainda nos aguenta, é o mais maduro de nós, é um pai

sensacional e o nosso exemplo de caráter, é um homem digno, mas


também tem a vaga confirmada bem longe do céu. – rimos.

— E você? Quem é Jacob Collins? — sorrio, porque nem eu


mesmo sei.

— Eu sou isso. A arrogância, a sinceridade crua, a brutalidade, o


humor ácido, as capas de revista, as brigas, as noites de bebida, mas
também sou o oposto do que todos sabem.

A entrevista termina rápido. Tony conhece toda a equipe do

programa e parece uma criança que acabou de receber um doce. Peço para
Dani conferir minha agenda enquanto caminhamos até a saída, uma sessão
de fotos e estou livre.

Adoro estar de frente para as lentes, então é sempre divertido fazer


campanhas para revistas, tanto porque não cansam muito, quanto porque é
ótimo ver o resultado. Três horas se passam com um piscar de olhos e a
casa de Luke é minha última parada.
Não existe ninguém melhor do que ele para fazer uma festa,
independente de qual seja o horário. O sol ainda está longe de se pôr, mas

tudo que quero agora é beber até esquecer meu nome e foder até fazer que
alguém esqueça o seu também.

O som alto anuncia que as coisas estão animadas antes mesmo que
eu entre. Olho para o meu melhor amigo e ele parece surpreso com a

grande festa de Luke, mas não é difícil se acostumar à pessoas bonitas,


comida e bebida liberada.

— Pensei que teria que esperar o dia inteiro. — ouço uma voz
familiar e observo a pessoa perfeita para mim hoje, se aproximar.

— Como você veio parar aqui? — questiono surpreso.

— Luke viu que eu estava na cidade, mandou mensagem e disse


que um velho rockstar problemático estava com saudades. — Penélope
sorri e da forma mais sensual possível leva a taça até a boca.

Desde que nos conhecemos acabamos trocando algumas


mensagens e nos encontramos mais duas ou três vezes. Penny é uma garota
incrível, trabalha em uma das maiores emissoras do país e me derruba na
cama de uma forma extraordinária. Nos tornamos ótimos amigos de foda.

Com um passo, colo nossos corpos e desço meus lábios até o


pescoço dela. O cheiro familiar desperta meu corpo.
— Se seu lado exibicionista não estiver disposto hoje, me avise,
porque sou capaz de arrancar a merda dessa saia pequena agora. — ela

sorri e apoia os braços em meus ombros, brincando com o meu cabelo.

— Tenho algo bem melhor. — sussurra contra minha boca. —


Conheci um casal que pode tornar nossa noite bem mais interessante.

O jeito diabólico que me olha faz com que eu devore sua boca bem

ali. Meu dia de pecar acabou de começar.

— Acho que já ouvi isso em algum lugar. — Ella comenta


enquanto tusso com a pipoca entalada na minha garganta.

Jacob está cantando as palavras de Olívia, na TV. Eu não sei qual é


sua intenção com isso, mas sei que isso foi para chegar até mim. Selfish
Hearts tem milhares de músicas, porque cantar uma nova? Porque cantar a
com coisas que eu lhe disse?
Sinto o milho descer machucando minha garganta e tomo um
pouco mais de água.

— Bee, você está bem? — May pergunta e concordo com a cabeça.

— Apenas desceu de forma errada. — explico ainda me


recuperando.

É cedo, meio de semana e estamos todos no apartamento de Logan,

vestindo nossas roupas de dormir e comendo pipoca com refrigerante no


café da manhã. Temos que gravar uma entrevista para um canal
adolescente e a sede da empresa é mais perto da casa dele, saímos do show
e dormimos todos aqui.

— Ele disse que eu me faço de bom moço? Que eu sou fingido? —


Logan aponta para a tv indignado. — Foi isso mesmo que ouvi? Eu queria
tanto quebrar a cara dele.

— Não precisa, May já fez isso por nós. — lembro e ergo a mão,

ele completa o cumprimento.

— Odeio quando ele faz isso. — Ella bufa ao meu lado. — Jake
não é um babaca, não precisa ficar sendo tão infantil na televisão.

— Correção. — Logan fala. — Ele não é babaca com você. Ainda


me pergunto como perdi a campanha para isso. — aponta para a imagem
novamente, com desdém.
— Sinto muito, mas não pode dizer que ele não é bonito. — dou de
ombros. — Sei muito bem o que é odiar alguém e não puder chamá-lo de

feio. — pego mais pipoca do balde.

— Talvez seja porque eu preciso te dar um soco para o seu cérebro


ficar um pouco mais evoluído. — Mason brinca e rimos.

— Estou ouvindo Mason White me insultar dizendo que o cérebro

de Jacob Collins é mais desenvolvido que o meu? — ele quase grita nos
olhando como se tivéssemos o esfaqueado. — Nossa amizade acabou aqui.
— se joga no sofá com raiva.

Sempre que ele se mexe, consigo ver a corrente dourada escapando


pela gola da camisa e sei o que ele esconde ali. Já imaginei todas as
possibilidades de como seria se Jacob mostrasse aquele colar de alguma
forma e todos aqui olharem para o anel que Ella me deu.

Minha pressão provavelmente cairia ou eu só fingiria um desmaio.

Não sei o pensar sobre Jacob. Não confio nas suas palavras ou
ações, sei do que é capaz. Minha mente está dividida entre o lado que
acredita que ele está preparando algo muito ruim e na outra metade no
homem vulnerável que conheci no Texas. Aquele homem não faria nada
que prejudicasse alguém, porque ele ama demais para ser capaz disso.

O problema é que não sei quem ele prefere ser.


É difícil aceitar, mas no fundo, acredito que muitas coisas
ganharam dois lados depois daquela noite.

— Fontes me falaram que viram Blue Edwards saindo do camarim


da Selfish no show do Texas. Isso é verdade? — a voz do apresentador
toma conta da sala e todos os olhos se voltam para mim.

— Bee? — Mason está virado para mim na velocidade de um raio.

— O que vocês estão olhando? — me faço de desentendida. —


Óbvio que isso é mentira. É mais fácil ter sido a Ella e quiseram fazer
intriga.

— “Cobras não se dão bem com megeras.” — Logan repete as


palavras de Jacob. — Ele te chamou de megera para o país inteiro.

— Filho da puta. — ouço Mason xingar.

— Espero que o fim do mundo esteja próximo para que o chão se


abra e ele caia direto no inferno. — rosno.

— Que coisa mais feia de se dizer. — Ella me repreende. — Um


dia ele vai acabar pagando a língua. — rouba pipoca da minha mão. —
Você não estava com Michael quando voltamos, não estava mesmo no
camarim do inimigo? — provoca e a olho séria.

— O que merda eu estaria fazendo no camarim desse homem? —


quase grito e sinto os olhos acusadores de Logan em mim.
O que talvez seja só coisa da minha cabeça, já que nem ele sabe o
que aconteceu naquela noite.

— Tentando matar o ódio com tesão. — Ella debocha e jogo


pipoca nela.

— Não existe tesão entre eles. — Mason interrompe. — Não


consigo nem imaginar esse cara perto de você. — balança a cabeça

tentando afastar os pensamentos e me afundo um pouco mais no sofá. —


Tenho cada dia mais nojo dele. — seu celular toca e ele levanta para
atender.

Olho apavorada para Logan e ele coloca todas as pipocas que


segura de uma vez na boca.

Minha lista segue crescendo. Mentiras e mais mentiras. Sejam elas


pequenas ou não, parece que cada dia algo novo é adicionado. Logan é o
único que sabe que algo tem acontecido, Ella ainda não percebeu porque

não estivemos juntas em algum lugar com Jacob e não quero nem pensar
em como será quando contar tudo que tem acontecido a Mason.

Nunca o vi tão irritado em relação a alguém.

Meu celular acende e o nome de Michael aparece.

“Você foi a escolhida para representar a gravadora no Annual Music


Meeting, parabéns. Terá outra pessoa com você, mas conversaremos
sobre isso na reunião com sócios, daqui cinco dias. Foque no lado bom
e prepare as malas, sei que vai amar conhecer as praias da Turquia.”

Dou um gritinho de empolgação quando leio e atraio o olhar de


todos.

— Vou para o encontro anual da gravadora. — faço uma dancinha

de felicidade. — Oito dias nas praias da Turquia.

— Que coisa boa, Bee. — Mason beija meu rosto e sorri.

— Ano passado foi fantástico, conheci várias italianas. — Logan


comenta e reviro os olhos.

— Acho que seu marido está começando a me considerar mais


íntima, mesmo que eu já seja o suficiente para saber que ele é bem-dotado.
— aponto para Ella. — Ele brincou sobre preparar as malas para a praia.
Michael foi simpático a essa hora da manhã. — sorrio, parecendo surpresa

e ela revira os olhos.

— Ele não precisa saber que você tem conhecimento dos detalhes.
— rimos. — Eu queria ir com você, nós faríamos topless naquelas praias
lindas.

— É um evento de muita responsabilidade, estará sendo o rosto da


gravadora em um evento que reúne todos os maiores sucessos das
empresas do ramo musical do mundo. — Mason fala e o olho com

deboche.

— Vocês estão mesmo pensando sobre o que eu posso fazer depois


que o Logan foi convidado? — questiono e todos riem.

Ainda não sei o que significa “focar no lado bom” que Michael
falou, mas é isso que vou fazer. Praias cristalinas e turcos bonitões, me

aguardem.
“Por favor, fique onde você está

Não chegue mais perto

Não tente me fazer mudar de ideia

Eu estou sendo cruel para ser gentil”

LOVE IN THE DARK | Adele

— Por favor, não grite, os donos da gravadora estão aí. — Michael


pede enquanto abre a porta da sala de reuniões para mim.

Olho-o confusa, mas com o primeiro passo dentro da sala vejo


homens engravatados e Jacob Collins.

— Você só pode estar brincando comigo. — falo entre os dentes

me voltando rapidamente para Michael.

— Eu tentei convencê-los de que isso não daria certo, só que você é


o rosto queridinho da Drops no momento. — Michael olha por cima do
meu ombro e sorri para os homens. — Por coincidência, Jake saiu em

todas as revistas no último mês e deu entrevistas para os maiores


programas da TV aberta. Não vão mudar de ideia. — sussurra.

— Mande a sua mulher. — sugiro. — Ella acabou de lançar sua


própria marca de produtos de cabelo e todo mundo só fala disso, sem
contar que é amiga dele. Não posso viajar para o outro lado do planeta com
esse homem, Michael. Eu vou rogar todas as pragas que conheço em você.
— ameaço e ele me olha feio, porque sabe que é verdade.

— Não pode rogar praga em mim, o que acontece comigo respinga

em Sunny e Ella, então você não vai conseguir fazer nada. Apenas vá e
prometo te manter o mais distante dele possível.

Xingo Michael mentalmente, e pela forma que o olho ele sabe que
usei todo o alfabeto de ofensas que tenho. Nos fuzilamos por alguns
segundos e giro para os homens, desejo bom dia com o sorriso mais doce
que posso, mas mandando todos irem a merda na minha mente.
Ocupamos os lugares do outro lado da mesa, de frente para Jacob e
Dani. O empresário sorri para nós, enquanto o vocalista apoia seus braços

na mesa e me olha como uma criança que ganhou um presente.

— Ficou emocionada ao me ver, Bluzinha? — debocha

— Quase não contive a emoção e estrangulei você assim que passei


pela porta. — Michael cutuca meu braço debaixo da mesa e o olho feio.

— Você estava incrível no show de ontem, Blue. Parabéns. —


Daniel fala e agradeço.

Ele é tão charmoso que eu poderia beijá-lo facilmente. Dani é mais


velho que Michael, talvez esteja na faixa dos quarenta, seu cabelo preto se
mistura com os fios grisalhos, seu corpo é bem estruturado e mostra que
ele pratica exercícios físicos, sempre é educado e carismático. Sei que
Mike e ele se dão super bem, se conhecem há anos.

A reunião começa e os próximos dez minutos se passam com

explicações de como somos perfeitos juntos e mesmo com desavenças, que


segundo eles é pequena, porque fingem não ver tudo que Jacob fala sobre
nós, seremos a dupla perfeita para representar a empresa.

Existe um evento anual que reúne os maiores nomes das gravadoras


espalhadas pelo mundo. Acontecem vários momentos de arrecadação de
fundos, passeios, reuniões, apresentações de tendências, workshop sobre o
universo musical, shows e negociações. Tem como intuito conhecermos

novas estratégias de mercado e divulgar o trabalho das empresas do ramo.

Sempre acontece em lugares diferentes espalhados pelo mundo, esse ano


vamos para uma cidade na península de Bodrum, na Turquia.

Meu sonho era fazer essa viagem com alguém da Drops, mas vou
ter que olhar para aquele mar incrível e depois enjoar olhando para Jacob.

— Vocês ficarão em quartos vizinhos, porque devem estar sempre


juntos em público. — o homem explica. — São os representantes da
gravadora, as pessoas nos veem através de vocês, então não briguem na
frente dos outros convidados e se comportem como parceiros.

— Da minha parte, não se preocupe, estou disposto a ter uma


viagem incrível. É uma ótima oportunidade de criar novos laços para a
gravadora e descansar um pouco do ritmo dos shows. Agradeço o convite.
Só não posso dizer o mesmo de Blue, é que ela não gosta muito de mim.

— dá de ombros e Dani o olha feio.

— O único ser primitivo aqui é você. Já demonstra por esse


comportamento. — olho para nossos patrões. — Farei o máximo para que
tudo corra bem e agradeço por terem me escolhido, significa muito sobre o
reconhecimento do meu trabalho e da banda. Me responsabilizo quanto
minhas atitudes, mas foi uma péssima escolha nos colocar juntos nessa
viagem. Estejam avisados.
Nos explicam como tudo acontecerá nos próximos dias e avisam
que as passagens já estão reservadas e tudo resolvido com o hotel. Não

precisamos nos preocupar com nada, apenas ir, fazer nosso trabalho,
participar de todas as atividades, ficar juntos em público e não brigar.

Sentada no banco de trás do carro de Mason, esperando o horário


do meu voo, relembro pela milésima vez a reunião que me trouxe até aqui.

Obriguei Ella a descobrir qual o número do assento de Jake e é


longe o suficiente do meu, tanto na viagem de ida, quanto na de volta. O
que significa que posso dormir todo o caminho sem me preocupar com a
presença dele.

— Bee. — Mason chama minha atenção e me olha pelo retrovisor.


— Pare de pensar tanto, vai dar tudo certo. Se tem alguém que pode lidar
com isso é você.

— Foque em todos os outros músicos bonitos que você vai


conhecer. — Demi se ajeita no banco da frente para conseguir me ver
melhor. — Talvez o australiano do festival esteja lá.
— Ele já me avisou que não vai. — faço biquinho. — Alguém
deveria comprar uma passagem e ir comigo. — ativo meu drama.

— Sinceramente, use seu tempo para descobrir alguma merda sobre


aquele homem e arme uma vingança. — Logan diz impaciente e uma
luzinha se acende na minha mente.

Talvez esse seja o momento perfeito para me aproximar de Jacob e

conseguir descobrir algo que possa ser usado contra ele. Saber algum
ponto fraco do tão destemido Jacob Collins já seria o suficiente para tê-lo
em minhas mãos por algum tempo. Claro que não vou ser baixa a ponto de
divulgar nada, mas uma ameaça não vai fazer mal a ninguém e ainda
consigo meu anel de volta.

— Baby, ela está com aquele sorriso. — Demi cutuca o ombro de


Mason em aviso.

— Bee, não coloque sua mente diabólica para seguir as ideias do

Logan, isso não tem lógica alguma. Não somos como ele, mesmo com
raiva não vamos fazer a mesma merda. — Mason avisa.

— May, às vezes precisamos dar um passo para trás e nos igualar


ao inimigo para conseguirmos chegar ao topo. — dou de ombros.

— Logan, eu vou matar você. — Mason ameaça e Logan ergue as


mãos em rendição.
— Prometo que ligo para atualizar as novidades. — provoco e
Mason xinga, enquanto Demi esconde o sorriso.

— Bluezinha, não. — Logan segura minha mão e pede. — Essa é a


pior ideia que você poderia ter. — me olha sério.

Eu entendo o que ele quer dizer. Logan é o único que sabe quais
são os objetivos de Jake comigo, mas eu também sou uma ótima jogadora.

Não sei até onde isso pode me levar, mas não volto dessa viagem sem
saber algo sobre aquele homem.

— Vai ficar tudo bem. — beijo sua mão, ainda enlaçada na minha.
— E, tecnicamente, a ideia não foi minha. – brinco e ele xinga, nos
fazendo gargalhar.

A conversa continua até pararmos no aeroporto, me despeço de


todos ainda dentro do aperto do carro, porque eles jamais poderiam ficar
desprotegidos em meio aquela multidão de pessoas. Jonathan, meu

segurança, desce do carro de trás e me acompanha para a sala de


embarque. Sempre viajamos juntos, da minha equipe ele é quem
verdadeiramente respeita meu espaço e sabe como costumo funcionar em
viagens sozinha. Trabalhamos juntos desde o início da minha careira, então
temos intimidade o suficiente para sermos ótimas companhias um para o
outro.
Quando entramos no avião, Jake já estava no seu lugar e não
direcionou seu olhar a mim. Seguiu conversando com a moça na fila do

lado animadamente e segui até o fundo do avião. Jonathan senta na


poltrona que fica próxima ao corredor e minutos depois vejo as nuvens ao
nosso redor.

Pelo o que soube, fomos favorecidos pelo tempo e só precisamos

trocar de avião uma vez, então conseguimos completar a viagem em vinte


horas. Mas entendi que a viagem seria um fracasso quando pousamos e
uma das minhas malas sumiu depois da troca de aeronave. Quase tive um
colapso quando percebi que estava prestes a perder trinta mil dólares em
objetos pessoais, sapatos, roupas, joias e material de trabalho, mas mesmo
a distância, Michael e Hellen conseguiram entrar em contato com os
responsáveis e localizaram a mala, minhas coisas seriam entregues na
manhã seguinte.

O hotel enviou carros para nos buscar no aeroporto e vários


motoristas com plaquinhas aguardavam os famosos que iriam chegar
naquele horário, não foi difícil encontrar o nosso porque ele estava com
uma camisa da Drops, o que me arrancou um sorriso.

Jonathan dormiu boa parte do voo, eu me dividi entre o sono e


conhaque, mas me sinto bem psicologicamente. Minhas costas estão
reclamando e meus ombros tensos pedem por um bom banho de banheira.
O hotel é deslumbrante, com uma vista fantástica para a água cristalina do

Mar Egeu, e a praia com a areia mais clara que já vi. É tudo tão fantástico

que nem acredito que existe um lugar lindo assim no mundo.

O quarto é imenso e extremamente luxuoso, assim como o restante


do lugar. De frente para as duas camas tem um enorme painel com
televisão e mesa de apoio. O lugar é todo de madeira, mármore, tons claros

e detalhes dourados. A cama é grande e com lençóis que parecem nuvens.


Tem um grande espaço de closet e uma varanda com a vista para a
imensidão azul do mar e as montanhas.

— Tudo liberado, Blue. – Jonathan avisa após revistar todos os


espaços do quarto. — As equipes de segurança então hospedadas no
complexo vizinho, mas basta um toque e eu estou aqui. Já sabe as regras.

— Obrigada. — sorrio. — Te encontro para o jantar?

— Passo para pegar a donzela. — brinca e me deixa sozinha.

Porém, o que mais me surpreende é o banheiro. O espaço é


delimitado e separado do restante do quarto por uma cortina que vai do
teto ao chão. É diferente, mas é lindo e traz um ar extremamente
romântico, porque existem velas por quase todo o local. A banheira é
linda, acompanhada de grandes espelhos na parede e uma bancada de
mármore com duas pias.
Me livro das roupas que estou e ligo a banheira. Visto um dos
roupões felpudos e envio uma mensagem para meus amigos falando sobre

a beleza desse lugar. Abro a mala no chão do closet e xingo o universo


quando vejo todas as roupas de festa. Me restaram calcinhas
desconfortáveis e vestidos brilhosos demais.

Ótimo, irei tomar um vinho e observar o céu da Turquia pelada

essa noite!

Respiro fundo e tento não me aborrecer, afinal, estou no paraíso e


só preciso descansar. Coloco uma música para tocar e caminho até a
banheira, desligo a água, cheiro todos os sais que encontro e misturo os
que acho cheirosos.

Quando abro o roupão, o som para de repente.

— O que está fazendo no meu quarto? — a voz masculina soa atrás


de mim.

Eu reconheceria esse timbre em qualquer lugar.

É a voz dele!
“Prazer em te conhecer, onde você esteve?

Eu posso te mostrar coisas incríveis

Magia, loucura, paraíso, pecado

Te vi ali, e eu pensei

Ai, meu Deus, olhe esse rosto!

Você parece o meu próximo erro”

BLANK SPACE | Taylor Swift

— Deus, por favor, se estou pagando algum pecado da vida


passada, eu só posso ter sido o soldado que te cravou na cruz. Não é

possível. — Blue fala e respira fundo antes de olhar para a última pessoa

que gostaria de ver no mundo: eu. — Só saia do meu quarto, Collins, essa
brincadeira não tem graça. — o ódio é gritante em sua voz.

Não consigo evitar lhe olhar dos pés a cabeça. Seu roupão não está
amarrado, o tecido aberto cobre seus seios, mas é possível ver uma parte

da sua calcinha. Automaticamente viro o rosto para o outro lado, mas ela,
com o cabelo amarrado e bagunçado no topo da cabeça, seminua e com
aquela cara de megera raivosa é a coisa mais bonita que já vi.

Ela fecha o roupão rapidamente.

— Eu realmente quero entender porque você está vestida assim no


meu quarto, não que eu esteja reclamando, você é uma visão do caralho,
mas tem algo errado, eu não divido quartos. — afirmo e coloco a mala
sobre a cama.

Apoio a case do violão com cuidado na cadeira e volto a olhá-la.

— Ai meu Deus. — ela parece se dar conta de algo. — Pensei que


as duas camas eram só por não ter mais suítes disponíveis, nos hospedaram
no mesmo quarto. — merda.

— Não, isso não pode acontecer. — rio sem humor.

Pego o celular no bolso, ao mesmo tempo em que ela pega o seu e


praticamente corre até a varanda. O número de Dani é o primeiro da lista,
porque acabei de lhe enviar uma mensagem. Ligo e no segundo toque ele

atende.

— Me hospedaram no mesmo quarto que Blue Edwards. — a


observo caminhar de um lado para outro da sacada enquanto fala com
alguém por ligação.

— Isso é novidade. — sua voz é cheia de humor, mas logo assume


um tom de preocupação. — Isso é uma tragédia. — se dá conta.

— Se você estiver por trás disso eu vou te matar. — ameaço. —


Dani, não existe a possibilidade de passarmos a semana no mesmo quarto.

— Claro que não sou maluco de colocar você e essa mulher no


mesmo metro quadrado, mas a vida é muito engraçada. Tentarei falar com
a gravadora, tente falar com alguém do hotel. Qualquer coisa alugue um
quarto, nós bancamos tudo.

— Vou tentar resolver isso. — digo.

Blue passa a mão pelo cabelo, que já está solto por causa da sua
agitação e parece gritar com alguém, desliga a chamada e volta para o
quarto.

Seu rosto está vermelho, o cabelo mais bagunçado, o roupão


folgado. Ela parece uma gata selvagem, pronta para atacar e sei que serei a
presa do dia.

— Vou até a recepção. — aviso.

— Não adianta. Acabei de ligar para o gerente, o hotel está


completamente lotado com toda a equipe de organização, apresentação,
convidados e todo o caralho desse evento. Não existem quartos vagos,
teremos que esperar pelo menos três dias para resolverem. — fala com

raiva.

Isso só pode ser brincadeira.

Respiro fundo e olho ao redor, o lugar é muito bonito e tem uma


vista que deve ser fantástica a noite, mas eu abriria mão dela apenas para
não ficar aqui com Blue. O hotel fica afastado de tudo, não existe a
possibilidade de irmos para outro lugar e nos locomover a cada atividade
do evento.

— Eu preciso tomar banho. — me aproximo da banheira.

Quem merda inventa um banheiro no meio do quarto?

Pelo menos existe um espaço reservado para que eu não precise


fazer outras coisas na frente dela.

— Mas não vai mesmo. — me interrompe. — Eu estava prestes a


entrar na banheira quando chegou. Você espera e depois toma banho.

— Se vou ter que aguentar você até amanhã, vou pelo menos tomar
banho primeiro. Você pode esperar lá fora, te chamo quando terminar. —

tiro a camisa e ela gargalha.

— Você nunca ouviu que primeiro são as damas? — questiona e


quase rio.

Porque lembro de uma entrevista onde Blue falou que tem vontade
de revirar os olhos quando escuta essa frase, já que a maioria dos homens

que falaram isso para ela só queriam olhar melhor para sua bunda.

— Você não é uma dama, é uma megera. Ou sai ou vai me ver


pelado. — dou de ombros.

Ela me dá um olhar matador e sei que está prestes a me arrancar do


quarto. Dá um passo mais perto e enfia o dedo contra meu peitoral, bem
próximo de onde seu anel está parado.

— Se você tirar essa calça vou te fazer ficar impossibilitado de ter


filhos pelas próximas três reencarnações. Então, vá procurar outra pessoa

para infernizar enquanto tomo banho. — sua voz é calma e cortante como
uma faca.

Travamos uma guerra com o olhar e ao mesmo tempo que a acho a


coisa mais linda que já vi, não vou arriscar e duvidar da coragem que ela
tem de arrancar minhas bolas. Visto a camisa novamente e abro minha
mala. Sei que ela deve estar com um sorrisinho vitorioso no rosto, mas é
melhor ceder do que perder o restante da minha paciência.

Pego meu violão e abro a porta.

— Ah, e Edwards. — viro para ela antes de fechar a porta. — Você


tem vinte minutos. Se eu voltar e ainda estiver na banheira, tomaremos
banho juntos. — aviso e sei que ela também reconhece quando falo sério.

Caminho pelo corredor movimentado e a imagem dela com aquela

minúscula calcinha branca vem na minha cabeça.

Inferno.

Mesmo não tendo visto quase nada, sei que vai ser impossível tirar
essa imagem da minha mente. Blue tem diversos ensaios com fotos sexys e
é embaixadora de uma grande marca de roupas íntimas, seu corpo está em
propagandas na TV, revistas e outdoors, mas nada se compara a vê-la
pessoalmente.

A noção dos seios dela serem do tamanho perfeito para minhas

mãos, me trazem a certeza de que preciso de uma bebida urgentemente.

Pego uma dose grande de whisky no primeiro bar que vejo e volto
a explorar o lugar. O fluxo de pessoas está enorme, então continuo
buscando um lugar tranquilo, mas não longe. Uma porta de vidro me leva
até uma parte externa, o piso de madeira construído entre as pedras claras
da montanha, com várias espreguiçadeiras bem posicionadas e o mar
inteiro na minha frente.

Dedilho algumas músicas no violão e anoto ideias que vão

surgindo, com essa paisagem é difícil não ficar inspirado. Aproveito para
mandar fotos bem cafonas para Joana, que me faz prometer que trarei ela
aqui um dia.

Um dos maiores motivos pelo o qual eu nunca parei de trabalhar ou

de tentar conquistar algo melhor, é Joana. Ela vivia apertada, com o


suficiente para Tony e ela, mas não me deixava sem comer. Sou capaz de
mover o mundo por essa mulher, porque ela é meu tudo desde que eu não
tinha nada.

Termino minha bebida e volto para o quarto, já dei tempo demais


para aquela megera.

Abro a porta e Blue vira em minha direção. Ela está ajeitando


alguns produtos na pia do banheiro e por mais que as embalagens que

segura contra o corpo esconda os detalhes da camisa que veste, eu conheço


minhas roupas.

— Essa blusa é minha? — pergunto, não sei se confuso ou


surpreso.

— Minha mala com roupas confortáveis ficou perdida no


aeroporto, só chega amanhã. — dá de ombros.
— Você mexeu nas minhas coisas sem autorização? — ela fica
envergonhada, mas não perde a pose determinada.

— Juro que não olhei as coisas da sua mala. Você deixou aberta e
eu vi a blusa logo em cima, apenas peguei e vesti. Não imaginei que iria se
incomodar, afinal, já deve ter dividido roupa com milhares de mulheres. —
revira os olhos e continua o que estava fazendo.

— Você tem razão, já vi milhares de mulheres com minhas


camisas, mas nenhuma delas era você. — nenhuma delas parecia tão
bonita. — Até porque elas não me odeiam ou ameaçam chutar meu pau. –
arranco a camisa que estou vestindo e ela passa rapidamente por mim.

— Se incomoda se eu ficar trancada no closet enquanto você toma


banho? — pergunta e não consigo evitar a gargalhada. — Eu só não queria
ter que ir circular pelo hotel.

— Querida, já expliquei a você, comigo os direitos são iguais. —

ergo uma das sobrancelhas para ela, sugestivamente. — Se eu não posso


ficar por perto enquanto você está nua, não vou te dar o prazer de ter essa
visão do paraíso. — aponto para o meu corpo e ela faz uma careta.

— Só para você saber, não é tão bonito quanto pensa. — fala e me


mostra seu celular. — Mande uma mensagem quando terminar. — calça
uma das pantufas brancas do hotel e sai do quarto.
Não sei se eu que estou ficando maluco ou ela que é uma caixinha
de surpresas. A forma doce como quase pediu para ficar no quarto,

substituída pela cara de nojo com a minha resposta. Blue Edwards é uma
caixinha de surpresas.

A cada segundo é uma novidade. Não sei explicar o que senti


quando a vi vestida na minha camisa, uma atitude íntima, com alguém que

ela despreza tanto. Ela é uma confusão e eu me sinto da mesma forma


agora.

Talvez seja porque ela não tenha medo de mim ou porque a raiva
que sente faz com que não se preocupe com que vou achar, mas, no fundo,
acredito que ela sinta-se confortável comigo.

Tomo um banho demorado, mas opto pelo chuveiro ao invés da


banheira, deixo toda a tensão da viagem sair dos meus ombros. Escolho
um short de dormir confortável porque é exatamente isso que quero fazer,

deitar nessa cama e só acordar amanhã.

Envio uma mensagem para Blue e no mesmo instante ela abre a


porta.

— Estava esperando na porta esse tempo todo? — questiono.

— Você demora demais para tomar banho, meu Deus. Quanta


sujeira tinha nesse corpo? — fica descalça e senta sua cama.
— Olha, eu já entendi que você adora comentar sobre o meu belo
corpo, não precisa usar o banho como pretexto. — sento ao seu lado. —

Nós precisamos de regras, pequena Blue.

Ela respira fundo, como se tivesse sido derrotada. Nenhum de nós


está feliz de ter que dividir a intimidade com o inimigo.

— Número um, cada um tem seu dia para trazer o encontro para

dormir aqui. — digo e ela me olha confusa. — Não me venha com essa
cara, você é tão safada quanto eu. Se vamos dividir o quarto, precisamos
de regras.

— Vá dormir no quarto da garota. Não vou deixar você trazer


pessoas estranhas para perto das minhas coisas. — é a minha vez de lhe
olhar incrédulo.

— Está com medo de levarem sua linda Chanel? — debocho.

— Não gasto meu dinheiro com marcas que os donos apoiam ou

tem atitudes desumanas ou nada dignas. Mas existem muitas outras coisas
de valor, não podemos trazer estranhos aqui. E não me olhe como se eu
fosse uma alienígena, temos que ter regras de convivência. — me olha
séria.

Blue é muito expressiva, ela gesticula muito enquanto fala, está


sempre movendo as mãos e suas expressões acompanham o que sente ao
falar. Chega a ser bonitinho vê-la tão de perto, estamos a centímetros do

rosto um do outro, sua coxa está colada na minha, não tem nada de

maquiagem em seu rosto e seu cabelo ainda está secando.

Só posso estar ficando louco.

— Imagine se eu entrar no quarto e você está transando com


alguém. Deus me livre do pavor dessa cena. — balança a cabeça como se

quisesse afastar seus pensamentos.

— Seria a coisa mais sexy que você já colocou esses olhinhos. —


provoco e sorrio. — Tudo bem, esse vai ser o nosso espaço, nada de trazer
pessoas para cá antes de implorar ao outro antes. — sugiro e ela concorda.

— Segunda coisa. — começa. — Nos horários de banho ou vamos


para a varanda ou esperamos no closet. Teremos muitos eventos juntos e
não vamos conseguir ficar esperando o outro terminar para nos
arrumarmos sem acordar duas horas antes. Temos que prometer não espiar,

Jake, você precisa jurar pela coisa mais preciosa da sua vida que vai
respeitar a mim e ao meu espaço.

— Enquanto estivermos dentro quarto estaremos dando uma trégua


do ódio? — procuro entender.

— Não, se você testar minha paciência, eu ainda vou jogar coisas


na sua cabeça, mas precisamos tentar para não enlouquecer até
conseguirmos nossos quartos. — ela parece chateada.

— Ok. — concordo. — Número três, eu não funciono sem uma boa

noite de sono. Então preciso dormir o máximo possível antes de qualquer


coisa, se acordar antes de mim não faça barulho. — digo e ela concorda.

— O meu número três é, não atrapalhe meus momentos de


trabalho. E, número quatro, não é uma regra, mas no que fugir aos três

itens anteriores, eu apenas vou ignorar a sua existência aqui.

Nossas próximas regras são, não mexer nas coisas um do outro e


não ficar bêbado a ponto de precisar de cuidados, porque não nos
responsabilizaremos um pelo outro. Levo minhas coisas até o closet e vejo
as de Blue organizadas em alguns espaços. Apenas deixo a mala aberta no
chão e volto para o quarto. Confiro minhas mensagens e deito para dormir.

Blue está na varanda, conversando por chamada de vídeo com


alguém e mesmo baixo, ainda consigo ouvir o que as mulheres conversam.

— Blue, tenha cuidado, não é de confiança ficar com um homem


estranho no mesmo quarto. Ficamos vulneráveis na nossa intimidade. —
ouço a pessoa com quem conversa falar.

— Eu sei, vovó, não se preocupe, sei me cuidar. — tenta


tranquilizá-la.

— Não gosto nada disso. Falarei com Ella, ela vai obrigar Michael
a resolver isso.

Levanto da cama e vou até ela. Blue está de costas para a porta,

com os braços apoiados no vidro que nos impede de cair. Só agora percebo
como minha blusa fica grande nela, porque mesmo nessa posição deixa sua
bela bunda muito bem coberta.

— Olá, vovó. – digo apoiando meu rosto ao lado do de Blue para

aparecer na chamada. Mas eu conheço a senhora do outro lado da tela. —


Meu Deus, é Olívia, não é?

— Jake, o que está fazendo? — Blue tenta se afastar de mim, mas


tomo o celular da sua mão.

— Querida, por que não me disse que seu companheiro de quarto é


o Jake? — ela sorri. — Olá, meu bem. Você parece melhor do que no dia
que nos encontramos. — é impossível não sorrir com o seu jeito doce.

— E você mais bonita do que nunca. — digo e ri alto. — Oli, não

se preocupe, Blue está em segurança e ela é capaz de me esfaquear


enquanto durmo, então eu que preciso ter cuidado. — Blue puxa meu
braço para que devolva o celular e a olho em repreensão.

— Você parece um bom rapaz, querido. Se fossem situações


opostas, sua mãe também estaria preocupada, mas sei que minha garota
sabe se defender. Mesmo assim, quero que me prometa que irá respeitá-la.
— sua expressão é séria.

Olívia tem o sorriso doce e olhar para ela é ver uma versão mais

velha de Blue. Como uma daquelas avós de propaganda de margarina,


cabelos brancos cortados bem curtos, olhos azuis como os da neta.

— Prometo respeitá-la sempre. E ficar de olho caso faça algo de


errado. Somos parceiros de viagem, estaremos sempre juntos, então

cuidarei dela para você. — a tranquilizo e ganho um sorriso.

— Vovó, Jacob não sabe cuidar de uma mosca, não confie tão
facilmente que ele serve para alguma coisa. — a loira fala se enfiando
entre mim e o celular.

— Querida, não seja rude. — Olívia a repreende e rio. — Se


comportem crianças e me deem notícias todos os dias. — pede.

— Deixarei vocês continuarem a conversar, só queria tranquilizá-


la. Quando voltarmos para Los Angeles vamos marcar um café, Olívia. —

digo e ela concorda.

— Mas não vai mesmo. — Blue toma o celular de volta. — Vovó,


ficarei bem, não confie muito nas palavras de Jake, ele é o primeiro a ir pra
o inferno no juízo final.

— Blue Dawson Edwards, não fale assim do garoto. — a repreende


novamente e sorrio. — Peça desculpas.
— Isso mesmo, Blue, você me deve desculpas. — cruzo os braços
e a olho debochado.

Ela fica calada, apenas me olhando como se fosse me empurrar


varanda abaixo. Por trás do celular, onde sua avó não consegue ver, me
mostra o dedo do meio e gargalho.

Volto para a cama e me aconchego no travesseiro.

Talvez, dividir o quarto não seja tão chato.


“Você já teve a sensação

Que o mundo se foi e deixou você para trás?

Você já teve a sensação

Que você está perto de perder a cabeça?”

ANGEL EYES | The Police

Me espreguiço ainda deitada e abro os olhos. Jacob está na cama ao


lado, em um sono tranquilo. Ele não ronca, o que provavelmente devo
agradecer a sua rotina de esportes, alimentação regrada e exercícios de
respiração. Não preciso conviver com ele para saber o que faz, afinal,
somos do mesmo mundo.

Seu corpo grande toma muito espaço na cama e assim, com uma
expressão tão serena, posso jurar que ele não é tão ruim quanto parece. O
problema de Jake é que ele é uma cobra, que dá o bote e se retira ileso da
situação, deixando quem foi atingindo para morrer.

Reviver a noite do bar, as coisas que Demi ouviu dele, a forma


como May reagiu ainda estão tão vivas na minha mente, que brigam
constantemente com a pessoa que acolheu Ella e encantou Sunny tão
rapidamente.

Eu não sei o que ele esconde, mas preciso descobrir. Sempre se


gaba por saber tudo sobre a Drops, mas nós nunca soubemos mais do que o
que todo mundo tem acesso. Se quero meu colar de volta e a paz de Jacob
sair dos nossos pés, preciso ter uma carta na manga também. Essa é a

minha oportunidade.

Na noite passada, dormimos a tarde inteira e perdemos o horário do


jantar, acabamos brigando na hora de pedir a comida. Ele saiu para beber e
aproveitei para trabalhar um pouco. Quando retornou, apenas jogou a
roupa pelo chão e deitou na cama apenas de cueca.

Levanto com cuidado e vou até o closet. Temos o café da manhã e


o encontro de abertura do evento, eles mandaram cestas cheias de doces e
coisas caras com uma carta, onde informava sobre o tipo de traje para a

situação.

Fechei bem a cortina que nos separava e aproveitei que Jake estava
dormindo para tomar um banho e começar a me maquiar. O corpo tatuado
se mexe na cama e vira para mim.

— Essa cama é um descaso de tão gostosa. — fala com a voz


preguiçosa. — Pensei que teria uma equipe para nos arrumar.

Ele está coberto de razão, é extremamente confortável.

— Você precisa levantar ou vamos nos atrasar. — aviso. — E você


ainda não percebeu que isso é tipo férias de blogueira e não um show?
Claro que a gravadora não iria gastar mais dinheiro do que o
necessário.

Ele resmunga algo que não entendo e caminha até a pia ao meu

lado. O cabelo bagunçado, os olhos pequenos de sono, a boca rosada, a


barba bem feita marcando sua mandíbula potente e o peito nu mostrando
todas as tatuagens. Evito olhar para baixo da linha da cueca porque com
certeza não quero descobrir o tamanho da sua ereção matinal e desvio o
olhar enquanto ele escova os dentes.

— Cuidado para não babar. Vai estragar a maquiagem. — fala


ainda com a voz rouca de sono e entra na parte reservada do banheiro.

Convencido do caralho!

Termino a maquiagem rápido, fiz algo leve, apenas para o dia, e me


tranco no closet para terminar de me arrumar. Ouço Jake se mover pelo
quarto e depois de algum tempo bate na porta de onde estou.

— Estou com uma ressaca do inferno. — comenta, com o celular

na orelha.

Apenas enrolado na tolha ele procura uma roupa na mala, enquanto


tento escolher meus acessórios.

— Tony, deve ser umas quatro da manhã por aí, vá terminar seu
plantão ou beijar alguma mulher bonita nesse hospital. — ele gargalha. —
Diga a mamãe que estou bem, que jantei um ótimo prato de frutos de mar e
que tenho muito trabalho hoje, mas ligo para ela.

Me pergunto quem é Tony, já que seus irmãos não tem nomes

parecidos com isso, mas não é da minha conta. Minha unha é grande, então
as vezes dificulta quando preciso manusear fechos pequenos, luto para
acertar o espaço sem conseguir enxergar. Sinto mãos cobrirem as minhas e
olho automaticamente para o espelho no final do closet.

Jacob está atrás de mim, com uma toalha enrolada na cintura,


apoiando o celular na orelha com o ombro. Tiro minhas mãos do colar e
ele fecha. Continua sua conversa naturalmente e bagunça todo o chão com
as peças que está tirando da mala. Mas continuo o observando a cada

passo.

Não é pela sua altura e os músculos bem definidos que Jacob


parece ocupar espaço demais, é porque seria impossível não notar sua
presença. É algo além da beleza, algo que parece o envolver.

Também não me interessa descobrir.

Pego a sandália de salto baixo que escolhi para o dia, minha bolsa e
saio do quarto. Aproveito o café da manhã e sigo para o salão de festas do
hotel. As mesas altas, que são apenas de apoio, são separadas por números
que representam as gravadoras. Vou até alguns conhecidos, converso com
os amigos e volto para o meu lugar.

— Já espalhando seu veneno? – Jake para ao meu lado.

— Não, guardei todo para você. — sorrio docemente.

A primeira apresentadora sobe no palco e começa os


agradecimentos. Convidaram pessoas de diversos ramos para guiarem o
evento, a dupla que está no palco é composta por uma dançarina e um
lutador, que por sinal é meu ex namorado.

— Como alguém pode ser tão bonita? — comento. — Megan


deveria ser considerada atentado ao pudor só por andar na rua.
— Ela é uma mulher incrível. — comenta, mas meu queixo cai
com a possibilidade de algo mais ter acontecido.

— Vocês já ficaram? — questiono, surpresa. — Ela é corajosa por


ter arriscado se contagiar com algo seu, mas eu também a beijaria, então
você é um sortudo.

— Posso garantir que não existem arrependimentos quando o

quesito é ficar comigo. — o olho com nojo. — Você deveria deixar de ser
rancorosa e só aproveitar.

— Apenas nos seus sonhos, Collins. — ele se aproxima de mim.

— Bae, não adianta fingir, aposto que você adoraria descobrir


como é ser tocada por mim. — sussurra próximo a minha orelha e se afasta
com aquele ar de convencido.

Sua respiração atingiu o ponto certo no meu pescoço e por pouco


meu corpo traidor não se arrepiou. Evito olhar para ele novamente e

seguimos os próximos minutos sem trocar nenhuma palavra. Pede uma


bebida e me pergunto se ele fica completamente sóbrio em algum
momento do dia.

— Seu namoradinho está se aproximando. — comenta e xingo


mentalmente por Ben ter vindo até mim.

— Passe o braço pela minha cintura. — falo baixo e finjo um riso


alto. Jake me olha sem entender. — Coloque agora o braço na minha
cintura e se aproxime de mim.

Sua mão segura meu corpo e o aproxima do seu. Finjo um sorriso


encantador e vejo os olhos de Jacob brilharem com a piada que ele quer
fazer sobre aquilo. Abaixa a cabeça para se aproximar do meu rosto
novamente.

— Blue Edwards, você está me usando para fazer ciúmes no ex


namorado? — o deboche em sua voz é claro.

— Apenas faça o que você sabe fazer de melhor, finja. — respondo


e coloco minha mão sobre a sua.

Ben coça a garganta parando de frente a nossa mesa. Ele é um


homem bonito, sempre foi. Eu adoro lutas e nos conhecemos em uma das
suas conquistas no ringue. Seu rosto lhe faz parecer mais novo do que
realmente é, tem um sorriso fácil e teria sido um bom namorado se não

tentasse entrar na calcinha de qualquer coisa que anda.

— Há quanto tempo, Blue. — sorri e beija minha mão.

— Que desprazer ver você, Ben. — devolvo o sorriso.

— Quando soube que você viria, não imaginei que seria


acompanhada. — fala olhando para Jake. — Até onde sei você odeia esse
cara. — fala com desdém.
— Até onde sei você não me conhece. — continuo sorrindo.

— Então as pessoas tem razão, agora vocês apenas fingem que se

odeiam? — seus olhos passeiam até a mão na minha cintura.

Ben sabe o quanto odeio Jacob, porque também não gosta nenhum
pouco do meu companheiro de viagem. Apenas uno o útil ao agradável e
para lhe deixar mais irritado, ele pode acreditar que Jacob e eu temos algo.

Eles já brigaram em uma festa e na época que namorávamos, as armações


de Jake estavam cada vez mais frequentes, nós conversávamos sobre isso.
Mas, o que ele não sabe, é que depois da sua traição, eu o odeio muito
mais do que qualquer coisa que sinto em relação a Jacob.

— Não, a parte do ódio é toda real. — Jacob fala. — Só


resolvemos lidar com ele de outra forma. — beija o topo da minha cabeça.

— Bom, uma vez você me disse que eu era mais um da sua lista de
homens errados. — dá de ombros. — Acho que agora pode adicionar mais

um.

O aperto de Jake se torna mais forte na minha cintura, mas ele sabe
que não preciso de defesa.

— Sinceramente, ainda está aqui me fazendo perder tempo? Se


você não teve a decência de me respeitar, não deveria estar direcionando a
palavra a mim. Aliás, você não merecia nem que eu te respondesse algo.
Então, só nos dê licença.

Ele nos observa um pouco mais, sorri e se afasta. Continua

cumprimentando as pessoas ao nosso redor, mas seu olhar segue para


nossa mesa sempre que pode.

— Porque vocês terminaram? — dá mais um gole na bebida. —


Lembro que eram o casal do momento, todos comentavam sobre a dupla

perfeita que formavam.

— Ele me traiu. Simples assim. — dou de ombros. — Eu não lhe


dei chance alguma de tentar me enganar de novo, então ele começou a
buscar meus amigos e até ligou para o meu pai tentando fazer com que eu
o perdoasse. Me viu dançando com um cara algumas semanas depois, quis
arrumar briga, eu soquei o nariz dele e disse que ficasse longe de mim. —
Jake sorri.

— Você é valente, pequena Bae. — fala orgulhoso. — No dia que

discuti com ele só pensava que se me batesse, eu provavelmente morreria


no primeiro golpe. — gargalho.

— Agradeça por ele amar o que faz e não brigar fora dos ringues.
Quando o assunto é a luta, Ben é muito consciente, tem medo de perder
tudo que conquistou.

— Nisso, eu o entendo. — vira o copo e o observo.


Prestar atenção em Jacob é compreender que de forma descontraída
e quase imperceptível, ele vai revelar detalhes que talvez nem perceba,

mas eu estou interessada demais em saber o que ele esconde para não
entender seus pequenos sinais.

— Você também tem medo de perder tudo? — continua rodando o


copo que segura.

— Eu sou capaz de tudo o que for preciso para não colocar o que
conquistei em risco, Blue. — seu tom é duro. — O que eu vou ganhar por
ter feito o sacrifício de fingir que temos algo? Ser associado a você pode
sujar um pouco a minha imagem. — dedilha minha cintura e me dou conta
de que ainda estamos próximos demais.

— Vou deixar você tomar banho primeiro. — gargalha e aproveito


para sair do seu aperto.

— Como seu namorado, acho que poderíamos tomar banho juntos.

— pisca galante e apenas reviro os olhos.

— Lembre-se de não me irritar. Soquei um lutador profissional,


posso muito bem quebrar algo em você. — ameaço.

Uma garota do outro lado do salão começa a trocar olhares nada


discretos com Jacob, o alerto que tome cuidado para que Ben não perceba.
A forma como aqueles olhos castanhos se tornam escuros quando ele foca
intensamente para algo que quer é indescritível. Não demora muito para

ele simplesmente piscar para mim e começar a caminhar em direção a ela,

mas volta rapidamente até nossa mesa.

— Quase esqueci de te dizer, dei um dos seus cremes a moça que


arrumou o quarto hoje. — tento puxá-lo pelo braço, mas ele é mais rápido
e caminha para longe de mim.

Respiro profundamente várias vezes para não esganá-lo na frente


de todo mundo naquela sala, mas ele vai me pagar.

Ben voltou ao palco e explicou como funcionaria a dinâmica do


restante do dia. Seguimos para uma sala de apresentações onde alguns
artistas falaram sobre suas experiências no mundo da música e grandes
empresários do ramo deram palestras contando da trajetória e tipo de
trabalho com os músicos. Jacob dormiu na metade da segunda fala e
acordou com as palmas de finalização.

Observei a mulher que ele conversou mais cedo com Mili, uma
cantora de pop que está surgindo no mercado. Nos conhecemos em uma
coletiva em Miami, sua cidade natal, e trocamos nossos números durante
um happy hour. Todo mundo sabe que ela não aguenta uma fofoca, então
se eu não tenho cremes, Jacob Collins não tem encontros.

Somos liberados da sala de apresentação e me aproximo de Mili,


que está no bar e engatamos em uma conversa descontraída, falamos sobre
a viagem, música, a diferença das nossas cidades e aproveito para

perguntar se a mulher que sentou com ela mais cedo era sua acompanhante
no evento. Bonnie Wall é o nome da garota e assim que ouço seu nome
lembro que ela é DJ.

Sinto muito, mas você não vai ficar com o bonitão hoje.

— É verdade que você e Jacob Collins estão no mesmo quarto? —


Mili pergunta e sei que provavelmente é sua amiga que quer saber.

— Não. – minto. — Nos colocaram em quartos, lado a lado, ordens


da gravadora — dou de ombros e bebo um pouco mais de champanhe. —
Nunca gostei dele, você sabe, mas você soube o que estão falando? — ela
nega. — Ouvi que ele está namorando com uma garota da cidade dele, mas
mantém em segredo para continuar ficando com outras pessoas e diz para
ela que é uma forma de manter a mídia longe. — finjo uma descrença

enorme.

— Sério? — seu queixo cai. — Que cafajeste. Sei que ele é um


safado, mas não dessa forma.

— Pois é, mas você sabe como são essas fofocas de bastidores,


nunca podemos acreditar completamente. — bebo um pouco mais e sorrio
para ela. — Me fala sobre o álbum novo, soube que vai ter turnê
internacional.

Pessoas da organização do evento nos interrompem e somos

levadas para uma área externa, onde nos dividiram em grupos e realizaram
brincadeiras. Sempre fui péssima com perguntas de conhecimentos gerais,
mas os componentes restantes eram rápidos, isso nos favoreceu, mas não
ganhamos. Conheci um compositor latino lindo de morrer e combinamos

de nos ver para uma bebida após o jantar.

Volto para o quarto porque preciso urgentemente de um banho


antes da segunda parte do evento.

A porta é aberta de vez e Jacob entra todo sorridente. Ignoramos a


existência um do outro e vejo que Hellen escolheu um vestido cor de
vinho, longo, de alças finas, com um decote profundo, assim como a fenda
na perna esquerda.

Quando retorno para a parte compartilhada do quarto, Jacob não

está mais lá, então aproveito para me preparar com calma. Faço cachos
grandes no cabelo, escolho um batom vermelho combinando com o
vestido, o delineado destacando o azul dos meus olhos. Meu cabelo está
um pouco maior, então opto por deixá-lo solto. No início da tarde, me visto
e estou pronta para encontrar com o meu compositor.

A noite passou muito mais rápido do que imaginei, jantei com o


grupo de Mili e encontrei Carlos, o compositor, após o evento. Descobri
que ele quem escreveu uma música que Mason escuta para malhar e

acabou viciando nossos grupos. Conversamos, bebemos bastante, nos


beijamos tanto quanto, mas nos despedimos no elevador, por mais que ele
fosse lindo e extremamente legal, não senti que deveria passar desse nível.

Caminho pelo corredor e minha atenção é atraída para uma área

externa, com espreguiçadeiras com velas entre cada uma delas. A


iluminação é baixa, mas o horizonte mostra as pequenas luzes da cidade do
outro lado do mar. Me aproximo do final do chão de madeira, mas paro
quando vejo Jacob sentado, com os cotovelos apoiados nas coxas e
vestindo a porra de uma roupa social completamente preta.

Ele estava quase imperceptível, mas levanta ao perceber minha


presença. Os fios de luz chegam ao seu corpo. Os primeiros botões da
camisa estão abertos e as tatuagens se mesclam com a escuridão da roupa.

A calça perfeitamente sob medida e o blazer aberto.

Nunca escondi o quanto o acho bonito, mas quando seus olhos


escuros encontraram os meus, eu soube que poderia ceder muito fácil à
tentação.

— Me contaram uma história bem interessante. — sorri sem


humor. — Eu tenho uma namorada.
— Porque não me contou que estava namorando, Collins? Nós
somos companheiros de quarto, sua noiva poderia ficar com ciúmes. —

debocho.

— O mais legal de tudo, é que foi você quem contou sobre o meu
incrível relacionamento secreto.

— Eu? — levo minha mão ao peito e finjo desentendimento. — Sei

que você adora que seu nome esteja na minha boca, mas não perdi meu
tempo falando sobre coisas que não sei. — dou de ombros e jogo a bolsa
na cadeira.

Ele sorri, mas não é o usual sorriso de cafajeste e sim o de dono do


mundo, o que me diz que ele sabe que estou fingindo, porque nós somos
iguais. Dá passos calmos e se aproxima de mim, observa meu rosto com
atenção, afasta uma mecha de cabelo do meu ombro e me analisa com
soberba, apenas lhe dou a minha melhor expressão de quem está pouco se

fodendo para o que ele está achando.

— Não envolva meu nome em mentiras, Edwards. — sua voz


transmite uma falsa calmaria.

— Oh, você não gosta de mentiras, Collins? Pobrezinho. — rio. —


Pensei que essa fosse a sua especialidade. Aliás, realmente deve ser
diferente, porque quando você é o mentiroso é um prazer. Porém, quando a
mentira é sobre você, o que te resta é a confusão das pessoas duvidarem da
sua palavra. Mas, claro que você não deve saber como é ser acusado de

algo que não fez. — deslizo uma unha pelo seu peito.

Seus olhos parecem vacilar por um segundo, como se acabasse de


dar-se conta de algo, mas logo a escuridão está de volta.

— Se estava com ciúmes, era só falar, Bae. — o canto da sua boca

se ergue em um sorriso fino. — Minha noite estava toda planejada.


Primeiro, a buscaria no quarto e teríamos um jantar incrível, nós
tomaríamos alguns drinks no bar, eu diria o quanto ela estava linda e
tocaria discretamente nos pontos amostra da sua pele. — seus dedos
passeiam pelo meu braço delicadamente, apenas causando arrepios, quase
sem encostar. — Depois, eu a beijaria pelas paredes do hotel, tentando
esconder das pessoas onde minha mão estaria naquele momento. — minha
garganta está seca e sem perceber umedeço os lábios, mas o homem, que

está perto demais, gosta do que vê. — Nós chegaríamos até o quarto e eu a
faria gozar várias e várias vezes durante a noite.

Deposita um beijo casto no meu pescoço e eu sei que não deveria


permitir, meu corpo inteiro grita para que eu o afaste, mas me sinto
hipnotizada. Talvez pelo cheiro incrível que emana dele, pelo desejo e ódio
misturados em seu olhar, pela frustração de ceder tão facilmente. Meus pés
pareciam presos, enquanto minha mente acompanha cada uma das suas
palavras, criando cada momento descrito com clareza.

— Eu sei qual o rosto que você imaginou no lugar dela, Bae. — seu

nariz quase toca o meu e nossos olhos travam uma guerra. — Pelo menos,
não serei o único a encerrar a noite frustrado.

Jacob dá um passo para trás e com a satisfação de ter mexido com


minha mente e com o meu corpo, me deixa sozinha.
“E eu estava pensando comigo mesmo

Aqui pode ser o céu ou pode ser o inferno

Então, ela acendeu uma vela e me mostrou o caminho”

HOTEL CALIFORNIA | Eagles

O hotel inteiro estava comentando sobre a minha namorada que é


mantida em segredo e como Blue mesmo afirmou, as pessoas duvidam
facilmente das suas palavras quando uma notícia falsa fala sobre você.
Quando Bonnie me questionou sobre o assunto ao desmarcar nosso
encontro, não acreditei que estava ouvindo aquilo, mas ao explicar que
Blue tinha comentado com Mili a minha primeira reação foi rir.

Ela quis se vingar pelo creme acabando com o meu encontro e nós
não poderíamos parecer mais infantis, só que a explicação básica para isso
é que Blue não consegue ser uma pessoa ruim, mesmo tendo todo o ódio
do mundo dentro daquele coraçãozinho, ela é honrada. Eu não teria

problema em mentir gravemente ou sabotar alguma coisa para atingir


alguém, já fiz isso incontáveis vezes com a Drops Of Jupiter.

No entanto, depois dessa viagem, não quero mais ser a pessoa que
vai magoá-la. Conviver quatro dias com Blue me fez descobrir que ela
sempre canta e dança enquanto está se arrumando, só vai para a cama
depois que falar com Olívia, sempre tem algo sobre a Drops para contar ou
para compartilhar com eles, como é organizada com todas as suas coisas.
O jeito bonitinho que ela tem de colocar a mão na cintura enquanto revira

os olhos com alguma coisa que Logan está falando do outro lado da linha.
Descobri que ela é fascinada por vinho branco e adora massas.

Ela sempre dorme com camisas grandes, nada de camisolas ou


pijamas, amarra o cabelo em um rabo de cavalo quando está muito
concentrada em uma coisa e o que mais me surpreendeu, seus dedos estão
sempre em movimento e ela não percebe. Blue parece estar pensando nas
teclas do seu piano a cada segundo do dia, a música está constantemente
com ela.

Não sei se ela consegue perceber, mas estou constantemente

prestando atenção a ela. Blue é natural, espontânea e explosiva. É


engraçada e debochada na mesma proporção.

— Nate, como foi o jogo? — pergunto.

— Ganhamos sem preocupação. — sorri vitorioso.

Peter empurra a cabeça de Nathan na tentativa de aparecer na


chamada de vídeo.

— Cadê a megera? — meu melhor amigo pergunta.

— Não sei e também não me interessa. Sumiu desde cedo, não a vi


na primeira parte do evento. — falo, fingindo desinteresse, mas a verdade
é que estou a manhã inteira me perguntando onde Blue pode ter se enfiado.

Eu queria brincar com ela, não estava esperando encontrá-la antes


de voltarmos para o quarto, mas tudo saiu do controle, porque quando

meus lábios tocaram seu pescoço eu acreditei que a beijaria ali.

Seu cheiro parece ter ficado cravado na minha mente, sua pele
macia sobre meus dedos, aquele vestido marcando todas as suas curvas e a
porra da respiração acelerada quando me fez perder o controle.

Agradeci por minha mente liberar o alerta que ela é território


proibido. Não se dorme com o inimigo.
Se eu tivesse a beijado, ela corresponderia?

— Pera, mas o que você está fazendo na minha casa? — me dou

conta quando saio dos meus devaneios.

— A moto do Ethan quebrou, vim busca-lo. — os observo confuso.

— O que Ethan está fazendo aí, Nate? — procuro entender.

Meus amigos tem total liberdade de visitar minha família, existe


espaço para isso, mas Ethan quase nunca aparece quando não estou em
casa e quando o faz algum dos meninos está com ele.

— Veio nos ver. Conversamos, assistimos filmes e quando fui


dormir ele ainda não tinha ido embora. Foi ver meu jogo com Cora e as
amigas dela, estão comendo pizza lá embaixo. — explica e observo bem os
dois rostos que dividem a tela do celular.

Estranho.

Mas todos eles são estranhos, então deixo para lá, provavelmente

ele só está preocupado com o estado emocional de Cora por eu estar


distante enquanto ela está sensível com tudo que aconteceu com Aimee.

O dia passou tranquilamente, tive uma reunião online com Dani e


os meninos já que teremos uma coletiva de imprensa e um grande show
assim que a viagem acabar e tudo precisa ficar organizado. Segui todo o
cronograma do evento e até fizemos uma competição de karaokê, o que foi
engraçado porque no final todos os votos se espalharam e ninguém
ganhou.

Só que meus pensamentos não saem de Blue. Sumiu o dia inteiro e


na hora de conhecer alguns pontos turísticos nos dividiram em duplas e
informaram que por não estar se sentindo bem ela optou por não participar
das atividades do dia. Parecia que todo mundo sabia o que tinha

acontecido, menos eu. Se ela está se sentindo mal deveria estar no quarto,
mas apenas suas coisas continuam lá.

O jantar foi dedicado a comida da cultura local e estava fantástico,


todos combinaram de conhecer o centro da cidade, mas eu só queria voltar
para o quarto e ver os perfumes caros de Blue encima da bancada, porque
meus neurônios já queimaram de tanto pensar o que pode ter acontecido e
não chegar a explicações lógicas.

De uma coisa tenho certeza, algo sério aconteceu, porque ela

jamais fugiria de mim pelo nosso encontro na noite anterior.

Abro a porta e solto o ar – que não percebi que estava preso –


quando vejo Blue sentada no chão, encostada na porta de vidro da varanda,
olhando em direção a porta. Tem uma garrafa de vinho nas mãos e outra
seca ao seu lado.

— Hey, aí está você. — sorrio e me aproximo. — Pensei que teria


que anunciar na recepção que estava perdida para que chamassem seu
nome.

— Hoje não é um bom dia, Jake. — sua voz é calma, mas ela
parece muito cansada.

Tiro o sapato e me sento de frente para ela.

— Você não está bem, Bae. — falo e ela apenas desenha círculos

no gargalo da garrafa. — Sei que não sou alguém que você gosta, mas sou
o mais próximo de um conhecido que você tem agora, pode conversar
comigo. Aquele babaca do Ben faz algo com você? Alguém fez algo ruim
para você? — tento entender.

Seu semblante cansado finalmente se direciona ao meu rosto.

— Não, todos aqui foram ótimos comigo hoje. Só precisei ficar


sozinha, então fui para a praia, fiquei por lá o máximo que consegui. —
explica.

— Fiquei o dia inteiro preocupado. — confesso e ela dá um leve


sorriso, que se eu não estivesse tão perto, talvez nem tivesse percebido.

— Collins, você esqueceu quem somos? — sua voz tem um pouco


mais de humor. — Eu, no seu lugar, teria pedido para algum tubarão ter
comido você. — rio, porque sei que ela realmente pensaria algo assim.

Blue bebe um pouco e estou surpreso por mesmo depois de ter


bebido uma garrafa sozinha, ela ainda esteja sóbria para outra. Porém, se
ela está conversando amigavelmente comigo, talvez não esteja tão bêbada

assim.

A cascata loira cai sobre seus ombros, não tem maquiagem no seu
rosto e veste um vestido simples e longo. Seus olhos denunciam toda a
tristeza que está sentindo.

— Naquele dia, no Texas, você disse que tinha quatro pessoas das
quais precisava cuidar. Quem são? — sua pergunta me pega de surpresa.

Não entendo o porquê desse assunto agora, mas talvez acessar a


minha vulnerabilidade abra espaço para que ela se sinta mais confiante em
compartilhar algo. E eu responderia de qualquer jeito, algo em mim não vê
problema em dividir coisas com ela.

— A primeira é Joana. — respiro fundo. — Ela me criou como


filho e se não tivesse a encontrado, não sei se estaria vivo hoje. — ela me

olha com atenção. — Nathan e Cora, que são as pessoas que mais protejo
nesse mundo. E, a quarta, é Anthony, filho de Jojo. Somos amigos de
infância, ele também é meu irmão. Tony dividiu o pouco que tinha comigo
a vida inteira, então hoje eu divido tudo que tenho com ele. — o quase
sorriso volta ao seu rosto.

Blue abraça os joelhos e parece assimilar o que estou lhe contando.


— E os seus pais? — questiona. Pego o vinho e bebo um pouco
mais.

— Meu pai foi a assassinado quando eu era muito jovem. E a


minha mãe... – rio sem humor, porque não acredito que essas palavras vão
sair da minha boca. — Tem problemas com drogas durante a vida inteira,
está na reabilitação. Cora a visitou enquanto eu estava no Texas, e Aimee a

machucou. É complicado, mas as coisas saíram do controle...

— Porque existem outras coisas que ela prefere mais do que a


vocês. — ela fala, antes mesmo que eu complete a frase.

Eu não preciso confirmar, ela já sabe. O reconhecimento em seu


rosto é explícito. Ao mesmo tempo em que meu coração se aperta ao
perceber isso, ele só quer que essa mulher parada a minha frente não tenha
um passado tão fodido quanto o meu.

— Minha mãe nos deixou quando eu tinha quatro anos. — fala. —

Mas ela não tinha um agravante, como o vício da sua mãe, ela só
simplesmente não nos quis mais. Então, eu cresci e lembrava demais ela
para o meu pai me amar o tempo inteiro. Eu sou tão promíscua e volátil
quanto ela, como também sou uma puta que mostra o corpo seminu em
revistas que os amigos dele vão ver e quanto mais dinheiro eu tenho, mais
ele se sente abandonado novamente e tudo se torna culpa minha. — dá de
ombros, mas consigo ver as lágrimas se formando.
Eu me sinto tonto com suas palavras. Porque por mais que eu
venha de um histórico familiar fracassado, não acredito que um pai destrua

psicologicamente um filho por conta das suas próprias frustrações. É a


coisa mais inacreditável que já ouvi e jamais imaginei que Blue vivesse
com isso.

Não quando ela é sempre tão decidida e demonstra tanta confiança.

— Não sei o que dizer. — sou sincero. — Estou com vontade


demais de socar a cara do seu pai para conseguir pensar algo
coerentemente. Foi isso que aconteceu hoje?

— Ele soube algo sobre uma possível visita da minha mãe,


provavelmente Parker deve ter comentado, e mesmo que ele saiba que ela
promete isso há mais de dez anos e nunca cumpre, ele precisava reafirmar
como ela nos abandonou e é um lixo de pessoa, que eu não me torne como
ela. — o sorriso de descrença toma seu rosto.

— É absurdo, Blue. Você não precisa mais ouvir esse tipo de coisa,
não é mais uma garotinha e não depende dele para nada. Não deixe que ele
consiga te machucar assim, com questões unicamente dele e que precisam
ser tratadas com um profissional. É inadmissível que ele te culpe por algo
assim.

— Jake, você nunca abriu mão de Aimee, nem mesmo depois do


que aconteceu com a Cora. Sabe como é não conseguir fazer o mesmo e
simplesmente esquecer. Eu tenho tentado há muitos anos e por mais que

hoje consiga o enfrentar, me defender, nunca vai parar de doer.

Eu queria conseguir dizer para ela que passaria, que aquela dor não
é permanente, mas estamos no mesmo barco. Sei, que para Blue falar sobre
isso ela já deve estar mais calejada do que consegue perceber, mas nunca

conseguirei mensurar sua dor. Também não a escolheram e ainda a culpam


por isso.

— Onde Olívia está nesse meio todo? — ela bebe e passa a garrafa
para mim, faço o mesmo.

— É minha avó materna e ela é a pessoa da qual preciso cuidar. Oli


lutou meus sonhos por mim quando eu não acreditava que eles seriam
possíveis, enfrentou meu pai todas as vezes, me ensinou a tocar. — o amor
é presente em sua fala.

— Não sei se ainda consigo odiar você depois de hoje. — falo e ela
concorda com a cabeça.

— Você já não me odeia há algum tempo, Jake. Pode confessar. —


sorri. — Somos iguais, eu sei como você pensa. E se não tivesse magoado
tanto as pessoas que amo, talvez eu também conseguisse gostar um pouco
mais de você.
— Vou confessar um segredo. — digo. — Pessoas bonitas às vezes
fazem coisas erradas. — ela gargalha.

— Como você é idiota. — sua expressão fica séria. — Porque você


sempre tenta nos atingir, Jake? — sei que ela quer toda a verdade e,
sinceramente, eu responderia tudo que ela quisesse saber.

Observo a bela mulher na minha frente me desvendar tão

facilmente. Nós sempre nos conectamos quando as armaduras estão baixas.


Mas, por mais que eu só queira colocar tudo para fora, ela inda é alguém
que não confio, não totalmente.

— Eu sei o que é não ter nada, Blue. E se qualquer coisa ou pessoa


que ameaçar o que conquistei cruzar meu caminho, eu não pensarei duas
vezes antes de derrubá-lo. Posso estar sendo um egoísta do caralho, mas
preciso pensar em mim e nos meus, nos meus parceiros de banda e suas
famílias. Não volto para o ponto de onde saí. — ela apenas concorda com a

cabeça.

— Me conta mais sobre a Joana. — pede e não consigo evitar o


sorriso genuíno que surge em meu rosto.

A próxima hora passa rapidamente. Entre as histórias sobre Jojo e


coisas legais que já vivemos pelo mundo e conhecendo mais sobre Olívia.
Naquele quarto de hotel chique e com um banheiro esquisito, eu conheci a
dor que é base para a força de uma mulher.

E mesmo sem admitir em voz alta, Blue Edwards é valente e isso

faz meu coração se aquecer.

Definitivamente, isso é muito perigoso.


“Eu digo a mim mesma que você não significa nada

Que o que nós temos, não tem nenhum poder sobre mim

Mas quando você não está lá, eu simplesmente desmorono

Digo a mim mesma que eu não me importo muito

Mas eu sinto que estou morrendo até eu sentir o seu toque”

ONLY LOVE CAN HURT LIKE THIS | Paloa Faith

Sinto um toque leve se espalhar pela minha bochecha e abro os


olhos, dando de cara com o sorriso preguiçoso de Jake. Ele tira as mechas
rebeldes do meu cabelo da frente do meu rosto e seus dedos alcançam meu

rosto novamente.

— Eu vou contar até três para você parar de me tocar ou vou te


asfixiar com o travesseiro. — ele ri. — Porque está na minha cama?

— Você sabia que fala dormindo? — me ignora e afasto sua mão.

— Mason sempre comenta sobre isso, mas diz que são em dias que

estou cansada. — Jake revira os olhos com a menção ao meu amigo.

— É bonitinho, nem parece a mesma pessoa que é uma cadela


raivosa. — puxo o travesseiro da minha cabeça e tento cobrir seu rosto.

Ele gargalha enquanto tenta se livrar dos meus braços, mas


acabamos nos tornando um embolado de pernas, lençóis e travesseiros.
Quando consigo espaço para bater nele, percebo que ele só existe porque
as mãos de Jacob estão na minha cintura e eu estou sentada sobre seu
abdômen.

O sorriso vai sumindo gradativamente dos nossos rostos e ele vira


meu corpo com facilidade, agora ele está entre as minhas pernas e com o
rosto acima do meu, mas não demora quase nada para se afastar. Jake sai
da cama e coça a garganta.

Jacob Collins está desconcertado?

— Pensei em faltarmos o evento hoje. — fala, virando-se para


mim. — É o último dia, só teremos a parte da manhã como encerramento.
Meu voo sai as cinco da tarde, então queria te levar a um lugar.

Sento na cama e amarro o cabelo. Observo o homem quase


apreensivo parado na minha frente. Eu não deveria cogitar a ideia de ir
para qualquer lugar com Jake, mas depois da nossa conversa, começo a
acreditar que Ella pode ter razão, ele não é tão babaca. Não compreendo o

porquê de muitas das suas ações, talvez insegurança e rancor, mas depois
que vi todo o amor em sua voz ao falar sobre Joana, o quanto ela gosta de
cozinhar e cuidar das crianças na escolinha que trabalha, a forma como ele
tem orgulho da garra que ela lhe ensinou a ter. Descobri que Jacob Collins
é movido pelo amor que sente pela mulher que lhe ensinou
verdadeiramente sobre paixão e esperança.

Me pergunto como ela se sente quando ele sai da linha, porque


depois de passar horas rindo das suas histórias, sei que Joana não aceitaria

facilmente as mentiras, armações e brigas do filho.

— Meu voo sai as duas. Para onde vamos? — aviso e ele


concorda, quase vitorioso.

— Vista um biquíni, iremos pegar um bronzeado. — pisca para


mim e vai para o closet.

Nos arrumamos rapidamente e descemos para tomar café. Não


sentamos juntos, antes mesmo de atravessarmos a porta um grupo pequeno
o chamou e ele se juntou a ele. Aproveito para sentar do lado de fora, que

estava quase vazio e fazer uma chamada de vídeo com Hellen enquanto
como. Confirmo o horário que vou chegar em Los Angeles ao meu
motorista.

“Te esperando na entrada lateral do hotel.”

Leio a mensagem de Jake e sigo até onde indicou. Um carro preto


está estacionado e quando me aproximo a janela começa a baixar,
revelando seu motorista.

Não sei o porquê de óculos escuros terem o poder de deixar pessoas


bonitas ainda mais sedutoras. Um homem desses deveria ser proibido de
andar assim na rua.

— Onde conseguiu um carro? — pergunto ao ocupar o banco do


passageiro.

— Bae, não existe nada que eu não consiga. — ele dá partida e sai.

Ficamos boa parte do caminho em silêncio. Me pergunto o que se


passa na cabeça de Jacob. Se isso tudo não é mais um das suas armações
ou se não usará tudo isso para me prejudicar depois. Não são muitas as
vezes que me permito fazer o contrário do que minha intuição diz e nesse

momento ela está gritando.

Estou deixando meu inimigo, que não tem um pingo de escrúpulos,


me levar para um lugar que não conheço.

O que está acontecendo comigo?

— Para onde estamos indo? – quebro o silêncio.

— Ontem, quando você estragou meu jantar, bebi com alguns


músicos e um deles é natural daqui. Ele disse que existe um lugar
fantástico próximo a praia, que é bem tranquilo e reservado. Hoje pedi a
localização e ele me ensinou como chegar.

— O que fez você me convidar? — finalmente tento buscar a


verdade.

Ele tira os olhos da estrada e encontra os meus por um breve


instante.

— Quando sairmos daqui, não sei o que vai acontecer. Talvez você
volte a me odiar e tudo seja como sempre foi. Mas aqui, longe de tudo e de
todos, das brigas, dos medos, das mentiras, eu não tenho explicação
diferente de que quero estar com você. Não me pergunte o porquê, também
é confuso para mim. — parece despreocupado ou sabe fingir bem.

Apenas concordo com a cabeça, porque não tenho nada a falar ou


não quero falar. A única coisa que espero é não me decepcionar mais uma
vez com esse homem, porque agora seria muito pior já que o deixei saber

quem eu sou.

Ele entra em uma estrada de terra e segue por entre as árvores, não
demora muito a estacionar e descer. Logo o acompanho e com alguns
passos chegamos à parte rochosa. Tem um caminho de areia na lateral que

leva até a praia, mas Jake segura minha mão e me ajuda a caminhar pelas
pedras, que se estendem através da areia e invadem a água.

No final dela, uma grande porção de água cristalina está


concentrada entre as pedras. A maré baixou e as rochas se revelaram,
formando um espaço lindo. O mar logo a nossa frente e só um espaço
minúsculo daquela imensidão está ali para nós.

— Esse lugar é incrível. — falo.

Tiro a blusa e guardo na bolsa, assim como os pertences de Jake. A

maré está tranquila, então provavelmente não vai subir e molhar tudo.

— É a água mais cristalina que já vi. — comenta encantado. —


Isso não deve ser tão raso para conseguirmos enxergar o fundo assim tão
nitidamente.

Vestindo apenas um short fino, com as mãos apoiadas na cintura,


sentindo o vento nos abraçar, ele olha para mim e um sorriso diabólico
surge em seu rosto. Seu braço passa pela minha cintura e só consigo xingá-

lo antes de cair na água.

A temperatura está fantástica e é impossível não sorrir com aquilo


tudo. Diferente do que pensamos, o lugar não é fundo, Jake fica com a
água em seus ombros, mas eu me equilibro na ponta dos pés.

— Eu poderia ter me afogado. — o repreendo falsamente.

— Eu te salvaria com uma respiração boca a boca. — gargalho.

— Logan tem razão, você é louco para me levar para cama. —


provoco.

— Nunca neguei. — passa a mão pelo cabelo molhado, o


colocando para trás.

Ignoro sua fala e mergulho. Fingir que meu corpo não tem reagido
a cada brincadeira provocativa é mais fácil do que aceitar isso. Enquanto
me fizer de desentendida, mas fácil será resistir.

Passamos os próximos minutos conversando e aproveitando a água,


como se fôssemos velhos conhecidos e não inimigos. Em nenhum
momento falamos sobre nossas bandas, porque esse é ponto que nos leva a
lados opostos novamente.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele pede e chega a ser fofo.


Concordo com a cabeça. — No dia que te encontrei apagada na boate,
você costuma fazer aquilo? – respiro fundo

— Aquilo não costuma acontecer, normalmente sou muito

responsável. Não confio facilmente nas pessoas e nem me permito estar


vulnerável. Fui ensinada a seguir as regras e temer o que acontece quando
elas são rompidas a minha vida inteira. Então sou muito cuidadosa,
principalmente comigo mesma. Mas, às vezes, eu só preciso não ser a

pessoa que tem receio do mundo. — dou de ombros. — Aquilo foi o


completo oposto do que costumo ser, mas ainda bem que você estava lá.
— confesso.

— Blue, eu vi meu pai decair mais ainda por suas companhias. Eles
os conduziram para o pior dele diversas vezes. Então, se é que posso te
pedir algo, se permita estar vulnerável com as pessoas que pode confiar.
Tenho certeza que Ella não se importaria em fazer aquelas coisas com
você, até mesmo o chato do Mason, e não vou comentar nada sobre o

cabeludo, ele bebe como um fusca velho. — rio, porque Logan é ótimo
com álcool.

— Eles são meu ponto de equilíbrio. Naquela noite Mason me


pediu para não ir e eu me senti um lixo pela forma como tudo aconteceu.
Eu sou a pessoa que cuida, não a que faz as merdas para que eles
consertem.

— Eu posso cuidar de você quando quiser ligar o foda-se para


mundo. Crio uma garota de dezenove anos, sei lidar com seu

temperamento bêbada. — lhe mostro o dedo do meio e ele gargalha. —

Luke é como você, ele é o nosso protetor e amuleto da sorte. Toma todas
as nossas dores e teve uma época que não nos permitia ser isso para ele
também, queria sempre se mostrar forte. Blue, se tem uma coisa que tenho
certeza nessa vida é que aquelas três pessoas explodiriam o mundo para

que você estivesse bem, então não se sinta mal em os deixar preocupados
ou fazer loucuras, você também precisa de cuidado.

Jake não sabe, mas aquelas pessoas seguram o meu mundo. Logan,
Ella e Mason me conhecem mais do que qualquer pessoa. Mason enxerga
minha vulnerabilidade e por isso é sempre tão cuidadoso, porque viveu
momentos tensos comigo na adolescência. Ella é quem me faz reerguer e
Logan é sempre o primeiro a me fazer sorrir verdadeiramente. E eu odeio
desapontá-los.

Suas mãos estão nos meus braços, em um gesto de carinho.

— Nunca te falaram que homens bonitos não devem ser profundos?


— brinco tentando desfazer a tensão do assunto.

— O inferno está congelando nesse segundo, Blue Edwards


assumindo que me acha um gostoso com sentimentos. — sorri e reviro os
olhos por mudar todas as minhas palavras.
— Você é patético. — rio. — Acho que deveria devolver meu anel.
— toco o colar em seu peito.

Sentir sua pele sobre a minha desperta todas as minhas terminações


nervosas. Por que essa eletricidade sempre tem que acontecer?

— É meu novo amuleto da sorte. — seus olhos são intensos em


mim.

Eu não deveria achar isso bonitinho.

— Posso te perguntar uma coisa? — peço e ele apenas concorda.


— Breathe é sobre mim?

— Se eu falar que sim você vai se sentir muito importante? —


brinca e sorrio. — É sobre a primeira vez que não te vi como minha
inimiga e tudo que enxerguei por trás disso.

Nós estamos perto demais. Muita pele, muitos toques, poucas


roupas. Minha mão está contra seu abdômen, sua palma escorre pelas

minhas costas até a base da minha cintura. Posso ver suas íris desenhada, o
castanho claro dos seus olhos é a porta para um labirinto onde sei que irei
me perder.

Sua testa encosta na minha e nossas respirações duelam. Jacob


passa seu nariz no meu lentamente, como um beijo de esquimó.

Não existe tesão entre eles. Não consigo nem imaginar esse cara
perto de você. Tenho cada dia mais nojo dele. – as palavras de Mason
tomam conta da minha mente e abaixo a cabeça antes que Jake alcance

meus lábios.

— Acho que devemos voltar para o hotel. — falo ainda sem olhá-
lo.

— Hora de voltar a realidade. — respira fundo.

Me ajuda a subir as pedras e seguimos até o carro em silêncio.

O que eu estou fazendo?

Olho o corpo grande ao meu lado, toda a brutalidade e força que ele
representa só revestem um homem que no fundo caminha assustado. Jake
vive em constante medo de algo dar errado na sua vida, porque isso foi o
que sempre aconteceu. Ele é corajoso, mesmo buscando os meios errados
para conseguir isso.

Nos dias de evento vi o quanto os outros artistas o adoravam e o

conheciam, brincavam, sorriam, queriam estar com ele, por na realidade


ele é alguém que faz com que você queira permanecer ali, ouvindo tudo
que ele tem a contar. Ele é contagiante. O seu problema parece se resumir
a Drops, mais precisamente a Mason. Ainda não entendi o porquê do ódio
direcionado, mas chegamos a um estágio onde isso é mútuo e eu não posso
ficar no meio disso, porque já tenho meu lado, eu sempre escolheria
Mason.

Me preparei para voltar para casa e Jake me abraçou antes que eu

fosse embora. Eu lembrava de quando estive em seus braços no camarim,


mas agora nós éramos pessoas diferentes daquele dia e eu não podia me
sentir confortável ali.

Coloquei meus fones de ouvido e tomei dois remédios de enjoo

para me ajudar a dormir. As próximas horas foram exaustivas, mas talvez


porque minha mente estava a mil. A única coisa que tenho certeza é que
Jacob tinha razão quando disse que agora tudo voltaria ao normal. Em L.A.
nada irá mudar e nós continuaremos as mesmas pessoas que nunca se
gostaram.

Tudo que aconteceu na viagem continuará na Turquia, em casa


nossa realidade é outra e nós voltamos aos lados opostos da moeda.

Do aeroporto fui direto para casa. Eu preciso de um banho, pizza e

ouvir Sunny me contar sobre dia.

Giro a chave na maçaneta e tenho um susto quando vejo Mason


caminhando de um lado para o outro na minha sala, Logan branco como
um papel, Ella com um sorriso debochado no rosto tomando uma cerveja e
Demi digitando algo no celular.

— Nossa, isso tudo é saudade. — sorrio ao me sentir em casa e me


aproximo deles.

— O que significa isso, Bee? — a voz de Mason pesa uma

tonelada.

Ele estende o celular na minha frente e uma foto escura e com


qualidade ruim mostra Jacob e eu na parte externa do hotel no dia que
estraguei seu encontro. Ele quase me cobre completamente, mas é possível

nos reconhecer, nós estamos próximos o suficiente para entender que


estávamos nos beijando segundos antes do registro.

Merda.
“Te ver cara a cara

Me faz pensar nos dias que estávamos juntos

Mas eu não posso fazer cena

Mas eu não posso mostrar

Como eu quero você”

LIKE I WANT YOU | Giveon

“Vogue informa: Mili Willians afirma que Jacob Collins está noivo!”
“Segundo deuxmoi, Ben Colton, ex de Blue Edwards, confirma que ela e
Jacob Collins estão juntos.”

“ALERTA TMZ: Blue Edwards e Jacob Collins podem estar noivos! O


ódio declarado era apenas uma mentira? (Fotos exclusivas).”

Todas as manchetes gritam nossos nomes. As fotos circulavam em


todas as plataformas de mídia. Alguém que estava hospedado no hotel

deve ter nos visto de algum quarto e tirou as fotos. Não tinha paparazzi no
local, então alguém vendeu as fotos. Três ao total circulavam, uma de Blue
ainda caminhando até onde eu estava, a segunda eu estava parado a sua
frente e a última, onde parecia que estávamos próximos demais.

Dani me ligou assim que pousei e contou sobre o vazamento das


imagens. As manchetes contaram o que quiseram nesses três dias, mas
nenhuma foto nova surgiu e eu agradeci. Blue se pronunciou e negou tudo,
disse que subiu para me chamar porque precisávamos estar juntos no

evento e o ângulo da foto não favoreceu a situação, que nada além disso
jamais aconteceria.

Não sei porque no fundo suas palavras me incomodaram, talvez


porque eu saiba que muita coisa poderia ter acontecido e nós queríamos
isso. Assim como ela, neguei tudo, mas ainda somos o top 1 de assuntos
dos twitter porque nossos fãs estão em guerra.
Damon me buscou para que chegássemos cedo na coletiva de
imprensa. Na temporada de festivais elas são muito comuns porque os

shows tem proporções imensas e diversas novidades. Vários artistas da


gravadora estão aqui, inclusive a minha suposta noiva e seu bando.

Peguei Sky nos braços e Dana desceu logo atrás.

— O que aconteceu, parceira? — pergunto enquanto esperamos o

elevador chegar e Damon estacionar. Ela olha para Sky que agora corre
entre nossas pernas.

— Acho que estou me dando conta que o amor não dura para
sempre, Jake, e isso dói. — seu sorriso é triste.

— Eu não sei o que dizer, Dan. Nunca encontrei a minha Dana. —


sorrimos. — Não sei o que é ter um casamento e filhos. As coisas não
estão fáceis para vocês há algum tempo, vejo como Damon fica, e como
você tem estado chateada. Mas você é a garota mais determinada que já

conheci, sei que vai tomar a decisão certa. — a abraço e beijo seus cabelos.
— Só não quero mais vê-la tão triste ou terei que socar meu companheiro
de palco. — rimos.

Sky corre para os braços do pai que a pega com toda facilidade e
beija seu rosto. Damon é completamente rendido por suas garotas, mas no
meio do caminho alguma coisa aconteceu e é perceptível que ele está
perdendo o rumo, porque Dana é seu eixo.

— Não abrace muito minha mulher, Collins, vão dizer que você

está traindo sua noiva. — debocha. — Inclusive, o coração está acelerado


por vê-la? — coloca a mão livre sobre meu peito.

Não o xingo porque Sky está conosco, mas ele gargalha porque
sabe o que pensei.

O elevador para no andar aberto, mais parecido com um galpão


com janelas de vidro e logo avisto Blue. Ela está conversando
animadamente com Demi e Michael. Eu quase sorrio só por vê-la
novamente. Na primeira noite depois da viagem posso jurar que senti falta
de acordar e olhar para ela tão serena.

Os fotógrafos se aproximam de nós e o movimento atrai sua


atenção. Nossos olhos se encontram brevemente, mas o suficiente para eu
ver aquela faísca neles.

Ela também está feliz em me ver?

Umas vinte câmeras estão apontadas para mim, então finjo que ela
não está ali e sigo meu caminho até a sala privativa.

Várias vozes conversando ao mesmo tempo tomam conta da sala,


grupos de artistas e suas equipes espalhados pelo local. Vejo um sofá
ocupado pelos meus amigos, mas antes deles o cabelo rosa de Ella chama
minha atenção.

— Você está bronzeado, bonitão. — sorrimos. — Talvez sua noiva

deva ter esquecido de te emprestar o protetor solar. — debocha.

— Até você, diabinha? — pergunto com diversão.

— Sei que estão negando, mas você é muito burro se não tiver a
beijado naquela hora. Blue estava linda demais para resistir. — reviro os

olhos.

— Quando aquela megera não está linda? — questiono e ela


gargalha. Posso jurar que Mason quase rosnou sentado de costas para mim.
— Mas era impossível algo acontecer. Nós somos incompatíveis.

— Sunny acha vocês um belo casal. — rio com a lembrança da


garotinha.

— Estou com saudades dela, precisamos marcar algo.

Luke me chama, então me despeço de Ella e faço um joinha e

sorrio para Logan, que me olha emburrado. Foi o tempo certo de sentar
entre Peter e Ethan, Blue entra com Demetria e senta no braço da poltrona
que Mason está sentado, abraça seu pescoço e eles riem de algo.

De onde estou consigo vê-los bem e quase sinto inveja da conexão


que tem, porque é palpável. Eles se olham com reconhecimento, as
expressões que fazem um para o outro, as piadas internas, a intimidade é
visível. Na viagem ela sempre tinha algo sobre ele para comentar e nem
percebia, Blue o ama incondicionalmente. De repente, ela segura a mão de

Demi e a puxa para o colo de Mason.

E, nesse momento, o meu argumento que eles já tiveram algo vai


ao chão pela forma como Blue os observa com admiração, talvez até
adoração. Aqueles dois oceanos azuis não se direcionam para aquele

homem como focaram em mim quando quase nos beijamos.

Blue vai dividir o sofá com Logan, que enlaça sua mão e beija seus
dedos diversas vezes.

— Ah meu Deus, eu preciso ser tia logo. — sua voz está


empolgada e eu tento não manter meus olhos nela, mas é impossível.

Blue é genuína quando está feliz. Seu sorriso é a porra da coisa


mais doce e sensual que alguém pode ver. Depois de conhecer um pouco
do seu lado obscuro, vê-la tão alegre aquece meu coração.

— Por favor, vocês estão demorando muito para ter bebês. Logan
só engravida alguém se derem um golpe ou por um erro do destino, então
não podemos contar com ele. Ella também está tentando, porque o Mike é
um fogo só, a gente sabe. — brinca e eles riem quando Ella a manda calar
a boca. — Será se vocês conseguem engravidar ao mesmo tempo?

Não canso de observá-la. É como se a cada movimento eu fosse


descobrir algo novo sobre ela.

— Acho que poderíamos conversar sobre o seu australiano. —

Mason diz. — Ainda vão se encontrar?

Que porra...

— Tomamos café da manhã juntos, o levei para uma cafeteria na


praia. Mas hoje eles tem show, então amanhã temos um jantar. — fala

empolgada.

— Alguém não volta para casa antes do sol raiar no domingo. —


Logan provoca e Blue bate em seu braço, mas todos riem.

Um filho da puta australiano.

Sky me chama e entramos em um conversa animada entre tio e


criança. Só não demora muito, porque logo nos chamam e nos despedimos
dela e de Dana para seguirmos para a sala de entrevista.

Os nomes escritos em plaquinhas indicam os locais, sentamos em

uma ponta da mesa e a Drops Of Jupiter na outra, a gravadora pode ter


ficado com medo de algo dar muito errado e usou os outros artistas como
barreira de proteção. Várias fileiras de jornalistas e fotógrafos sedentos por
notícias inéditas estão localizadas a nossa frente. O responsável pela
gravadora explica para todos como vão funcionar as rodadas de perguntas
para cada pessoa e inicia a coletiva.
A temporada de festivais foi o assunto mais comentado porque
todos nós estamos em um ritmo insano de trabalho, enquanto estive no

evento os meninos não pararam de trabalhar nas músicas, nas campanhas,


nas divulgações, entrevistas e toda a parte das burocracias.

— Para finalizar minhas perguntas, gostaria de fazer uma pergunta


que todos querem saber, espero não estar sendo invasiva. O que realmente

aconteceu entre Jacob Collins e você Blue? — o salão inteiro fica em


silêncio.

— Está sendo invasiva sim. Isso já foi esclarecido. — Luke fala


chateado.

— Luke tem razão. — Blue fala. — Mas apenas para confirmar


mais uma vez, aquela foto foi tirada propositalmente para criar notícias
mentirosas. Está longe, escuro e em um péssimo ângulo. Nada aconteceu
entre nós. Jacob e eu estávamos cumprindo nossos compromissos.

Ouviram pessoas sem informações verídicas e inventaram um


relacionamento onde não existia. Minha relação com Jacob Collins é
estritamente profissional.

Por que ouvir isso me incomoda?

Talvez porque eu saiba o quão mentirosa é essa fala. Porque


deixamos de ser profissionais sobre isso há muito tempo. Por ela estar
mexendo com a minha cabeça como o inferno e, principalmente, por eu
saber que é reciproco.

Sorrio, porque é engraçado lembrar que tudo isso aconteceu porque


Blue estragou meu jantar.

— Não tenho muito o que acrescentar, já me posicionei em relação


a isso. Mesmo sabendo que Blue tem uma quedinha por mim, infelizmente

nada aconteceu. — a cabeça de Peter vira como um robô em minha


direção, ele está pronto para me matar ao mesmo tempo em que quer rir.
Um burburinho se forma. — Calma, pessoal. É só uma brincadeira. Está
vendo como vocês levam tudo a sério demais? Blue Edwards e eu apenas
trabalhamos juntos e para falar a verdade nem nos gostamos muito, não é
Bee? — tento enxergá-la de longe, mas o rosto de Mason está me
fuzilando. Eu apenas sorrio.

— Claramente, podemos ver que não existiria qualquer relação

entre nós. — Blue encerra o assunto. — Essa foi a última vez que falei
sobre isso.

As entrevistas seguiram para o final e assim que a última pergunta


foi feita levantamos e saímos dali. Sky estava dormindo e Dana nos conta
o quanto Demetria é legal. Assistiram a entrevista pela televisão que tinha
na sala que estavam, comentaram sobre a rotina de shows e ela pareceu
empolgada por fazer uma nova amiga.
Me sirvo de gin depois de algumas horas que cheguei em casa, mas
as imagens de Blue não param de surgir na minha mente. Seu jeito feliz

com os amigos, o poder contido na forma como ela é gentil e direta ao


mesmo tempo. Eu sei que não estamos mentindo, naquele dia nada
aconteceu, mas nós sabemos que queríamos.

Minha mente está um caos, com Blue em toda parte. Seu rosto

vermelho de raiva, seu cabelo bagunçado ao acordar, a forma como suas


sobrancelhas enrugam quando está concentrada, o cheiro que é só dela.

Não vou conseguir apagar a viagem da minha cabeça, não é


possível que ela consiga facilmente.

Eu preciso saber se agora realmente voltaremos a estaca zero.


Preciso vê-la.

Visto o primeiro moletom que encontro e pego a chave do carro.


Vou direto para o estacionamento privado e peço para o segurança

informar que estou aqui, ele interfona e libera minha passagem, me


informa o código para liberar o elevador até o apartamento e o número da
vaga na garagem.

Se ela me deixou subir é porque está sozinha.

Os andares parecem nunca passar, mas assim que piso no hall de


entrada a porta é aberta e uma Blue confusa me observa.
Ela está vestindo a camisa que tirou da minha bolsa no primeiro dia
de viagem.

Esse é o meu fim!

Parece se dar conta da coincidência quando vê meus olhos


descendo pelo seu corpo e olha para a própria roupa.

— Foda-se! — amaldiçoo o universo.

Dou um passo e minha mão alcança sua nuca

Uma respiração. Um olhar. E meus lábios estão nos seus.


“Me deixou sem ar

Ela me disse para vir, mas eu já estava lá

Porque as paredes começaram a balançar

A terra estava tremendo

Minha cabeça estava doendo

E nós estávamos fazendo amor.”

YOU SHOOK ME ALL NIGHT LONG | AC/DC

O. MAIOR. CARALHO. DE. ERRO.


No momento que seus lábios tocam os meus, tudo mudou.

Não consigo pensar em nada além do quanto desejei isso nos

últimos dias. Sua boca é exigente, mas seus movimentos são calmos,
apenas me provando. Caminhamos para dentro da casa e Jake bate à porta
sem nos afastar.

A mão forte desce para minha cintura e cola nossos corpos. Me

segura pela nuca e o seguro pela camisa. Consigo sentir seus músculos
fortes sobre a minha pele macia e não consigo pensar em mais nada que
não seja ele dentro de mim.

— Então eu que tenho uma quedinha por você? — sorrio contra


seus lábios.

— O que estou sentindo agora não pode ser considerado uma


quedinha, Bae. — seus olhos escuros brilham.

Dessa vez, o beijo não é calmo. Jake devora minha boca, suas mãos

me erguem e circulo minhas pernas ao seu redor. A barba arranha meu


pescoço enquanto ele deixa uma trilha de beijos por ali.

Ele me senta na mesa e suas mãos passeiam pelas minhas pernas.


Jacob me olha com adoração. Sem tirar a camisa de mim, ele toca minha
barriga e sobe até meus seios. É impossível não arfar quando seus dedos
envolvem meus mamilos.
— Quero que me diga qual a sensação de gozar chamando o nome
do seu maior inimigo. — ele sussurra contra minha boca.

— Você vai saber quando chamar pelo meu, Collins. — ele ri, com
os lábios encostados nos meus.

Ele envolve meu seio com mais força e sinto a sensação se espalhar
por todo o meu corpo.

— A questão, Bae, é que eu estou louco para gritar seu nome. —


confessa, com os olhos castanhos vidrados em mim. — Você é a única que
ainda tenta fingir que não me quer dentro de você.

Sinto falta do seu toque assim que ele solta meu corpo. Apenas um
dedo de Jake desce pela minha barriga até alcançar a barra da calcinha. É
ali onde o quero, mas é claro que ele vai me torturar.

O desejo é visível em cada uma das suas expressões, na sua


respiração pesada, no sorriso safado, em como sua boca passeia sobre

minha pele.

Abro mais minhas pernas, para que ele tenha maior acesso e essa
era a permissão que precisava. Jacob começa a me provocar por cima do
tecido, estou completamente pronta e ele sabe disso. Quando ele afasta o
tecido e finalmente sinto seus dedos em contato direto com a minha pele,
puxo sua boca para a minha.
Sua língua encontra a minha, nós somos puro desejo. Seguro forte
seus cabelos entre os dedos e ele aumenta os movimentos, rebolo contra

sua mão e ele prende meu lábio inferior entre os dentes. Ele introduz um
dedo em mim e não me contenho em gemer entre o beijo.

— Cama. Agora. — me ergue em seus braços novamente.

Brinca com a minha orelha e meu corpo inteiro se arrepia.

— Última porta do corredor. — respondo dando uma leve mordida


no seu pescoço.

Recebo uma tapa forte na bunda e pulo de surpresa em seu colo,


rimos e não resisto aos seus lábios inchados.

Me coloca no chão e segura meu quadril, deslizando calmamente as


mãos pelo meu corpo para erguer a blusa e me livra da peça. Desço minhas
mãos pelo seu peito, sentindo cada gominho escondido debaixo da camisa.
Sem cerimônia alguma abro o botão da sua calça.

— Direitos iguais, Bae. — seus olhos escurecem e ele xinga. É a


primeira vez que retribuo o apelido que me deu e isso demonstra todo o
meu interesse em estar aqui agora. — Se eu tiro, você também vai tirar,
essas são as regras. — seus dedos envolvem meu cabelo em um aperto
forte e sua respiração se torna pesada, quando faço o mesmo que ele.

— Estou ansioso para ver você me foder na mesma proporção em


que eu quero foder você.

Sua boca colide forte com a minha e percebo que adoro o roçar da

sua barba em minha pele. Envolvo seu pescoço com os braços, colando
nossos corpos o máximo possível. Seu aperto se torna mais forte quando a
intensidade do beijo parece ser o que precisamos para salvar uma vida,
porque talvez só um de nós saia inteiro dessa noite.

Meus seios são grandes, mas ele consegue segurá-los muito bem.
Suas mãos estão um pouco geladas e penso se ele está nervoso com tudo
isso, mas não consigo me prender a nada porque ele suga meus mamilos
novamente e reviro os olhos de prazer.

Naquele momento, eu soube que estava assinando meu pacto com o


diabo, porque eu nunca me arrependeria de pecar com Jacob Collins.

— Faça valer a pena cada segundo que ficarmos aqui. — falo,


trazendo seus lábios para os meus mais uma vez.

Jake me tira do chão e envolvo minhas pernas ao seu redor. O beijo


não é quebrado em nenhum momento, porque é perceptível que não
queremos nos desgrudar um segundo. É errado a boca dele encaixar tão
bem na minha e odeio o fato do meu corpo derreter a cada lugar novo que
ele toca.

Jacob sempre foi território proibido e por mais que sempre fui a
garota que quebra as regras, com ele era evidente que nunca ia acontecer.

Agora percebo que porque no fundo eu tivesse medo exatamente disso,

dele fazer com que eu me sentisse em queda livre.

Ele me deita com cuidado e não perco tempo, puxo sua camisa com
força e nos livramos dela, beijo seu peito desenhado. Minhas unhas
arranham desde o pescoço até a calça, enquanto minha língua passeia pela

sua pele. Com as pernas ainda bem travadas ao seu redor, trago seu quadril
para o contato direto com o meu, mesmo de calça, posso sentir ele duro
contra mim.

Jake se afasta para se livrar da calça e aproveito para admirar cada


célula do corpo que irei provar. Seu peito largo e tatuado, as pernas fortes e
a ereção que vejo marcando na cueca me fazem salivar.

Ele segura minhas mãos antes que consiga chegar até o tecido
rendado que uso.

— Você é ainda mais incrível do que pensei. – fala, devorando meu


corpo com os olhos.

Não me sinto mal diante seu olhar, pelo contrário, minha real
vontade é exibir tudo que quero para que ele me deseje ainda mais, porque
é isso que ele desperta em mim, torpor. Jacob faz com que eu me sinta
bonita e sedutora.
É assustador confessar, mas sinto-me segura em seus braços.

Ele tira minha calcinha sem pressa, se deleitando com a visão do

pequeno tecido escorregando sobre minhas pernas e com meu corpo


completamente exposto para ele. Jake passeia sua mão entre meus seios e
desce por todo o abdômen e para além dele, rosando levemente os dedos
onde mais preciso dele, aperto minhas pernas pelo anseio do toque não

recebido.

— Não tenha presa, Bae. Depois que eu estiver dentro de você, não
sentirá mais falta do meu toque. — deposita um beijo logo abaixo do meu
umbigo e minha respiração acelera.

Jacob se livra da cueca e meus músculos se apertam, preciso dele


dentro de mim, agora.

De joelhos sobre a cama, estico meu corpo para alcançar a mesa de


cabeceira e pegar a camisinha, mas só quando sinto a mão de Jake na

minha bunda percebo que lhe dei uma bela visão da minha nudez. Seu
corpo grande acompanha o meu, seu peito encostado nas minhas costas e
sua excitação exatamente onde a quero.

— Você está completamente molhada e pronta para mim, Bae. —


fecho os olhos em êxtase quando sua voz ainda mais rouca sussurra seu
desejo em meu ouvido.
Ele se afasta, mas logo sinto um de seus dedos entrarem lentamente
em mim, é impossível conter o gemido. Outro o acompanha e minha testa

cai contra a cama, erguendo meu corpo ainda mais em sua direção.

Estou completamente em chamas. Cada lugar onde suas mãos


tocam sinto ferver. Somos pura explosão, faísca pronta para iniciar um
incêndio. Todos os meus pensamentos estão desconexos, porque Jake

parece conhecer exatamente o lugar certo para me tocar. Tira os dedos de


dentro de mim e os insere novamente ao mesmo tempo em que difere uma
tapa forte na minha bunda.

É a primeira vez na noite que chamo seu nome.

O contato é quebrado e antes mesmo que eu proteste, ele vira meu


corpo em sua direção, depositando minhas costas na cama e se encaixando
entre minhas pernas. Os cotovelos apoiados em cada lado da minha
cabeça, a boca a centímetros da minha, os olhos profundamente conectados

a imensidão dos meus.

— Nada na vida é tão incrível quanto ouvir você gemer meu nome.
— fala, quase como uma confissão.

Reviro os olhos quando sua língua passeia pela minha pele


sensível. Envolvo meus dedos em seu cabelo e sua boca me faz gemer
enquanto ele prova cada gota minha. A barba desperta cada uma das
minhas terminações. Quando seus dedos entram em mim sinto o prazer se
formar em meu corpo e quando sua língua atinge o lugar certo, me entrego

ao êxtase.

Meu corpo relaxa sobre a cama, meu coração acelerado e o sorriso


de prazer no rosto. Sinto os lábios de Jake na minha barriga, sobre até
meus seios e se demora ali, chupando, beijando, lambendo e me deixando

pronta para ele mais uma vez. Sinto seu membro entre minhas pernas.

— Vou colocar em você. – tomo a camisinha da sua mão e ele fica


de joelhos na cama.

Jake é exatamente como imaginei e esperava. O envolvo em


minhas mãos e ele ofega com a sensação. Meus movimentos são calmos,
em um vai e vem que me faça conhecer seu corpo, onde ele gosta de ser
tocado, assim como fez em mim.

— Bae. — olho para ele debaixo para cima. — Puta que pariu.

Ele toma a camisinha das minhas mãos e coloca. Avança na minha


boca e se posiciona entre minhas pernas. Gememos juntos quando o
encaixe parece perfeito. Os primeiros movimentos são para que eu me
acostume com o seu tamanho, sem pressa e com cuidado. Enfio minhas
unhas em suas costas e ele finalmente me atinge com força, alcançando o
lugar certo.
Sua testa contra a minha, nossas respirações ofegantes. Nossas
mãos passeiam por todos os lugares, como se conhecêssemos cada detalhe

um do outro. Parece tão natural tem Jake assim, entregue e pronto para
mim. Meu corpo o acomoda da forma ideal. Suas estocadas tem a
intensidade certa, o som dos nossos corpos se encontrando misturados aos
gemidos. Meus mamilos roçam contra seu peito, ele ergue minhas pernas

ainda mais e alcança mais fundo.

Arfo seu nome mais uma vez e me entrego à sensação que volta a
se espalhar pelo meu corpo.

— Mais forte. – peço e ele me dá.

Envolvo minhas pernas mais forte na sua cintura e ele vai mais
fundo.

Forte, rápido, cheio de desejo, tesão e vontade.

Jacob é o pior e o melhor erro que eu poderia cometer.

— Juntos, Bae. — sussurra em meu ouvido.

E assim acontece. Com seus olhos intensos nos meus, sua boca
colide com a minha e nossos corpos chegam ao ápice.

É como estar no paraíso e no inferno ao mesmo tempo.

É a melhor coisa que já senti!


“Ela aparece do nada, vela romana da natureza

Rindo do meu disfarce fraco

Nenhuma outra versão de mim eu preferiria ser esta noite

E Deus! Ela me encontrou no momento certo.”

JACKIE AND WILSON | Hozier

Eu não estou arrependida de ter dormido com ele, mas a culpa por
ter cedido a tentação está tentando ganhar espaço no meu peito. Não
consigo nem imaginar como será a reação dos meus amigos, não imagino
como contar algo assim para eles. O homem que vem tentando nos sabotar
há cinco anos está nu na minha cama.

É sufocante pensar na bolha fora dessa casa, mas só a lembrança de

onde Jake está agora, aquece meu corpo.

Não consigo lembrar da última vez que me entreguei dessa forma a


alguém e cogitar que nunca aconteceu me deixa apreensiva. Aceitar que
Jacob é a pessoa que faz com que eu me sinta adorada, amada, desejada,

bonita e especial em uma intensidade indescritível, é difícil.

Milhares de coisas se passam na minha cabeça, inclusive, o que vai


acontecer quando ele acordar. Se vai ser o babaca de sempre ou o cara da
viagem.

Apoio-me na entrada do banheiro e observo seu corpo tatuado


espalhado pela minha cama. Ele é espaçoso, mas não brigamos pelo lençol
porque ele me puxou para o seu peito antes que eu pudesse pensar algo
diferente. Formamos um emaranhado, mas não nos soltamos.

Seu rosto é tão calmo que consigo achá-lo fofo. O que é ridículo já
que um homem de quase um e noventa de altura, com corpo de um deus
grego, barba, cheio de tatuagens, o cabelo rebelde, deveria lembrar mais
um viking. Só que Jacob Collins é muito mais do que sua aparência.

O que merda eu estou pensando?

Uma transa e já enlouqueci?


Você não é assim, Blue. Não é!

Volto para o banheiro e me preparo para o que comer no café da

manhã, já que Logan deve ter comido tudo que não dá trabalho. Paro de
frente para a bancada e rio ao lembrar que um dos meus cremes deve estar
sendo muito bem usado na Turquia. Vasculho a bandeja atrás de um
hidratante, mas sinto um beijo delicado no meu pescoço e não é mais

apenas o meu reflexo no espelho.

— Ninguém nunca te disse que banho à dois é muito melhor? —


seus braços circulam meu corpo e me colam ao seu peito.

É possível ver em seus olhos que ele está esperando minha reação.
Estamos em território desconhecido e Jake está tentando entender o que
vai acontecer a partir de agora. Sua ação deixou claro que o homem que
conheci na viagem está aqui, ele quer saber se vai ser expulso ou vou
deixá-lo ficar.

— Deixo você me mostrar mais tarde. — as palavras saem


tranquilamente da minha boca e ele sorri, me arrancando um sorriso
também.

— Não vou perguntar como dormiu, porque você testou meu peito
a noite toda, sei que foi ótimo. — reviro os olhos.

— O tão intocável Jacob Collins deve ter achado estranho dividir a


cama com uma mulher já que cafajestes não demoram depois do sexo. —

provoco.

— Você me tocou bastante ontem. — ergue a sobrancelha


sugestivamente. — Em vários lugares. — muda o tom de voz e gargalho.

— Você é patético. Apenas vá tomar um banho, estou morrendo de


fome.

Viro de frente para ele e na ponta dos pés beijo rapidamente seus
lábios, voltando minha atenção para a bancada novamente, mas sinto-o me
observando pelo espelho e o encaro sorridente.

— Agora estou com fome de você. — roça a barba no meu


pescoço.

— Três vezes não foram o suficiente? — brinco.

— Descobri que não quero pouco com você. — travamos uma


guerra de olhares pelo espelho.

Quebro o contato e volto a procurar o produto, que não sei mais


qual é, apenas não consigo ouvir coisas assim e digerir rapidamente.

Jacob se livra da cueca e me presenteia com a bela visão da sua


bunda. Entra no box e começa a cantarolar uma música do Elvis. Abre
meus produtos de banho e começa a testar como uma criança que vê algo
pela primeira vez. Me enfio em uma das minhas camisas enormes e vou
para a cozinha.

“Hoje o almoço é na Blue?”

Leio a mensagem de Logan no grupo da Drops e lembro que ele


pode invadir a qualquer momento.

“Estou acompanhada. Estão todos completamente proibidos de pisarem


na minha porta. Beijinhos, amo vocês.”

Mason manda um áudio dizendo que está indo curtir o final de


semana com Demi e Logan manda um emoji chateado porque o
dispensamos.

“O Australiano é rapidinho, já saiu do hotel e foi se hospedar na casa da


Blue. Gostei!”

Se minha amiga sonha que a nacionalidade de quem está aqui é a


mesma da nossa, ela vai adorar. Ella sempre comentou sobre um lado de
Jacob que nunca conheceríamos. Bom, acho que estou conhecendo e estou
entendendo como isso pode ser um caminho sem volta.
“Nos atualize sobre seu romance de final de semana. Se ele não for legal,

apenas chute a bunda dele para fora, você é ótima em fazer isso.”

A voz de Demi no início do áudio é cortada pela voz de Mason já


me instruindo a dispensar o homem.

“Me sinto traído quando sei que não posso visitar quando estou com
saudades.”

Gargalho ao ler a mensagem de Logan, porque se ele sempre diz


está com saudades. Deve sentir isso pelo menos seis vezes ao dia, já que
viaja entre nossas casas o tempo inteiro.

— Primeira coisa. — minha atenção é atraída por um Jake vestido

em um roupão mal amarrado, que deixa seu peito bem à mostra e cobre

apenas da cintura para baixo. — Você é linda quando está com raiva, mas
é deslumbrante quando está sorrindo.

— Temos um homem galante pela manhã? — brinco, mas estou


tentando não me derreter com suas palavras.

— Segunda coisa, usei sua escova de dente. — ele mostra a


contagem nos dedos. — Terceira, não tenho roupas e não me importo em
ficar pelado, contanto que você também fique. Quarta, vou cozinhar para
nós dois, mas não janto nada além de pizza aos sábados, regra fiel da Cora.

— Cora e Logan deveriam ser amigos. Ele sempre sugere pizza


quando vamos comer. — apenas o balcão nos separa.

É estranho demais ele parecer combinar com a minha casa?

— Não o quero perto da minha irmã. Nada que use saias deve ficar

perto daquele homem. — rio alto e me aproximo dele.

— Você não pode julgar os erros que os outros cometem se você os


repete, Collins. — dou de ombros.

— Está sugerindo que Clark e eu somos da mesma laia? — finge


estar ofendido.

— Eu estou afirmando. — sussurro e ele me olha feio.

Não consigo reagir porque no outro segundo seus dedos estão


fazendo cócegas na minha barriga. Grito de surpresa e rio pela sensação

dos seus dedos em mim. Ele para e me olha ofegar, todo sorridente.

Nada é tão sedutor quanto o olhar de Jake, mas seu sorriso


tranquilo é completamente avassalador.

— Vem cá, Bae. — ele estica o braço e se aproxima de mim.

Pego sua mão e nossos corpos estão juntos. As mãos dele seguram
meu rosto e nos olhamos profundamente.
— Não quero sair daqui e ter que odiar você. — coloca meu cabelo
atrás da orelha.

— Isso vai depender de você não ser um babaca em público. — rio,


mas é verdade.

— Não posso prometer, está no meu sangue. Mas eu sei que você
vai me amar mesmo assim. — faço uma careta e ele sorri.

Seus lábios tocam os meus com calma. O beijo é sem pressa,


explorando cada cantinho de nós, fazendo nossos corpos se conhecerem.
Nada tomado pelo desejo de nos jogarmos na cama, mas ele também
estava ali, só que agora nós queremos decorar cada parte um do outro.

— Respondendo sua contagem, tem roupas dos meninos aqui, você


pode usar. E minha barriga está roncando, o que você vai fazer para o café
da manhã?

Jake a contragosto veste uma calça de Logan que acho no closet,

que segundo ele não cabe direito, mas eu amei a forma como marcou sua
bunda. Depois de ficar com a cara emburrada, ele seguiu para a cozinha e
nos fez um típico café da manhã americano.

Só que nada poderia me dar mais tesão do que esse homem


circulando pelo meu espaço com toda a autoridade e como se já estivesse
familiarizado com tudo. Ele caminha graciosamente entre a ilha e o fogão.
É gracioso e sexy ver as costas nuas de Jake se contraírem a cada

movimento.

Ele conecta o celular na caixa de som do apartamento e me ajuda a


descer da banqueta que estou. Enquanto Sinatra toca alto, Jacob
acompanha a letra e me roda pela sala. Dançamos pelo espaço, mas ele
corre quando percebe que o bacon está queimando.

Nosso café da manhã é regrado pela discussão de How I Met Your


Mother ser melhor ou não que Friends. Descubro que ele e Peter são
apaixonados por Harry Potter, que ele adora motos, mas Joana não o
permite ter uma. Que Nathan é um ótimo jogador de futebol americano,
Cora é fantástica com números e Tony é médico.

— Me conta qual é a sua comida preferida. — ele me puxa para o


seu peito enquanto dividimos o espaço apertado do sofá.

— Eu adoro tudo que é italiano. — ele faz uma careta de desgosto.

— São boas comidas, mas pra ser preferida, é bem sem graça,
Edwards. — rio.

— E qual é a sua já que você está julgando a minha como sem


graça? — questiono.

— Comida mexicana apimentada e suculenta. Bem parecida com


você. — bato em seu ombro e ele ri.
Seus braços se envolvem mais em meu corpo, me fazendo ficar
deitada por cima dele.

— E o lugar preferido no mundo? — desenho as tatuagens do seu


peito com os dedos.

— A casa da minha avó. — digo e ele continua o carinho no meu


cabelo.

— Nós deveríamos ligar para ela, já é tarde e vocês ainda não se


falaram. — seu celular toca e ele estica o braço até a mesinha de centro.

Ele sorri para mim e me mostra o nome de Joana aparecendo na


chamada de vídeo. Tento levantar e Jake me prende em seu colo.

— Bom dia, meu amor. Onde você está? — a voz doce pergunta.

— Eu que pergunto, onde você vai linda assim? — continua me


segurando pela cintura.

— Vou tomar um café com meu novo pretendente.

O queixo dele cai e eu não consigo evitar a gargalhada.

— Mãe, você está namorando? — parece atordoado e eu apenas


rio.

— Apenas eu estou escondendo as coisas? E de quem é essa risada


feminina? — cubro minha boca e ele sorri para mim.

— É a garota do colar.
Jacob vira a câmera para mim e vejo a linda mulher sorridente na
tela. Ela lembra Tony, pelas fotos que vi de Jake com ele. Seus olhos são

doces, seu sorriso é acolhedor e pela forma que fala, lembro imediatamente
de Oli.

— Olá, querida. — meu rosto está vermelho, mas consigo sorrir.

— Olá, Jojo. Ouvi muito falar sobre você. — tiro o celular da mão

de Jake e me sento no sofá. — Eu sou a Blue.

— Também já ouvi falar muito sobre você e sua banda. – rimos.

— Jake com certeza nos difamou bastante, é o passatempo


preferido dele. Não acredite no que ele falou, é tudo mentira. — rimos. —
Aproveite o encontro, nada melhor do que começar o dia dando um bom
beijo na boca.

— Eu que o diga. — Jake fala conseguindo espaço para aparecer


na chamada.

Bato nele em repreensão e Jacob sorri.

— Aproveitem também e chute a bunda dele para fora se fizer algo


errado, querida. — gargalho. — Blue, você é linda e espero que possamos
nos encontrar para um café.

— Mãe, você tem que estar ao meu lado. — fala indignado.

— Ligo para vocês mais tarde. — se despede e desliga.


Eu acabei de conhecer a mãe de Jake. Meu Deus, o que estou
fazendo?

Ligamos para Oli e conversamos pelos próximos minutos. Ela


tentou arrancar tudo de nós sobre como acabamos aqui. Disse que precisa
conhecer a mãe de Jake e já imagino como essas duas seriam juntas. Olívia
é rendida por homens bonitos e cai de amores por Jacob. Eles conversam

sobre o tempo, programas de tv e ela revela costumes que tenho no dia a


dia. Claro que não evita reclamar sobre Mike e a grande quantidade de
trabalho, e Jake lhe apoia em tudo, já que não gosta muito do meu
empresário. Me despeço e desligo assim que consigo.

Nós dormimos mais um pouco deitados no sofá e arrancamos


nossas roupas lá mesmo depois que acordamos. Sentada no colo de Jake,
nós nos entregamos mais uma vez e cada vez mais intenso. Aquele sexo
preguiçoso, mas profundo e cheio de desejo. Meu corpo parecia implorar

pelo seu toque e ele já sabia exatamente onde me tocar.

A sensação de familiaridade e vício se misturam muito bem.

Nós repetimos a dose durante o banho e comemos pizza enquanto


assistíamos um reality show de casais em um canal de streaming. Jake
opina sobre todos os casais que acredita combinar e discute quando os
encontros dão errado.
— Amanhã Dani vem deixar roupas para mim. — avisa. — Na
segunda estou viajando para um show na Carolina do Norte e nos

próximos dias estaremos por ali. Acho que vou para casa logo depois e só
conseguiremos nos ver depois de uma semana. — toma um pouco mais de
vinho.

— Com quem mais você falou sobre nós? — questiono.

— Apenas com Dani, ele sabe todos os meus passos. Luke está
veementemente tentando descobrir onde estou. — sorri. — Mas não
contarei para eles agora. Peter realmente não gosta muito de você, então
contarei com mais calma. — dá de ombros.

— Eu decidi não contar para ninguém. Logan não precisa saber


sobre mais detalhes, e ele é único que sabe sobre o colar e as mensagens.
Não quero enfiá-lo nisso. Não sei se um dia terei coragem de contar a May.
Já Ella adoraria saber que estamos juntos.

— Por isso a diabinha é a melhor. — reviro os olhos sorrindo. —


Conte quando se sentir pronta, Bae. Eu sei que é difícil falar sobre mim
com eles.

— Nós falamos como se isso fosse ser algo duradouro, quando não
sabemos de nada. — digo.

— Bom, eu não preciso de mais tempo para saber que quero


continuar te vendo. Não vou estipular data de validade para nós.

— Você também acha tudo isso uma loucura? — me observa com

atenção.

— Tudo parecer tão certo, quando deveria ser errado. — afirma


sorrindo e concordo com a cabeça. — O problema, Bae, é que tudo
relacionado a você sempre pareceu certo demais. Quando te odiei parecia

certo, quando te desejei, quando te vi diferente. Estar aqui parece certo


demais.

Eu não sei descrever qual a sensação despertada em meu corpo


quando Jake me olha assim, mas é como se me reconhecesse em cada uma
das suas palavras. Sempre acreditei que estava certa sobre ele e agora é
quase como se tivesse certeza que ele é a melhor escolha que eu poderia ter
tomado.
“Tudo que eu fiz foi me esconder

Da nossa era, quando você está perto de mim

Querida, quando você apaga as luzes e beija meus olhos

Me sinto como uma pessoas por um momento da minha vida”

TO BE ALONE | Hozier

Estou sentado na cama de Blue. Encostado na cabeceira


acolchoada, com o lençol até a cintura e olhando para ela caminhando pelo
quarto enquanto fala com sua assessora. Seu cabelo está amarrado, veste
apenas peças íntimas brancas e gesticula a cada coisa que fala.

Estou completamente ferrado.

Dois dias foram o suficiente para eu estar viciado em seu toque.

Sinto-me perdido quando Blue sorri. A forma como ela é


inteligente a ponto de saber conversar sobre tudo. É engraçada, faladeira,
adora compartilhar as fofocas, vaidosa, cheirosa e intensa.

Perdi a conta de quantas vezes transamos pela casa, quantas vezes


bebemos vinho, assistimos programas de tv, conversamos sobre nossas
vidas e várias pessoas.

Quando a vi vestida na minha camisa sabia que explodiria de


desejo, mas não imaginava que conseguiria me sentir tão bem depois. Não
foi qualquer noite, foi a melhor noite de todas. Foi cheia de entrega, de
rendição. Nós estávamos prontos para pular de um penhasco e fizemos isso
de mãos dadas.

Blue é um meteoro e me atingiu de uma forma que não esperava.

Desde a viagem, muitas coisas tem se passado na minha cabeça,


sobre quem ela é e quem eu sou quando estamos juntos, mas o que as
últimas horas me mostraram é que a minha melhor versão está viva quando
estou perto dela.

— O que você está olhando? — pergunta travessa com as mãos na


cintura.

— Quero que toque para mim. — peço.

— Eu disse que preferia arrancar meus dedos a tocar para você,


lembra? — gargalha.

— Bom, esses dedinhos ligeiros já tocaram coisas mais obscenas


do que um piano. — ela joga uma almofada em mim.

— Comentário desnecessário, Collins. — fala saindo do quarto e


rio.

A bunda bonita rebolando dentro da pequena calcinha rendada


deixa meu corpo em alerta. Tudo nela me desperta e instiga. Não consigo
resistir a nenhuma parte dela.

Pulo da cama, atrás dela e no meio do corredor ouço as teclas sendo


tocadas.

Não consigo conter o sorriso, me aproximo lentamente e apoio o

cotovelo na tampa do piano. Ela vestiu seu robe de seda, que cai
desajeitado em seu ombro. Está concentrada nos movimentos precisos que
seus dedos fazem. É completamente apaixonante.

Não consigo reconhecer a música, mas meu corpo se arrepia um


pouco mais a cada nota forte que ouço.

Blue Edwards é deslumbrante. É quase como uma visão de algo


vintage, clássica e elegante. Seus lábios rosados se destacam na pele

branca, assim com os olhos azuis tão concentrados.

E eu não canso de beijá-la ou de pensar sobre isso.

Mesmo depois de todos os banhos, ainda sinto seu cheiro em mim.


Ela está sobre minha pele e eu estou em êxtase por isso.

Sento desajeitado no pequeno espaço que sobra do banquinho onde

ela está. Blue de frente ao piano e eu de costas, admirando seu rosto de


perfil até que ela simplesmente pare, de forma tranquila e compassada. Sua
expressão leve, como se tivesse colocado tudo que estava sentido naquelas
teclas.

— Não conheço essa música. — um leve sorriso surge em seus


lábios.

— Porque é algo sobre você. — revela.

Pude sentir meu coração errar algumas batidas e a felicidade correr

em minhas veias.

— Quando você compôs? — é a única coisa que consigo pensar.

— Agora. — dá de ombros e me sinto orgulhoso.

Minha pequena garota fantástica.

O talento de Blue é inexplicável.

— E como vai se chamar? — procuro saber.


— Brown Eyes[1].

E cá estamos nós de novo, deixando um ao outro sem palavras,


dentro da nossa indecifrável bolha criada nesse final de semana. É como se
o mundo fosse apenas nosso, como se apenas nós dois estivéssemos ali e
todo o sentimento contido nele existisse em nós.

— Não seja tão sincera diante o meu pobre coração, Edwards. —

peço e sorrimos.

Desvio do seu olhar encantador e olho para os meus dedos. Sua


mão alcança seu pequeno anel na minha corrente. Eu não usava nada no
pescoço, mas era óbvio que a joia não entraria nos meus dedos, então
peguei uma das poucas coisas além de relógios que tinha e decidi usar
como colar.

— Quase tive um ataque quando te vi com ele no show. — sorrio.

— Ele me trouxe sorte. — dou de ombros. — Me trouxe você.

— Você não deveria falar essas coisas. — ela sorri e afasta a mão.

Sacode a cabeça como se não quisesse que minhas palavras fossem


muito longe.

— Chegou a hora de voltar para a dona. — toco o anel em meu


peito.

Blue nega com a cabeça.


— Você deveria ficar. — cobre minha mão com a sua. — Se tem
sido um amuleto da sorte, use para se lembrar de mim. — aqueles olhos

brilhantes me hipnotizam.

Alcanço sua nuca e trago sua boca para a minha. Devoro seus
lábios carnudos. Ela parecia não ter ideia, mas seria impossível não
lembrar dela quando tudo isso acabar. E espero que lembre de mim

também.

Sua língua faminta envolve a minha e a pego nos braços apenas


para sentá-la no piano. A altura é ideal para nos conectar da maneira que
ansiamos. Suas unhas afundam nas minhas costas e eu amo a sensação dela
me marcar.

Aprofundo o beijo e desfaço o laço que fecha o tecido que a cobre.


A livro do seu sutiã sem desgrudar nossas bocas. Com as pernas
envolvidas no meu corpo, ela me puxa mais para perto e começa a descer

minha cueca.

Jogo a peça o mais longe possível e dou graças a Deus que


deixamos um pacote de camisinha solto pela sala quando transamos no
sofá no dia anterior. Blue está pronta para mim, mas não consigo deixar de
me deliciar entre suas pernas e nesses seios pesados.

Ela vem em minha mão e então nos encaixamos perfeitamente. É


inexplicável a forma como isso parece certo e fácil. Como se nossos
corpos se completassem. Blue me envolve com força e é impossível não

gemer com suas paredes me apertando.

A cada vez que nos entregamos um ao outro parece que tudo fica
mais intenso, mais íntimo e insubstituível.

— Olhe para mim, baby. — seus olhos azuis estão escuros de

prazer.

As pupilas dilatadas em êxtase.

— Me dê tudo, Bae. — sua voz sussurrada me leva ao limite.

Sua cabeça pende para trás quando entro com força. Nossas
respirações descontroladas, o suor, o gemido, corpos colados, seu peito
roçando contra o meu, mãos em todos os lugares.

Vê-la atingindo o ápice me faz chegar ao paraíso.

Nossos corpos caem sobre o piano. Ofegantes e exaustos. Beijo

carinhosamente entre seus seios, juro que posso ouvir seu coração batendo.
Seus dedos entram em meu cabelo e fazem carinho. Eu amo quando ela faz
isso.

Dividimos o chuveiro e ensaboo seu corpo enquanto ela lava meu


cabelo. Rimos pelo perigo do shampoo cair nos meus olhos quando
mordisco seu seio e ela solta um gritinho surpresa.
Blue Edwards me faz sentir como um jovem que nunca fui. É como
voltar a adolescência e viver tudo pela primeira vez.

Existe um nome que possa ser dado a sensação de queda livre em


direção ao mar? Porque se for mergulhar, é isso que estou fazendo.
Mergulhando de cabeça em tudo que possa envolver nós dois juntos.

— Se eu te ligar durante a vigem, você vai atender? — desenho

formas na sua coxa.

Blue está sentada no meu colo, estamos na grande poltrona que fica
na varanda da sua casa, comendo pizza e tomando cerveja.

— Se você não ligar vou ficar desapontada. — confessa.

— Ótimo, porque eu quero ligar e mandar mensagens. — beijo seu


ombro.

— Ótimo, porque eu quero que você mande. — beija a ponta do


meu nariz.

Eu preciso manter a minha melhor pose de bad boy para que ela
não veja que estou derretendo com seu gesto.

— Também aceito nudes. — ela me bate e gargalha.

— Você não tem jeito mesmo, Collins. — toma mais um gole da


bebida e se aconchega a mim.

Ainda não saí da sua casa, mas já sei que sentirei falta dela.
Estou completamente rendido.
“Eu encontrei você na hora mais escura

Encontrei você na chuva

Encontrei você quando eu estava de joelhos

E sua vida me trouxe de volta novamente”

I FOUND YOU | The Wanted

Tem exatamente cinco horas que me despedi de Jake e já sinto sua


falta. A casa com seu barulho parece mais preenchida, seu cheiro se
espalhando pelo ambiente, sua voz enquanto canta a todo mundo, e a
forma como briga com a televisão quando se irrita com os participantes
dos programas. Sinto falta do seu beijo para me acordar, bem abaixo da

orelha, depois um no meu pescoço e o último na minha boca, porque já


estou de frente para ele.

Dani o buscou muito cedo, seu voo estava agendado e ele precisava
resolver algumas coisas antes. Perdi as contas de quantos beijos de
despedida demos na minha porta.

Ele não queria ir. Eu não queria que ele fosse.

Ainda não recebi nenhuma mensagem ou sinal de vida, mas meu


interior está se corroendo de curiosidade para saber o que ele está fazendo.

— Posso te perguntar uma coisa? — largo o celular, entre eu e


Ella.

Estamos em uma sessão de fotos em estúdio para o novo clipe da


Drops Of Jupiter. Logan e Mason posam juntos para a câmera, como dois
deuses que são. Ella e eu ficamos na maquiagem por mais tempo e agora

aguardamos a nossa vez.

— O que faz você não odiar Jake Collins? — questiono e ela faz
um careta de confusão.

— Por que essa pergunta agora? — procura saber.

— Na viagem, em alguns momentos, ele pareceu uma pessoa muito


diferente. — tento disfarçar. — Não consigo entender porque ele foi tão
ruim, se não é assim com ninguém além de nós.

— Jake odeia se sentir ameaçado e viu nossa banda como isso. Mas

diferente do que Mason pensa ou do que Logan acredita, ele é uma boa
pessoa. Jacob é falho, assim como todos nós. Mas não existe ninguém mais
generoso e bondoso que ele. Nossa relação é muito clara, quando ele é um
babaca, eu o repreendo, nós discutimos e no final ele está me bajulando

com vários pedidos de desculpa. Por mais que você tome todas as nossas
dores, que sinta raiva pelo o que ele falou com a Demi e com todas essas
brigas midiáticas, acredite um pouco também no que você viu nele nesses
dias. Se foi capaz de plantar uma dúvida na sua cabeça, é porque sabe que
é real. Jake é um bom homem, Blue! Guardar todo esse ódio não faz bem
para a pele. — sorri e brinca com meus dedos.

— Minha pele está ótima, não vai conseguir me abalar. — rimos.

— Claro, um final de semana inteiro de orgasmos, seria impossível

não estar radiante. — rimos. — Inclusive, seus olhos estão tão brilhantes,
que poderia jurar que você está se apaixonando pelo australiano.

Mal sabe ela que Jake é o causador de tudo isso.

— Não me rogue praga. As suas são tão fortes quanto as minhas.


— faço drama e ela ri.

O celular vibra e vejo o contato que tanto esperei, chegar. É uma


foto, ele está no aeroporto, tomando um Starbucks e com uma toca preta na

cabeça.

Lindo!

Aponto a câmera frontal para mim e tiro uma selfie rápida.

“Não esqueça de avisar quando chegar ao seu destino.”

Digito a mensagem e rapidamente a resposta chega.

“Você é o meu destino, o show é apenas uma pedra no caminho.”

Sorrio abertamente, mas contenho a emoção para que Ella não


perceba.

“Vou cantar sua música completa pela primeira vez hoje à noite.”

Sinto-me derreter como uma poça. Ele ainda não me mandou a


versão final e nem a letra completa. Estou ansiosa porque sei que várias
coisas foram escritas durante nossa viagem.
“ANSIOSA!

Volte logo, bad boy.”

As palavras que acabei de ouvir de Ella voltam à minha cabeça. Se


eu for capaz de acreditar mais ainda que Jacob Collins é um bom homem,
sei que estou em um caminho sem volta.

Nossos dias foram incríveis e eu só consigo pensar sobre como


gostaria de continuar naquele pequeno mundinho por mais dias. O cheiro
dele ficou no meu lençol, sua camisa no meu closet, sua voz reverberando
pelo ambiente, sua forma de me tocar e me fazer sentir.

Eu não sou assim, não me apego as pessoas facilmente, muito


menos a homens. Não mantenho muito contato com as pessoas que durmo
casualmente. Encontros de uma noite são exatamente isso, duram algumas
horas. Não sei se por todos os sentimentos que tivemos um pelo outro

todos esses anos, o ódio, as brigas, os incômodos, todos gritaram quando o


vi andando em minha direção como um predador.

No momento em que o segurança interfonou, não consegui


entender o que Jake estava fazendo ali. Jamais imaginei que as coisas
aconteceriam da forma que foi. Mas, quanto mais meu cérebro grita que
isso tudo é uma loucura e está rápido demais, outra parte de mim só quer
continuar respondendo as mensagens, recebendo ligações, sabendo por
onde ele anda.

Eu estou enlouquecendo!

— Meninas, quero todos juntos. — o fotógrafo nos chama.

Ella e eu nos reunimos com os meninos e seguimos a próxima hora


tirando fotos. Sessão de fotos não é só glamour, as luzes são quentes

demais e chega um momento que os olhos ficam sensíveis ao flash,


trocamos de roupas várias vezes, retocamos maquiagens, fazemos poses
estranhas e no final fica tudo lindo, mas o processo é exaustivo.

Pela barra de notificações vejo que Jake enviou uma mensagem


avisando que estava embarcando a cinquenta minutos atrás, mas as vinte
ligações perdidas de Parker fazem meu coração se apertar.

Disco seu contato imediatamente e May se aproxima de mim


percebendo minha aflição. Quando acredito que a ligação irá para caixa-

postal, ouço a voz do meu irmão.

— Blue, Oli teve uma queda de pressão muito drástica, desmaiou e


acabou se machucando com a queda e foi para o hospital. Estou longe
demais para conseguir chegar, papai foi até ela.

Sinto meu mundo ruir. Olívia faz tratamento para controlar sua
hipotensão e nada me preocupa mais do que sua saúde. Ela é idosa e
aparenta sempre estar bem, mas seus problemas de saúde são muito
silenciosos, quando adoece a gravidade aumenta com muita rapidez.

— Eu estou indo. — consigo dizer. — Vou até ela agora. Como ela
está, Parker?

— Papai ainda não deu notícias, mas eu espero muito que esteja
bem. Espero muito, Blue. — sua voz parece cansada.

Meu coração está a mil, minhas mãos suando enquanto seguram o


celular, minha mente confusa demais e a ansiedade liberando todas as
minhas tensões e medos.

Eu preciso chegar até Olívia.

Mason me abraça e o medo toma conta de mim. Olívia é meu


mundo. Preciso vê-la, descobrir o que realmente aconteceu e se ela está
bem.

Hellen está na poltrona ao meu lado no jatinho da Drops, Logan a

minha frente, Ella ao seu lado e May na fila ao lado. Sunny sai da cabine
da comissária de bordo e corre em minha direção.

— Você está triste, tia Blue? — a pego no colo.

— Estou preocupada, meu docinho, mas logo ficarei bem. — ajeito


seu cabelo atrás da orelha.

— É que forma uma ruguinha aqui quando você fica assim. — seu
dedinho toca entre minhas sobrancelhas.

— E quando você percebeu isso? — demonstro minha surpresa e

faço cócegas na sua barriga.

A gargalhada infantil toma conta do pequeno avião e todos nós


estamos sorrindo. Michael sai pela mesma porta de onde a filha veio há

alguns minutos, eles estavam repassando a rota com o piloto antes de


decolarmos.

— É que eu sou observadora, igual o Tio May. — todos nós


gargalhamos.

— Onde você aprende essas coisas? — Logan pergunta.

Ela parece estar crescendo tão rápido, que as vezes me surpreendo

Ela dá de ombros e deita no meu colo. Faço carinho em seu cabelo


e ficamos apenas nos aconchegando uma a outra. Sunny se tornou luz em

nossas vidas. Ela é esperta e inteligente, todos os dias nos surpreende com
algo novo. Faço carinho em seu cabelo e consigo relaxar um pouco mais.

Michael se despede de nós e volta com Sunny para casa. Meus


companheiros de banda reservaram o dia para me acompanharem até a
cidade de Olívia, mesmo sendo um bate e volta, eles não queriam me
deixar sozinha. É pouco tempo de voo para quem já está acostumado com
milhares de horas dentro de um avião.

Assim que chegamos ao aeroporto o carro que Hellen conseguiu já

nos espera e vai direto para o hospital.

— Como ela está? — pergunto ao me aproximar do meu pai, que


levanta ao nos ver.

— Fazendo alguns exames, mas relativamente bem. — respira

fundo, mas me olha feio. — Não precisava ter vindo, eu avisaria qualquer
problema. — o olho incrédula.

— Se fosse você, talvez eu não viesse, afinal, minha presença


sempre é um incômodo. — May aperta minha mão delicadamente, me
trazendo de volta ao eixo.

— Você aqui é apenas mais estresse, Blue. — quase grita. — Essas


milhares de pessoas atrás de você, sempre tentando chegar até nós, invadir
nossas vidas. Olívia está cansada e estressada dessa merda de coisas que

você enfia ela. Mas não estou surpreso de mais uma vez você ser o estopim
de algo. — ouço Logan amaldiçoar atrás de mim.

— Sr. Edwards, não fale bobagens. — Mason interrompe. —


Vocês estão preocupados, de cabeça quente. Não falem coisas que possam
se arrepender.

— Você não vai me culpar pela doença da vovó. Não vai, pai. Eu
estou cansada de tudo de ruim que acontece na sua vida ser jogado no meu
colo. Assuma suas merdas e lide com elas. Não sou mais sua

responsabilidade e você nunca foi a minha. Não tem o direito de me


maltratar, prender, censurar e ferir a vida inteira. Acabou. Enquanto você
tenta me atingir, eu ainda tento ter respeito com você, mas não aceito que
diga que meu trabalho, minha vida e quem eu sou trouxe Oli até aqui. —

grito.

Todas as pessoas do corredor olham para nós. Hellen tenta


disfarçar, pedindo para que abaixemos a voz e sorrindo para os curiosos.
Se alguém reconhecer Mason e eu, daqui a dez minutos os sites publicam
suas mentiras.

— Você sempre sai de inocente das situações. — ri sem humor. —


Mas você não me engana, não a mim. Você só traz desgraça, garota. —
aponta o dedo no meu rosto e Mason coloca a mão em seu peito para

afastá-lo fisicamente de mim.

— Saia daqui. — digo, com toda a falsa calma e o ódio que existem
em mim. — Saia desse hospital ou eu tirarei você a força. E não vou me
importar em fazer todas as pessoas que estão tentando chegar até você
saber o quanto sua criação de merda fez com que eu adoecesse. Talvez
assim você fique satisfeito, essa deve ser a atenção que você quer, que as
pessoas te vejam para que assim a minha mãe não ache que você é um
desperdício. — ele me olha com ódio. — Eu não sou ela, pai, mas não

tenho que provar nada a você.

Hellen toca o ombro do meu pai e o conduz para algum lugar. May
apenas me abraça, Ella envolve os braços na minha cintura e os braços de
Logan envolvem todos nós, ficamos no nosso casulo até que minhas mãos
parem de tremer.

Acabou. Essas frustrações não são minhas para que eu carregue.


Por eu ter sido a última a nascer, talvez meu pai tenha associado a partida
da minha mãe ao cansaço de cuidar de mim, mas, na verdade, ela só não
queria viver aquela vida. Não a isento de tudo de errado que fez e das
negligências que cometeu comigo e Parker, mas nada justifica a amargura
que meu pai direcionou para mim todos esses anos.

Ele não vai ter mais poder sobre mim.

Sentamos nos bancos do corredor e quando Hellen volta, avisa que

Olívia já está voltando para o quarto e que conseguiu um quarto com um


sofá retrátil, para que eu possa ter um pouquinho mais de espaço e
conforto. Um médico logo se junta a nós e explica toda a situação. Oli
descuidou da medicação e isso fez com que sua pressão arterial
despencasse de uma só vez, ela conseguiu pedir ajuda a vizinha pelo
celular antes de desmaiar, mas a queda fez com que ela batesse a cabeça no
chão e machucasse o braço.
Nos informa que nada de grave aconteceu na cabeça de Oli, mas
que precisa ficar em observação e repetir os exames de imagem para

confirmar que nada surgiu. Que o braço logo se recuperará, mas ficará
imobilizado, e que ela ficará em observação por no mínimo vinte e quatro
horas.

O hospital precisa de alguns documentos e nós precisamos de

mantimentos, então Logan e Mason vão até a casa de Olívia buscar tudo.
Ella fica comigo, porque sabe que jamais conseguiria sair desse lugar sem
ver minha avó.

Trazem Olívia para o quarto depois de quase uma hora. Me


despeço dos meus amigos e Logan me faz prometer que ligarei para dar
notícias. Sei que ficariam comigo mais tempo, mas todos eles tem muita
coisa para resolver e posso pedir socorro a qualquer hora.

Hellen resolve todas as papeladas da burocracia e vai dormir na

casa da minha avó. Me ajeito no banheiro do quarto e Olívia ainda está


dormindo. Só em saber que foi apenas um susto e com apenas uma nova
medicação ela ficará bem, meu coração está aliviado. Ligam equipamentos
de monitoramento e informam que ela dormirá pelas próximas horas. Me
aproximo do seu corpo frágil, faço carinho em seu cabelo e beijo sua testa.

— Estou aqui, vovó. — sussurro e aperto sua mão. — Sempre aqui.


Sento no sofá e leio as mensagens que chegaram nas próximas
horas. O relógio me avisa que Jake está quase subindo no palco, então

digito rapidamente em resposta às suas mensagens avisando que pousou,


que já estava no local do show e que Luke estava um pouco bêbado demais
aquela noite.

“Oli está no hospital, me deu um susto e tanto. Voei para cá tão rápido
que nem consegui pensar. Meu pai esteve aqui. Nós brigamos e acho
que nossa relação realmente chegou ao fim. Estou tão cansada e
preocupada, Bae. Ao mesmo tempo que me sinto aliviada. Acabou.

Suba no palco e faça essa noite ser única!”

Converso com os enfermeiros que chegam para checar Oli, recebo


o jantar e como o máximo que minha ansiedade permite. Acesso as redes
sociais para me distrair um pouco antes de dormir e concidentemente

aparece um vídeo de um show da Selfish Hearts. Pela hora da postagem,


acredito que seja da apresentação de hoje, mas o que chamou minha
atenção foi o nome escrito na legenda: Breathe. É a minha música.

O vídeo está com péssima qualidade e a gritaria dos fãs quase me


impede de ouvir a voz de Jake. Ele está sem camisa, com o violão na
perna, enquanto senta em um banco alto. Isso me faz lembrar de como ele
ficou bonito quando estava assim na minha cozinha.

— Quero contar uma história para vocês. — a voz dele

praticamente grita no microfone. — Nesse momento, uma garota especial


está enfrentando um momento difícil em algum lugar do mundo, talvez
uma pessoa especial esteja enfrentando algo muito complicado aqui essa
noite. Mas eu quero te dizer algo, quero que a minha garota escute. — ele

ajeita o instrumento em seu colo e sorri para a multidão. — Apenas


respire.

As borboletas em meu estômago voam descontroladamente. Porque


não sei se ele viu minha mensagem e eu sou a sua garota, ou se isso foi
apenas uma introdução bonita para os fãs. Mas prefiro acreditar na
primeira opção.

“Existem sentimentos ruins dentro de mim,

Dias em que o inferno parece mais próximo,

Onde não consigo enxergar a saída.

Não ouço nada além das vozes

maldosas na minha cabeça

Elas sussurram o quanto sou fraco,


Confirmam a cada segundo que

não serei forte dessa vez

E elas pareciam ter tanta razão

Até que você me olhou e disse:

Segure-me,

Sinta meu peito contra o seu,

Ouça a minha voz serena,

Meu coração está colado ao seu

Tente me acompanhar.

Lento, compassado e tranquilo,

Respire,

E assim estaremos a salvo

Sei que sou o mais falho dos homens,

Que machuquei corações,

Que tentei passar por cima do mundo,

Mas algo mudou naquele dia


Você me abraçou e todas as vozes

se calaram,

Enlaçou minha mão e finalmente

me senti em terra firme

Eu me encontrei, quando você me encontro

Então querida, quando o céu claro escurecer

e tudo parecer sem cor

Segure-me,

Sinta meu peito contra o seu,

Ouça a minha voz serena,

Meu coração está colado ao seu

Tente me acompanhar.

Lento, compassado e tranquilo,

Respire,

E assim estaremos a salvo,

Porque nunca mais deixarei você!”


Perdi as contas de quantas vezes assisti aquele vídeo antes de cair
no sono. Não sei exatamente que horas são quando sinto um movimento no

sofá. A única coisa que vejo são os pequenos raios de sol ultrapassando a
persiana quando um braço forte se aconchega a mim.

Eu reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar.


“Você tem medo do amor e do que ele te causou

Você não precisa fugir, eu sei o que você passou

Apenas um toque e eu posso te libertar

Não precisamos ir tão rápido quando você estiver

sozinha comigo”

I FEEL IT COMING | The Weeknd

Jacob está de pé ao lado da cama de Olívia, com os braços apoiados


na grade de proteção lateral. Segura um café e sorri abertamente para ela.
Não entendo o que eles estão falando, porque meu coração está batendo
alto demais.

Vovó gargalha e tosse um pouco, a expressão de Jake muda

rapidamente para pavor e ele diz para ela não se esforçar.

Ele veste uma calça jeans, uma blusa de mangas longas preta e a
touca da foto que me mandou no dia anterior.

— O que vocês dois tanto cochicham? — sento no sofá e olho para

eles.

Amarro rapidamente o cabelo, que deve estar uma bagunça.

— O bonitão veio nos ver, Bae. — vovó diz.

— E nós já descobrimos que chamamos você pelo mesmo apelido,


mesmo que o meu tenha segundas intenções e o de Oli seja por conta do
seu nome, isso é muito bonitinho. — ele toma mais um gole do café e Oli
ri.

Caminho até Olívia e beijo sua bochecha. Analiso seu rosto, que

parece um pouco cansado. O braço continua imobilizado, mas ela parece


fisicamente bem.

— Como você está, meu amor? — seguro sua mão.

— Apenas com uma pequena dor nas costas e saudades da minha


cama. — sorri para mim. — Jake disse que você e seu pai brigaram.

Olho para o mais novo fofoqueiro do clube das Edwards e ele dá de


ombros. Não sei se rio ou xingo, porque não era hora de Oli saber disso.

— Apenas bobagens. — afirmo. — Papai fez o que sempre faz,

mas não ia aceitar aquilo com você doente. Parker avisou que ele já está
em casa e eu não quero saber.

— Rancor não faz bem para o coração, Bluezinha. Sei que ele está
errado, mas apenas o afaste da sua vida, mas não guarde sentimentos tão

ruins. — Olívia beija minha mão.

— Oli tem razão. — Jake fala. — Eu sou o maior exemplo disso,


quando você deixou a raiva que sentia por mim de lado, ficou muito mais
feliz. — provoca, com um sorrisinho inocente no rosto.

Somos interrompidos pelos enfermeiros que vem buscar Oli para


refazer os exames e o que ainda é necessário. Ela beija nossas bochechas e
eles a levam da sala. Olho para Jake, tomando seu café despreocupado,
como se sempre devesse estar ali.

Ele veio por mim.

— Pensei que tinha um show hoje. — me direciono a ele.

— Quando Oli estiver em casa e você estiver bem, eu volto para lá.
— roda o copo entre os dedos. — Tony conhece alguns plantonistas desse
hospital e conseguiu que adiantassem os procedimentos dela.

Deposita o objeto na mesa de cabeceira.


Eu quero beijá-lo por estar aqui e por ter se preocupado com o
bem-estar de Olívia.

— Por que está aqui, Jake? — questiono e ele coloca as mãos nos
bolsos frontais da calça.

— Por você, principalmente. Esperei você responder o dia inteiro e


nada chegou, então esperei até o último minuto com o celular na mão.

Quando sua resposta chegou, só consegui ler e me empurraram para o


palco. Muita coisa aconteceu rapidamente, inclusive, eu entrei na sua vida
e reconheço que isso mexe com sua cabeça. Não queria te deixar sozinha.
Mas também fiquei preocupado com Oli. — sua voz é carregada de
sinceridade.

— Como sabia que eu estava sem ninguém da Drops aqui? —


realmente estou curiosa.

— Hellen me contou, como também foi quem deu o endereço do

hospital. A fiz prometer não dizer nada sobre nós a ninguém. — dá de


ombros. — Tenho quase certeza que ela é do time do Mason, e não vai
muito com minha cara, mas é leal a você, então não vai abrir a boca.
Talvez eu tenha a ameaçado um pouquinho. — meu queixo cai enquanto
ele se faz de desentendido.

O homem na minha frente viajou até mim depois de um show em


outro estado, buscou pessoas próximas para saber como me encontrar,
mobilizou a equipe médica, dormiu em um lugar onde não o cabe direito,

apenas para estar ao meu lado.

Porque se preocupou com minha avó.

Jacob Collins se importa. Ele sente, protege e zela.

O mesmo brilho que surge em seus olhos quando fala das pessoas

da sua casa ou amigos da banda, está direcionado a mim.

Apenas o puxo para mim e abraço o corpo grande e familiar. O


cheiro que me envolveu durante a noite e nos últimos dias. Os braços que
me aconchegam tão bem. Jacob beija meu cabelo, depois minha testa e a
ponta do meu nariz, é o máximo que consegue sem soltar nossos corpos.

— Estou tão feliz que você veio. — revelo.

Sinto seus lábios formarem um sorriso contra minha pele.

— Estou feliz por ver com meus próprios olhos que você não

matou ninguém no hospital como a gata raivosa que é. — rio e belisco suas
costas, o fazendo resmungar. — Não precisa me agredir, eu confesso
facilmente, estou feliz que você está bem, Bae.

— Ouvi você cantar a minha música ontem. — me aconchego mais


ainda ao seu peito. — Ficou tão linda, Jake.

— Você é linda! — ergo a cabeça em direção a sua e ele beija a


ponta do meu nariz novamente.

Fico na ponta dos pés e alcanço seus lábios. É um beijo casto, cheio

de palavras não ditas e sentimentos nascendo. Somos nós, nos entregando


mais um pouquinho um ao outro.

A manhã passou rápida e depois do almoço os médicos liberaram


Oli. Anthony, melhor amigo de Jake, me ligou e informou que era

importante alguém ficar com Olívia nos próximos dias, até seu braço
melhorar e realmente comprovarmos que os remédios estão tendo efeito.

Uma moça que cresceu perto da casa de Oli é sempre quem a


auxilia quando precisamos e vovó adora ela, então não implica com as
coisas que faz.

Hellen nos pega no hospital e me olha feio e com uma expressão


confusa o tempo inteiro, é engraçado vê-la assim. Como vovó e Jake são
nossas únicas companhias, aproveito e lhe conto como as coisas

começaram a acontecer, ela apenas concorda com a cabeça e sei que


precisa assimilar tudo.

Jake ajuda Oli a descer do carro e espera seus passos lentos com
toda a calma do mundo. Eles conversam sobre assuntos diversos e vão até
o quarto da minha avó. Nós ficamos sozinhas e preparo um banho quente,
para seus músculos relaxarem do estresse dos últimos dias. Dou-lhe os
novos dois remédios e ela deita contente em sua cama.

— Esse rapaz é especial, Baezinha. — ela fala, brincando com

meus cabelos.

— Estou descobrindo isso, vovó. — sorrio.

— Quando acordei, ele estava todo espremido no sofá, de


conchinha com você. — rimos. — Um homem tão grande, se apertar

depois de um show e uma viagem às pressas. Me disse que ficou tão


preocupado, que só pensou em vir te encontrar. — ergue as sobrancelhas
toda animada.

— Hora de dormir, dona Olívia. — a corto.

Beijo seus dedos e fecho a porta ao sair. Jake está no início do


corredor, próximo a porta de saída e da cozinha. Caminho até ele e beijo
seus lábios. Com saudades, medo, confusão, gratidão e surpresa que tenho
acumulado dentro de mim.

Ele corresponde na mesma intensidade.

Somos interrompidos por um barulho do lado de fora, mas não


consigo ver nenhuma silhueta pelo vitral da porta. Me aproximo do vidro e
tento ver o lado de fora pelo embaçado, mas a única coisa que vejo é um
carro preto se afastando.

Jake me puxa pela cintura e toma minha boca mais uma vez. Sorrio
em seus lábios e apenas nos abraçamos por mais algum tempo.

— Jojo disse que temos que respeitar a casa da sua avó e ficar em

quartos separados, mas não sei como não dormirei aqui porque o voo é às
oito, acho que deveríamos tomar pelo menos um banho juntos. — sugere
despretensiosamente.

Gargalho pela expressão de inocência em seu rosto. Se não

conhecesse Jake não perceberia que aquele sorriso quase grita: quero
passar a próxima hora dentro de você.

— Sr. Collins, sinto informá-lo que não verá meu corpo nu nessa
casa. — aponto a colher de madeira em sua direção e ele faz um biquinho.

— Eu já sabia, mas não custava tentar, você é muito irresistível. —


puxa uma cadeira da mesa e senta.

— Vou cozinhar e você lava. — ele concorda e volta sua atenção


para o celular.

Não demora muito para um flash chamar minha atenção e Jacob


olha desconfiado para mim. A tentativa falha de tentar tirar uma foto
escondido nos fez gargalhar, mas logo voltei minha atenção para as
panelas e sei que ele continuou sua sessão de fotografias. Levanta da mesa
e tira as piores selfies que já vi, nós dois saímos falando, brigando, fazendo
careta e sujando um ao outro de comida.
Mas antes que consigamos fazer mais um registro, o nome Penny
aparece na tela e o toque da chamada se espalha pela cozinha.

— Se não é a mulher mais perigosa dos Estados Unidos. — Jake


fala ao atender.

Volta para a mesa e cerro os olhos para ele, que ri de algo que a
mulher fala do outro lado.

— Não, mas estou chegando à Carolina ainda hoje. — escuta mais


um pouco. — Você está a trabalho ou está com o seu fã clube de amigas
perseguidoras? Eu sei que elas nos adoram. — gargalha mais uma vez. —
Peter meio que está perdendo a cabeça por alguém, então não sei se ele vai
ser uma boa companhia.

Um grupo de amigas. Que estão em todos os shows. Quem é essa


Penny? Jacob está falando com seus casos na minha frente?

— Provavelmente estou indo para Nova Iorque depois. Tony disse

que Cora está vendo um cara misterioso e eu quero descobrir quem é.

Está comentando coisas que não comentou comigo. Claro que deve
ter sido por conta da situação que estou passando, ele falaria depois.

— Te ligo mais tarde, mas Dani acha vocês no final do show. Juízo
nessa cabecinha bonita, Penny. — desliga sorridente.

Eles vão se ver no camarim? Filho da puta.


Continuo mexendo na panela, pensando em como enfiar essa colher
no meio da garganta dele e bater na minha cabeça com essa panela por

estar com ciúmes de Jake. Eu ainda não tinha parado para pensar sobre o
maior cafajeste do mundo dos famosos estar entrando na minha vida e
como me sentiria sobre isso.

Bom, eu me sinto irritada com ele. Eu não vou sugerir que Jake

pare de ver outras pessoas, não serei a primeira a dizer isso nessa relação,
mas não significa que a ideia dele com outra mulher não me faça querer
bater nesse rosto bonito que tem.

— Cora está namorando? — pergunto, mas não olho em sua


direção e começo a cortar as verduras.

— Tony acredita que sim. Ela tem saído mais a noite, falado no
celular às escondidas, cheia de sorrisinhos apaixonados, conversas de
horas e chegou um presente essa semana. Quero saber quem é.

— Ela precisa de privacidade, Jake. É uma garota entrando na vida


adulta, quase indo para a faculdade, precisa do seu espaço. Afinal, ela não
deve querer saber, por exemplo, quem é a Penny, então não seja invasivo
na vida dela. — sua cabeça vira em minha direção na velocidade de um
raio e sua boca abre em descrença.

— Oh meu Deus. Blue Edwards está com ciúmes de mim! —


afirma e ri ainda sem acreditar.

— Isso não é ciúmes, Collins, nem estamos falando sobre você. —

ele me olha com deboche.

— Penny é apenas uma amiga. — o sorriso de satisfação pelo meu


ciúme não sai do seu rosto.

— Eu também sou sua amiga. — me mantenho séria.

Pior do que sentir ciúmes de Jake é deixar com que ele saiba disso.
Eu odeio essa sensação de desconforto em relação a sua ligação. Não gosto
quando esses sentimentos surgem em mim, porque é um sinal de que estou
cedendo mais do que deveria.

— Não, você é a minha garota, Edwards. — ele vem até mim.

— E por quanto tempo Penny foi a sua garota? — questiono e ele


gargalha.

— Você quer saber se nós já dormimos juntos? — coloca as mãos

delicadamente nos meus ombros e me vira em sua direção, me prendendo


contra o balcão e ele. — A resposta é sim, mais de uma vez. Conheci
Penny em um show e nós tivemos uma noite e tanto, inclusive, você estava
na mesma boate que nós. — arqueio uma sobrancelha para ele. — Ela é
uma mulher incrível e se tornou uma amiga, minha e dos meninos da
banda. Inclusive, vocês seriam ótimas amigas.
Por mais que Jake tenha se instalado em todas as minhas veias,
ainda não era assustador toda a confusão no meu peito. Assumir que o

quero o tempo inteiro é muito novo. A forma como ele parece sempre ter
estado aqui faz meu coração acelerar rápido demais.

— Também não gostei de saber que você estava de conversinha


com um australiano. — confessa.

— Você que me empurrou para ele, o conheci no festival que você


apareceu com meu anel. Sabia que você queria aprontar e fui liberar minha
tensão com o gringo lindinho.

— Eu era meio babaca, mas não precisamos lembrar disso. —


brinca e rio. — Inclusive, não me deixe esquecer que sua mão é pesada.
— rimos alto.

— Eu adoro uma boa briga, Collins. — ele beija minha bochecha.

— Ótimo, porque eu sou uma confusão e tanto. — envolvo seu

rosto com as mãos e trago sua boca para a minha.

O restante do dia se passou entre beijos, cozinhar, rir com as


histórias de Jake e Olívia, ele a rodopiando vagarosamente pela sala em
uma dança calma, me ajudando a seguir a hora dos remédios e
conversando com Hellen, que se rendeu facilmente ao sorriso galante dele.

No início da noite ele foi embora. Oli mostrou uma boa


recuperação, fui ao médico com ela, toquei piano antes do jantar e
fofocamos sobre todos da rua. Quando tive certeza que ela estava bem,

voltei para casa, dois dias depois.

Avisei no grupo da Drops que estava chegando, confirmei com


Hellen que já estava em segurança e mandei uma foto para Jake.

Sentir o cheiro do meu apartamento sempre me faz lembrar de algo

que já vivi aqui, como Logan fugindo das garotas durante a manhã ou
querendo comer algo, Jake caminhando de um lado para o outro, Mason e
Chris deitados na poltrona da varanda e Ella correndo atrás de Sunny para
tomar o secador das suas mãos.

— Desde quando você e Jacob Collins estão namorando? — a voz


cortante e familiar me faz paralisar assim que acendo a luz, não preciso
virar para vê-lo.

Mason.
“Em algum lugar nós erramos

Nós éramos tão fortes

Nosso amor é como uma canção

Você pode esquecê-lo de jeito nenhum.

E, no final, todas as fotos foram queimadas

E todo o passado é apenas uma lição que aprendemos

Não vou esquecer, por favor, não esqueça de nós”

DON’T FORGET | Demi Lovato

— May. — ele me corta no mesmo segundo.


— Não adianta mentir. — seus olhos claros estão pesados.

— Como você soube? — me aproximo e ele se afasta.

— Eu vi. — sorri sem humor. — Vi com meus próprios olhos você


e ele se beijando. Voltei para casa de Oli no dia seguinte, vi vocês pelos
vitrais. Não acreditei, Bee. Não acreditei. Passei esses dias tentando me
convencer que existia explicação, mas você só mentiu para mim. — passa

as mãos pelo cabelo.

O carro.

Quando beijei Jake no dia em que voltamos do hospital, o barulho


na entrada e o carro partindo, era Mason. Meu melhor amigo foi cuidar de
mim e da minha avó, da pessoa que eu amo, para não me deixar sozinha e
em troca me viu nos braços da única pessoa no mundo que não gosta.

— May, eu posso explicar. — a forma como ele me olha, me


quebra por dentro.

— Eu perguntei, Blue, perguntei quando você voltou da viagem.


Você não podia mentir para mim, não você. — quase grita.

— Me deixa falar. — peço.

Minhas mãos estão geladas, meu coração acelerado, as lágrimas


querem se formar e minha voz travar. O nó na minha garganta parece
conseguir me fazer parar de respirar. Meu coração está despedaçado,
porque eu nunca quis o machucar.

— Eu desmaiei em uma boate e Jake me ajudou, me levou para sua

casa e acabei só acordando no outro dia. Eu quase tive um colapso, mas já


estava lá, então tomei banho antes de sair e acabei esquecendo um anel.
Ele achou e nós ainda nos odiávamos, então quis me provocar.

Mason olha para minhas mãos e sei que ele sabe de qual anel estou

falando. Desde que Ella me presenteou, eu não o tirava do dedo e talvez


por isso não tenham percebido, passou despercebido por ser quase uma
parte de mim.

— No dia em que você sumiu, estava na casa dele quando nos


avisou que estava bem? — tenta ligar os pontos.

Concordo com a cabeça.

— Sim. Depois nos encontramos no festival e eu tentei recuperar


meu anel, mas em vez disso ele me beijou e eu bati na cara dele. — o canto

da sua boca se ergue rapidamente.

Provavelmente porque era isso que ele faria se tivesse presenciado


a cena e porque com todos os sentimentos ruins que eu tinha sobre Jacob,
era exatamente o que a Blue de um mês atrás faria.

— Não esperava menos de você. — comenta com desdém.

— Antes da viagem, eu tentei pegar o anel de volta, entrei no


camarim dele, mas Jake estava destruído. Eu nunca imaginei vê-lo daquela
forma. Sua relação com a mãe é muito fragilizada, ele tem muitas

responsabilidades e por mais que ele também seja o cara cruel que nós
conhecemos, ele também é só mais uma pessoa quebrada, May.

— Então você ficou com pena do cara que sempre tentou nos
destruir. — fala como se concluísse algo e caminha pela sala.

— Na viagem foi onde tudo realmente mudou. — continuo a falar.


— Ficamos no mesmo quarto. — seu queixo cai. — Foi impossível não
ver o quanto ele era diferente, leve e engraçado, mesmo com aquele ar de
dono do mundo. Uma noite nos abrimos um para o outro, conversamos
sobre nossas vidas e ali tudo mudou. Eu vi outro Jake e ele também me viu
de outra forma. Não éramos os concorrentes, éramos apenas nós. — o
observo com atenção.

Espero que ele fale alguma coisa, mas pela forma que seu olhar só

parece cada vez mais decepcionado, me faz ter certeza de que não. Respiro
fundo e tento organizar todas as imagens que correm a mil na minha
mente.

— Sei que sua lista de mentiras não acabou, pode continuar. —


meu coração aperta.

— Jake me procurou esse final de semana, ficamos juntos e


comprovamos que algo estava diferente, nós queríamos continuar. Quando
fui para Oli, ele ficou preocupado com nós duas e foi nos ver. Nós não

nomeamos nada, foi tudo muito rápido, mas ele queria estar ao meu lado.

— Você sabe que Jacob Collins é só 30 por cento da minha raiva


não é? – me olha profundamente pela primeira vez.

— Eu queria evitar isso, May. Não queria gostar dele, tenho todos

os motivos do mundo para não querer aquele homem, mas não consegui.
Eu tentei, me crucifiquei, me odiei desde o primeiro momento. Suas
palavras, todas as coisas que ele já disse sobre nós, o que aconteceu com a
Demi, você acha mesmo que isso não me perturba todos os dias? — meus
olhos marejam.

— Quem mais sabe disso? — questiona.

— Olívia soube no final de semana, Hellen descobriu ontem e


Logan soube até antes da viagem, quando nada tinha acontecido e ele

sempre me mandou te contar. — Mason ri em descrença. — A história não


era dele para que contasse, May, se está com raiva de alguém, é de mim.
Logan apenas tentou me fazer sair de tudo isso. — falo com convicção,
porque Logan não merece responder por algo que não tem culpa.

Mason é uma das pessoas que mais me conhecem no mundo, assim


como eu a ele e sei que quase nunca perde o controle. Sua expressão é
séria e dura, sua voz firme e cheia de desdém cortam como uma navalha.
Eu sabia que isso iria acontecer desde o início, tentei evitar, mas o coração

não pode ser controlado.

— Você já percebeu que todo mundo dá um jeito de mentir pra


mim? Qual é a merda do meu problema? Eu sou frágil demais ou imbecil
demais para não aguentar ouvir a verdade? Você me conhece a porra da

vida inteira e mentiu para mim. — ele quase grita.

Não é só raiva que ronda Mason, ele também está despedaçado. Eu


o machuquei.

— Chega a ser cômico, Bee. — ri. — Você, a minha fiel escudeira,


olhou nos meus olhos e negou tudo diversas vezes. Eu odeio mentiras,
Blue. Odeio que me tratem como alguém que pode quebrar na porra do
próximo minuto. Mas você era a última pessoa que pensei que faria isso.
Desde que Chris se foi vocês tem me tratado como uma bomba relógio.

— Você tem noção de como foi ruim te ver definhar depois que ele
se foi? — as lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Se você não tivesse se
apaixonado logo em seguida, Mason, nós não teríamos te reerguido tão
rápido. Quando tudo sobre Demi veio à tona, você se tornou um whisky
ambulante, não comia ou fazia qualquer outra coisa. Eu achei que perderia
você também. — me aproximo e dessa vez ele não se afasta.
— Eu não quebro tão facilmente, Bee. Não sei nem o que pensar
sobre o merda do Collins na sua vida, só consigo ver você cometendo o

pior erro de todos. — sua voz se torna calma, mas machuca mais do que
quando ele grita. — Primeiro a Demi, agora você, até o Logan, e agora
quem mais vai enganar o pobre menino White? — ele abre os braços em
questionamento.

Eu vejo lágrimas nos seus olhos também e choro ainda mais por
isso.

— Te contaria assim que soubesse o que realmente está


acontecendo. Eu estou me apaixonando pelo meu maior inimigo, May, isso
me assusta para caralho. Nunca te vi com tanta raiva de alguém como sente
por Jake, desde a noite do bar. Não queria te aborrecer ou causar mais uma
briga, você está finalmente bem depois de tudo.

Decepção, tristeza, raiva, sarcasmo, cansaço brilham nos olhos de

Mason. Saber que causei isso a quem sempre tentei proteger me dói mais
do que qualquer outra coisa. May se tornou minha base muito rápido,
porque a vida nos quebrou desde muito cedo. Ella e Logan também não
demoraram para tornar tudo mais forte e leal. Sempre me senti segura
estando com eles e colocar isso em risco faz com que eu me sinta fraca.

— Eu sinto muito, May, por ter mentido e causado todos esses


sentimentos ruins dentro de você. Só queria evitar tudo isso. Nunca foi
minha intenção. — limpo as lágrimas que voltam ao meu rosto.

— Sua mentira desnecessária quebrou uma confiança que foi

construída por dez anos. — respira fundo.

Seus ombros despencam e ele apenas olha para mim, cansado.

— Não fala assim. — peço e tento conter o soluço na minha


garganta.

Ele passa por mim, seguindo em direção à porta e eu queria agarrar


sua camisa e chorar no seu colo, mas me sinto anestesiada. Estou
paralisada.

— Até mais, Bee. Espero que ele realmente valha a pena.

Ouço a porta bater atrás de mim e despenco ali mesmo. Cubro o


rosto com as mãos e choro desesperadamente. Já me senti no limite muitas
vezes na vida, mas nunca tão desolada. Lidei com todas as despedidas que
aconteceram na minha vida, mas a sensação de estar perdendo Mason é

devastadora.

Não sei quanto tempo fico no meio da minha sala, mas não existe
mais sol lá fora. Sinto minha garganta seca, meus olhos pesados e a
sensação de que fui atropelada por um caminhão pesa meu corpo. Tomo
banho e tudo que meu cérebro pede é para desligar.

As trinta ligações perdidas de Ella mostram que ela já sabe de tudo.


As mensagens que Logan e a irmã enviaram comprovam ainda mais. Eles
me acolhem, me xingam por não atender ou responder, depois voltam a

dizer que tudo vai ficar bem. E é impossível não sentir um pequeno
quentinho no coração ao ler o quanto Ella não está nada surpresa em
termos nos tornado o casal que obviamente nasceu um para o outro.

Eu não tenho mais certeza de nada.

Logan avisou que tentou conversar com Mason, mas ele apenas
ouviu e se retirou. Sei que deve estar apreensivo com tudo isso, porque na
vida May é o braço direito de Logan para tudo.

Jacob mandou mensagens perguntando se cheguei bem, algum


tempo depois avisou que conferiu e meu voo não tinha caído em nenhum
lugar dos Estados Unidos, mais tarde ele pareceu realmente preocupado,
avisou que ia ligar para a polícia ou para Ella que daria na mesma coisa,
pensou que eu estava o evitando e ligou tantas vezes quanto minha

companheira de banda.

Eu me sinto mal por adorar ter Jake na minha vida, mas só em


pensar na forma como Mason me olhou a vontade de chorar toma conta de
mim. Eu sabia que seria difícil, mas não como essa sensação de um buraco
negro instalado no meu peito, me sugando para dentro de mim mesma até
sumir por completo.
Aviso aos meus amigos que vou ficar bem, mas que preciso ficar
um pouco sozinha agora. Mas mesmo assim tranco a porta do meu quarto,

porque o restante da casa eles tem acesso.

Abro novamente a conversa com Jake e baixo todas as fotos que ele
mandou do nosso dia juntos. Meu coração está pequeno demais, porque
tudo que quero agora são seus braços me envolvendo, mas não consigo

lidar com nada além da minha dor hoje.

“Mason descobriu sobre nós e tivemos uma briga. Estou completamente


acabada, Jake. Eu só preciso sentir tudo isso um pouco, entender o que
está se passando na minha cabeça. Acho que estou me apaixonando
rápido demais por você, Bae. Preciso de um tempo para mim, espero
que entenda.”

Ele fica online imediatamente. Deveria estar jogando o celular de


uma mão para a outra esperando minha resposta chegar.

“Sinto muito por isso ter acontecido da pior maneira, Bae. Tenha o
tempo que precisar, mas não vou deixar você escapar por entre meus
dedos. Demorei demais para te encontrar e sou o melhor em lutar por
aquilo que quero. Se precisar de mim ou só quiser me ver, basta uma
palavra e estarei indo. Sempre voarei até você, Blue.”
“Guarde um beijo para mim esta noite

Espere por mim, sem compromisso

Prometo que não vai demorar

Apenas guarde um pouco do seu amor, querido

Diga que não quer outros lábios além dos meus”

SAVE A KISS | Jessie Ware

Tem exatamente três dias que Blue não responde nenhuma das
minhas mensagens ou ligações, já fui ao inferno e voltei incontáveis vezes
desde então. Ela também não tem falado com Hellen, as mensagens que
trocam são para desmarcar compromissos. Minha fiel companheira é Oli.
Blue conversa com ela todos os dias, mesmo tentando evitar os assuntos
que são sobre mim e a briga com Mason, mas sua avó sempre consegue

colocar curativos nas feridas.

Olívia sempre me diz se ela pareceu melhor e hoje foi um dos dias
que Blue esteve pior. Ela não tem saído da cama e provavelmente não

come direito. Isso está tirando todo o meu juízo. Não consigo ficar parado,
mas estou dando tudo de mim para respeitar seu pedido.

Estou em Nova Iorque, na outra ponta do país, completamente fora


de mim. Desesperado de saudade dela e preocupado demais. Foi por isso
que há uma hora liguei para Luke e contei tudo, pedi para ele ir até o
apartamento de Blue e levar algo para ela comer. Mesmo ainda
assimilando todas as informações, ele fez o que eu pedi, mas agora
também não responde minhas mensagens e estou tendo um colapso.

— O meu novo cunhadinho me ligando. — Ella debocha ao


atender minha ligação.

— Diabinha, você tem notícias dela? — pergunto.

— Eu tento não rir todas as vezes que penso que finalmente vocês
estão juntos. — sorrio. — Ela tem conversado pouco, Jake. Mas Blue
gosta de ficar na sua própria bolha quando está triste. Eu sempre respeito,
mas ela sabe que no quarto dia estou na sua porta e a derrubo se precisar.

— Ótimo, porque mandei Luke até lá, mas preciso de você perto

dela. Não sei quanto tempo consigo ficar longe, odeio não a ver.

Paro de frente a enorme janela de vidro do meu escritório e observo


a vista.

— Você mandou Luke até ela? — Ella gargalha.

— Eu estava desesperado, não pensei direito.

— Blue vai comê-lo vivo. — rimos.

— Bom, ele não me respondeu desde a hora que avisou que estava
na porta, provavelmente ela o jogou pela varanda. — brinco e rimos.

— Sei o quanto deve estar te perturbando se manter longe, Jake.


Mas Blue odeia sentir que machucou um de nós, odeia esconder coisas,
ela sempre é muito transparente e acabou se afundando no buraco que ela
própria cavou. Sei que ela sente muito e entendo suas intenções, mas Blue

se culpa demais.

— Sempre somos nossos piores inimigos. — respiro fundo.

A vontade de ir até ela apenas cresce.

— Por favor, diabinha, fique de olho nela. — peço. — Brigue, a


faça reagir, gritar, colocar o que está sentindo para fora. E não me deixe no
escuro, preciso que ela fique bem.
— Vou te avisando de tudo. Tente acalmar esse coração
apaixonado, bad boy. – ouço os latidos de Olaf no fundo.

— Me dei conta do quanto estou ferrado no momento em que


descobri que odeio ficar sem ouvir a voz dela. — confesso e Ella solta um
gritinho empolgado, me fazendo rir.

— Eu sou a madrinha desse relacionamento, acreditei que ele

aconteceria até mesmo antes de vocês. Me conte como isso aconteceu.

Conto tudo a Ella, desde o início, sobre o anel que deu de presente
a Blue agora também ser meu e todos os acontecimentos desde então. Suas
reações variam em me xingar, nos chamar de burros e amar os outros
momentos. Depois de alguns minutos desligamos e peço mais uma vez que
ela me avise de tudo.

Caminho até o bar e me sirvo do que tem de mais forte entre as


bebidas. O gosto forte do líquido na minha garganta combina exatamente

com o meu estado de espírito. Não aguento mais ficar parado.

Convoco uma reunião de emergência com a Selfish, inclusive com


Dana, Nathan, Cora, Anthony e Joana. Luke continua sem dar notícias e
estou começando a achar que é de propósito. Sky atravessa a porta do
escritório correndo até mim. Pego-a no braço e beijo seu rostinho inocente.

Como uma caravana, eles entram, me cumprimentam e sentam nos


sofás e cadeiras espalhados pela sala. Da mesma forma que a Drops Of

Jupiter está completamente envolvida em tudo isso, sei que minha relação

com Blue também pode afetar a minha banda. Da mesma forma que Logan
e Mason não gostam de mim, algumas das pessoas nessa sala não gostam
de Blue. Esconder sobre nós tem feito ela se afastar de mim, então chega
de mentiras.

— Vou ser bem direto. — começo, ainda com Sky no braço — Eu


e Blue Edwards estamos meio que querendo namorar.

A gargalhada de Damon explode na sala, acompanhada pela cara


de morte que Peter faz, o olhar confuso de Ethan, o sorriso de Dana, as
palminhas animadas de Joana, a irritação de Cora, a expressão
impenetrável de Nathan e o murmurar de Anthony que com certeza está
tentando fazer Sky não ouvir os palavrões que ele fala.

— Que piada ridícula, Collins. — Damon fala se recuperando do

ataque de riso e Peter o olha feio. Ele observa em volta e vê a reação de


todos nós. — Isso não é uma brincadeira? — pergunta sério.

— Essa é a última coisa que imaginei que você falaria, Jake. E para
ser sincero, a pior merda também. — é perceptível a raiva de Peter.

— Você também estão sentindo? — Ethan questiona. — Esse


cheiro de apocalipse se aproximando? — debocha. — Porque com certeza
esse relacionamento vai terminar em confusão.

— Vocês deveriam estar felizes, finalmente Jake encontrou alguém

que o fez pensar em algo sério. — Dana me defende.

— Com a pior megera que ele poderia conhecer. — Peter rebate. —


Tinha que ser a pessoa que mais nos odeia e que ele mais infernizou na
vida? E se isso for uma vingança? Se ela apenas quiser se aproximar para

descobrir algo e nos ferrar?

— Não fale besteira, Peter. — Dani o repreende.

Apenas ouço tudo que eles tem a dizer. Afinal, sei que é algo
inesperado demais e meus amigos sempre são muito intensos em seus
sentimentos e palavras. Todos eles não estão xingando agora porque Sky
está no meu braço, de frente para todos eles, os lembrando que não devem
dizer nada inapropriado ou Dana soca cada um.

— Eu dou três meses para o desejo acabar, eles quase se matarem e

depois voltarem a brigar na mídia. É um relacionamento falido, Jake. É


possível ver seu começo, meio e fim. — Tony diz.

— Bom, eu gosto dela. É bonita, coloca Jake no lugar dele,


talentosa e me tratou super bem. Não tem porque ser tão ruim. E vamos
combinar, qualquer um via que ele estava louco para levá-la para a cama.
— Nathan dá de ombros.
Jojo o repreende por ter falado sobre minhas intenções com Blue e
rio.

— Eu gostaria de entender em que momento todo o seu ódio por


eles sumiu? — Cora pergunta.

Sentir coisas novas por Blue não me fez mudar, continuo o mesmo
cara arrogante e inescrupuloso de antes, ainda seria capaz de tudo aquilo

com qualquer outra pessoa, mas agora magoá-la não é mais uma questão e
isso inclui também não afetar seu trabalho. Claro, eu ainda tenho uma lista
de piadas idiotas e comentários sem graças que irei fazer sobre Mason e
Logan, mas eu jamais magoaria quem ela ama novamente.

— Luke já sabe disso? — Ethan procura saber.

— Eu contei hoje pela manhã, mas não conversamos muito bem


sobre. — afirmo e omito a parte de que ele está na casa de Blue agora.

Todos eles começam a falar sobre o maior erro da minha vida, ao

mesmo tempo, um comenta que logo acabaremos brigando, que vamos


apenas enganar um ao outro, que não confiam no sentimento dela, nem
acreditam que teremos futuro. Dani, Jojo, Dana e Nathan são do time
oposto e falam sobre todas as possibilidades de dar certo e todos pagarem a
língua.

— Eu sou a mãe dele, sabia desde o início, não achei ruim e vocês
estão julgando por quê? — Jojo bate com uma almofada nos meninos e

rio. — Jake está apaixonado pela garota e ela por ele. Vocês são uma

família e não quero ninguém aqui brigando. — os repreende. — Peter não


gosta dela, tudo bem, respeitaremos isso, mas também não a manteremos
longe de nós, aprenderão a conviver. Eles já brigaram a vida inteira, se
tiverem de continuar brigando caso dê errado, não vai mudar em nada do

que já estamos acostumados. Deixem de implicar com o irmão de vocês.


— os bate novamente.

Todos voltam a falar ao mesmo tempo e mando calarem a boca. Me


apoio na mesa e conto pela terceira vez no dia a mesma história, mas falar
sobre Blue me faz perceber que todos os detalhes estão gravados na minha
mente. Todas as imagens dela durante a viagem, cantando pela casa,
dormindo no sofá do hospital, com ciúmes de Penny e sorrio durante toda a
confissão.

— É isso, tudo aconteceu muito rápido e não sei o que acontecerá


daqui para frente. Não sei se ela vai me querer depois de tudo isso, afinal,
não estamos oficialmente namorando. — dou de ombros.

— Mas na sua cabeça vocês já estão namorando. — Ethan ri.

— Ele sempre foi meio emocionado. — Damon debocha e


aproveito que Sky está brincando na cadeira atrás de mim e mostro o dedo
do meio a ele.
— Continuo achando que não vai dar certo. Como Jojo disse, posso
tentar conviver, mas não me peça muito além de educação. — Peter me

olha sério.

— Não dou um mês para vocês estarem completamente cadelas


dela. — afirmo.

Eu definitivamente sei o quanto minha garota é encantadora.

— Eu estou feliz por você. — Dana caminha até mim. — E espero


que tudo fique bem. Sei que somos completamente diferentes dela, mas
podemos nos surpreender, assim como você. Mesmo que os meninos sejam
ridículos, todos nós amamos muito você, Jake e ela te faz feliz, é isso que
importa. — abraço minha pequena parceira e agradeço.

— Bom, sei que você não escuta ninguém além de Dani e Joana,
mas, se você quer essa garota, vá pegá-la, Collins. — Ethan fala.

Ele tem razão. Não posso mais ficar tão longe enquanto Blue está

completamente sozinha.

O celular apita no meu bolso e finalmente o nome de Luke aparece


na tela. Caminho até a varanda e me afasto do barulho para focar toda a
minha atenção no que ele irá mandar.

“Bad Blonde está bêbada e feliz. Sua garota é das minhas, JJ. Nós
comemos sushi, bebemos todas as garrafas japonesas que encontramos

na casa e dançamos em cima do sofá. Não sei como estou conseguindo

mandar essa mensagem, meu segurança vai ter que me levar para casa,
não tenho condições de dirigir.

Se eu fosse você, correria até ela.”

A mensagem chega acompanhada de uma foto deles dois,


descabelados, sorridentes e com uma garrafa nas mãos. Me sinto a porra de
um ferrado por estar sorrindo ao ver o rosto dessa mulher.

Arrumo apenas uma mochila com algumas coisas que trouxe do


apartamento em Los Angeles. Dinheiro, documentos e passagem. O bom
de ser famoso é que, às vezes, as coisas dão certo com mais facilidade,
como por exemplo, conseguir uma poltrona vaga na primeira classe em
menos de duas horas no horário em que os voos estão mais lotados.

Tony me deixou no aeroporto e enquanto o avião não decola disco


o número de Blue na esperança de que ela me atenda pelo menos na
décima tentativa.

— Você é persistente, Collins. — sua voz calma, faz meu coração


pular.

— Preciso te ver. — ela fica quieta do outro lado da linha.


— Jake... — está pronta para negar, mas não consigo ficar longe.

— Estou dentro do avião, apenas te avisando que consegui ficar

todos esses dias o mais distante possível, mas não aguento mais. Não hoje.
Hoje eu preciso ver você, olhar seu rosto e sentir sua respiração no meu
peito. — confesso.

— Você é maluco. — posso sentir o sorriso em sua voz. — Não

demore muito, Collins. Não sou uma mulher paciente, muito menos
quando estou com saudades.

Meu coração erra algumas batidas.

— O mais rápido possível estou aí e iremos jantar, o prato principal


não vai ser nossos corpos gostosos na mesa, isso é a sobremesa. — brinco
e Blue gargalha. Me sinto um vitorioso por fazê-la um pouco feliz diante o
que tem a atormentado. — Mas, antes disso, só quero me sentir um pouco
normal com a minha garota.

Minha voz quebra um pouco, talvez seja o receio de isso tudo ser o
início de algo ou a melhor despedida das nossas vidas.

— Pare de tentar me seduzir com as palavras que leu na traseira


de um caminhão a caminho do aeroporto, Collins. – é a minha vez de
gargalhar. — Apenas chegue logo, Bae.

— Eu estou sempre voando para você, Edwards.


“Segredos que tenho mantido em meu coração

São mais difíceis de esconder do que pensei

Talvez eu só queira ser seu

Eu quero ser seu, eu quero ser seu.”

I WANNA BE YOURS | Arctic Monkeys

MESES ATRÁS

— Eu conheço você. — me aproximo de Demetria e sento ao seu


lado. Eu sei muito bem quem ela é e com cinco minutos de observação, já
percebi que ela e Mason terminaram.

Ela é linda. Doce, cheia de vida, sorriso fácil, olhar jovem e

sonhador, mas um ar sexy a rodeia muito bem e esta noite ela está vestida
para matar Mason White. Bom, pela forma como ele me fuzilou quando
entendeu para onde estava caminhando, ela já atingiu o alvo.

— Entrevistadora. — força um sorriso e leva o copo a boca.

É perceptível sua falta de ânimo. Mesmo que ela tente manter o


olhar forte é possível ver que está chateada com tudo que deve ter
acontecido entre eles.

— Gostosa. — provoco e me aproximo um pouco mais do seu


rosto, toco um fio que tenta cobrir seu rosto. Ela se esquiva do meu toque e
quase rio pela forma que Mason nos observa. Minha visão periférica o
capta muito bem. Hora de matá-lo de vez. Sorrio de lado e aproximo
minha boca da sua orelha. — Eu sei que gosta de rockstars, mas eu fodo

melhor.

Me xingo mentalmente quinhentas vezes por dizer uma merda


dessas a ela, mas tudo está incluso no pacote “provocar Mason até que ele
perca aquele pose falsa de bom moço.”

Me afasto rapidamente e ela me olha com nojo, mas logo sua


expressão mostra que entende o que estou fazendo. Ela sabe minha história
e a do seu namoradinho. É óbvio que ela é a melhor maneira de atingi-lo.

— Não me olha assim. — Mason afasta as pessoas a sua volta e

quero sorrir em vitória. Deus me perdoe por ser tão babaca com essa
garota, porque ela não vai. — Posso te foder aqui mesmo, se quiser.

— Já me fodi o suficiente com alguém como você. — rebate, e


gosto do seu jeito impenetrável.

Ela é inteligente demais para esse conversa idiota e quase sorrio.


Demi é uma boa garota e White seria um idiota se não voltasse para ela.

— Foi tão fácil assim para ele? — provoco, e me olha como se


fosse um maluco. — Você me parecia inteligente, mas ser tão fácil assim...
Devia saber, que ele ia te jogar fora.

Não me surpreende em nada que ele a tenha dispensado na primeira


briga. Mason não se dá o trabalho de batalhar muito pelas coisas, tudo
surge fácil demais para ele.

Pobre garota, merece algo melhor.

— Quem você pensa que é para falar comigo dessa forma? — estou
surpreso e orgulhoso com seu tom forte. Ela está pronta para bater na
minha cara, mas eu sei que mereço depois de fazê-la ouvir tanta merda. A
merda da minha pior atuação, mas provocar Mason sempre é um prazer.

— O homem que pode te foder com um estalar de dedos.


Porque você tem que falar tanta merda, Jacob?

Puta que pariu.

PRESENTE

Antes de encontrar Blue, eu preciso visitar um velho companheiro


de estrada, Mason White. Penso muitas coisas sobre Mason e tudo que vi
sobre ele nos últimos anos não me fazem gostar completamente dele. Mas,
ele é importante para Blue e não quero vê-la sofrendo mais ainda com isso.
Poderia não me envolver na relação deles e se fosse em outra situação,
acredito que não faria, mas descobri que não consigo ver Blue magoada.

Dirijo por entre as ruas largas do condomínio e logo estaciono em


frente a portaria. Dani confirmou para mim que ele ainda morava no
mesmo lugar que eu tinha o endereço, então avisei a Blue que resolveria

algo antes de ir até ela.

Estou a pouco mais de vinte minutos da casa dela e queria correr


para vê-la, mas antes preciso tentar esclarecer alguns assuntos do passado.

As horas de viagem me fizeram pensar em muita coisa que já fiz e


não me arrependo da minha trajetória de brigas com a Drops Of Jupiter
porque teria feito o mesmo com qualquer outro grupo que ameaçasse
minha carreira. O mercado foi da Selfish Hearts por dois anos, estávamos
no topo e os novos talentos que surgiam não eram tão parecidos com o

nosso estilo de música e performance.

Nós começamos a disputar tudo com a Drops, as capas de revistas,


investimentos, as contratações, prêmios e quando o topo começa a ser
dividido alguém uma hora sai dele, porque no trono só cabe um rei e não

seria eu a perder a coroa.

Minha carreira é minha vida. Tudo que conquistei é sagrado nas


minhas mãos, valorizo cada coisa que consegui, o estilo de vida que levo e
o que quero fornecer para quem amo precisa ser mantido. Por mais que
hoje eu seja o grande Jacob Collins, ainda existe em mim todas as
inseguranças e medos do pequeno Jake. Sempre fui esperto por ter que me
virar muito cedo, ninguém me passava a perna na rua ou roubava as
minhas coisas, eu nunca deixava barato, mas isso não significa que eu não

sentia medo do que poderia acontecer ao brigar com aqueles caras ou


dormir entre tantas pessoas estranhas.

Quando a Drops surgiu eu precisei começar a lutar por mim para


que coisas não me fossem tiradas. E tudo bem, esse é o mercado da fama,
mas na Cidade dos Anjos você só precisa de uma palavra para ir a lama.
Um concorrente a altura pode te fazer sumir do mapa. Só a ideia de
começar a perder coisas que conquistei me fez criar uma barreira entre as
duas bandas.

E como alguém que trabalha, entende e vive música, reconheço

todo o potencial que eles tem quanto artistas, mas não vou ficar esperando
ninguém superar o que é meu. O mundo da música é um negócio, cheio de
pessoas cruéis e prontas para te roubar tudo, mas também com gente que
dá a vida para conseguir te fazer brilhar, e você é obrigado a aprender a

lutar por isso desde muito cedo.

Eu faria tudo de novo com alguém que nos ameaçasse, mas isso
não quer dizer que não me arrependo de algumas coisas pelo caminho, é
por isso que estou aqui.

Parei de frente a enorme porta de madeira e toquei a campainha.

— Boa tarde, Sr. Collins. No que posso ajudar? — a segurança que


sempre anda com Mason é quem atende a porta.

Talvez tenha mandando me expulsar da porta mesmo.

— Eu gostaria de falar com... — Demi aparece logo atrás da


mulher. — Você. — aponto para Demetria.

— Pode entrar. — ela tenta ser cordial, mas sei que não está muito
feliz com minha visita.

— Mason está? — acompanho-a até o sofá.

Ela continua exatamente como me lembro, rosto bonito, cabelos


longos, sorriso aberto e doce.

— O que você quer aqui, Collins? — ouço a voz de Mason quando

ele aparece pelo corredor que leva a alguma parte interna da casa.

Demetria indica que eu sente e ocupa uma poltrona quase de frente


para mim, Mason se aproxima e senta no braço do objeto que a namorada
está.

— Primeiro, quero falar com você. — Demi concorda com a


cabeça e me ouve com atenção. — Quero pedir desculpas pela noite do
bar. Sei que passei de todos os limites e por mais que não goste do seu
namorado, não posso direcionar isso a você. Tenho nojo das coisas que
falei para você naquele dia e por mais que tenha sido com uma intenção
ridícula apenas de irritar Mason, eu jamais poderia faltar com o respeito a
você.

Nossos olhos não se desgrudam um segundo e sei que ela acredita

em mim. Me surpreendo pela forma sincera que demonstra acreditar nas


minhas palavras. Reconheço uma boa pessoa quando a vejo, Demi é
alguém assim, mas depois de ouvir o que eu lhe disse, poderia
simplesmente não querer nem me ouvir, muito menos acreditar em mim.

— Nós já tínhamos conversado outra vez Jake e pelo meu trabalho,


sempre acompanhei um pouco de você também. Não posso negar que
naquela noite eu iria socar você se Mason não tivesse chegado. — sorrio e
ela me acompanha. — E sim, me senti desrespeitada e por mais que nada

justifique suas ações no passado, consigo sentir verdade em você.

Mason olha incrédulo para ela, acredito que se perguntando o


porquê ela perdoou tão fácil. É engraçado.

— Me sinto completamente envergonhado pelas merdas que falei e

realmente sinto muito por tudo. Eu não conseguia mais olhar para você
depois daquela noite, quando você foi até minha casa, fiquei
completamente desconcertado. Se existe algo que me arrependo é das
coisas que te falei naquela noite. Minhas mais sinceras desculpas.

Ela sorri.

— Você está com as bochechas vermelhas. — comenta e rimos. —


Nunca pensei que Jacob Collins ficaria envergonhado. Você é fofo. — lá
está o jeito jovem e doce dela. — Desculpas aceitas, contanto que nunca

mais faça algo daquele tipo com ninguém.

— Prometo que não. — ela estica o dedo mindinho para mim e rio,
enlaçando meu dedo no seu. — Promessa de dedinho, segundo Sunny isso
é inquebrável. — rimos.

Mason continua sério todo o momento. Os braços cruzados de


frente ao peito, o olhar de quem só quer que eu vá embora. Ele sabe que
nossos sentimentos são mútuos, mas agora existe algo que nos liga.

— Com você. — me direciono a ele. — Preciso falar sobre Blue.

— Não perca seu tempo, ela já me contou tudo. — demonstra sua


falta de interesse.

— Eu sei que está decepcionado e chateado, mas isso é além de


você. — o olho sério. — Não sei se você tem tido interesse em saber

como ela está, mas parou de me atender por três dias, não come direito e se
trancou em casa desde que você saiu de lá. — ele se mexe no lugar onde
está sentado, visivelmente surpreso e incomodado. — Apenas Olívia fala
com ela e tive que colocar Luke para ficar com ela ontem à tarde porque
não aguentava mais de preocupação.

— Ela aceitou isso com facilidade? — Demi pergunta e sorrio.

— Eu não avisei que ele estava indo, então ele só bateu na porta e
ela o deixou entrar. — dou de ombros. — Digamos que eles são muito

parecidos, então conversaram, beberam e ele conseguiu que ela comesse.

Demi parece mais aliviada em saber que meu péssimo plano deu
certo.

— Eu sabia que seria mais difícil de você aceitar. Blue sabia e ela
estava completamente assustada com sua reação, mas ela sempre quis
falar. Talvez no fundo, ela soubesse que te perderia por me ter na vida
dela. Você melhor do que ninguém sabe o quanto Blue te ama e o quanto é
importante na vida dela. Ela sempre tem algo bonito ou engraçado para

comentar sobre você e é involuntário, só porque ela quer compartilhar


coisas sobre a pessoa que ama. Bati todos esses anos na tecla de que já
tinham dormido juntos porque a conexão entre vocês é forte a ponto de
qualquer pessoa no mundo perceber.

— Esse assunto não é seu, Collins. — tenta encerrar a conversa.

É perceptível que minhas palavras balançam algo dentro dele, seus


olhos desviam rapidamente dos meus, não por querer ignorar o que estou
falando, mas porque ele está sentindo falta dela e falar sobre isso dói.

— Você tem que desculpá-la, porque vocês dois estão quebrados


um sem o outro. Tudo bem não gostar de mim, eu nunca fui com a sua cara
também, mas não deixe isso interferir na sua relação com Blue. Eu
descobri que na vida devemos manter nosso orgulho intacto para aqueles

que merecem. Pense sobre isso, sobre quem ela é na sua vida e o que
representa a amizade de anos que está sendo desfeita por algo simples. —
levanto do sofá.

— Se eu mandasse você se afastar dela, o que você faria? —


questiona e rio.

— Minha resposta não seria nem um pouco educada. — ele


concorda com a cabeça. — E se você se afastar dela por algo assim, vai
estar cometendo um grande erro e só me provando que você é o babaca

que acredito ser. — dou de ombros. — Não me surpreenderia, mas


acabaria com Blue, e é aí onde mora o problema.

— Não sou mais passivo em relação as suas merdas, então espero


muito estar errado sobre tudo que acredito em relação a vocês juntos.

Porém, um único aviso, se isso for uma das suas armações ou qualquer
caralho do tipo, vou destruir você e isso é uma promessa.

— Pode esconder as garras, tigrão. Se sou sincero em relação a


alguma coisa é sobre aquela mulher. — Demi tenta esconder o sorrisinho
empolgado, mas ainda consigo ver.

Demi me acompanha até a porta e se despede com um aceno. Dou


partida no carro e vou ao meu destino. Dirijo pelas ruas movimentadas da
cidade e me arrependo por não ter usado o motorista, o trânsito está

caótico, parece que soltaram as piores pessoas na direção para testar a


validade da minha carteira.

Subo rapidamente até Blue, dou três toques na sua porta e a ouço se
aproximar. Está com um vestido azul curto da cor do céu, com alças finas e
um decote bonito, combinando com o cabelo preso, a falta de maquiagem,
pés descalços e o sorriso lindo que ela me dá.
Se eu não precisasse tanto de um banho, a tomaria nesse segundo.

— Querida, cheguei. — brinco e ela sorri.

Puxo-a para um abraço apertado e sinto seu corpo relaxar contra o


meu. Os braços circulando meu pescoço e os meus envolvendo sua cintura.
O perfume que me hipnotiza, os lugares que se encaixam, a forma como
meu coração parece soltar uma tonelada só em tê-la aqui.

— Você demorou. Avisou que tinha chegado há quase uma hora.


— entro no apartamento.

Tudo continua do mesmo jeito que me lembro e a sensação de


familiaridade com o local me faz aquecer.

— Fui me desculpar com Demi. — seus olhos claros e curiosos


brilham para mim. — Também conversei um pouco com Mason.

— Como ele está? — pergunta, preocupada.

— Segurando uma armadura para não atravessarem e tentando

esconder que está tão abalado quanto você. Mas eu sou ótimo em cutucá-lo
nos lugares certos. — pisco para ela, que sorri.

Blue sabe que se existe alguém capaz de tirar Mason do sério, sou
eu.

— Preciso daquele seu ótimo chuveiro, sua escova de dente rosa e


um beijo quente da minha garota, exatamente nessa ordem — ela revira os
olhos achando engraçado

Faço exatamente isso, visto uma das roupas que trouxe na mochila

e volto para ela, que está montando sanduíches na bancada da cozinha.

Blue continua sendo a coisa mais linda que já vi, mas percebo a
mancha escura debaixo dos seus olhos e seu rosto abatido, os olhos
pesados de cansaço ou muito choro, e eu só quero conseguir arrancar tudo

isso dela.

Paro no meio do corredor, quando a porta do apartamento abre e


Logan entra.

— Eu tô sabendo que teve cobra circulando nesse território e


cheguei pra dedetizar. — Blue se estica sobre o balcão e parece feliz em
vê-lo.

Mas Logan não se dá conta da minha presença até chegar perto de


Blue e ela apontar com a cabeça em minha direção. Ele me olha e faz uma

cara de desgosto cômica, sorrio com a melhor expressão de deboche que


consigo.

— Suas novas companhias são péssimas, Bluezinha. — vai até


Blue e a abraça, beija seu rosto diversas vezes, a fazendo sorrir e tentar sair
de seus braços. — Como você está?

— Com saudades das suas visitas. — ela sorri para ele, que parece
ter ganhado um prêmio, abraçando-o mais uma vez.

Sento em uma das banquetas e Logan ocupa o lugar ao meu lado.

Pego um dos pães que Blue preparou, mas antes que consiga morder,
Logan o arranca da minha mão.

— Você não tem o direito de comer agora, cobra peçonhenta.


Primeiro, quais são as suas intenções com a minha amiga? — pergunta e

morde o sanduíche que roubou da minha mão.

Blue gargalha e depois o repreende por ter tomado o lanche de


mim.

— Eu realmente preciso me comunicar com ele? — pergunto a


Blue e ela concorda com a cabeça, adorando a situação. — As melhores
possíveis, cabeludo. Mas, uma dica, se você não aprender a bater vai me
ver nu pelo menos três vezes por semana.

Logan gargalha.

— Você que esconda essa sua bunda branca, eu não vou ter regras
por sua causa. Aliás, eu cheguei primeiro, então o lugar da janelinha é
meu, você que se adapte. — Blue está segurando o riso e tomo o pão de
volta da sua mão.

Consigo dar uma mordida e Logan o rouba de novo.

— As regras são claras, garotos. Jake, Logan não precisa avisar que
vem até a minha casa. Logan, quando Jake estiver aqui eu te aviso e você
entra de olhos fechados apenas para não ter o risco de ver minhas partes

íntimas. – concordamos a contragosto, mas é ela quem manda.

Blue prepara outro sanduíche para mim e um para ela. Comemos e


conversamos sobre as vezes que nos encontramos nos lugares, as
discussões e os eventos patéticos que participamos.

— Você me roubou o caralho da campanha de final de ano da


Calvin Klein. — Logan come outro pedaço do pão, indignado.

— É que eu sou mais bonito. — falo tranquilamente e ele vira a


cabeça em minha direção em câmera lenta. Se fôssemos um pouco mais
jovens, tenho certeza que ele jogaria o pão na minha cara. — Cara, é
simples, nada supera um cabelo escuro, olhos misteriosos, tatuagens,
abdômen sarado, sexy simbol, bad boy e a fama de rebelde.

— A única coisa que você tem é cara de mau caráter. — diz e rio.

— Vocês com certeza têm a idade mental de uma criança de dez


anos. — Blue fala.

Eu lavo os pratos enquanto Logan enxuga e guarda. Blue apenas


nos observa e ela já parece bem mais animada. Assistimos um filme e um
dos encontros de Logan o solicita, só assim ele vai embora. Já estava
jurando que dividiríamos a cama para três pessoas dormirem hoje à noite.
— O que é isso que nós temos? — pergunto, fazendo carinho em
seu cabelo.

Ela está deitada no meu peito, me olhando surpresa pela pergunta.

— Você quer um rótulo, Collins? — sorri.

— Eu quero que nós não vejamos outras pessoas. — sou sincero.


— E se caso você quiser um rótulo, não vou me opor.

— Se isso foi um pedido de namoro, foi péssimo. — rimos. — Mas


eu também não quero que você veja outras pessoas.

— Então o primeiro passo para um namoro oficial nós já tomamos.


O que vem agora? — ela desenha minhas tatuagens com a unha.

— Um pedido de verdade. — observo seu rosto bonito.

— Então Blue Edwards se derrete com corações, chocolates e


flores? — provoco.

— Eu sou inabalável, Collins. — revira os olhos. — Essas coisas


não me seduzem, então sugiro que pense em algo bem a minha cara.
Afinal, não digo sim a todo mundo. — rio alto.

— Sabe, Bae, pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas. Às


vezes com um único toque nas mãos. — enlaço nossos dedos.

— Você está citando Ed Sheeran para mim? — me olha com


estranheza e gargalhamos.
E ela tem razão, eu estava citando uma das músicas mais
românticas que conheço para ela, mas nós somos iguais o suficiente para

acharmos isso pateticamente fofo. Eu não sei como não percebi antes, mas
Blue é meu encaixe perfeito. Ela sempre vai ser arisca, debochada, dura,
vingativa, continuará guardando rancor, mas também tem o coração mais
doce e bonito que já tive o prazer de estar.

É estranho e incrível entender que Blue Edwards é a minha garota.

Dormimos tranquilamente, completamente agarrados um ao outro.


Sentir que Blue não estava cogitando a ideia de acabar com o que tínhamos
me tranquilizou, porque tudo que eu quero é continuar assim, vivendo uma
boa vida ao lado dela.

Encontro-a vestida com a minha camisa da viagem, se servindo de


um café quente. Só tenho tempo de sorrir para ela e o celular toca em
minha mão, o nome de Dani brilha.

— Bom dia, Dan. — falo ao atender.

— Você ainda não viu o caralho das notícias, não é? — ele está
com raiva, conheço Dani o suficiente para saber que está fora de si nesse
momento.

— O que aconteceu? — pergunto preocupado.

— Ligue a tv. — pede e faço exatamente isso.


Blue me olha questionando o que até acontecendo. Mas meu
mundo explode no exato momento em que minha foto aparece atrás da

jornalista do noticiário da manhã.

“O famoso cantor de rock, Jacob Collins, está sendo acusado de manter


a mãe biológica presa em uma casa de reabilitação por cinco anos.”
“Ontem

Todos os meus problemas pareciam tão distantes

Agora parece que eles vieram para ficar

Oh, eu acredito no dia de ontem

De repente

Eu não sou metade do homem que costumava ser

Existe uma sombra pairando sobre mim”

YESTERDAY | The Beatles

— Dani, como caralho isso foi acontecer? — grito no celular.


— Estou tentando descobrir quem vendeu, mas mantemos isso
debaixo de todos os panos quentes e não imagino como podem ter

descoberto agora. — fala do outro lado da linha. — Os meninos estão


pousando em L.A. em vinte minutos, não devem estar sabendo de nada
ainda.

Sinto a mão de Blue segurar a minha e me dou conta de que ela

está ao meu lado. Olha com atenção para tudo que o jornal fala sobre mim.

— Quem inventou a porra dessa mentira? Não acredito que isso


aconteceu. — tudo que sinto é ódio.

Minha cabeça está a mil, milhares de pensamentos confusos, a


raiva tomando meu sangue. Vejo vermelho a cada mentira que sai da boca
da mulher na televisão. Eu poderia destruir alguém com minhas próprias
mãos.

As únicas pessoas que sabem os detalhes sobre Aimee são os meus

amigos e minha família. Eu confio cegamente em cada um deles e sei que


nenhum falaria algo. Nem por brincadeira ou na nossa pior briga, eles
jamais citariam Aimee para alguém.

Penso em todos os nomes possíveis, os lugares que já estive, pistas


que posso ter deixado, alguém que pudesse estar com raiva de mim.

Blue desliga a televisão, visivelmente chateada e preocupada, então


o estalo vem.

Mason White.

— Você falou com Mason sobre minha mãe? — questiono e me


olha confusa. — Vocês aramaram isso juntos?

— Sério que você está supondo isso? — ela parece ter sido atingida
por um meteoro. Seus olhos me analisam com descrença e surpresa.

— As únicas pessoas que têm motivos para querer me ferrar de


alguma forma são vocês. Ele está puto por estarmos namorando, pelo o que
falei com Demi, por tudo. É a única pessoa possível. — afirmo. — Por
que não foi você não é, Blue? Porque não quero acreditar que foi você.

Sua expressão se fecha e ela me olha séria, mas quase assustada.

— Bae, não perca a sua consciência, isso é a raiva falando por


você. Eu vou ignorar a última coisa que falou para não piorar tudo isso. É
claro que Mason jamais faria algo assim. — o defende mais uma vez.

— E você, faria? — pergunto mais uma vez.

Ela seria uma das opções de pessoas que poderiam ter deixado algo
escapar ou ter vendido a denúncia, afinal, nos odiamos muito mais tempo
do que nos amamos, mas meu coração não consegue acreditar que ela faria
algo assim. Mesmo que o pior lado de mim quisesse me convencer que ela
fez isso, eu não consigo acreditar.
— Você falou ou não falou sobre isso com ele, Blue? — mantenho
meu tom de voz calmo, porém firme.

— Eu apenas comentei que você estava com problemas com sua


mãe no dia em que nos encontramos na camarim, nada além. Era
impossível ele ter descoberto sobre isso e muito menos usar contra você.
— ela confia nele, eu não.

Tinha que ser a pessoa que mais nos odeia e que ele mais
infernizou na vida? E se isso for uma vingança? Se ela apenas quiser se
aproximar para descobrir algo e nos ferrar?

As palavras de Peter gritam na minha mente repetidas vezes. A


metade de mim que não está tomada pelo ódio, minha parte racional,
acredita que Blue não teria coragem de agir contra mim, não depois de
tudo. Mas não posso esquecer que ela não era a única que queria vingança
nessa história.

Confiei em Mason por um segundo, um mísero segundo. A única


pessoa que poderia fazer isso é ele. Eu sou a prova viva de que uma
informação, por mínima que seja, pode ser cavada a fundo. O dinheiro
paga quase tudo, e fofoca é a principal delas.

Por um segundo, cogitei a ideia de que Mason não era tão falso e
manipulador, não era tudo que eu acreditava que ele realmente fosse.
— Jake, não faz isso. — Blue pede, se aproximando de mim. —
Não vá por esse caminho, por favor.

Aperto o celular com força entre os dedos e percebo que Dani ainda
está falando no meu ouvido, mas eu não estou escutando nada além dos
meus pensamentos. Encerro a ligação sem me despedir e quero jogar essa
merda na parede.

— Ele nunca gostou de mim. — falo para ela. — Você nunca


gostou de mim. As pessoas não costumam me amar, Blue, e não me
surpreenderia se você fosse mais uma dessa lista.

A cada palavra vejo seu coração partir, mas ela continua aqui.
Tentando me fazer enxergar o lado certo das coisas.

— Jake, nós não gostávamos de você porque nos decepcionamos


com suas atitudes. — ela segura meus braços para que eu pare de andar
pela sala e me concentre no que vai falar. — Desde que assinamos com a

gravadora nós falamos sobre o dia que te conheceríamos. Você sempre foi
um fenômeno, Bae. Mason adorava suas músicas, seu jeito e te admirava
demais. Nós cantávamos suas letras no carro. — ela sorri, mas eu apenas
consigo continuar petrificado.

As informações de Blue não me ajudam muito agora, só faz mais


coisas serem adicionadas na minha cabeça. Mais coisas para digerir.
Inclusive o quanto sou um merda em relação a todos eles, a mim, a Selfish
Hearts, a Aimee.

— Na nossa primeira visita, soubemos que você estava lá. Nós


éramos adolescentes, você um pouco mais velho. E você entrou com todo
esse ar de dono do mundo, que realmente faz com que acreditemos que
você é. Mas você já nos conhecia e não quis falar com a gente, nos deixou

plantados na sala e saiu. Mason ficou totalmente decepcionado e


desapontado, e eu te achei um babaca.

— E isso continuou porque eu continuei tratando vocês de uma


forma inesperada? — rio sem humor. — Porque sempre o malvado do Jake
é quem começa todas as porras das coisas. — dou de ombros.

— Bae, não. — ela segura meu rosto entre as mãos. — Eu estou


dizendo que todas essas coisas se tornam banais diante de algo tão sério.
Envolveram sua família, é uma acusação que pode te levar para a cadeia,

Mason jamais faria algo tão sério. Eu jamais faria algo assim. Eu sei, fui a
última pessoa que tive acesso a história, em uma linha lógica, seria eu
quem soltou essa merda, mas não foi, Jake, não foi. Duvide de tudo, menos
do meu amor e da minha lealdade, por favor. — pede, mas eu já estou
perdido demais na minha confusão.

Ela não sabe, mas tudo que eu quero é acreditar que tem razão, que
ninguém relacionado a ela poderia ter feito isso. Que ela não fez nada,
mesmo todos os meu demônios mostrando todos os caminhos que ela pode

ter seguido. Mas como ela disse, eles são a única opção óbvia para isso.

Blue jamais desconfiaria de Mason e minha raiva cresce mais porque não
sei se ela me defenderia tanto assim caso seu amigo estivesse me acusando
de algo.

— Sinceramente, Blue. Não me importo com quem quer que tenha

feito essa merda, mas eu vou achá-lo e vou acabar com a vida dele. — tiro
suas mãos do meu rosto e me afasto.

Vou até o quarto e ouço seus passos atrás de mim pelo corredor.
Pego minha roupa espalhada pelo chão e visto o mais rápido possível.
Pego minha mochila e a chave do carro.

A mão de Blue pousa sobre a minha, tentando alcançar a chave do


carro. Ela está assustada e seu rosto mostra toda a tensão e a incerteza
diante tudo isso. Ela só me viu no inferno uma vez e Aimee sempre é a

causadora disso.

— Você não vai sair daqui desse jeito. — sua voz é quase uma
ordem, mas seus olhos desesperados e as mãos geladas mostram sua
preocupação.

— Sinto muito, mas não vou ficar aqui parado enquanto tentam me
enfiar na lama. — meu celular volta a tocar e vejo o nome de Dani.
— Por favor, por mim, esfrie a cabeça aqui e nós iremos encontrar
quem fez isso juntos. — pede mais uma vez.

— Nesse momento, eu não confio em ninguém e se continuarmos


aqui, nenhum de nós sairá bem. — puxo minha mão da sua. — Não se
envolva na minha merda, Blue. Não vou sujá-la com isso. — não dou
tempo para que ela tente me convencer mais uma vez.

Atendo a ligação de Dani no elevador, ele me avisa para não ir até


minha casa, porque todas as entradas e saídas estão lotadas de jornalistas e
fofoqueiros. As notícias não param de chegar, pessoas mandando
mensagem sobre o assunto e Blue me pedindo para voltar para casa.

Eu preciso descobrir quem fez essa merda. Soco o volante


incontáveis vezes e apenas piso no acelerador ao sair do estacionamento do
seu prédio. Ainda é cedo, então a estrada está livre o suficiente para correr
um pouco mais. Não sei para onde estou indo, só quero sumir.

Se as pessoas souberem da história de Aimee vão relacionar todo


um passado mantido longe da mídia. Os tabloides adoram expor minhas
conquistas, minhas noitadas e possíveis namoradas, mas nada é mais
encantador para eles quando faço algo errado. Estou no mercado há muitos
anos e não me envolvo em muitas polêmicas novas, então todos cairão em
cima disso como nunca.
Blue tem razão, essa história pode me colocar na cadeia e quem fez
isso com certeza queria o fim da minha vida. Mason não seria baixo assim,

mesmo com toda a raiva.

Ou seria?

Não sei mais o que pensar ou acreditar. Minha mente é apenas um


borrão, cheio de ideias soltas e uma confusão que só parece me envolver

mais ainda.

Vejo a foto de Blue sumir na tela do meu celular, uma ligação


perdida. Lembrar da forma como ela está assustada, tira minhas forças.
Posso estar descontrolado, mas ela é meu eixo. Não posso mais
simplesmente gritar, sair de mim e não entender o que está acontecendo e o
que posso fazer para mudar isso.

Alcanço o celular e tento ligar para ela, mas cai direto na caixa
postal.

Ela não me trairia. Blue não faria isso, não ela. Desde o início sei
que somos completamente diferentes, que nossas formas de lidar com
vingança e raiva são opostas. Ela me ama e disse isso com todas as letras.
Eu não posso afastá-la quando tudo que preciso é dela ao meu lado.

Soco o volante mais uma vez e pego o celular.

— Sinto muito por ter te acusado, Blue. Eu estou sem chão, não
estou pensando direito. Mas seria muito patético se não visse o quão burro
estou sendo de manter você longe. Eu não sei o que é ter alguém que

caminhe comigo, Bae, me desculpe por acusar você. Estou chegando ao


retorno que volta para sua casa, chego em poucos minutos. Amo você!

Porque não importa o que aconteça ou quem tenha sido o culpado,


Blue não tem nada a ver com isso e estou voltando para ela.

O atalho para a pista que retorna a sua casa é logo a frente, então
diminuo a velocidade ao passar no cruzamento. E então, sinto o impacto
contra a lateral do carro de repente, o vidro se estilhaçando e sinto meu
corpo travar com o cinto, o carro roda pela pista e então tudo se apaga.
“Homens sábios dizem

Que só os tolos se apaixonam

Mas eu não consigo evitar

Me apaixonar por você

Eu devo ficar?

Seria um pecado se eu

não consigo evitar me

apaixonar por você?”

CAN’T HELP FALLING IN LOVE | Elvis Presley


Empurro as portas do hospital e corro até a recepção. O chão
parece flutuar debaixo dos meus pés, como se a qualquer momento eu

pisasse em falso e despencasse ali mesmo.

Quando Demi e Heather bateram na minha porta, eu não entendi


nada. Pensei que ela estava ali por conta da minha situação com Mason,
mas quando ela me pediu calma e disse que Mason estava levando Jake

para a emergência, senti meu mundo parar.

No caminho até aqui vi a notificação da sua mensagem de voz. Ele


estava voltando para mim. Ele estava indo me encontrar.

O rádio já não falava mais apenas das acusações sobre Aimee, mas
também sobre o fatídico acidente que envolveu o cantor Jacob Collins essa
manhã. Porque os abutres não cansam de voar sobre a desgraça dos outros.

— Eu preciso saber qual o quarto de Jacob Collins. — peço a


recepcionista. — Sou a namorada dele, quero vê-lo agora.

Os olhos da mulher se arregalam, porque é óbvio que ela sabe


quem nós somos.

A moça nos passa a informação a contragosto, mas provavelmente


eu a atacaria se me proibisse de entrar. Jonathan e Heather nos conduzem
pelos corredores e elevador. Uma barricada com seguranças está fechando
todo o andar, provavelmente o hospital proibiu o acesso de qualquer
pessoa que não fosse da equipe médica ou dos familiares.

Eu só preciso saber se ele está bem, apenas isso. Eu só quero que

ele esteja bem. Limpo a lágrima solitária que desce pelo meu rosto e Demi
segura minha mão.

— Vai ficar tudo bem, Blue. Mason teria nos avisado se fosse
muito grave. — concordo com a cabeça.

— Para onde vocês estavam indo? — pergunto, porque na minha


cabeça ainda é uma coincidência incrível que eles estivessem no mesmo
lugar, ao mesmo tempo.

— Nós estávamos a caminho da sua casa. Depois que Jake foi até
nós, Mason ficou muito pensativo e preocupado. E também porque não
estava aguentando de saudade de você. — sorrio. — Se ele me perdoou,
Blue, é óbvio que perdoaria você também. Mason queria conversar com
você com calma.

Não consigo responder porque as portas se abrem.

Luke, Peter, Ethan e Damon estão espalhados pelo corredor, mas


ver Mason se levantando ao olhar para mim faz meu mundo ruir. O soluço
escapa pela minha garganta e ele me pega antes que minhas pernas percam
as forças.

— Ele está bem, Bee. — Mason sussurra em meu ouvido, enquanto


embala meu corpo.

— Você o ajudou. — afirmo, entre as lágrimas.

— Ele passou pelo nosso carro em alta velocidade, chamou atenção


de todos. O carro que Jake dirige é tão discreto quanto ele, então já atraía
olhares por si só. — tenta me fazer sorrir e tem razão, o conversível
vermelho de Jake é lindo. — Ele diminuiu quando se aproximou do

cruzamento, mas alguém atravessou no momento errado e colidiu com ele.


— o aperto ainda mais e choro ao imaginar a cena.

— Ele estava voltando pra mim. — soluço.

— Entre os momentos de consciência no caminho, ele chamou por


você. — reconheço a surpresa em sua voz. — De início não sabíamos que
era ele, mas Heather pulou do carro para chamar a ambulância e quando vi
sua cara de surpresa ao reconhecê-lo desci, porque sabia que conhecíamos
a pessoa ali. O vidro do lado onde ele estava virou pó, ele estava de cinto,

mas o carro amassou e prendeu seu braço, ele estava desacordado. Quando
avisamos que era ele, a ambulância chegou rapidamente, Demi ligou para
Florence e pediu o número de Peter enquanto eu ligava para Michael e
pedi para avisar Dani. O motorista fugiu na hora.

Mason continua e me leva até as cadeiras que ficam no corredor,


mas quando olho para os olhos marejados de Luke, caminho até ele e o
abraço. É estranho olhar para aqueles homens bonitos demais, com cara de
mau e que sempre odiei e perceber que agora eles começaram a fazer parte

da minha vida. Fora Luke, que já conquistou meu coração e se tornou um


bom amigo, os outros são estranhos, mas são a família de Jake e
possivelmente se tornaram a minha também.

— Ele é duro na queda. — Luke fala.

— Não é um idiota que arrumou a carta em um esgoto que vai


pará-lo. — Peter afirma e sorrio para ele.

— Quando ele acordar e se der conta que estragaram aquele carro,


vai ferver de raiva. — Damon comenta.

Ethan estica o braço e alcança meu rosto, limpando minha lágrima,


o que me faz querer chorar mais ainda. Esse é o momento que colocamos
cinco anos de briga de lado e aceitamos que agora temos algo muito mais
importante que nos une. Sorrio para ele em agradecimento.

— Eu vou matá-lo antes disso só pelo susto que está me fazendo


passar. — afirmo e eles sorriem.

Volto até Mason e Demi, que nos observam. Meu segurança está
conversando com a equipe de Jake e do hospital, provavelmente se
informando sobre algo para ficar atento a minha segurança principalmente.

— Vou pegar água para vocês. — Heather avisa e se afasta até o


bebedouro.

— Você veio com ele na ambulância? — pergunto a Mason.

— Preferi que Demi fosse buscar você e eu ficaria de olho nele. Os


socorristas viram que seus sinais vitais estavam bons, mesmo ele estando
desacordado. Por um milagre, o carro não colidiu diretamente na porta do
motorista, pegou muito mais a traseira, Jake quebrou o braço e teve alguns

ferimentos, mas nada grave. Ele ainda está desacordado, segundo o médico
é o efeito do susto, do impacto e dos medicamentos que está tomando, mas
não teve nenhum trauma na cabeça. — explica e consigo respirar mais
aliviada.

— Os médicos estão fazendo alguns exames e logo será liberado


para você vê-lo. — Demi me tranquiliza.

Ella avisa que já está chegando, porque precisou deixar Sunny na


casa da tia antes de vir e Logan diz que está entrando no hospital. Demi e

Mason continuam sentados comigo, ela segurando minha mão e ele


abraçando meu ombro.

Mason prende meu cabelo atrás da orelha e olho para ele. A última
vez que nos encontramos seu rosto estava cheio de raiva, mas agora ele me
olha preocupado. Sei que ele está magoado, mas nada é maior do que o
amor e cuidado que temos um com o outro.
— Você o ama, não é? — pergunta e sorrio.

— Mais do que achei que seria possível. — ele concorda e seus

olhos alcançam Demi atrás de mim.

— Sei que não temos como controlar essas coisas, Bee. E não
quero que você tente se privar do que está sentindo por Jake. Se existe
alguém no mundo capaz de lidar com ele, esse alguém é você. — rimos. —

Eu vi o quanto ele te ama quando bateu na minha porta para dizer que eu
estava errado sobre você. Não prometo conseguir ser amigo dele, mas
quero tentar ter uma relação saudável, por você. Porque se você o ama, ele
não deve ser só o bosta que acredito que seja. — não consigo evitar sorrir.

— Então você me desculpa? — meus olhos se enchem novamente.

— Eu não consigo viver sem você, Bee. — o abraço e choro mais


uma vez.

— Que bom, porque eu também não sei viver sem você.

Logan passa pelos seguranças e vem até nós. Nos abraça e a


contragosto o obrigo a cumprimentar os meninos da Selfish. Não demora
muito pra Ella entrar, tão preocupada quanto o restante de nós. Conto
como tudo aconteceu e ela vai até Peter e seus amigos.

Quase uma hora se passou e os meninos se sentaram pelo chão do


corredor, já vimos médicos e enfermeiros saírem e entrarem diversas vezes
no quarto, mas não dizem muita coisa além de que ele precisa descansar.

Informam que Jake acordou e podemos entrar sem muita agitação.

O pedido é completamente ignorado, porque os meninos da Selfish quase


se atropelam e entram no quarto. Levanto com uma calma que não sabia
que existia em mim, acho que minhas pernas não tem mais forças e eu
estou começando a sentir todo o peso dessa situação.

Me apoio na porta do quarto e sinto uma tonelada sair dos meus


pulmões, é como se finalmente conseguisse respirar. Seu braço está com
um gesso enorme, sua perna tem grandes curativos e seus rosto tem
pequenos cortes.

— Você é a porra da melhor visão, Edwards. — xinga e os


meninos reviram os olhos, me fazendo rir.

— Achou que era o Superman, Collins? — brinco e o sorriso


cafajeste surge em seu rosto.

— Acho que o motorista do outro carro deve ter pensado, não o


culpo, deve ter confundido pela beleza. — sorrio e me aproximo dele.

Passo a mão em seu cabelo e analiso com cuidado seu rosto, para
ter certeza que nada mais está quebrado ou machucado. Ele me olha com
adoração e sei que correspondo.

— Você me assustou. — falo, tentando segurar a emoção em meu


peito.

— Não vai se livrar de mim tão fácil, Bae. — encosto nossos lábios

com cuidado.

— Que bom, porque eu vou buscar você no inferno se morrer antes


de dizer que me ama de maneira digna. — gargalha.

Todos estão parados, apenas nos olhando, alguns achando aquilo

super estranho e outros adorando o que estão vendo, como por exemplo,
Ella e Luke.

— Vocês são insuportáveis. — Peter fala e gargalhamos.

— Tenho que concordar. — Logan diz da porta. — Patéticos. E


você ainda não viu quando eles estão juntos em casa. Se olham como
adolescentes de doze anos. — faz cara de nojo.

— Eu nasci para ver o dia que Peter vai se apaixonar por alguém e
se enforcar com a própria língua. — Luke cruza os braços de frente ao

corpo e olha para o amigo.

— Bom, deveríamos fazer uma aposta de qual deles vai cair


primeiro, porque não vejo a hora de ver o quanto Logan vai ser um
capacho quando se apaixonar. — Ella propõem.

— Eu já estou dentro. — Jake levanta a mão boa e Ella completa o


cumprimento. — Aposto duzentos dólares que Peter se apaixona primeiro.
— o sorriso que lança para o amigo significa algo que logo mais irei o
obrigar a me contar.

Por um breve momento, vejo todos eles interagindo e conversando


sobre as possibilidades. Logan diz que isso vai dar azar na vida dele e
Peter xinga a cada aposta alta em seu nome. O quarto está cheio, pessoas
conversando por todo lado e sei que essa confusão é o que viveremos

daqui para frente, mas meu coração se aquece com a imagem que até
ontem seria impossível de acontecer.

Volto minha atenção para Jake e ele está me observando.

— Sei que não foi você, me desculpe. Eu estava fora de mim. Mas
esse sou eu, Blue. Essa confusão, essa explosão, essa fragilidade, mas eu
prometo, com a minha vida, que jamais desconfiarei de você de novo. Me
senti entrando em colapso, metade gritava que poderia ter sido você e a
outra me dizia que era óbvio que não, eu só estava perdido demais dentro

de mim. — beijo seus lábios novamente.

— Tudo bem, eu entendo sua confusão e compreendo que foi algo


forte demais para lidar. Desculpo você e confio na sua promessa. Vamos
procurar quem fez isso e o faremos pagar por sua mentira. — ele concorda
e o beijo mais uma vez.

Uma enfermeira briga pelo barulho que estamos fazendo e expulsa


metade dos nossos amigos do quarto.

— Mason. — Jake chama antes que ele saia. May olha em sua

direção, mas não se aproxima muito. — Obrigado, por ter me ajudado.


Hoje duvidei de você, mas acho que o destino me provou que não é tão
ruim quanto penso.

— Continuo não gostando de você, mas nós aprenderemos a

conviver. E não precisa agradecer, faria isso por qualquer pessoa. — dá um


leve sorriso e nos deixa sozinhos.

Acho que Jake tem razão, o destino tem nos mostrado muita coisa.
Mostrando que todos esses anos de ódio e brigas só existiram para que nós
pudéssemos descobrir que somos um do outro, que eu perderia meu anel
na sua casa e hoje ele seria nosso amuleto da sorte. Que tudo só colaborou
para que hoje nós estivéssemos apaixonados.

No dicionário de Oxford, destino significa tudo que é determinado

pela providência ou pelas leis naturais, seja por sorte, fado ou fortuna.
Também pode significar o que há de vir, de acontecer, futuro. Um objetivo
ou fim para o qual se reserva algo. Local onde alguém vai; direção, meta,
rumo.

Eu não sei por que meios Jacob Collins cruzou meu caminho, se foi
uma providência divina, algo da natureza, pura sorte ou algo que
simplesmente aconteceu. A única coisa que sei é que o quero para sempre.
“Deixe o céu cair

Quando desmoronar

Estaremos de pé orgulhosos

E iremos encarar tudo juntos”

SKYFALL | Adele

Convenci Blue de dormir na cama comigo, não que sobrasse muito


espaço, mas eu sinto falta do seu toque a cada segundo. Me sinto um idiota
por ter desconfiado dela, mesmo que tenha sido um lapso de consciência e
eu estando fora de mim, nada justifica. Isso nunca mais vai acontecer.

Luke e Damon dormem no sofá do quarto, Peter e Ethan revezaram

a poltrona a noite inteira, mas não saíram de perto de mim em nenhum


momento. Não importa para onde eu vá ou quem eu seja, sempre terei eles
ao meu lado.

Ella voltou para casa, mas me ligou umas três vezes antes de

dormir para saber se realmente estou bem. Demi e Mason ficaram até
tarde, mas quando se certificaram que Blue ficaria bem, partiram. Logan
ainda conversou conosco por algum tempo, fizeram o segurança de Blue ir
comprar pizza para jantarem, discutiram sobre o jogo de basquete e
arrumaram um violão dos projetos que existem no hospital e tocaram até
brigarem, ameaçando proibir todo mundo de me ver.

— Como você está se sentindo? — Blue pergunta e se ajeita,


deitando mais para cima na cama e ficando com rosto bem de frente ao

meu.

— Meu braço está começando a incomodar, provavelmente o efeito


do remédio passando. Mas me sinto bem. — eu queria tocá-la, mas
estamos espremidos em um espaço pequeno meu único braço livre é o
quebrado.

— Tony me mandou uma mensagem ontem, depois que você


dormiu e me deu o nome do médico que posso chamar para te verificar.
Quer que eu fale com ele? — sorrio.

— Você já está tentando conquistar minha família também? —


brinco. — Você é rápida, Bae.

— Não seja bobo, estamos preocupados com você. E os meninos


são péssimos com celular, então ele falou comigo. — esclarece, mas não

consigo evitar achar bonitinho.

Estar com Blue é descobrir que sensações novas sempre vão surgir.
Todas as borboletas no meu estômago já voaram e o meu coração adora
errar suas batidas quando ela faz ou fala algo. Me sinto um adolescente,
com os hormônios a flor da pele e completamente perdido por alguém.

— A ideia de você já estar quase oficialmente na família me dá


tesão. Será se transarmos aqui esses monitores vão apitar achando que
estou tendo um ataque cardíaco? — ela gargalha, mas lembra que os

meninos estão dormindo logo ali.

— Não seja idiota. Nós seriamos pegos antes mesmo de tirarmos a


roupa e existem câmeras por todo o quarto. Se fosse em outro momento,
seria uma ideia tentadora. — olho sério para ela.

— Não tente a minha imaginação, Edwards. — ela ri de novo e


começa a passar os dedos no meu cabelo. — Como eu pude odiar você
tanto tempo?

Seus olhos claros me observam com atenção.

— Porque você era um babaca. — rio alto.

— O segredo é que eu ainda sou, mas não com você. — ela me


beija, com as bochechas rosadas.

Já conheci muitas mulheres, esbarrei com pessoas de todas as


nacionalidades e me apaixonei por poucas garotas durante a vida, nunca
senti que esses sentimentos faziam muito parte de mim. Afinal, o cara que
não consegue ser amado, também não sabe dar amor. Mas Blue me faz
sentir amado desde a forma como me olha, até a maneira que xinga quando
falo alguma besteira.

Se destino realmente existe, ela é a parte mais iluminada do meu.

Ouço batidas na porta e vejo Dani. Os olhos cansados, cabelos


desgrenhados e a camisa amarrotada mostram que trabalhou sem parar.

— Como chegou aqui tão cedo? — pergunto e Blue levanta para


cumprimentá-lo.

— Porque eu achei quem fez essa merda. — me entrega uma pasta


preta.

— Quem fez isso, Dani? — Blue o pergunta.

— Aimee.
Dani fala no momento exato que vejo as fotos dela dentro da pasta.
Eu pensei que tinha todas as provas do seu desprezo comigo, mas essa foi

a maior delas. Dou tudo que posso a Aimee, cuido para sua saúde e vida

serem o mais saudável e tranquila possível. Dou-lhe tudo que ela nunca
pensou em tentar me dar e em troca ela tenta acabar com a minha carreira.

— Aimee conseguiu convencer um cara que cuidava do seu

tratamento de vender a informação. Ele recebeu milhões em troca da


notícia e lhe deu vinte por cento disso, mas quando viu seu acidente se
sentiu culpado. Quando minha equipe disse que estava desconfiando do
comportamento dele durante a investigação na clínica, fui até lá e ele não
demorou muito para confessar. — explica.

Vejo as fotos do homem no meio dos documentos e o reconheço


das vezes que a visitei.

— O que vai acontecer agora? — Blue pergunta.

— Ele será processado e nós provaremos publicamente que tudo é


mentira, temos muito bem como fazer isso.

— Mas para isso eu preciso falar sobre ela. — concluo. —


Precisamos contar pelo menos uma parte da história.

Dani concorda com a cabeça e olho os documentos dentro da pasta,


alguns são os da venda da notícia, recibos de pagamento, a quantidade de
dinheiro que Aimee iria receber, a carta de demissão dele e a solicitação de

nova equipe para cuidar dela.

— Ela conseguiu. — jogo a pasta nos pés da cama. — Nunca mais


vou olhar na cara dela. Você lida diretamente com isso, Dani ou direcione
alguém de confiança para que fique responsável por ela. Não verei aquela
mulher nunca mais na minha vida. Eu fiz de tudo, consegui tudo, dei o

melhor e ela só quer o meu inferno, não satisfeita por ter sido ela a me
jogar lá uma vez, ela está tentando de novo. Acabou.

Blue enlaça minha mão na sua e tenta me acalmar.

Eu sabia que ela estava desesperada por dinheiro, talvez tenha


conseguido alguém que possa lhe vender algo lá dentro, o que pedirei para
investigarem depois. Me pergunto se ela realmente lembra tudo que
aconteceu nas nossas vidas ou se simplesmente resolveu fingir que
esqueceu por ser difícil demais aceitar que é uma pessoa horrível.

Mais uma decepção para a longa lista que tenho. Mais uma vez que
ela quebra um pedaço de mim. Mais uma vez que ela prova não se
importar com nada e nem ninguém. Mais uma vez que por conta dela
minha vida está em risco.

Acabou. Não posso permitir que ela me afete dessa forma. Não
assim.
— Você acredita que me pararam para tirar fotos e tive que dar
uma bolsada em um rapaz inconveniente para me deixar passar. — Joana

entra de repente, reclamando e toda atordoada.

O aperto de Blue se torna mais forte na minha mão. Hora de


conhecer a sogra pessoalmente.

De conhecer a verdadeira mãe que tenho e que deu e daria tudo que

tem por mim. Que me fez ser alguém capaz e digno.

— Mãe, você já arrumou briga? — rio e ela aponta com a bolsa


para mim.

— Eu só não bato em você também porque estou preocupada


demais. — se aproxima. — Como você está, meu amor? — olha minha
perna machucada, meu braço, levanta o lençol para conferir que não tem
mais nada errado, examina meu rosto com cuidado e pergunta onde está
doendo.

Me inspeciona, como se ela fosse a médica.

— Não sabia que você tinha vindo. — beijo sua mão.

— Precisei ir ao banheiro, descemos do avião direto para cá e não


consigo fazer xixi naquela coisa. — gargalhamos. E ela dá a volta na cama
até Blue e a abraça. — E você, minha querida? Como está? Obrigada por
nos deixar por dentro de tudo. — sorri e toca o rosto de Blue.
Meu coração se aquece com a cena.

— Vocês estão realmente fazendo reuniões sem que eu participe.

— finjo estar ofendido.

Os meninos acordam com todo o barulho do quarto e Joana os


coloca para ir até suas casas, tomarem um banho e comerem algo.
Ninguém nega nada a minha mãe. Tenta fazer Blue seguir o mesmo

caminho, mas Ella está trazendo suas coisas e ela não sairá do meu lado.
Joana e ela circulam pelo quarto conversando sobre tudo e falando sobre
mim.

Joana conta todas as histórias constrangedoras possíveis e Blue


adora saber de tudo, sei que vai usar tudo contra mim depois. Mas não me
importo, porque não existe coisa mais bonita do que elas duas felizes
juntas.

— A melhor cuidadora chegou. — Ella diz entrando e sorrio.

O cabelo rosa e o sorriso característico atraem o olhar de todos no


quarto.

— Se eu concordar com isso vou apanhar duas vezes. — aponto


para Joana e Blue.

— Sunny mandou para você. — me entrega um coelho de pelúcia.


— Disse que é para te fazer curar logo e você ir devolver.
— Aquela garota é inacreditável. — sorrio. — Prometo que vou
vê-la assim que melhorar. — coloco o urso ao meu lado na cama. — Onde

está o seu velho rabugento?

— Não me faça xingar você enquanto está machucado, Collins. —


rio. — Da próxima vez que quiser trocar de carro, existem formas mais
práticas de fazer isso. — debocha.

O restante do dia foi tranquilo, os médicos falaram que estava tudo


bem e me liberaram. Fomos todos para minha casa porque assim minha
família ficaria nos seus respectivos quartos e Blue no meu.

Dani organizou tudo e nós gravamos uma entrevista online com


uma das emissoras nacionais. Não fui tão fundo na história da minha
infância, mas precisei falar sobre o vício que acompanha Aimee desde
muito cedo, esclarecemos sobre sua internação, que todas as medidas
jurídicas contra a notícia falsa já estão sendo tomadas. Falei sobre o

acidente e que o motorista foi encontrado, e também está sendo resolvido.

— Bom, quero aproveitar e falar com todo mundo que já defendeu


uma criança negligenciada, a todos aqueles que acreditaram no sonho de
alguém, para as pessoas que tem uma família diferente da tradicional e
para os que desejam algo que parece impossível. O mundo precisa de mais
pessoas que pensem com vocês. Minha vida mudou porque três completos
estranhos resolveram não abrir mão de mim.
“Confiar nem sempre é fácil, no mundo em que vivemos
precisamos sempre observar bem em quem vamos acreditar, mas nós
nunca devemos deixar de acreditar em nós. Perdi as contas de quantas
vezes me senti perdido no mundo, não merecedor ou possível de ser feliz

porque isso parecia distante demais da minha realidade.

Nesse caminho, pela busca de quem queremos ser, pessoas vão

aparecer e cada uma delas vai te ensinar algo, bom ou ruim, mas que vai te
fazer aprender coisas que te impulsionarão para onde você quer estar.
Descubra qual é o seu sonho, batalhe por ele, não vai ser simples, mas
quando chegar no topo vai ser a melhor sensação que já sentiu.”
“Eu quero me amar (ooh)

Do jeito que você me ama (ooh)

Ooh, por toda a minha beleza

E todos os meus lados feios também

Eu adoraria me ver do seu ponto de vista”

POV | Ariana Grande

— Do que você está rindo? — me aproximo de Jake.

É final de show, a Selfish Hearts já tocou, meu show foi o


penúltimo da noite, então ele resolveu me esperar para irmos para casa
juntos. Estamos no meu apartamento desde que o médico liberou Jacob do
seu gesso, deixando-o apenas com restrições. Dois dias atrás completou
quatro semanas do seu acidente e ele se recuperou tão bem que

surpreendeu toda a equipe que o acompanhou.

Hoje foi a primeira vez que o vi cantar a música que fez para mim
ao vivo e tive mais certeza que estou completamente apaixonada.

— As pessoas estão enlouquecendo com a nossa foto. — mostra a


quantidade de comentários e rio.

Sento ao seu lado no sofá e ele me puxa para mais perto, passa o
braço pela minha cintura e beija meu rosto. Jacob não percebe mais sempre
faz isso, se tornou um gesto de carinho involuntário.

— Não podemos culpá-los, éramos inimigos declarados. — nossos


olhos se encontram carinhosamente.

— Alguns comentaram que todo aquele ódio só poderia ser tesão,

os fãs que apoiavam a briga das bandas estão tendo um colapso, outros
estão amando e comentando como somos lindos juntos. — acompanhamos
os novos comentários que chegam a todo segundo.

Decidimos anunciar nosso namoro pelas redes sociais. Escrevemos


um texto contando um pouco como tudo tinha acontecido e sabíamos que
seria um descontrole. Em dez minutos entramos nos assuntos mais
comentados, criaram hashtags com nossos nomes, mídias de fofoca

respostando e a primeira revista já ligou para perguntar como está nossa

agenda.

Jake e eu adoramos os holofotes, mas preferimos ficar um pouco


mais reclusos diante da situação nessa primeira semana, porque estamos
em uma louca rotina de trabalho. São muitos anos de brigas e as pessoas

tinham seus lados muito bem concretizados, sabíamos que ouviríamos as


mais diversas opiniões. Até agora ninguém está entendendo como eu
aceitei todas as merdas que Jacob fez e como ele está lidando com a
mulher que chamava de megera.

— O último show da temporada de festivais está chegando. —


brinco com meu anel em seu colar. — Isso significa que sua temporada por
Los Angeles vai acabar por um tempo, sei que sempre volta para Nova
Iorque.

— Andei conversando com Jô sobre isso. — ele faz carinho na


minha coxa. — Estou pensando em fazer daqui minha casa principal e ir
para Nova Iorque de dez em dez dias visitar minha família.

Meu coração dispara, mas não quero ser o motivo de ele ficar tão
longe da família.

— Eu jamais me importaria em te ter aqui a maioria dos dias, mas


não quero que fique longe dos seus irmãos e da Jojo. — sou sincera.

— O trabalho tem pedido que eu fique aqui há alguns anos, eu que

continuo indo contra a maré. Peter e Luke basicamente já são fixos aqui,
Damon se mudou oficialmente porque Sky começará em uma nova escola.
Ethan e eu somos os únicos que permanecemos mais longe. E para somar
com tudo isso, veio você. — o observo com atenção.

Desde que a história de Aimee foi esclarecida, Jake tem estado


completamente calmo comparado às semanas anteriores. Ele ficou uma
pilha até que a notícia fosse explicada em todas as mídias, os advogados
processaram o homem que vendeu a notícia, mas Jake não quis dinheiro,
então a pena foi convertida em meses de prisão e anos de trabalho
comunitário. Ele nunca mais falou com Aimee, Nathan e Cora também
ainda não a procuraram novamente e Jake não os impede, mas Dani traz
informações sobre ela algumas vezes por mês.

Os jornais só falavam sobre “a história por trás de Jacob Collins” e


um pouco do passado vulnerável do homem que sempre pareceu comandar
o mundo que veio à tona. Todos entenderam seu lado de manter esse
assunto mais privado, ele concedeu mais algumas entrevistas e ainda
tocam no assunto, mas não como nas primeiras semanas.

— O que Joana achou disso? — enlaço nossos dedos.


— Ela entendeu. Sabe o quanto Dani me perturba pelas milhares de
passagens de avião por mês e o quanto é cansativo uma viagem tão grande

para dias de trabalhos intensos como os nossos. — dá de ombros.

— Então oficialmente nós vamos morar na mesma cidade e nos ver


quando quisermos? — sorrio.

— Se você quiser, nós podemos até morar no mesmo lugar. —

propõe e meu queixo cai.

— Você está me convidado para morarmos juntos? — ele sorri


percebendo minha animação.

Nunca tinha parado para pensar sobre dividir definitivamente meu


espaço com alguém, ainda mais tão cedo e muito menos com Jake. Mas
nós estamos nos mudando um para casa do outro aos poucos, várias coisas
minhas estão entre as suas, como ele também tem gavetas no meu closet. E
ao mesmo tempo em que a ideia parece aos poucos, já está sendo

construída de forma natural com as nossas atitudes no cotidiano. Só que


me assusta um pouco a ideia de ter alguém permanentemente na minha
casa.

— Só se você aceitar. — brinca e gargalho.

— Nós iríamos para uma casa nova? Precisaríamos de mais espaço,


de vinte chaves extras e talvez um gatinho. — Jake me puxa para sentar
em seu colo.

Minhas pernas ficam uma de cada lado do seu corpo, me mantendo

de frente para ele.

— A ideia de uma casa nova seria muito legal, poderíamos fazer


tudo do jeitinho que quiséssemos e começar no nosso lugar. — me olha
com atenção.

Que problema teria? Caso não funcionar podemos voltar para


nossos apartamentos separados.

— Tudo bem, nós podemos tentar. Vamos morar juntos. — Jake é


pego de surpresa e me segura forte pela cintura.

— Você aceitou? — sorri feliz e concordo com a cabeça.

Não tenho tempo de pensar em nada engraçadinho para responder,


porque seus lábios colidem com o meu. Seu rosto entre minhas mãos e
seus braços ao redor da minha cintura.

— Você sabe que morar comigo significa mais cinco pessoas o


tempo inteiro circulando pela casa, não é? – pergunto.

Jacob sabe como funciona a minha vida e que estar comigo é ficar
sempre rodeado pela Drops. Sei que nesse último mês eles aprenderam
muito a conviver juntos. Ella, Sunny e eu somos o elo principal dessa
ligação, mas percebi que Logan estava começando a derrubar suas
barreiras com Jake. Demi e ele costumam conversar bastante e se divertem
juntos, é perceptível que ela realmente o perdoou. Mason e Jake interagem

quando estamos juntos, mas nada muito empolgante.

Os meninos da Selfish tem participado bastante dos nossos


encontros, Luke é o meu preferido, nos tornamos confidentes e cada dia
que passa percebo que somos mais parecidos. Peter e eu sempre

implicamos um com o outro, mas ele é engraçado, então quase sempre


estamos rindo juntos. Ethan é o mais doce e gentil de todos, me sinto
protegida ao lado dele, e o seu jeito me lembra muito Mason. Damon é
debochado e seu humor é ácido, então nos damos bem, e eu amo quando
me conta as histórias de Sky, mas nem sempre tem bons dias.

A sensação de saber que as coisas acabaram dando mais certo do


que imaginei é incrível. E por mais que nos nossos encontros, regados a
cervejas e comidas, sempre tenha uma implicância ou outra, acabamos

sempre felizes no final da noite.

— Não posso reclamar, meu pacote vem com quatro marmanjos


folgados. — sorrio contra seus lábios.

— Se não aguentarmos mais, resolvemos o problema com mais


uma fechadura na porta. — sugiro.

— Logan com certeza descobrirá um jeito de abrir. — rio, porque


ele tem razão.

Sua mão faz carinho nas minhas costas e a outra repousa na minha

cintura. Os olhos de Jake parecem mais brilhantes essa noite. Seu sorriso
de garoto cheio de vida e a gargalhada mais contagiante que já ouvi me
fazendo rir junto. Nós estamos felizes, completamente felizes e eu
definitivamente o amo.

— Eu te amo, Bae. — ele diz e sinto meu coração bater mais


rápido.

— Amo você, Collins. — admiro mais uma vez seus olhos escuros,
para memorizar a beleza do lugar onde me perdi.

Beijo seus lábios com calma, mas não demora para se tornar algo
intenso. O seguro pela nuca e ele cola mais nossos corpos. Sempre que
Jake me toca, meu corpo acende. É incrível como conhecemos um ao
outro, a forma como gostamos de ser tocados, a que dá mais prazer e a que

os completamos.

Ele está sem camisa, então meu acesso é liberado. O peito forte
ganhou mais algumas tatuagens e adoro a forma como ele combina bem
com cada uma delas. Mordisco sua orelha e seu pescoço, ele aperta minha
bunda e nossos lábios voltam a se devorar. Sua mão brinca com meus seios
e alcança meus mamilos primeiro por cima do tecido fino da blusa, sobe a
peça, mas não a tira completamente do meu corpo.

O contato pele a pele me faz arrepiar.

Jake avisa aos nossos seguranças, que estão na porta do camarim,


que não deixem ninguém entrar. E isso é tudo que precisamos para todas as
peças saírem de nós.

Passo as pernas em volta do seu corpo novamente e ele entre

vagarosamente em mim. A posição o faz ir mais fundo e isso nos faz


gemer desde o primeiro toque. Começo a me movimentar com calma, me
acostumando com a intensidade do contato. Nossas respirações se
misturam, nossos olhos sempre conectados, nossas bocas explorando tudo
que podem.

Ele brinca com meus seios enquanto meus movimentos se tornam


mais fortes e rápidos. Me apoio contra seu peito, ele segura minha cintura
e seu quadril vai de encontro ao meu, mais fundo e enlouquecedor. Jake

atinge o ponto certo em mim e fecho os olhos de prazer.

Minhas unhas contra sua pele, nossos corpos entregues ao prazer,


sua palma marcando minha bunda, nós dois nos devorando. E pode parecer
a coisa mais clichê do mundo, mas viver isso com alguém que você ama é
completamente diferente de algo casual. Ter Jacob literalmente em minhas
mãos, sentindo seu corpo contra o meu.
Ver nossa tempestade se tornando calmaria, é fantástico.

Chego ao ápice e logo depois Jake atinge o seu. Despenco sobre

seu corpo e ele abraça meu corpo, beija meu ombro e ficamos assim até
nos recuperarmos completamente.

Não sei porquê ou como, mas a sensação que tenho é que nossa
vida juntos começa agora. Sem cobranças ou coisas mal resolvidas, sem

mentiras, farsas, manipulações, nós finalmente estamos livres das coisas


que nos prendiam a um passado dolorido. A única coisa que quero é sentir
todos os dias meu coração bater mais forte por Jake.
“Quando sentir saudades feche seus olhos

Eu posso estar longe, mas nunca fui embora

Quando você adormecer à noite

Lembre-se que nós deitamos sob as mesmas estrelas”

NEVER BE ALONE | Shawn Mender

— A casa de vocês é adorável. — Oli diz assim que passa pela


porta. — Tão acolhedora e bonita. E que vista deslumbrante, Bae. — sorri,
admirando tudo.

— É incrível morar aqui, vovó. — confesso. — A vista para a


praia é fantástica no pôr e nascer do sol e temos muito espaço. É um
condomínio muito seguro, não muito longe do trabalho e dos amigos. E
agora nós conseguimos passear tarde da noite pela praia porque tem pouca

gente e estamos próximos de casa.

Essa é a minha parte favorita!

— E quando você acha que ele vai pedir? — me observa com toda

sua animação.

— Vovó, nós não estamos apressados para casar, até porque já


temos uma vida de casal que mora junto e principalmente porque só
estamos juntos há poucos meses. — sua boca entorta de desgosto e ela
volta a andar pela casa.

Jake está no mercado com Joana, que chegou um pouco antes de


vovó. É a primeira vez que as duas se encontram e conhecem pessoalmente
nossa casa nova. Criamos um ritual noturno, de sempre ligar primeiro para

uma e depois para a outra, assim conversamos um pouco com cada uma
antes de dormir. Funciona superbem quando estamos juntos, mas na
temporada de shows fazemos chamada de vídeo todos juntos.

Vovó e Joana se adoram, conversam como duas amigas que moram


em cidades diferentes. Elas trocam receitas e falam da minha vida e de
Jake, tenho certeza que é o passatempo preferido delas.
— Chegamos, família. — a voz de Jake se espalha pelo ambiente.

Joana entra na sua frente, segurando uma sacola pequena e Jake

com as mãos cheias já pisca galante para Vovó de longe. Jojo e Oli se
abraçam e engatam uma conversa animada sobre a viagem e como a cidade
está linda no verão.

Jacob para ao meu lado, ainda com as mãos ocupadas e fico na

ponta dos pés, o beijando rapidamente. Começamos a desocupar as sacolas


e organizar em seus devidos lugares.

— É a primeira semana na casa nova, quanto tempo você acha que


elas vão demorar para achar um defeito? — brinca e rimos.

— Até o final do dia o arquiteto vai ter que renovar algumas coisas.

A casa ficou exatamente como queríamos e não pretendemos


mudar nada, mas sabemos que elas vão propor algo novo.

— Bae, você pode levar as malas da vovó para cima? — peço e ele

concorda veementemente.

Antes de subir, beija e abraça Olívia várias vezes.

No dia que conheceu Jake, Oli disse que ele era perfeito para mim,
mal sabia eu que ela estava completamente certa. Vovó não precisou de
muito, bastou alguns minutos de conversa e ela sentiu a alma dele. A
bonita e forte essência de Jacob Collins.
Não é todo mundo que consegue conhecer o interior de Jacob.
Quase ninguém sabe quem ele é de verdade e todas as armaduras que usa o

fazem parecer intocável, mas não existe sensação mais bonita do que a de
sentir o coração desse homem. Não há nada mais bonito do que está nele.

— Vocês estão se adaptando bem a convivência? — Jô pergunta, se


servindo de café.

— Ainda é muito novo, mas estamos bem. Chamo sua atenção a


cada coisa que será motivo de uma briga e ele ajeita, quando estou sendo
controladora demais é ele quem chama minha atenção e conseguimos ficar
bem.

— Que bom, querida. — sorri. — Mesmo que vocês estivessem


sempre se vendo, ter a sua casa e saber que tem para onde voltar é
completamente diferente de dividir o espaço vinte e quatro horas por dia.
Vocês também se conhecem há pouco tempo, então ainda estão

descobrindo as diferenças um do outro. Mas, é possível ver o quanto estão


felizes com essa decisão, fico muito orgulhosa.

— Às vezes me pergunto se não é cedo demais, mas acho que já


passamos tanto tempo nos odiando que podemos arriscar um pouco. —
pego uma cerveja na geladeira para dividir com Jake.

É meio de semana, mas conseguimos dois dias de folga para ficar


com nossas visitantes. Liberamos a equipe que trabalha nos cuidados da
casa e Jacob garantiu que será o chef responsável pelas nossas receitas.

Descobri que Collins é um ótimo cozinheiro e nós passamos tardes


tentando acertar receitas novas, é uma das coisas que mais gostamos de
fazer juntos.

Nosso hábito por baladas também não é diferente, continuamos

enfrentando noitadas juntos e agora entendo porque todo mundo diz que
Luke dá as melhores festas. Ninguém sabe se divertir como ele e isso faz
com que eu me aproxime dos outros amigos de Jake.

— Minha mãe estava achando que você estava grávida, por isso
estamos morando juntos. — Jake sussurra apenas para mim.

Engasgo com a cerveja e quase cuspo o líquido. Joana e Olívia nos


olham, mas disfarçamos.

— Porque elas tem que ser tão exageradas? — olho para ele e tento

controlar meu tom de voz. — Vovó acha que você vai me pedir em
casamento. — reviro os olhos.

— Acredito que daqui alguns meses vamos ter que começar a


evitar as ligações delas. — brinca e rio

Pega a garrafa das minhas mãos e bebe um pouco.

— O que vocês tanto cochicham? – Oli chama nossa atenção e nos


aproximamos mais delas.

— Sua neta estava se declarando, ela não consegue ficar um

segundo sem dizer o quanto sou apaixonante. — elas riem e eu reviro os


olhos.

Nosso dia se resume a maratonar série, tomar vinho, comer as


receitas mirabolantes de Jacob e conversar admirando o mar. Pedimos um

jantar metade italiano e metade mexicano, exatamente como Jake e eu


amamos, estreamos a mesa nova com muitas risadas e histórias hilárias.

Jojo conta um pouco do seu falecido marido, como se conheceram


e como ele tentou conquistá-la de todas as formas quando ela não o queria,
mas não resistiu muito tempo ao charme dele. Vovó fala sobre o cruzeiro
entre amigas que faz todo os anos, convida Joana e logo elas estão
combinando os dias para Jô conseguir férias do trabalho.

Jacob sorri o tempo inteiro e por mais que eu quase sempre o veja

assim, quando Joana está por perto ele fica reluzente. Distribuindo todo o
seu melhor para ela. Jake, diferente do que eu pensei, é muito carinhoso,
ele ama abraçar, beijar e fazer carinho. Não chega a ser grudento, mas não
são atitudes que eu esperava ver nele antes de nos conhecermos.

Inclusive, sempre amei abraços, mas nada se compara ao dele.

Olívia sobe para conhecer meu quarto e abrir o novo presente que
comprei para ela.

— Como estão às coisas com o seu pai? — vovó senta na cama.

— Ele me ligou um pouco antes da mudança, foi bem discreto.


Quis saber como eu estava, se tudo estava bem e antes de desligar pediu
desculpa pela discussão no hospital. — me jogo no colchão.

— Temos conversado um pouco e acredito que ele realmente viu

que perderia você por conta de atitudes machistas e idiotas. — sou pega de
surpresa por sua declaração.

— Vovó, eu nunca serei capaz de esquecer a forma como ele


sempre tentou controlar minha vida, inclusive, quase me privando de ser
uma artista famosa hoje. As palavras dele me magoaram demais, mas se
ele realmente se arrepender, quiser fazer parte da minha vida de forma
saudável, aprender a me amar de uma forma que não me machuque, eu o
permito se aproximar de novo.

— Seu pai escolheu uma péssima forma de mostrar que tem medo
de perder você. — brinca com meus cabelos.

— E quase conseguiu isso. — confesso.

Desde a briga no dia que Oli adoeceu que nós ficamos sem nos
falar, eu não dei o braço a torcer e não é por orgulho, mas sim por estar
tentando me preservar de algo que me machucou a vida inteira. Quando
papai me ligou, pensei em não atender, mas sabia que ele não teria
coragem de brigar depois do que falei no nosso encontro.

Tudo que eu realmente quero é que ele consiga se livrar de todas as


dores que carrega do passado.

— Ele sabe que seria maluco se deixasse você partir por pura
ignorância, Blue. — sorrio para ela. — E a mãe de Jake, no que deu tudo

aquilo?

— Ele não consegue falar com ela e por mais que evite um pouco o
assunto, sei que está ferido com a atitude dela. Nathan foi a visitar, porque
Dani disse que ela pareceu ter alguma melhora depois de um novo
tratamento, mas Jake continua resistente e eu o respeito, Aimee não
merece o amor dele.

— Ela é uma mulher doente, Blue. E devemos sempre pedir para


que um dia ela consiga ficar bem realmente. Deve ser muito ruim ser refém

de algo que pode nos destruir. — seguro a mão de Olívia e beijo.

Ela sempre tem as melhores palavras e espero que esteja certa em


relação a tudo. Que meu pai se torne alguém melhor e que Aimee consiga
melhorar no futuro. Porque é desestabilizador amar alguém que não sabe
receber esse amor.

Encerro a conversa indo até minhas joias e pegando a caixinha de


veludo preta. Em um passeio com Jake há algumas semanas encontrei a

peça e lembrei imediatamente de Oli, é simples e delicada.

Depois de algumas horas, Olívia e Joana se recolhem. Jake coloca


um boné vermelho que era de Nathan na minha cabeça, veste seu capuz e
pega minha mão. Os seguranças nos seguem em uma distância confortável
e segura, então descemos até a praia. O vento é forte e gelado, seguramos

nossas sandálias com uma mão e nos mantemos ligados pela outra.

Já é tarde o suficiente para apenas algumas pessoas estarem


terminando suas caminhadas noturnas ou fazendo coisas contra a lei de
alguns estados. Sinto o aperto de Jake um pouco mais forte e olho para o
seu rosto.

— Vou passar as próximas duas semanas na estrada. — Jake


começa. — Pela primeira vez em muitos anos, não quero passar tanto
tempo longe de casa. — mantém a cabeça baixa, apenas vendo a areia

afundar debaixo de seus pés.

— E, provavelmente, quando você voltar, eu estarei indo. —


comento e ele sorri sem humor. — Vamos iniciar o primeiro passo de
sobrevivência dessa relação, Jake. Não somos um casal normal, nossas
vidas são caóticas, mas escolhi você para ser meu porto.

Dou mais um passo, mas Jacob para. Olho para ele por cima do
ombro, e volto, ficando de frente para ele.

— Nunca imaginei dividir minha vida com você. Sinceramente,

não esperava me apaixonar. Mas, você é incontrolável, Blue. Em todos os


sentidos. Meu coração é tão seu que parece que você sempre esteve aqui.

Sorrio para ele e me aproximo um pouco mais.

Nunca vou cansar de ouvir que o que Jake sente por mim tem

crescido cada dia mais, porque sinto o mesmo.

— Viver é inexplicável, Collins. — toco seu rosto bonito. — Fiz


muitas escolhas das quais me arrependo, mas desde o início, algo me dizia
que você não seria uma delas. Nós vamos passar pela distância, as viagens,
os horários difusos, as notícias falsas, a rivalidade entre nossas bandas,
pais problemáticos e um futuro incerto, porque acima de tudo isso, nós
queremos um ao outro. Nós nos encontramos, nos escolhemos.

— Eu percebi que amava você no dia em que olhei nos seus olhos e

vi o caminho para casa. — roça seus lábios nos meus.

— Percebi que amo você desde o dia em que vi a beleza da sua


alma. — beijo-o.

Sempre que sua boca toca a minha sinto como se fosse a primeira
vez, porque amar Jacob Collins é estar em uma constante montanha russa.
Ele é calmaria, onde ao mesmo tempo é explosão. É forte, leal e corajoso.
Um ótimo filho, um irmão exemplar, um cantor fantástico, um amigo para
todas as horas. Ele não é fácil de confiar, muito menos de amar, mas

afirmo com toda a certeza, não existe coração mais bonito que o de Jacob
Collins.

O amor não é perfeito, mas ele jamais deve ferir. Eu não sei o que a
vida tem guardado para nós, mas se Jake estiver comigo sempre me

sentirei participante da mais bonita constelação do céu.


“Você olha para mim e, querido, eu quero pegar fogo

Está cravado em minha alma

Como o ouro da Califórnia

Você encontrou a luz em mim que eu não

conseguia encontrar

Então, quando eu estiver engasgada

E não conseguir encontrar palavras

Toda vez que dizemos adeus, amor, isso dói

Quando o sol se pôr

E banda parar de tocar

Eu sempre vou me lembrar de nós desse jeito”

ALWAYS REMEMBER US THIS WAY | Lady Gaga (Nasce Uma Estrela)


Amar é entender que escolhemos estar com a mesma pessoa todos
os dias. É saber ceder, se reerguer, se conhecer, ser feliz, ter novas

aventuras, passar por momentos difíceis, colecionar lembranças,


envelhecer dividindo os momentos bons e ruins com aquela pessoa. Amar
é simples, mas nem sempre é fácil. Ao lado de Jake descobri que almas
realmente se completam, que nós caímos e nos reerguemos diante todos os
desafios e conquistas.

Mas, acima de tudo, amar deve ser saudável. Não deve ferir, não
deve agredir, não deve menosprezar ou diminuir. Amar alguém é ter com
quem contar, caminhar e crescer. Os momentos devem ser colecionados e
sinto que tenho fotografias guardadas na mente e no coração de tudo que

vivi com Jacob.

Descobrimos que vale a pena tentar se temos um ao outro.

— Vocês vão viajar? — Ella pergunta enquanto faço carinho em


seu cabelo.

— Estamos pensando em conhecer algum lugar paradisíaco, mas


ainda sem um destino certo. — dou de ombros.
— Oficialmente férias. — Logan joga os braços para cima em
agradecimento e rimos.

— Você vai aguentar algumas semanas sem invadir nossas casas?


— Mason brinca.

— May, não precisa se preocupar, não deixarei você sentir


saudades de mim. — pisca para Mason e rimos.

Podem se passar anos e anos, Logan sempre vai ser assim.


Encantador, piadista, engraçado, amigo, leal e feliz. A definição perfeita
para ele é felicidade, e também é como faz qualquer pessoa que esteja ao
seu lado se sentir.

Ouvimos a campainha tocar e sei que Jake chegou.

— A cobra peçonhenta da Blue chegou. — Logan diz e belisco seu


braço.

— Todos nós já sabemos que você está adorando Jake, Logan. Não

precisa fingir. — Ella provoca, mas sabemos que é verdade.

Logan revira os olhos e finge que não estamos falando com ele.

— O melhor frequentador desse lugar chegou. — Jake entra na sala


e todo o lugar parece ser preenchido com sua alegria.

Jacob estava em um show em Salem, finalizando sua temporada de


apresentações para conseguirmos ficar juntos sem nenhum empecilho. Ele
e me meu pai se encontraram para um café ontem, e ele me mandou uma

foto no meu quarto de adolescência. Papai mostrou que está em uma

constante busca para se redimir, nossa relação está em uma fase que nunca
vivemos antes, com muito respeito. Jake sabe que me deixa feliz vê-los
tentando construir algo amigável, mesmo meu namorado ainda tentando
manter seu coração protetor sempre ativo.

Faz parte de Jacob ter o pé atrás com pessoas que nos magoaram,
ele se mantém aberto para construir uma relação, mas não confia
facilmente. Fico feliz que estejamos dando uma segunda chance ao meu
pai juntos, isso é importante para mim. Jake visitou Aimee duas vezes,
uma com Cora e Nathan no aniversário dela, e a pouco tempo atrás depois
que ela tentou fugir da clínica. Dani continua trazendo notícias com
frequência, e mesmo ela tendo desistido de si, Jake nunca vai abrir mão
completamente dos cuidados que tem com ela.

Sinto que ele está melhor, acredito que finalmente entendeu que
existem coisas que não estão ao seu alcance e que tudo que pode fazer, já
faz. Isso tranquiliza seu coração e o meu, porque vê-lo sofrer me destrói.

— Tio Jake. — Sunny grita e corre em sua direção.

Ele a pega nos braços e ela abraça seu pescoço.

— Mamãe não contou que você vinha hoje. — Sunny o olha com
admiração.

— Porque infelizmente não posso ficar, entrei apenas para dar um

beijo na minha garotinha favorita. — beija o rosto dela. — E levar minha


linda megera para casa. — sorrio e Sunny cobre a boca com a mão para
esconder o riso.

— Como está o Dani, Collins? — Mike desce as escadas e senta ao

lado de Ella.

— Ele disse que você deveria se juntar a nós em uma noite de


poker qualquer dia desses. — Mike concorda. — Seria maravilhoso ver a
diabinha te derrotar. — rimos.

Mike e Ella são extremamente competitivos, seria incrível vê-los


jogando juntos. Provavelmente eles brigariam e se ameaçariam o tempo
inteiro, mas nós nos divertiríamos muito.

— Sunny, o bolo está pronto. — Demi, que estava na cozinha

fazendo receitas com Sunny antes de Jake chegar e roubar à atenção da sua
dupla, se aproxima da garotinha nos braços do meu namorado.

Ela e Jake trocam um sorriso cúmplice e Sunny a acompanha de


volta ao que estavam fazendo. Meu coração se aquece sempre que vejo os
dois juntos, porque ela realmente o perdoou e ele se arrependeu
verdadeiramente, posso afirmar que eles construíram uma relação só deles.
Os olhos de Jake encontram os meus quando ele abraça Ella. O
canto dos meus lábios se erguem involuntariamente e ele faz o mesmo.

— Desculpe o atraso. — sussurra para mim e concordo com a


cabeça. — Pronta para ir? — pergunta e segura minha mão.

Nos despedimos de todo mundo e vamos para o carro. Rimos


quando Brown Eyes começa a tocar no rádio, porque a voz de Mason

explode no exato momento em que canta o quanto minha vida mudou


depois que me vi refletida nos olhos castanhos cheios de segredo de Jake.

No dia do lançamento Jacob estava mais empolgado que eu,


ansioso que as pessoas entendessem as ligações entre a letra da música que
ele escreveu para mim e a que eu escrevi sobre ele. Acompanhou todos os
comentários de perto e respondeu todo mundo que acertou tudo que ele
amava na letra.

Uma das coisas que mais amo em Jacob é a forma genuína que ele

expressa seus sentimentos e como é fiel a ele mesmo. Sua alegria me


contagia e a forma como demonstra o que sente pelas pessoas me encanta.

Ele tem andado preocupado com Damon, ele e Dana tem brigado
muito. Luke é meu companheiro de compras, sorvete, bebidas e Mason se
tornou seu crush favorito. Peter está apaixonado e é impossível não amar a
queda de um valentão. E acreditamos que Ethan anda escondendo alguma
coisa, mas ele ainda não quis dividir.

— Nós realmente não precisaremos ficar longe um do outro nos

próximos dias? — beija minha mão.

— E pelos próximos dias viveremos dentro daquele quarto,


dormindo, comendo, assistindo e ficando pelados. — mexe as sobrancelhas
sugestivamente e gargalho.

— Se isso é você querendo dizer que está com saudades, saiba que
eu também estou, Bae. — beijo seus lábios.

O pôr do sol está tomando todo o céu de Los Angeles, o laranja do


céu refletido no mar, sendo linda a visão que temos desse lugar mágico.
Percebo que Jonathan está fazendo um caminho diferente, quando ele entra
em um desvio oposto ao da nossa casa.

— John, algum problema? — pergunto e ele me encara sorridente


pelo retrovisor.

— Ordens do seu namorado. — olho para Jake surpresa e ele


apenas sorri.

— O que vocês estão armando contra mim? — brinco.

— Surpresa. — Jake me olha ansioso.

John estaciona em um lugar mais afastado na praia, mas antes de


descermos Jake pede para que eu tire a sandália e feche os olhos. Ele me
ajuda a descer no carro e me guia pela areia. Sinto meu coração acelerar

quando paramos de caminhar, sinto a areia se tornar um piso sólido

debaixo dos meus pés, então Jake diz que posso abrir os olhos.

Estamos em um gazebo de madeira, que foi colocado no meio da


praia, com grandes cortinas brancas de tecido fino, capaz de nos fazer ver
o lado de fora, palancando contra o vento. O chão está repleto de rosas

brancas, almofadas azuis e luzes amareladas sobre nossas cabeças.

— A primeira vez que vi você, foi em uma entrevista pela


televisão. — Jake para de frente para mim e segura minhas mãos nas suas.
— Você era jovem, cheia de vida, animada e falante. Reconheci seu brilho
pela primeira vez ali, naquele dia. Sempre foi possível sentir a
grandiosidade dos seus sonhos pela forma como você fala deles, Blue.
Então, uma vez você falou de mim para Olívia e foi quando tive certeza,
pela primeira vez, que você me amava. Porque quando você sente, é com

toda a intensidade do universo, do imenso infinito que você é, e eu sou tão


feliz de poder sentir com todas as fibras do meu corpo que você me ama.
— aperto mais suas mãos, meus olhos estão marejados, meu coração
parece que está pronto para sair pela boca. — Quero ser a pessoa que vai te
segurar quando precisar cair, quem aplaude todas as suas conquistas da
primeira fila. Quero acordar todos os dias ao seu lado, porque não existe
nada mais bonito do que me ver refletido nos seus olhos todas as manhãs.
Eu prometo nunca permitir que você se sinta sozinha, prometo brigar pelo
seu café na fila da lanchonete. — rio entre as lágrimas. — E não reclamar

tanto dos filmes que você escolhe e não deixar o Bobby na cama tanto
tempo. Prometo tentar sempre buscar ser o melhor homem, o melhor
amigo, o melhor companheiro. Ser o par que alguém como você merece ao
lado. Se outras vidas existirem, sei que seremos um do outro em cada uma

delas.

Ele dá um passo mais perto e seca minhas lágrimas. Jake coloca um


joelho no chão e abre uma pequena caixinha vermelha em minha direção,
revelando o lindo anel.

— Eu prometo amar você a cada pulsar dos nossos corações,


porque enquanto o meu bater, eu serei seu. Blue Edwards, você aceita se
casar comigo?

Me jogo em seus braços rindo e chorando ao meus tempo,

descobrindo que é possível o amar muito mais do que pensei ser capaz.
Jake me envolve em um abraço e sinto seu coração bater descontrolado
junto ao meu, como na primeira vez que realmente vimos um ao outro.

— Sim, completamente e indescritivelmente, sim. — falo e beijo


seus lábios. — Eu aceito casar. Eu sempre direi sim a você, Jake.

Ele me tira do chão e me gira em seus braços. Gargalhamos juntos


de felicidade da realização.

Na noite em que o abracei no camarim foi como se apenas nós dois

existíssemos no mundo. Como se estivesse encontrando-o pela primeira


vez, meu coração se conectou ao seu naquele dia. Amá-lo é ter a certeza
que posso descansar, que estou segura, porque nós sempre protegeremos
um ao outro. Ele foi a coisa mais certa pela qual me arrisquei.

Amar Jacob Collins é saber que você sempre terá alguém para
chamar de lar.
“Me ama com ternura, me ame com doçura

Nunca me deixe partir

Você tornou minha vida completa

E eu te amo tanto

Me ame com ternura, me ame de verdade

Todos os meus sonhos realizados

Porque, meu amor, eu amo você

E eu sempre amarei”

LOVE ME TENDER | Elvis Presley

UM ANO DEPOIS
— Se eu tivesse visto você de smoking na época da escola, nós
poderíamos ter namorado. — Logan fecha a porta do quarto. — Você está

lindo, Logan.

— Caso você queira desistir agora, meu carro está logo na estrada,
ninguém perceberá. — brinca e caminha até mim. — Você é a noiva mais
linda que já vi.

— Você disse isso para Ella e Demi também. — ele tenta me


distrair beijando minha testa. — Como está tudo lá fora?

— Seu futuro esposo está lindo. — Demi empurra a porta

completamente empolgada.

Ella vem logo atrás.

— Lindo é modéstia, ele está um tremendo gostoso em um terno


caro e feito sob medida. — rio.

Meu coração está pulando, minhas mãos suando e estou a ponto de

chorar. Minha maquiagem está feita, meu cabelo arrumado e o vestido


branco de renda molda meu corpo. Escolhi um modelo justo, com uma
calda longa, uma renda bonita e com aplicações de pedras. Me sinto uma
verdadeira princesa.

— Eu odeio que todos vocês estão casando, é como se o meu fim


estivesse próximo e todas as pragas de Blue fossem se realizar a qualquer
momento. — Logan lamenta. — Olá coisinhas pequenas do Tio Logan. —
fala com as barrigas de Ella e Demi.

O último ano foi cheio de novidades. Nós começamos a dividir


uma casa, ganhamos um filhotinho de Olaf, cachorro de Sunny, que
chamamos de Bobby. Começamos a colecionar búzios das nossas
caminhadas à noite na praia, viajamos para vários lugares do mundo,

brigamos várias vezes, nos declaramos outras milhares mais.

Ella está gravida e radiante. Acompanhei todas as fases da sua vida,


mas essa, definitivamente é a mais bonita. Michael e ela estão muito
felizes e Sunny continua sendo a luz na vida de todos nós. Sea é o meu
pequeno infinito e não vejo a hora que ela nasça.

A versão Mason pai é a mais preocupada de todas. Ainda não


descobrimos o sexo do bebê, é tudo muito recente. Ele e Demi descobriram
há pouco tempo que também vão ter um bebê e estão se adaptando a

notícia e a todas as emoções que surgem nesse momento inicial, todo o


receio, os cuidados e preocupações. Tenho certeza absoluta que essa
criança não encontraria pais melhores, porque Mason e Demi darão o
mundo inteiro a ela.

Parar no tempo e ver que tanta coisa aconteceu, o quanto nossas


vidas mudaram e a forma com a Drops Of Jupiter transformou cada um de
nós, me faz ter certeza que eu não poderia ser mais feliz.
— O noivo está tendo um ataque e me mandou aqui. — Luke
coloca a cabeça para dentro do quarto e o convido a entrar. — Você está

pronta para acabar com aquele homem! — me abraça.

— Ele está muito nervoso? — quero saber se não sou a única


morrendo por dentro.

— Uma rocha por fora e um garoto prestes a desmaiar por dentro.

Você conhece aquele homem. Mason e eu já apostamos com Logan e Peter


que ele vai chorar quando olhar para você assim. — ele olha para Demi. —
Seu marido é como um docinho: gostoso, bonito e dá vontade de morder.
— gargalhamos.

Estou tão ansiosa para vê-lo. Ao mesmo tempo que Jake e eu


somos muito parecidos também somos diferentes e isso faz com que tudo
seja mais bonito, porque conseguimos ver o mundo através dos olhos um
do outro também.

Nesse ano, existiram meses que nos vimos duas vezes por semana,
que nossas agendas nos levaram para lugares opostos do mundo, que os
shows se encontraram, que vivemos em aviões para conseguir passar horas
um com o outro ou passamos semanas sem desgrudar um do outro. Nós
fizemos dar certo e hoje vemos que valeu tudo a pena.

Nosso relacionamento ainda causa fervor nas mídias, nossos fãs


ainda brigam pelas bandas, mas nos amam como casal. As revistas e
campanhas adoram nossos rostos, as entrevistas adoram saber coisas novas

sobre a nossa vida.

Jojo e Olívia entenderam que nós teríamos filhos depois de cinco


meses que morávamos juntos. Foi preciso sentar e conversar diretamente
com elas para que parassem de falar sobre isso o tempo inteiro, não

aguentávamos mais. Não as culpamos por toda a expectativa, afinal tudo


aconteceu muito rápido entre nós dois, mas as delas estavam altas demais.
Não planejo ter filhos e Jake respeita isso, mas sei que no fundo ele adora
uma família grande, então se um dia sentirmos que somos o melhor que
uma criança precisa, podemos repensar nossa decisão.

Cora, Nathan, Joana, Anthony, Damon, Dana, Sky, Luke, Ethan e


até Peter agora fazem parte de uma parte muito bonita da minha vida, sinto
que sou pertencente à família deles, assim como, eles também se tornaram

parte da minha.

— Chegou a hora. — Mason entra e o olho apavorada. — Todos


para fora, preciso falar com a Bee.

Abraço e beijo todos, agradeço todas as felicitações e quando


fecham a porta meus olhos se enchem.

— Não, Bee. — Mason me abraça. — Sei que é a emoção, mas


posso apostar que você amará vê-lo no altar. Está tudo exatamente como
você planejou.

— Nunca pensei que isso aconteceria, mas minhas lágrimas são de


certeza. Sinto que meu coração vai explodir de ansiedade para vê-lo. — ele
seca delicadamente meu rosto com o lenço.

— Você está prestes a se tornar a senhora Edwards Collins e eu

pensei que o inferno congelaria antes disso, mas nunca desejei tanto que
você fosse feliz como agora, Bee. Então vamos lá, que aquele homem está
quase abrindo um buraco no chão. — rimos.

— Queria que o Chris estivesse aqui. — confesso. — Sinto falta


dele, May, todos os dias. Ele estaria no altar ao nosso lado.

— Dizendo o quanto você vai fazer o Collins comer na palma da


sua mão. — rimos. — Você lembra que no dia que saiu a primeira notícia
falsa sobre namorarmos e você ficou com muita raiva, nós estávamos em

Salem, sentados na traseira da caminhonete dele. Lembra o que ele te


disse? — apenas confirmo, porque é difícil falar.

— Ele sempre sabia o que dizer. — falo e sorrio.

— “Um dia esses olhinhos azuis brilharão tão forte que se verão
refletidos nos olhos de alguém, e aí você saberá que encontrou o
verdadeiro amor.” — cita a frase que Chris me disse naquela noite e me
emociono mais uma vez. — Você encontrou, Bee.

Mason segura minha mão e me conduz até meu pai e Oli, que beija

meu rosto e me deseja todo o amor do mundo. May beija minha testa antes
de ocupar seu lugar ao lado de Demi na fila dos padrinhos. Ethan e Cora
estão na frente, Damon e Dana, Luke e Klaus, Peter e Florence logo atrás.
Meus padrinhos são Mason e Demi, Ella e Michael, Logan e Olívia, e

Hellen e Parker.

A música começa e todos eles fazem suas entradas, ocupam seus


lugares no altar e chega minha vez. Aperto forte o braço do meu pai e ele
sorri para mim, tentando me passar força para caminhar. Nem a maior
plateia do mundo me fez ficar tão nervosa assim.

Quando piso no longo tapete que me levará até o altar, vejo Jake
me esperando no final dele. Meus olhos voltam a marejar e rio quando o
vejo xingar e pedir perdão ao juiz.

Ella tinha razão, ele nunca esteve tão lindo. Pensei que já tinha
visto Jake de todas as formas possíveis, mas nunca esteve tão lindo quanto
esperando para se tornar eternamente meu.

Não consigo prestar atenção na música, tudo que há em mim


apenas está focado nele. Minha mão pousa no braço forte do meu noivo,
ele agradece ao meu pai e aqueles olhos castanhos encontram os meus.
Encosta levemente sua testa na minha e respira fundo.

— Você é a coisa mais linda que existe no mundo. — sussurra e

sorrio.

Nos posicionamos como fizemos em todos os ensaios. O juiz faz


um lindo discurso, fala sobre o amor não ser impossível, mas
surpreendente. Brinca sobre nossa inimizade conhecida

internacionalmente, as surpresas da vida e como o amor é puro. Quando


pergunta se alguém tem algo contra o casamento, Logan se mexe e juro
que ele fará alguma brincadeira, mas ele apenas sorri para mim.

Sunny entra com um vestido azul da cor do céu, segurando uma


almofadinha com as alianças em uma mão e a coleira de Bobby na outra. É
a coisa mais fofa que já vi.

Jake segura minha aliança e sorri abertamente para mim.

— Tudo começou com um anel perdido entre as minhas coisas, ele

se tornou meu amuleto da sorte e hoje, nós estamos começando uma nova
fase das nossas vidas e o símbolo dela também é esse pequeno círculo
reluzente. Não sei se posso chamar de vida ou destino, mas sei que nasci
para te encontrar. Pensei que já tinha visto e vivido tudo pelo mundo, então
encontrei você e vi que minha trajetória apenas começou. Eu prometo,
Blue, amar, horar, respeitar e proteger você. Me encontrei quando nossos
caminhos se cruzaram e quero trilhá-lo para sempre com você. Amo você!

Desliza a aliança e a beija em meu dedo. Sorrio entre as lágrimas e

respiro fundo para começar meus votos.

— Quão enganada eu estava quando pensei que duraríamos mais


que algumas horas, mas quão feliz sou por saber que temos a vida inteira
juntos. Eu não mudaria nada em nossas vidas, porque tudo me levou até

você. Aquele pequeno anel, uma mensagem no celular, a viagem da


gravadora, o acidente de carro, eu não faria nada diferente. Você tem o
coração mais bonito e bondoso que já conheci, você é íntegro e
determinado, sonhador. Tenho orgulho da pessoa que é. Eu sonho com o
dia que estaremos bem velhinhos, caminhando pela praia a noite, olhando
a lua e as estrelas, sentindo aquele vento forte, você vai me abraçar e eu
sentirei seu coração contra o meu. Eu escolheria você quantas vezes fosse
preciso, porque se almas gêmeas existem, você é a minha. — ele deixa a

lágrima cair e sinto meu coração aquecer. — Amo você!

Coloco a aliança em seu dedo e nos perdemos nos olhos um do


outro enquanto o juiz finaliza os votos.

Jake segura meu rosto entre as mãos e seus lábios colidem com os
meus, como se fosse a primeira vez. E mais uma vez, eu tenho certeza, nós
nascemos um para o outro.
O BEBÊ DO ROCKSTAR

BÔNUS ESPECIAL DE DEMI E MASON


Sinopse

Demi Jones viu sua vida virar de cabeça para baixo quando se apaixonou
verdadeiramente pelo rockstar dos seus sonhos adolescentes. O mais maluco de tudo, ele
se apaixonou por ela também.

Mason White viu a garota de olhos grandes castanhos e sorriso aberto, derrubar

cada parte da armadura que ele tanto lutou para ostentar. Eles estão entregues um ao
outro, e cada vez mais, completamente apaixonados.

Contudo, todo o relacionamento passa por provas. E assim como a mentira de


Demi, há muito pelo caminho que escolheram percorrer juntos. Ainda, uma prova que
será uma ligação que os unirá para sempre – uma gravidez.

Lançamento: outubro/2021
Agradecimentos
Blue e Jake surgiram na minha vida de uma forma muito
inesperada. Eles não estavam nos meus planos, mas como cheios de atitude
que são, trilharam seu próprio caminho e eu os segui. Eu não esperava que
nada que aconteceu na minha vida esse ano fosse acontecer, mas tudo

surgiu com a ideia deles. Sou imensamente feliz por ter a chance de dar
vida a dois personagens cheios de falhas, batalhas, coragem, amor e
perseverança. Eles lutaram tanto por si, que me fizeram fazer o mesmo por
mim.

Agradeço a Aline Pádua e Lana Silva, por me convidarem para esse


projeto, confiarem no meu trabalho, me apoiarem, construírem e se
dedicarem a cada segundo. Desejo que a Drops Of Jupiter seja sempre
lembrada nas nossas vidas por todo o seu poder, dedicação e paixão pelo o

que fazemos. Que esse projeto só seja mais um passo para vocês
mostrarem ao mundo o quanto são especiais. Desejo que consigam realizar
todos os enormes sonhos que carregam dentro de si, vocês são incríveis!

Gratidão a Eryka Portela, que se mantém ao meu lado em todos os


momentos. Por sonhar comigo, dedicar seu tempo e energia, ler cada coisa
que escrevo, ouvir todas as minhas lamentações e comemorar minhas
conquistas como se fossem suas. Obrigada pela amizade sincera, real e
bonita. Você vai conquistar o mundo! Amo você para sempre!

Agradeço a Thainá Maia e Patricia Silva por torcerem a cada

segundo.

Obrigada a cada leitora que abraçou e sonhou esse livro. Que sentiu
a dor de Jake e aprendeu com ele que nem todo mundo é o que parece, que
precisamos batalhar por aquilo que queremos e sempre proteger quem

amamos. Para aquelas que sentiram a força de Blue e que aprenderam com
ela sobre cuidado, proteção, carinho, amor, sonhos e coragem.

Obrigada a Deus por sempre me dar os sinais certos para não


desistir dos meus sonhos.

Isso não seria possível sem vocês, obrigada!


Contatos

Insta: @autoramarinatorres

Insta da Drops of Jupiter: @seriedropsofjupiter


Insta das outras autoras por trás da Drops: @alineapadua e @lanasilva.sm

Wattpad: @Marii_Torres
[1]
Olhos castanhos em português.

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