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“Conversa de viajantes”

8º ano
20/11/2020
Sobre o autor
Stanislaw Ponte Preta era o
pseudônimo do jornalista Sérgio Porto,
jornalista e escritor. Seu personagem
acabou tendo personalidade própria e
um jeito muito peculiar de conversar
com o público, usando uma linguagem
leve e descontraída. Sua obra inspirou
a criação do jornal “O Pasquim”, criado
por amigos jornalistas em sua
homenagem após sua morte.
Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/gol-de-padre-e-outras-cronicas.html
Conversa de Viajantes
Stanislaw Ponte Preta

É muito interessante a mania que têm certas pessoas de comentar episódios


que viveram em viagens, com descrições de lugares e coisas, na base de “imagine
você que...”. Muito interessante também é o ar superior que cavalheiros, menos
providos de espírito pouquinha coisa, costumam ostentar depois que estiveram na
Europa ou nos Estados Unidos (antigamente até Buenos Aires dava direito a
empáfia). Aliás, em relação a viajantes, ocorrem episódios que, contando,
ninguém acredita.
O camarada que tinha acabado de chegar de Paris e - por sinal - com certa
humildade, estava sentado numa poltrona, durante a festinha, quando a dona da
casa veio apresentá-lo a um cavalheiro gordote, de bigodinho empinado, que logo
se sentou a seu lado e começou a “boquejar” (Como diz o Grande Otelo):
─ Quer dizer que está vindo de Paris, hem? ─ arriscou.
O que tinha vindo fez um ar modesto: ─ É!!!
─ Naturalmente o amigo não se furtou ao prazer de ir visitar o Palácio de
Versalhes.
─ Não. Não estive em Versalhes. Era muito longe do hotel onde me hospedei.
─ Mas o amigo cometeu a temeridade de não ficar no Plaza Athénée?
O que não ficara no Plaza Athénée deu uma desculpa, explicou que o seu hotel
fora reservado pela Cia. onde trabalha e, por isso, não tivera vez na escolha.
─ Bem – concordou o gordinho ─, o Plaza realmente é um pouco caro, mas é
muito central e há outros hotéis mais modestos que ficam perto do Plaza. ─ E
depois e acender um cigarro, lascou: ─ Passeou pelo Bois?
 ─ Passei pelo Bois uma vez, de taxi.
─ Mas o amigo vai me desculpar a franqueza; o amigo bobeou. Não há nada mais lindo do
que um passeio a pé pelo Bois de Boulogne, ao cair da tarde. E não há nada mais parisiense
também.
─ É... eu já tinha ouvido falar nisso. Mas havia outras coisas a fazer.
─ Claro... claro... Há coisas mais importantes, principalmente no setor das artes – e sem
tomar o menor fôlego: ─ Visitou o Louvre?...
─ Visitei.
─ Viu a Gioconda?
Não. O recém-chegado não tinha visto a Gioconda. No dia em que esteve no Louvre, a
Gioconda não estava em exposição.
─ Mas o senhor prevaricou – disse o gordinho, quase zangado. ─ A Gioconda só está em
exposição às 5ª e sábados e ir ao Louvre noutros dias é negar a si mesmo uma comunhão
maior com as artes.
Passou uma senhora, cumprimentou o ex-viajante e, mal ela foi em frente, nova
pergunta do cara:
─ E a comida de Paris, hem amigo? Você jantava naqueles bistrozinhos de
Saint-Germain? Ou preferia os restaurantes típicos de Montmartre? Há um bistrô
que fica numa transversal da Rue de...
Mas não pôde acabar de esclarecer qual era a rua, porque o interrogado foi logo
afirmando que jantara quase sempre no hotel. E sua paciência se esgotou quando
o chato quis saber que tal achara as mulheres do Lido.
─ Eu não fui ao Lido também. O senhor compreende. Eu estive em Paris a
serviço e sou um homem de poucas posses. Quase não tinha tempo para me
distrair. De mais a mais, lá é tudo muito caro.
─ Caríssimo – confirmou o gordinho, sem se mancar.
─ O senhor, naturalmente, esteve lá a passeio e pôde fazer essas coisas todas –
aventou, como quem se desculpa.
Foi aí que o gordinho botou a mãozinha rechonchuda sobre o peito e exclamou:
─ Eu??? Mas eu nunca estive em Paris!
Conheci essa história quando eu li o
livro ao lado.

O que você achou dela?

Temos uma crônica de humor ou de


reflexão sobre aspectos sérios que
ocorrem na sociedade?

O que é mesmo humor?

Como o humor foi construído na


história lida?
alguns lugares citados na crônica
Paris - a “cidade da luz”
Palácio de Versalhes
Plaza Athénéé
Bois de Boulogne
Museu do Louvre
“La Gioconda”

Para ver “La Gioconda"

Leonardo Da’Vinci
Bistrôs de Saint-Germain
Restaurantes em Montmartre
1. De acordo com a introdução dada ao texto, 3. “O camarada que tinha acabado de chegar de Paris e - por sinal -
do que provavelmente o autor irá falar? com certa humildade”. Qual a função do termo “por sinal” de
acordo com o contexto da história?
Provavelmente, o autor abordará,
como assunto, o posicionamento de Ao meu ver, o termo “por sinal” indica que a personagem,
pessoas que se sentem superiores mesmo chegando de uma cidade famosa e luxuosa, ele
às outras quando viajam para estava “normal”, sem “ar de superioridade”.
fora do Brasil.
2. O texto é uma crônica ou um conto?
Justifique sua resposta. 4. O que seria “boquejar”? 5. O que é ser modesto?

O texto é uma crônica, pois vemos


uma conversa entre duas pessoas “Boquejar" significa
sobre um determinando lugar. O que o camarada “Modesto" é o mesmo
que pode acontecer com qualquer começou a conversar, que “simples”,
um no dia a dia. murmurar sobre o “despretensioso”.
assunto.
8. Que tipo de narrador se encontra no texto? Justifique sua resposta com
6. Qual o sentido da palavra “furtar” na elementos retirados do texto.
seguinte frase: “não se furtou ao prazer
de ir visitar o Palácio de Versalhes”? No texto, o narrador está na terceira pessoa, veja o
exemplo: “Mas não pôde acabar de esclarecer qual era a
“Furtar”, na frase apresentada, rua, porque o interrogado foi logo afirmando que
pode indicar: "Não deixou de ir jantara quase sempre no hotel.”
ao…” 9. Observe:
7. De acordo com as argumentações feitas pelo “─ Mas o senhor prevaricou – disse o gordinho, quase zangado. ─ A
senhor que conversava com o homem que
acabara de voltar de Paris podemos deduzir Gioconda só está em exposição às 5ª e sábados e ir ao Louvre noutros dias é
que ele conhecia a “cidade das luzes”? negar a si mesmo uma comunhão maior com as artes.”
Justifique sua resposta. a) O que seria “comunhão com as artes”?

Sim! Podemos afirmar que o “Comunhão com as artes” seria dar a algo um grande
senhor que indagava o recém- valor, no sentido de "admirar" alguma coisa que não se
chegado de viagem conhecia pode perder.
sim Paris, porque ele fala com b) Por que deixar de assistir a Gioconda seria, de acordo com a personagem, negar a comunhão com as artes?

detalhes sobre os lugares, de


horários específicos, como se já Deixar de ver a “Gioconda” seria perder a oportunidade de
estivesse ido lá. apreciar um dos trabalhos mais comentados do meio artístico.
11. “confirmou o gordinho sem se mancar”. Qual o sentido dessa
passagem de acordo com o enredo do texto?
10. O que seria ter “poucas posses”?
Vemos que a personagem que faz inúmeras perguntas
“Poucas posses” significa não sobre Paris acabara concordar com a opinião do
ter muito dinheiro ou não ter trabalhador, mas não percebera o quanto estava sendo
muitos bens, como imóveis. inconveniente e chata aquela conversa.
13. Podemos dizer que o final do texto
surpreende a expectativa do leitor? Por quê?
12 . O que levou o interrogado a acreditar que o
“gordinho” já estivera em Paris?

O interrogado acredita que o “gordinho” Sim! O final do texto surpreende o leitor


estivera, em algum momento de sua vida, em porque, após tantos e tantos detalhes e
Paris, tamanho era seu conhecimento sobre o indagações sobre Paris, o senhor diz que
lugar. nunca estivera lá.
DE OLHO NA PESQUISA!!

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