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COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE SANTA CATARINA

PSICOLOGIA E ARTE

BRUNA NEVES

ENSAIO - N2
A Psicologia em Mirrorball, de Taylor Swift

FLORIANÓPOLIS-SC
2022
A canção em contexto
Mirrorball é uma canção lançada pela artista americana Taylor Swift em 2020, no seu
oitavo álbum Folklore. O álbum se encontra numa intersecção entre diversos gêneros,
refletindo as várias transformações estilísticas e técnicas da cantora. A música em questão se
compõe a partir de uma fachada pop, mas tem uma profundidade sonora e lírica, característica
dos álbuns mais recentes de Taylor. A artista revelou que sua trajetória serviu como inspiração
para a música, e muitos dos versos foram escritos a partir de expectativas frustradas e
isolamento. A canção também dialoga com outros tracks do álbum, como "This is me trying".

Letra Original
Tradução

Globo espelhado
Eu quero que você saiba
Eu sou um globo espelhado
Eu vou te mostrar todas as suas versões esta noite
Eu vou te levar para a pista de dança
Cintilando beleza
E quando eu quebro, é em um milhão de pedaços

Silêncio, quando ninguém estiver por perto, meu querido


Você vai me encontrar na ponta dos pés
Girando em meus saltos mais altos, amor
Brilhando apenas para você
Silêncio, eu sei que eles disseram que o fim está próximo
Mas ainda estou na ponta dos pés
Girando em meus saltos mais altos, amor
Brilhando apenas para você

Eu quero que você saiba


Eu sou um globo espelhado
Eu posso mudar tudo sobre mim para me encaixar
Você não é como os normais
Os foliões do baile de máscaras
Bêbados enquanto veem minhas bordas estilhaçadas brilharem

Silêncio, quando ninguém estiver por perto, meu querido


Você vai me encontrar na ponta dos pés
Girando em meus saltos mais altos, amor
Brilhando apenas para você
Silêncio, eu sei que eles disseram que o fim está próximo
Mas ainda estou na ponta dos pés
Girando em meus saltos mais altos, amor
Brilhando apenas para você
E eles cancelaram o circo, incendiaram a discoteca
Quando mandaram para casa os cavalos e os palhaços de rodeio
Eu ainda estou naquela corda bamba
Ainda estou tentando de tudo para manter você rindo para mim
Eu ainda acredito, mas não sei por quê
Eu nunca fui natural, tudo o que faço é tentar, tentar, tentar
Eu ainda estou naquele trapézio
Ainda estou tentando de tudo para manter você olhando para mim

Porque eu sou um globo espelhado


Eu sou um globo espelhado
E eu vou te mostrar todas as suas versões esta noite

Quem é Mirrorball?
Assim como boa parte das canções de Taylor, "Mirrorball" conta uma história:
ambienta-se em uma típica festa americana, narrada pela atração principal: o globo espelhado.
A nível sonoro, a música revela um efeito hipnótico. As progressões escolhidas criam um
loop que causa a impressão de uma bola de disco que está girando sem parar. As harmonias
trazem um efeito sinestésico, semelhante aos reflexos de luz que seriam produzidos por uma
bola de espelhos.
A canção traça uma espécie de perfil psicológico para o eu-lírico, e ao longo da
música, essa pessoa se descreve como uma mera reflexão do que está acontecendo ao redor
dela, estando desconectada da sua própria identidade. Ela faz e performa tudo o que trará a ela
o suposto amor e a aceitação das pessoas que a rodeiam, brilhando, dançando e se partindo em
milhões de pedaços. Quando há luz, ela brilha muito, mas quando não há nada para refletir,
ela não é nada. Para existir em qualquer nível, essa pessoa precisa que os outros estejam
olhando para ela. Verifica-se na música uma dependência emocional do eu-lírico em relação
àqueles que ele percebe como o seu "público". Ao mesmo tempo em que é uma experiência
humana comum ter que criar diferentes versões do "eu" para viver em sociedade, é exaustivo.

"Nós temos globos espelhados no meio da pista de dança porque eles refletem luz. Eles são quebrados milhões
de vezes e é isso que faz com que sejam tão brilhantes. Nós temos pessoas assim na sociedade também: elas
pairam ali, e toda vez que quebram isso nos entretém." - Taylor Swift, sobre Mirrorball
No fim da música, e consequentemente da festa, o eu-lírico se encontra desesperado,
ainda lutando para ser visto e ouvido mesmo em meio a tanto caos, para ter qualquer reação
sequer do público. Ele revela suas ilusões, e que nada daquilo é natural: ele apenas tenta, tenta
e tenta.

Recepção da música pelos ouvintes


Foi realizado um questionário discursivo por meio de formulário (google forms),
disponibilizado publicamente. Houve respostas de oito pessoas diferentes para três perguntas
distintas. As perguntas foram as seguintes:

1. Como você interpreta a música? Sobre o que ela é?


Quanto à interpretação da música, embora haja divergências, chega-se a uma
conclusão de que o eu-lírico necessita de atenção e dá o seu máximo para isso, tornando-se o
que querem dele para agradar. Foram citados versos específicos da música para complementar
as metáforas, sendo eles os mais significativos para quem respondeu. Os temas mais trazidos
foram: insuficiência, mudança, sociedade, identidade e validação. Algumas respostas tiveram
um tom de desabafo, outras, de análise objetiva.

"Acho que tem a ver com procurar se encaixar de qualquer jeito na vida de uma pessoa, mesmo que isso inclua
tu ter que fingir ser alguém que não é. "

"Eu vejo como se o eu lírico estivesse admitindo suas fraquezas para quem o escuta, declarando que se vê como
alguém que está ali pelos outros, fazendo pelos outros, ajudando os outros, talvez coisas que não conseguiria
fazer por si mesmo."

"Tudo que ele faz e fez até hoje foram tentativas de agradar os outros no objetivo de agradar a si mesmo através
disso, e por não ter esse "dom natural", se enxerga como alguém comum, que por mero acaso acaba por obter
sucesso."

"Você sabe que tenta o seu melhor, muda todos os aspectos que outras pessoas falariam que são imutáveis e
ainda assim as pessoas vão embora."

"Sobre alguém com baixa autoestima. Alguém que precisa se adaptar para sobreviver, para receber afeto.
Alguém que pisa em cascas de ovos a ponto de não saber mais quem é."
"Para mim, mirrorball reflete o sentimento mais comum aos seres humanos, a insuficiência, por mais que você
tente tudo que está ao seu alcance, você não para de se sentir insuficiente e por isso, você tenta mudar
características próprias para encaixar em grupos em busca de se sentir especial."

2. Você se identifica com ela? Por quê?


Todas as pessoas que responderam relataram uma identificação com a música, mesmo
que em uma fase anterior da vida. Evidencia-se nas respostas uma introspecção provocada
pela canção, o que se mostra revelador e catártico para esses indivíduos.

"Acho que meu eu do passado se identificaria mais com isso, eu costumava encontrar validação pessoal nos
outros quando era mais novo, buscava muitos elogios dos outros (principalmente de meus familiares) buscando
achar quem eu sou."

"Sim. Porque eu sempre mudo e tento, mas nunca é suficiente pra nada e para ninguém."

"Sim, porque sinto que ainda tento mudar certos aspectos de mim mesma para as pessoas gostarem de mim, por
medo de desaprovação."

"Em certos aspectos, sim. Principalmente em ambientes como a escola, que tem muita pressão para se encaixar
em grupos diferentes e ter muitos amigos, o que acaba forçando as pessoas a mudarem quem elas são de verdade
só pra poder fazer parte de certo grupo, ou só ser aceita por ele. Inclusive essa validação alheia tem um papel
enorme nisso, às vezes até de forma inconsciente, já que crescemos com a ideia de que devemos sim agradar os
outros e fazer o que eles querem ou esperam que a gente seja, e não aquilo que a gente de fato quer."

3. Como essa música faz você se sentir?


Em meio à diversidade de respostas, verifica-se um padrão de acolhimento e validação
de sentimentos por parte da música, que é desfrutada pelo ritmo, melodia e letra igualmente.

"Me identificar com essa música traz uma sensação de representatividade, ou seja, a ideia de que eu não
sou a única passando por essa situação. É triste ao mesmo tempo que é acolhedor."

"A letra de Mirrorball traz consigo reflexões muito pertinentes sobre características de pessoas que podem
estar perto de nós e muitas vezes não percebemos, e acho interessante que seja praticada a reflexão sobre
esses aspectos da personalidade de alguém, pois diz muito sobre quem aquela pessoa é e o que está
passando em seu íntimo."
"Acho que acolhida. Saber que não passei por isso sozinha e que esse é um sentimento comum me deixa
mais aliviada, mesmo sendo uma música super triste e sem necessariamente um final feliz (até porque essa
é a realidade) e por mais triste que seja é bom ter alguém contando algo que eu consiga me enxergar na
situação, como se eu estivesse sendo vista e ouvida e com meus sentimentos validados."

"Me relaciono bastante com ela, me sinto menos sozinha quando a escuto, mas ao mesmo tempo traz
aquele sentimento de melancolia."

"Triste e feliz ao mesmo tempo."

"A batida faz eu me sentir uma personagem deslocada num filme. Sabe quando a câmera vai passando
pelos personagens e tem uma que fica meio de lado, mas não porque ela quer, mas só porque parece que ela
não sabe o que fazer? Música tocando, todo mundo dançando, e a pessoa pensando no que ela tá fazendo
ali. Acho que igual uma mirrorball mesmo, ela fica lá no teto parada/girando, iluminando todo mundo, mas
ela é só um objeto, engrandecendo a noite das pessoas que tão dançando. Desculpa se ficou confuso, mas,
resumindo, adoro a música, mas gosto de escutar ela quando quero ficar sozinha, sem ter que agradar
ninguém, sabe? Então ela faz eu me sentir compreendida num contexto em que estou de saco cheio de
outras pessoas e quero ficar no meu quarto sozinha."

Conclusão
Assim como a experiência de composição da música foi singular para a cantora, a
interpretação de cada ouvinte, mesmo que semelhante à de outras pessoas, é única, pois está
relacionada à vivência e ao contexto de introdução à canção, além de outras variáveis. Por
meio de uma metáfora, cria-se uma representação para fenômenos psíquicos individuais e a
sua manifestação na sociedade. Talvez todo mundo seja um globo espelhado.

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