Você está na página 1de 3

MUSICALIZAÇÃO E ABORDAGENS BRINCANTES

Eu poderia iniciar esse nosso momento falando sobre a Lei 11.769/08 que
torna o estudo da música obrigatório nas escolas e por isso a necessidade de
profissionais formados em música, ou dizer para vocês sobre a
interdisciplinaridade que a música tem com todas as matérias possíveis:
Geografia? A música apesar de ser uma linguagem universal ela é
regionalizada, cada etnia, cada povo, cada nação tem sua própria forma de
fazer música; Português? A música pode ser usada na alfabetização e na
construção da linguagem; Matemática? Divisão, subdivisão e até código binário
pode ser aprendido a partir da música... E não estou falando de “cantar uma
musiquinha que ajude a aprender”, estou falando de uma forma real, palpável,
onde essas conexões são reais e explícitas na música. Poderíamos mostrar
graficamente quais os benefícios que a música traz ao praticante e os
possíveis aumentos cognitivos que o aprendizado do canto ou de um
instrumento pode contribuir ao indivíduo.

Porém nosso tempo aqui seria extremamente enfadonho, não que estejamos
desprezando esses fatos, mas porque é uma segunda feira, de noite, e após
um exaustivo dia de trabalho, creio que vocês se sentiriam exaustas ouvindo
por uma hora, um professor de música, falando de musicalização, e por não ser
uma área que vocês tenham “aquele” interesse, provavelmente estaríamos
todos agora com sono e cansados.

Em uma das varias oficinas e cursos que já participei como aluno me deparei
com a seguinte pergunta: Que tipo de profissional eu quero ser? A resposta
que fora construída naquela oficina foi: “Cada professor é único e dono de uma
singularidade que o faz especial. É fundamental saber e se apropriar de tais
características. Dessa forma, seu aluno saberá exatamente o que pode
encontrar em você qual seu diferencial e como você ajudará o aluno em sua
trajetória musical”.

E aqui está o ponto que quero compartilhar com vocês hoje: Cada um (a) de
vocês é singular, um individuo único que deve ser valorizado naquilo que sabe
fazer bem, ensinar é para quem gosta de ensinar, parafraseando o livro de
Rubens Alves, e quando o assunto é musica, porque fazer uma aula falando de
semibreves, mínimas ou semínimas, porque falar sobre intervalos maiores,
menores, justos, aumentados ou diminutos, porque ensinar sobre o trítono ou
sobre as escalas pentatônicas de um jeito formal? O fazer musical deve ser
valorizado e nossa cultura é extremamente rica nesse ponto e por que não
“deixarmos acontecer” a musicalidade?

Se fazer música é tão importante como dizem os livros, os artigos, e os estudos


então é hora de nós professores nos apropriarmos desses fazeres musicais e
fazermos conhecidos nossos ensinamentos, e como dizia Lutero, já que
estamos perto do dia 31 de outubro (reforma protestante), aos professores e
pastores: “A necessidade exige que a música permaneça nas escolas. Um
professor deve saber cantar; do contrário não o considerarei. Antes que um
jovem seja admitido ao ministério, ele deve praticar música na escola” e ao
escrever ‘Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alemanha que Criem e
Mantenham Escolas (1524) “Falo por mim mesmo: Se eu tivesse filhos e
tivesse condições, não deveriam aprender apenas línguas e história, mas
também deveriam aprender a cantar e estudar musica”.

A partir daqui quero mostrar propostas de como fazer música, mesmo sem
saber tocar nenhum instrumento, e sim é possível, é só querer e gostar de
brincar, afinal, a criança aprende e muito a partir das nossas brincadeiras.

Vamos começar:

Me convidaram para vir conhecer pessoas novas aqui no Chagas e como eu


gosto muito de fazer isso, aceitei na hora. Chegando aqui hoje percebi um
ambiente meio quieto, desconfiado e então decidi quebrar o gelo e começar a
contar, ou melhor, cantar uma história, afinal, as histórias estão por aí as
história, as histórias vivem de lá e de cá. Peguei meu instrumento e comecei a
cantar

Música de acolhida: Olá como vai. (...mas não se amoite...)

Sabe que gosto muito de música e por causa disso comecei a comprar
instrumentos musicais e depois de ir a falência pelo alto preço que eles estão,
descobri que todos eles são uma forma de imitar o nosso corpo. Por exemplo,
o saxofone existe o soprano, barítono e tenor, todos imitação da voz. Se eu
bater a palma seu som vai imitar o agogô, se eu bater no peito seu som vai
imitar o tambor, na verdade instrumentos são só uma extensão de quem somos
e por isso pra fazer música precisamos gostar dele do jeito que ele é e
movimentá-lo, ou melhor, usar o melhor instrumento de todos, nós mesmos.

Música: Ijexá – Brincadeira de roda e canto – (dividir canto ‘lê-lê-lê’) e ensinar


em duplas parte B da música.

Um dia na minha casa, era de manhã cedo e comecei a ouvir um toc toc toc na
minha janela, era domingo de manhã e eu queria dormir até mais tarde, mas o
toc toc toc não parava. Levantei-me porque me incomodei com aquele barulho
e abri a janela, e quando ele me viu... Tomamos um susto juntos... Era um
pica-pau que voou quando abri a janela e eu caí pra trás por ver aquele
bichinho voando. Isso me deu uma idéia...

Música: Pica-pau – Em duplas ao ouvir a palavra “pica-pau” fazer cócegas no


colega ao lado.
Já que levantei cedo fui pra rua e encontrei uma amiga que me convidou logo
pra bugar a cabeça em uma brincadeira antigaaaaaaa que acho que só eu
conheço por estar ficando cada dia mais velho...

Música: Eu fui a China – Desafio múltiplo de coordenação motora e


memorização.

Eu sou uma pessoa que já viajei muito sabe, numa dessas minhas andanças
conheci uma mineirinha que riu muito do meu sotaque aqui de Porto Alegre
(nosso gauchês é diferente) falando “bah, tchê”. Eu fiquei meio bolado, mas cai
na risada quando ela me disse “uai, sô” e então caímos ambos na risada
porque foi engraçado essa nossa diferença e ai nasceu uma grande amizade.

Música: Duli-duli-dú – Desafio de palmas e batidas no peito;

Um dia a mineirinha me convidou pra tomar café de um jeito estranho... pó por


pó? O que é isso? Ela me chamou e me começou a contar um segredinho...
Quem é que não tem segredinhos né?!

Música: Pó por pó – Desafio em duplas com palmas;

Por falar em segredos lembrei de uma outra história – Cadê Maria – Ep 1

Música: Letras no ar – Separação silábica;

O bater das asas das borboletas fez cair letras no chão, a dança das letras
formaram palavras, as palavras se juntaram e formaram frases que diziam...
Maria foi para lá...

Música: A E I O U – Brincadeira de percepção sonora com as letras;

Até hoje não se sabe quem procurava quem, se alguém realmente tinha se
perdido de alguém ou se tudo era uma grande desculpa para brincar. Afinal, as
histórias estão por aí, as histórias vivem de lá e cá. Quem conta um conto
ganha um ponto, quem brinca junto se perde no outro.

Ser mestre, professor, educador é isso, inspirar pelo exemplo, crescer sem
perder a essência de ser criança e poder rir, mesmo que cansado de um dia
exaustivo, poder se alegrar com quem se alegra, consolar quem ainda não
sabe lidar com as adversidades. Ser professor é reger uma orquestra que
ainda está se formando, e a música está aqui para tornar isso mais prazeroso e
interessante.

Você também pode gostar