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para uma prática musical

efetiva na infância
Rosangela Lambert
• Mãe da Juliana
• Formada em Educação Artística com
Habilitação em Música
• Especialista em Educação Musical, em
Musicoterapia, em Saúde do Idoso e
Gerontologia e em Neuropsicologia
Interdisciplinar.
• Formada em Piano (Conservatório).
• Dirigente de Dança Sênior.
• Atua como educadora musical no Colégio
Salesiano Santa Teresinha - SP e como
musicoterapeuta no Centro Unisal – Idade
Ativa (Universidade Livre para Idosos).
• Ministra cursos de formação para
profissionais que atuam com crianças e
idosos.
• É professora convidada do curso de Pós-
Graduação em Musicoterapia da Faculdade
Regional de Filosofia, Ciências e Letras de
Candeias – FAC (Salvador – BA) e da Pós-
Graduação em Educação Musical da
Faculdade CENSUPEG.
[Registro de Musicoterapeuta: 3-190143]

rosangelalambert.com.br
/rosangelalambert.musicoterapeuta
@rosangela.lambert10
/rosangelalambert
“Que a música
pertença a
todos.”
Zoltan Kodály
Índice

Para começo de conversa... 5


A importância da música na vida da criança... 8
Dica 1 13
Dica 2 14
Dica 3 15
Dica 4 16
Dica 5 17
Dica 6 18
Dica 7 19
Dica 8 20
Dica 9 21
Dica 10 22
Dica 11? 23
Sugestão de atividades 25
Para saber mais... 29
Para começo de conversa...

A música faz parte da história da humanidade. Não há cultura


do planeta que não faça e consuma música. Por isso, muitos
acreditam que a música é uma linguagem universal. No
entanto, Maura Pena (2008, p.24) afirma que

“A música é, sem dúvida, um fenômeno universal, mas como


linguagem é culturalmente construída. Se a música fosse uma
linguagem universal, seria sempre significativa – isto é,
qualquer música seria significativa para qualquer pessoa-,
independentemente da cultura, e, desse modo, a estranheza
em relação à música do outro não existiria.”

Somos rodeados por música. Ela se faz presente, ainda que


não sejamos conscientes de sua presença. Ela está no acalanto
da mãe para seu bebê, na trilha sonora das novelas e filmes
que assistimos, nos games eletrônicos, na igreja, na festa, na
loja, na academia, na rotina escolar, nas datas comemorativas,
nos hospitais, nas salas de concerto, nos shows, entre outras
possibilidades.
Mas afinal, por que razão gostamos tanto de
música?

Acredito que não exista uma resposta única. Estudos e


pesquisas em Neurociências têm demonstrado os efeitos da
música no ser-humano. Já se sabe que o sistema límbico é a
grande central dos mecanismos neurais dos comportamentos
e das emoções com importante papel na relação entre o corpo
físico e as realidades musicais. É fato que aprendemos a
“gostar”, sobretudo, de músicas que vivenciamos em nosso
dia-a-dia, comprovando que a cultura musical é moldada pelo
meio e realidade de cada região.
Maria de Lourdes Sekeff afirma que a música afeta,
independente de nossa vontade, nossas dimensões humanas.
Ela estudou seus efeitos, resumidos a seguir:

• Efeitos Fisiológicos: ligados à frequência cardíaca e pulso, a


movimentos motores reflexivos, à pressão sanguínea, ao
aumento de resistência à dor, etc.;
• Efeitos Psicológicos: a música é capaz de provocar alteração
de humor, despertar emoções profundas e significativas;
• Efeitos Intelectuais: ligados à atenção, memória,
pensamento, criatividade, inteligência;
• Efeitos Sociais: ligados à socialização e integração entre
pessoas, que se expressam por meio da música;
• Efeitos Espirituais: ligados a algo que “transcende” o
homem, que remete ao mistério, que dá sensação de
“completude”, independente de religião.

Podemos afirmar, portanto, que a música favorece o indivíduo


em razão de seus múltiplos estímulos, sendo empregada em
diversos contextos, como educacional, terapêutico e
recreativo.
A importância da música na vida da criança...

Acredito no potencial formador e transformador da música.


Crianças em idade escolar poderão beneficiar-se - para a vida
toda - se em contato com ela de maneira sistemática e
eficiente. A música, quando usada como instrumento de
educação, pode promover seu desenvolvimento em suas
dimensões intelectual, emocional, social e cultural.

Elvira Drummond (2016, p.3), escritora, compositora e


educadora apresenta dez motivos para se musicalizar, a
saber:
A música...
• tem função socializadora
• fortalece o equilíbrio emocional
• desenvolve a motricidade
• estimula a capacidade de verbalizar
• favorece o raciocínio lógico-matemático
• aumenta a capacidade de memorização
• exercita a capacidade de pensar
• desenvolve a imaginação e a criatividade
• possibilita a formação do senso estético
• promove a felicidade
Qual caminho queremos trilhar?

Paulo Freire (1921-1997), educador brasileiro, propõe a


educação como prática de liberdade. Este sonho converge com
o pensamento das pesquisadoras musicais Ilza Zenker Leme
Joly e Natália Bugo Severino. Elas defendem que é preciso uma
educação musical humanizadora, a qual “se faz presente no
processo de desenvolvimento de pessoas, construindo e
ativando memórias afetivas e culturais, permitindo que as
pessoas, através da música, possam compreender o mundo e
fazer parte dele”.
Elas afirmam que:
“A educação musical então, sob a ótica humanizadora,
seria uma educação voltada para o indivíduo e suas
particularidades, e ao mesmo tempo para o coletivo, de
forma colaborativa. Uma educação rica em conteúdos,
mas que não se prende somente nesses conteúdos. Uma
educação onde o professor ensina, mas também aprende.
Ou seja, uma educação musical humanizadora é aquela
onde, através do respeito, do diálogo e de ações
colaborativas, o educador musical apresenta a seus alunos
os conteúdos musicais de maneira lúdica, fazendo relação
com o dia a dia; e os alunos, em contrapartida, podem se
apropriar desses conhecimentos musicais para construir a
sua própria individualidade, por meio da relação dele com
a música, com o professor e com os outros alunos” (JOLY;
SEVERINO, 2016, p. 26).
“A educação musical sob a
ótica humanizadora, seria uma
educação voltada para o
indivíduo e suas
particularidades, e ao mesmo
tempo para o coletivo, de
forma colaborativa”.

Ilza Joly e
Natália Severino
para uma prática musical
efetiva na infância
De maneira inventiva, ofereça oportunidades de experiências
com a voz, com o corpo, com materiais sonoros!
O fazer musical ativo e criativo propõe experiências significativas. É
fundamental que as crianças descubram o prazer de cantar, expressar-
se corporalmente, tocar o corpo, objetos e instrumentos convencionais
e não convencionais, criar e jogar musicalmente. Planeje encontros
sonoro-musicais nos quais a criança tenha oportunidades de
autoexpressão em diversos contextos.
Sugestão de leitura:
• Pedagogias em Educação Musical – Teresa Mateiro (org.).
• De Tramas e Fios: um ensaio sobre música e educação - Marisa
Fonterrada.
• Artigos que escrevi sobre tais abordagens:
https://blog.rosangelalambert.com.br/category/educacao-
musical/abordagens-ativas-de-educacao-musical-educacao-musical/

“Diga-me e eu esqueço.
Mostre-me e eu me lembro.
Envolva-me e eu entendo”.
Carl Orff
Quanto menor a criança, mais atividades!

Crianças bem pequenas apresentam menor tempo de concentração,


razão pela qual devemos propor atividades curtas e diversificadas.
Práticas com movimento, instrumentos percussivos, pequenas histórias
e jogos cantados são uma ótima opção, pois estimulam sua percepção
global.

Sugestão de material para crianças de 1 a 4 anos:


• Coleção Descobrindo Sons - Volumes 1, 2, 3, de Elvira Drummond

“O afeto nos afeta”.

Elvira Drummond
Rotina: valiosa ferramenta de disciplina positiva!

A rotina dá segurança e tranquilidade para a criança, que se sente mais


confiante sabendo o que está por vir. Assim, nas práticas musicais para
crianças, pode-se estabelecer uma rotina, como no roteiro a seguir:
• Canto de acolhida;
• Canção com objeto / instrumento percussivo;
• Canção para movimentos locomotores e expressivos;
• Momento da escuta (sons, história, explorações e pesquisas sonoras,
entre outros);
• Atividade corporal (roda, brinquedo cantado, jogos musicais);
• Fechamento / Canto de despedida.

Obs. Esta é uma sugestão de roteiro que pode variar de acordo com a
faixa etária ou com objetivos pedagógicos.

Lembre-se: A rotina é grande aliada!

“A princípio estranha-se. Depois entranha-se”.


Rubem Alves
Elabore “encontros temáticos”!

Escolha um tema central que permeie as propostas presentes na rotina


(Dica 3), “costuradas” de maneira convidativa, divertida, que despertem
curiosidade e vontade de participar.
Exemplo: Tema “jardim”. Selecione canções com a temática e elabore
atividades vocais, corporais, instrumentais, expressivas, etc., que façam
alusão ao tema, como borboletas, formigas, pássaros, entre outros.
Exercite sua criatividade!

“O corpo não se esquece dos prazeres. Educar, assim tem a ver com as duas
caixas que o corpo carrega: a caixa de ferramentas e a caixa de brinquedos.
Na caixa de ferramentas estão os conhecimentos que são meios para viver.
Na caixa de brinquedos estão os conhecimentos que nos dão razões para viver”.
Rubem Alves
Atenção à diversidade de repertório!

É importante que possibilite às crianças o contato com repertório


variado, como folclórico, popular, erudito e de outras culturas. Sempre
que possível, faça música “ao vivo”, cantando, tocando e criando sons e
música com as crianças.

Lembre-se: ninguém gosta do que não conhece!

“Devemos dar a nossos alunos dentro da


escola o que eles com certeza não
encontrarão fora dela”.
Lydia Hortélio
Encante suas crianças com a magia
dos instrumentos sonoros!

Os instrumentos de percussão miúda são os mais indicados: chocalhos,


maracas, guizos, reco-recos, tambores pequenos, caxixis,
boomwhackers, xilofones, etc. Também pode-se utilizar objetos do
cotidiano, como copos plásticos, colheres, baldes, bacias, entre outros.
Podem ser artesanais, industrializados ou de sucata.

Lembre-se: É importante diversificar!

“Estimular o prazer estético


desperta a inteligência”.
Elvira Drummond
Utilize recursos extramusicais para as propostas!

Lenços, fitas, bambolês, tecidos, banda elástica, parachute, entre


outros recursos atrativos, promovem a interação e o envolvimento nas
atividades sonoro-musicais.
Lembre-se: A experiência estética corresponde ao coração humano!

Parachute

Banda Elástica
“O tato contém um saber. Talvez, uma
provocação ao saber, faz-nos pensar”.
Rubem Alves
Não confunda: abordagem lúdica
é diferente de material lúdico!

O interesse da criança cresce consideravelmente quando há uma


abordagem lúdica, no entanto, isso não significa precisar utilizar
materiais (concretos) como fantoches, aventais, bonecos, entre outros,
para tornar o momento musical lúdico. Instigar a imaginação da criança,
com pitadas de fantasia, entonações no uso da voz e expressões faciais,
promovem ludicidade. No entanto, quando optar por usar materiais
concretos, cuidado com os excessos.
Lembre-se: Se a proposta se concentra no brinquedo, se afasta do
propósito musical.

Sugestão de leitura:
• Para cada Proposta Lúdica, uma Trajetória Lúcida, de Elvira Drummond.
• Educação Musical: Material Concreto e Prática Docente, de Daniela Vilela de Morais.

“A inteligência gosta de brincar. Brincando,


ela salta e fica mais inteligente ainda”.
Rubem Alves
Busque parceria com seus alunos!

A relação bem-humorada e harmoniosa entre professor e aluno atua


diretamente no desempenho das atividades, bem como na disciplina
em sala de aula. Mesmo com os pequenos, da Educação Infantil, as
regras devem ser introduzidas e respeitadas.
Lembre-se: Faça combinados com sua turma, dando, a cada um, a
responsabilidade de “ser e estar” no grupo.

“É só do prazer que surge a


disciplina e a vontade de aprender”.
Rubem Alves
Ouça o que seus alunos têm a dizer!

Proponha “rodas de conversa” com seus alunos. É muito importante


ouvir as crianças – mesmo as pequenas da Educação Infantil. Ouvi-los
irá te ajudar na elaboração do planejamento e irá ajudá-los a se
apropriar do que vivenciaram nas propostas. Faça perguntas e os ajude,
quando necessário, para se manifestarem. Esteja atento e aberto!

“Resta-nos, portanto, apoiar propostas educativas no que há de


mais lógico, de mais lúcido, ou seja, no lúdico, construindo
experiências pedagógicas prazerosas e eficazes, e, sobretudo,
fazendo da relação professor-aluno um encontro feliz”.
Elvira Drummond
Na realidade, essa é mais que uma dica!

Esta é uma sugestão para você!

Seja estudioso! Pesquise! Saber as práticas musicais é


muito importante, mas é fundamental conhecer as
teorias que sustentam e fundamentam tais práticas.
Quanto mais sabemos sobre a teoria do nosso ofício,
mais a nossa prática será significativa e valiosa para
nosso público.

Sugestão de Leitura:

“Afinal, o que torna o ensino musical eficiente?”, em


https://blog.rosangelalambert.com.br/afinal-o-que-
torna-o-ensino-musical-eficiente/

“A teoria não é o oposto


da prática, mas sua base”.
Keith Swanwick
SUGESTÃO DE ATIVIDADE

Escuta dos “Barulhinhos do Silêncio”


Faixa etária sugerida: de 4 a 10 anos

Objetivo Geral:
Estimular, nas crianças, a percepção do mundo sonoro em que
estamos inseridos.

Objetivos Específicos:
• Possibilitar a consciência de que estamos inseridos num
ambiente sonoro;
• Aguçar a percepção auditiva das crianças;
• Promover uma escuta diferenciada, crítica e reflexiva sobre os
sons que nos rodeiam.

Fundamentação Teórica:
Conceito de “Paisagem Sonora” (soundscape), proposto por Murray
Schafer

Sugestão de Leitura:
Livro “O Ouvido Pensante” – Murray Schafer
Artigo “Murray Schafer: Os sons do mundo e a conscientização
sonora”, em: https://blog.rosangelalambert.com.br/murray-
schafer-os-sons-do-mundo-e-a-conscientizacao-sonora/
Materiais Sugeridos:
• Livro “Barulhinhos do Silêncio”, de Sonia Salerno Forjaz. Caso
não seja possível, crie uma história ou contexto convidativo à
escuta dos sons do ambiente (paisagem sonora);
• Livro CD Entre Amigos, de Rosa Maria Aguiar: Faixa 7 “Fica
perto de mim”, ou pesquise músicas sobre medo/ coragem ou
outro assunto que esteja relacionado com o tema da aula;
• Plásticos e raio “X” para sonorização de uma paisagem chuvosa
(você poderá propor outra paisagem para sonorizar).

Etapas Sugeridas:
• Converse com as crianças sobre os “barulhinhos do silêncio”:
sons que estão em toda parte. Aprofunde de acordo com a faixa
etária;
• Conte a história “Barulhinhos do Silêncio” ou crie outro contexto
envolvente sobre o tema;
• Proponha o exercício da escuta, na sala ambiente ou, se possível,
dê uma volta pela escola (em silêncio), para ouvirem
atentamente os “sons do silêncio”;
• Proponha uma roda de conversa e colete as percepções das
crianças;
• Proponha a sonorização de uma “paisagem”. Utilize o corpo, a
voz, ou materiais sonoros (objetos / instrumentos);
• Pesquise canções / músicas possíveis de relação com o tema da
aula e proponha atividades vocais, corporais ou instrumentais.
Neste exemplo, fizemos uma roda com a canção “Fica Perto de
Mim”, do livro CD “Entre Amigos”.

Veja a atividade acessando o link:


https://www.youtube.com/watch?v=rdCWC_SDmh4&list=PLUAZLtr
QlQGCOSpFnj2LTK1dEYfAQ-E2W&index=65&t=0s
“A música é importante na
educação porque a música é
importante no viver, como uma das
formas de relação que
estabelecemos conosco, com o
outro, com o ambiente. Música é
movimento, aventura, criação,
sensação, devir, e desse modo,
considero, deve estar presente
nos planos da educação”.

Teca Alencar de Brito


Para saber mais...

Conheça meu trabalho juntos às crianças: [Clique para assistir]

https://www.youtube.com/playlist?list=PLUAZLtrQlQGCOSpFnj2LTK
1dEYfAQ-E2W

Participe do meu grupo de TELEGRAM –acesso o link


https://t.me/joinchat/J_ehHhLqrCydcJYkhZsQJg

[Clique para entrar]


REFERÊNCIAS
BRITO, Teca A. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
______. Música na educação infantil. 2.ed. São Paulo: Peirópolis, 2003.
______. Um jogo chamado música: escuta, experiência, criação, educação.
São Paulo: Peirópolis, 2019.
DELALANDE, François. A música é um jogo de criança. São Paulo: Peirópolis,
2019.
DRUMMOND, Elvira. Fundamentos da educação musical: etapa de
sensibilização. Fortaleza: LMiranda Publicações, 2012.
______. Dez razões para musicalizar: aos educadores em geral (pais e
mestres). Fortaleza: LMiranda Publicações, 2016.
FONTERRADA, Marisa T. O. De tramas e fios: um ensaio sobre a música e
educação. 2.ed. São Paulo: Unesp, 2008.
FREIRE, Madalena et. al. Avaliação e planejamento: a prática educativa em
questão. São Paulo: Espaços Pedagógicos, 1996.
JOLY, Ilza Z. L.; SEVERINO, Natália B. Por uma educação musical
humanizadora. S.I.: s.n., 2016.
PENNA, Maura. Música(s) e seu Ensino. 2.ed. Porto Alegre: Sulinas, 2012
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da música: seus usos e recursos. São Paulo:
Unesp, 2007.

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