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SALA DE PROFESSORES

MÚSICA NA ESCOLA
TEXTO DO MINICURSO
SALA DE PROFESSORES
MÚSICA NA ESCOLA

Marla Lüdtke

• Mestre em Música UNESP - São Paulo – SP


• Pós-graduada em Regência Coral UNASP
- Engenheiro Coelho – SP
• Graduada em Educação Artística (Habilitação em
Música) UNASP - Engenheiro Coelho – SP

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Afinal, o que é música na escola?


Autoria: Marla Ebinger Moraes Lüdtke
Público alvo: Professores de Arte do Fundamental II

Resumo: Este texto expõe os objetivos, conteúdos e métodos do ensino de música na escola no
contexto da aula de Artes. Apresenta também as propostas musicais dos principais pedagogos que
abordam esse tema e esclarece sua aplicação em sala de aula até mesmo por professores não
especialistas na área.

Afinal, por que música na escola?

É inegável que a música faz parte da vida de todas as pessoas. É muito difícil encontrar
alguém que afirme categoricamente que não gosta de música. Nossa vida é rodeada de sons
musicais: em lugares públicos, restaurantes e festas. Há eventos musicais aos quais
gostamos de assistir e música para motivar nosso exercício da academia. A música tem
também espaço importante nos cultos das igrejas e nos cultos familiares. Cada um tem sua
preferência por bandas, cantores e canções e sabe dizer quais são as músicas que acalmam
e as que provocam o choro.
Por outro lado, música não é apenas entretenimento. Envolve linguagem, área do
conhecimento e cognição. Compreende signos e regras específicos, alguns entendidos de
forma intuitiva e outros que necessitam ser estudados de modo mais profundo. A música
demanda áreas específicas do cérebro e habilidades exclusivas que se desenvolvem de
acordo com o estudo e os estímulos recebidos.
Música é uma forma única de conhecimento que não pode ser substituído por qualquer
outro. “A música possibilita um desenvolvimento específico e não há substitutos para tal
desenvolvimento. Não desenvolver habilidades musicais significa abrir mão de parte do
potencial intelectual humano” (FIGUEIREDO, 2002, p. 48). Assim sendo, não podemos negar
a importância do ensino de música na escola. Para que um currículo escolar seja completo
precisamos oportunizar aos educandos o acesso ao aprendizado musical.
Contudo, a música ainda não tem seu espaço consolidado na escola brasileira, muitas
vezes em virtude da incompreensão da sua verdadeira função e de formas de aplicação. Por
um lado, podemos achar que a música é apenas entretenimento e que tem utilidade apenas
nas ocasiões festivas do calendário escolar. Por outro, a herança positivista nos legou o
conceito de que música só é importante quando executada por um instrumento e dentro dos
códigos tradicionais da teoria musical. Nessa linha, a música deveria ser ensinada de forma a
desenvolver músicos talentosos, virtuoses em instrumentos, prontos a ler uma partitura.
Somadas a essas duas equivocadas funções dadas ao ensino de música no ambiente
escolar, existem ainda as problemáticas da falta de formação adequada dos profissionais que
ensinam a disciplina, a ausência de espaços adequados ao bom desenvolvimento das aulas,
a falta de materiais, etc.
Porém, a despeito desses aspectos desfavoráveis, é possível fazer um bom trabalho
no ensino musical desde que saibamos de fato o que queremos com o ensino de música nas
escolas.

Afinal, qual a função da música na escola?

Até o século XIX, valorizava-se apenas o preparo do músico virtuose. A educação


musical era voltada para a “aprendizagem da leitura musical, da teoria, das regras de
organização formal” aplicadas na execução de um instrumento (PENNA, 1990, p. 57).
No fim do século XX, contudo, diversos educadores musicais europeus

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desenvolveram uma série de métodos de educação musical – chamados de métodos ativos


– que universalizaram o ensino musical ao entender que cada indivíduo é capaz de aprender
música.
Atualmente, a ênfase se concentra no aluno e na exploração que ele faz dos diferentes
objetos sonoros. O corpo e a voz ganham destaque especial como instrumentos acessíveis e
utilizados em inúmeras possibilidades lúdico-pedagógicas: jogos, brincadeiras de roda,
atividades de expressão corporal, canções, etc.
A educação musical passa a ser entendida como uma forma de sensibilização,
enfatizando menos o produto adquirido e as reproduções de técnicas e repertório, e mais a
vivência dos alunos. Valoriza-se o potencial criativo de cada um deles e as diferentes formas
de expressão, produção e criação sonora-musical (LINO, 1999, p. 61).

O que é objetivo da música na escola:

· Desenvolver o senso rítmico, estético e expressivo-corporal;


· Aprimorar a percepção auditiva, distinguindo as propriedades sonoras e os elementos
musicais;
· Expressar-se musicalmente por meio do corpo e da voz;
· Identificar, reproduzir, classificar e manipular diferentes objetos e fontes sonoras
desenvolvendo a capacidade de expressar-se musicalmente e criativamente a partir
deles;
· Ter contato com estilos musicais de diferentes lugares e épocas, buscando a
valorização do patrimônio artístico de culturas diversas e a ampliação do repertório já
conhecido dos alunos;
· Compreender usos e funções da música em seus diferentes contextos;
· Compreender os usos e as funções da música no contexto do mercado musical e
da cultura de massa, desenvolvendo ouvidos críticos e conscientes;
· Identificar e manipular diferentes formas de registro musical (áudio e audiovisual) e
também formas distintas de notação musical, principalmente a contemporânea.

O que NÃO é objetivo da música na escola:

· Ensinar a tocar um instrumento;


· Ensinar a ler partituras;
· Ensaiar apenas músicas para os eventos relacionados ao dia das mães, dos pais,
Páscoa, Natal, etc.

Todo ensino teórico pode ser válido, como informação, se o professor tiver essa
informação. Ensinar notas, escalas, leitura musical, acordes e demais símbolos musicais
tradicionais é válido, mas somente depois de todo o resto: após muita exploração, vivência e
apreciação da música desassociada dos seus conceitos formais. Pode-se ensinar fatos e
conceitos, mas o mais importante é a experimentação. O objetivo final não é um produto
perfeito e pronto, e sim a experiência. Dessa forma, todos podem aprender música.

Afinal, como ensinar música na escola?

Como, então, ensinar música a partir desses objetivos? De forma lúdica e


descontraída. Os chamados métodos ativos da educação musical nos mostram que música é

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um processo que se completa em nós por meio da escuta, prática e criação. Aprende-se
música ouvindo, cantando, batendo palmas, falando poesias de forma rítmica, tocando
instrumentos construídos com material reciclado, movimentando-se, interagindo com
objetos sonoros diversos (como buzina, campainha, instrumentos, sons do ambiente,
panelas, cadeiras, etc.) e assim por diante.
O material básico da educação musical é o som, qualquer que seja ele. E “a ampliação
e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, pela experimentação,
pela reprodução, pela manipulação e pela criação de materiais sonoros diversos, dos mais
próximos aos mais distantes da cultura musical do estudante” (BNCC, p. 398).

Procedimentos e conteúdos possíveis para o ensino de música no Ensino Fundamental II:

· Explorar, improvisar e compor sons, frases e trechos rítmicos e/ou melódicos e/ou
harmônicos usando sons do corpo e da voz;
· Escutar, reconhecer, reproduzir, manipular, classificar e registrar objetos sonoros do
ambiente, da natureza, sons físicos, sons artificiais, etc.;
· Experimentar, criar e improvisar ritmos, melodias e harmonias a partir de diferentes
objetos sonoros;
· Confeccionar instrumentos musicais de diferentes materiais. Explorar formas de tocar
esses instrumentos, variando altura, timbre, duração, intensidade e densidade. Tocar
sons avulsos, frases rítmicas, formar conjuntos instrumentais, acompanhar uma
canção, etc.;
· Movimentar-se no espaço;
· Ouvir/apreciar diferentes músicas. Refletir sobre a forma como a música é dividida, o
ritmo, a melodia, a letra (quando houver), o estilo, harmonia, a história, o compositor,
as sensações que causa (lembrando que nesse aspecto não há certo ou errado, pois é
subjetivo). Ouvir com discernimento e propósito: com atenção, concentração,
captando as características sonoras;
· Repetir melodias e ritmos de diferentes formas;
· Expressar de diferentes formas uma parte musical: sorrindo, chorando, tocando,
batendo, mexendo-se, etc.;
· Imitar sons;
· Reproduzir, coreografar, parodiar e criar canções;
· Criar letras para melodias existentes;
· Criar melodias para poesias existentes;
· Dar ritmo a palavras ou frases (ditados populares, jargões, slogans, poemas, etc.);
· Fazer uma composição artística inspirada em alguma música, como escultura,
pintura, colagem, fotografia, etc.;
· Criar canções: para fazer propaganda de um produto, para representar um
sentimento, para representar uma obra artística, ou uma pessoa, ou uma ocasião
especial, etc.;
· Criar uma “partitura” que representa determinada música, usando símbolos criados
pelo próprio aluno;
· Inventar ritmos. Tocá-los de diferentes formas. Tocar em conjunto;
· Participar de jogos rítmicos;
· Participar de brincadeiras de roda;
· Movimentar-se acompanhando uma música;

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· Conhecer a história de alguma música, de compositores, de estilos musicais;


· Ouvir e gravar canções executadas pelos alunos;
· Conhecer formas de reprodução e gravação musical;
· Refletir sobre o mundo pop, percebendo as influências sociais e comportamentais
provocadas pela música.

Os métodos ativos da educação musical:

Os métodos ativos desenvolvidos a partir do final do século XX questionaram os


modelos tradicionais de educação musical e são assim chamados por terem como princípio
primordial a participação efetiva do aluno no processo da aprendizagem.
Se pudéssemos estabelecer algumas palavras-chave dos métodos ativos seriam:
gesto, movimento, ação, corpo, expressão, criatividade, improvisação, criação, imersão,
apreciação e escuta ativa.
Eles surgem em um contexto de renovação da própria educação, correspondendo aos
parâmetros educacionais sugeridos por teóricos como Dewey, Piaget, Bruner, etc.
Os educadores musicais ativos desenvolveram métodos e/ou propostas pedagógicas
que ora são bem prescritivos, ora mais abertos e flexíveis, sugerindo apenas conceitos e
princípios para uma educação musical ativa. Foram feitos para um público e períodos
específicos (social, histórico, cultural, educacional, musical), e hoje em dia são aplicados e
adaptados às realidades de diferentes países no mundo.

v Primeira geração de educadores musicais

Ø Émile Jaques-Dalcroze (Áustria-Suíça, 1865-1950)

Dalcroze tem como centro de sua pedagogia o movimento corporal. Ele entende que a
música é composta por sonoridade e movimento e que o próprio som é uma forma de
movimento. Assim sendo, os movimentos desempenham papel primordial na compreensão e
domínio rítmico. Já dizia o educador: “A música não se ouve somente com o ouvido, mas com
todo o corpo”.
Pianista e compositor, o educador austríaco foi pioneiro na educação musical com
novos parâmetros e desenvolveu um método chamado “Eurritmia”, que ensina os elementos
musicais por meio do movimento corporal, da escuta ativa e da voz cantada.
Ele advogou que é possível sentir fisicamente a música, usando o corpo como
instrumento de conhecimento e expressão dos elementos da música (altura, intervalos,
notas, acordes, estruturas harmônicas, cadências, forma, tonalidades, compasso,
andamento, articulação, etc.).
Uniu gesto, movimento e música, harmonizando as faculdades senso-motoras,
mentais e afetivas dos alunos, a fim de conjugar música, expressão e criatividade.
Esse método incentiva movimentos como: saltitar; pular; caminhar; coreografar as
formas musicais, ocupando o espaço e mudando de direção; bater palmas nos tempos
rítmicos acentuados; criar um movimento para uma frase musical; etc. Explora o espaço em
diferentes planos, direções e trajetórias, usando objetos: bolas, cordas, bambolês, lenços,
fitas, etc.

Ø Zóltan Kodály (Hungria, 1882-1967)

A proposta de Kodály envolve a educação musical pelo canto. Segundo ele, “cantar

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em conexão com ações e movimentos é muito mais antigo e, ao mesmo tempo, um fenômeno
mais complexo que uma simples canção”. Era seu ideal levar o espírito do canto a todas as
pessoas, usando-o como meio para enriquecer a vida e valorizar aspectos criativos e
humanos.
Era defensor da alfabetização musical: toda pessoa deveria ter acesso ao
aprendizado da linguagem musical tradicional. Criou mecanismos lúdicos de ensino para a
aprendizado de leitura rítmica e melódica. Contudo, acreditava que a sensibilização e a
vivência musical precedem a aprendizagem formal da alfabetização musical. Performance,
apreciação e composição, nesse caso, seriam a base da aprendizagem.
Sua proposta foi estruturada essencialmente no uso da voz (do canto) como meio de
expressão, utilizando repertório de canções e jogos infantis na língua materna, melodias
folclóricas nacionais e temas derivados do repertório erudito ocidental.
Para Kodály, a aprendizagem musical deveria seguir 4 passos:

1. Vivenciar a música;
2. Analisar a canção;
3. Associar o conteúdo teórico;
4. Ler, escrever e criar.

Criou mecanismos de aprendizado de leitura rítmica, melódica e solfejo que até hoje
são largamente utilizados no ensino dos signos musicais para crianças e juvenis. Algumas
das técnicas são: solmização, leitura rítmica (ta, ti-ti, etc.), dó móvel, manossolfa, dentre
outros.

Ø Edgar Willems (Bélgica-Suíça, 1890-1978)

Sugeriu a educação musical baseada na escuta e em teorias filosóficas de


compreensão do ser humano em sua totalidade. Buscava uma educação musical viva,
abrangendo corpo, mente e espírito. Por isso, sua proposta solicita todas as faculdades
sensório-motoras, afetivas, mentais e intelectuais, buscando desenvolvê-las e harmonizá-
las entre si.
Willems acreditava que aprender música é desenvolver a capacidade de perceber e
compreender o som e que a percepção do som acontece em três níveis:

1. Nível sensorial: ouvir, cantar, tocar e movimentar-se, com diferentes timbres e


fontes sonoras;
2. Nível afetivo: associar intervalos harmônicos à qualidade afetiva.
3. Nível mental: reconhecer, comparar, julgar, associar, analisar, sintetizar,
memorizar, imaginar e criar imagens sonoras, por meio de uma escuta interior.

Para aprender música, portanto, é necessário primeiro escutar e observar as fontes


sonoras, interiorizar os sons e suas frases e somente depois relacioná-los de forma lógica e
sensível. É necessário primeiro inventar e reproduzir sons, ritmos e canções, expressar-se
por meio deles e somente depois aprender nomes, escrever notas e fazer ditado musical.
As principais técnicas da iniciação musical envolvem a aprendizagem do ritmo e do
som com audição associada a movimentos corporais (marchar, correr, saltar, balançar, girar,
etc.). Os alunos inicialmente fazem a execução como querem, depois acompanham o pulso
tocado pelo professor em uma pandeireta ou usando um áudio de música, por exemplo.
Willems sugere atividades de percepção do som – sensorialidade auditiva – para
ouvir, reconhecer, classificar e ordenar sons de diferentes tipos. Procedimentos possíveis:

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· Reconhecer um som entre outros sons;


· Fazer distinção dos parâmetros do som (altura, duração, intensidade, timbre);
· Fazer distinção de alturas (do grave para o agudo, depois regiões médias, intervalos
mais amplos, mais próximos, até intratonal);
· Emparelhar timbres;
· Reproduzir sons isolados;
· Reproduzir intervalos melódicos;
· Reproduzir motivos melódicos;
· Inventar melodias.

O pedagogo musical incentiva a utilização e a exploração de diferentes fontes


sonoras: apitos, trompetes, xilofones, metalofones, sons da natureza, inflexões da
linguagem, sons de máquinas, sons humanos, sons feitos pelas próprias crianças imitando
sons da natureza, etc. Um exemplo de atividade é explorar os sons que podemos extrair de
uma cadeira, variando as possibilidades de andamento, altura, intensidade e duração.
Depois pode-se cantar e percutir uma melodia ou um ritmo, inventar ou improvisar sons
usando a cadeira como instrumento acompanhador.
Willems também enfatiza muito a importância de cantar, pois une os três elementos da
música (ritmo, melodia e harmonia) e é acessível a todo indivíduo. Pode-se cantar
associando expressões faciais e movimentos corporais, como saltar, correr, balançar, bater
os ritmos e os tempos, etc.

Ø Carl Orff (Alemanha, 1895-1982)

A pedagogia de Orff tem com princípio básico a integração entre música, movimento e
linguagem, por meio de músicas cantadas, coreografadas e tocadas pelas próprias crianças.
Origina-se de pequenas frases e canções simples e compreensíveis a todos, incentivando a
prática da improvisação, tanto vocal quanto instrumental, utilizando instrumental variado:
xilofone, metalofone, jogos de sinos, bumbo, pandeireta, triângulo, prato, címbalo, clava,
castanhola, chocalho, maracá, flauta doce e outros instrumentos de percussão.
Ele acreditava que o ritmo, que se origina no movimento, é a base na qual se assenta a
melodia; e que a melodia nasce no ritmo da fala.
Incentivava a exploração do ritmo natural da frase falada, pesquisando variações
rítmicas, de timbre e de entonação a partir das palavras. Nomes próprios, cantilenas,
parlendas, pregões, rimas, falas ritmadas, poemas e canções foram utilizados como base
para aprender e tocar células rítmicas, padrões rítmicos, improvisações melódicas e
atividades corporais.
Exemplo: recitar frases ou textos com acompanhamento rítmico de palmas,
instrumentos, sons corporais, etc.

v Segunda geração de educadores musicais

A segunda geração surge na Europa e na América do Norte em meados dos anos


1950, dentro do contexto da música contemporânea e eletroacústica, focando a aula de
música como uma oficina de experimentação, criação e exploração de diferentes sons. A
ênfase está no som, em suas características, e na notação não convencional, não na
reprodução vocal/instrumental. A música passa a ser entendida como um conjunto de sons
reunidos com intenção musical, ampliando a noção de que a música precisa ser agradável ao
ouvido.

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Ø Murray Schaefer (Canadá, 1933)

O músico e compositor canadense não delimitou um método. Suas propostas de


atividade não estavam conectadas e nem foram apontadas para faixas etárias específicas.
Sua filosofia de educação foi bem fundamentada nos livros de sua autoria A afinação do
mundo e O ouvido pensante.
As atividades que propôs podem ser aplicadas até mesmo por leigos em música.
Estabeleceu como base os seguintes conceitos:

1. A paisagem sonora: o mundo está poluído sonoramente, em virtude da


industrialização. Somos chamados a realizar uma ecologia acústica e uma limpeza
auditiva, ouvindo os sons dos animais e da natureza em geral. Trata a paisagem
sonora mundial como uma composição musical da qual o homem é o principal
compositor.
Exemplo: Gravar o áudio de diferentes lugares/paisagens sonoras. Anotar os sons.
Perceber suas características. Tentar reproduzi-los.

2. Percepção, exploração e criação por intermédio dos sons.


Exemplo: Emitir o som mais agudo que conseguir; o mais grave; o mais leve; o mais
forte; o mais suave; o mais áspero; o mais engraçado; o mais triste; o mais
aborrecido. Produzir os sons e gravá-los. Podem ser reproduzidos trechos musicais
com esses sons, de forma individual ou coletiva.

Ø John Paynter (Inglaterra, 1931-2010)

Compositor e professor, criou um novo currículo nacional para o ensino de música nas
escolas inglesas, antes alicerçada no fazer musical vocal e instrumental. Propôs um ensino
musical baseado na exploração e na criação a partir de diferentes fontes sonoras.
Na sua visão, a educação não ocorre de forma linear, mas em rede: um conceito
antecipa o outro e uma tipo de atividade antecede a outra. Assim as relações são construídas
na experiência, de forma criativa.
Os princípios de sua pedagogia são a criatividade, a experimentação, a liberdade e a
descoberta, com o foco principal no ouvir atentamente os sons ao redor, compreendendo
esteticamente cada som de forma ampla e criativa.
Os procedimentos sugeridos giram em torno da execução e da criação de sons
diversos, e os conceitos musicais são aprendidos e entremeados no processo de criação.
As atividades propostas em seus livros têm 5 eixos:
1. Audição (seleção de sons);
2. Reprodução (imitação de sons);
3. Avaliação (gravação e apreciação de sons);
4. Criação (improvisação e composição de peças) individual e/ou em grupo;
5. Registro (criação da notação gráfica dos sons).
Exemplo:
Ouvir e identificar os sons de determinado ambiente. Em seguida escolher um e tentar
imitá-lo, com a maior precisão possível, usando a voz. Gravar e comparar com o original.

De tudo o que vimos, ficam os princípios gerais para uma educação musical ativa:
· Música se aprende brincando, jogando, tocando, cantando e se movimentando;
· Música se aprende respeitando a liberdade, a criatividade e as diferentes formas de se
expressar de cada aluno;

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· Música se aprende explorando e vivenciando uma variedade rica de sons, timbres,


instrumentos, músicas e referências;
· Todos podem aprender música;
· Música não é só música. Música é vida;
· Primeiro é preciso fazer, depois entender;
· Todos os grandes conceitos da música podem ser aprendidos durante o período
escolar e de forma lúdica;
· Não há limite para a criatividade;
· Um mesmo conceito pode ser trabalhado de n formas.

Afinal, como o professor deve lidar com tantas ideias?

A principal função do professor que ensina música numa proposta ativa é o de


promover oportunidades de exploração, reprodução e criação sonora. Não é
primordialmente ensinar conceitos nem transmitir conhecimentos. Mesmo aquele que não
entende de música profundamente pode ensiná-la. Porém, como existem inúmeras
possibilidades de atividades significativas, é imprescindível que o professor organize cada
prática planejando todo o processo de forma progressiva e intencional, mediante pesquisa e
reflexão. Não basta inserir atividades de música dentro da aula de Artes de maneira aleatória:
é preciso intencionalidade e objetividade, pensando o tempo todo no “por que ensinar?”, “o
que ensinar?”, “como ensinar?”
Entretanto, não entendamos o planejamento como algo rígido. Ao contrário, ele deve
ser visto como uma oportunidade de exercer a criatividade. É preciso gastar tempo
pensando, criando, articulando. Arrisco dizer que a música é uma das disciplinas nas quais o
professor precisa ter liberdade para criar e se soltar. E não só na hora de planejar a aula, mas
principalmente no decorrer da aula. Assim como os alunos, o professor de música deve ser
ativo, deve estar envolvido na atividade e no jogo, cantar junto, tocar junto, criar junto. Assim
fazendo, o professor aprenderá enquanto ensina. Afinal, tem coisa melhor do que fazer
música?

Referências

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Papirus, 2012.

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