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Ÿ A r n a l d o Fre i t a s e s t u d o u m ú s i c a n a a n t i g a

Universidade Livre de Música (ULM) – atual Centro de


Estudos Musicais Tom Jobim (CEM) – 2006 e 2007;

Ÿ Foi membro da Orquestra Paulistana de Viola Caipira


e dividiu os palcos com ídolos como Liu & Léu,
Cacique & Pajé, Dominguinhos, Daniel, Jair
Rodrigues e Emílio Santiago – de 2004 a 2015;

Ÿ Fez parte do casting da TV Cultura como violeiro


oficial do Programa “Viola, Minha Viola” apresentado
por Inezita Barroso, a rainha do folclore, além de
acompanhá-la em shows por todo Brasil – de 2006 a
2015;

Ÿ Foi agraciado com o prêmio de Melhor


Instrumentista de Viola pelo festival “Voa Viola”,
patrocinado pela Caixa Econômica Federal – 2010;

Ÿ Apresentou-se em palcos da Europa e da América


Latina – 2012 e 2017;

Ÿ Lançou os CDs “Divisa das Águas” e “Os Olhos de


Maria”, com repertório quase que integralmente
autoral em ambos – 2012 e 2017;
E hoje, segue realizando seus sonhos. Para compartilhar
seus conhecimentos com aqueles que têm interesse
em sua técnica e seu jeito de tocar, Arnaldo Freitas
idealizou o “Viola Brasileira”, um projeto que prevê
conteúdos distribuídos na forma de workshop, ebook,
curso online, websérie e vídeos com dicas para viola a
fim de ajudar violeiros e violeiras amadores e
profissionais a estudarem viola caipira de forma
organizada, prática, acessível e eficiente.
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O que eu quero te mostrar neste ebook é o caminho
que eu trilhei para me tornar um violeiro profissional que
vive da música. São passos que, com certeza, irão te
tornar um violeiro ou uma violeira melhor em todos os
sentidos. Experiências que vivi e que mudaram minha
vida até aqui. Está preparado(a) para ser outro(a)
músico/musicista a partir de hoje? Então, vamos juntos
nesta caminhada.
Em algum momento da sua trajetória com a viola caipira
você se viu sem a possibilidade de continuar porque:

Ÿ pensou que não tinha dom ou jeito;


Ÿ pensou que não tinha tempo para estudar;
Ÿ se viu perdido(a) com tanto material de estudo
disponível no mercado e nem sabia por onde
começar;
Ÿ ou por qualquer outro motivo...

Então, eu sempre escuto isso, mas vou te mostrar que


na maioria dos casos essa não é a verdade, mesmo que
você tenha pouca familiaridade com a viola ou a toque
há anos, contudo sem ter alcançado os resultados
desejados.

Calma! Vou tentar ajudar.


Inicialmente, apontarei como você NÃO aprende a
tocar viola ou não se aprimora no instrumento.

E, por que vou te falar isso?


Porque existem vários erros que nos impedem de
CRESCER como violeiro ou violeira.

Eu separei 9 erros básicos que muitos violeiros e


violeiras cometem e que os impedem de progredir.
Alguns desses erros eu já cometi e, às vezes, ainda
cometo, mas me policio.

O problema desses erros é que eles nos desmotivam e


nos fazem pensar que somos incapazes, que não
levamos jeito para tocar viola e por aí vai...

Logo, é muito importante que você saiba o que você


não deve fazer para que você não fique dando murro
em ponta de faca!

Mas, antes de partirmos para os 9 erros, eu gostaria de


salientar a importância de se estudar viola caipira com o
metrônomo. E, para falar dessa importância eu vou
contar uma história para que você saiba como ele
entrou na minha vida.
A IMPORTÂNCIA DO
METRÔNOMO
Eu conheci a viola pessoalmente aos 12 anos de idade,
mas só com 13 ganhei dos meus pais a minha primeira
viola e sozinho comecei a tocá-la. Na época eu morava
na fazenda e o acesso ao estudo sistematizado da
música era coisa rara por lá. Eu conhecia alguns
violonistas, mas violeiro nenhum... Meus estudos com a
viola foram desenvolvidos por mim de modo particular
com base no que eu já conhecia do violão (também de
forma autodidata), pautado pelos discos e fitas que eu
ouvia e pelos programas de TV e rádio que eu seguia (na
época eu era muito fã do “Viola, Minha Viola”, mal sabia
eu que um dia estaria naquele palco com a grande Dona
Inez, mas isso é assunto para outra hora). O que eu
quero dizer é que eu mesmo fui desenvolvendo um
método para o meu aprendizado e, claro, ele tinha
diversas falhas. Todavia, a música me motivava.

Ouvir música é algo que sempre foi hábito para mim.


Além de ouvir e assistir grandes duplas da música
caipira, eu ouvia e assistia artistas de outros estilos que
me chamavam muita atenção, como o violonista Paco
de Lucia, uma das minhas referências, e eu sempre quis
tocar como eles, mas na viola.
Enfim, aos 22 anos, fui convidado pelo Laércio (na
época um desconhecido, hoje um grande amigo) para
morar em São Paulo e tentar a carreira como músico.
Você deve estar se perguntando o motivo desse convite
aleatório, já que a gente nem se conhecia, né!? Então,
apesar de morar na capital, Laércio era de Echaporã e
tinha tido notícias de que na cidade tinha um violeiro
que tocava muito bem. O violeiro era eu. O “tocava
muito bem” era bondade dos familiares e amigos...
rsrsrsrs.

Laércio me procurou e pediu para me ouvir tocar.


Toquei... Conversamos... Aceitei o convite e fui para São
Paulo com o apoio da minha família. O cômico disso
tudo é que até meus 20 anos o meu sonho era ser peão
boiadeiro nas fazendas de gado do Mato Grosso. Eu já
era peão em Echaporã... Sim, eu fui peão boiadeiro e,
apesar de quase ninguém acreditar, o laço foi por muito
tempo minha grande paixão. Mas, voltando a minha ida
para São Paulo, quando cheguei naquela cidade fiquei
por um tempo na casa do Laércio e tanto eu quanto ele
erámos “crus” em relação a música como profissão, até
porque a viola até aquele momento era um hobby para
mim.

Laércio e eu íamos aonde a música estava. Se tinha uma


roda de choro estávamos lá, um show no boteco ou no
teatro também, qualquer oportunidade era uma
oportunidade para eu mostrar a minha música, tocar
junto e assim fui criando uma rede de contatos, mesmo
sem pretensão.

O que eu quero dizer com essa pequena passagem da


minha vida é que o método que eu desenvolvi para o
meu estudo, meu hábito de ouvir músicas de diversos
estilos e os meus encontros, tocadas com tantos
músicos diferentes em São Paulo e shows com duplas
caipiras que comecei a acompanhar me fizeram evoluir
e, também, perceber que faltava algo para mim: a teoria
musical. Foi em São Paulo, estando com músicos de
outros gêneros, principalmente, que percebi que
precisava me aprofundar e aprender muito mais do que
eu fazia na viola.

Em 2006, mesmo ano que passei a fazer parte do “Viola,


Minha Viola”, entrei para Universidade Livre de Música.
Deus foi muito generoso comigo, porque nesse
momento eu já possuía uma maturidade com a viola e
poder estudar na ULM abriu minha cabeça para o
mundo de possibilidades no estudo da música.

Na ULM eu aprendi muitas coisas que carrego comigo


até hoje, mas uma dessas coisas que mudou
radicalmente minha atuação como violeiro: foi estudar
com o metrônomo. Hoje, considero o metrônomo
meu melhor amigo e acredito que possa ser o seu
também.

Além de auxiliar no aprimoramento diário da minha


técnica, o metrônomo me ajuda a controlar a
ansiedade. Antigamente me chamavam de Ligeirinho,
pois tudo o que eu tocava na viola era rápido demais,
porém muito sujo, sem uma técnica lapidada. Hoje,
considero que as minhas músicas alcançam mais as
pessoas e o uso do metrônomo é um dos responsáveis
por isso. De lá para cá, sempre estudo viola e ensaio
repertórios com o auxílio do metrônomo. Ele me
lembra que não somos perfeitos e essa é a graça da
vida. Quando você acha que está bom demais, você
para de evoluir. Por isso, ser inquieto(a) e insatisfeito(a) é
o que lhe possibilita a permanente evolução.

Agora sim, vamos aos 9 erros que eu separei para você.


Muitas pessoas acreditam que ouvir música,
independente de gêneros e estilos, não é estudar. Esse é
um ledo engano! Posso afirmar que estudar técnicas
para as mãos direita e esquerda, escalas e campo
harmônico aplicados à viola caipira, por exemplo, sem
ouvir música e sem ter qualquer referência do que vai
fazer com esse estudo, faz de você um escritor com
muitas palavras, mas sem nenhuma alma para escrever.
Se você não ouve música, seu vocabulário musical é
reduzido e pobre.

Escutar música é uma fonte de energia! Muitas vezes eu


estou exausto e sem motivação, e quando eu escuto
música (áudio/vídeo) de um artista que para mim é uma
referência ou alguém que me chame atenção, aquilo
mexe profundamente comigo. Automaticamente me
inspira a buscar mais para a minha música, aplicar aquilo
de alguma forma no meu jeito de tocar. E isso
independe de ser uma nova composição, um fraseado
ou uma técnica diferente.

É simples, não é possível tocar ou compor um pagode


apenas estudando friamente o ritmo e suas
modulações, é preciso, antes de qualquer coisa, beber
água da fonte que nos inspira, ou seja, é preciso ouvir
Tião Carreiro, Bambico, Goiano, Thiago Viola, Lucas
Reis & Thácio e por aí vai. Somos moldados por nossas
referências musicais constantemente.
Aprender a tocar bem viola caipira ou aprimorar os
conhecimentos acerca do instrumento exige prática
constante, isto é, estudo diário.

Eu sei que quando se é violeiro ou violeira profissional,


muitas vezes o trabalho, as viagens e tudo mais
demandam um tempo que geralmente não nos
possibilita ter uma rotina de estudos e ensaios. Também
sei que para os que são apaixonados pelas 10 cordas e a
apreciam como hobby ter uma rotina de estudo pode
parecer desnecessário. No entanto, sem rotina você
não tem organização e raramente vai conseguir dar um
passo após o outro.
Sentar e tocar viola livremente é certamente um grande
aprendizado que te faz descobrir coisas novas. Te faz
achar a voz de sua inspiração, alinhar o timbre do seu
instrumento e identificar o seu jeito pessoal de lidar com
a viola. Todavia, como tudo na vida, existe um ponto de
saturação onde você para de criar algo novo e começa
simplesmente a repetir insistentemente o que é fácil,
confortável e agradável para você.

Coloque sempre uma música como objetivo e siga até


tirá-la, por exemplo. Isso também se aplica a alguma
técnica nova que deseja executar. Você naturalmente
terá mais facilidade se seguir gradualmente, acelerando
aos poucos o metrônomo até atingir um ponto que
você sinta que aquilo está ficando fácil de executar. No
final de um determinado tempo, meses ou ano, vai
depender do seu objetivo, você verá que se tornou um
expert dentro daquele estilo, repertório e/ou técnica,
criando uma identidade própria - seu jeito único de
tocar viola.
Você consegue ir a um churrasco, assistir um filme e
ouvir músicas ao mesmo tempo? Não, né! Pois é,
estudar vários conteúdos de viola e ter muitos objetivos
num mesmo dia, semana ou mês de estudo talvez não
te dê o foco que você precisa para obter resultados.

Você mal termina uma coisa e já quer começar outra?


Não faça isso. Dê tempo para sua memória e seu corpo
registrar o seu processo de estudos. Aprenda a setorizar
seu tempo e acredite que depois de ter um
conhecimento e uma habilidade X você poderá
também adquirir um conhecimento e uma habilidade Y.
Não tente adquirir tudo na mesma hora.

Eu sei que isso requer controle da ansiedade e disciplina


com o instrumento, então, antes de mais nada, entenda
que tocar bem viola se trata de um processo gradativo
construído ao longo do tempo, com dedicação e
estudo. Aprenda a respirar, a olhar de dentro para fora,
entender suas habilidades e limitações e dê um passo de
cada vez.
Muitos violeiros passam horas estudando técnicas e
estilos musicais, mas nunca aplicam isso nas próprias
músicas ou nas músicas que querem tocar. Lembre-se,
você toca o que você estuda!

Se você quer tocar pagode, estude o pagode e aplique o


pagode! Você jamais será um(a) exímio(a) pagodeiro(a)
se não estudar e executar o pagode.

Mesmo durante um momento de descontração numa


roda de viola, por exemplo, tente aplicar aquilo que você
está aprendendo ou aperfeiçoando nos seus estudos.
Não pense que você irá sair do quarto para uma
esplendorosa sala de concerto e tudo será perfeito.
Você precisa se testar aos poucos. Tocar sozinho é
diferente de tocar com outras pessoas ou para outras
pessoas. Sempre aplique o que você estuda e aprende!
E use a seu favor as ocasiões de pouco risco. As
moagens são ótimas para isso, pois num momento de
maior responsabilidade você tenderá a estar mais
relaxado.
Muitos violeiros não colocam a técnica a serviço das
suas músicas ou das músicas que querem tocar. Não
adianta assistir vários vídeos no YouTube ou comprar
inúmeros métodos de viola e não aplicar isso em um
solo, por exemplo. Sendo assim, assista vídeos e estude
os exercícios técnicos sempre pensando na sua música
ou na música que você quer tocar.

Comece a improvisar, pense numa escala nova que


você aprendeu, tente colocá-la dentro de uma música
que você gosta muito de tocar e sempre estará tocando
com aquela frase em forma de exercício, fixando assim
uma informação musical importante que estará sempre
presente em suas mãos.
Um dos grandes desejos de muitas pessoas que se
interessam pela viola é fazer solos incríveis. O que é
totalmente válido, mas sem tanta eficácia se o violeiro
ou a violeira não conhece o campo harmônico com os
acordes dentro do instrumento, por exemplo. Neste
caso, sempre haverá uma lacuna.

Entender a harmonia de acompanhamento de um solo


é tão importante quanto o próprio solo. Antes de querer
tirar um solo, tente entender primeiro a sua base rítmica
e harmônica - a “sua história”. Tenha em mente que você
deve passar por todas as etapas com a viola, só assim
será possível crescer.
Eu falei da importância do conhecimento sobre cada
etapa anteriormente. E, está claro que estudar viola
caipira ou qualquer outro instrumento contempla um
processo de aprendizagem. Aqui eu gostaria de ressaltar
que é importante estar atento a cada fase do processo,
mas é preciso evoluir.

Não fique preso na sua zona de conforto por


comodismo ou medo ou por qualquer outro motivo,
isto é, se ater apenas ao estudo da base vai te impedir de
ser solista. Tenha atenção com as etapas, porém evolua.
Geralmente as pessoas mais próximas a nós não
entendem que estudar música é um trabalho árduo e
necessário. Eu já passei por isso diversas vezes em casa
e fora dela! Certa vez, fui ensaiar um repertório para um
show na casa de um amigo violeiro. Na ocasião fomos
interrompidos algumas vezes pela esposa e filhos dele
para resolução de algumas demandas. Ao final do
ensaio concluímos que nosso melhor momento aquele
dia tinha sido o jantar.

Com isso quero dizer que você deve deixar de lado a


família e os amigos? É óbvio que não. O convívio com as
pessoas que amamos é fundamental para nós. O que
quero dizer é que se você se propõe a estudar em um
determinado horário, você precisa estudar. O fato de
estar em casa não pode ser desculpa para distrações
que podem ficar para logo mais. Lembre-se do seu
compromisso com o instrumento.

Os smartphones fazem parte do nosso dia a dia e, junto


com eles, a redes sociais (Facebook, Instagram,
WhatsApp etc.) e isso é muito bom, sobretudo para
quem trabalha com arte de maneira geral, mas...
Sempre tem um MAS... o acesso às mídias sociais ao
mesmo tempo do estudo podem te desconcentrar e
tirar seu foco.
Tente não responder mensagens, fazer seles, atender
ligações, olhar notícias ou saber da vida dos outros
enquanto está estudando ou ensaiando algum
repertório. Use o celular como um recurso a mais em
seus estudos. Por exemplo, no aparelho você pode
fazer downloads de aplicativos como metrônomo e
gravador para te auxiliar, contudo lembre-se de sempre
deixá-lo em modo avião.
Você já se viu em alguma das situações descritas? Tenho
certeza que sim, pois como eu disse, além de já ter
cometido alguns desses erros, muitas pessoas sempre
me apontam eles de alguma forma.

Pois bem, dito o que não deve ser feito, vamos ver agora
o que deve SER FEITO para que você estude viola de
maneira organizada e eficaz.
O que eu relatei anteriormente é a base do que eu evito
ou tento evitar para me aperfeiçoar a cada dia enquanto
violeiro. São conceitos simples, eu sei, mas
definitivamente simples não é fácil se você não tiver
persistência, motivação e as ferramentas corretas para
seguir em frente.

Portanto, o que vou abordar agora são conceitos


simples, altamente efetivos e que se colocados em
prática vão te dar muitos resultados para seus estudos
e/ou sua carreira.

Talvez o que vou falar possa parecer bobagem,


entretanto se for aplicado fará todo sentido, você vai ver.
Para viver da sua música e, principalmente, viver a sua
música você precisa apenas de:

CONTATO FREQUENTE COM ELA.

Você não precisa passar horas estudando técnicas,


escalas, ritmos etc. Você precisa passar tempo com a
música!

Isso é valioso!
Não importa o estilo musical que você se propôs a
executar.

Pouco interessa se você toca ou gosta de música


caipira, MPB, flamenco ou rock.

Se você tiver contato regular com a música e com a sua


viola, você crescerá como violeiro ou violeira.

Agora você deve estar se perguntando: "Arnaldo, o que é


contato regular com a música?"

Contato regular é passar tempo escutando música e


estudando de forma musical.

A ideia é:

SE ORGANIZE, ESCUTE, INTERIORIZE E TOQUE COM


OBJETIVIDADE.
O mais legal deste processo é que chegará um ponto
em que tudo ficará mais tranquilo. Seu vocabulário
musical aumentará e você acumulará conhecimento de
uma forma consistente e aplicará quase que de forma
subconsciente e automática.

Claro que para conseguir isso, você precisará ter


disciplina e evitar a qualquer custo os erros elencados
anteriormente.

Eu fico injuriado quando vejo um violeiro ou uma


violeira que não consegue se desenvolver. E isso,
geralmente, se deve ao fato deles terem grande
potencial, porém zero organização com os estudos.

Resultado disso: perda da motivação pouco a pouco e a


viola deixada de lado tempo depois.

Por isso, eu vou te mostrar como estudar de modo


organizado e eficaz.
Todos os assuntos abordados antes: técnicas para as
mãos direita e esquerda, escalas e campo harmônico só
farão sentido se você souber onde e como usar isso.
Para tanto, a audição é fundamental. O ouvido é um dos
principais sentidos que possuímos, um receptor de
informações que nos geram, dentre outras coisas, a
emoção. Não se esqueça que tudo que você aplica no
seu instrumento foi primeiro interiorizado em você
através da sua audição.

Você pode até ser um gênio a serviço da viola, mas


precisará de referências para se situar no seu estudo e
buscar suas inspirações. São essas referências que te
farão sair da zona de conforto e aplicar coisas novas na
sua produção musical. Inclua a audição na sua rotina de
estudos.

Um pássaro aprende a cantar ouvindo o outro!


Ÿ Tenha referências musicais. Você não pode querer
tocar flamenco ou inserir elementos da música
flamenca na sua música se você não ouve ou vivencia
o flamenco. Minha dica é: ouça as principais
referências dentro do gênero que você gosta. Logo
você começa a mergulhar nas referências das suas
referências e/ou em demais nomes que
influenciaram as suas referências.

Ÿ Você toca o que você ouve. O incremento do seu


vocabulário musical começa pelo seu ouvido.
Dedique parte do seu tempo de estudo a ouvir
música. Caminhe com um fone de ouvido, ouça
música no carro, no metrô, no ônibus, a caminho do
trabalho ou da reunião, ouça música no seu tempo
livre, enfim, ouça música.
faz sentido, não é verdade?!
Eu sei que você deve estar pensando: Nossa Arnaldo, 4
horas é demais para mim, não tenho esse tempo.

Separe o tempo que você tem disponível e se dedique.

Em qualquer situação, é necessária uma rotina com o


seu instrumento. Acredito que um pouco todos os dias
vale mais do que estudar 4 horas num único dia e
depois, no decorrer da semana, não pegar mais na viola.
Eu já presenciei isso e sei que é frustrante. É o mesmo
que ir à academia “puxar ferro” num dia e depois só
voltar lá na outra semana.

Ÿ Tocar é igual musculação. Não é a quantidade de


movimentos num único dia que lhe trará os
resultados que espera e sim adotar a rotina de fazer
um pouco todos os dias. Portanto, se tiver que
escolher entre tocar 4 horas em apenas um dia da
semana ou tocar todos os dias por 1 hora, prefira a
segunda opção. O dia a dia com a viola lhe garantirá o
aprimoramento e este é um dos caminhos do
sucesso profissional.

Ÿ Não se esqueça que planejar te ajudará a ter a


percepção do todo, ou seja, de tudo o que você tem
para fazer durante o dia/a semana. Você não deve
Ÿ sacrificar uma coisa em detrimento de outra.
Estabeleça prioridades. E, lembre-se que o descanso
e os momentos de lazer devem fazer parte da sua
rotina.

Para clarear, uma proposta de estudo.

Digamos que na próxima semana você terá 2 horas


diárias para estudar e quer aprender o solo da música
“Brincando com a Viola”:

Ÿ separe 20 minutos para tocar à vontade, isso servirá


para você relaxar, se desligar de outras atividades,
corrigir a postura das mãos, o posicionamento da
dedeira (se você usar dedeira) e achar o
encaixe/ângulo ideal das unhas lixando-as se
necessário for;
Ÿ separe 20 minutos para ouvir músicas relacionadas
ao objetivo do seu estudo;
Ÿ separe 20 minutos para o estudo de escalas
cromáticas de forma musical aplicadas na intenção
da peça musical; e
Ÿ dedique os 60 minutos restantes a tirar o solo da
música.
Colocar objetivos no seu estudo é uma prática que vai te
proporcionar aproveitamento do seu tempo e te dar
uma sensação prazerosa de que está adquirindo
conhecimento e dando um passo adiante a cada dia.

Se você almeja tocar picado a 3 dedos na viola caipira,


por exemplo, você precisa então: conhecer quais são os
músicos (e os gêneros musicais que eles representam)
que aplicam e executam essa técnica; ouvir as
gravações destes músicos; identificar como a técnica é
executada por eles; traçar um plano passo a passo para
você executar a técnica e alcançar o seu objetivo.

Ÿ Uma vez traçado o plano de execução – estudo da


técnica, tente contemplar cada dificuldade passando
por ela a cada dia.

Ÿ Não se esqueça de aumentar a complexidade à


medida que for evoluindo. Tenha gana, tenha força de
vontade e saia da zona de conforto.
É claro que dá para se fazer um balanço e estudar um
pouco de técnica aliada a um solo e ainda pensar na sua
criatividade a cada dia.

Porém, às vezes, vejo violeiros estudando assuntos


distintos, sem planejamento e objetivo de estudo e,
como consequência, eles não conseguem alcançar os
resultados esperados. Isto é, o violeiro ou a violeira
estuda no mesmo dia/semana a técnica de arpejos;
junto a levada rítmica do cururu estilizado pelo Goiano;
acordes em tétrades invertidas e ainda ouve Tião
Carreiro. Isso só pode não dar certo!

Tenha paciência e, de novo, pensando em objetivos,


pense em um prazo de uma, duas semanas ou um mês
para cada assunto, conforme a sua necessidade. Se
está estudando cururu, se prepare para trabalhar com
esse ritmo durante um tempo... Pense em um material
direcionado para isso, quase sempre esse material
estará nas músicas que você ouve. Procure ver os vídeos
de quem é referência no assunto. Hoje em dia, a
tecnologia colabora com a gente, quando eu era mais
jovem não era assim. Se estiver difícil diminua a
velocidade de exibição do vídeo no YouTube até
entender os movimentos executados pela(s) sua(s)
referência(s) musical(is). Isto é a internet a favor do
estudo.
Alcance uma meta por vez. E, por favor, não utilize todos
os materiais e informações que encontrar sobre um
determinado assunto ao mesmo tempo. Utilize os
materiais e as informações que estimulem o seu melhor,
um de cada vez.

Ÿ Faça isso por um tempo e veja que você vai adquirir


vários conhecimentos com maior profundidade e
melhor aproveitamento depois de seis meses
estudando assim. Seis meses pode até parecer muito
tempo agora, mas pode ter certeza que daqui seis
meses você vai desejar ter começado hoje. O tempo
não passa, nós passamos.
Utilize o tempo que você tem disponível estudando sua
música ou a música que vai tocar. Se aprofunde nisso.

Se você quer tocar pagode, estude o pagode e aplique o


pagode! Escute os grandes pagodeiros ou até mesmo
outras vertentes musicais que lhe trarão solidez técnica
e harmônica para a execução do ritmo. Isso vai te
enriquecer musicalmente e possibilitar o
aprimoramento.

Ÿ Você jamais será um(a) exímio(a) violeiro(a) se você


estudar música caipira somente. Com isso não estou
desmerecendo a importância e a qualidade da
música caipira que para mim também é uma
referência, estou apenas dizendo que você precisa se
cercar de toda boa música e ter o máximo de
influências que puder.
Para tudo que estudamos na vida há um processo de
aprendizagem pelo qual precisamos passar. Entender
isso para aprender ou se aprimorar na viola é essencial,
pois só assim compreenderemos as particularidades de
cada etapa.

São as etapas que moldam a consciência do que é


preciso e importante em cada momento, sem,
entretanto, nos deixar estacionar numa determinada
fase. Incrivelmente você notará que as habilidades
adquiridas em cada etapa se somam umas às outras e,
assim, você segue em frente. Neste processo, você
passa por uma fase, a entende e interioriza, zera ela,
amplia seus conhecimentos e segue para próxima. As
somas das etapas serão seu trunfo para a vida inteira.

Ÿ Não comece a estudar uma segunda música se você


não tirou bem a primeira. Se começou a estudar uma
música, termine.
Ÿ A cada etapa busque a sua evolução, sempre se
comparando a você mesmo e não aos outros. Por
exemplo, se um determinado solo é difícil esteja em
contato diário com ele para que possa lapidar sua
técnica.
Ÿ Comece com exercícios fáceis sempre munido(a) do
metrônomo e não se preocupe imediatamente com
a velocidade de execução, antes dela é preciso ter
resistência. Limpe cada fraseado e passe para os
exercícios intermediários, executando-os com um
pouco mais de intensidade. Cuidado com as lesões,
se alongue, alongue as mãos e os dedos, isto também
faz parte do estudo. Absorva cada exercício e
fraseado com calma, o nosso dedo tem memória
musical. Passe para os exercícios avançados e logo o
solo estará na ponta do dedo. Não se esqueça do que
eu disse, a música possui caminhos tortuosos e
diferentes e entender esses caminhos significa
absorver e se superar. Tenha cuidado com os elogios
de pessoas muito próximas a você. O amor neste
caso pode ser cego. A menos que você faça parte de
uma família de músicos disciplinados que estarão
sempre te aconselhando de forma verdadeira para
seu aprimoramento, desconfie de elogios
demasiados. Se você quer ser um bom violeiro ou
violeira seja seu(sua) crítico(a) mais severo(a). Não se
esqueça, jamais atingiremos a perfeição, sempre é
possível melhorar.
Não é fácil se desligar do mundo e dos outros para focar
por inteiro no seu estudo. Essa tarefa demanda
concentração e força de vontade como as demais
prioridades que temos na vida. Logo, tenha em mente
que o mundo e os outros, mesmo os entes queridos,
não podem ser suas desculpas para perder o foco e não
estudar ou estudar sem qualidade.

Se você não priorizar o seu momento de estudo, de


nada terá adiantado se planejar para tal. Essa dispersão
aos poucos acarreta um cansaço e te desestimula.
Sendo assim, persista com seu momento de estudo.
Desligue-se de tudo que possa competir por sua
atenção. A brincadeira com o filho, o filminho com a
esposa/namorada ou o marido/namorado, as compras,
o reparo de algo em casa, a sesta após o almoço, aquela
conferida nas redes sociais, enfim, tudo isso deve ser
planejado, assim como o momento de estudo, para que
você consiga fazer tudo bem feito.
Certa vez, ouvi de um amigo músico que existem três
“mandamentos sagrados” para quem toca:

NÃO CORRERÁS!
NÃO APAVORARÁS!
E RESPIRARÁS!

Achei muito engraçado na hora, mas hoje entendo que


esses “mandamentos” são, sem dúvida, “mandamentos”
para aplicarmos no nosso dia a dia com a viola caipira.
Eles podem ser aplicados da nossa casa ao palco. Eu os
aplico.

Vai por mim, o que lhe dá a segurança para tocar e a


confiança de que você é bom violeiro ou boa violeira é a
DEDICAÇÃO. E a dedicação começa com você e sua
organização para estudar. A música traz diferentes
sensações, sons, cores e sabores. Ela precisa ser ouvida,
sentida, estudada e lapidada para que haja
CRESCIMENTO e EVOLUÇÃO.
Por enquanto é isso, galera querida! Agradeço como
sempre a atenção de todos. Esse material é um relato de
tudo que eu tenho feito nesses anos enquanto violeiro
instrumentista profissional com muito amor e afinco. A
minha vida é voltada para viola e uma das minhas
principais preocupações é se estou sendo fiel a ela.
Sinceramente, a péssima sensação que tenho de um dia
sem tocar é uma das coisas que o instrumento me
cobra, mas entendi que isso se dá pelo fato de eu ser
apaixonado pelo que faço e ter a viola caipira como uma
das minhas prioridades.

Portanto, estar tocando bem para mim não é


exibicionismo e sim uma responsabilidade com o meu
trabalho. Por isso procurei passar para você dicas
preciosas e fundamentais para qualquer músico
começar a alcançar o sucesso nessa profissão
maravilhosa e instigante. O sucesso começa, antes de
tudo, numa relação entre você e sua viola e ninguém
mais.

Leia e releia quantas vezes achar necessário. Este é um


material resumido, porém de muito valor para mim e,
com certeza, poderá ser útil no seu dia a dia também. A
partir de agora ele pode ser o seu guia. Você deve tê-lo
nas mãos, na sua atitude e no seu coração.

Força e foco na sua missão. Tamo Junto!


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