Você está na página 1de 4

Edgar Willems: um pioneiro da educação musical

Edgar Willems (1890-1978) acreditava na


música como “valor humano, parte integrante e
essencial da formação, mesmo daqueles que não
pretendem profissionalizar-se” (PAREJO, 2012, p.
91), defendendo uma educação voltada para a
integralidade do aluno.
Para Willems, a música e a natureza humana
se relacionam de forma inequívoca; essa relação
foi demonstrada por ele em seus “princípios
psicológicos”. Tanto a música como a vida
humana se encontram alicerçados sobre três
aspectos: fisiológico (ritmo), afetivo (melodia) e
mental (harmonia). Assim, Willems afirmava que
“a consciência rítmica é de natureza dinâmica,
motora: propulsão, crescimento, respiração,
pulsação. A consciência especificamente melódica
é de natureza muito diferente, rica de tudo que a vida afetiva comporta de variedade
anímica. Só o ser humano pode praticar a harmonia. Ela é necessariamente do
domínio da consciência reflexiva” (WILLEMS, 1975 apud PAREJO, 2012, p. 94).
Os domínios do fisiológico,
afetivo e mental também se
manifestam no tratamento dado por “A educação não é apenas uma preparação
para a vida; ela própria é uma manifestação
Willems à educação auditiva. “O permanente e harmoniosa da vida”.
primeiro domínio, fisiológico, une-se Edgar Willems
à sensorialidade auditiva, que se
refere à maneira pela qual somo
tocados e afetados pela vibração sonora. [...] Ao segundo domínio, afetivo,
corresponde a afetividade auditiva ou sensibilidade afetiva. A ele concerne tudo o que
se refere aos elementos melódicos: intervalo, escala e sentido tonal, imaginação
retentiva e reprodutiva, memória melódica e audição relativa. A inteligência auditiva,
aspecto mental, representa o terceiro domínio do desenvolvimento auditivo. De ordem
intelectual, ela se elabora na dependência das experiências sensoriais e afetivas
anteriores, e consiste em tomar consciência ou de entender o que se ouve. [...]
Comporta fenômenos de memória, de imaginação criativa, de associação, de
comparação, de análise, de síntese e de julgamento” (PAREJO, 2012, p. 96-97). Os
conceitos desenvolvidos por Willems, relativos a esses três tipos de escuta, são: ouïr
(ouvir), écouter (escutar) e entendre (entender).

O método Willems

Para Willems, a vivência deveria vir sempre antes da teoria e da sistematização,


é “preciso viver e fazer música, depois, pensar sobre ela” (PAREJO, 2012, p. 103).
Dessa forma, seu método é centrado no canto e no aprendizado de canções. As
canções agregam, de forma prática e direta, os elementos da melodia, do ritmo e da
harmonia (no caso de canções tonais), sendo “meios sensíveis e eficazes de
desenvolver a musicalidade e a audição interior. [...] Muitas crianças cantam ainda
antes mesmo de falar, o que é uma indicação preciosa para orientar as escolhas de
pais e professores nas interações musicais com os pequenos” (PAREJO, 2012, p. 103).
Willems elabora uma categorização das canções que devem ser cantadas com as
crianças, incluindo: cações populares tradicionais; canções simples para principiantes
compostas na própria aula; canções que preparam para a pratica instrumental (por
exemplo, compostas sobre o pentacorde que permite usar os cinco dedos ao serem
tocadas ao piano); canções de intervalos (devem ser cantadas primeiro com a letra,
depois com “lá lá lá”, e por fim com o nome das notas); canções para cantar com
mímica, aliando a expressão facial e corporal; canções ritmadas – embalar, saltar,
correr, balançar, etc.; e canções improvisadas pelas próprias crianças.
O desenvolvimento da musicalidade pode ser organizado, segundo Willems, em
4 graus, são eles: (1) é o momento da revelação dos fenômenos musicais, através dos
elementos pré-musicais e musicais, do ponto de vista psicológico, valoriza o
funcionamento global (sincrético) da criança; (2) fase mais consciente, com início da
codificação simbólica escrita dos elementos musicais já vistos no primeiro grau;
momento mais exigente quanto à afinação, beleza da voz, memória e reforço do
sentido tonal; (3) passagem do concreto ao abstrato, aquisição de automatismos de
notas e terminologias, desenvolvimento de faculdades criativas através de
improvisações rítmicas e melódicas; e (4) início de um programa de educação musical
global, compreendendo a leitura e a escrita musicais, com aulas bem dosadas e vivas
(PAREJO, 2012, p. 109).

PAREJO, E. Edgar Willems: um pioneiro da educação musical. In: MATEIRO, T.;


ILARI, B. (Org.) Pedagogias em educação musical. Curitiba: InterSaberes, 2012.
Atividades inspiradas em Willems

A. Qual sua canção preferida?


A importância da relação humana e de demonstrar interesse pelo aluno. Sentados em
círculo, no chão ou em cadeiras. Cada aluno poderá cantar um trecho de sua canção
preferida, e dizer porque gosta desta canção.

B. A flauta de êmbolo
Em pé, livres pela sala. Apresentar a flauta de êmbolo. Os alunos devem se
movimentar elevando e abaixando mão, braços e também o corpo inteiro de acordo
com os sons produzidos pela flauta.

3. Siga o som
Um aluno vendado, no centro da roda, enquanto os demais tocam pequenos
instrumentos de percussão. Os alunos vendados, deverão localizar o som produzidos
por outros alunos, caminhando em direção a eles. No início, apenas um aluno toca seu
instrumento de cada vez. Mais tarde, o aluno vendado deverá seguir apenas um som
(timbre) entre os diversos sons que serão ouvidos ao mesmo tempo.

4. Jogo “Marionetes”
Em pé, em duplas. Uma das pessoas da dupla fica parada em pé como se fosse um
boneco de marionete (preferencialmente de olhos fechados), que se movimenta por
fios. A outra, com um instrumento na mão, começa a fazer sons perto de uma
determinada parte do corpo de seu companheiro, sugerindo assim, que ele movimente
a parte do corpo em questão, seguindo o instrumento até parar o som. Se, por exemplo,
o instrumento faz sons próximos ao cotovelo, o boneco vai movendo o cotovelo como
se este estivesse preso por um fio que o liga ao instrumento e interrompe o movimento
somente quando não houver mais som. Em seguida, trocam-se os papéis. Os sons
feitos pelos instrumentos devem ser contínuos, para que o boneco possa segui-lo. Se
for feito apenas um som curto na parte do corpo escolhida, o boneco não terá tempo
de se movimentar.

5. Percussão sobre os joelhos


Sentados em círculo, no chão ou em cadeiras. Um aluno (ou a professora) deve
percutir uma série de batimentos sobre os joelhos. Os demais alunos devem contar o
número de batimentos. Quantas batidas foram? Um aluno (ou a professora) deve
percutir uma série de batimentos sobre os joelhos e os demais devem repetir
exatamente o mesmo número, como um eco.

6. Que música é essa?


A professora canta um intervalo musical qualquer (5ª J, 3ª M, 6ª m, etc.) e os alunos
devem cantar alguma música que se inicie com este intervalo.

7. A trilha sonora do movimento


Um grupo de alunos executa uma coreografia simples e se movimenta pela sala de
acordo com esta coreografia. O outro grupo observa os movimentos e cria uma “trilha
sonora” para acompanhar os gestos. Em seguida, repete-se a atividade trocando os
grupos.

8. Jogo “Sobe e desce”


Em pé, espalhados livremente pela sala. Cada participante emite uma nota qualquer,
longa e contínua, sobre uma letra que pode ser “ó”, por exemplo. Aos poucos,
movimenta o corpo, espontaneamente, para cima e para baixo, sem sair do lugar, em
qualquer velocidade. Conforme o movimento corporal, a nota vai caminhando mais
para o agudo ou mais para o grave, ou seja, o corpo que se dobra da posição ereta em
direção ao chão deve emitir um som que vai do agudo para o grave. Em seguida, pode-
se estabelecer os tipos de movimentos corporais antecipadamente, como se fossem
coreografados, para que, ao serem realizados pelo grupo, formem espécies de ondas,
tanto no aspecto visual quanto no auditivo. É importante que os participantes escutem
a si e aos outros e prestem muita atenção no resultado sonoro para poderem interagir
e formar tramas sonoras com alturas diferentes. O que deve ser evitado é que, aos
poucos, o grupo comece a aproximar as alturas das notas e virar em uníssono.

9. Composição criativa
A professora poderá sugerir uma série de palavras (casa, montanha, mar, cachoeira,
girafa, macaco, macarrão, espinafre) e cada aluno deverá compor uma pequena
canção sobre esse tema (quatro frases, formando uma pequena trova rimada).

Você também pode gostar