Você está na página 1de 32

Literatura

Norte-Americana
Material Teórico
Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Adriana Torquete

Revisão Técnica:
Profa. Ms. Silvana Nogueira da Rocha

Revisão Textual:
Profa. Ms. Sandra Regina F. Moreira
Século XX: Modernismo (Ezra Pound,
John Steinbeck, J. D. Salinger)

• Introdução
• Contexto Histórico
• Ezra Pound (1885 - 1972)
• John Steinbeck (1902 - 1968)
• J. D. Salinger (1919 - 2010)
• Geração Beat
• The Harlem Renaissance (1919-1929): a afirmação da literatura
afroamericana
• Considerações finais

·· Apresentar três grandes nomes da literatura norte-americana do Modernismo


(Ezra Pound, John Steinbeck e J. D. Salinger), ressaltando o cenário histórico e
político da sociedade da época, marcada, particularmente, pela Grande Depressão
de 1929, e também pela ascensão dos Estados Unidos após a Segunda Guerra
Mundial. Observar, portanto, períodos de crise, progresso econômico, alienação,
tédio, luta pelos direitos civis, e o racismo contra a população negra, que serão
refletidos nas obras dos escritores desse período, como um grito de protesto, e
entender melhor a sociedade norte-americana da atualidade.

Dear student!
Para obter um bom desempenho em seus estudos, explore cada seção da unidade.
Na Atividade de Sistematização estão disponibilizados alguns exercícios de autocorreção que visam
colocar em prática tudo o que aprendeu na disciplina, identificando os pontos em que precisa prestar
mais atenção, ou pedir esclarecimentos a seu tutor. Algumas questões têm o enunciado escrito em
Língua Inglesa visando estimular sua compreensão de texto no segundo idioma.
O Material Complementar traz informações adicionais para que você possa ampliar seus
conhecimentos sobre os tópicos apresentados na unidade. Portanto, é muito importante ler todas as
informações contidas nessa seção.
Não se esqueça também de acessar a Apresentação Narrada, que faz um resumo dos principais
tópicos do conteúdo teórico na forma de Power Point e áudio. A Videoaula também é um recurso que
deve ser acessado como parte fundamental de seus estudos.
O Fórum de Discussão é outra ferramenta disponível, que deve ser utilizada a fim de que participe
das discussões propostas.
Lembre-se da importância de realizar todas as atividades propostas dentro do prazo estabelecido para
cada unidade, para evitar acúmulo de conteúdo e problemas ao final do semestre.
Caso tenha alguma dificuldade no acesso de algum item da disciplina, não hesite em entrar em
contato com seu professor tutor.
Bons estudos!

5
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Contextualização

Dear student!
Você já ouviu falar no famoso filme “As Vinhas da Ira” ou The Grapes of Wrath? Ele é
baseado no igualmente famoso romance de John Steinbeck, um dos maiores escritores norte-
americanos!
Sabia que ele retrata um período difícil vivido pelo povo norte-americano, no século XX,
em que a ganância dos bancos e as duras condições do clima fazem os habitantes se mudaram
para outras regiões a fim de aliviarem seus problemas, manter a unidade familiar e sonhar com
um futuro melhor, constituindo-se, assim, um grande desafio para a população?
Esse e muitos outros filmes (que estão elencados na unidade) contribuem para um melhor
entendimento sobre a literatura e sociedade norte-americana daquela época, fazendo-nos
entender, consequentemente a sociedade norte-americana da atualidade.
Não deixe de conferir!

Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=BjPUQ4Apfhk
(Acesso em 06 de mai. 2015).

6
Introdução

Nesta unidade, abordaremos importantes autores do século XX: o poeta modernista Ezra
Pound e sua obra The Cantos; John Steinbeck e seu romance The Pearl (“A Pérola”); J. D.
Salinger e sua obra The Catcher in the Rye (“O Apanhador no Campo de Centeio”) e, por
fim, a polêmica Geração Beat e a Harlem Renaissance, cuja cultura afro americana ganha
destaque, principalmente na música e na poesia.

Contexto Histórico

A Grande Depressão de 1929 aumentou as diferenças sociais, gerando desemprego e


pobreza e causando um grande trauma aos americanos. As tentativas para aliviar a miséria que
assolava o país – representadas principalmente pelo New Deal de Roosevelt – motivaram uma
nova geração de escritores, como John Steinbeck, a produzir retratos desses tempos difíceis.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos se tornaram uma
das superpotências mundiais, juntamente com a União Soviética. Portanto, a década de 50
foi um momento de grande prosperidade para os Estados Unidos, pois a Segunda Guerra
Mundial os tirou da Depressão.
Por outro lado, em 1945, inicia-se a Guerra Fria, um conflito político, econômico, social,
militar e tecnológico entre as duas superpotências, que durou quarenta e seis anos (1945-1991).
A geração de escritores pós-45, por sua vez, encontrou um país que alcançou o progresso
econômico. Nos anos 50, a alienação e o tédio de uma sociedade baseada no consumo
influenciou a obra de autores como J. D. Salinger.
A boa vida era medida em termos de bens materiais, como casas, carros, aparelhos de
televisão e eletrodomésticos. Mas, ao mesmo tempo, criticava-se essa nova classe, produto
da tecnologia e do lazer, por ter perdido o desejo de buscar novos desafios. Se o sucesso
econômico era um dos objetivos principais, o fracasso havia se tornado também um dos temas
centrais dessa literatura. Uma das características importantes desse momento é que os Estados
Unidos, cada vez mais, se apresentavam como uma sociedade profundamente heterogênea. E
a melhor ficção veio daqueles grupos que estiveram relacionados com a experiência da guerra,
em particular os escritores judeu-americanos ou afroamericanos.
Posteriormente, houve os movimentos de protesto dos anos 60 – o feminismo, a luta
pelos direitos civis e o movimento em torno das questões antibélicas. Tais fatos contribuíram
para a produção de uma literatura ligada à contracultura. As formas livres e espontâneas da
poesia beat, iniciada nos anos 50 em São Francisco, por escritores como Allen Ginsberg,
Jack Kerouac e William Burroughs apresentam uma poesia oral, repetitiva, feita para ser
declamada, assemelhando-se a um grito de protesto.

7
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Ezra Pound (1885 - 1972)

P ound é considerado o principal responsável pela definição, inserção


e divulgação da estética modernista na poesia. O poeta promoveu,
no início do século XX, uma intensa troca de ideias entre escritores
britânicos, americanos e irlandeses, como William Butler Yeats, James
Joyce, Ernest Hemingway e, especialmente, o poeta T. S. Eliot. Ficou
famoso pela generosidade com que incentivou o trabalho desses
importantes autores. Revisou e melhorou o poema The Waste Land
de T. S. Eliot.
Em 1924, mudou-se para a Itália, época em que iniciou sua grande
obra poética, The Cantos (“Os Cantos”), cuja composição ocupou
mais de 40 anos de sua vida. Sua obra poética choca e, ao mesmo
tempo, fascina, apresentando elementos da poesia chinesa, japonesa
fonte: Alvin L. Coburn/Wikimedia Commons e dos trovadores provençais.
Ao retornar aos Estados Unidos em 1945, foi preso devido a sua propaganda do fascismo
italiano e ao protesto contra o modo de vida americano. Apesar de absolvido em 1946, foi
diagnosticado como doente mental e internado no St. Elizabeth’s Hospital. Em 1958, após
12 anos de apelos de intelectuais, foi liberado do hospital e retornou à Itália, onde morreu,
recluso, em 1972.
Criou o movimento literário chamado Imagismo, cuja ênfase está na clareza, precisão e
economia da linguagem. O poema imagista In a Station of the Metro (1913) descreve um
momento numa estação de metrô em Paris. Contém apenas 14 palavras e é um excelente
exemplo da precisão de imagens e economia linguística imagista:

Os princípios do Imagismo eram evitar o uso supérfluo de palavras. Somente deveriam ser usados
adjetivos que revelassem alguma coisa de importância. Da mesma maneira, era contra o uso de
abstrações e a favor de expressar diretamente os temas por meio de figuras concretas. Segundo ele,
a composição deveria seguir o ritmo da música.

In a Station of the Metro


The apparition of these faces in the crowd;
Petals on a wet, black bough.

Observe o contraste entre a palavra “petals”, símbolo de beleza e delicadeza, e “wet, black
bough”, sugerindo uma breve sensação do belo em meio a toda frieza da cena.

Pound era contra o uso de metáforas ou símbolos que remetessem o


leitor a algum referente fora do poema. Para ele, o poder da poesia
era produto da linguagem e não do contexto social. Ou seja, o poema
deveria capturar o instante quando um objeto exterior se tornava
Importante! uma experiência subjetiva. Para ele, era essa a essência da poesia do
Modernismo: a união do objeto e do pensamento; o exterior e o interior
(RULAND; BRADBURY 1991).

8
Veja agora a tradução deste poema realizada pelo poeta concretista Augusto de Campos:

Numa Estação do Metrô


A visão destas faces dentre a turba:
Pétalas num ramo úmido, escuro.

Ezra Pound também exerceu forte influência sobre a poesia brasileira, pois foi um dos
pilares sobre os quais Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos construíram a teoria da
poesia concreta.

The Cantos (1915-1962)


Trata-se de um livro composto por 120 poemas, aos quais o autor chamou de “cantos”,
fazendo uma alusão à antiga poesia épica, nos feitios da poesia de Homero. Pretende-se, assim,
que o livro forme, em suas 120 partes, um único poema, o qual teria ficado incompleto, embora
tenha sido escrito por quase toda a vida do poeta.
Muitos teóricos têm considerado a obra como o mais relevante livro de poesia modernista
dos Estados Unidos, ou o mais importante livro da poesia moderna universal, e muitos dão a
Pound a epígrafe de “poeta do século XX”, em função destes 120 cantos.
O autor se utiliza de uma sintaxe fragmentada, extraída da oralidade, de trechos em várias
línguas e de ideogramas chineses, fazendo transições abruptas de um contexto para outro,
tanto no aspecto verbal, quanto no geográfico ou histórico, com a criação de uma narrativa
que dá saltos no tempo e que representa um narrador atemporal, ou seja, uma espécie de eu
lírico que viveu em várias épocas e lugares.
Foi contemplado com o Prêmio Bollingen, oferecido pela Universidade de Yale, em 1948,
como o melhor livro de poesia dos últimos dois anos anteriores. No entanto, o fato gerou
muitas críticas, devido a estar-se laureando um poeta considerado “traidor da pátria” por
apoiar o fascismo e ser preso pelos seus compatriotas na Itália.

A obra está disponível para consulta e download no link:


http://pt.scribd.com/doc/46421363/Cantos-of-Ezra-Pound#scribd
(Acesso em 04 de mai. 2015).

Importante!
Outros nomes de destaque desse período são Robert Frost (1874-1963) e Wallace
Stevens (1879-1955).
Frost, oriundo da Califórnia, mas criado em uma fazenda no nordeste dos Estados
Unidos, foi para a Inglaterra, atraído pelos novos movimentos poéticos. Seus poemas
narram a vida no campo e apelam para a nostalgia do passado, evocada pelas imagens
da colheita de maçãs, muros de pedra, cercas que dividem os campos e as estradas
solitárias. Sua poesia era do agrado do público pelo vocabulário simples, metáforas
acessíveis e uso de rimas.
Stevens, nascido na Pensilvânia e aluno de Harvard, foi um homem de negócios
e, ao mesmo tempo, um poeta. Para Stevens, a forma da arte deve corresponder
à natureza. Seu vocabulário é variado, e o tom de seus poemas é humorístico ou
irônico. Em alguns dos seus poemas, resgata a cultura popular, enquanto em outros,
critica a cultura sofisticada. Porém, seus poemas são altamente intelectualizados e
ficaram conhecidos por seus intrincados jogos de palavras e seu caráter simbólico.

9
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

John Steinbeck (1902 - 1968)

O riundo de Salinas, Califórnia, onde muitos de seus romances


acontecem, foi autodidata e de família pobre. Em decorrência de
sua origem humilde, trabalhou em várias profissões, como carpinteiro,
agrimensor, vendedor de loja, empregado de farmácia, de uma fábrica de
açúcar e de um rancho.
É um dos escritores realistas mais importantes da literatura norte-
americana, que tem como tema central de sua obra os horrores
decorrentes da miséria e da opressão, principalmente após a Depressão
de 1929. Podemos afirmar que o autor foi um dos poucos a abordar a
fonte: Wikimedia Commons
fragilidade do “sonho americano”.
Dentre seus excelentes romances, estão Of Mice and Men (1937), cujo título revela o
universo social a que foram reduzidos seus personagens; e The Grapes of Wrath (1939),
que lhe rendeu o prêmio Pulitzer. A obra relata a viagem de uma família de migrantes que,
durante a Depressão, perdeu suas terras em Oklahoma e é obrigada a ir para a Califórnia em
busca de trabalho.
Sempre demonstrou interesse por questões políticas, o que lhe inspirou a escrever obras
como Viva Zapata! (1947), roteiro escrito durante uma viagem ao México, quando ficou
impressionado com a história de Emiliano Zapata, e filmado por Elia Kazan. Recebeu Prêmio
Nobel de Literatura em 1962.
Bradbury (1991, p. 120) explica que Steinbeck tinha tanto ambições cientificas (próprias
do Naturalismo) como proféticas, que se manifestavam em seu desejo de explicar a biologia
coletiva das ações humanas e afirmar a necessidade espiritual da existência humana. Esse
elemento místico está presente em seus romances The Pasture of Heaven (1932) e
To a God Unknown (1933), em que narra o movimento dos norte-americanos para o Oeste,
através do Continente, para os vales da Califórnia, à procura de suas raízes primitivas. Para
Steinbeck, essas raízes não estavam nas satisfações individuais, na posse de propriedades, ou
na moralidade convencional. Essas ideias se manifestam nas suas narrativas principais: Tortilla
Flat (1935), In Dubious Battle (1936), Of Mice and Men (1937), The Red Pony (1937),
Cannery Row (1945) e em seu romance mais destacado: The Grapes of Wrath (1939).
Esse último romance é emblemático da Depressão da década de 1930 e dramatiza
a migração dos “Okie”, habitantes do estado de Oklahoma, devido à crise econômica e à
grande seca, para os vales da Califórnia. Em uma das cenas do romance, Steinbeck narra o
momento em que os pequenos arrendatários são obrigados a sair das terras porque, para fazê-
las renascer, precisavam alternar a plantação, pois o algodão havia deixado a terra exausta,
contudo, eles não tinham dinheiro para comprar outras sementes. Então, os donos das terras
explicavam aos arrendatários a necessidade de saírem das terras porque eles, por sua vez,
também estavam endividados com os bancos.
Steinbeck, como explica Bradbury (1991, p. 121), foi além do Realismo. Ele pertence à
escola do transcendentalismo norte-americano, para quem existia uma alma única ligando o
homem e a natureza. Dessa maneira, seus romances retratam a presença e a participação do
homem na sociedade e na natureza, simultaneamente.

10
Atenção
Na seção “Material Complementar”, você encontrará informações detalhadas
sobre as obras The Pasture of Heaven (1932); To a God Unknown (1933);
Tortilla Flat (1935); In Dubious Battle (1936); Of Mice and Men (1937); The
Red Pony (1937); The Grapes of Wrath (1939); e Cannery Row (1945).
Não deixe de ler!

Em virtude de sua obra ser muito extensa, escolhemos apenas o romance The Pearl para
ser estudado a seguir:

The Pearl (1947)


O romance The Pearl se passa em La Paz, um vilarejo na costa mexicana, e relata a história
do pescador Kino, sua esposa Juana e seu filho Coyotito. No início da narrativa, o pequeno
Coyotito é picado por um escorpião, porém o médico do vilarejo lhe nega ajuda devido à
pobreza da família.
A partir do momento que Kino encontra a grande pérola, a “Pérola do Mundo”, passa a ser
vítima da ganância de todos, inclusive do médico. Kino tenta vendê-la pelo preço justo, porém
lhe é dado um preço muito inferior ao esperado. Os vizinhos passam a invejá-lo e o médico
procura a família a fim de cuidar do ferimento já cicatrizado de Coyotito.
Juana alerta o marido sobre os riscos que aquela pérola podia trazer à família, porém, para
Kino, ela significava a esperança de um futuro melhor, principalmente para Coyotito, como
podemos observar neste trecho:

Kino’s face shone with prophecy. “My son will read and open
the books, and my son will write and will know writing. And
my son will make numbers, and these things will make us free
because he will know—he will know and through him we will
know… This is what the pearl will do.”

A pérola que, a princípio, proporcionaria um ótimo futuro para a família acaba provocando
uma série de conflitos e um desfecho trágico. O temperamento de Kino muda devido às
pressões, chegando ao ponto de agredir a esposa e a matar um homem. Após o assassinato,
foge com a família, porém não consegue fugir de seu trágico destino: a morte de Coyotito.
O romance aborda temas como destino, ganância e opressão; e seus principais símbolos
são o escorpião e a pérola. O escorpião simboliza o mal, uma fatalidade do destino. Já a
pérola, no início da narrativa, representa a contraparte do episódio com o escorpião, pois seu
inesperado aparecimento proporciona alegria e esperança. No entanto, torna-se um símbolo
de ganância e destruição no decorrer do enredo.

11
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

J. D. Salinger (1919 - 2010)

J erome David Salinger, ao contrário da geração anterior, cujo tema


mais importante era a miséria dos anos 30, estreou no mundo literário
do pós-guerra, quando os EUA já eram a nação mais rica do mundo.
Seu sucesso como escritor se deve, principalmente, ao culto à sua
obra-prima, The Catcher in the Rye (1951), cuja leitura se tornou
obrigatória para gerações de adolescentes.
Ao contrário de sua obra, constantemente lida e comentada, o
autor passou suas últimas décadas isolado, evitando ser entrevistado ou
fotografado. Devido à reclusão, pouco se sabe sobre sua vida. Antes de
encerrar sua carreira como escritor, publicou sua coletânea de contos
Nine Stories (1953), Franny e Zooey (1961) e uma coletânea de
fonte: Wikimedia Commons
histórias publicadas na revista The New Yorker em 1963.
No Brasil: “O Apanhador no Campo de Centeio”; em Portugal:
“Uma Agulha no Palheiro”.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/J._D._Salinger. Acesso em 05 de mai. 2015.

Outra obra de destaque de Salinger é For Esme with Love and Squalor, que trata do
amor e da sordidez na Segunda Guerra Mundial, tanto na Europa como nos Estados Unidos,
vistos a partir da perspectiva de uma inteligente garota inglesa, que pede para o narrador, um
soldado norte-americano na Inglaterra, escrever um conto sobre a sordidez da guerra. Seu
pedido e interesse no soldado se tornam, por sua vez, um ato de amor que lhe permite voltar
da guerra para a próspera e superficial sociedade norte-americana “with his faculties intact”.

The Catcher in the Rye (1951)


The Catcher in the Rye (“O Apanhador no Campo de Centeio”) relata as experiências de
Holden Caulfield, adolescente proveniente de uma família abastada de Nova Iorque que, ao
ser expulso da escola, anda pela cidade antes de finalmente enfrentar os pais. A narração em
primeira pessoa usa linguagem coloquial, criando uma identificação entre leitor e narrador,
e apresenta observações sobre a banalidade da vida da classe média americana, captando
detalhes relevantes nas menores coisas do cotidiano.
Holden vivencia a competição agressiva no trabalho e no estudo, a vulgaridade nos
comportamentos, a sexualidade estampada nas atitudes e nos objetos de consumo e a falta de
profundidade de uma vida esvaziada de significados.
Há um grande conflito psicológico em Holden: ao mesmo tempo em que deseja se aproximar
de alguém a fim de explorar sua sexualidade, ele também rejeita o mundo adulto. Este conflito
entre a descoberta sexual e a recusa de crescer resumiu o sentimento de toda uma geração de
jovens com seus “problemas existenciais”. O romance se transformou em leitura obrigatória e
foi descrito como “inventor de uma geração”.

12
No trecho abaixo, em que é revelada a fonte do título do romance, Holden responde à sua
irmã Phoebe o que deseja fazer em sua vida. Para o protagonista, a infância é algo idealizado,
simples e inocente. Em contrapartida, os adultos são hipócritas e superficiais. Holden reafirma
sua crença na pureza infantil e deseja impedir que os jovens caiam no penhasco da vida adulta:

I’m standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I
have to catch everybody if they start to go over the cliff—I mean
if they’re running and they don’t look where they’re going I
have to come out from somewhere and catch them. That’s all
I’d do all day. I’d just be the catcher in the rye and all.

Por meio de uma linguagem coloquial adolescente, Holden se define com o salvador da
inocência das crianças que brincam em um campo de centeio, tão alto, que não podem
perceber para onde correm enquanto brincam.
Uma trágica curiosidade: houve uma nova onda de publicidade da obra quando o assassino
de John Lennon anunciou que a leitura do romance forneceria a explicação de sua relação
ambígua com o ídolo.

Para obter uma análise completa da obra “The Catcher in the Rye” e
de seus principais personagens, acesse o link:
http://www.sparknotes.com/lit/catcher/
(Acesso em 05 de mai. 2015).

13
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Geração Beat

A expressão “Geração Beat” designa um grupo de artistas inconformados com o chamado


“estilo de vida americano”, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, representando
o crescente movimento de contracultura que desencadearia a grande revolução dos costumes
e das artes ocorrida nos anos 60.
Merecem destaque três escritores: Jack Kerouac (1922-1969), Allen Ginsberg (1926-
1997) e William Burroughs (1914-1997). É importante salientar que, apesar dos princípios
estéticos em comum, esses autores produziram obras bastante pessoais e diferentes.
As três obras mais importantes da Geração Beat são: o poema Howl (1956), de Ginsberg;
o romance On the Road (1957), de Kerouac; e Naked Lunch (1959), de Burroughs.
Em seu poema Howl, Ginsberg declara que “as melhores mentes de sua geração”, os
rejeitados pela sociedade por não concordarem com suas regras, foram destruídas pela loucura
e se arrastam pelas ruas em busca de algo que possa amenizar sua dor e insanidade. Refere-se às
“best minds” como seres sagrados buscando uma conexão com uma força superior em meio às
máquinas noturnas, que são o símbolo do progresso, da ganância e do consumismo americano.

Para ler o poema Howl acesse:


http://sprayberry.tripod.com/poems/howl.txt
(Acesso em 03 de mai. 2015).

Sobre as outras obras da Geração Beat:


On the Road é uma narrativa autobiográfica veloz que registra as aventuras na estrada
de dois jovens – Sal Paradise e Dean Moriarty – ao atravessarem os Estados Unidos de ponta
a ponta. As viagens pelo imenso território americano são uma espécie de peregrinação em
busca de uma iluminação mística.
Naked Lunch apresenta imagens e situações que aos poucos se tornam familiares, nas
quais o leitor é atirado de uma espelunca urbana cheia de viciados, para o coração de uma
floresta, e depois para uma cidade que mais parece a projeção paranoica de qualquer grande
metrópole no mundo.

Consulte a seção “Material Complementar” para obter maiores detalhes sobre essas obras.

14
The Harlem Renaissance (1919-1929): a afirmação da literatura afroamericana

Foi a música do jazz, dos afroamericanos que deu o nome a essa década: The Jazz Age.
Destacam-se músicos como Duke Ellington e cantoras como Bessie Smith; os gêneros eram
o blues e também os negro spirituals. Por sua vez, escritores afroamericanos que tinham
se assentado no Harlem, queriam que sua literatura não fosse uma mímica da literatura dos
brancos, mas uma literatura que recriasse as experiências, gostos e estilos da comunidade
afroamericana dos Estados Unidos. Esse foi o objetivo do movimento negro chamado de
Harlem Renaissance (1919-1929).
Assim, a década de 1920 foi um momento de lutas políticas, sociais e raciais que vão se
afirmar por meio das expressões artísticas. O ano de 1919 foi um momento em que muitos
soldados afroamericanos que tinham lutado na Primeira Guerra Mundial voltam para Estados
Unidos e têm dificuldades para encontrar empregos. Muitos afroamericanos foram linchados
no Sul1 e, por isso, houve reação da comunidade negra.
Na arte, o dramaturgo Eugene O’Neill estreou a peça The Emperor Jones, cujo ator
principal era afroamericano.
Em 1922, o então jovem músico Louis Armstrong sai de Nova Orleans para Chicago e
começa a tocar em uma banda.
Em 1925, a revista Survey Graphic publicou um número especial dedicado aos artistas do
Harlem Renaissance intitulado Harlem: Mecca of the New Negro, em que introduz a poesia,
a ficção e os ensaios dos artistas afroamericanos ao público branco.
Em 1928, aparece o Harlem Experimental Theatre. Surgem também revistas literárias
e artísticas, como a Fire!!, dedicadas ao Harlem Renaissance. É também nessa década
que os escritores mais importantes desse movimento publicam poesias, contos e romances:
Langston Hughes, James Weldon Johnson, Claude McKay, Countee Cullen, Zora
Neale Hurston, entre outros.
Langston Hughes (1902-1967) incorporou em sua poesia os ritmos da música do jazz e
do blues, a linguagem coloquial de sua comunidade e temas folclóricos. Ele teve uma atuação
relevante no Harlem Renaissance não somente por meio de sua literatura, mas por sua ação
para abrir teatros e promover eventos de artistas afroamericanos. Escreveu poesias, duas
autobiografias: The Big Sea (1940) e I wonder as I wander (1956) e os maravilhosos sketches
de sua personagem Jesse B. Semple, por meio de quem fazia sua crítica social.
Na sua poesia, Hughes usa palavras do dialeto negro, incorpora os ritmos do jazz e do
blues, utiliza um estilo coloquial, tom de crítica e profundamente irônico. A partir de sua
poesia, Hughes discute o conceito de “negritude” (desenvolvido pelos líderes Aime Cesaire
e Leopold Sedar Segnhor) e seu orgulho por ser afroamericano, como em seu poema My
People, em que afirma o slogan “Black is Beautiful”:

O slogan Black is Beautiful está também presente na canção


da cantora Elis Regina. Acesse o link para assistir ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=BzrGDTUQ_KE
(Acesso em 22 de mai. 2015).

1 Consulte a seção “Material Complementar” para obter informações detalhadas sobre o Ku Klux Klan.

15
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

My People
The night is beautiful,
So the faces of my people.
The stars are beautiful,
So the eyes of my people.
Beautiful, also, is the sun.
Beautiful, also, are the souls of my people.
(HUGHES, 1990, p. 43)

Outros poemas famosos e belos sobre a negritude são Negro e I, Too:

Negro
I am a Negro:
Black as the night is black,
Black like the depths of my Africa.
I’ve been a slave:
Caesar told me to keep his door-steps clean.
I brushed the boots of Washington.
I’ve been a worker:
Under my hand the pyramids rose.
I made mortar for the Woolworth Building.
I’ve been a singer:
All the way from Africa to Georgia.
I carried my sorrow songs.
I made ragtime.
I’ve been a victim:
The Belgians cut off my hands in the Congo.
They lynch me still in Mississippi.
I am a Negro:
Black as the night is black
Black like the depths of my Africa.
(HUGHES, 1990, p. 57)

I, Too
I, too, sing America.
I am the darker brother.
They send me to eat in the kitchen.
When company comes,
But I laugh
And eat well,
And grow strong.

16
Tomorrow,
I’ll be at the table
When company comes.
Nobody’ll dare
Say to me,
“Eat in the kitchen”,
Then.
Besides,
They’ll see how beautiful I am
And be ashamed—
I, too, am America.
(HUGHES, 1990, p. 87).

Nota-se no poema esse pedido de igualdade para todos os cidadãos norte-americanos, que
deveria se cristalizar por meio dos direitos civis e da igualdade de oportunidade de trabalho.
Uma maneira do “Sonho Americano” ser possível para todos, indiscriminadamente.
Muitos afroamericanos tinham emigrado do sul, após a Guerra Civil, à procura de trabalhos
no norte, mas tinham sido confinados no bairro do Harlem, em Nova Iorque, muitas vezes
vivendo em condições precárias e só realizando trabalhos que os brancos não queriam fazer.
Hughes observava os afroamericanos andando pelas ruas do Harlem, felizes por terem um
lugar próprio, mas tristes pelas suas condições. Por isso, Hughes chama a atenção ao que
acontece quando um sonho é postergado indefinidamente:

What happens to a dream deferred?


Does it dry up
like a raisin in the sun?
Or fester like a sore—
And then run?
Does it stink like rotten meat?
Or crust and sugar over—
like syrupy sweet?

Maybe it just sags


like a heavy load.
Or does it explode?
(HUGHES, 1990, p. 77)

Também por meio de sua poesia, Hughes denunciou a perseguição dos negros no sul por
organizações como o Ku Klux Klan, como em seu poema Ku Klux:

17
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Ku Klux
They took me out
To some lonesome place.
They said, “Do you believe
In the great white race?”
I said, “Mister,
To tell you the truth,
I’d believe in anything
If you’d just turn me loose.”
The white man said, “Boy,
Can it be
You’re standin’ there
Assassin’ me?
They hit me in the head
And knocked me down.
And then they kicked me
On the ground.
A klansman said, “Nigger,
Look me in the face—
And tell me you believe in
The great white race”
(HUGHES, 1990, p. 88).

O sistema de segregação de brancos e negros ficou conhecido como as Leis Jim Crow, que
estavam em vigor nos estados sulistas. Essas leis (que diferiam de estado para estado) estavam
a favor de escolas e lugares públicos segregados e negavam aos negros o direito de votar.
No poema Merry-Go-Round, Colored Child at Carnival, Hughes critica as Leis Jim
Crow Sulistas, vistas a partir da perspectiva de uma criança negra em um carrossel em uma
cidade do Norte.
Outra grande escritora do Harlem Renaissance foi Zora Neale Hurston (1903-1960),
oriunda da cidade de Notasulga, Alabama. Seu gênero foram os contos e o romance. Hurston
estudou antropologia no Barnard College e tinha uma visão científica da etnicidade. A autora
se interessou pelas lendas folclóricas do povo afroamericano tanto dos Estados Unidos como
do Haiti, onde residiu por algum tempo. Como Hughes, Hurston utiliza em seus romances a
língua coloquial dos afroamericanos, mas desta feita, a partir do sul da nação. Seu romance
mais importante é a bela narrativa Their Eyes Were Watching God (1937).
Por meio de sua dramatização da condição da família afroamericana e a situação da mulher
nela, Hurston desconstruía o mito – criado pela comunidade branca – que, devido à escravidão,
os afroamericanos não tinham conceito de família. Ao mesmo tempo, Hurston também fazia sua
crítica à maneira como a mulher negra era muitas vezes tratada pelos homens de sua comunidade.
Isso mostra que Hurston foi precursora do movimento feminista e inspirou outras escritoras
negras, como Alice Walker e a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, Toni Morrison.

18
Saiba Mais
Alice Walker, filha de agricultores, perdeu a visão de um dos olhos aos oito anos num
acidente. Graças à sua dedicação, conseguiu sucessivas bolsas de estudos, graduando-se
em Artes pelo Sarah Lawrence College, em 1965. Iniciou sua carreira de escritora com
Once, um volume de poesias, e alcançou fama mundial com “A Cor Púrpura”, premiado
com o Prêmio Pulitzer, e que deu origem ao filme dirigido por Steven Spielberg, com
a atriz Whoopi Goldberg no papel principal. Consulte o “Material Complementar” para
maiores detalhes sobre a obra.
A autora escreveu também o livro “De Amor de Desespero”, uma obra composta
pelas vozes de várias mulheres negras do sul dos Estados Unidos. É uma coletânea de
vários contos, nos quais conhecemos mulheres diferentes com seus temores, desafios
e sonhos. Importante dizer que sempre foi uma ativista pelos direitos dos negros e das
mulheres, destacando-se na luta contra o Apartheid e a mutilação genital feminina em
países africanos.
A outra escritora mencionada, Toni Morrison, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, de
1993, por seus romances fortes e pungentes, que relatam as experiências de mulheres
negras nos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX. Seu livro de estreia, “O Olho
Mais Azul” (1970), é um estudo sobre raça, gênero e beleza (temas recorrentes em seus
últimos romances). Despertou a atenção da crítica internacional com Song of Solomon
(1977). Amada (1987), o primeiro romance de uma trilogia que inclui Jazz (1992) e
Paraíso (1997), ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor ficção, sendo escolhida pelo jornal
americano The New York Times como a melhor obra da ficção americana dos últimos
25 anos.

O Black Arts Movement surgiu nessas décadas tendo como objetivo transformar a
maneira como os afroamericanos tinham sido representados ou retratados na literatura e nas
artes dos Estados Unidos. Para isso, eles se voltaram à população afroamericana com o intuito
de definir seus objetivos em nível social e político. Por isso, a arte negra dos anos 1960 é uma
expressão engajada politicamente.
Larry Neal definiu o Black Arts Movement como uma visão da arte que pensa que o
artista não deve se alienar da comunidade, mas ser porta-voz dela. O Black Arts Movements
é o lado espiritual e estético do movimento Black Power. Como tal, era a favor de uma
arte que falasse direitamente às necessidades e aspirações dos Estados Unidos negro. Ambos
os movimentos baseavam-se em um ideário nacionalista que pedia a autodeterminação e o
reconhecimento dos afroamericanos como parte da nação norte-americana. O objetivo do
Black Arts Movement, então, era criar uma estética negra que fosse reconhecida como tal.
Um dos poetas e escritores mais importantes dessa época da tradição afro americana é
Amiri Baraka (1934-****), que também escreveu peças de teatro e teve ativa participação na
política norte-americana. Foi ele quem primeiro usou o termo Black Arts, com uma conotação
positiva, para identificar essa estética afroamericana:

We are unfair
And unfair
We are black magicians
Black arts we make
in black labs of the heart
The fair are fair
and deathly white
The day will not save them
And we own the night
(DICKER, 2008, p. 145).
19
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

E m 28 de agosto de 1963, Martin Luther King fez um


discurso no Lincoln Memorial, em Washington D.C., que
ficou conhecido como “Eu Tenho um Sonho”, no qual o líder
falava de seu sonho de integração do povo afroamericano nos
Estados Unidos.
fonte: Wikimedia Commons

“I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true
meaning of its creed: We hold these truths to be self-evident, that all men
are created equal.
I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former
slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together
at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering
with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be
transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four little children will one day live in a nation where
they will not be judged by the color of their skin but by the content of their
character. I have a dream today!
I have a dream that one day, down in Alabama, with its vicious racists,
with its governor having his lips dripping with the words of “interposition”
and “nullification” - one day right there in Alabama little black boys and
black girls will be able to join hands with little white boys and white girls
as sisters and brothers.
I have a dream today! I have a dream that one day every valley shall be
exalted, and every hill and mountain shall be made low, the rough places
will be made plain, and the crooked places will be made straight; “and the
glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together.” This
is our hope, and this is the faith that I go back to the South with”.
KING Jr., M. L. I have a dream. March on Washington for Jobs and Freedom. Washington DC, Estados Unidos da América, 28 ago. 1963.

Historiadores narram que durante as décadas de 1980 e 1990 as condições de vida dos
afroamericanos pioraram em relação à dos brancos nos Estados Unidos. O Ato de Direito de
Voto aos negros foi revogado durante o governo Bush.
Ainda hoje é possível ver violência contra os negros, o que comprova a permanência do
racismo naquele país. Isso é observado nas poucas oportunidades econômicas que têm, e na
violência policial, mostrada pela mídia2.
Vale lembrar, no entanto, que a conquista mais importante do povo afroamericano foi a
eleição do primeiro presidente negro, Barack Obama, nas eleições de 2008. Em seu discurso
de posse, ele aponta que sua eleição é uma nova reedição do “Sonho Americano”, pois seria
para todos os americanos, sem distinção:

“It’s the answer spoken by young and old, rich and poor,
Democrat and Republican, black, white, Hispanic, Asian,
Native American, gay, straight, disabled and not disabled”.

2 Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2015-04/protestos-contra-o-racismo-nos-eua-terminam-com-prisoes-e-policiais>. Acesso em 22 de


mai. 2015.

20
Considerações finais

Bem, nessa unidade, você conheceu autores que marcaram, de forma considerável,
a literatura norte-americana do século XX. Começamos por Ezra Pound e sua poesia
modernista. Na prosa, abordamos John Steinbeck e sua obra realista, destacando o romance
The Pearl. Também estudamos J. D. Salinger e sua obra-prima The Catcher in the Rye, que
se transformou em leitura obrigatória para gerações de adolescentes. Finalizamos com os
autores da Geração Beat, autênticos representantes do movimento de contracultura, e a Jazz
Age, na qual se destacam músicos e escritores negros com seu estilo peculiar, mostrando a
influência afro americana na cultura dos Estados Unidos.
Além disso, foi possível se familiarizar com os principais eventos no cenário social e político
dos Estados Unidos e entender melhor a sociedade norte-americana na atualidade.

Não deixe de ler as informações adicionais sobre Literatura


Multiétnica dos Estados Unidos, que estão disponíveis na
Importante! seção “Material Complementar” desta unidade.

21
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Material Complementar
Dear student!
Para conhecer um pouco mais a respeito dos assuntos tratados nesta unidade, seguem
algumas informações adicionais sobre a parte teórica e sugestões de leitura e filmes relacionados
ao tópico.
Os autores estão elencados na mesma ordem em que aparecem no título da unidade. Além
deles, há informações complementares sobre a Geração Beat e a Literatura multiétnica dos
Estados Unidos.

Ezra Pound
Livro:
The Cantos
Você poderá ouvir a leitura do Canto 84 acessando o link:
https://vimeo.com/87887827
(Acesso em 04 de mai. 2015).

John Steinbeck
The Pasture of Heaven (1932)
Ciclo de 12 histórias curtas, interconectadas, sobre um vale (Corral de Tierra) em Monterey,
Califórnia, que foi descoberto por um espanhol enquanto perseguia escravos foragidos.
Encantado com as belezas naturais do vale, nomeia-o de Las Pasturas del Cielo (The
Pastures of Heaven). As histórias são escritas no estilo clássico de John Steinbeck; as
vidas das famílias que se realocam para o vale são retratadas com uma mistura de humor
e mordacidade. Um tema recorrente no livro é a dor causada quando as pessoas tentam
tolamente agradar ou ajudar os outros.

To a God Unknown (1933)


Narra o movimento dos norte-americanos para o Oeste, através do continente, para
os vales da Califórnia, à procura de suas raízes primitivas. Para Steinbeck, essas raízes
não estavam nas satisfações individuais, na posse de propriedades, ou na moralidade
convencional. Ele explora a relação do homem com sua terra. A trama segue um homem,
Joseph Wayne, que se muda para a Califórnia a fim de estabelecer uma casa e terrenos
anexos. Junto a ele estão seus três irmãos, já que o pai havia morrido. Eles criam um
próspero rancho (fazenda), e quando a seca atinge a terra, o escritor analisa como os
homens reagem ao terem sua fé abalada.

Tortilla Flat (1935)


Romance que se passa em Monterey, Califórnia. Foi o primeiro sucesso comercial e
crítico do autor. Retrata um grupo de paisanos (homens do interior), que aproveitam a
vida, ao máximo, nos dias subsequentes ao fim da Grande Guerra.

22
In Dubious Battle (1936)
Romance cuja figura central é um ativista pelo “The Party” (possivelmente o “Partido
Comunista Americano” ou o “Trabalhadores das Indústrias do Mundo”), que está
organizando uma importante greve, feita pelos apanhadores de frutas, buscando, assim,
atrair seguidores para a sua causa.

Of Mice and Men (1937)


Narra a história de George Milton and Lennie Small, dois trabalhadores migrantes, que
não têm um lugar fixo para viver (estão em constantes mudanças) e buscam por novas
oportunidades de emprego durante a Grande Depressão, na Califórnia. Embora seja
leitura exigida em muitas escolas, tem sido alvo da censura pela vulgaridade e linguagem
racista ofensiva. No entanto, aparece na lista da American Library Association como
Most Challenged Books do século XXI.

The Red Pony (1937)


Apresenta quatro histórias diferentes sobre o menino Jody e sua vida na fazenda de seu
pai na Califórnia. Personagens centrais, além do garoto, são Carl Tiflin (pai de Jody), Billy
Buck (um perito em cavalos e mão-direita na fazenda), a Sra. Tiflin (mãe de Jody), o avô
de Jody (pai da Sra. Tiflin), que tem uma história de travessia da trilha do Oregon, e que
adora contar histórias sobre suas experiências e Gitano (um velho que deseja morrer na
fazenda dos Tiflin). Juntamente com essas histórias, há uma, ao final do livro, intitulada
Junius Maltby, (tirada das obras mais antigas de Steinbeck – The Pastures of Heaven). No
entanto, essa última história é omitida na edição publicada pela Penguin Books.

The Grapes of Wrath (1939)


Romance americano realista que ganhou o Prêmio National Book e o Pulitzer. Foi citado
quando Steinbeck foi premiado com o Prêmio Nobel em 1962. Tendo como pano de
fundo a Grande Depressão, o romance centraliza sua história na família Joads (uma família
pobre de fazendeiros inquilinos), ressaltando a seca, os graves problemas econômicos, as
mudanças na indústria agrícola, forçando os fazendeiros a ficarem sem trabalho. Devido
à situação de desesperança, os Joads partem para a Califórnia, juntamente com milhares
de outros Okies, à procura de emprego, terra, dignidade e um futuro.
É leitura obrigatória nos colégios americanos e aulas de literatura clássica devido ao seu
contexto histórico e legado sofredor.
A obra também está disponível em filme. Leia também as informações sobre o filme
disponíveis nesta seção.

Cannery Row (1945)


Romance cujo cenário histórico é a Grande Depressão, em Monterey, em uma rua de
fábrica de enlatados conhecida como Cannery Row. A história conta a vida de pessoas
que moram lá, como Lee Chong (o mercador local); Doc (um biólogo da Marinha); e Mack
(o líder de um grupo de vagabundos).
A obra também está disponível em filme.

Filmes:
Tortilla Flat (“Boêmios Errantes”) (1942) Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=0GZrt7rO1r8
(Acesso em 04 de mai. 2015).

Of Mice and Men (1939)


Drama baseado na peça de John Steinbeck, conta a história de dois homens, George
e seu parceiro Lennie, que tentam sobreviver durante o dustbowl dos anos 30 (área de
terra onde a vegetação foi perdida e o solo reduzido à poeira, especialmente como con-
sequência da seca ou práticas agrícolas inapropriadas), perseguindo um sonho de possuir
seu próprio rancho, em vez de trabalhar para os outros. Foi indicado para quatro Oscars.

23
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

The Red Pony


Tom Tiflin ganha um pequeno pônei de seu pai (Strudwick). O jovem pede ao ajudante do
estábulo (Billy Buck) para ajudá-lo a criar e treinar o cavalo para que ele possa ser montado.
Durante uma tempestade, o pequeno pônei se solta do estábulo e acaba tendo uma febre
pelo fato de ter ficado encharcado pela chuva. Apesar dos grandes esforços de Buck para
cuidar do animal, o pônei desenvolve uma infecção bacteriana que ataca o trato respira-
tório, necessitando de uma traqueostomia. Logo após o procedimento, o pônei escapa da
fazenda. Tom segue suas pegadas, que o levam a um pequeno barranco, onde o cavalo é
encontrado morto e sendo comido pelos urubus.
Tom culpa Buck por não ter salvado sua vida. Buck, sentindo remorso, prepara-se para
matar sua égua prenha a fim de lhe dar um potro. No entanto, Tom fica zangado com a
disposição de Buck para sacrificar o cavalo e rouba sua faca. Quando voltam para o está-
bulo, o cavalinho já havia nascido naturalmente e tanto a mãe como o filhote sobrevivem.

The Grapes of Wrath (1940)


Conta a história dos Joads, uma família de Oklahoma que, após perder sua fazenda
durante a Grande Depressão em 1930, torna-se migrante e acaba na Califórnia. O filme
detalha sua árdua jornada enquanto viaja para a Califórnia, em busca de emprego e opor-
tunidades para os membros da família.
Em 1989, foi um dos 25 filmes selecionados para a preservação do United States
National Film Registry, pela Library of Congress, sendo considerado cultural, historica
e esteticamente significativo.

Fried Green Tomatoes (“Tomates Verdes Fritos”)


Filme que fala de amizade, violência contra a mulher e racismo, em que a organização
Ku Klux Klan é mencionada, mostrando a perseguição que os negros sofriam no sul dos
Estados Unidos.

Saiba Mais
Ku Klux Klan
No ano de 1866, no estado do Tennessee, foi fundado um clube social que tinha
como membros os soldados que haviam lutado na Guerra Civil Americana (1861-
1865), representando os estados do sul, que haviam sido derrotados. Recebendo
o nome de Ku Klux Klan, era uma organização racista secreta, que tinha entre
seus objetivos resistir à política imposta pelos estados do norte após a Guerra
Civil e intimidar os negros, na maioria das vezes com atos de violência, garantido
assim a supremacia branca no país. A seita conseguiu crescer em proporções
inimagináveis em muito pouco tempo, ampliando seu número de seguidores
por diversos outros estados. Para que suas identidades fossem preservadas,
os membros do clã usavam roupas brancas com capuzes que cobriam o rosto.
Para que alguém pudesse entrar na seita era necessário passar por um ritual de
iniciação, que se dava pelo fato do indivíduo ser colocado dentro de um tonel e
empurrado ladeira abaixo. Em 1871, o presidente dos Estados Unidos (Ulysses
Grant) tornou o grupo irregular, tornando-o uma entidade terrorista e banida do
país. Eles costumavam fazer visitas surpresas aos negros e, com o uso da força,
através de chibatadas, eles os forçavam a votar nos democratas. Os brancos que
apoiavam a abolição e os professores que davam aula aos negros também eram
perseguidos. Os membros da seita não aceitavam que os negros tivessem o direito
à educação. Acredita-se que a seita contou com um número de 5.000.000 de
membros. Suas vítimas recebiam três letras K na testa, uma marca de que o clã
havia feito seu trabalho sujo, deixando a vítima como exemplo para os outros.
Atualmente a seita conta apenas com um número médio de 3.000 homens em
todos os estados americanos. Muitos não associados apoiam a organização,
mesmo não participando ativamente de suas reuniões.
Disponível em: http://www.estudopratico.com.br/ku-klux-klan-resumo-historico-desta-seita/ (Acesso em 06 de mai. 2015).

24
J. D. Salinger
Livro:
The Catcher in the Rye (“O Apanhador no Campo de Centeio”)
Narra um fim de semana na vida de Holden Caulfield, um jovem de 16 anos vindo de
uma família abastada de Nova Iorque. Holden, estudante de um reputado internato para
rapazes, volta para casa mais cedo no inverno, depois de ter recebido más notas em
quase todas as matérias e ter sido expulso da escola. No regresso à casa, decide fazer
um périplo, adiando assim o confronto com a família. Holden vai refletindo sobre a sua
curta vida, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta definir alguma diretriz para seu
futuro. Antes de enfrentar os pais, procura algumas pessoas importantes para si, como
um professor, uma antiga namorada, a sua irmãzinha, e tenta lhes explicar a confusão
que passa pela sua cabeça.

Geração Beat - Jack Kerouac

Filme:
On the Road (“Na Estrada”)
Filme brasileiro-francês-canadense de 2011, dirigido por Walter Salles. É uma adaptação
do romance On the Road, de Jack Kerouac (1957). A história é baseada nos anos em
que Kerouac passou viajando pelos Estados Unidos (final dos anos 1940) com seu amigo
Neal Cassady e várias outras figuras, incluindo William S. Burroughs e Allen Ginsberg.
O título do filme na França é Sur La Route e, em Portugal, Pela Estrada Fora.
Você pode assistir ao filme completo, acessando o link:
https://www.youtube.com/watch?v=oYQFvinAYGc
(Acesso em 05 de mai. 2015).

Geração Beat - William S. Burroughs

Filme:
Naked Lunch (“O Festim Nu”) ou (“Mistérios e Paixões”)
Drama baseado no romance autobiográfico do escritor William S. Burroughs, pertencente
à Geração Beat.
A trama se passa em Nova Iorque (1953) e conta a história de Bill Lee (Peter Weller), um
exterminador de insetos que quer ser escritor. Tem problemas em seu trabalho, pois, com
frequência, seu estoque de inseticida se esgota. Porém, a verdade é que Joan (Judy Da-
vis), sua esposa, está viciada na substância e ele, estimulado pela mulher, experimenta o
inseticida e acaba entrando num processo interminável de “viagens”, nas quais máquinas
de escrever se transformam em enormes insetos falantes.
“O Festim Nu” é o título do filme em Portugal, e “Mistérios e Paixões”, no Brasil.
Assista ao filme, acessando o link:
https://www.youtube.com/watch?v=qUHl5kDQZ4c
(Acesso em 05 de mai. 2015).

25
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Literatura multiétnica nos Estados Unidos


A partir da segunda metade do século XX, floresce a Literatura multiétnica. Seguindo a
liderança dos escritores afro americanos, escritores chicanos (norte-americanos de origem
mexicana), hispanos (cubanos-norte-americanos ou porto-riquenhos), latinos, nativos e sino-
americanos começaram a atrair a atenção do grande público norte-americano.
Na década de 1970, apareceram programas nas universidades de estudos étnicos e, na década
de 80, surgiram periódicos acadêmicos, organizações profissionais e revistas literárias dedicadas a
essas causas. Por sua vez, já na década de 90 começaram a proliferar as conferências voltadas para
os estudos étnicos, que se agrupavam em novos cânones literários que, por sua vez, estavam em
contraponto com os cânones clássicos. Entre os temas mais destacados, estão a reescrita do conceito
de raça como culturalmente construída; a etnicidade como conceito cultural; o etnocentrismo em
contraponto à heterogeneidade cultural; o monolinguismo versus o polilinguismo.
Entre os escritores chicanos, destacam-se a escritora e poetisa Gloria Anzaldua, cuja poesia,
com tons da tradição oral, conjuga palavras em espanhol e inglês e remonta às tradições
mexicanas. O poeta Alberto Rios (1952-****) relaciona em seus poemas a fantasia e o realismo,
no estilo do realismo mágico de Gabriel Garcia Marquez. Seus poemas mostram o hibridismo
entre as línguas inglesa e espanhola, o estilo de composição e a cultura norte-americana e
latino-americana, como em Mi Abuelo, em que o eu- lirico diz: “Mi abuelo is the man who
speaks through all the mouths in my house”. Sua poética evoca a língua castelhana, que
precisou abandonar ao aprender o inglês na escola.
Por sua vez, os poetas nativos têm se destacado tanto na prosa como na poesia.
Um desses poetas é Simon Ortiz (1941-****), que trata das contradições na vida de um índio
norte-americano nos dias de hoje, dividido entre o presente e o passado. Nas suas poesias,
Ortiz lembra os norte-americanos das injustiças cometidas contra o seu povo.
Leslie Marmon Silko (1948-****) usa a linguagem coloquial e histórias tradicionais para criar
poemas líricos. Por meio de sua poesia, constrói uma ponte entre as tradições orais nativas e o
público que lê poesia em língua inglesa. Porém, ela se coloca ao lado dos nativos norte-americanos.
Em seu poema Long Time Ago, imagina um mundo sem o homem europeu e branco.
Entre os escritores hispano-americanos, destacam-se o ganhador do Prêmio Pulitzer, Oscar
Hijuelos, oriundo de Cuba e autor de The Mambo Kings Play Songs of Love (1989), e a contista
Sandra Cisneros com sua antologia Woman Hollering Creek and Other Stories (1991).
As vozes sino-americanas também podem se ouvir neste período, a partir de escritoras como
Maxine Hong Kingston e seu romance The Woman Warrior (1976), que abriu caminho para
outros escritores sino-americanos, como Amy Tan, cujo tema é a vida chinesa nos Estados
Unidos em The Joy Luck Club (1989) e The Kitchen God’s Wife (1991).

26
Alice Walker
Livro:
The Color Purple (“A Cor Púrpura”)
Romance epistolar da premiada escritora estadunidense Alice Walker, lançado
originalmente em 1982 e agraciado com o Prêmio Pulitzer no ano seguinte.
Narra a história de uma garota de 14 anos (Celie), que é abusada sexualmente pelo pai
e tem dois filhos dele. Tem como plano de fundo o racismo no sul dos Estados Unidos,
o machismo, o patriarcado, a amizade, o amor e o desamor, as carências educacionais
para as mulheres etc.
Alice Walker expõe os fatos em cartas (nunca enviadas) que a protagonista escreve para
Deus e para sua irmã Nettie. A linguagem é diferenciada, pois não usa a norma culta e
sim uma escrita rústica e simplória, repleta de erros gramaticais e regionalismos, sempre
extremamente próxima da fala utilizada na região mais agrária dos Estados Unidos.

Filme:
The Color Purple (“A Cor Púrpura”)
Assista ao filme completo (dublado em português), acessando o link:
https://www.youtube.com/watch?v=nW9gu52Fv1E
(Acesso em 22 de mai. 2015).

27
Unidade: Século XX: Modernismo (Ezra Pound, John Steinbeck, J. D. Salinger)

Referências

CUNLIFFE, M. The Literature of the United States. 4.ed. Middlesex: Penguin, 1986.

HIGH, P. B. An Outline of American Literature. England: Longman, 2002.

NABUCO, C. Retrato dos Estados Unidos a Luz da sua Literatura. 2.ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

28
Anotações

29

Você também pode gostar