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GRAZIELY MENESES DA SILVA.

A escola literária do Modernismo brasileiro.


Contexto histórico
Na Europa, a expansão imperialista, iniciada no século XIX, marcada pela exploração de países
subdesenvolvidos e pela disputa entre as grandes potências, levou à corrida armamentista e à
Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Após esse conflito, os movimentos nacionalistas
intensificaram-se, levando ao fortalecimento do nazismo e do fascismo, o que culminou na
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

No campo científico, Albert Einstein (1879-1955) divulgou a sua teoria da relatividade, em


1905, enquanto Sigmund Freud (1856-1939) colocava o inconsciente em discussão e forjava as
bases da psicanálise. Além disso, as inovações tecnológicas passavam a fazer parte da vida das
pessoas, as máquinas e a velocidade tornavam-se símbolos da vida moderna. Nesse contexto, os
artistas sentiram-se inspirados a criar uma “nova arte”, radical e crítica da tradição acadêmica.
Assim, surgiram os movimentos de vanguarda na Europa.

No Brasil, a República Velha chegava ao seu fim com os movimentos tenentistas no início da
década de 1920, comandados por militares descontentes com o governo. Em 1924, a Coluna
Prestes, de viés comunista, liderada por Luís Carlos Prestes (1898-1990), iniciava sua marcha,
que durou dois anos, para convocar o povo a revoltar-se contra as elites.

Em 1929, houve a quebra da Bolsa de Nova Iorque, o que prejudicou a economia brasileira,
baseada na exportação de café. No ano seguinte, quando Getúlio Vargas (1882-1954) perdeu as
eleições para Júlio Prestes (1882-1946), supostamente devido a uma fraude, o presidente
Washington Luís (1869-1957) foi deposto por um golpe de estado, e Vargas tomou posse
provisoriamente. Contudo, era o início da Era Vargas, que duraria até 1945.

· Primeira geração modernista no Brasil(1922-1930)


A primeira fase do modernismo esteve voltada para a busca de uma identidade nacional.

Nesse momento, diversos artistas aproveitaram a agitação causada pela Semana de Arte Moderna
para romper com os modelos preconcebidos que, segundo eles, eram limitados e impediam a
criatividade.

Inspirado nas ideias das vanguardas artísticas europeias, os artistas buscam uma renovação
estética. Por esse motivo, ela é conhecida como a "fase heroica", sendo a mais radical de todas.

É também chamada de "fase de destruição", pois propunha a destruição dos modelos que
vigoravam no cenário artístico-cultural do país.
A consolidação de uma arte genuinamente brasileira possibilitou a valorização da cultura e do
folclore. Junto a isso, os artistas estabelecem a liberdade formal, rompendo com a sintaxe e
utilizando uma linguagem mais coloquial para se aproximar da fala cotidiana.

Muitas revistas e manifestos foram criados, o que fez surgir alguns movimentos, dos quais se
destacam:

· Movimento pau-brasil;

· Movimento antropofágico;

· Movimento regionalista;

· Movimento verde-amarelo;

Características da primeira fase modernista

· fase mais radical e nacionalista;

· busca de uma identidade nacional;

· maior liberdade formal com rupturas da sintaxe;

· presença de regionalismos e linguagem informal;

· valorização do folclore, arte e cultura popular brasileira;

· uso de versos livres, que não possuem métrica (medida);

· uso de versos brancos, com ausência de rimas;

· utilização do sarcasmo e da ironia.

Autores e obras da primeira fase modernista


Os escritores e as obras mais relevantes da primeira geração modernista, foram:

· Mario de Andrade (1893-1945) - Obras: Paulicéia Desvairada (1922), Amar, Verbo


Intransitivo (1927) e Macunaíma (1928).

· Oswald de Andrade (1890-1954) - Obras: Os condenados (1922), Memórias Sentimentais


de João Miramar (1924) e Pau Brasil (1925).

· Manuel Bandeira (1886-1968) - Obras: A cinza das horas (1917), Carnaval (1919) e
Libertinagem (1930).
"Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o

cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

(...)

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbados

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

· Segunda geração modernista no Brasil(1930-1945)


A segunda fase do modernismo, chamada de fase de consolidação ou geração de 30, começou
em 1930 e durou até 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial.

Diferente da primeira fase, que apresentava um caráter mais destrutivo e radical, na segunda
geração, os artistas demonstram maior equilíbrio e racionalidade em seus escritos.

Esse momento de amadurecimento da literatura brasileira é caracterizado por temáticas


nacionalistas, regionalistas e de caráter social, com predomínio de uma literatura mais crítica e
revolucionária.

Além da prosa de ficção, a poesia brasileira se consolida, o que significa o maior êxito para os
modernistas.

Esse é um momento muito fértil da literatura brasileira onde encontramos uma vasta produção
de textos poéticos em verso e prosa.

Características da segunda fase modernista

· fase de consolidação do modernismo no Brasil;


· vasta produção literária em poesia e prosa (poesia de 30 e romance de 30);

· valorização do regionalismo e da linguagem popular;

· utilização de versos livres, sem métrica, e brancos, sem rimas;

· crítica à realidade social brasileira;

· valorização da diversidade cultural do país;

· temática cotidiana, social, histórica e religiosa.

Autores e obras da segunda fase modernista


Os poetas e as obras que se destacaram na chamada “poesia de 30” foram:

· Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) - Obras: Alguma poesia (1930), A Rosa do


povo (1945) e Claro Enigma (1951).

· Murilo Mendes (1901-1975) - Obras: Poemas (1930), A poesia em pânico (1937) e As


metamorfoses (1944).

· Jorge de Lima (1893-1953) - Obras: Novos poemas (1929), O acendedor de lampiões


(1932) e O anjo (1934).

· Cecília Meireles (1901-1964) - Obras: Espectros (1919), Romanceiro da Inconfidência


(1953) e Batuque, Samba e Macumba (1935).

· Vinicius de Moraes (1913-1980) - Obras: Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Antologia


Poética (1954), Orfeu da Conceição (1954).

Confira abaixo um dos poemas mais emblemáticos de Carlos Drummond de Andrade,


publicado na revista de Antropofagia (1928), e que causou um grande escândalo na época:

"No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho


Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

Já na prosa da segunda geração, ou “romance de 30”, os escritores e as obras que se


destacaram foram:

· Graciliano Ramos (1892-1953) - Obras: Vidas Secas (1938), São Bernardo (1934),
Angústia (1936), Memórias do cárcere (1953).

· José Lins do Rego (1901-1957) - Obras: Menino do Engenho (1932), Doidinho (1933),
Banguê (1934) e Fogo morto (1943).

· Jorge Amado (1912-2001) - Obras: O País do Carnaval (1930), Mar morto (1936) e
Capitães da areia (1937).

· Rachel de Queiroz (1910-2003) - Obras: O quinze (1930), Caminho das pedras (1937) e
Memorial de Maria Moura (1992).

· Érico Veríssimo (1905-1975) - Obras: Olhai os lírios do campo (1938), O Tempo e o


Vento - 3 volumes (1948-1961) e Incidente em Antares (1971).

Veja abaixo um trecho da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que retrata a vida de
uma família de retirantes no sertão brasileiro:

"Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o
dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado
bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

· Terceira geração modernista no Brasil(1945-1960)


Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o processo de redemocratização do país, em 1945, a
arte brasileira produzida na terceira fase do modernismo ganha novos contornos e linguagens.

Muitos críticos literários defendem que essa fase terminou em 1960, enquanto outros acreditam
que ela perdura até o presente.

Esse momento, que ficou conhecido como “Geração de 45”, reuniu um grupo de escritores,
muitas vezes chamados de neoparnasianos, que buscavam uma poesia mais equilibrada e
objetiva.

Assim, a liberdade formal, característica das fases anteriores, é deixada de lado para dar lugar
à métrica e ao culto à forma, com produções inspiradas no Parnasianismo e Simbolismo.
Além da poesia, há uma diversidade grande na prosa com a prosa urbana, intimista e
regionalista.

Características da terceira fase modernista

· linguagem mais objetiva e equilibrada;

· influência do Parnasianismo e Simbolismo;

· oposição à liberdade formal;

· forte preocupação com a estética e a perfeição;

· valorização da métrica e da rima;

· temática social e humana.

Autores e obras da terceira fase modernista


Os escritores que se destacaram nessa fase, na poesia e na prosa, foram:

· Mario Quintana (1906-1994) - Obras: Rua dos cataventos (1940), Canções (1946) e Baú
de espantos (1986).

· João Cabral de Melo Neto (1920-1999) - Obras: Pedra do sono (1942), O cão sem plumas
(1950) e Morte e vida severina (1957).

· Guimarães Rosa (1908-1967) - Obras: Sagarana (1946), Primeiras Estórias (1962) e


Grande Sertão: Veredas (1956).

· Clarice Lispector (1920-1977) - Obras: Perto do coração selvagem (1942), A paixão


segundo G. H (1964) e A hora da estrela (1977).

Leia abaixo um trecho da obra mais emblemática de João Cabral de Melo Neto Morte e vida
severina:

"— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de
romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas
Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.

(...)

— Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva só a morte
tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela
vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira).
Conclusão
O Modernismo foi um movimento literário de nivel mundial, que incluiu uma série de críticas artísticas,
culturais e sociais. Iniciou no o século XX, procurando romper com a arte acadêmica, dando maior
liberdade para a estética e para a experimentação. As Vanguardas européias se destacam neste contexto.

O modernismo vingou por um bom período, até também ser criticado por perspectivas contemporâneas de
arte e cultura. Muito de sua influência ainda pode ser vista nas exposições atuais na maior parte dos
museus de arte do mundo,o modernismo foi um momento fundamental da arte no mundo, e deve ser
lembrado como referência histórica quando o assunto é cultura.

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