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Modernismo no Brasil

O modernismo no Brasil foi um movimento artístico, cultural e literário que se caracterizou pela liberdade estética, o nacionalismo
e a crítica social.

Inspirado pelas inovações artísticas das vanguardas europeias (cubismo, futurismo, dadaísmo, expressionismo e surrealismo), o
modernismo teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna, que se realizou entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no
Theatro Municipal de São Paulo.

No país, o cenário era de insatisfação, pois muitas pessoas consideravam a política, a economia e a cultura estagnadas. Parte disso
estava relacionado com o modelo político vigente baseado na política do café com leite.

Com o poder concentrado nas mãos de grandes fazendeiros, paulistas e mineiros se revezavam no poder. Isso ocorreu até 1930,
quando um golpe de estado depôs o presidente Washington Luís, pondo fim à República velha.

Foi nesse cenário de incertezas que um grupo de artistas, empenhados em propor uma renovação estética na arte, apresentam um
novo olhar, mais libertário, contrário ao tradicionalismo e ao rigor estético.

Assim, surge a Semana de Arte Moderna liderada pelo chamado “Grupo dos cinco”: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti
del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.

Esse evento, que reuniu diversas apresentações e exposições, colaborou com o surgimento de revistas, manifestos, movimentos
artísticos e grupos com experimentações estéticas inovadoras.

Tudo isso permitiu consolidar as ideias modernistas e inaugurar o movimento no país.

Contexto histórico do modernismo no Brasil

O modernismo no Brasil surge logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que levou a morte de milhares de pessoas, a
destruição de diversas cidades e a instabilidade política e social.

Assim, numa tentativa de reestruturar o país politicamente, e também o campo das artes - estimulado pelas vanguardas europeias
-, encontra-se a motivação para romper com o tradicionalismo.

No país, o movimento modernista surgiu na segunda fase da República velha (1889-1930), chamada de República das Oligarquias
ou República do café com leite.

Nesse contexto, o poder era revezado entre paulistas e mineiros, e dominado por aristocratas fazendeiros.

Em decorrência disso e do aumento da inflação, que fazia aumentar a crise e propulsionava greves e protestos, o momento era de
insatisfação.

Ao mesmo tempo, o movimento tenentista ganhava força e tentava derrubar o esquema das oligarquias, cujo poder estava
concentrado nas mãos das elites agrárias tradicionais.

Algumas revoltas que aconteceram nesse momento pelos tenentistas foram:

 Revolta do forte de Copacabana, em julho de 1922, no Rio de Janeiro;


 Revolta paulista de 1924, que ocorreu na cidade de São Paulo;
 Coluna Prestes (1925-1927).

Todos elas reivindicavam o fim da República Velha e do sistema oligárquico.

A crise econômica gerada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, acelerou esse processo e essa mudança foi
alcançada com a Revolução de 30.

Assim, um golpe de estado depôs o presidente Washington Luís e marcou o fim da República velha. Começa, então, a Era Vargas,
que durou até 1945, ano que termina da Segunda Guerra Mundial.
Fases do modernismo no Brasil

O modernismo no Brasil foi um longo período (1922-1960), que reuniu diversas características e obras, por isso, esteve dividido
em três fases, também chamadas de gerações:

 Primeira fase modernista (1922-1930) - a fase heroica ou de destruição


 Segunda fase modernista (1930-1945) - a fase de consolidação ou geração de 30
 Terceira fase modernista (1945-1960) - a geração de 45

Primeira fase modernista no Brasil (1922-1930)

A primeira fase do modernismo esteve voltada para a busca de uma identidade nacional.

Nesse momento, diversos artistas aproveitaram a agitação causada pela Semana de Arte Moderna para romper com os modelos
preconcebidos que, segundo eles, eram limitados e impediam a criatividade.

Inspirado nas ideias das vanguardas artísticas europeias, os artistas buscam uma renovação estética. Por esse motivo, ela é
conhecida como a "fase heroica", sendo a mais radical de todas.

É também chamada de "fase de destruição", pois propunha a destruição dos modelos que vigoravam no cenário artístico-cultural
do país.

A consolidação de uma arte genuinamente brasileira possibilitou a valorização da cultura e do folclore. Junto a isso, os artistas
estabelecem a liberdade formal, rompendo com a sintaxe e utilizando uma linguagem mais coloquial para se aproximar da fala
cotidiana.

Muitas revistas e manifestos foram criados, o que fez surgir alguns movimentos, dos quais se destacam:

 Movimento pau-brasil;
 Movimento antropofágico;
 Movimento regionalista;
 Movimento verde-amarelo.

Características da primeira fase modernista

 fase mais radical e nacionalista;


 busca de uma identidade nacional;
 maior liberdade formal com rupturas da sintaxe;
 presença de regionalismos e linguagem informal;
 valorização do folclore, arte e cultura popular brasileira;
 uso de versos livres, que não possuem métrica (medida);
 uso de versos brancos, com ausência de rimas;
 utilização do sarcasmo e da ironia.

Autores e obras da primeira fase modernista

Os escritores e as obras mais relevantes da primeira geração modernista, foram:

 Mario de Andrade (1893-1945) - Obras: Paulicéia Desvairada (1922), Amar, Verbo Intransitivo (1927)


e Macunaíma (1928).
 Oswald de Andrade (1890-1954) - Obras: Os condenados (1922), Memórias Sentimentais de João Miramar (1924)
e Pau Brasil (1925).
 Manuel Bandeira (1886-1968) - Obras: A cinza das horas (1917), Carnaval (1919) e Libertinagem (1930).

Segunda fase modernista no Brasil (1930-1945)


A segunda fase do modernismo, chamada de fase de consolidação ou geração de 30, começou em 1930 e durou até 1945, quando
terminou a Segunda Guerra Mundial.

Diferente da primeira fase, que apresentava um caráter mais destrutivo e radical, na segunda geração, os artistas demonstram
maior equilíbrio e racionalidade em seus escritos.

Esse momento de amadurecimento da literatura brasileira é caracterizado por temáticas nacionalistas, regionalistas e de caráter
social, com predomínio de uma literatura mais crítica e revolucionária.

Além da prosa de ficção, a poesia brasileira se consolida, o que significa o maior êxito para os modernistas.

Esse é um momento muito fértil da literatura brasileira onde encontramos uma vasta produção de textos poéticos em verso e
prosa.

Características da segunda fase modernista

 fase de consolidação do modernismo no Brasil;


 vasta produção literária em poesia e prosa (poesia de 30 e romance de 30);
 valorização do regionalismo e da linguagem popular;
 utilização de versos livres, sem métrica, e brancos, sem rimas;
 crítica à realidade social brasileira;
 valorização da diversidade cultural do país;
 temática cotidiana, social, histórica e religiosa.

Autores e obras da segunda fase modernista


Os poetas e as obras que se destacaram na chamada “poesia de 30” foram:

 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) - Obras: Alguma poesia (1930), A Rosa do povo (1945) e Claro


Enigma (1951).
 Murilo Mendes (1901-1975) - Obras: Poemas (1930), A poesia em pânico (1937) e As metamorfoses (1944).
 Jorge de Lima (1893-1953) - Obras: Novos poemas (1929), O acendedor de lampiões (1932) e O anjo (1934).
 Cecília Meireles (1901-1964) - Obras: Espectros (1919), Romanceiro da Inconfidência (1953) e Batuque, Samba e
Macumba (1935).
 Vinicius de Moraes (1913-1980) - Obras: Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Antologia Poética (1954), Orfeu da
Conceição (1954).

Terceira fase modernista no Brasil (1945-1960)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o processo de redemocratização do país, em 1945, a arte brasileira produzida na terceira
fase do modernismo ganha novos contornos e linguagens.

Muitos críticos literários defendem que essa fase terminou em 1960, enquanto outros acreditam que ela perdura até o presente.

Esse momento, que ficou conhecido como “Geração de 45”, reuniu um grupo de escritores, muitas vezes chamados
de neoparnasianos, que buscavam uma poesia mais equilibrada e objetiva.

Assim, a liberdade formal, característica das fases anteriores, é deixada de lado para dar lugar à métrica e ao culto à forma, com
produções inspiradas no Parnasianismo e Simbolismo.

Além da poesia, há uma diversidade grande na prosa com a prosa urbana, intimista e regionalista.

Características da terceira fase modernista

 linguagem mais objetiva e equilibrada;


 influência do Parnasianismo e Simbolismo;
 oposição à liberdade formal;
 forte preocupação com a estética e a perfeição;
 valorização da métrica e da rima;
 temática social e humana.

Autores e obras da terceira fase modernista


Os escritores que se destacaram nessa fase, na poesia e na prosa, foram:

 Mario Quintana (1906-1994) - Obras: Rua dos cataventos (1940), Canções (1946) e Baú de espantos (1986).


 João Cabral de Melo Neto (1920-1999) - Obras: Pedra do sono (1942), O cão sem plumas (1950) e Morte e vida
severina (1957).
 Guimarães Rosa (1908-1967) - Obras: Sagarana (1946), Primeiras Estórias (1962) e Grande Sertão: Veredas (1956).
 Clarice Lispector (1920-1977) - Obras: Perto do coração selvagem (1942), A paixão segundo G. H (1964) e A hora da
estrela (1977).

A arte modernista no Brasil

Além da literatura, o movimento modernista teve grande influência na pintura. Temas relacionados com a cultura brasileira e as
críticas sociais são alguns dos mais explorados por esses artistas.

Os pintores modernistas que mais se destacaram foram:

 Tarsila do Amaral (1886-1973)


 Anita Malfatti (1889-1964)
 Di Cavalanti (1897-1976)
 Cândido Portinari (1903-1962)

Tarsila do Amaral foi uma das mais importantes pintoras do movimento modernista. Ao lado de seu marido, Oswald de Andrade,
inaugurou o movimento Antropofágico na primeira fase. Abaporu é, sem dúvida, sua obra mais emblemática.

Manifestos

A primeira fase modernista também é marcada pelos manifestos nacionalistas: do Pau-Brasil, da Antropofagia, do Verde-
Amarelismo e o da Escola da Anta. Podemos destacá-los da seguinte forma:

• Manifesto Pau-Brasil: escrito por Oswald de Andrade, publicado no jornal “Correio da Manhã”, em 18 de março de 1924,
apresentou uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira e às características culturais do povo brasileiro, com a
intenção de causar um sentimento nacionalista, uma retomada de consciência nacional.

• Antropofagia: publicado entre os meses de maio de 1928 e fevereiro de 1929, sob direção de Antônio de Alcântara Machado,
surgiu como nova etapa do nacionalismo “Pau-Brasil” e resposta ao “Verde-Amarelismo”. Sua origem se dá a partir de uma tela
feita por Tarsila do Amaral, em janeiro de 1928, batizada de Abaporu ( aba= homem e poru = que come). Assinado por Oswald de
Andrade, tinha, como diz Antônio Cândido, “uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a
civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos, no plano psicológico”

• Verde-Amarelismo: este movimento surgiu como resposta ao “nacionalismo afrancesado” do Pau-Brasil, em 1926, apresentado,
principalmente, por Oswald de Andrade, liderado por Plínio Salgado. O principal objetivo era o de propor um nacionalismo puro,
primitivo, sem qualquer tipo de influência.

• Anta: parte do movimento Verde-Amarelismo, representa a proposta do nacionalismo primitivo elegendo como símbolo
nacional a “anta”, além de vangloriar a língua indígena “tupi”.

Através das características desses manifestos, temos por análise a identificação de duas posturas nacionalistas distintas: de um
lado o nacionalismo consciente, crítico da realidade brasileira, e de outro um nacionalismo ufanista, utópico, exacerbado.

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