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A Música de Protesto:

Uma análise da arte como forma de revolta na década de 60

(2022)

Miguel Singer
Resumo:

Esse ensaio visa trazer uma análise detalhada, por meio de músicas e do
contexto em que essas estão inseridas, do papel da música de protesto na década de
60, nos Estados Unidos. Primeiro o contexto temporal da época será situado e
explicado, de tal forma que o leitor consiga compreender a situação sociopolítica dos
EUA. Após a contextualização temporal, será mostrado o contexto cultural em que o
artista que será analisado, Bob Dylan, viveu, e a cena cultural geral da contracultura
contemporânea ao cantor, com ênfase na literatura e música. Por fim, três músicas do
cantor serão analisadas, essas sendo: The Times They Are A-Changin', The Lonesome
Death Of Hattie Carroll e Masters Of War.

Palavras-chave: música de protesto, Bob Dylan, década de 60, direitos civís, ativismo social,
Masters Of War, The Times They Are A-Changin', The Lonesome Death Of Hattie Carroll,
Estados Unidos,
SUMÁRIO
1.0 Introdução..........................................................................................................................

2.0 Desenvolvimento................................................................................................................

Bob Dylan.................................................................................................................................

2.1 Contexto Temporal..................................................................................................

2.2 Contexto Cultural....................................................................................................

2.3 Análise: Música 1............................................................….........…........…...........

2.4 Análise: Música 2............................................................….........…........…...........

2.5 Análise: Música 3............................................................….........…........…...........

3.0 Conclusão.........................................................................................................................

4.0 Bibliografia......................................................................................................................
1.0 INTRODUÇÃO:

O ativismo social é intimamente relacionado a arte, e, mais especificamente, à música.


Em uma entrevista para a American Magazine, o compositor Irving Berlin disse a seguinte
frase:
Tradução livre: “Música é tão importante. Muda pensamento, influencia a todos, saibam eles
ou não”.
“Music is so important. It changes thinking, it influences everybody, whether they know it or
not”.
Após a revolução cultural a música adquiriu um apelo mais comercial, ao contrário
das artes plásticas, consegue atingir audiências maiores, e como Berlin disse, influenciando a
maneira que essas pessoas pensam. É esse alcance e força que a música tem, que
proporcionou a existência de um gênero dedicado ao ativismo político: A música de protesto.
O propósito desse ensaio é traçar uma análise de como se acontece essa junção de
política e música, mais especificamente na década de 60. Será utilizado como exemplo da
música de protesto estadunidense na década de 60, Bob Dylan (nome de nascença Robert
Zimmermann), nascido em Minnesota, em 1941. A escolha desse artista para o ensaio foi
pelo fato dele ser provavelmente a mais influente voz na música de protesto na década de 60,
nos EUA.
Bob Dylan, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, é um influente músico de folk,
rock e country, que, além de ter revolucionado a indústria musical, e ter escrito algumas das
canções mais aclamadas criticamente e bem-sucedidas do século XX, foi extremamente
influente politicamente. Várias de suas músicas se tornaram hinos de movimentos de
protestos nas décadas de 60 e 70.
2.0 DESENVOLVIMENTO
2.1 Contexto Temporal

Com as implicações da guerra fria, período de tensão entre Estados Unidos e União
Soviética, o militarismo e a opressão do pensamento de esquerda se tornaram características
ainda mais fortes na sociedade americana.
A guerra do Vietnã (1959-1975), levou aos Estados Unidos enviarem mais de 500 mil jovens
para a guerra. As razões dadas pelo governo americano para a entrada na guerra não
ressoavam com os jovens, a “ameaça comunista” e o dever de disseminar a democracia pelos
continentes que os EUA diziam ter, pareciam, para muitos, desculpas sem sentido. Assim a
juventude americana começou a se organizar em movimentos de protesto, se opondo ao envio
de jovens para guerra e as crueldades e carnificinas (massacre de Mỹ Lai), relatadas por
soldados, no Vietnã.
A contracultura florescia. um idealismo político e social se disseminava pelos jovens, a luta
era pela paz, pelo amor e pela igualdade. Por mais que os objetivos dos movimentos de
ativismo políticos fosse o fim da guerra e a luta pelos direitos civis, se consolidava como
inimigo dessa juventude o corporativismo e a politicagem. Existia uma vontade por uma
revolução que fosse mais do que cultural, a meta real era acabar com uma sociedade
americana capitalista, desigual, militar e conservadora.
A luta pelos direitos civis foi outra parte essencial do ativismo político americano nessa
época. A sociedade americana era, ainda mais do que a atual, repleta de estruturas que
perpetuam o racismo. As leis Jim Crow, implementadas nos estados do sul até 1965,
imponham uma série de divisões raciais em locais públicos, como em transporte, hotéis e
restaurantes.

2.2 Contexto Cultural

As influências musicais de Dylan eram variadas, do folk ao blues. O primeiro sendo


um estilo musical com suas raízes na Inglaterra do século XVI, mas que, a partir da década de
20 se tornou uma música de protesto e resistência. Já o blues é uma música de origem negra,
que foi, em essência, uma forma de manifestação da população negra americana durante o
final da escravidão e os anos, de opressão, que a sucederam
Woody Guthrie foi provavelmente a maior de suas influências sendo ele um dos
principais músicos folks do começo do século XX. Carregava com sigo ideais socialistas e
progressistas, era um porta-voz da causa sindicalista americana. Famosamente, em sua
guitarra estava escrito, em tinta vermelha, a seguinte frase: “essa máquina mata fascistas”.
Na década de 50 também se inicia um movimento literário, de contracultura,
conhecido como Movimento Beat. Alguns dos principais escritores desse movimento foram
Jack Kerouac (On the Road), e Allan Ginsberg (The Howl). A indústria cultural americana e
o próprio governo propagavam uma ideia de uma sociedade americana idealizada, o
American Way of Life, esses poetas e romancistas eram extremamente combativos desta ideia,
defendendo que a sociedade do American Way of Life não condizia com a realidade. Estes
promoviam um país com mais liberdades a todos, não apenas para a burguesia branca, e mais
justo. A poesia Beat tinha como objetivo final a criação de um público crítico e consciente da
realidade social que os cercavam.
O movimento Beat também tinha uma tendência em associar poesia, música e crítica
social. Allen Ginsberg afirmava que seus poemas devem ser lidos em voz alta, pois, as
poesias que ele escrevia eram feitas de forma a abraçar a ritmicidade e a musicalidade. Bob
Dylan foi um grande admirador de Ginsberg, e logo, se tornou, de certa forma, seu discípulo.
De acordo com o crítico Robert Shelton, “Dylan é o produto da geração Beat”.
É no mundo da música de protesto folk que Bob Dylan emerge na década de 60, com
seu álbum autointitulado (Bob Dylan). Mas é apenas em 1963 com Blowing In The Wind, um
álbum composto apenas de composições originais, que Dylan adere ao mundo da música de
protesto. Em referência a seu segundo álbum Dylan declarou: " minhas músicas protestam
contra a guerra, as bombas, os preconceitos raciais e contra o conformismo". As músicas A
Hard Rain a Gonna Fall e Blowin' in the Wind, presentes neste disco, se tornaram hinos do
movimento dos direitos civis e antiguerra.
Os próximos dois álbuns de Dylan, The Times they are a Changing e Another Side of
Bob Dylan, ambos lançados em 1964, mantiveram a temática social e combativa. Após esse
período, o compositor-cantor começa a diversificar os temas de suas canções, e se afasta da
música de protesto.

2.3 Análise: The Times They Are A-Changing

Gravada em outubro de 1963, dois meses depois da Marcha em Washington para


Trabalhos e Liberdade, aquela em que Dr Martin Luther King Jr fez seu famoso discurso, em
prol dos direitos do cidadão negro norte-americano, em que proclamou as seguintes palavras,
essas eternizadas: “Eu Tenho Um Sonho”. Lançada no álbum que detém o mesmo nome, ela
marcou uma geração de ativistas, se tornando um hino de diversos movimentos.

O primeiro aspecto que é evidenciado da música é seu refrão e título, “The Times
They Are A-Changin'”, essa frase é em si uma profecia, mas uma um tanto paradoxal, é dito
de uma mudança nos tempos, mas simultaneamente, pouco se prega, o anúncio não é de
melhora ou de piora, mas sim, apenas, de mudança.

Caso se retire o contexto em que a música foi escrita, ela se torna mais ampla, e se
percebe uma certa falta de moralidade como base do trabalho. Então, ao olhar de forma literal
para a letra, retirando-lhe o contexto, ela se aproxima da filosofia política de Niccolo
Machiavelli (1469-1527), em que é mais importante a verdade objetiva, do que o moralismo
do autor. Assim essa música desenvolvi adaptabilidade para se tornar hino de diferentes
causas, se determinado movimento prega a chegada de algo novo, e a saída de uma antiga
classe/geração então a música se enquadra nesse movimento. Nessa forma de se analisar, se
percebe que ela apenas diz que existe um confronto entre um mundo antigo, aquele das mães
e dos pais, e um mundo que está a se formar, aquele que, por mais que não dito, se percebe
como o dos filhos e filhas, que irá ganhar esse embate, e se consolidar como a nova era.

Ao se analisar a música levando em consideração o contexto, esse que é dos anos 60


norte-americano, uma época de luta, mudança e revolta. Como dito anteriormente a música
foi escrita logo depois do famoso discurso de Marthin Luther King Jr, e se sabe que Dylan era
um grande apoiador do movimento pelos direitos civis. Assim a mudança que se diz que irá
acontecer pode muito bem ser a de igualdade racial nos Estados Unidos. Muitos outros
movimentos políticos da década foram apoiados por Dylan, como por exemplo o pacifista.
Então existe a possibilidade dele estar se referindo a que essa juventude, de forma mais geral,
irá conseguir as mudanças que desejavam, isso se torna ainda mais claro quando se percebe
que a luta pelos direitos civis, pelo fim da Guerra do Vietnã, pela destruição das bombas
atômicas e muitos outros, eram interligados e aqueles que advogavam por esses movimentos,
muitas vezes, integravam a mesma bolha de uma juventude esquerdista estadunidense.

Versículo 1:

Come gather 'round people


Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone
If your time to you is worth savin'
And you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'

Quando Dylan diz: “E admitam que as águas ao redor de você subiram” (tradução
Caetano W. Galindo) ele está claramente se referindo a um imaginário, um tanto quanto
apocalíptico, de uma enchente. Se sabe afinidade que Dylan tinha pelo texto bíblico, não em
um sentido religioso, mas sim no sentido filosófico, e as menções a Bíblia, e a fé judaico-
cristã, nas músicas de Dylan são recorrentes durante toda sua carreira. Na Bíblia, em Genesis
6, Deus causa um diluvio, como forma de punir o ser humano pela maldade que se instaurou
entre eles, o dilúvio assim não tem apenas um aspecto destrutivo, mas também um de limpeza
dos pecados. A enchente que Dylan se refere, pode não ser apenas uma de apocalipse, mas
sim ter o mesmo sentido que o diluvio da história da Arca de Noé.

Outras características de enchentes é o quão rápido elas acontecem, e a força que elas
têm, deixando pouco tempo para as pessoas escaparem. O autor não pede para as pessoas
fugirem, mas sim, para elas aceitarem o que está acontecendo, admitir que a mudança está
chegando, será destrutiva e irá acabar com o que antes existia. A música também aconselha
às pessoas nadarem, porque senão elas irão afundar como uma pedra, ou seja, é necessário se
adaptar à mudança, caso contrário, você morrera ou será esquecido.

Versículo 2:

Come writers and critics


Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'

O segundo verso da música se dirige aos intelectuais, críticos e à mídia. Existe uma
ironia quando o autor diz: “que profetizam com a caneta” (tradução Caetano W. Galindo), ele
está exatamente dizendo que esses não são profetas, e que devem se manter atentos, pois
talvez percam a chance de falar sobre a, constantemente dita, mudança que está por vir.

O eu-lírico alerta os críticos e escritores que a mudança é certa, mas quem irá acabar
no poder ainda é incerto. “O perdedor agora, será logo o ganhador” (tradução Caetano W.
Galindo), nessa frase aquele que está perdendo pode se referir tanto a juventude que na
década de 60’, parecia constantemente lutar, mas atingir pouco progresso, quanto ser algo
mais amplo, no sentido de dizer que a mudança é continua, e posições de poder se alteram,
assim o sentido da música pode se tornar exatamente o não estaticidade da história.

Versículo 3:

Come senators, congressmen


Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
The battle outside ragin'
Will soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'

Esse versículo está destinado a classe política, o segundo verso, deste versículo, é um
pedido para os senadores e congressistas (verso 1) ouvirem o chamado da mudança, já os
próximos dois versos, é uma metáfora que simboliza como muitos dos políticos interditam o
progresso social, é possível traçar um paralelo até mesmo com o processo político atual
brasileiro, em que, o chamado, centrão, muitas vezes, funciona exatamente como uma
barreira para a mudança social.

Os últimos versos do versículo são profecias, a classe política que tanto se protege,
não irá conseguir se proteger do tsunami de mudança que está por vir. Nas entrelinhas, se
percebe certa ameaça: mesmo se oporem-se ao processo que a música diz estar ocorrendo, ele
chegará até os políticos. Assim se define uma oposição da classe burocrata com as dos
ativistas.

Se traça, novamente, um paralelo com a Marcha em Washington, em que o propósito


foi o de trazer o movimento até as portas do centro político estadunidense, esse que é
Washington, onde a Casa Branca, Congresso e Capitólio estão.

Versículo 4:

Come mothers and fathers


Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin'
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'

Novamente se define outra oposição de classe, mais especificamente de gerações, de


um lado pais e mães (verso 1) e do outro os filhos e filhas (verso 5). A juventude da década
de 60’ que o autor se refere, é a chamada Baby Boom, mais especificamente, levando em
consideração o contexto cultural de Dylan, os jovens que participavam da contracultura e do
ativismo social. Essa oposição retratada, é uma referência a própria polarização existente na
época, entre o conservadorismo da classe média branca, e o progressismo florescente dos
movimentos estudantis.

É nesse versículo que se define quem são aqueles que buscam a mudança, no caso a
juventude, simbolizada pelos filhos e filhas. E junto aos congressistas e políticos, os pais e
mães devem aceitar a mudança, pois o tempo deles já passou (verso 7), e o lugar que estes
estão ocupando agora deve também pertencer aos jovens (verso 8). Se percebe também uma
vontade de quebra do controle parental, de libertação da juventude, porém a vontade do eu-
lírico não é a de oposição das gerações mais sim de união, ainda sim pondo em prioridade as
vontades da nova geração (verso 8 e 9).

Versículo 5:

The line it is drawn


The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fadin'
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin'

O versículo final é um e resumo da mensagem da música. Os primeiros dois versos,


dizem que a mudança é inevitável, mesmo sem a união entre pais e mães; filhos e filhas;
congressistas e senadores o resultado será o mesmo. Novamente a ideia de que as posições de
poder e classes nunca se mantém as mesmas se repete (verso 3 a 8), esses versos também
trazem a noção do fim de certas ordens existentes na época, política, racial e geracional.

2.4 Análise: The Lonesome Death of Hattie Carroll

Lançada no álbum The Times They Are A- Changin', e gravada também logo após da
Marcha em Washington para trabalho e Liberdade, essa é uma das críticas mais claras da
carreira de Dylan. A música conta a história real do assassinato de Hattie Carroll, na
madrugada do dia 9 de fevereiro de 1963, por William Devereux "Billy" Zantzinger, um
homem branco e rico dono de uma fazenda de tabaco.

Diferente da música analisada anteriormente essa é mais simples, e apresenta uma


narrativa consolidada e menos digressões, pensamentos filosóficos e ambiguidades, ainda sim
é uma obra importante de denúncia. Já que a música é mais direta, foi escolhido uma
abordagem, para a análise, de retratar a história do assassinato de Carroll e julgamento
Zantzinger.

Hattie Carroll era uma garçonete de um restaurante, em um hotel importante, na


cidade de Baltimore. Zantzinger chegou bêbado ao restaurante, e após reclamar que sua
bebida estava demorando, diferiu a Carroll insultos raciais, e depois bateu nela com uma
bengala, a acertando no ombro e na cabeça. Ele foi preso por agressão naquela manhã, e
liberado após pagar uma fiança de três mil e seiscentos dólares.

No próximo dia Carroll morreu por hemorragia cerebral. No dia 19 de março decorreu
seu julgamento, ele enfrentava acusações de assassinato. O júri acusou Zatzinger de
“criminosamente, intencionalmente e de forma maliciosa” assassinar Carroll. Durante o
julgamento um especialista médico definiu que “houve uma relação definitiva entre a
agressão e a morte de Hattie Carroll”. O acusado afirmou estar bêbado demais para lembrar
dos fatos ocorridos. O juiz absolveu Zatzinger de metade de suas acusações e ele foi
sentenciado a seis meses de prisão. A sentença tinha motivos raciais por trás evidentes, e
muitos líderes dos movimentos negros se pronunciaram.

A música faz questão de evidenciar a oposição de classes e raça entre Zanzinger e


Carroll (versículo 3 e 5), sendo ele branco, rico e protegido por uma família influente na
política local, e ela negra, pobre, mãe de dez filhos e oprimida. A oposição trabalhada por
Dylan reflete a oposição da própria sociedade americana, em que muitos eram Zanzingers e
muitas eram Carrolls.

William Zanzinger killed poor Hattie Carroll,


With a cane that he twirled around his diamond ring finger
At a Baltimore hotel society gath'rin',
And the cops were called in and his weapon took from him
As they rode him in custody down to the station,
And booked William Zanzinger for first-degree murder.
But you who philosophize, disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face, now ain't the time for
Your tears.

William Zanzinger, who at twenty-four years,


Owns a tobacco farm of six hundred acres
With rich wealthy parents who provide and protect him,
And high office relations in the politics of Maryland,
Reacted to his deed with a shrug of his shoulders,
And swear words and sneering, and his tongue it was
Snarling,
In a matter of minutes on bail was out walking.

But you who philosophize, disgrace and criticize all fears,


Take the rag away from your face, now ain't the time for
Your tears.

Hattie Carroll was a maid of the kitchen.


She was fifty-one years old and gave birth to ten children
Who carried the dishes and took out the garbage,
And never sat once at the head of the table
And didn't even talk to the people at the table,
Who just cleaned up all the food from the table,
And emptied the ashtrays on a whole other level,
Got killed by a blow, lay slain by a cane
That sailed through the air and came down through the room,
Doomed and determined to destroy all the gentle.
And she never done nothing to William Zanzinger.

But you who philosophize, disgrace and criticize all fears,


Take the rag away from your face, now ain't the time for
Your tears.

In the courtroom of honor, the judge pounded his gavel,


To show that all's equal and that the courts are on the
Level
And that the strings in the books ain't pulled and
Persuaded,
And that even the nobles get properly handled
Once that the cops have chased after and caught 'em,
And that the ladder of law has no top and no bottom,
Stared at the person who killed for no reason,
Who just happened to be feelin' that way without warnin'.
And he spoke through his cloak, most deep and distinguished,

And handed out strongly, for penalty and repentance,


William Zanzinger with a six-month sentence.

Oh, but you who philosophize, disgrace and criticize all


Fears,
Bury the rag deep in your face, for now's the time for your
Tears.

2.5 Análise: Masters Of War

Lançada no álbum The Freewheelin' Bob Dylan, e gravada no inverno de 1962. A


música é uma crítica forte e dramática da indústria armamentista e da capitalização da guerra.
Essa música, junto a uma considerável parte do catálogo de Dylan, escapa da definição de
Theodor Adorno de música popular:

1) De um ponto de vista musical Adorno define que toda música popular tem seus pontos de
atenção no refrão, e seus detalhes são esquecidos, no caso de Masters War alguns dos pontos
de maior climax e complexidade musical estão nos detalhes.

2) Adorno era oposto as composições da famosa Tin Pan Alley, em que as músicas eram
fabricadas de forma a roubá-las de individualidade. Bob Dylan, com o The Freewheelin’
quebrou a máquina da Tin Pan Alley, e começou a trazer músicas, que eram escritas e
apresentadas por ele, que refletiam lutas, críticas e pensamentos filosóficos, para o âmbito
popular. Adorno definiu a música popular como padronizada exatamente pelo fato que elas
eram despidas de pensamento individual, e assim eram antagônicas ao ideal de
individualidade em uma sociedade livre e liberal. Masters Of War é uma composição
revestida por substância e critica, mesmo muitas delas não sendo favoráveis ao pensamento
popular, como ser abertamente contra uma secção do capitalismo que gera dinheiro para a
sociedade estadunidense. O fato dela corresponder a ideias internos do compositor e não ser
uma resposta a uma pressão externa de escrever o que gerará renda imediata é um exemplo de
como Masters Of War foge da definição de Theodor Adorno.

Versículo: 1

Come you masters of war


You that build the big guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks

O versículo 1 traz a caracterização mestres da guerra, e a sua identidade. Do verso 2


ao 4 se define o que eles fizeram, as bombas, os aviões de guerra e as armas, ou seja, elas são
a indústria armamentista. O verso 5 e 6 simbolizam a proteção que essa elite detém, os muros
(verso 5) podem simbolizar exatamente como o complexo militar estadunidense, assim posto
por Dwight Eisenhower logo após sair da presidência, é protegido e financiado pela máquina
estatal. Já as mesas (verso 6) simbolizam o corporativismo, o poder do capital. A indústria
militar gera dinheiro e beneficia o Estado e em troca são protegidos.

O verso 7 e 8 é o narrador dizendo que ele não se ilude pela propaganda do Estado ou
do mundo corporativista, que ele consegue ver por trás das máscaras e enxergar a verdade,
que no resto da música será explicada.

Versículo: 2

You that never done nothin'


But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly

O versículo dois faz referência do poder que essa indústria tem e alguns dos impactos
que ela causa. Os dois primeiros versos estão dizendo que a única coisa que eles construíram,
os mestres da guerra, foram armas e bombas que foram usadas para destruir. Os versos 5 a 8
representam como aqueles envolvidos na produção das armas pouco se responsabilizam e dão
atenção para a situação nas guerras.

Versículo: 3

Like Judas of old


You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain

O versículo 3 começa com uma referência bíblica de traição e calunia, usando a figura
de Judas, traidor de Jesus, assim adicionando essas características para o perfil traçado na
música dos mestres da guerra. No verso 3 se mostra uma crítica as guerras mundiais, em que
a propaganda foi utilizada para incentivar o alistamento e apoio popular. É possível perceber
que o narrador acredita que em uma guerra não a perdedores ou vencedores, pois no final o
que sobrara será destruição, o verso 3 e as menções anteriores sobre o papel das armas e
bombas colaboram para essa definição do narrador.

Versículo: 4

You fasten all the triggers


For the others to fire
Then you sit back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
While the young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud

O versículo 4 mostra mais impactos dos mestres da guerra. O verso 1 a 4 mostram


como eles isentam de culpa pelas atrocidades que os produtos que eles fazem causam. Entre
os versos 6 e 8 a uma descrição impactante da morte de jovens em situação de guerra.

Versículo: 5
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins

No versículo 5 o autor utiliza o medo de ter filhos, essa pode ser uma alusão a guerra
fria, e como a música foi escrita logo depois da crise de misseis de Cuba, a ameaça de um
apocalipse nuclear não era um imaginário distante, essa é uma razão plausível para alguém
não ter um filho. A outra possibilidade é dele estar sendo mais amplo e se referindo a
situações de guerra em que muitos não desejam ter filhos, para esses não terem que viver o
horror de uma guerra, que muitas vezes, como é o caso do Iraque e Afeganistão, parece ser
interminável.

Versículo: 6

How much do I know


To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
That even Jesus would never
Forgive what you do

No versículo 6 o narrador é caracterizado como parte da juventude, o narrador pode


ser interpretado tanto quanto o próprio Dylan quanto como uma personificação dos
movimentos estudantis da década de 60’ antiguerra.

Versículo: 7

Let me ask you one question


Is your money that good?
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could?
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul

Nesse versículo se mostra novamente o poder financeiro dos mestres da guerra, e


como nem mesmo todo o dinheiro que eles têm podem compensar a imoralidade deles.
Seguindo os demais versículos, os últimos dois versos deste, demonstram uma raiva imensa
do narrador. Tal raiva exacerbada é raramente vista em músicas de Dylan, ao comparar
Masters Of War com Times They Are A-Changin', se percebe que a segunda tem uma
mensagem de desejo de união, já a primeira retira qualquer possibilidade do perdão da classe
sendo criticada.

Versículo: 8

And I hope that you die


And your death will come soon
I'll follow your casket
By the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand over your grave
'Til I'm sure that you're dead

O último versículo conclui o ódio do narrador, que pode ser um reflexo do


pensamento do próprio Dylan. Assim a conclusão chegada pelo narrador é que os mestres de
guerra não apenas não merecem o perdão, mas deveriam morrer (verso 1).

3.0 Conclusão

A década de 60’ foi uma de transtorno, protesto e contracultura forte e ativa no


ativismo político. Os Estados Unidos enfrentavam muitas críticas, e além dos inúmeros
movimentos organizados de movimento estudantil e pelos direitos civis, a arte e
principalmente a música se tornou um ator ativo na luta social.

A obra de Bob Dylan em muitos casos ainda representa lutas importantes que não
foram ainda vencidas. A crítica a guerra, injustiça racial e desigualdade se mostram vitais na
atualidade, e a arte deve seguir a tendencia dos movimentos sociais.
A música popular atual muitas vezes se voltou ao antigo modo da Tin Pan Alley, o
século 21 também se mostrou coberto de atrocidades, injustiças e motivos para se lutar. O
papel crítico da arte popular em muitos casos desapareceu, e uma indústria de produção
descaracterizada de individualidade e de papel social voltou. A uma necessidade de se olhar
para o passado da história da música de protesto para se entender como se pode adaptar esse
gênero para os dias de hoje.

4.0 Bibliografia

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