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conflitos e mudanças
dessa época, clique nos
3ª FASE: FASE PÓS-MODERNISTA OU GERAÇÃO DE 45
(1945 — 1960/80)

A terceira geração modernista nasce no contexto pós 2ª


Guerra Mundial e, no Brasil, depois da ditadura Vargas. Os novos
tempos são de Guerra Fria e governo JK. Nesse cenário, vão
surgir escritores que exploram a forma literária, tanto em prosa
quanto em poesia, sob novos parâmetros, além de aprofundarem
os conteúdos de conteúdo inovadores. Também chamada
de Geração de 45, existem algumas controvérsias acerca do final
deste período; embora seja apontado o ano de 1960, alguns
críticos acreditam que se estendeu até à década de 80.

Há, em meio à crítica literária, quem considere que,


nessa geração, não mais se trata de Modernismo, denominando
seus autores, por vezes, de pós-modernistas, já que ela se
opunha aos parâmetros estéticos da fase inicial, como a
liberdade formal e a sátira, entre outras. Vê-se, de fato, nessa
fase, um apuro e rigor formal menos afeito ao padrão estético
instaurado pelos escritores de 22.
O ano de 1945, que assinala o início da terceira fase do Modernismo, é dos mais marcantes
da história da humanidade. Nessa data, com as explosões atômicas nas cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasáki, terminava a Segunda Guerra Mundial e começava um período de
reestruturação geográfica, política e econômica que dividiu o mundo em blocos capitalistas, sob a
liderança dos Estados Unidos, e comunistas, guiados pela ex-União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS). Essa divisão, da qual o muro de Berlim foi o maior símbolo, conduziu os rumos das
políticas e economias mundiais até o final dos anos de 1980. O medo de novos ataques nucleares
alimentou a chamada "guerra fria", que opôs países capitalistas e comunistas ao longo das décadas
seguintes.
No Brasil, 1945 é o ano da queda de Getúlio Vargas - que voltaria ao poder, pelo voto popular,
em 1950, onde permaneceu até suicidar-se, em 1954. No plano literário, 1945 é o ano da morte de
Mário de Andrade (1893-1945), principal figura do Modernismo, e da publicação de O Engenheiro, livro
de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) que apresenta características inovadoras do fazer poético.
Cabral fez parte da chamada "geração de 45", grupo de poetas que propôs, entre outros princípios, a
retomada do rigor formal. É também a data do I Congresso Brasileiro de Escritores, que ocorre em São
Paulo e atesta a maturidade do sistema literário brasileiro. Surgem novas revistas literárias em todo o
país, dentre as quais se destacam a paulista Clima, para a qual escrevem os críticos Antonio Candido
e Décio de Almeida Prado, a cearense Clã, a carioca Orfeu, a curitibana Joaquim, a mineira Edifício.
Nas revistas e jornais, a crônica vive fase brilhante. Rubem Braga (1913-1990) e novos escritores
mineiros, como Paulo Mendes Campos (1922-1991) e Fernando Sabino (1923-2004) renovam o
gênero, exercitado pelos grandes prosadores e poetas do período.
O país vivia uma época de democratização política e de desenvolvimento econômico, que
se tornou intenso durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), cuja propaganda oficial
prometia um avanço histórico de "cinquenta anos em cinco". Os Planos de Metas de Juscelino
para a modernização do país resultaram em impressionante crescimento industrial, que aumentou
os empregos e a renda dos brasileiros. O desenvolvimento, as grandes realizações, como a
construção de Brasília, e a estabilidade política contribuíram para criar a atmosfera de otimismo
dos chamados "anos dourados".
A indústria editorial foi bastante beneficiada pelo desenvolvimentismo de JK. Uma série
de medidas, entre elas a isenção de impostos sobre o livro e a criação de subsídios para a
indústria de papel nacional, levou a um expressivo crescimento do setor editorial, que em 1962
chegou a produzir 66 milhões de livros. Os principais editores do período,
José Olympio (1902-1990) e José de Barros Martins, continuaram a editar autores nacionais,
alguns dos quais, como Jorge Amado, tiveram obras vendidas em larga escala.
Nas cidades, que cresciam em ritmo acelerado, os telefones se tornavam mais comuns e
os televisores começavam a se fazer presentes. Os automóveis, símbolos do governo JK,
tomavam as ruas e competiam com os ônibus. Os produtos norte-americanos, importados ou
produzidos pelas multinacionais que chegavam ao país, modificavam o cotidiano: Coca-Cola,
eletrodomésticos e chicletes passaram a fazer parte da vida das pessoas, assim como o rockn?
roll e outros elementos culturais que caracterizavam o "american way of life", cada vez mais
admirado pelos brasileiros.
Para muitos setores da sociedade, essa "invasão americana" não era nada positiva, e as
críticas ao modelo econômico de Juscelino, que procurara atrair capitais estrangeiros, foram se
intensificando. Em 1960 Jânio Quadros foi eleito presidente da República, o primeiro a tomar
posse em Brasília, recém-inaugurada. Mas seu governo durou menos de sete meses: em agosto
de 1961 ele pediu a renúncia, lançando o país em uma grave crise política, que terminaria por
levar ao golpe militar de 1964. Durante esses primeiros anos da década de 1960, a insatisfação
popular com o modelo econômico aumentou, e intensificaram-se os movimentos reinvidicatórios.
As Ligas Camponesas, no Nordeste, as organizações operárias e sindicais, no Sudeste, e até
mesmo alas da Igreja Católica se mobilizaram por mudanças sociais.
Os estudantes, principalmente os universitários, se tornaram cada vez mais participantes
do jogo político. O ensino superior crescera, com a criação das Universidades Federais, e nas
faculdades o ambiente era de questionamento do regime e da ideologia dirigente, de criação de
novos projetos econômicos e políticos, de crença num ideal revolucionário que transformasse a
realidade nacional. Essa efervescência intelectual e contestadora, aliada à enorme valorização da
cultura brasileira, resultou, no campo artístico, na criação do Teatro de Arena e do Centro Popular
de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes - UNE, entre outros movimentos.
O CPC da UNE organizou e publicou, em 1962, a antologia Violão de Rua, que traz
novas propostas poéticas e encerra, para a historiografia literária, a terceira fase do Modernismo.
Mas apenas para a historiografia, já que poetas da Geração de 45 continuaram produzindo,
assim como os concretistas, ambos os grupos convivendo com os novos autores que surgem nos
anos de 1960. Para a crítica Luciana Stegagno Picchio, apesar das diferentes correntes literárias
a que se filiavam seus integrantes, "a nova geração saída da guerra sente o compromisso para
com a sociedade e a sua atitude é mais crítica do que inventiva. O intelectual abre-se para a
interdisciplinaridade enquanto conjuga em si, como amiúde ocorre, o poeta e o crítico literário, o
ficcionista e o sociólogo; vira-se para o diálogo e o exige. E não só isso; recupera do passado
remoto e recente ou ainda seleciona da contemporaneidade aquilo que lhe é realmente
contemporâneo. (...) Da justaposição de experiências literárias distintas e contraditórias, emerge
o significado que tem, para as novas gerações, o termo "moderno", ou melhor, "contemporâneo".
Que não está nos conteúdos, mas no modo pelos quais esses conteúdos se enfrentam. Nesse
plano, não há mais fratura ideológica entre o poeta concretista que trabalha, aparentemente por
puro hedonismo, o seu material linguístico, o artista pós informal, o poeta folk, o cineasta
psicólogo de indivíduos e da sociedade, o crítico estruturalista e o escritor comprometido. Porque
todos exercem uma atividade crítica, de denúncia, desmistificatória, sobre o material que
examinam: seja essa palavra dado histórico, fato social, acontecimento político".
Os autores que integraram a Geração de 45 são também
conhecidos como neomodernistas, e apresentam como traço
comum a busca de um maior rigor na elaboração poética.
Devido a essa preocupação, foram chamados de
"neoparnasianos" por seus opositores. Ainda que retomem
certos princípios característicos do Parnasianismo, e mesmo
do Simbolismo, todos esses autores se filiam ao movimento
modernista - inclusive João Cabral de Melo Neto, que se
incluía entre a Geração de 45 mas que, segundo os críticos,
não pode ser enquadrado em grupo nenhum, tamanha a
originalidade de sua obra.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA GERAÇÃO DE 45:
PRINCIPAIS AUTORES NA POESIA DA TERCEIRA FASE DO MODERNISMO BRASILEIRO...

JOÃO CABRAL FERREIRA GULLAR MAURO MOTA LEDO IVO

GEIR CAMPOS DOMINGOS CARVALHO PÉRICLES EUGÊNIO MANOEL DE BARROS


Literatura Hits - Poesia 3ª Geração

Twist da 3 a Geração | “Twist and shout” Autor:


Medley / Russell

3ª Geração (geração)
do Modernismo (Modernismo)
Busca da Perfeição (Perfeição) Neoparnasianismo
(Parnasianismo)

Em quarenta e cinco (quarenta e cinco)


o nome é João Cabral (João Cabral)
Poeta “engenheiro” (engenheiro)
e de rigor formal (rigor formal)

Não é regionalista (não é não)


mas fala do sertão (do sertão)
Verso substantivo (substantivo)
sem adjetivação (adjetivação)
BIOGRAFIA

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 1920, e morreu na mesma cidade, em 1999.
Nunca se adaptou à cidade grande e à agitação do mundo urbano: era essencialmente um homem do
interior. Primo do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), autor de Casa grande & senzala, e do poeta Manuel
Bandeira (1886-1968), a partir dos dez anos, estudou no colégio dos irmãos maristas até 1935.
Aos 20 anos, viajou com a família para o Rio de Janeiro onde conheceu Murilo Mendes (1901-
1975), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge
de Lima (1893-1953). Em 1941, participou do Congresso de Poesia do Recife, apresentando o texto em
prosa Considerações sobre o poeta dormindo. Publicou o primeiro livro de poemas, Pedra do sono, em 1942.
Em 1945 conseguiu publicar O engenheiro, em edição custeada pelo amigo Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965). Nessa época foi nomeado para a carreira diplomática, na qual atuou em diversas cidades europeias,
entre elas, Sevilha, pela qual tinha predileção e que foi tema de alguns de seus poemas.
Em 1950, foi a vez de O cão sem plumas. Em 1954 recebeu o Prêmio José de Anchieta (no IV
Centenário de São Paulo) pelo livro O rio. O volume Duas águas, uma coletânea dos livros anteriores, acrescido
dos textos “Morte e vida severina“, “Paisagens com figuras” e “Uma faca só lâmina”, foi lançado em 1956.
Destacam-se ainda Quaderna (1960), A educação pela pedra (1966), Museu de tudo (1975), A escola
das facas (1980), Auto do frade (1984), Crime na Calle Relator (1987).
Em agosto de 1968, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, mas só tomou posse quase um ano
depois.
Ao saber que sofria de uma doença degenerativa incurável que faria sua visão desaparecer aos poucos,
o poeta anunciou que pararia de escrever. Quando morreu, em 9 de outubro de 1999, era um forte candidato ao
Prêmio Nobel de Literatura.
João Cabral de Mello
Neto com sua
esposa Stella Maria
Barbosa de Oliveira e
seus filhos Rodrigo
Cabral de Mello, Inês
Cabral de Mello, Luís
Cabral de Mello e
Isabel Cabral de
Mello, no colo do pai.

Foto do Edifício Guinle, na praia


João Cabral de Mello João Cabral de Mello Neto com sua do Flamengo, n 116. No sétimo
Neto com sua esposa Stella Maria e seus filhos Rodrigo andar, no apartamento 702,
segunda esposa Cabral de Mello, Inês Cabral de Mello e residia Renato Fioravanti Pires de
Marly de Oliveira. Luís Cabral de Mello. Barros Bittencourt] e no 701
residia João Cabral de Mello
Neto, onde veio a falecer.

João Cabral de Mello Neto com sua esposa


Stella Maria Barbosa de Oliveira. Última foto
de Stella com o João.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Grande parte dos críticos considera João Cabral como o melhor poeta da chamada geração de 45, bem como de
toda a poesia brasileira mais recente.
Um dos traços marcantes de sua produção poética provém de seu senso de exatidão do significado da palavra, o
que lhe permitiu fazer uma poesia precisa e concisa, à moda de Carlos Drummond, de quem, parece, sofreu salutar
influência.
De posse dessa técnica, controlou a sentimentalidade e a subjetividade, permitindo-se equilibrar, de maneira
ímpar, forma e conteúdo, e até mesmo submeter o conteúdo à forma, como no poema “Tecendo a manhã”, um dos
exemplos originais de seu racionalismo.
Dono, portanto, de estilo preciso, o qual sempre esteve sob o controle da vontade do autor, João Cabral
desenvolveu poesia técnica na forma. Se conseguia dizer muito com poucas palavras e só o que queria dizer, fez isso em
espaços determinados do papel, previamente definidos e utilizados de forma organizada e racional.
Quando bem queria, juntava ao conteúdo, nesses espaços definidos e justos, metros exatos e rimas de “música
seca”, mas intencionalmente expressivas.
É possível perceber que, em João Cabral, o processo de construção do poema é perceptível, palpável, visível,
mesmo ao leitor comum, daí a razão de ele ser identificado como poeta construtor ou poeta engenheiro.
Outro traço comum em sua produção poética são as alusões que o autor faz à própria poesia. Explicando melhor:
não são raras as poesias nas quais o autor discute o processo ou o trabalho de construir o poema, tática conhecida como
metalinguagem.
Como poeta, mas principalmente como intelectual e filho de uma região social e economicamente pobre, como é
o Nordeste, ele não poderia se furtar à sua responsabilidade social: paralelamente aos caracteres poéticos expostos acima,
João Cabral desenvolveu poesia crítica, compromissada com o sentimento de tristeza e de angústia, de mistura com certa
rebeldia.
No seu jeito claro, medido, contundente e direto, ainda que por meio de metáforas originais, denunciou a injustiça
social vivida pelos nordestinos e o estado de esquecimento e de extorsão em que se encontravam.
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BIOGRAFIA DE FERREIRA GULLAR

Ferreira Gullar, pseudônimo de José de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís, Maranhão,
em 10 de setembro de 1930. Sua infância foi típica de qualquer criança de classe média: estudava e
brincava na rua com seus amigos de jogar bola ou acompanhava-os nas pescarias no Rio Bacanga.
Muito interessado por poesia, aos 18 anos, o jovem Gullar passou a frequentar os bares da
Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero Recreativo, onde, aos domingos, havia leitura de poemas.
Interessou-se muito pela poesia moderna, cujos principais autores do período eram
Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, poetas que lia com entusiasmo. No início,
escandalizado com essa estética moderna, procurou estudá-la e, pouco tempo depois, aderiu a ela.
Seu primeiro livro, Luta corporal, foi publicado em 1954. Os últimos poemas dessa obra
são considerados os embriões da poesia concreta, vertente literária à qual Ferreira Gullar foi um dos
adeptos.
Descontente com a poesia concreta, o autor maranhense foi um dos pioneiros, em 1959, do
movimento literário e artístico neoconcretismo. É de autoria de Gullar um manifesto e a “Teoria do
não objeto”, textos referências para a compreensão dessa estética artística brasileira.
Muito ousado, Gullar inovou a poesia brasileira ao criar o “livro-poema”, o “poema espacial”
e o “poema enterrado”. Este consiste em uma sala no subsolo a que se tem acesso por uma escada;
após penetrar-se no poema, depara-se com um cubo vermelho; ao levantar-se esse cubo, encontra-se
outro, verde, e sob este, há ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra
“rejuvenesça”.
O “poema enterrado” foi a última obra neoconcreta de Gullar, que se afastou dessa vertente
literária para integra-se à luta política. Filiou-se ao Partido Comunista e passou a integrar a luta
contra a Ditadura Militar de 1964. Nesse período, sua poesia voltou-se para questões políticas e
sociais. Entre 1962 e 1966, por exemplo, publicou três poemas em estilo de cordel, numa tentativa de
alcançar de forma mais direta o leitor de camadas mais populares.
Em razão de sua atuação política, foi processado e preso pela ditadura. Quando solto, teve
que atuar na clandestinidade e, posteriormente, teve de exilar-se em Moscou e depois em Santiago do
Chile, Lima e Buenos Aires.
Regressou ao Brasil em 1977, quando foi preso e torturado pelo regime militar, só sendo
libertado por meio de forte pressão internacional. Trabalhou na imprensa do Rio de Janeiro e, depois,
como roteirista de televisão, função que possibilitou que trabalhasse com o dramaturgo Dias Gomes.
Durante o exílio em Buenos Aires, Ferreira Gullar escreveu aquela que é considerada sua
obra-prima: Poema sujo, um longo poema de quase 100 páginas. Muito impactante, essa obra foi
traduzida para vários idiomas.
Além da poesia, o escritor maranhense também se dedicou ao teatro, sendo um dos
fundadores, após o golpe militar, do Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência
democrática ao autoritarismo da época. Nesse período escreveu, com Oduvaldo Viana Filho, as
peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? Também é autor da
peça Um rubi no umbigo.
Em 2002, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura, mas não foi contemplado. Faleceu
em 4 de dezembro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, onde residia.
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Características literárias de Ferreira Gullar

 Tom intimista, presente, principalmente, em sua produção


poética inicial e em Na vertigem do dia (1980);
 Exploração da disposição espacial das linhas na página,
característica do concretismo;
 Temas sociais e diálogo com a cultura popular por meio da
criação de poemas em cordel;
 Temáticas ligadas à reflexão política, à experiência do
poeta no exílio, como em Dentro da noite veloz (1975);
 Rememoração de passagens da infância e descrições de
cenas do cotidiano, como acontece em Poema sujo (1976).
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para assistir.

VÍDEO 1: O poeta Ferreira Gullar VÍDEO 2 Ferreira Gullar, poeta


conta a relação intrínseca entre o brasileiro, explica como nasceu um
nascimento de seus versos e suas de seus principais e mais
experiências de vida. autobiográficos trabalhos, “Traduzir-
se”
Obras de Ferreira Gullar • Uma luz no chão (1978)
• Na vertigem do dia (1980)
• Um pouco acima do chão (1949) • Sobre arte (1982)
• A luta corporal (1954) • Etapas da arte contemporânea: do cubismo à arte
• Poemas (1958) neoconcreta (1985)
• Teoria do não objeto (1959) • Crime na flora ou Ordem e progresso (1986)
• João Boa-Morte, cabra marcado para • Barulhos (1987)
morrer (cordel) (1962) • A estranha vida banal (1989)
• Quem matou Aparecida? (cordel) (1962) • Indagações de hoje (1989)
• Cultura posta em questão (1965) • Formigueiro (1991)
• A luta corporal e novos poemas (1966) • Argumentação contra a morte da arte (1993)
• Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, com • Nise da Silveira (1996)
Oduvaldo Viana Filho (1966) • Gamação (1996)
• História de um valente (cordel) (1966) • Cidades inventadas (1997)
• A saída? Onde fica a saída?, com Antônio Carlos • Rabo de foguete (1998)
Fontoura e Armando Costa (1967) • Muitas vozes (1999)
• Dr. Getúlio, sua vida e sua glória, com Dias Gomes • Um gato chamado gatinho (2000)
(1968) • O menino e o arco-íris (2001)
• Por você, por mim (1968) • O rei que mora no mar (2001)
• Vanguarda e subdesenvolvimento (1969) • O touro encantado (2003)
• Dentro da noite veloz (1975) • Relâmpagos (2003)
• Poema sujo (1976) • Dr. Urubu e outras fábulas (2005)
• Um rubi no umbigo (1978) • O homem como invenção de si mesmo (2012)
Algumas obras de Ferreira
Gullar:
Para ouvir a poesia de Ferreira Gullar,
clique nos títulos.
Antes de tornar-se clássico, Ferreira
Gullar percorreu trilha em movimentos
importantes da poesia brasileira. Afora
rótulos sua obra, marcadamente de
acento grave, caracterizou-se, do início
ao fim, pela passionalidade,
que o diga sua mais célebre definição do
ofício: “poesia nasce do espanto”.
Quando de sua mais ambiciosa proposta
estilística, ao desejar “explodir com a
linguagem”, o que reportou acerca de “A
Luta Corporal”, ainda assim Ferreira não
foi capaz de desvencilhar-se, por
completo, de certa lírica, certo lirismo.
Natural do Maranhão Gullar despertou ao
longo da existência sentimentos
díspares: foi alvo da admiração de
Clarice Lispector e João Cabral de Melo
Neto e do desprezo de Augusto de
Campos e seus pares no neoconcretismo
brasileiro. Nada que tenha influenciado, a
rigor, o melhor de sua poesia, baseada
entre as décadas de 1950 e 1980,
período em que o país também mudou
O AÇÚCAR – Ferreira Gullar

Nesse poema, a crítica


social, uma das principais
características da poesia de
Ferreira Gullar, mostra-se
evidente. Ao longo dos versos, a
voz lírica, em primeira pessoa do
discurso, desencadeia
uma reflexão a partir do
momento em que, em seu
apartamento em Ipanema, pega o
açucareiro para adoçar seu café.
Essa reflexão passa
pelo reconhecimento da
alienação que perpassa muitos,
principalmente aqueles das
camadas urbanas privilegiadas,
até a denúncia da exploração a
que são submetidos os
trabalhadores que fazem parte do
início da cadeia de produção do
açúcar.
Incentivador fervoroso do comunismo, Ferreira
migrou, lenta e gradualmente, para postura crítica em
relação ao regime, até tornar-se um reacionário ímpar.
Postura que afetou também seu ímpeto criativo, ao
acomodar-se em terreno em que haveria cada vez
menos risco para sua poesia. Nos últimos anos os
momentos em que Ferreira recorreu a clichês sem
brilho ultrapassa o de toda a produção de suas
décadas realmente inventivas. Se nem tanto na poesia
, certamente em seus artigos.
Os excessos de Gullar também contagiaram outras art
es, como na música
em que, para o bem e para o mal, manteve sua
principal característica. São passionais os versos por
ele traduzidos de “Borbulhas de Amor”, imortalizada na
gravação de Fagner (Sim, a letra de um dos maiores
sucessos de Raimundo Fagner foi escrita por Gullar e
é a versão em português de uma música do
dominicano Juan Luis Guerra), como também “O
Trenzinho do Caipira”, melodia de Heitor Villa-Lobos, e
“Onde andarás?”, belíssima canção lançada por
Caetano Veloso. Mesmo sem ser Drummond, Gullar
também teve várias faces.
Ferreira Gullar também escreveu para o teatro, cinema e televisão. Amigo de
Dias Gomes, colaborou com ele em vários de seus trabalhos, entre novelas,
minisséries e seriados. Fez parte da equipe de roteiristas que lançou as Séries
Brasileiras, em 1979, com Carga Pesada.
BIOGRAFIA

Mauro Ramos da Mota e Albuquerque


(Nazaré da Mata, 16 de agosto de 1911 — Recife, 22 de novembro de 1984)

Foi um jornalista, professor, poeta, cronista, ensaísta e memorialista brasileiro.


Filho de José Feliciano da Mota de Albuquerque e de Aline Ramos da Mota e Albuquerque,
estudou na Escola Dom Vieira, em Nazaré da Mata, no Colégio Salesiano e no Ginásio do Recife.
Diplomou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1937.
Tornou-se professor de História do Ginásio do Recife e em várias escolas particulares;
catedrático de Geografia do Brasil, por concurso público, do Instituto de Educação de Pernambuco.
Desde os anos universitários colaborava na imprensa. Foi secretário, redator-chefe e diretor do Diário
de Pernambuco; colaborador literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e do Jornal de
Letras do Rio de Janeiro. De 1956 a 1971, foi diretor executivo do Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais; diretor do Arquivo Público de Pernambuco, de 1973 até 1983; membro do
Seminário de Tropicologia da Universidade Federal de Pernambuco e da Fundação Joaquim Nabuco.
Foi membro do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e do Conselho Federal de Cultura.
Como poeta, destaca-se por suas Elegias, publicadas em 1952. Nessa obra figura também o
"Boletim sentimental da guerra do Recife", um dos seus poemas mais conhecidos. Sua poesia é de
fundo simbólico, sobre temas nordestinos, retratando dramas do cotidiano em linguagem natural e
espontânea.
Algumas obras de Mauro Mota
Cantiga de Banheiro
Comprime-se o espelho quando
a moça se distancia.
A moça vai tomar banho,
Na solidão do banheiro,
banho domiciliar.
vê-se emparedada viva
A moça não se dispersa
nas paredes de azulejo
na piscina nem no mar.
e nua fica debaixo
A moça entra no banheiro
do chuveiro de onde a água
e torce a chave e o ferrolho
humaniza-se e, acrobata,
da porta. (Há na fechadura
dá um pulo de cascata
um olho que chama outro olho).
doméstica, com a intenção
A moça vai tomar banho.
de levar a moça longe,
Deixa os chinelos no canto.
de fazer um filho plástico
Perdeu os itinerários.
no ventre virgem lambido
Solta os cabelos castanhos.
de esponja e de sabonete.
Fica nua. Dela soltam
Quando a branca toalha asséptica
os peitos agressivos de
abriu-se na fúria ambiente,
bicos rubros insinuantes,
a água já roubara a moça
de leite e amor para as bocas
camuflada pela espuma,
dos babies e dos amantes.
que ia embora pela rua
A moça morena espia
nadando pela sarjeta
Dentro do espelho da pia
a imagem da moça nua.
A exclusivamente sua
Liberta beleza nua.
Mauro Mota
ANÁLISE DO POEMA “CANTIGA DE BANHEIRO” DE MAURO MOTA

“Cantiga de Banheiro”, de Mauro Mota, demonstra, desde a estética, que se trata de um poema moderno, pela
quebra com a tradição em não apresentar forma fixa; além disso, mostra a capacidade do poeta em fazer o hibridismo
entre gêneros textuais (descrição e poesia) para poetizar temas tão corriqueiros (do dia a dia) como o banho de uma
simples moça.
Esteticamente, o poema, apesar de ter como predominância a métrica em redondilho maior – típica
característica de poemas populares como também as cantigas (trovadorescas) foram – quebra com a tradição na
distribuição dos versos por estrofe e nas rimas (predominância das emparelhadas). Ele possui quatro estrofes contendo
doze, nove, catorze e sete versos cada.
No tocante à temática, trata-se de um texto cujo ideal é descrever poeticamente o ato do banho de uma moça,
com toda sua beleza e sensualidade (indícios de erotismo), conforme a 2ª estrofe “[...] Dela soltam / os peitos agressivos
de/ bicos rubros insinuantes, [...]”. Essa descrição vai desde o ato de a moça (personagem central) despir-se, até a água
descer pela sarjeta e, com ela, levar a espuma de sabão que antes estava na moça.
Mauro Mota possui a capacidade de transformar um simples banho, característica básica do dia a dia, em
poesia, uma vez que o popular e os simples acontecimentos do cotidiano (assuntos banais) são (também) temas
constantes em sua poética.
Para dar a forma de poema, ele utiliza-se de encavalgamentos ou enjambement, além de apropriar-se de
figuras estilísticas como anáforas (repetição constante de “a moça” no início dos versos nas duas primeiras estrofes) e
personificações “[...] Dela soltam / os peitos agressivos [...]”. Além do forte teor imagético que o texto possui como um
todo, a imagem que o leitor pode promover da última estrofe reflete bem o poder poético do autor.
Quanto aos indícios de descrição, percebe-se pela quantidade de predicados verbais existentes no texto, pois
os verbos de ação permitem um maior movimento dentro do poema, facilitando o processo do banho (do início ao fim).
Então, analisando a poética de Mauro Mota, percebe-se a capacidade que o poeta tem de retratar assuntos tão
banais, como o banho de uma moça, sem perder a beleza que é a poesia, através de um vocabulário simples, métrica
popular e recursos estilísticos que dão à descrição a poeticidade que o texto precisa.
Boletim Sentimental
da Guerra no Recife Tínheis de quinze a vinte anos,
tipos de colegiais,
Meninas, tristes meninas, diante dos americanos,
de mão em mão hoje andais. dos garbosos oficiais,
Sois autênticas heroínas do segundo time vasto
da guerra, sem ter rivais. dos fuzileiros navais
Lutastes na frente interna prontos a entregar a vida
com bravura e destemor. para conseguir a paz,
À vitória aliada destes varrer da face do mundo
o sangue do vosso amor. regimes ditatoriais
Por recônditas feridas, e democratizar todas
não ganhastes as medalhas, as terras continentais E os presentes? Os presentes
terminadas as batalhas a começar pelo sexo eram vossa tentação.
de glórias incompreendidas. das meninas nacionais. Coisas que causavam aqui
Éreis tão boas pequenas. inveja e admiração:
Éreis pequenas tão boas! Iniciou-se então a fase bolsas plásticas, a blusa
De várias nuanças morenas, de convocação e treino de alvas rendas do Havaí,
ó filhas de Pernambuco, todos os dias na Base. bicicletas "made in USA",
da Paraíba e Alagoas. Ah! com que pressa aprendíeis, verdes óculos "Ray Ban".
só pela conversa quase! Era um presente de noite
Dentro de menos de um mês e outro dado de manhã,
sabíeis falar inglês. verdadeiras maravilhas
da indústria de Tio Sam.
E as promessas? As promessas
eram vossa sedução. Ah! bom tempo em que corríeis,
acreditáveis que elas "pés descalços, braços nus,
não eram mentira, não. atrás das asas ligeiras
Um "Frazer" no aniversário, das borboletas azuis".
passeios de "Constellation", Ó prematuras mulheres,
num pulo alcançar Miami, fostes, na velocidade
"Babies" saxonizados,
almoçar na Casa Branca, dos "jeeps", às "garconières"
que só mamam vitaminas,
descer a Quinta Avenida, da Praia da Piedade.
são vossos "babies", meninas,
fazer "piquet" pela Broadway em vários cantos gerados,
ver a "première" no Cine Quase que se rebentavam
mas "mapples" dos automóveis,
junto dos artistas, com vossos úteros infantis
no interior das cantinas,
eles todos na platéia. quando veio o telegrama
da praia na branca areia,
Ouvir na "Opera House", da tomada de Paris.
em noites sem lua cheia.
numa noite Toscanini,
na outra noite Lili Pons. Ingênuas meninas grávidas,
Meninas, tristes meninas,
o que é que fostes fazer?
vossos dramas recordai,
Com tanto "it" e juventude Apertai bem os vestidos
quando eles no armistício,
podíeis testes ganhar, pra família não saber.
vos disseram "Good bye".
ser estrelas de Hollywood, Que os indiscretos vizinhos
Ouvireis a vida toda
ciúmes de Hedy Lamarr. vos percam também de vista.
a ressonância do choro
Saístes do pediatra
dos vossos filhos sem pai.
para o ginecologista.
Lêdo Ivo
BIOGRAFIA
ALGUMAS DAS OBRAS DE LÊDO IVO
CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE LÊDO IVO
Lêdo Ivo foi um dos poetas mais representativos do
Brasil nas últimas décadas, aparecendo como um dos
principais nomes da Geração de 45, marcada por uma
literatura intimista, introspectiva e com traços psicológicos.
Ivo defendia um modelo de poesia comprometido com
o indivíduo e com a sociedade. Algum crítico chegou a se
referir a ele como "o poeta indignado", embora ele tenha
preferido se qualificar como um "poeta municipal".
Sua obra se destacava ao fugir da poesia pura, dirigida
a celebração do universo através de rebuscados versos.
Distante dessa linha, ele preferia, como fez alusão em mais de
uma ocasião, abordar a vida cotidiana e, principalmente, a
condição humana.
O poeta moderno, segundo Ivo, deve se interessar pelo
mundo de hoje e pela experiência pessoal vivida, ao invés de
se concentrar em poemas sobre a criação poética.
O CORAÇÃO DA LIBERDADE

Estive, estou e estarei


no coração da realidade,
perto da mulher que dorme,
junto do homem que morre,
próximo à criança que chora.
Para que eu cante, os dias são momentâneos
e o céu é o anúncio de um pássaro.
Não me afastarei daqui,
da vida que é minha pátria,
e passa como as águias no sul
e permanece como os vulcões extintos Não me afastarei daqui, não trairei jamais
que um dia vomitam sono e primavera. o centro maduro de todos os meus dias.
Minha canção é como a veia aberta Somente aqui os minutos mudam como praias
ou uma raiz central dentro da terra. e o dia é um lugar de encontro, como as praças,
, e o cristal pesa como a beleza
no chão que cheira à criação do mundo.
Adeus, hermetismo, país de mortes fingidas.
Bebo a hora que é água; refugio-me na estância
quando a aurora é mistura de orvalho e de esterco
e estou livre, sinto-me final, definitivo
como o tempo dentro do tempo, e a luz dentro da luz
e todas as coisas que são o centro, o coração
da realidade que escorre como lágrimas.
A Tempestade - Poema de Lêdo Ivo
BIOGRAFIA
Filho de Getúlio Campos, dentista, e Nair Nuffer, professora. Viveu parte da sua infância
em Campos dos Goytacazes (RJ), parte no Rio de Janeiro. A partir de 1941, passou a residir
em Niteroi (RJ). Foi aluno do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e do Colégio Plínio Leite, em
Niterói. Em 1951, casou-se com Alcinda Lima Souto, que passou a chamar-se Alcinda Campos.
Deste casamento vieram seus dois filhos: Carlos Augusto Campos e Mauro Campos.
Piloto, tripulou navios mercantes do Lloyd Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Advindo daí a sua condição de civil ex-combatente.
Poeta, estreou em 1950 com Rosa dos Rumos, após ter publicado em jornais e revistas,
especialmente no Diário Carioca, vários poemas, contos e traduções.
Editor, fundou em 1951, com Thiago de Mello, as Edições Hipocampo, que chegaram a
publicar vinte volumes de poesia e prosa, dos autores mais representativos da literatura brasileira e
também de alguns estreantes como Paulo Mendes Campos e outros; nessa coleção apareceu, em
janeiro de 1952, Arquipélago, o seu segundo livro de versos.
Professor ginasial (atual ensino fundamental), no Colégio Plínio Leite, onde antes estudara,
e no Colégio Figueiredo Costa, ambos em Niterói.
Professor universitário, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, onde em 1980 fez-se Mestre em Comunicação, com um trabalho (publicado) sobre
Tradução e ruído na comunicação teatral, e em 1985 defendeu tese de doutoramento sobre O ato
Tradutor, começou a publicar em 1953, com uma coletânea de Poemas de Rainer Maria
Rilke.
Contista, lançou em 1960 a primeira edição de O Vestíbulo.
Radialista, em agosto de 1954 começou a produzir e apresentar, na Rádio Ministério de
Educação, um programa semanal de meia hora, "Poesia Viva"; para essa mesma emissora produziu,
durante muitos anos, diversos programas literários.

Jornalista, colaborou e assinou colunas em diversos Jornais, entre eles o Diário de


Notícias e o Diário Carioca.
É o autor da letra do hino de Brasília, cuja música é de autoria da professora Neusa Pinho
França Almeida.
Foi membro fundador do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Associação
Brasileira de Tradutores, da qual foi presidente, lutando pela conscientização dos que traduzem
profissionalmente no Brasil e pela regulamentação desta profissão.
Traduziu várias obras de Rilke, Brecht, Goethe, Shakespeare, Sófocles, Whitman e outros,
sendo merecedor de um ensaio da professora Maria Thereza Coelho Ceotto da Universidade Federal
do Espírito Santo.
Destacou-se enquanto ativista cultural de grande influência e presença na literatura
brasileira, tornando-se o grande representante capixaba da "Geração de 45".
Foi um dos poucos poetas brasileiros a comporem uma coroa de sonetos.
SONETO FABRIL

Parques, sim, mas parques industriais:


neles é que passeia o nosso amor,
em bairros pouco residenciais
onde ronrona a máquina a vapor.

Das chaminés das fábricas saem mais


nuvens (claras, escuras) de vapor
e de fumaça, com a cor das quais
o azul do céu muda-se noutra cor.
Pairando entre esse céu, assim mudado,
e a terra, onde prossegue a mesma vida
com seu esquema aceito mas errado,

detém-se o nosso olhar em bagatelas


— que de pequenas coisas é tecida
a glória de viver e achá-las belas.
Geir Campos
Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
A dizer também que são coisas mutáveis…
EF
E quando em muitos a noção pulsar
s
po

— do amargo e injusto e falso por mudar —


R
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então confiar à gente exausta o plano


de um mundo novo e muito mais humano
Domingos Carvalho da Silva (Leiroz, Portugal, 21 de Junho de 1915 - São Paulo, Brasil, 26
de Abril de 2003) é um escritor brasileiro. Domingos nasceu em Portugal, na aldeia de Leiroz, 15
quilômetros ao sul da cidade do Porto, mas radicou-se no Brasil desde 1924, instalando-se em São
Paulo, passando a ser considerado paulista.
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo (1937),
naturalizando-se nesse mesmo ano como cidadão brasileiro. Advogado, funcionário federal e
jornalista, foi também poeta, contista e ensaísta e lecionou Teoria da Literatura e Literatura Brasileira
na Universidade de Brasília.
Eis alguns dos seus livros de versos: Rosa Extinta (1945), que o consagrou como o mais
importante poeta paulista da nova geração; Espada e Flâmula (1947); Praia Oculta (1949); Girassol
de Outono (1952); A Fênix Refratária e outros poemas (1959). O principal mérito da sua poesia reside
na versatilidade de formas, temas e tons. Importa destacar que, incumbido pessoalmente pelo próprio
Pablo Neruda, fez a tradução de seus 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, publicada
em 1946.
Fez parte da Geração de 45 (grupo e movimento que ele assim batizou, da poesia brasileira).
Foi fundador da Revista Brasileira de Poesia e da Revista de Poesia e Crítica e recebeu o Prêmio
Olavo Bilac, em 1950, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, e o Jabuti, na categoria poesia,
com o livro de poemas intitulado Vida Prática, em 1977.
Foi o redescobridor da obra de Maria Clemência da Silveira Sampaio, a pioneira da poesia
do Rio Grande do Sul.
Obras
• Rosa extinta : poemas (1945);
• Praia Oculta (1949);
• Espada e Flâmula (1950);
• Livro de Lourdes (1952);
• A Fênix refratária e outros poemas (1953-1958) (1959);
• A véspera dos mortos : contos (1966);
• Girassol de outono (1966);
• Gonzaga e outros poetas (1970);
• Vida prática : poemas (1978);
• Múltipla escolha (1980);
Nas fronteiras do sonho eu te esperava,
aurora de olhos rubros e mãos frias.
Para o meu canto volatilizado,
eras um tema azul de águas marítimas..
Tinha estrela nas mãos. E surpreen
pelo ruivo cabelo algas de encanto
Em viagens sempre breves percorr
o cais das nuvens junto a um mar d
palmas
E quando aos poucos se
despetalou
no ocaso o sonho, e a noite se
tornou
realidade solitária e nua.
surgiu sobre as estrelas
neto Ocasional – Domingos Carvalho
Péricles Eugênio da Silva Ramos nasceu em Lorena, no estado de São
Paulo, em 24 de outubro de 1919. Formou-se na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo na turma de 1944. Publicou em 1946 seu primeiro livro
de poesias, Lamentação Floral, pela editora Assunção. A esta, seguiram-se outras
obras poéticas originais.
Em 1948, já envolvido com o movimento modernista - naquele momento
nomeado neomodernista - co-assinou um manifesto dos poetas da nova
geração. Ao longo da vida, contribuiu, ora com poemas, ora com ensaios, com
diversas publicações periódicas, dentre as quais a Folha da Manhã, o Correio
Paulistano e a Revista Brasileira de Poesia, fundada pelo próprio em 1947.
Péricles Eugênio da Silva Ramos dedicou-se também à tradução, em
especial à tradução poética, tendo vertido para o português obras de William
Shakespeare, Stéphane Mallarmé, Virgílio e Góngora, entre outros. Além disso,
também foi editor de antologias de literatura brasileira. Várias obras de autores
brasileiros, em especial do simbolismo e parnasianismo, foram revisitadas e
antologizadas por Silva Ramos, tais como Francisca Júlia e Álvares de Azevedo.
A partir de 1966, Silva Ramos lecionou literatura e redação junto à
Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Em 1970, passou a exercer o
cargo de diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura, quando foi um dos
criadores do Museu de Arte Sacra de São Paulo, do Museu da Imagem e do Som e
do Museu da Casa Brasileira.
Péricles Eugênio da Silva Ramos ocupou a cadeira de número 25 da
Academia de Letras de São Paulo e veio a falecer em São Paulo, em 1992.
OBRA POÉTICA
• Lamentação Floral, 1966
• Sol Sem tempo, 1953
• Lua de Ontem, 1960
• Futuro, 1968
• Poesia Quase Completa, 1972
• A Noite da Memória, 1988
Teoria da permanência
Péricles Eugênio da Silva Ramos
EPITÁFIO

As ondas nascem,
as ondas morrem,

num só minuto;

mas o pensamento
pode eternizá-las.

As rosas nascem, NAUFRÁGIO


as rosas morrem;
mas o pensamento Sob as gaivotas lunares
pode concebê-las imortais. vogam na poeira das ondas
teus seios, folha perdida
Por isso eu vos tirei domar, frente a um rebanho de praias.
ó vagas!
E à flor das águas resvala
Por isso eu vos tirei do lodo, teu ventre, promessa extinta:
ó rosas! —lamúria de espuma fria
Porém vos fiz etéreas e flamantes, gotejando sal e trevas.
para brilhardes sobre a poeira em que me
tornarei. Sim, morta quanta esperança
tão noturna como a lua!
ÁRIA ÓRFICA

Aragem presa em si mesma


(como a esfera em sua forma)
o arcanjo de antes do corpo
dorme em águas mais profundas;

dorme em águas de mistério,


sem pecado ou sofrimento,
ar inquieto antes do caule,
ar inquieto, nunca o lenho.

Desconhecido de mim,
fui eu próprio, hoje não sei:
a vida, não seu reflexo, Orfeu deitado nas trevas,
deixei-a em glebas longínquas... meu olhar é como o sonho:
não vejo, mas estou vendo;
Quem as visse, eis que seria e assim, liberto da tumba,
o mais puro dos mortais: na alvorada hei de encontrar-me
pois veria, além do tempo, junto às portas de meu Reino:
brilhar a carne das almas;
a carne que exige as cinzas — sereno, lúcido e claro,
deste lodo que nos veste. porém coberto de cinza...
BIOGRAFIA
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916 — Campo Grande, 13 de
novembro de 2014) foi um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas
formalmente ao pós-Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas europeias do início do
século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Com 13 anos, ele se mudou para Campo
Grande (MS), onde viveu pelo resto da sua vida. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios
Jabutis e foi membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. É o mais aclamado poeta brasileiro da
contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o
epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre
Nada" de 1996.
Um ano depois do nascimento do poeta, sua família foi viver em uma propriedade rural em Corumbá.
Mudou-se sozinho quando ele era ainda criança para Campo Grande, onde estudou em colégio interno e, mais
tarde, para o Rio de Janeiro, a fim de completar os estudos, onde formou-se bacharel em direito em 1941. Tendo
estado 10 anos em um internato, rebelou-se contra a escrita do Padre Antônio Vieira, por lhe parecer que para
aquele a frase era mais importante que a verdade. Através da leitura da poesia em prosa de Arthur Rimbaud,
Manoel de Barros descobre que "pode misturar todos os sentidos".
Seu primeiro livro não era de poesia, e teria se perdido em razão de uma confusão com a polícia. Quando
vivia no Rio de Janeiro, aos 18 anos, tendo entrado para a União da Juventude Comunista, grafitou as palavras
"Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando a polícia foi buscá-lo na pensão onde morava, a dona do
estabelecimento pediu para "não prender o menino, tão bom que até teria escrito um livro, chamado "Nossa
Senhora de Minha Escuridão'". Tendo o policial que comandava a operação se sensibilizado, o poeta não foi preso,
mas a polícia levou o seu livro. Embora a poesia tenha estado presente em sua vida desde os 13 anos de idade,
teria escrito o primeiro poema somente aos 19 anos. Seu primeiro livro publicado foi "Poemas concebidos sem
pecado" (1937), feito artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele.
Rompe com o PCB quando o seu líder, Luís Carlos Prestes, após 10 anos de prisão política durante o
regime getulista, resolve declarar apoio ao presidente Getúlio Vargas, que já havia entregue sua esposa Olga
Benário ao regime nazista da Alemanha, onde ela morreu.
Após sua decepção, viveu na Bolívia, no Peru e também, durante um ano, em Nova York onde fez um
curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna.
Na década de 1960 voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, sem nunca
deixar de trabalhar incansavelmente em seu ofício de poeta.
Apesar de ter escrito muitos livros durante toda a sua vida e de ter ganho vários prêmios literários desde
1960, durante muito tempo sua obra ficou desconhecida do grande público. Possivelmente porque o poeta não
frequentava os meios literários e editoriais e, deduzindo-se das palavras do poeta (ele diz "por orgulho"), por não
bajular ninguém.
Seu trabalho começou a ser valorizado nacionalmente a partir da descoberta deste por parte de Millôr
Fernandes, já na década de 1980. A partir daí, ganhou reconhecimento através de vários dos maiores prêmios
literários do Brasil, como o Jabuti, em 1987, com "O guardador de águas".
Foi considerado o maior ou um dos maiores poetas do Brasil, sendo um dos mais aclamados nos círculos
literários do seu país. Seu trabalho tem sido publicado em Portugal, onde é um dos poetas contemporâneos
brasileiros mais conhecidos, na Espanha e na França.
O escritor morreu aos 97 anos. Ele foi internado no dia 24 de outubro de 2014 no Proncor, em Campo
Grande (MS), para uma cirurgia de desobstrução do intestino. De acordo com o boletim médico assinado pela
doutora Carmelita Vilela, o falecimento ocorreu no dia 13 de novembro, às 8h05min, por falência de múltiplos
órgãos. Ele foi sepultado por volta das 18h no cemitério Parque das Primaveras. O escritor completaria 98 anos
em 19 de dezembro de 2014.
MANOEL DE BARROS | Resumo de Literatura para o Enem

Obras •
2000 — Exercícios de ser criança
2000 — Encantador de palavras - Edição portuguesa
• 2001 — O fazedor de amanhecer
• 2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo
• 1937 — Poemas concebidos sem Pecado
• 2001 — Águas
• 1942 — Face imóvel
• 2003 — Para encontrar o azul eu uso pássaros
• 1956 — Poesias
• 2003 — Cantigas para um passarinho à toa
• 1960 — Compêndio para uso dos pássaros
• 2003 — Les paroles sans limite - Edição francesa
• 1966 — Gramática expositiva do chão
• 2003 — Todo lo que no invento es falso -
• 1974 — Matéria de poesia
• Antologia na Espanha
1980 — Arranjos para assobio
• 2004 — Poemas Rupestres
• 1985 — Livro de pré-coisas
• 2005 — Riba del dessemblat.
• 1989 — O guardador das águas
• Antologia poètica — Edição catalã
1990 — Gramática expositiva do chão: Poesia quase
• 2005 — Memórias inventadas I
toda
• 2006 — Memórias inventadas II
• 1993 — Concerto a céu aberto para solos de aves
• 2007 — Memórias inventadas III
• 1993 — O livro das ignorãças
• 2010 — Menino do Mato
• 1996 — Livro sobre nada
• 2010 — Poesia Completa
• 1996 — Das Buch der Unwissenheiten - Edição da
• 2011 — Escritos em verbal de ave
revista
• 2013 — Portas de Pedro Viana
Manoel de Barros :: Matéria de
Poesia / Por Antônio Abujamra
Algumas obras de Manoel de
Barros:
O cantor Márcio de Camillo, antes da morte do poeta, veio
com a proposta de musicar as suas poesias, o que resultou
no CD Crianceiras com ilustrações feitas por Martha Barros.
O espetáculo roda o Brasil inteiro. Clique na imagem ao lado
para saber mais.
Clique nos vídeos abaixo, para
conhecer alguns dos poemas de
Manoel de Barros musicados .
O tempo só anda de ida.
A gente nasce cresce amadurece
envelhece e morre.
Pra não morrer tem que amarrar o
tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
Amarrar o tempo no poste.

Manoel de Barros

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