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Consciência Social e Harlem

Renaissance
FALAR SOBRE A LITERATURA DE CUNHO SOCIAL DOS ANOS 1930 E 1940; APRESENTAR OS AUTORES
MAIS IMPORTANTES DAQUELA ÉPOCA, COMO SINCLAIR LEWIS, JOHN DOS PASSOS E JOHN STEINBECK.
ALÉM DISSO, FALAREMOS DO MOVIMENTO ANTERIOR, O HARLEM RENAISSANCE, QUE ACONTECEU
DURANTE OS ANOS 1920

AUTOR(A): PROF. ELTON LUIZ ALIANDRO FURLANETTO

O contexto histórico
Desde o final dos anos 1890, havia uma espécie de motivação para o protesto social por meio da literatura.

Se pensarmos nos temas e formas trazidos por naturalistas como Stephen Crane e Theodore Dreiser, em

seus romances de estilo jornalístico, veremos as inspirações no que ressurge a partir dos anos 1930, com os
autores altamente engajados, tanto politicamente quanto na suas formas de escrita. O desenvolvimento

desses temas acontece paralelamente nos romances e nas peças de teatro da época, sobre as quais falamos
em outra oportunidade.

Os romances estavam atrelados a uma preocupação com o bem estar dos cidadãos comuns, e focavam em
grupos de pessoas. No caso de Sinclair Lewis, tínhamos as profissões; no caso de Steinbeck, as famílias; e

para Dos Passos, o foco será nas massas urbanas, representadas nos onze personagens principais de sua
trilogia U.S.A.
Legenda: MULTIDãO SE AGLOMERA NA ESQUINA DAS RUAS WALL STREET E BROAD STREET, EM NOVA
IORQUE, NA QUEBRA DA BOLSA DE 1929
A década foi marcada por uma profunda onda de desemprego e pobreza, que foi consequência da Quebra da
bolsa de Nova York e não aconteceu apenas nos Estados Unidos. Em resposta a essa situação, uma série de

regimes autoritários subiu ao poder, na América do Sul e na Europa. O fascismo na Itália e na Espanha e o
nazismo na Alemanha são alguns exemplos. Diversos países passaram por conflitos até a invasão da
Polônia, que levou à Segunda Guerra Mundial no final da década.
Foi nessa época também que pudemos observer uma proliferação de novas tecnologias no campo da aviação

internacional, do rádio e do cinema (que deixou de ser mudo). Franklin D. Roosevelt foi eleito presidente
em novembro de 1932 e estabelece um programa social de bem estar chamado “New Deal”, para tentar lutar
contra os efeitos nocivos da Grande Depressão. Tal programa se baseava em um maior controle da

economia, distanciando-se do liberalismo vigente no início do século.

Legenda: O GOVERNO FEDERAL ENCOMENDOU UMA SéRIE DE MURAIS PúBLICOS DOS ARTISTAS QUE
EMPREGAVA. CONSTRUCTION OF A DAM (1939), DE WILLIAM GROPPER é UMA OBRA CARACTERíSTICA
DA ARTE DA DéCADA DE 1930, COM OS TRABALHADORES VISTO EM POSES HERóICAS, TRABALHANDO
EM CONJUNTO PARA COMPLETAR UM GRANDE PROJETO PúBLICO

Outro evento importante foi chamado de “Os trinta sujos” ou o “Dust Bowl”, um período de danos
ecológicos e agrícolas que causou uma seca que durou quase a década inteira, devido ao cultivo intensivo

sem rotação de culturas, ou outras técnicas agrícolas que protegem o solo de erosão excessiva, ventos
fortes, etc. Atingiu uma área central americana estimada em 400.000 km2 , e motivou migrações, causou
falta de certos alimentos, doenças por inalação de poeira e redução de salários nacionalmente.

Os autores
Sinclair Lewis
Sinclair Lewis, o primeiro autor norte-americano a ganhar o prêmio Nobel de literatura, por sua “gráfica e
vigorosa arte da descrição e sua habilidade de criar com humor e inteligência, novos tipos de personagens”

nasceu em Sauk Center, Minnesota, em 1885.


Ele é considerado um dos maiores satiristas de sua época. Seus romances apresentam uma complicada
imagem da classe média americana nos anos 1920. Ainda que ele ridicularize os valores, estilos de vida e
até mesmo a forma de falar das personagens, é possível identificar certa melancolia, disfarçada de ironia.
Legenda: SINCLAR LEWIS, EM 1914
Ele era considerado a consciência de sua geração, e muitas de suas preocupações são parecidas com as
atuais. Suas análises valiosas sobre o modo de vida dos Estados Unidos de então encontram muitos
paralelos com os medos e preocupações dos dias de hoje.
Sua carreira começou como jornalista, editor e escritor substituto. Com a publicação do romance Main
Street (1920), ele se torna uma figura literária importante. Ele falava de maneira satírica sobre o estilo de
vida nas cidades pequenas americanas. Seu romance seguinte, considerado sua obra-prima, é Babbit (1922),
no qual temos um retrato de George F. Babbit, um americano médio, homem de negócios, republicano e
conservador, cuja personalidade e individualidade foram apagadas por seus valores conformistas. Seu
romance seguinte, Arrowsmith (1925) é novamente uma sátira sobre a profissão médica. Ele ganhou o
Pulitzer por este, apesar de já ter sido indicado para seus romances anteriores, mas acaba recusando o
prêmio, por discordar dos termos de concessão do prêmio.

Legenda: CAPA ORIGINAL DO LIVRO MAIN STREET, DE 1920

Durante a vida ele publicou 22 romances, mas seus romances posteriores não foram tão bem sucedidos
quando os primeiros. Elmer Grantry (1927) fala sobre a hipocrisia de um reflorescimento da religião.

Dodsworth (1929) é uma visão de um homem de negócios americano na Europa. É considerado um trabalho
menos satírico, já antecipando um certo retraimento do autor. Também se destacam It Can’t Happen Here

(1935), Cass Timberlane (1945), Kingsblood Royal (1947), e World So Wide (1951).
De 1928 até 1942 ele foi casado com Dorothy Thompson (1894-1961), uma jornalista e correspondente

internacional renomada. Ele morreu em Roma, em 1951, aos 65 anos de idade.

John Dos Passos


John dos Passos é filho de descendentes de portugueses e nasceu em Chicago em 1896. Tendo crescido em

Chicago, foi para escolas famosas na costa leste, como Choate School e depois Harvard. Ele se formou em

1916 e se alistou para os movimentos da guerra mesmo antes dos Estados Unidos terem entrado no conflito,
sendo motorista de ambulância voluntário e depois médico. Depois da guerra, ele se torna jornalista

freelance, ao passo que já escrevia poemas, contos, ensaios e peças.

Legenda: JOHN DE PASSOS

Ele foi um dos autores mais politizados da sua geração. Envolvido com uma série de movimentos políticos,
Dos Passos via com suspeita a expansão do consumismo desenfreado e apontava para o descontrole como

um problema para a saúde da nação.


Da mesma forma que Sinclair Lewis, Dos Passos era de esquerda, mas principalmente durante os anos 1950,

mudou de visão política, se tornando mais conservador, e até fazendo campanha para presidentes

republicanos, como Nixon. Seu realismo inicial estava ligado ao chamado realismo socialista, e ele buscava
atingir um objetivismo científico e um efeito de quase documentário.

Ele escreveu romances entre 1920 e 1970, quando morre. Na sua obra principal, a trilogia U.S.A., escrita
entre 1930 e 1936, e consiste de três volumes: The 42nd Parallel, 1919 e The Big Money. Eles remetem aos

acontecimentos históricos acontecidos entre 1900 e 1930 e expõem fortemente a corrupção moral e o
materialismo da sociedade americana por meio dos seus personagens.
Legenda: CAPA DA TRILOGIA U.S.A

Ele utilizou a técnica estilística da colagem, a junção de diversas outras técnicas que davam ao seu texto, o

já mencionado estilo documentário, como os “newsreel”, as “biografias” e a “camera eye”. A primeira se


trata de seções do romance retirados das notícias contemporâneas, das músicas populares e das

propagandas. As biografias eram pequenas trechos sobre a vida de americanos importantes, ou figuras
conhecidas: inventores, líderes sindicalistas, estrelas de cinema, intelectuais e homens de negócio. A

“camera eye” eram poemas em prosa como fluxo de consciência que ofereciam respostas subjetivas para os
eventos descritos nos livros.

Vejamos um exemplo de cada uma dessas técnicas nos trechos a seguir:

TRILOGIA USA
NEWSREELS VI
Paris Shocked At Last

HARRIMAN SHOWN AS RAIL COLOSSUS


noted swindler run to earth

TEDDY WIELDS BIG STICK


straphangers demand relief.

(…)

MOB LYNCHES AFTER PRAYER (The 42nd Parallel, p. 80)

[Biography] ART AND ISADORA


in San Francisco in eighteen seventy eight Mrs. Isadora O'Gorman Duncan, a high spirited lady with

a taste for the piano, set about divorcing her husband, the prominent Mr. Duncan, whose behavior
we are led to believe had been grossly indelicate ; the whole thing made her so nervous that she

declared to her children that she couldn't keep anything on her stomach but a little champagne and

oysters; in the middle of the bitterness and recriminations of the family row, into a world of gas-lit
boardinghouses kept by ruined southern belles and rail road magnates and swinging doors and

whiskery men nibbling cloves to hide the whiskey on their breaths and brass spittoons and four-
wheel cabs and basques and bustles and long ruffled trailing skirts (in which lecture-hall and

concert-room, under the domination of ladies of culture, were the centers of aspiring life) she bore
a daughter whom she named after herself Isadora. (The Big Money, p. 153)

THE CAMERA EYE (43) throat tightens when the red-stacked steamer churning the faintly heaving

slate-colored swell swerves shaking in a long green-marbled curve past the red lightship spine

stiffens with the remembered chill of the offshore Atlantic and the jag of frame-houses in the west
above the invisible land and spider-web rollercoasters and the chewing gum towers of Coney and

the freighters with their stacks way aft and the blur beyond Sandy Hook and the smell of
saltmarshes warm clammy sweet (The Big Money, p. 26)

John Steinbeck
John Steinbeck nasceu em Salinas, Califórnia em 1902 e faleceu em Nova York em 1968. Escreveu mais de 27

livros, incluindo 16 romances, alguns livros de não-ficção e algumas coletâneas de contos. É mais conhecido

por seu livro The Grapes of Wrath (1939), traduzido como As vinhas da Ira, o qual resume bem as
dificuldades causadas pela Grande Depressão e chamou a atenção para o problema da migração feita pelos

trabalhadores rurais do meio-oeste e sul dos Estados Unidos.

Legenda: JOHN STEINBECK

Antes que seus livros fizessem sucesso, ele precisou se manter como trabalhador braçal, e suas experiências

deram autenticidade para seus exemplos das vidas dos trabalhadores em suas histórias.
Seu primeiro sucesso foi o romance Tortilla Flat (1935), que contava de forma emocionada a história de
alguns mexicano-americanos. Mas seu humor se transformou em raiva no seu romance seguinte In Dubious

Battle (1936), que conta a história da greve de agricultores e os líderes marxistas que a organizam. A
noveleta Of Mice and Men (1937), traduzida como Sobre ratos e homens, conta a história trágica de dois
trabalhadores migrantes e sua complexa e fiel amizade. Ela ganhou versões em teatro e cinema.
Mas é em 1940 que Steinbeck vai ganhar um prêmio Pulitzer, um National Book Award e vê seu romance

The Grapes of Wrath virar filme. O romance conta a dramática história da família Joad, abandonando suas
terras no Dust Bowl de Oklahoma, rumando para a Califórnia em busca de uma vida melhor. Não se trata
nem da busca pelo sonho americano, mas simplesmente de condições dignas de existência. Porém nem

mesmo chegando na Califórnia eles conseguem fugir da exploração do sistema econômico agrícola do
começo do século XX.
Legenda: CAPA ORIGINAL DO LIVRO THE GRAPES OF WRATH, DE 1940
Depois disso, o autor vai ao México com o biólogo e amigo Edward F. Ricketts para estudar a fauna do Golfo

da Califórnia, que resulta no estudo Sea of Cortez (1941).


Durante a Segunda Guerra, Steinbeck escreveu várias obras para o governo, no esforço de justificar a guerra
(war propaganda) entre os quais podemos encontrar The Moon is Down (1942), que fala sobre o sofrimento

dos noruegueses sob o regime nazista. Ele foi correspondente de guerra e isso contribuiu para sua escrita.
Depois da guerra, ele continuou a escrever livros com elementos de crítica social, porém bem mais
moderados que seus primeiros romances, e mais sentimentais. Exemplos desses livros são: Cannery Row
(1945), The Pearl (1947) e The Wayward Bus (1947).

Legenda: CAPA ORIGINAL DE CANNERY ROW, DE 1945

Sua fama hoje se baseia nos romances regionalistas e quase naturalistas com temas proletários escritos nos
anos 1930. São nessas obras que sai rica estrutura simbólica e as características arquetípicas de seus

personagens estão mais presentes.


Vamos ver um trecho de As vinhas da Ira no qual os bancos retiram as terras dos fazendeiros, por falta de
pagamento e eles são obrigados a sair de lá. O narrador faz um comentário bastante forte sobre a

necessidade de se organizarem:

THE WESTERN STATES nervous under the beginning change. Texas and Oklahoma,
Kansas and Arkansas, New Mexico, Arizona, California. A single family moved from the
land. Pa borrowed money from the bank, and now the bank wants the land. The land

company—that's the bank when it has land—wants tractors, not families on the land. Is a
tractor bad? Is the power that turns the long furrows wrong? If this tractor were ours it
would be good—not mine, but ours. If our tractor turned the long furrows of our land, it
would be good. Not my land, but ours. We could love that tractor then as we have loved

this land when it was ours. But this tractor does two things—it turns the land and turns
us off the land. There is little difference between this tractor and a tank. The people are
driven, intimidated, hurt by both. We must think about this. One man, one family driven
from the land; this rusty car creaking along the highway to the west. I lost my land, a

single tractor took my land. I am alone and I am bewildered. And in the night one family
camps in a ditch and another family pulls in and the tents come out. The two men squat
on their hams and the women and children listen. Here is the node, you who hate change

and fear revolution. Keep these two squatting men apart; make them hate, fear, suspect
each other. Here is the anlage of the thing you fear. This is the zygote. For here "I lost my
land" is changed; a cell is split and from its splitting grows the thing you hate—"We lost
our land." The danger is here, for two men are not as lonely and perplexed as one. And

from this first "we" there grows a still more dangerous thing: "I have a little food" plus "I
have none." If from this problem the sum is "We have a little food," the thing is on its way,
the movement has direction. Only a little multiplication now, and this land, this tractor

are ours. The two men squatting in a ditch, the little fire, the side-meat stewing in a
single pot, the silent, stone-eyed women; behind, the children listening with their souls
to words their minds do not understand. The night draws down. The baby has a cold.
Here, take this blanket. It's wool. It was my mother's blanket—take it for the baby. This is

the thing to bomb. This is the beginning—from "I" to "we." If you who own the things
people must have could understand this, you might preserve yourself. If you could
separate causes from results, if you could know that Paine, Marx, Jefferson, Lenin, were

results, not causes, you might survive. But that you cannot know. For the quality of
owning freezes you forever into "I," and cuts you off forever from the "we." The Western
States are nervous under the beginning change. Need is the stimulus to concept, concept
to action. A half-million people moving over the country; a million more, restive to move;

ten million more feeling the first nervousness. And tractors turning the multiple furrows
in the vacant land.
GRAPES OF WRATH, CAP 14

A Harlem Renaissance
Foi um período que durou os anos 1920 e 1930. Os afroamericanos se utilizaram da música, literatura e
artes plásticas para mostrar sua cultura própria. Muitos acreditam que esse incentivo à cultura negra veio
dos trabalhos de W. E. B. du Bois (1868-1963), sociólogo, historiador e ativista, que incentivava a
necessidade da libertação dos negros das tradições e padrões dos brancos, e construindo ou reforçando uma

identidade negra.
Foi um período de intensa experimentação, mas havia pouca violência envolvida, pois a maioria dos
brancos aceitava o movimento. Muitas novas ideias surgiram e eram inovações. O desenvolvimento do jazz

foi um exemplo de como a improvisação era bem-vinda. A cidade de Nova York e o bairro do Harlem, mais
especificamente, tornaram-se centros de cultura negra, cheios de bares e clubes com música e dança.
Legenda: CONJUNTO DE PRéDIOS CONSTRUíDOS NO HARLEM PARA A POPULAçãO AFRO-AMERICANA

NA DéCADA DE 1930

Em resposta ao ambiente altamente intelectual e cheio de inovações, como as vanguardas europeias,


muitos artistas começaram a desenvolver trabalhos originais e de qualidade sobre a vida dos negros
americanos. Esses trabalhos atraíram muitos negros como leitores, e como novidades da cultura em geral,

atraíram também a atenção de editores e de leitores brancos.


Escritores associados a essa geração foram: Arna Bontemps, Langston Hughes, Claude Mckay, Countee
Cullen, James Weldon Johnson, Zora Neale Hurston e Jean Toomer.

Para além de um movimento artístico, ele também era um movimento político de consciência racial, que
misturava o “volta à África” de Marcus Garvey, a luta por integração racial, o sucesso estrondoso do jazz,
blues, da pintura, do drama e de muitas outras manifestações.
O ano de início é 1924, com o lançamento da revista Opportunity, que dava chances para escritores negros

publicarem. O final da grande explosão, mas que deixou marcas nas décadas seguintes foi 1929, com a
quebra da bolsa e a Grande Depressão, que fez com que muitos artistas deixassem Nova York para assumir
outras profissões e o grupo se dissolveu.

Um dos motivos do influxo de negros em cidades do norte estava relacionado com as Jim Crow Laws, que
eram uma forma de o sul manter socialmente um regime de segregação que a guerra de secessão eliminou
politicamente. No começo do século XX, uma praga no algodão fez com que muitos procurassem emprego
em outros lugares. Muitas fábricas precisavam de mão-de-obra que havia sido perdida com a afluência de

muitos brancos no pós-Primeira Guerra. Igualmente um Decreto de 1924 que interrompia a imigração
europeia causou uma necessidade de mais trabalhadores. E a grande inundação do Mississipi fez com que
muitos negros perdessem suas casas ou empregos, encorajando a mudança.
A Renaissance foi um movimento que serviu de modelo e para os movimentos pelos direitos civis nos anos
1950 e 1960. Um dos seus lugares mais conhecidos era o Cotton Club, onde pessoas como Louis Armstrong,
Duke Ellington, Bessie Smith, Ella Fitzgerald e Billie Holiday foram lançados.

Vamos falar de uma das figuras literárias mais importantes da época: Langston Hughes.

Legenda: LANGSTON HUGHES, POR CAL VAN VANCHTEN, EM 1936

Hughes nasceu em Joplin, Misouri em 1902. É considerado um dos escritores mais contundentes, pitorescos
e realistas ao mostrar a vida dos negros nos Estados Unidos. Ele escreveu poemas, contos, romances e peças

de teatro, e é famoso pelo seu envolvimento com o mundo do jazz e a influência que esse teve na sua
escrita. Ele queria contar histórias sobre seu povo de forma que refletisse uma cultura própria e livre e
autêntica: com seu sofrimento, seu amor pela música, pela risada e com sua forma própria de utilizar a

linguagem.
Uma das novidades de Hughes foi tomar por inspiração os ritmos da música negra tradicional, como jazz e
blues, mas no poema que veremos a seguir, “The Negro Speaks of Rivers”, é a herança do negro spiritual*,
que está presente no poema nas imagética majestosa e nas repetições sonoras.

Segundo a Wikipedia, a música chamada de spiritual é uma canção de inspiração do escravo negro.

Embora às vezes o spiritual seja alegre e num andamento mais allegro com o chamado Shout (em
português, "grito"), para a dança entre eles, grande parte dos spirituals tem um tom manso, num
andamento "largo" e meditativo e, os negros, acorrentados, poderiam cantar sentados e a capella.

Mas, a ideia do espiritual vem de uma raiz bíblica, das canções espirituais que podemos encontrar
na leitura desta, com a menção de "Canções espirituais".
O Spiritual dos Afro-americanos começou a surgir durante os anos da escravidão, que podem ir até

bem antes da Revolução americana, de 1776, mas foi só por volta de 1860 que a música começou a
ser publicada. Neste ano vários estados já haviam emancipado a escravidão.
Apesar da entonação religiosa o Spiritual dos Afro-americanos tinha, principalmente, uma função
política objetivando o fim da escravidão. Nestas canções os abolicionistas e/ou escravos já libertos

(a estes, normalmente, é atribuída a autoria de tais canções) inseriam códigos/expressões que


mostravam aos escravos caminhos para sua fuga e, consequentemente, meios de localiza-los. O
texto, frequentemente, é simples e tem uma frase principal para cada verso, que se repete, às vezes

até quatro vezes (as quatro frases melódicas do primeiro verso); e, no refrão, finalmente responde o
que os versos repetem.

Legenda: CANçãO GOSPEL TRAIN, PELA BANDA UNITED STATES NAVY BAND, TíPICA MúSICA SPIRITUAL.

Escrito quando o autor tinha apenas 17 anos, enquanto ele atravessava o Mississipi de trem, o poema é uma
afirmação da força histórica dos negros, que Hughes faz remontar ao antigo Egito e à África como um todo
como o berço da civilização. No final, ele conclui com a mesma ideia do rio enquanto berço de lama, e as

cores se misturando, no dourado do ocaso:

POETRYARCHIVE.ORG
The Negro Speaks of Rivers
I've known rivers:
I've known rivers ancient as the world and older than the flow of human blood in human veins.

My soul has grown deep like the rivers.

I bathed in the Euphrates when dawns were young.


I built my hut near the Congo and it lulled me to sleep.
I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.
I heard the singing of the Mississippi when Abe Lincoln went down to New Orleans, and I've seen its
muddy bosom turn all golden in the sunset.

I've known rivers:


Ancient, dusky rivers.

My soul has grown deep like the rivers.


Outro poema de Hughes, “I, too” foi escrito quando o autor tentava voltar para os Estados Unidos da Europa
e não conseguiu embarcar por causa da sua cor. É um poema de denúncia de uma injustiça social. O “eu”
que fala no romance se compara ao progresso enquanto força inexorável:

I, too, sing America.

I am the darker brother.


They send me to eat in the kitchen
When company comes,
But I laugh,
And eat well,
And grow strong.

Tomorrow,
I'll be at the table
When company comes.
Nobody'll dare
Say to me,
"Eat in the kitchen,“
Then.

Besides,
They'll see how beautiful I am
And be ashamed--

I, too, am America.
POETRYARCHIVE.ORG

Outros escritores da mesma geração:


James Weldon Johnson: foi uma das figuras principais do período, autor do romance pioneiro
Autobiography of an Ex-Coloured Man (1912), e mais conhecido por seu God’s Trombones (1927), um
conjunto de sete sermões escritos em verso livre que apresenta o estilo e temas de um pregador negro. Seu
estilo é puro e eloquente. Ele serviu como mentor para muitos dos que formaram o grupo do Harlem.
Claude Mckay: imigrante da Jamaica, produziu uma grande quantidade de poemas, vistos em Harlem
Shadows (1922) e o romance popular Home to Harlem (1928), sobre um negro que volta da Primeira Guerra.
Countee Cullen: um importante poeta negro. Ele ajudou muitos poetas novos a serem reconhecidos por
meio da edição de Caroling Dusk: An Anthology of Verse by Negro Poets em 1927.
Zora Neale Hurston: publicou sua obra-prima em 1937, Their Eyes Are Watching God, no quale ela apresenta
a miséria da vida dos negros nos Estados Unidos. Era a história de Janie Crawford, uma negra de meia-
idade, em busca de sua felicidade. Ela criou personagens muito vívidos e a história possui muitos elementos
autobiográficos.
Jean Toomer: é conhecido por uma obra diversa, com contos, poemas e peças de teatro. Costumava se
identificar como “americano” e resistia sua identificação enquanto artista negro.

ATIVIDADE

Quais características tornaram o bairro de Harlem, em Nova Iorque, um

reduto de intelectuais e de inovações artísticas?

A. O bairro contava com uma ampla rede de teatros e lugares públicos destinados a criação e

propagação da cultura americana.


B. O sucesso do jazz e a aceitação e inovação da cultura afro-americana em manifestações artísticas em
bares, clubes de música e dança no bairro.
C. A decadência do bairro levou a expulsão da população afro-americana, dando espaço ao
desenvolvimento da cultura de guetos de imigrantes hispânicos.
D. Com o desenvolvimento econômico do bairro após a Grande Depressão de 1929, uma elite
consumidora de arte e cultura em geral se formou e impulsionou essas inovações.

REFERÊNCIA
BESSA, Maria Cristina. Panorama da Literatura Americana. São Paulo: Alexa Cultural, 2008.
PASSOS, John Dos. USA. Harmondsworth, Middlesex: Penguin, 1981.

ROYOT, Daniel. A Literatura Americana. Série Essência. Tradução Maria Helena Vieira de Araújo. Revisão
técnica Marcos César de Paula Soares. São Paulo: Ática, 2009.
STEINBECK, John. The Grapes of Wrath and Other Writings, 1936-1941. New York: Literary Classics of the
United States, 1996.
VANSPANCKEREN, Kathryn. Outline of American Literature. Washington, D.C.: U.S. Information Agency,
1994.
www.PoetryArchive.org (http://www.poetryarchive.org/)

www.en.wikipedia.org (http://www.en.wikipedia.org/)

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