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As canções de protesto social...

“As coisas não caem do


céu”
(Leoni)

Será que a gente se


esquece
Ou nunca chegou a saber
Que esse mundo é nosso
Quando a gente toma
posse
Arregaça as mangas
E faz o que tem que fazer
(...)
A música para a maioria das
pessoas é uma forma de
expressar sentimentos, desejos,
frustrações, críticas, reflexões...
Em uma das suas formas
mais concretas que é a canção
popular, a música tem o poder
também de abrir os olhos da
humanidade para as questões
sociais, históricas, políticas,
econômicas, culturais e
ideológicas que envolvem o
homem e a luta por seus
direitos de cidadão.
O Brasil e as canções de protesto social
Para muitos músicos, a canção não deve falar de
coisas banais, mas sim, explorar letras na tentativa de
mudar a realidade cruel em que grande parte do mundo
vive, é buscar através da música a liberdade para a
humanidade.
O gênero Canção com referência ideológica (ideias
que formam o pensamento e a atitude do homem na
sociedade) existe há muito tempo, mas foi a partir da
década de 1960 que a música, como forma de protesto,
ganhou popularidade, em especial com as bandas
britânicas Beatles e Rolling Stones, com a expressividade
do rock. Levantando diversas questões como, por exemplo,
discussões em favor da liberdade de expressão, pelo fim
das guerras e do desarmamento nuclear.
Durante a década de 1960, a discussão sobre as
relações entre o Brasil e os Estados ocupou diversos
espaços de debate. Neste contexto cultural, alguns
estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE)
decidiram estabelecer um projeto onde defenderiam a
prática de gêneros musicais considerados populares para
alertar a população contra as questões de natureza
política. Para tanto, estabeleceram a criação dos Centros
Populares de Cultura, também conhecidos como CPC’s.
Utilizando da canção como instrumento de
engajamento político, os artistas envolvidos com esse
projeto tinham a preocupação de denunciar a alienação
cultural do Brasil em relação aos E.U.A.
Dessa forma, inseriam conteúdo político de suas
canções com o objetivo de promover a comunhão de suas
perspectivas políticas.
Em 1964, o governo do
presidente João Goulart
sofreu um golpe, foi deposto
pelas forças do Exército
brasileiro: o Golpe Militar.
A Ditadura foi imposta no
Brasil. A repressão e a
censura instauradas pelo
regime militar deram origem
a movimentos musicais que
viam na Canção uma forma
de criticar o governo e de
chamar a população para
lutar contra o sistema político
vigente.
Os grandes nomes desse
período foram Gilberto Gil,
Caetano Veloso, Chico
Buarque, Geraldo Vandré,
entre outros. Usando na letra
de suas músicas metáforas e
ambiguidades, títulos como:
“É Proibido Proibir”, “Que as
Crianças Cantem Livres” e
“Para Não Dizer que Não
Falei das Flores” fizeram
sucesso na época e até hoje
ainda fazem.
Com cada obra
artística sendo obrigada a
ser aprovada pelos
sensores os compositores
se esforçavam para
escrever letras com
mensagens nas
entrelinhas, geralmente
contendo temas como
opressão, abuso de
poder, violência da
Cálice! polícia, união do povo, a
manipulação da
Cale-se! educação e da cultura, a
morte pelo silêncio.
Nos anos 80 surgiram as
principais referências musicais
da atualidade. A luta era pela
democracia plena, por direitos
civis e sociais como moradia,
educação e acesso aos bens
culturais. A cantora Fafá de
Belém tornou-se a musa das
Eleições diretas para
presidente. Cantava o hino
nacional em comícios
espalhados por todo o Brasil.
Manisfestação pelas Diretas Já – Rio de
Janeiro
Após o movimento pelas
eleições diretas, no dia da
eleição que definiu Tancredo
Neves como presidente em 15
de janeiro de 1985 pelo voto
indireto de um colégio eleitoral a
banda Barão Vermelho, liderada
pelo cantor Cazuza, encerrou
uma participação no festival
Rock in Rio ao som da música
Pro Dia Nascer Feliz, que
ganhou todo o sentido para os
jovens da época quando o
vocalista improvisou em cima
da letra original.
Os anos 80 marcaram o
surgimento dos principais nomes
do rock nacional, em especial as
bandas nascidas em Brasília e São
Paulo como Legião Urbana, Plebe
Rude, Paralamas do Sucesso,
Capital Inicial e Titãs.
Cada dessas bandas traziam
seu próprio estilo e suas
indignações contra os problemas e
a enganação da sociedade. Na
música “Geração Coca-Cola” do
grupo Legião Urbana, é possível
ver a indignação contra a
soberania norte-americana sobre o
Brasil e os demais países:
Geração Coca-cola
(Composição: Renato Russo/ Fê Lemos)

“Quando nascemos fomos programados


A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados
Dos U.S.A., de nove as seis.

Desde pequenos nós comemos lixo


Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de
vocês

Somos os filhos da revolução


Somos burgueses sem religião
Somos a geração Coca-cola
(...)
Na década de 90 O cantor e
compositor pernambucano Chico
Science, um ícone do
movimento ‘mangue beat’, foi
autor de músicas de forte teor
social. Canções como “A cidade”
traziam mensagens como:

“A cidade não pára, a cidade só


cresce, o de cima sobe e o
debaixo desce” ou
“E no meio da esperteza
internacional, a cidade até que
não está tão mal, a situação
sempre mais ou menos, sempre
uns com mais e outros com
menos”.
O grupo carioca O Rappa é
outro nome da geração anos
90 que sempre abordou
questões importantes do
ponto de vista social, mas foi
uma canção composta para
uma campanha publicitária
de uma fabricante de
automóveis, que se tornou
muito popular no meio dos
recentes protestos:

“Vem pra rua”


Vem vamos pra rua
Pode vir que a festa é sua
Que o Brasil vai tá gigante
Grande como nunca se viu
(...)
Em 2013, em plena democracia,
protestos voltaram a parar o país
nos meses de junho e julho – e,
com eles, voltaram à cena as
canções de protesto. As
manifestações que lotaram as
ruas do país, impulsionadas pelo
aumento das tarifas do
transporte público, reuniram
mais de 1 milhão de pessoas
pelo Brasil todo apenas no dia
20 de junho.
“Vem pra rua!”. Essa foi uma das
frases mais repetidas durante o
período.
Segundo especialistas, a música mais autêntica de manifesto
que se faz no país hoje não vem da classe média, mas sim da
periferia. O fenômeno é muito diferente do que ocorria nos
anos 1960.
Hoje, você tem críticas sociais e políticas muito mais
contundentes do que na década de 60. Um disco dos
Racionais MC’s, por exemplo, é uma crítica muito feroz e
muito dura, pois vem da própria fonte de onde se dá a
opressão.”
Hoje vivemos uma democracia, pelo menos no papel.
Portanto, não existe mais um inimigo público número um.
As canções de hoje protestam contra mazelas pontuais:
violência, desigualdade social, racismo, corrupção entre
outros problemas que a nossa sociedade ainda enfrenta e
que a arte pode ajudar ao indivíduo a repensar , questionar
e a enfrentá-los e a conquistar dias melhores e uma vida
mais justa.

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