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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO

DISCIPLINA Políticas Públicas e Gestão Educacional

PROFESSORA Dulcinea Campos Silva

SEMINÁRIO TEMÁTICO UNIDADE VI: AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. (SISTEMA


NACIONAL DE AVALIAÇÃO)

GRUPO Bianca Pereira Carvalho, Bruno Henrique Ferreira dos Santos, Clóvis
Mariano dos Santos, Elaine Ferreira Wetler Pereira e Gefferson Pereira
Marques.

SÍNTESE
AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. (SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO)

QUESTÃO DE REFLEXÃO:

1 - Como o sistema nacional de avaliação controla e culpabiliza a gestão dos sistemas de


ensino e a escola?

A avaliação educacional mante uma intrínseca relação com uma dada concepção de qualidade da educação.
Em muitas situações, a avaliação é vista como um procedimento que potencializa o aprendizado, e por sua
vez a qualidade. Ao tentarmos definir o que é qualidade nos deparamos com uma tarefa não tão simples, O
conceito de qualidade é, em essência, desprovido de conteúdo e ideologia, o que permite que seja utilizado de
formas tão distintas, Gatti (2014, p. 376) defendia que “o sentido de qualidade precisa ser tornado
transparente, ou por uma conceituação externa clara, ou pela sua construção por um coletivo em consenso”.
Na busca de uma suposta “qualidade”, surgem as avaliações em larga escala na década de 90 aos anos 2000
na rede federal, estadual e municipal da em todos os níveis e modalidades da educação no Brasil, que surgem
pela compreensão de que em muitas situações a avaliação é vista como um procedimento potenciador de
aprendizagens, necessário e eficaz na melhoria da qualidade educativa, o que não invalida que a palavra, por
si só, se associe a controle, prestação de contas ou punição. Daí a avaliação ser reconhecida por muitos como
a solução para os problemas de ineficácia que afetam muitos serviços e instituições e como um meio para
melhorar o seu funcionamento, fazendo crer que mais avaliação é sinal de maior, e melhor, qualidade. Ocorre
que o formato em que as avaliações em larga escala, vem se perpetuando no Brasil, evidenciam o controle da
gestão dos sistemas de ensino e a escola, uma vez que a escola precisa adequar o currículo escolar para o
alcance das “boas notas” e pela competição criada entre escolas, em busca de premiações. Souza (2014)
aponta que a avaliação é, sem dúvida, um caminho promissor em direção à concretização do direito à
educação, no entanto, não pode ser reduzida a medida de proficiência dos alunos, nem seus resultados serem
interpretados exclusivamente como responsabilidade das escolas e dos alunos e suas famílias, remetendo a
uma concepção de qualidade que está sendo difundida para a sociedade brasileira, por meio de uma
estratégia, como diz Afonso (2013, p. 280), “de exacerbação e diversificação de lógicas neoliberais de
transnacionalização da educação, com ênfase na privatização, mercadorização e mercantilização”.

QUESTÃO DE REFLEXÃO:

2 - Que implicações tem isso para o processo de ensino-aprendizagem que tem por pressuposto uma
educação socialmente referenciada?

A avaliação em larga escala seu suposto objetivo é melhorar o desempenho dos alunos, identificar lacunas
de aprendizagem e fornecer informações para a melhoria do ensino. No entanto, essa abordagem também tem
sido frequentemente associada à culpabilização da escola e da família, pelo fracasso dos estudantes.
A aprendizagem é um processo complexo que envolve uma interação interativa entre diferentes atores,
incluindo a família, a comunidade e até mesmo o contexto socioeconômico. Fatores como o ambiente
familiar, acesso a recursos educacionais fora da escola, condições socioeconômicas desfavoráveis e até
mesmo questões de saúde podem afetar significativamente o desempenho dos alunos. Portanto, atribuir
exclusivamente a responsabilidade do fracasso aos professores e à escola é injusto e simplista. Além disso, a
ênfase excessiva na avaliação em larga escala pode levar a distorções nos processos educacionais. O foco
exagerado nos resultados dos testes está levando a uma educação voltada para a busca de bons resultados, em
detrimento de uma aprendizagem significativa, criando um ambiente escolar pautado na cobrança de
conteúdos específicos, em vez de desenvolver habilidades e competências essenciais para a vida dos alunos.
Outro aspecto relevante é o impacto negativo que a culpabilização da escola pode ter na motivação e emoção
dos professores. A pressão constante para melhorar os resultados nas estimativas em larga escala pode gerar
um ambiente de estresse, onde os sentidos sentem-se desvalorizados e desmotivados. Isso pode comprometer
sua capacidade de inovar, adaptar-se às necessidades dos alunos e proporcionar uma educação de qualidade.

Fazendo uma relação dialética entre a realidade da gestão das políticas educacionais e a teoria
científica, podemos perceber que a suposta qualidade almejada pelas avaliações em larga escala,
eclodiram em uma manobra que trazem subjacente a possibilidade perversa de ilação de uma
desigualdade nos padrões de oferta educacional, forjando qualidades diferenciadas no interior das redes e
escolas públicas, estudos já evidenciam que estas avaliações vêm alterando a organização do trabalho
escolar, e, ainda, o modo como vêm se concretizando a gestão das escolas e da carreira docente. Segundo
Freitas (2018) a lógica neoliberal, vem convertendo nossas escolas em organizações empresariais
deslocando nossos estudantes para uma profissionalização precoce, em uma linha direta com o mercado de
trabalho, tolhendo suas perspectivas de futuro e convertendo-as em um ensino “precariado”. O poder de
mudança nas escolas não está nas avaliações externas, mas sim, nos atores da organização escolar e de sua
comunidade local. Devemos envolver a comunidade escolar, envolvendo-a na crítica de sua escola e fazê-la
interessar-se pela construção da qualidade da escola para seus filhos. A melhoria da escola pública deve ser
um processo de baixo para cima e não um processo de responsabilização de cima para baixo e que envolva o
desenvolvimento de modelos multidimensionais de avaliação, incluam aspectos qualitativos e quantitativos
ampliando a participação dos atores da escola, permitindo a apropriação dos resultados das avaliações pela
comunidade escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:  

1 – MORGADO, José Carlos. Da qualidade da avaliação à avaliação de qualidade. In.:  Políticas e


gestão da educação: olhares críticos em tempos sombrios. / Oséias  Santos de Oliveira, Sueli
Menezes Pereira, Neila Pedrotti Drabach (org.). – Curitiba:  Ed. UTFPR, 2016. Disponível em:
repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2055/2/politicasgestaoeducacao.pdf  

2 WERLE, Flávia Obino Corrêa. Políticas de avaliação em larga escala na educação  básica: do
controle de resultados à intervenção nos processos de operacionalização  do ensino. Ensaio: aval.
pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 19, n.73, p. 769-792,  out./dez. 2011.  

3 FREITAS, Luiz Carlos. A REFORMA EMPRESARIAL DA EDUCAÇÃO: Nova direita, 


velhas ideias. EXPRESSÃO POPULAR São Paulo • 2018.  

4 - SOUSA, Sandra Zákia. Concepções de qualidade da educação básica forjadas por  meio de
avaliações em larga escala. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 19, n. 2,  p. 407-420, jul.
2014  

5 - OLIVEIRA,S.B.; MENEGÂO, R.C.S.G. Vida e morte do grande sistema escolar  americano:


como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a  educação (Resenha do livro de
autoria de Diane Ravitch, traduzido por Marcelo  Duarte) Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 119, p.
647-660, abr.-jun. 2012. Disponível  em: http://www.scielo.br/pdf/es/v33n119/a17v33n119.pdf.
Acesso em:  03.08.2018.

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