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Resumo
Este artigo investigou quais percepções os educandos, dos cursos integrados do IFCE, têm sobre o
ensino de artes para suas formações. Na metodologia, além de pesquisa bibliográfica, fez-se
pesquisa de campo, cujo locus foram as turmas dos cursos integrados da Instituição. Utilizando a
história oral, a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas com os educandos.
Por fim, se considerou que o ensino de artes, para eles, ganha sentido ao ajudá-los a se relacionar
com o mundo para além da perspectiva da sala de aula, considerando especialmente a formação
pessoal e, que, embora os educadores conduzam o ensino de artes como algo que prima pela prática
aliada à teoria em suas metodologias, é recorrente nos discursos dos educandos o desejo por mais
aulas práticas. Talvez porque o educando tenha necessidade de ser um protagonista ainda mais
atuante nesse processo de aprendizagem, podendo expressar mais livremente seus sentimentos.
Palavras-chave: Ensino de Artes. Educando Cursos Integrados. IFCE.
Introdução
Pode-se dizer que a Arte e seu ensino tem uma considerável importância em nossa
sociedade, embora ainda passe por inúmeros problemas quando se leva em conta o
cotidiano escolar, as condições de trabalho, a formação de professores em “Artes” e a
relação com os gestores educacionais, sobretudo na educação básica.
As reflexões de Rosa Iavelberg ajudam a pensar sobre o valor da Arte, o papel e a
formação do professor de Artes e sua relação fundamental com a sala de aula.
Partindo dessa compreensão de Arte, é que se pode pensar no papel que a escola
pode exercer ao assumir a função de levar o ensino de Artes para o educando como uma
importante área do conhecimento com capacidade de influir na formação do cidadão que
poderá agir de forma mais reflexiva ao tomar decisões que envolvem a si e ao outro.
O fato é que o Instituto Federal do Ceará – campus Fortaleza nasceu uma
instituição tecnicista em 1909, levando isto em consideração, pode-se dizer que o mesmo
foi pioneiro no que se refere ao ensino de Artes nos institutos federais, quando na década
de 1980 sistematizou esse ensino, no cotidiano dos educandos, criando, a partir da
Coordenação de Atividades Artísticas, uma Casa de Artes para abrigar o Projeto Arte-
Educação, até alcançar hoje o currículo dos cursos integrados como uma disciplina na
grade curricular dos cursos integrados (GOMES, 2014).
No início da década de 2000, a Instituição deu outro passo à frente na Rede dos
Institutos Federais ao criar o curso Técnico em Música, o de Tecnologia em Artes Plásticas
e o de Tecnologia em Artes Cênicas. Em 2008, os dois últimos se tornaram Licenciatura
em Artes Visuais e em Teatro para atender uma demanda histórica do Ceará por formação
superior na área de Artes.
Assim, conhecer o ensino de Artes no IFCE, campus Fortaleza, é uma forma de
contribuir tanto para a historicidade desse percurso quanto para diagnosticar a realidade
desse ensino possibilitando ampliar a valorização dessa área de conhecimento.
Para tanto essa pesquisa problematizou investigar quais as percepções que os
educandos têm sobre o ensino de artes para suas formações? E se a didática e as
metodologias empregadas atendem as expectativas desses educandos?
Iniciou-se com uma pesquisa exploratória dentro do Departamento de Ensino
Médio e Licenciatura (DEMEL) para saber como é o processo do ensino de Artes dentro
grade curricular dos cursos integrados, como é distribuída a carga horária ligada à
disciplina e quem são os professores que ministram essas aulas.
É, eu acho que é necessário até porque a gente têm que ver isso... de
agora mesmo, porque são movimentos corporais, é o grafite, é
englobando tudo que é a Arte, o que a Arte provoca. Eu acho que é
necessário pra gente ter ideias melhores sobre o mundo (LIMA, nov.,
2017) 4.
Eu acho que é muito importante a gente ter essa visão da Arte no geral
porque eu acho que a Arte ela faz com que você não viva dentro de uma
bolha, e você consiga perceber o mundo ao seu redor (SOUSA, nov.,
2017) 7.
É possível notar que os educandos têm diferentes perspectivas sobre como o ensino
de Arte pode importar em sua formação, mas que de alguma forma os discursos se
relacionam a partir do momento em que eles colocam em questão a Arte para ajudá-los a se
relacionar com o mundo para além da perspectiva da sala de aula, levando especialmente
para a formação pessoal. Algo que corrobora com as reflexões de Ana Mae Barbosa:
4
Entrevista concedida por BANDEIRA, Ramon Yuri. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).
5
Entrevista concedida por GUREL, Clara Valentim. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (2 min).
6
Entrevista concedida por VIANA NETO, Osvaldo Mariano. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3 (2
min).
7
Entrevista concedida por SOUSA. Marina Oliveira de. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).
No momento, eu acho que não é tão importante pro meu objetivo, mas...
sem querer desmerecer a Arte ainda seria importante. (BANDEIRA, out.,
2017)8
Acho que ela é relevante por questão de saber sobre... Historicamente das
coisas também, porque a Arte envolve muita essa questão de história,
sobre... sei lá, pintura essas coisas... (ROCHA, nov., 2017)10
Com base nas repostas, pode se notar que as percepções variam. No primeiro
depoimento, o educando parece não acreditar que o ensino de Artes possa influenciar na
sua formação. No terceiro, o educando associa a realidade do ensino de Artes à
historicidade, ao ensino que educa sobre a Arte que já foi feita, que já foi produzida e seu
valor histórico, sendo assim, àquilo que pode ser cobrado em provas, testes, vestibulares,
dando a esse ensino uma utilidade prática. Já a segunda reposta, vem na contramão das
duas outras, o educando aponta o quanto o ensino de Arte foi importante para a sua
formação pessoal e futura formação profissional.
Notando a discrepância entre os depoimentos, acredita-se que há mais do que a
experiência atual que os educandos vivem no IFCE, campus Fortaleza, que influencia o
ocorrido. Os mesmos têm experiências diferentes no ensino fundamental no processo de
8
Entrevista concedida por BANDEIRA, Ramon Yuri. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).
9
Entrevista concedida por NOGUEIRA, Allana de Sousa. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5
min).
10
Entrevista concedida por ROCHA, Suellen Freitas de. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3min).
Sim. Eu já tive aula de Artes numa escola que eu estudei até... até metade
do nono ano. Desde que eu entrei lá, eu tive aula de Artes, e era bem
legal, sendo que aqui eu acho que é mais prático, a gente faz coisas mais
diferentes. Lá a professora ficava muito presa ao livro, só... só lia o livro,
passava resumo e tinha a prova e tal, mas nada muito prático, nada muito
que interessasse realmente os alunos. Aqui eu acho que é diferente das
aulas que eu tive em outra escola. (PEREIRA, nov., 2017)11
Artes era só desenho, pinturas. Aqui, não. Aqui você vai para outras
vertentes: teatro, consciência corporal, música, poemas. (BATISTA, nov.,
2017)12
11
Entrevista concedida por PEREIRA, Luana Cavalcante. (nov.2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (7
min).
12
Entrevista concedida por BATISTA, Brennda Adelaydy Rodrigues. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (2 min).
Sim, na minha antiga escola tive uma professora muito boa que ela
realmente ensinava Arte mesmo. Ela ensinava sobre as técnicas de
pintura, sobre os pintores, sobre música também. Ela ensinou tudo. E foi
uma experiência muito boa porque antigamente tinha só aquela coisa de
entregar uma folha e a gente desenhar, mas não, ela ensinou a Arte, a
história, a prática, tudo pra gente. (MAIA, nov., 2017)14
13
Entrevista concedida por FARIAS, Sabrina Gomes. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (4 min).
14
Entrevista concedida por MAIA, Emanuela Duarte. (nov. 2017. Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5 min).
É... já. Mas na minha outra escola, a professora focava a gente tipo em
apresentações, entendeu? Artísticas... Tipo ... ela fez... Ela ensinou assim de certa
forma a gente a cantar pra gente fazer um coral no shopping. Ela fez isso.
(FARIAS, nov., 2017)15
Arte... Já, estudando algum tempo, todo, todo professor que vem
ensinando diz que Arte não tem uma definição... Mas na minha opinião é
tudo aquilo que pode ser estudado como uma cultura, vivenciado... É
isso. (ARAÚJO, nov., 2017)16
15
Entrevista concedida por FARIAS, Leonardo Siebra. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3 (6 min).
16
Entrevista concedida por ARAÚJO, Pedro Henrique Lians de. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3,
(3 min e 4 segundos).
17
Entrevista concedida por PEREIRA, Sabrina Gomes. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (6min e
51 segundos).
Na percepção dos educandos, a Arte pode ser muitas coisas: desde cultura até ações
como a comunicação verbal que se estabeleceu para realizar a entrevista. Aparece também
como algo que todos podem desenvolver: a cultura que nos cerca, as coisas que podemos
produzir por meio da expressão dos nossos sentimentos, a maneira como vivemos e
agimos.
Ampliando essa relação, indagou-se se eles usufruíam Arte em seu cotidiano. As
repostas estavam diretamente ligadas ao consumo de músicas, filmes, séries. Coisas que
são de fácil acesso e cômodas, uma vez que podem ser obtidas no conforto da própria casa,
na tela do celular sem que o indivíduo precise necessariamente se locomover ou explorar
um novo ambiente, um espaço diferente daquele com o qual está habituado, um espaço que
possibilite descobertas, novas experiências e vivências. O que levou a uma pergunta mais
direta sobre essa fruição: “Você costuma ir a espetáculos de dança, peças, concertos,
museus?”.
A maioria das respostas foi negativa. Questionados se era por dificuldades de
acesso ou falta de costume ou interesse, os depoimentos apontam, em grande parte, falta de
interesse e de costume. Embora, muitas vezes, vários desses jovens só tenham acesso a
esses lugares, nos quais a essência é produzir e mostrar Arte, quando a Instituição por meio
do professor propõe uma visita a um museu, a um concerto, a um espetáculo.
18
Entrevista concedida por COSTA, Brian Silva Melo da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5min
e 47 segundos).
19
Entrevista concedida por NOGUEIRA, Allana de Sousa. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3,
(5min e 35 segundos).
Ai! Arte para mim, eu acho que é uma forma de você se expressar,
entendeu? Poder expressar o que você tá sentindo, poder expressar suas
opiniões, é uma forma de expressão (GURGEL, nov., 2017).22
A definição de que Arte é expressão de sentimentos foi recorrente entre as falas dos
educandos. Talvez porque nos relatos, entre eles, o consumo de Arte se dê por meio de
músicas, filmes, séries, livros e, nessa forma, muitas vezes, o autor do conteúdo que
consomem, produziu-o parar expressar seus sentimentos, sua realidade.
Provavelmente por isso seja comum na fala dos educandos o desejo por mais aulas
práticas.
Acho que deveria ser mais prática; só isso. A gente fica ali e ela fica
falando... A arte aqui até que é legal porque é metade da aula ela falando
e o resto é prático. Mas eu acho que deveria ser mais prática; tipo a gente
deveria estudar, não sei a gente devia – é porque agora a gente só tá
vendo pintura, essas coisas, mas eu acho que eu nunca... em nenhum
colégio eu estudei sobre teatro, em que a professora pedia pra gente fazer
um teatro. Eu sempre estudei ou fotografia ou pintura, tipo música, a
gente escuta a música ou discutir sobre música, não sei. Acho que devia.
(LEITE, nov., 2017). 23
Com mais coisas práticas, com mais... coisas pra gente desenhar mesmo,
escrever mesmo, não só o professor falando e a gente entendendo. Com
mais interação. (ROCHA, nov., 2017)24
20
Entrevista concedida por SILVA, Pablo do Nascimento. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5
min e 39 segundos).
21
Entrevista concedida por Gonçalves, Michel Douglas da Silva. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (2 min e 44 segundos).
22
Entrevista concedida por Gurgel, Clara Valentim. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (2 min
19seg).
23
Entrevista concedida por LEITE, Ana Beatriz de Oliveira Sousa. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (5 min e 11 segundos).
24
Entrevista concedida por ROCHA, Suellen Freitas da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min
e 53segundos).
Existe para eles o que parece ser uma relação entre a Arte como expressão de
sentimentos e a ideia de aulas práticas. Evidenciando que mais do que apropriadas essas
aulas, são necessárias. Na pesquisa ficou evidente que as aulas práticas já existem, mas
tudo indica que as mesmas ainda precisam levar mais em consideração as expectativas
desses educandos, talvez eles queiram ser protagonistas mais atuantes nessas práticas
entrelaçando o conteúdo debatido à suas percepções e visão de mundo e, sobretudo, ao
desejo de se expressar.
Considerações Finais
O ensino de Artes nos cursos integrados está restrito a duas aulas semanais e é
ministrado em algumas turmas pelo professor de música e, em outras, pelos licenciandos,
do estágio supervisionado das Licenciaturas em Artes Visuais e em Teatro, orientados por
professores dos referidos cursos.
Observou-se que existem diferentes percepções dos alunos que passam pela mesma
experiência dentro do IFCE, campus Fortaleza, sobre como o ensino de Artes pode
influenciar em suas formações. Atribuiu-se isso as primeiras experiências com a disciplina
Artes e, a partir daí, não só se formou um parâmetro sobre como essas experiências atuam
para formar essa percepção sobre esse ensino, mas também, foi possível observar que
grande parte dos educandos está vivenciando uma disciplina diferente em relação a esses
primeiros anos de ensino que tiveram em outras instituições. Assim o ensino de artes,
ganha sentido ao ajudá-los a se relacionar com o mundo para além da perspectiva da sala
de aula, considerando especialmente a formação pessoal.
Constatou-se que a concepção desses discentes sobre o que é Arte, em geral, a
relacionam diretamente à cultura. Entretanto, as referências usadas para exemplificar essa
cultura sempre estavam ligadas a elementos que andam lado a lado com a internet, com a
25
Entrevista concedida por ROCHA, Clara Rayane Flávia da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3
min e 34 segundos).
Referências
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oral. 6 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
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DUARTE JÚNIOR, João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível.
Dissertação (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas – São Paulo, 2000.
GOMES, Sabrina Linhares. Consolidação do Campo de Educação Musical no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Dissertação (Mestrado em
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Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2014.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
RODRIGUES, Rafaela Nathalia Larocca. SOUSA, Leonardo de Jeronymo. TREVISO,
Vanessa Cristina. Arte-educação: a relevância da Arte no processo de Ensino Aprendizagem.
Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade. Bebedouro, SP, 4 (1): 114-126, 2017.