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O ENSINO DE ARTES NOS CURSOS INTEGRADOS DO INSTITUTO

FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS FORTALEZA: A PERCEPÇÃO DO


EDUCANDO1

Simone Oliveira de Castro2 - IFCE/Campus Fortaleza.


Mirlla Valnice Câmara de Araújo3 - IFCE/Campus Fortaleza.

Grupo de Trabalho Ensino da Arte: sujeitos e processos educativos: GT – 03


Agência Financiadora: CNPq

Resumo
Este artigo investigou quais percepções os educandos, dos cursos integrados do IFCE, têm sobre o
ensino de artes para suas formações. Na metodologia, além de pesquisa bibliográfica, fez-se
pesquisa de campo, cujo locus foram as turmas dos cursos integrados da Instituição. Utilizando a
história oral, a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas com os educandos.
Por fim, se considerou que o ensino de artes, para eles, ganha sentido ao ajudá-los a se relacionar
com o mundo para além da perspectiva da sala de aula, considerando especialmente a formação
pessoal e, que, embora os educadores conduzam o ensino de artes como algo que prima pela prática
aliada à teoria em suas metodologias, é recorrente nos discursos dos educandos o desejo por mais
aulas práticas. Talvez porque o educando tenha necessidade de ser um protagonista ainda mais
atuante nesse processo de aprendizagem, podendo expressar mais livremente seus sentimentos.
Palavras-chave: Ensino de Artes. Educando Cursos Integrados. IFCE.

Introdução
Pode-se dizer que a Arte e seu ensino tem uma considerável importância em nossa
sociedade, embora ainda passe por inúmeros problemas quando se leva em conta o
cotidiano escolar, as condições de trabalho, a formação de professores em “Artes” e a
relação com os gestores educacionais, sobretudo na educação básica.
As reflexões de Rosa Iavelberg ajudam a pensar sobre o valor da Arte, o papel e a
formação do professor de Artes e sua relação fundamental com a sala de aula.

A arte constitui uma forma ancestral de manifestação, e sua apreciação


pode ser cultivada por intermédio de oportunidades educativas. Quem
conhece arte amplia sua participação como cidadão, pois pode
1
Pesquisa vinculada ao Mestrado Profissional em Artes/IFCE e ao Grupo de Pesquisa em Cultura Folclórica
Aplicada/CNPq.
2
Professora doutora do Departamento de Artes do IFCE - Campus Fortaleza. E-mail: simone@ifce.edu.br.
3
Bolsista de iniciação científica da Licenciatura em Teatro/IFCE. E-mail: mirllacxaraujo@gmail.com

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compartilhar de um modo de interação único no meio cultural. Privar o
aluno em formação desse conhecimento é negar-lhe o que lhe é direito. A
participação na vida cultural depende da capacidade de desfrutar das
criações artísticas e estéticas, cabendo à escola garantir a educação em
arte para que seu estudo não fique reduzido apenas à experiência
cotidiana (IAVELBERG, 2003, p. 9/10).

Partindo dessa compreensão de Arte, é que se pode pensar no papel que a escola
pode exercer ao assumir a função de levar o ensino de Artes para o educando como uma
importante área do conhecimento com capacidade de influir na formação do cidadão que
poderá agir de forma mais reflexiva ao tomar decisões que envolvem a si e ao outro.
O fato é que o Instituto Federal do Ceará – campus Fortaleza nasceu uma
instituição tecnicista em 1909, levando isto em consideração, pode-se dizer que o mesmo
foi pioneiro no que se refere ao ensino de Artes nos institutos federais, quando na década
de 1980 sistematizou esse ensino, no cotidiano dos educandos, criando, a partir da
Coordenação de Atividades Artísticas, uma Casa de Artes para abrigar o Projeto Arte-
Educação, até alcançar hoje o currículo dos cursos integrados como uma disciplina na
grade curricular dos cursos integrados (GOMES, 2014).
No início da década de 2000, a Instituição deu outro passo à frente na Rede dos
Institutos Federais ao criar o curso Técnico em Música, o de Tecnologia em Artes Plásticas
e o de Tecnologia em Artes Cênicas. Em 2008, os dois últimos se tornaram Licenciatura
em Artes Visuais e em Teatro para atender uma demanda histórica do Ceará por formação
superior na área de Artes.
Assim, conhecer o ensino de Artes no IFCE, campus Fortaleza, é uma forma de
contribuir tanto para a historicidade desse percurso quanto para diagnosticar a realidade
desse ensino possibilitando ampliar a valorização dessa área de conhecimento.
Para tanto essa pesquisa problematizou investigar quais as percepções que os
educandos têm sobre o ensino de artes para suas formações? E se a didática e as
metodologias empregadas atendem as expectativas desses educandos?
Iniciou-se com uma pesquisa exploratória dentro do Departamento de Ensino
Médio e Licenciatura (DEMEL) para saber como é o processo do ensino de Artes dentro
grade curricular dos cursos integrados, como é distribuída a carga horária ligada à
disciplina e quem são os professores que ministram essas aulas.

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Em seguida, partiu-se para uma pesquisa de campo, na qual a referência é a
metodologia da história oral, por entender que a partir de entrevistas pode-se chegar aos
objetivos da pesquisa e obter um material rico para análise.

Eu partiria da ideia de que a “história oral” é mais do que uma decisão


técnica ou de procedimento; que não é a depuração técnica da entrevista
gravada; nem pretende exclusivamente formar arquivos orais; tampouco é
apenas um roteiro para o processo detalhado e preciso de transcrição da
oralidade; nem abandona a analise à iniciativa dos historiadores do
futuro. Diria que é antes um espaço de contato e influencia
interdisciplinares; sociais, em escalas e níveis locais e regionais; com
ênfase nos fenômenos e eventos que permitam, através da oralidade,
oferecer interpretações qualitativas de processos histórico-sociais.
(AMADO; FERREIRA, 2005, p.16)

Criou-se um roteiro prévio para entrevistas semiestruturadas levando em


consideração os objetivos da pesquisa para a investigação dentro dos seis cursos
integrados. Quais sejam: Edificações, Eletrotécnica, Informática, Mecânica, Química e
Telecomunicações. Decidiu-se entrevistar seis educandos por turma. Foram três do sexo
feminino e três do masculino para que se tivesse um parâmetro de avaliação igual, sem
colocar nenhum gênero com espaço de fala maior que o outro. As entrevistas ocorreram
entre o período de outubro e dezembro de 2017. Por fim, com a realização das entrevistas,
passamos as transcrições e análises das mesmas.
O perfil dos alunos dos cursos integrados vária entre adolescentes de 14 a 17 anos e
jovens adultos de 18 a 21 anos. A média de idade dos entrevistados é 14 a 17 anos.

A arte-educação pretende utilizar a arte no processo de formação humana


para dar sentido ao sentir e a percepção de mundo do ser, utilizando-se
das emoções e referências simbólicas (cultura, memória, criatividade) do
indivíduo. Com isto pretende educar respeitando a cultura herdada e
acrescentando conhecimento a fim de dar instrumentos ao aluno para que
ele venha desenvolver uma capacidade intelectual para saber ser crítico
dentro desta mesma cultura (RODRIGUES; SOUSA; TREVISO, 2017, p.
4).

A percepção do educando sobre o ensino de Artes para sua formação

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Levando em consideração a reflexão acima e compreendendo a importância da Arte
para a formação do educando, desejou-se entender a perspectiva dos mesmos sobre a
percepção que eles têm desse ensino em suas formações:

É, eu acho que é necessário até porque a gente têm que ver isso... de
agora mesmo, porque são movimentos corporais, é o grafite, é
englobando tudo que é a Arte, o que a Arte provoca. Eu acho que é
necessário pra gente ter ideias melhores sobre o mundo (LIMA, nov.,
2017) 4.

Eu acho importante porque tipo... eu utilizo a Arte na minha vida porque


como eu gosto muito de cantar, gosto muito da música, então aqui no IF
eu acabo aprendendo um pouco mais. Então, eu acho ela importante pra
mim (GURGEL, nov., 2017) 5.

É muito bom o ensino de Arte, até porque cai muito em questões de


vestibulares e é muito útil para a formação humana. Muitas pessoas
esquecem do convívio social e a Arte ajuda muito nesse aspecto
(VIANA NETO, nov., 2017) 6.

Eu acho que é muito importante a gente ter essa visão da Arte no geral
porque eu acho que a Arte ela faz com que você não viva dentro de uma
bolha, e você consiga perceber o mundo ao seu redor (SOUSA, nov.,
2017) 7.

É possível notar que os educandos têm diferentes perspectivas sobre como o ensino
de Arte pode importar em sua formação, mas que de alguma forma os discursos se
relacionam a partir do momento em que eles colocam em questão a Arte para ajudá-los a se
relacionar com o mundo para além da perspectiva da sala de aula, levando especialmente
para a formação pessoal. Algo que corrobora com as reflexões de Ana Mae Barbosa:

A Arte na Educação como expressão pessoal e como cultura é um


importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento
individual. Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a
imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a
capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida

4
Entrevista concedida por BANDEIRA, Ramon Yuri. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).
5
Entrevista concedida por GUREL, Clara Valentim. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (2 min).
6
Entrevista concedida por VIANA NETO, Osvaldo Mariano. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3 (2
min).
7
Entrevista concedida por SOUSA. Marina Oliveira de. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).

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e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada (BARBOSA, 2010, p.18).

Todavia, foram selecionadas abaixo respostas de grande divergência de três


discentes da mesma turma.

No momento, eu acho que não é tão importante pro meu objetivo, mas...
sem querer desmerecer a Arte ainda seria importante. (BANDEIRA, out.,
2017)8

Então, eu gosto muito de estudar Arte. Eu acho uma coisa realmente


muito importante, talvez porque eu goste. E esse curso que eu quero
fazer, terapia ocupacional, eu tive essa ideia de fazer ele porque eu já era
interessada em Arte-terapia; que é a junção da terapia com a arte, é ajudar
as pessoas através da Arte, através do teatro, a... é... coisas lúdicas,
assim... [...] Então, pra mim, foi muito importante eu ter estudado a Arte
todos esses anos porque me levou a escolher essa... profissão.
(NOGUEIRA, nov., 2017)9

Acho que ela é relevante por questão de saber sobre... Historicamente das
coisas também, porque a Arte envolve muita essa questão de história,
sobre... sei lá, pintura essas coisas... (ROCHA, nov., 2017)10

Com base nas repostas, pode se notar que as percepções variam. No primeiro
depoimento, o educando parece não acreditar que o ensino de Artes possa influenciar na
sua formação. No terceiro, o educando associa a realidade do ensino de Artes à
historicidade, ao ensino que educa sobre a Arte que já foi feita, que já foi produzida e seu
valor histórico, sendo assim, àquilo que pode ser cobrado em provas, testes, vestibulares,
dando a esse ensino uma utilidade prática. Já a segunda reposta, vem na contramão das
duas outras, o educando aponta o quanto o ensino de Arte foi importante para a sua
formação pessoal e futura formação profissional.
Notando a discrepância entre os depoimentos, acredita-se que há mais do que a
experiência atual que os educandos vivem no IFCE, campus Fortaleza, que influencia o
ocorrido. Os mesmos têm experiências diferentes no ensino fundamental no processo de

8
Entrevista concedida por BANDEIRA, Ramon Yuri. (out. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min).
9
Entrevista concedida por NOGUEIRA, Allana de Sousa. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5
min).
10
Entrevista concedida por ROCHA, Suellen Freitas de. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3min).

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aprendizagem em relação à disciplina Artes até chegarem à Instituição, o que infere
diretamente na sua percepção sobre como a mesma influencia ou não em suas formações.

O ensino de Artes em outro momento da vida escolar


Sabe-se que o IFCE, campus Fortaleza, oferece cursos de nível técnico, graduação,
pós-graduação extensão e a distância. Os cursos de nível técnico são subdivididos entre
Integrados e Subsequentes e os cursos integrados são para quem concluiu o ensino
Fundamental II e deseja ingressar na formação profissional técnica de nível médio,
integrados ao ensino médio tradicional. Tendo em vista que os discentes do IFCE já têm
uma formação de primeiro grau e, provavelmente, uma vivência com o ensino de artes,
uma vez que o mesmo é obrigatório na educação básica, buscou-se compreender como era
esse ensino e se há divergências (metodológicas e didáticas) entre as primeiras
experiências com o ensino de Arte e a atual no IFCE.
É necessário perceber que o processo de ensino-aprendizagem está relacionado e,
consequentemente, influenciado por toda a sua trajetória. Não há como não levar em
consideração essa experiência anterior com o ensino de Arte, pois essa afetará e
influenciará a forma como estes discentes pensam e valorizam a disciplina Artes.
Ao levantar esse questionamento sobre como era o ensino de Artes no ensino
Fundamental, foram recorrentes as palavras: teoria, teórico, pinturas e desenhos.

Sim. Eu já tive aula de Artes numa escola que eu estudei até... até metade
do nono ano. Desde que eu entrei lá, eu tive aula de Artes, e era bem
legal, sendo que aqui eu acho que é mais prático, a gente faz coisas mais
diferentes. Lá a professora ficava muito presa ao livro, só... só lia o livro,
passava resumo e tinha a prova e tal, mas nada muito prático, nada muito
que interessasse realmente os alunos. Aqui eu acho que é diferente das
aulas que eu tive em outra escola. (PEREIRA, nov., 2017)11

Artes era só desenho, pinturas. Aqui, não. Aqui você vai para outras
vertentes: teatro, consciência corporal, música, poemas. (BATISTA, nov.,
2017)12

11
Entrevista concedida por PEREIRA, Luana Cavalcante. (nov.2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (7
min).
12
Entrevista concedida por BATISTA, Brennda Adelaydy Rodrigues. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (2 min).

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Foi no quinto ano. Foi assim... foi bem básico mesmo. A gente não fazia
muitas coisas, a gente só... lia, entendia e depois passava pra prova.
(FARIAS, nov., 2017)13

Sim, na minha antiga escola tive uma professora muito boa que ela
realmente ensinava Arte mesmo. Ela ensinava sobre as técnicas de
pintura, sobre os pintores, sobre música também. Ela ensinou tudo. E foi
uma experiência muito boa porque antigamente tinha só aquela coisa de
entregar uma folha e a gente desenhar, mas não, ela ensinou a Arte, a
história, a prática, tudo pra gente. (MAIA, nov., 2017)14

Geralmente, o ensino de Artes aparece nos depoimentos ligado à teoria da história


da Arte e ao ensino técnico e geométrico do desenho precedente das Artes Visuais e da
influência do neoclassicismo no período em que ele começou a ser difundido no Brasil, e
se mantém até hoje, em prol de um sistema de avaliação que cobra a matéria Arte para o
vestibular.
Contudo, esse processo de conhecimento formal e tecnicista sobre a Arte não é
prejudicial, ele apenas não é aplicado de maneira ideal. O que acaba sobressaindo neste
processo é uma educação mais restrita ao conhecimento racional, que por muitas vezes,
não cria uma via de mão dupla com o educando para que ele possa aplicar aquele
conhecimento em sua vida e aflorar seus sentidos e percepções sobre o mundo e o espaço
em que habita.

Não que informações sobre história da arte ou reflexões estéticas devam


ser postas de lado como inúteis. Pelo contrário: elas são necessárias e
devem fazer parte da educação das novas gerações. Contudo, tais
exercícios consistem em trabalhos racionais, no sentido mais estrito do
termo, contribuindo, de per se, com muito pouco para um verdadeiro
desenvolvimento da sensibilidade, a qual precisa ser estimulada através
de experiências sensíveis (que envolvam os cinco sentidos) e não apenas
de discursos teóricos. Deste modo, tais elucubrações ganhariam muito
mais significação na medida em que se dessem a partir de experiências
sensíveis efetivamente vividas pelos educandos. Experiências as quais,
diga-se logo, não se restringem à simples contemplação de obras de arte,
seja ouvindo música, seja assistindo teatro ou frequentando museus.
(DUARTE JR, 2000, p.189)

13
Entrevista concedida por FARIAS, Sabrina Gomes. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (4 min).
14
Entrevista concedida por MAIA, Emanuela Duarte. (nov. 2017. Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5 min).

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Algumas experiências dos educandos desviaram um pouco deste viés da Arte
Visual, da Arte apenas como desenho ou teoria e construíram uma imagem de outras
linguagens artísticas e de didáticas possíveis dentro da metodologia de ensino das Artes.

É... já. Mas na minha outra escola, a professora focava a gente tipo em
apresentações, entendeu? Artísticas... Tipo ... ela fez... Ela ensinou assim de certa
forma a gente a cantar pra gente fazer um coral no shopping. Ela fez isso.
(FARIAS, nov., 2017)15

Entretanto, quando questionados sobre a disciplina que estão fazendo agora, a


maioria dos relatos expôs que os educandos estão contentes com a disciplina e mencionam
muito o contraponto da teoria: a prática. Parece que o ensino de Artes quando o educando é
o protagonista dessa prática, além de ser mais atraente para os mesmos, também cria uma
ponte interdisciplinar que o leva a perceber a importância da Arte para a sua formação.

A percepção sobre o que é Arte


Algo que se pretendeu compreender foi a concepção dos educandos acerca do que é
Arte e como eles viam e usufruíam a mesma fora do ambiente escolar, pois se entende a
Arte em um âmbito que vai além da disciplina.
Pode-se supor que a mínima relação que o educando já possua com a Arte,
influencia na maneira como eles percebem e se relacionam com seu ensino, uma vez que
essa concepção pode ir de encontro ou ao encontro daquilo que eles vivenciam nas aulas.

Arte... Já, estudando algum tempo, todo, todo professor que vem
ensinando diz que Arte não tem uma definição... Mas na minha opinião é
tudo aquilo que pode ser estudado como uma cultura, vivenciado... É
isso. (ARAÚJO, nov., 2017)16

Acho que Arte é... É os nossos sentimentos em maneira, na tela. Como a


gente... Como a gente tem pra mostrar ao mundo o que nós passamos, o
que outras pessoas podem passar e se relacionar com isso através da
pintura ou qualquer outra coisa. (PEREIRA, nov., 2017)17

15
Entrevista concedida por FARIAS, Leonardo Siebra. (nov. 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3 (6 min).
16
Entrevista concedida por ARAÚJO, Pedro Henrique Lians de. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3,
(3 min e 4 segundos).
17
Entrevista concedida por PEREIRA, Sabrina Gomes. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (6min e
51 segundos).

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Se eu fosse definir a Arte para mim, eu diria que é modo de vida porque
faz parte a todo momento, é... Eu... pelo simples fato de eu tá falando
com você, isso já seria Arte. A Arte de me comunicar com você. É
presente em tudo que a gente faz e tem gente que nem percebe isso.
(COSTA, nov., 2017)18

Na percepção dos educandos, a Arte pode ser muitas coisas: desde cultura até ações
como a comunicação verbal que se estabeleceu para realizar a entrevista. Aparece também
como algo que todos podem desenvolver: a cultura que nos cerca, as coisas que podemos
produzir por meio da expressão dos nossos sentimentos, a maneira como vivemos e
agimos.
Ampliando essa relação, indagou-se se eles usufruíam Arte em seu cotidiano. As
repostas estavam diretamente ligadas ao consumo de músicas, filmes, séries. Coisas que
são de fácil acesso e cômodas, uma vez que podem ser obtidas no conforto da própria casa,
na tela do celular sem que o indivíduo precise necessariamente se locomover ou explorar
um novo ambiente, um espaço diferente daquele com o qual está habituado, um espaço que
possibilite descobertas, novas experiências e vivências. O que levou a uma pergunta mais
direta sobre essa fruição: “Você costuma ir a espetáculos de dança, peças, concertos,
museus?”.
A maioria das respostas foi negativa. Questionados se era por dificuldades de
acesso ou falta de costume ou interesse, os depoimentos apontam, em grande parte, falta de
interesse e de costume. Embora, muitas vezes, vários desses jovens só tenham acesso a
esses lugares, nos quais a essência é produzir e mostrar Arte, quando a Instituição por meio
do professor propõe uma visita a um museu, a um concerto, a um espetáculo.

Arte como expressão


Ainda sobre Arte, buscou-se compreende como eles a definiriam:

Arte: Meio de expressar sentimentos, emoções, pensamentos...


(NOGUEIRA, nov., 2017)19

18
Entrevista concedida por COSTA, Brian Silva Melo da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5min
e 47 segundos).
19
Entrevista concedida por NOGUEIRA, Allana de Sousa. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3,
(5min e 35 segundos).

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Caraca! Eu não sou bom em definições, não, mas... Hum... Eu acho que
Arte... É o modo do ser humano demonstrar seus sentimentos, sabe? De
inúmeras formas, sabe? Desde pintura, desenhando, é... retratando...
Essas coisas... Não sei explicar muito bem, mas... Espero que tenha
entendido. (SILVA, nov., 2017).20

Arte é toda e qualquer forma de se expressar pra sociedade


(GONÇALVES, nov., 2017).21

Ai! Arte para mim, eu acho que é uma forma de você se expressar,
entendeu? Poder expressar o que você tá sentindo, poder expressar suas
opiniões, é uma forma de expressão (GURGEL, nov., 2017).22

A definição de que Arte é expressão de sentimentos foi recorrente entre as falas dos
educandos. Talvez porque nos relatos, entre eles, o consumo de Arte se dê por meio de
músicas, filmes, séries, livros e, nessa forma, muitas vezes, o autor do conteúdo que
consomem, produziu-o parar expressar seus sentimentos, sua realidade.
Provavelmente por isso seja comum na fala dos educandos o desejo por mais aulas
práticas.
Acho que deveria ser mais prática; só isso. A gente fica ali e ela fica
falando... A arte aqui até que é legal porque é metade da aula ela falando
e o resto é prático. Mas eu acho que deveria ser mais prática; tipo a gente
deveria estudar, não sei a gente devia – é porque agora a gente só tá
vendo pintura, essas coisas, mas eu acho que eu nunca... em nenhum
colégio eu estudei sobre teatro, em que a professora pedia pra gente fazer
um teatro. Eu sempre estudei ou fotografia ou pintura, tipo música, a
gente escuta a música ou discutir sobre música, não sei. Acho que devia.
(LEITE, nov., 2017). 23

Com mais coisas práticas, com mais... coisas pra gente desenhar mesmo,
escrever mesmo, não só o professor falando e a gente entendendo. Com
mais interação. (ROCHA, nov., 2017)24

20
Entrevista concedida por SILVA, Pablo do Nascimento. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (5
min e 39 segundos).
21
Entrevista concedida por Gonçalves, Michel Douglas da Silva. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (2 min e 44 segundos).
22
Entrevista concedida por Gurgel, Clara Valentim. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (2 min
19seg).
23
Entrevista concedida por LEITE, Ana Beatriz de Oliveira Sousa. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo
mp3, (5 min e 11 segundos).
24
Entrevista concedida por ROCHA, Suellen Freitas da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3 min
e 53segundos).

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Mais prática sabe? Não só teoria. Mostrar também como ela surgiu, toda
a história. Mas fazer com que os alunos possam experimentar disso e
sentir, sabe? Mostrar todo o sentimentalismo e não só uma nota, um
trabalho. (ROCHA, nov., 2017). 25

Existe para eles o que parece ser uma relação entre a Arte como expressão de
sentimentos e a ideia de aulas práticas. Evidenciando que mais do que apropriadas essas
aulas, são necessárias. Na pesquisa ficou evidente que as aulas práticas já existem, mas
tudo indica que as mesmas ainda precisam levar mais em consideração as expectativas
desses educandos, talvez eles queiram ser protagonistas mais atuantes nessas práticas
entrelaçando o conteúdo debatido à suas percepções e visão de mundo e, sobretudo, ao
desejo de se expressar.

Considerações Finais
O ensino de Artes nos cursos integrados está restrito a duas aulas semanais e é
ministrado em algumas turmas pelo professor de música e, em outras, pelos licenciandos,
do estágio supervisionado das Licenciaturas em Artes Visuais e em Teatro, orientados por
professores dos referidos cursos.
Observou-se que existem diferentes percepções dos alunos que passam pela mesma
experiência dentro do IFCE, campus Fortaleza, sobre como o ensino de Artes pode
influenciar em suas formações. Atribuiu-se isso as primeiras experiências com a disciplina
Artes e, a partir daí, não só se formou um parâmetro sobre como essas experiências atuam
para formar essa percepção sobre esse ensino, mas também, foi possível observar que
grande parte dos educandos está vivenciando uma disciplina diferente em relação a esses
primeiros anos de ensino que tiveram em outras instituições. Assim o ensino de artes,
ganha sentido ao ajudá-los a se relacionar com o mundo para além da perspectiva da sala
de aula, considerando especialmente a formação pessoal.
Constatou-se que a concepção desses discentes sobre o que é Arte, em geral, a
relacionam diretamente à cultura. Entretanto, as referências usadas para exemplificar essa
cultura sempre estavam ligadas a elementos que andam lado a lado com a internet, com a

25
Entrevista concedida por ROCHA, Clara Rayane Flávia da. (nov., 2017). Fortaleza, 2017. Arquivo mp3, (3
min e 34 segundos).

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mídia, com ações que não necessariamente tem a ver com a cultura que é produzida na
cidade de Fortaleza. E sim, expressões mais amplas que fazem parte da cultura de massa
como cinema, séries televisivas e, outras, como fotografias, pinturas.
Ao refletir sobre se os educandos fruem arte em seu cotidiano, percebeu-se que
muitas vezes essa fruição exige que os mesmos saiam de casa e ocupem os espaços de
fruição. Contudo, a maioria dos educandos entrevistados só tem acesso a esses espaços se a
escola proporcionar atividades que incluam visitação. Espaços esses que também precisam
ser habitados e consumidos. É necessário pensar como se pode construir uma cultura de
fruidores a partir da sala de aula, já que este é o lugar de formar o sujeito para fora: para a
sociedade, para além do ambiente escolar, para além da sua casa.
Por fim, considerou-se que mesmo o ensino de artes nos cursos integrados sendo
conduzido pelos educadores como algo que prima pela prática aliada à teoria em suas
metodologias, é recorrente nos discursos dos educandos o desejo por mais aulas práticas.
Talvez porque o educando tenha necessidade de ser um protagonista ainda mais atuante
nesse processo de aprendizagem, podendo expressar mais livremente seus sentimentos, sua
relação com o mundo, com o próximo e com a sociedade e, assim, possam transformar
efetiva e afetivamente suas percepções sobre o que é Arte e seu ensino.

Referências
AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes. (Coord.). Usos e Abusos da história
oral. 6 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
DUARTE JÚNIOR, João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível.
Dissertação (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas – São Paulo, 2000.
GOMES, Sabrina Linhares. Consolidação do Campo de Educação Musical no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Dissertação (Mestrado em
Educação) – Faculdade de Educação/Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira.
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2014.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
RODRIGUES, Rafaela Nathalia Larocca. SOUSA, Leonardo de Jeronymo. TREVISO,
Vanessa Cristina. Arte-educação: a relevância da Arte no processo de Ensino Aprendizagem.
Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade. Bebedouro, SP, 4 (1): 114-126, 2017.

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