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doi: 10.1111/1471-3802.12315
FORMAS GEOMETRICAS, ARTES E
^
DEFICIENCIA VISUAL
~ es Benetti
Daniella Simo
~o Carlos
UFSCar: Universidade Federal de Sa
possibilidades, construir, formular hip oteses e decifrar Munster and Almeida (1984) ressaltam que a acuidade
metaforas” e ainda, que este aprendesse segundo Pimen- visual, capacidade de discriminacß~ao de formas, e medida
tel, Cunha and Moura (2006), relacionar a arte com os por oftalmologistas por meio de apresentacß~oes de linhas,
diferentes tipos de registros que comp~ oem o nosso cen- sımbolos ou letras em tamanhos diversificados. Em se tra-
ario mundial, entre eles: registros sonoros, registros gestu- tando de uma pessoa com baixa acuidade visual, esta
ais, registros graficos, visuais, espaciais, culturais, apresenta dificuldade de discriminar formas. Neste sen-
socioecon^ oricos, polıticos, entre tantos outros.
omicos, hist tido, Pereira (2000, p. 50) cita que “A vis~ao e o
org~ao do
sentido que permite ao homem a apreens~ao de formas,
Mediante ao exposto, Ribeiro (2002) afirma que o con- cores e fen^omenos possibilitando a verificacß~ao imediata
ceito de arte precisa ser ampliado, n~ao deve ficar so no dos fatos e a impress~ao de elementos que estimulam a
^ambito do “fazer por fazer”, do “fazer sem reflex~ao”. As curiosidade e o interesse”.
producß~
oes artısticas devem envolver, incluir a todo e qual-
quer ser humano, os tornando mais sensıveis e criativos. Isto posto, na aus^encia total ou parcial da vis~ao e
Devem ser propostas atividades que agreguem a todos, necessario que se recorra aos outros org~aos do sentido a
inclusive os indivıduos com necessidades educacionais fim de que o indivıduo deficiente visual aprenda, assimile
especiais considerando suas particularidades, suas singula- e se relacione com o mundo que o cerca. E importante
ridades, suas potencialidades, suas habilidades e dificulda- que o profissional que desenvolve atividades com defici-
des. Importa ressaltar que, entende-se por pessoas com ente visual conhecßa como este observa os objetos ao seu
defici^encia, segundo Nogueira (2008, p. 27), Artigo I: redor, como interage verbalmente com os demais, seu
repertorio de vida, sua linguagem, suas formas de
(. . .) s~
ao aquelas que t^em impedimentos de longo prazo express~ao, seus interesses. Acß~oes estas, que evitam atitu-
de natureza fısica, mental, intelectual ou sensorial, os des preconceituosas, ao mesmo tempo em que potenciali-
quais, em interacß~ao com diversas barreiras, podem zam o deficiente visual e humanizam sua condicß~ao de
obstruir sua participacß~ ao plena e efetiva na sociedade cidad~ao (Gil, 2000).
em igualdades de condicß~ oes com as demais pessoas.
No contexto escolar, por exemplo, o professor pode utili-
Nesta perspectiva, o professor deve oportunizar ao aluno zar a arte como recurso a fim de que o aluno obtenha
com necessidade educacional especial a descoberta dos novos conhecimentos, desenvolva sua sensibilidade, sua
objetos, das formas que comp~ oem o mundo, tendo em criatividade, invente e reinvente o mundo que o cerca,
vista que na maioria das vezes, este e apresentado de transcenda os proprios limites, adentre ao mundo das
forma restrita, destacam Perondi, Tronca and Tronca demais pessoas, desenvolva seus aspectos afetivos, emoci-
(2001). Na realidade, de acordo com Baptista and Berto- onais e intelectuais (Ribeiro, 2002).
letti (2002, p. 131) o “aluno deve ser estimulado a expor
suas ideias, a ouvir e a respeitar as ideias dos outros, a Fenske, Capote and Costa (2006) destacam que o profes-
discutir e trocar experi^encias”. sor que ensina artes para alunos com defici^encia visual
deve priorizar que estes participem da mesma atividade
Arte e defici^encia visual proposta para os demais alunos da sala de aula, bem
Em se tratando de o trabalho de artes desenvolvido com como oferecer a oportunidade de exploracß~ao de materiais
alunos deficientes visuais, Ballestero-Alvarez (2003) res- de diferentes texturas, formas, relevos, permitir que este
saltam que os resultados podem ser excelentes. Mesmo tenha contato com a tesoura, cola, papel, tintas porque as
que estes n~ao possuam a recepcß~ao de informacß~ao visual tintas t^em textura, cheiro e temperatura. Nenhum tipo de
e necessario apenas que se facßa uma adaptacß~ao ao sen- informacß~ao deve ser omitido de uma pessoa com defi-
tido de percepcß~ao sensorial mais adequado. Importa res- ci^encia visual, pois, o universo que a cerca tem cor, tem
saltar, que o conceito de defici^encia visual de acordo forma, tem textura diferenciada, entre outros. O ideal e
com o Decreto n 5296 de 02 de Dezembro de 2004, que o professor, antes de apresentar um desenho ao aluno
Art 5, Capıtulo II – Do atendimento Prioritario, § 1, deficiente visual, apresente-o atraves de formas tridimen-
preconiza: sionais como as miniaturas em diferentes materiais e tex-
turas, permitindo que este explore o material, reconhecßa
c) defici^encia visual: cegueira, na qual a acuidade suas formas, entre outros.
visual e igual ou menor que 0,05 no melhor olho,
com a melhor correcß~ ao
optica; a baixa visão, que Nesta perspectiva, Ribeiro and Soares (2006) apontam que
significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor o ambiente e suas formas devem ser estudados, explorados
olho, com a melhor correcß~ ao optica; os casos nos a partir de objetos que o represente, a partir do estudo e
quais a somat oria da medida do campo visual em confeccß~ao de obras de artes, por intermedio da pintura, da
ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a manipulacß~ao e confeccß~ao de esculturas e artesanatos, de
ocorr^encia simult^anea de quaisquer das condicß~oes modo que o aluno consiga estabelecer conex~oes, inclusive,
anteriores (grifo nosso), (BRASIL, 2004). entre as diversas areas do conhecimento.
No caso especıfico do ensino de conceitos de geometria, No total foram realizados seis encontros: cinco para
a habilidade de visualizacß~ao assume import^ancia funda- coleta de dados e um para confraternizacß~ao junto a todos
mental, pois, ao visualizar um objeto geometrico o os alunos da sala de recurso. Nos referidos encontros: o
indivıduo passa a ter controle sobre o conjunto das oper- aluno manipulou figuras geometricas recortadas em diver-
acß~oes mentais basicas exigidas no trato da geometria, ger- sos materiais, a fim de reconhec^e-las; manuseou desenhos
ando outras imagens mentais ou representacß~ oes do objeto impressos (de diversos objetos que fazem parte da sua
e a partir de ent~ao, tais representacß~
oes podem ser expres- vida cotidiana) e suas respectivas formas geometricas;
sas atraves de um desenho, por exemplo. Lembrando que, foram apresentados ao aluno objetos em madeira (minia-
as figuras geometricas surgiram a partir da observacß~ao turas de objetos que comp~oem o ambiente em que habita)
das diversas formas existentes na natureza e dos objetos de forma que pudesse manipula-los e identificar suas for-
produzidos pelo homem (Kaleff, 1998). mas geometricas; distribuımos diversos materiais para
pintura; o aluno pintou livremente; socializamos suas
Sendo assim, uma vez que estamos inseridos em um producß~oes; realizamos as intervencß~oes necessarias.
mundo composto por formas, tamanhos, texturas e
cores diversificadas, entre outras caracterısticas Analise de dados
pr
oprias, justifica-se a import^ancia de propiciar ao Foi realizada a analise das filmagens dos encontros, tendo
aluno com defici^encia visual a oportunidade de apren- em vista a evolucß~ao da aprendizagem e capacidade de abs-
der formas geometricas, por intermedio de materiais tracß~ao do aluno em foco, levando em consideracß~ao desde
concretos manipulaveis, e ensina-los a relaciona-las a primeira intervencß~ao realizada ate a ultima. Tratou-se de
com os objetos que o cercam, atraves da arte, por uma analise comparativa dos trabalhos produzidos.
exemplo.
Resultados
Objetivos
udo do currıculo escolar
Trabalhar atraves da arte o conte Primeiro encontro
relacionado a formas geometricas, tendo como base o observamos que o aluno conhecia as formas geometricas,
contexto do aluno, desenvolver potencialidades do aluno porem, n~ao sabia relaciona-las aos objetos presentes no
com defici^encia visual, como percepcß~ao, observacß~ao, ima- ambiente que o cerca. N~ao foi realizada intervencß~ao, pois,
ginacß~ao e sensibilidade que podem contribuir para a con- o objetivo era conhecer e observar se o aluno realizava
sci^encia do seu lugar na sociedade. tais relacß~oes. Segue a imagem da tela produzida pelo
aluno(figure 1):
Metodo
Segundo encontro
Participantes e procedimento de triagem dos focamos o contexto de Lazer. Cabia ao aluno reconhecer
participantes as formas geometricas presentes nos desenhos impressos,
O participante foi um aluno com baixa vis~ao matriculado sendo que estes, continham figuras relacionadas ao
na etapa basica II, na rede municipal de ensino, atendido
na sala de recursos do municıpio. Foi selecionado pela
Secretaria de Educacß~ao do referido municıpio. Figure 1: Linha de base: “Sem tema especifico”
contexto de lazer. A fim de estabelecer tais relacßo~es, Figure 3: Tema “Contexto Escolar”: “Escola de for-
manipulava formas geometricas recortadas em diversos mas geometricas”
materiais, texturas e cores. Depois de realizada as inter-
vencß~
oes com todas as formas geometricas e figuras (dese-
nho), observamos que o aluno abstraiu totalmente os
objetivos propostos nas intervencß~oes. Ao pedirmos ao
aluno que pintasse na tela um objeto, a partir de figuras
geometricas, representando o que gosta de fazer nas horas
de lazer, rapidamente separou as figuras geometricas
necessarias para fazer um computador (gosta de ficar no
computador nas horas de lazer). Segue a imagem da tela
produzida pelo aluno(figure 2):
Terceiro encontro
realizamos os mesmos procedimentos descritos anterior-
mente (no segundo encontro), porem, o contexto abor-
dado foi o Escolar. Depois de realizadas as intervencß~oes,
pedimos ao aluno que escolhesse um objeto que gostaria
de pintar na tela e que representava o seu ambiente esco-
lar. O aluno nos disse que faria a pr
opria escola, denomi-
nou a sua obra: “Escola de formas geometricas”, com Figure 4: Tema “Contexto Familiar”: “TV”.
telhado, parede, porta e janela. Segue a imagem da tela
produzida pelo aluno(figure 3).
Quarto encontro
o contexto abordado foi o Familiar. Cabia ao aluno reco-
nhecer as formas geometricas presentes nos objetos de
madeira, sendo que estes, eram os mesmos que comp~oem
o ambiente familiar, porem, em miniatura, como por
exemplo: geladeira, fog~ao, cama, tapete, pia, entre outros.
A fim de estabelecer tais relacß~ oes, manipulava formas
geometricas recortadas em diversos materiais, texturas e
cores. Depois de realizada as intervencß~oes com todas as
formas geometricas e objetos de madeira, observamos que
o aluno abstraiu totalmente os objetivos propostos nas