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Aula 2

Apropriações – Modos de transitar pelo excesso.


http://www.iconica.com.br/site/apropriacoes-modos-de-
transitar-pelo-excesso/
Como transitar pelos excesso?
“dizem que os pintores impressionistas se
encantaram com o modo como o mundo se
transformava quando visto de dentro de um trem,
enquanto a ciência estudava os possíveis danos que
essa velocidade vertiginosa de 30 km/h poderia
causar à saúde.”
“se o Real está desaparecendo, não é por causa de
sua ausência – ao contrário, é porque existe
realidade demais. Este excesso de realidade provoca
o fim da realidade, da mesma forma que o excesso
de informação põe um fim na comunicação” (Jean
Baudrillard, A ilusão vital, p. 72).

O que é Apropriação?

Quem é o autor da obra?





“nenhuma nova fotografia até que
as antigas tenham sido
utilizadas” !!!

Joachim Schmid
Schmid fundou um tal “Instituto
para
reprocessamento de fotografia usadas” e,
com o vasto material recebido, tem realizado vários de seus
trabalhos.
Na série Photogenic Drafts rasgou algumas dezenas de
retratos para demonstrar através de montagens o modo como
a fotografia constrói sempre um personagem genérico.

Photogenic Drafts
Em Statics, Schmid também destrói imagens – agora numa
máquina fragmentadora de papéis – para evidenciar aquilo a
que supostamente elas já haviam se reduzido: ruído, puro
efeito visual.

Statics
Film still #5
Invitation Cards from exhibitions
Baseball cards
Snapshots
Walter Benjamin, Das Kunstwerk…
(A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica)
Filosofia da Caixa Preta – Vilém Flusser
Pinup Cards
Pizza Delivery Menus
men’s fashion catalogue
women’s fashion catalogue
Postcards of sunset
Quando Schmid nos convida a parar de fotografar, ou
mesmo quando destrói as imagens de seu acervo, creio que
não devemos entender sua atitude tão literalmente. (...) é
antes um ato performático (…)

O gesto de deletar fotografias digitais certamente não


soaria tão provocativo, pela imaterialidade desse registro.
Seria portanto menos emblemático e menos performático,
pois um único gesto – uma tecla apertada – poderia fazer
desaparecer quantas imagens se desejasse
Percorrendo o Flickr, ele realizou recentemente uma exaustiva

curadoria que resultou na série de 96 livros


chamados “Fotografias de outras pessoas”, a partir
de temas banais como “azul”, “vermelho”, “comida de avião”,
“rostos em buracos”, “lego”, “Mickey”, “Trópico de Capricórnio”,
“quartos de hotel”, “porta de geladeira”, “pizza”, “sombras” e
outros tantos.
Coloquei algumas questões sobre a transição deste acervo analógico
ao digital para o próprio Schmid,  em entrevista por e-mail:

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vídeo “Poses do XIX”

Retratos produzidos de 1862 a 1885 por Militão Augusto de


Azevedo, em São Paulo, são a base desta animação.

A sequência, montada a partir de gestos e objetos


cenográficos recorrentes, explicita a retórica visual do corpo
posado.
https://vimeo.com/
97764007 39
Na série “Photo Opportunities” (2009), Corinne Vionnet
sobrepõe conjuntos de fotografias feitas em locais turísticos
para mostrar que a síntese de olhares já está dada pelas
próprias escolhas repetitivas dos fotógrafos.

Corinne Vionnet
Penelope Umbrico desdobra em grandes extensões as
imagens semelhantes que encontra no Flickr, no e-Bay ou
em outras redes de informação.

Penelope Umbrico
O fotógrafo Michael Wolf percebeu a possibilidade de destacar
dessa paisagem contínua fatos incidentais que podem ser
convertidos em enquadramentos fotográficos. Na verdade, o que
faz Wolf é reproduzir – de um modo às vezes paródico – a atitude
do “fotógrafo de rua” que sai à caça de seus “momentos
decisivos”, aqui registrados acidentalmente. (...) incluindo uma
versão do “Beijo”, de Robert Doisneau. De todo modo, esse
trabalho tem o mérito de demonstrar que é possível reencontrar
“focos de intensidades” nesse olhar ubíquo, neutro e diluído
câmeras que se
representado pelas
espalham pelo planeta.

Michael Wolf
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(...) vivemos hoje um hiato curioso: confiando no fato de
que os registros estão mais disponíveis do que nunca, não
sentimos grande necessidade de retornar a eles. Será preciso
sentir que esses documentos estão em risco para que o olhar
se vincule novamente a eles. De fato, a memória sempre
requer a proximidade do esquecimento.
Christian Boltanski é um artista multifacetado cujas obras se têm
centrado na sua vida pessoal (verdadeira ou ficcionada), mas
também nas questões da memória, identidade, ausência, perda ou
morte. O seu trabalho lida com o reposicionamento da identidade e
da reavaliação do percurso de vida individual perante momentos
históricos de grande impacto civilizacional. A memória histórica do
Holocausto é o tema de trabalhos como Les Archives (Os arquivos)
e em instalações como Autel De Lycée Chases (Altar ao Liceu de
Chases), 1988, que inclui fotografias de crianças judias vítimas do
genocídio, ou Réserve [Reserva], 1990, onde acumulações de roupa
usada evocam as imagens dos campos de concentração.

Christian Boltanski 

Personnes - Monumenta 2010
(Belo Horizonte, 1962) Mineira, há mais de vinte anos vivendo e trabalhando no Rio
de Janeiro, Rosângela Rennó é, hoje, referência obrigatória quando o assunto é a
imagem fotográfica e seus desdobramentos. Já em seus primeiros trabalhos, ainda na
década de 80, Rennó propunha a ressignificação de imagens preexistentes. Negando-
se a produzir novas fotografias a artista voltava seu foco de interesse para imagens
recolhidas em álbuns e arquivos fotográficos de sua família.

Com sua mudança para o Rio de Janeiro, Rennó passa a trabalhar com centenas de
negativos de retrato 3x4 adquiridos em estúdios populares e lambe-lambes da cidade.
Mais tarde volta-se para a narrativa fotográfica, recolhendo textos que falam de
fotografia em jornais de circulação nacional. Com esse material a artista constrói o
Arquivo Universal, um gigantesco banco de informações cuja articulação, no campo
das artes visuais, propicia uma inversão única do código fotográfico: ao espectador a
artista não oferece a imagem e sim o texto que a comenta. A partir da leitura dos
textos e do repertório iconográfico do próprio espectador é que a imagem é
construída.

Rosângela Rennó
“Meu prazer é agregar valores simbólicos,
somar significados às imagens, multiplicar a
reflexão”

Rosângela Rennó
http://www.rosangelarenno.com.br
Segunda Infância
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Exercício (opcional): produzir algo a partir de apropriação
de fotografias da web.


Leitura obrigatória:
A Obra de Arte na era da Reprodutibilidade Técnica (PDF
em Anexo no PORTAL) in: BENJAMIN, Walter. Obras
Escolhidas: Magia e técnica, Arte e Política. São Paulo:
Brasiliense, 1994. pg 165- 196

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