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Torona setentrional da Stupa I, em Sanchi. Coberta de relevos, mostrada o prograsso artístico na índia desde
a era Bharhut.
A Índia é um país de contrastes, a começar pela sua geografia e condições climáticas que
apresentam as eternas neves do Himalaia de um lado, e as tórridas florestas do outro. Calor
sufocante no verão e umidade excessiva no inverno. Os picos mais altos do mundo,
situados na região montanhosa do norte, alimentam os grandes rios Indus e Ganges que
fertilizam a imensa planície Indu-Ganges que foi o berço da civilização indiana.
Ao lado da China, a Índia possui uma evolução cultural sem solução de continuidade, sendo
a arte a verdadeira expressão da sua civilização. Mesmo faltando referências cronológicas,
é possível acompanhar o desenvolvimento de sua arte que a rigor só se manifestou, no
sentido exato da palavra, no período Maurya, no século III a.C.
Stupa I do séc. II a.C. / I d.C. em Sanchi, onde existem três stupas principais, sendo esta a mais
característica. A decoração dos quatro portais (torana) é considerada ponto de referência para o estudo da
arte indiana
Escavações realizadas no Vale dos Indus revelaram que a civilização neolítica da Índia foi
caracterizada por variados utensílios confeccionados com sílex entalhado e polido,
semelhante aos da Ásia Ocidental e da Europa. Nas regiões do norte apareceu depois uma
indústria interessada em trabalhar o cobre, surgindo objetos feitos com esse metal, tais
como: machadinhas, adagas, espadas, pontas de lanças e até braceletes.
As regiões de Harappa, no Punjab e Mohenjo-daro, em Sind, mostraram que as antigas
civilizações tiveram um planejamento urbano bem elaborado, os alicerces das cidades eram
construídos com tijolo cru, enquanto tijolos cozidos eram empregados nas construções. As
casas possuíam poços e até banheiros com água canalizada dos rios. Fragmentos de
ancoradouros mostram que as cidades usavam o comércio fluvial. Elas eram fortificadas,
possuíam edifícios públicos, oficinas artesanais, celeiro coletivo e cemitérios.
Dorso de Bodhisattva, estilo Gupta séc. V em arenito rosado, alt.87 cm. Museu Victória e Alberto, Londres
Dinastia Maurya
Bindusara, o filho de Chandragupta, que lhe sucedeu no poder, conquistou a Índia Central e
grande parte do Deccan. A capital do império, Pataliputra, situada na confluência do
Ganges com o rio Son, tinha uma extensão de 15 quilômetros de comprimento e três de
largura e os edifícios públicos, o palácio (inspirado no de Dario em Persépolis) e as grandes
muralhas da cidade eram construídas, na sua maioria, com madeira, pois o país possuía
imensas florestas e na época tinha carência de pedreiras exploráveis.
Mas foi o filho de Bindusara, o Imperador Asoka (264-227 a.C.) que a dinastia Maurya
atingiu seu apogeu. Depois da sangrenta conquista de Kalinga (região que se estendia do
delta do Godavari até o de Mahanadi), o soberano passou por uma crise espiritual e se
converteu ao budismo. Esta conversão provocou importantes mudanças na Índia, influindo
fortemente na cultura.
Afresco decorativo (detalhe) da parede esquerda da entrada da Gruta I em Ajanta, sécs. V e VI - conta a
História do príncipe Mahajanaka
O fato é que as primeiras obras de arte de arte hindu são por completo impregnadas do
fervor budista. Os santuários principais, espécies de mausoléus-relicários, denominavam-se
"stupas". Eles se elevavam acima do chão como montes de terra de formato hemisférico,
tinham um aspecto desgracioso e ao redor uma muralha onde existiam portas originalmente
de madeira. Existem ainda templos escavados na rocha, com planta basilical, cujo altar
devia ter sido substituído por um "stupa" em miniatura. A fachada desses templos é
carregada de ornatos, possuindo aberturas com pequenos arcos que continuam no interior
formando uma falsa abóbada com arcos torais que parece sustentada por colunas cujos
capitéis são ornados de figuras de animais, como os capitéis persas. Existem também
mosteiros subterrâneos com sala central quadrangular. Essas cavernas artificiais,
construídas como santuários e moradias para monges, eram escavadas principalmente nas
colinas de Barabar.
Foi no período de Asoka que a escultura indiana atingiu uma condição de autenticidade
artística, empregando matéria prima de durabilidade. A escultura é muito superior à
arquitetura. Ela é narrativa, carregada e frequentemente voluptuosa. Os artistas da época
contavam belas histórias, inclusive a de Buda, enriquecendo a superfície trabalhada com
motivos ornamentais caprichosos e uma rígida ordenação. De pedreiras descobertas em
Benaras, obtiveram material para a confecção de colunas comemorativas que atingiam até
12 metros de altura e que eram espalhadas por todo o império. Os fustes dessas colunas
eram encimados por capitéis em forma de sino, tendo no topo um ou diversos animais, a
cabeça de um touro, leões, etc. Destaque para o capitel de um monumento de Sarnath onde
se encontram, justapostos sem se misturarem, os leões persas hieráticos e os elefantes
indígenas. Em uma porta de uma "stupa" de Santchi encontram-se suspensas fadas de graça
um pouco pesadas, mas insinuante. Os hindus estão entre os amantes mais requintados do
corpo da mulher, as esculturas apresentando linhas harmoniosas, maleabilidade e
voluptuosidade. É constante a parte superior do corpo se apresentar bastante delgada. Os
artistas desse período aprenderam muito com os mestres iranianos e gregos, mas
mantiveram sempre o espírito indiano. Eles deixaram também muitas estatuetas em
terracota.
Nas construções ao ar livre era comum o uso de madeira e tijolos. Os fragmentos do palácio
de Asoka em Pataliputra atestam um progresso técnico notável. As plataformas de teca, por
exemplo, mediam nove metros de comprimento, sendo compostas de vigas emparelhadas
com extrema precisão. As paredes externas do templo de Beirat, do século III a.C. revelam
que os tijolos daquela época tinham grandes dimensões, cerca de 47,5 por 30 centímetros e
uma espessura de apenas 5 centímetros.
Incursão ao Ganges, séc. VII - Relêvo de Mamallapuran. O rio, disfarçado em homem-serpente, é o centro da
composição; todos os outros elementos para êle convergem
Escolas Antigas
O império da dinastia Maurya começou a decair depois da morte de Asoka. Reinos indo-
gregos foram fundados em várias regiões, entre eles Bactria, Gandhara e Kapisa. O centro
do poder deixou de ser Pataliputra e foi para o oeste, para Malwa e Magadha em 176-64
a.C., sob o domínio da dinastia dos Sungas. Foram eles que levaram os indo-gregos além
do Vale dos Indus. A seguir, em 75-30 a.C., reinou a dinastia dos Kanvas.
Foi um período conturbado, complexo em seus relacionamentos políticos, com invasões
oriundas da Ásia Central. Mesmo assim foi um período fértil para a arte da escultura. Nesta
época foram fundados os grandes estilos da arte indiana, a criação e evolução gradual da
iconografia budista. Ao mesmo tempo ocorreu a fusão de influências estrangeiras com
elementos tipicamente indianos.
Embora as obras deste período sejam exclusivamente budistas, são acima de tudo indianas.
O budismo emprestou sua graça e amável brandura, mas as criações continuaram sendo
uma expressão fiel da vida e do temperamento do povo da Índia.
Duas categorias da arquitetura indiana estão representadas neste período: a monolítica,
talhada na rocha, e as construções feitas livremente. Embora os princípios básicos da
arquitetura talhada tenham sido lançados pelo bramanismo e jainismo, a verdade é que o
budismo foi responsável pelo seu desenvolvimento, acrescentando as características de arte
desconhecidas pelas outras religiões.
A técnica usada na escavação e entalhe não é descrita na literatura da época. Os santuários
tinham um pavimento térreo basilar, com uma nave central e duas semi-naves laterais com
tetos baixos. Eram ladeados Por pilares, fustes simples talhados na rocha, sem base nem
capitéis. Acima de largo friso e acompanhando as pilastras, está a curva de uma abóbada
semi-cilíndrica. Estes santuários são abertos, na direção da fachada, numa espécie de
vestíbulo em forma de ferradura.
As construções livres estão representadas nas stupas feitas de pedra e tijolo e destinavam-se
a guardar relíquias sagradas. Consistiam de uma calota hemisférica pousada sobre uma base
ou pedestal retangular e encimada por uma espécie de balcão com balaústres. A stupa
também é circundada por balaústres com interrupções e grandes portões. Os relevos
narrativos que decoravam os balaústres tinham por finalidade instruir os visitantes sobre as
virtudes do budismo. Estas ilustrações são consideradas jóias da arte indiana.
O artista indiano começa a mostrar seus dons como retratista de animais, uma característica
da história nacional de sua arte. Em obediência a uma lei iconográfica indefinida, o Buda
individualmente nunca era retratado; sua presença era representada por símbolos. As
estátuas desse período eram talhadas num bloco de pedra, os detalhes do vestuário e
ornamentos sendo cuidadosamente observados. Além da estatuária em grande escala havia
estatuetas de pedra ou terracota que revelavam mais espontaneidade.
Kanishka adotou o título imperial indiano de Maharaja (Grande Rei), o título partiano de
Rajatiraja (Rei dos Reis) e o chinês de Davaputra (Filho do Céu). A arte budista
contemporânea em seu reinado conservou o estilo primitivo, sem nenhuma influência
externa. Sua grande obra foi a construção do templo de Surkh Kotal, erigido no alto de
uma colina e ao qual se tinha acesso através de três pátios contíguos.
No sul da Índia o mais importante reino surgido nessa época foi o de Andhras, que ocupou
o Decão, uma região localizada entre os extremos sulinos do Godavari e do Kistna. Restos
de uma magnífica civilização em Amaravati comprovam a existência de um Estado
poderoso que conquistou os Satavahana que reinavam naquela região, chegando a atingir
Malwa e Maharastra.
Mosteiro Budista de Ratnagiri, séc. IX, em Arissa
A arte bramânica apareceu no cenário cultural da Índia nessa época, muito embora suas
características fossem essencialmente budistas. O período que se seguiu (denominado de
"transitório"), foi muito produtivo, sendo criado novos temas iconográficos com o
desenvolvimento de uma nova característica estética. A arte passou a refletir com mais
exatidão, não somente a complexidade política da época, como também o triunfo do
budismo. Cobrindo toda a Índia, o budismo atingiu a sua plenitude mas conservando o
precioso caráter narrativo.
O aparecimento da imagem de Buda, pela primeira vez representado figurativamente, foi o
aspecto mais importante desta arte. Três escolas artísticas se destacaram: a das possessões
indo-gregas (atual Paquistão e Afeganistão), chamada de escola de Ghandhara; a de
Amaravati, no território dos Andhras e a de Mathura, da planície do Ganges que
correspondia ao território dos Kushans. O aparecimento da imagem de Buda se deu
simultaneamente em Gandhara e Mathura, e em Amaravati, um tempo depois. Afora isso, o
número de temas usado na arte não sofreu grande alteração.
Na escola greco-budista de Gandhara, a figura de Buda inicialmente apresenta as
características helenísticas habituais, mescladas com traços fisionômicos orientais (foto). O
"Iluminado" é representado como um tipo apolínio e as marcas de sua natureza sagrada
estão representadas: a urna, ou madeixa encaracolada está entre os olhos e nas mãos fica o
chakra - círculo sagrado que simboliza a evolução da lei budista. Os cabelos são presos por
um nó no alto da cabeça e a divindade traja o quimono monástico e o manto drapeado. A
escola de Mathura também mostra um Buda apolínio, mais robusto, mas com a cabeça
redonda, uma expressão sorridente e, na cabeça calva, um barrete esconde o ushnisha.
O traje monástico sugere um material de mais qualidade com o ombro direito deixado
descoberto. O Buda de Amaravati, igualmente ao de Mathura, é profundamente indiano, o
rosto alongado, a cabeça coberta por pequenos anéis de cabelo e o manto monástico
também deixa um ombro nu caindo em panejamento preso no ombro esquerdo. A mão
direita esboça o gesto de destemor (abhaya-mudra). Imagens do Buda no estilo Maravati
foram encontradas em quase todas as regiões da Ásia.
Pastores e seus rebanhos- copia mughal de obra européia mostrando os pastores com fisionomia indiana.
Museu Guimet
Transição
Apesar das variações, os historiadores admitem que houve unidade na arte do período de
transição. As formas arquitetônicas e as características da escultura e pintura possuem
elementos que são comuns a todas as três escolas já mencionadas no artigo anterior:
Gandhara, Mathura e Amaravati. As diferenças existiram em função dos costumes e hábitos
regionais.
Por causa de sua ligação com o mundo helenístico, a escola de Gandhara se afastou da
principal corrente de desenvolvimento estético indiano, o que se comprova pela quantidade
de decoração clássica eternizada pelo enfoque de figuras secundárias que acompanhavam
Buda. A sua variada escultura foi a que mais chegou perto da perfeição.
A arte da escola Mathura refletiu a austeridade dos reis de Kushan, destacando-se, na
escultura, a sensualidade das mulheres indianas apresentadas em pose ritual. Placas de
marfim gravadas ou entalhadas com requinte mostram o mesmo estilo, confirmando a fama
dos artífices indianos elogiados na literatura antiga.
A escola Amaravati teve um estilo requintado e dinâmico, se sobressaindo bastante no
relevo narrativo executado em pedra calcária semelhante ao mármore. As figuras
apresentam poses muito elegantes, entre elas a prosternação que é considerada a mais bela
na arte da Índia. As mesmas características são encontradas na pintura.
Estilos Clássicos
Em pleno apogeu, a Dinastia Gupta tinha expandido o império para uma imensa parte da
Índia e pelos mares do Sul, quando começou a sofrer os ataques dos hunos brancos da
Bactria. Mesmo sendo rechaçados por Kamargupta (455-67), essa invasão significou o
início do enfraquecimento do poderio Gupta. Com a confusão a família imperial ficou
fragmentada e sem capacidade para resistir aos seguidos avanços das hordas bárbaras que
voltavam cada vez mais revigoradas.
Os invasores se espalharam pelo Vale do Ganges e durante cinqüenta anos promoveram
grande destruição. Mosteiros e universidades foram arrasados e os sacerdotes perseguidos.
Os hunos destruíram praticamente todas as stupas deste período. As mais antigas, Charsada
e Mirpur Khas tinham sido construídas com tijolos e recobertas de estuque, eram uma
seqüência do estilo Gandhara. Outras foram feitas de tijolos e pedras, apresentando
fisionomia modificada com a cúpula adquirindo um formato de sino, um estilo de
construção que seria eternizado por todo o Sudoeste Asiático.
Aproveitando o enfraquecimento dos Gupta, os Estados do norte se tornaram
independentes, entre eles Thanesar, no extremo leste de Doab, uma região entre o Ganges e
seu afluente Jumna. Kanauj se tornou a capital deste novo império comandado pelo rei
Harsha (605-47), que unificou a Índia do Norte e centro do país pela última vez antes do
período medieval. O mérito de Harsha foi conservar as tradições artísticas e culturais dos
Gupta. Foi considerado um rei eclético, tolerante e protetor da cultura religiosa. A
magnitude imperial da Índia que ele restaurou, entretanto, não sobreviveu, desmoronando
depois da sua morte. Paralelamente, os reinados do Decão continuaram expandindo seu
poder, principalmente nas regiões de Tamil e Chalukya ocidentais em Maharastra. Estes
reinados ganharam tesouros artísticos de inestimável valor, entre eles Ajanta, Badami,
Nasik e Elefanta.
É exatamente em Ajanta que se encontra a flor suprema da arte budista da Índia, nos ciclos
de pinturas das cavernas de Ajanta, que datam de diversas épocas, mas cujas obras mais
perfeitas foram executadas entre 600 e 650 aproximadamente. O traço e admirável
flexibilidade, assumem extraordinária pureza nesta arte Gupta que a Índia não logrará
ultrapassar.
Arte Muçulmana
Religião na índia