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A Arte Indiana

Torona setentrional da Stupa I, em Sanchi. Coberta de relevos, mostrada o prograsso artístico na índia desde
a era Bharhut.

A Índia é um país de contrastes, a começar pela sua geografia e condições climáticas que
apresentam as eternas neves do Himalaia de um lado, e as tórridas florestas do outro. Calor
sufocante no verão e umidade excessiva no inverno. Os picos mais altos do mundo,
situados na região montanhosa do norte, alimentam os grandes rios Indus e Ganges que
fertilizam a imensa planície Indu-Ganges que foi o berço da civilização indiana.
Ao lado da China, a Índia possui uma evolução cultural sem solução de continuidade, sendo
a arte a verdadeira expressão da sua civilização. Mesmo faltando referências cronológicas,
é possível acompanhar o desenvolvimento de sua arte que a rigor só se manifestou, no
sentido exato da palavra, no período Maurya, no século III a.C.
Stupa I do séc. II a.C. / I d.C. em Sanchi, onde existem três stupas principais, sendo esta a mais
característica. A decoração dos quatro portais (torana) é considerada ponto de referência para o estudo da
arte indiana

Escavações realizadas no Vale dos Indus revelaram que a civilização neolítica da Índia foi
caracterizada por variados utensílios confeccionados com sílex entalhado e polido,
semelhante aos da Ásia Ocidental e da Europa. Nas regiões do norte apareceu depois uma
indústria interessada em trabalhar o cobre, surgindo objetos feitos com esse metal, tais
como: machadinhas, adagas, espadas, pontas de lanças e até braceletes.
As regiões de Harappa, no Punjab e Mohenjo-daro, em Sind, mostraram que as antigas
civilizações tiveram um planejamento urbano bem elaborado, os alicerces das cidades eram
construídos com tijolo cru, enquanto tijolos cozidos eram empregados nas construções. As
casas possuíam poços e até banheiros com água canalizada dos rios. Fragmentos de
ancoradouros mostram que as cidades usavam o comércio fluvial. Elas eram fortificadas,
possuíam edifícios públicos, oficinas artesanais, celeiro coletivo e cemitérios.
Dorso de Bodhisattva, estilo Gupta séc. V em arenito rosado, alt.87 cm. Museu Victória e Alberto, Londres

Entre as civilizações do Extremo-Oriente, a Índia foi a mais aberta às influências


ocidentais. Os primeiros invasores foram os arianos, em 11.500 a.C., procedentes do
planalto iraniano, que penetraram no país pelo nordeste e se estabeleceram em Punjab.
Neste tempo remoto a civilização local era influenciada pelas civilizações sumeriana e
elamita, sendo altamente desenvolvida. Os arianos destruíram várias cidades do vale dos
Indus, empurrando os habitantes naturais para o sul. Esta invasão introduziu ali o idioma
sânscrito, a religião védica e outros elementos que contribuíram para a formação cultural.
No século VI ocorreram novas invasões, os arquemênidas, primeiro sob o comando de Ciro
(559-529) e depois Dario (521-485). Durante dois séculos a região ficou sob o domínio do
Império Persa, que influenciou muito a arquitetura indiana, e que explica os temas
tipicamente aquemênios que influíram no acervo artístico da escultura indiana. No ano de
326 a.C. Alexandre, o Grande, conquistou o vale, levando para o país uma poderosa
influência grega.
Mas, não somente invasores passavam pelas fronteiras do nordeste e noroeste, mas também
os comerciantes, que estabeleceram uma rota regular. O intercâmbio comercial aumentou
bastante com o início da era cristã. Já no século I a.C. haviam estabelecido um tráfego
marítimo regular entre a Índia e o Egito. A comercialização se estendeu até o Ceilão e
depois a Birmânia, Indochina, península da Malaia, atingindo Bornéo. As obras de arte
eram extremamente valorizadas nas transações. No ano 80 a.C. os Sakas tomaram o
domínio dos sátrapas gregos nas províncias do noroeste e nos séculos I e II da Era Cristã, os
Kushans ergueram um grande império que ia desde Oxus até a o Vale do Ganges,
abrangendo os territórios helenizados e arianos. Este domínio caiu sob os ataques do Irã
sassânico que bloqueou as rotas entre a Ásia Oriental e o mundo Mediterrâneo, isolando a
Índia do Ocidente. Finalmente no século V a Índia foi unificada sob a dinastia dos Gupta.
Somente mais tarde, no ano 1000, o território indiano voltaria a ser atacado, desta vez por
mulçumanos.

Dinastia Maurya

Um jovem general chamado Chandragupta, conhecido pelos gregos pelo nome de


Sandrakottos, foi o fundador da dinastia Maurya. Entre os anos 313 e 312 a.C. ele subiu ao
trono de Magadha, derrubando a dinastia de Nanda, criando o primeiro império pan-
indiano, que ia do Rio Indu até o Ganges. O sátrapa Seleucus, conquistador da Babilônia,
fundador do reinado e dinastia dos seleucidas, ao chegar no Punjab, estabeleceu uma
aliança com Chandragupta e lhe concedeu a mão de uma princesa grega em casamento. Foi
quando a Índia começou a se destacar, emergindo como uma das grandes potências
mundiais.

Bindusara, o filho de Chandragupta, que lhe sucedeu no poder, conquistou a Índia Central e
grande parte do Deccan. A capital do império, Pataliputra, situada na confluência do
Ganges com o rio Son, tinha uma extensão de 15 quilômetros de comprimento e três de
largura e os edifícios públicos, o palácio (inspirado no de Dario em Persépolis) e as grandes
muralhas da cidade eram construídas, na sua maioria, com madeira, pois o país possuía
imensas florestas e na época tinha carência de pedreiras exploráveis.
Mas foi o filho de Bindusara, o Imperador Asoka (264-227 a.C.) que a dinastia Maurya
atingiu seu apogeu. Depois da sangrenta conquista de Kalinga (região que se estendia do
delta do Godavari até o de Mahanadi), o soberano passou por uma crise espiritual e se
converteu ao budismo. Esta conversão provocou importantes mudanças na Índia, influindo
fortemente na cultura.
Afresco decorativo (detalhe) da parede esquerda da entrada da Gruta I em Ajanta, sécs. V e VI - conta a
História do príncipe Mahajanaka

O fato é que as primeiras obras de arte de arte hindu são por completo impregnadas do
fervor budista. Os santuários principais, espécies de mausoléus-relicários, denominavam-se
"stupas". Eles se elevavam acima do chão como montes de terra de formato hemisférico,
tinham um aspecto desgracioso e ao redor uma muralha onde existiam portas originalmente
de madeira. Existem ainda templos escavados na rocha, com planta basilical, cujo altar
devia ter sido substituído por um "stupa" em miniatura. A fachada desses templos é
carregada de ornatos, possuindo aberturas com pequenos arcos que continuam no interior
formando uma falsa abóbada com arcos torais que parece sustentada por colunas cujos
capitéis são ornados de figuras de animais, como os capitéis persas. Existem também
mosteiros subterrâneos com sala central quadrangular. Essas cavernas artificiais,
construídas como santuários e moradias para monges, eram escavadas principalmente nas
colinas de Barabar.
Foi no período de Asoka que a escultura indiana atingiu uma condição de autenticidade
artística, empregando matéria prima de durabilidade. A escultura é muito superior à
arquitetura. Ela é narrativa, carregada e frequentemente voluptuosa. Os artistas da época
contavam belas histórias, inclusive a de Buda, enriquecendo a superfície trabalhada com
motivos ornamentais caprichosos e uma rígida ordenação. De pedreiras descobertas em
Benaras, obtiveram material para a confecção de colunas comemorativas que atingiam até
12 metros de altura e que eram espalhadas por todo o império. Os fustes dessas colunas
eram encimados por capitéis em forma de sino, tendo no topo um ou diversos animais, a
cabeça de um touro, leões, etc. Destaque para o capitel de um monumento de Sarnath onde
se encontram, justapostos sem se misturarem, os leões persas hieráticos e os elefantes
indígenas. Em uma porta de uma "stupa" de Santchi encontram-se suspensas fadas de graça
um pouco pesadas, mas insinuante. Os hindus estão entre os amantes mais requintados do
corpo da mulher, as esculturas apresentando linhas harmoniosas, maleabilidade e
voluptuosidade. É constante a parte superior do corpo se apresentar bastante delgada. Os
artistas desse período aprenderam muito com os mestres iranianos e gregos, mas
mantiveram sempre o espírito indiano. Eles deixaram também muitas estatuetas em
terracota.
Nas construções ao ar livre era comum o uso de madeira e tijolos. Os fragmentos do palácio
de Asoka em Pataliputra atestam um progresso técnico notável. As plataformas de teca, por
exemplo, mediam nove metros de comprimento, sendo compostas de vigas emparelhadas
com extrema precisão. As paredes externas do templo de Beirat, do século III a.C. revelam
que os tijolos daquela época tinham grandes dimensões, cerca de 47,5 por 30 centímetros e
uma espessura de apenas 5 centímetros.

Incursão ao Ganges, séc. VII - Relêvo de Mamallapuran. O rio, disfarçado em homem-serpente, é o centro da
composição; todos os outros elementos para êle convergem
Escolas Antigas

O império da dinastia Maurya começou a decair depois da morte de Asoka. Reinos indo-
gregos foram fundados em várias regiões, entre eles Bactria, Gandhara e Kapisa. O centro
do poder deixou de ser Pataliputra e foi para o oeste, para Malwa e Magadha em 176-64
a.C., sob o domínio da dinastia dos Sungas. Foram eles que levaram os indo-gregos além
do Vale dos Indus. A seguir, em 75-30 a.C., reinou a dinastia dos Kanvas.
Foi um período conturbado, complexo em seus relacionamentos políticos, com invasões
oriundas da Ásia Central. Mesmo assim foi um período fértil para a arte da escultura. Nesta
época foram fundados os grandes estilos da arte indiana, a criação e evolução gradual da
iconografia budista. Ao mesmo tempo ocorreu a fusão de influências estrangeiras com
elementos tipicamente indianos.
Embora as obras deste período sejam exclusivamente budistas, são acima de tudo indianas.
O budismo emprestou sua graça e amável brandura, mas as criações continuaram sendo
uma expressão fiel da vida e do temperamento do povo da Índia.
Duas categorias da arquitetura indiana estão representadas neste período: a monolítica,
talhada na rocha, e as construções feitas livremente. Embora os princípios básicos da
arquitetura talhada tenham sido lançados pelo bramanismo e jainismo, a verdade é que o
budismo foi responsável pelo seu desenvolvimento, acrescentando as características de arte
desconhecidas pelas outras religiões.
A técnica usada na escavação e entalhe não é descrita na literatura da época. Os santuários
tinham um pavimento térreo basilar, com uma nave central e duas semi-naves laterais com
tetos baixos. Eram ladeados Por pilares, fustes simples talhados na rocha, sem base nem
capitéis. Acima de largo friso e acompanhando as pilastras, está a curva de uma abóbada
semi-cilíndrica. Estes santuários são abertos, na direção da fachada, numa espécie de
vestíbulo em forma de ferradura.
As construções livres estão representadas nas stupas feitas de pedra e tijolo e destinavam-se
a guardar relíquias sagradas. Consistiam de uma calota hemisférica pousada sobre uma base
ou pedestal retangular e encimada por uma espécie de balcão com balaústres. A stupa
também é circundada por balaústres com interrupções e grandes portões. Os relevos
narrativos que decoravam os balaústres tinham por finalidade instruir os visitantes sobre as
virtudes do budismo. Estas ilustrações são consideradas jóias da arte indiana.
O artista indiano começa a mostrar seus dons como retratista de animais, uma característica
da história nacional de sua arte. Em obediência a uma lei iconográfica indefinida, o Buda
individualmente nunca era retratado; sua presença era representada por símbolos. As
estátuas desse período eram talhadas num bloco de pedra, os detalhes do vestuário e
ornamentos sendo cuidadosamente observados. Além da estatuária em grande escala havia
estatuetas de pedra ou terracota que revelavam mais espontaneidade.

Dinastia Kushans e os estilos de transição

No primeiro século da era cristã os nômades Tokharianos, os Kushans provenientes da Ásia


Central, dominaram todo o Punjab, expandindo depois os seus domínios até a planície do
Ganges. Conquistaram também as antigas possessões dos Sunga e dos indo-gregos. O auge
do poder coincidiu com o reinado de Kanishka, o terceiro da dinastia, que se converteu ao
budismo, sendo o primeiro soberano a mandar cunhar a imagem de Buda em suas moedas.
Siva Vinadhara, em bronze – séc. XI. Alt. 69 cm – Museu Guimet – Paris. Representação mostrando o deus
como o “mestre das artes”, no caso músico porque na tradição indiana a música é a inspiração de toda a
criação.

Kanishka adotou o título imperial indiano de Maharaja (Grande Rei), o título partiano de
Rajatiraja (Rei dos Reis) e o chinês de Davaputra (Filho do Céu). A arte budista
contemporânea em seu reinado conservou o estilo primitivo, sem nenhuma influência
externa. Sua grande obra foi a construção do templo de Surkh Kotal, erigido no alto de
uma colina e ao qual se tinha acesso através de três pátios contíguos.
No sul da Índia o mais importante reino surgido nessa época foi o de Andhras, que ocupou
o Decão, uma região localizada entre os extremos sulinos do Godavari e do Kistna. Restos
de uma magnífica civilização em Amaravati comprovam a existência de um Estado
poderoso que conquistou os Satavahana que reinavam naquela região, chegando a atingir
Malwa e Maharastra.
Mosteiro Budista de Ratnagiri, séc. IX, em Arissa

A arte bramânica apareceu no cenário cultural da Índia nessa época, muito embora suas
características fossem essencialmente budistas. O período que se seguiu (denominado de
"transitório"), foi muito produtivo, sendo criado novos temas iconográficos com o
desenvolvimento de uma nova característica estética. A arte passou a refletir com mais
exatidão, não somente a complexidade política da época, como também o triunfo do
budismo. Cobrindo toda a Índia, o budismo atingiu a sua plenitude mas conservando o
precioso caráter narrativo.
O aparecimento da imagem de Buda, pela primeira vez representado figurativamente, foi o
aspecto mais importante desta arte. Três escolas artísticas se destacaram: a das possessões
indo-gregas (atual Paquistão e Afeganistão), chamada de escola de Ghandhara; a de
Amaravati, no território dos Andhras e a de Mathura, da planície do Ganges que
correspondia ao território dos Kushans. O aparecimento da imagem de Buda se deu
simultaneamente em Gandhara e Mathura, e em Amaravati, um tempo depois. Afora isso, o
número de temas usado na arte não sofreu grande alteração.
Na escola greco-budista de Gandhara, a figura de Buda inicialmente apresenta as
características helenísticas habituais, mescladas com traços fisionômicos orientais (foto). O
"Iluminado" é representado como um tipo apolínio e as marcas de sua natureza sagrada
estão representadas: a urna, ou madeixa encaracolada está entre os olhos e nas mãos fica o
chakra - círculo sagrado que simboliza a evolução da lei budista. Os cabelos são presos por
um nó no alto da cabeça e a divindade traja o quimono monástico e o manto drapeado. A
escola de Mathura também mostra um Buda apolínio, mais robusto, mas com a cabeça
redonda, uma expressão sorridente e, na cabeça calva, um barrete esconde o ushnisha.
O traje monástico sugere um material de mais qualidade com o ombro direito deixado
descoberto. O Buda de Amaravati, igualmente ao de Mathura, é profundamente indiano, o
rosto alongado, a cabeça coberta por pequenos anéis de cabelo e o manto monástico
também deixa um ombro nu caindo em panejamento preso no ombro esquerdo. A mão
direita esboça o gesto de destemor (abhaya-mudra). Imagens do Buda no estilo Maravati
foram encontradas em quase todas as regiões da Ásia.

Pastores e seus rebanhos- copia mughal de obra européia mostrando os pastores com fisionomia indiana.
Museu Guimet

Transição

Apesar das variações, os historiadores admitem que houve unidade na arte do período de
transição. As formas arquitetônicas e as características da escultura e pintura possuem
elementos que são comuns a todas as três escolas já mencionadas no artigo anterior:
Gandhara, Mathura e Amaravati. As diferenças existiram em função dos costumes e hábitos
regionais.
Por causa de sua ligação com o mundo helenístico, a escola de Gandhara se afastou da
principal corrente de desenvolvimento estético indiano, o que se comprova pela quantidade
de decoração clássica eternizada pelo enfoque de figuras secundárias que acompanhavam
Buda. A sua variada escultura foi a que mais chegou perto da perfeição.
A arte da escola Mathura refletiu a austeridade dos reis de Kushan, destacando-se, na
escultura, a sensualidade das mulheres indianas apresentadas em pose ritual. Placas de
marfim gravadas ou entalhadas com requinte mostram o mesmo estilo, confirmando a fama
dos artífices indianos elogiados na literatura antiga.
A escola Amaravati teve um estilo requintado e dinâmico, se sobressaindo bastante no
relevo narrativo executado em pedra calcária semelhante ao mármore. As figuras
apresentam poses muito elegantes, entre elas a prosternação que é considerada a mais bela
na arte da Índia. As mesmas características são encontradas na pintura.

Estilos Clássicos

Os estilos considerados clássicos na arte indiana são: Gupta, Pós-Gupta e Pala-Sena. O


Gupta surgiu no ano 320, após um período de turbulência política surgida no final do
período de transição, que debilitou o vigor intelectual e artístico do país. A dinastia dos
Gupta se originou em Magadha, considerada a terra sagrada do Budismo, onde fica
localizada Pataliputra com o seu palácio de Asoka. Coincidência ou não, seu fundador se
chamava Chandragupta, o mesmo nome do fundador da dinastia Maurya que construiu o
referido palácio.
A dinastia Gupta atingiu o apogeu nos reinados de Chandragupta II (375-414) e
Kamargupta I (414-455), a Índia desfrutando de um dos mais gloriosos períodos de sua
história, civilização e cultura. A tolerância religiosa permitiu o surgimento de numerosas
seitas, todas caracterizadas por forte tendência ao sincretismo e misticismo. Floresceram
igualmente as artes plásticas, a filosofia, a música e a literatura. Foram escritos tratados
sobre estética que definiram os cânones sobre os quais seriam baseados todas as normas e
regras futuras de arte, onde a pureza de formas e linhas mereceu toda a importância.
Do ponto de vista artístico, o período Gupta se destacou pelo aparecimento de um estilo
novo que, entretanto, se relacionava com os estilos precedentes. Pode-se apreciar, diante de
numerosas obras-primas desse período, as mudanças progressivas, tão características dos
indianos, nas quais um único tema decorativo proporciona uma grande variedade de
interpretações.
Templo de Muktsvara, bruvanesvar – séc. IX e X.

Em pleno apogeu, a Dinastia Gupta tinha expandido o império para uma imensa parte da
Índia e pelos mares do Sul, quando começou a sofrer os ataques dos hunos brancos da
Bactria. Mesmo sendo rechaçados por Kamargupta (455-67), essa invasão significou o
início do enfraquecimento do poderio Gupta. Com a confusão a família imperial ficou
fragmentada e sem capacidade para resistir aos seguidos avanços das hordas bárbaras que
voltavam cada vez mais revigoradas.
Os invasores se espalharam pelo Vale do Ganges e durante cinqüenta anos promoveram
grande destruição. Mosteiros e universidades foram arrasados e os sacerdotes perseguidos.
Os hunos destruíram praticamente todas as stupas deste período. As mais antigas, Charsada
e Mirpur Khas tinham sido construídas com tijolos e recobertas de estuque, eram uma
seqüência do estilo Gandhara. Outras foram feitas de tijolos e pedras, apresentando
fisionomia modificada com a cúpula adquirindo um formato de sino, um estilo de
construção que seria eternizado por todo o Sudoeste Asiático.
Aproveitando o enfraquecimento dos Gupta, os Estados do norte se tornaram
independentes, entre eles Thanesar, no extremo leste de Doab, uma região entre o Ganges e
seu afluente Jumna. Kanauj se tornou a capital deste novo império comandado pelo rei
Harsha (605-47), que unificou a Índia do Norte e centro do país pela última vez antes do
período medieval. O mérito de Harsha foi conservar as tradições artísticas e culturais dos
Gupta. Foi considerado um rei eclético, tolerante e protetor da cultura religiosa. A
magnitude imperial da Índia que ele restaurou, entretanto, não sobreviveu, desmoronando
depois da sua morte. Paralelamente, os reinados do Decão continuaram expandindo seu
poder, principalmente nas regiões de Tamil e Chalukya ocidentais em Maharastra. Estes
reinados ganharam tesouros artísticos de inestimável valor, entre eles Ajanta, Badami,
Nasik e Elefanta.
É exatamente em Ajanta que se encontra a flor suprema da arte budista da Índia, nos ciclos
de pinturas das cavernas de Ajanta, que datam de diversas épocas, mas cujas obras mais
perfeitas foram executadas entre 600 e 650 aproximadamente. O traço e admirável
flexibilidade, assumem extraordinária pureza nesta arte Gupta que a Índia não logrará
ultrapassar.

O Estilo Pala-Sena e o Período Medieval

Devido às invasões e à influência bramânica, Bengala se tornou um bastião do Budismo. Os


soberanos Pala que dominaram de 765 a 1086, estimularam a prosperidade da universidade
de Nalanda, onde construíram mosteiros. Seus sucessores, os Sena, protegeram mais o
hinduísmo. Este estilo deve ser considerado como o verdadeiro repositório do estilo Gupta,
mesmo sem a criatividade de seu precursor. Ele evoluiu sozinho sem nenhuma influência
externa que interferisse nas suas normas convencionais. Mas a invasão mulçumana, que se
dirigiu para essa região, não encontrou capacidade de reação do império Pala-Sena, que foi
dominado.
O prolongamento do período Gupta levou a arte indiana até o período medieval (séculos
IX-XVI). Os estados que progrediram depois do fim do império Harsha, se envolveram em
disputas por supremacia. Houve muita luta entre eles e dentro desse clima político as artes
obtiveram grande ajuda e proteção. Cada dinastia se esforçava para superar as outras em
número, tamanho e esplendor de seus templos. O Sul da Índia seguiu tendências diversas
das do Norte.
Entre os estados que se destacaram, Kashmir, comandado pela dinastia Uptala, construiu
alguns dos mais interessantes templos da região. Em Kathiawad e Gujarat, sob a dinastia
Solanki, foram erguidos belíssimos santuários., A dinastia Paramara, de Malwa, promoveu
um verdadeiro renascimento literário, principalmente no reinado do soberano-poeta Bhoja.
Em Bundelkhand a dinastia Chandella construiu os famosos mil templos de Khajuraho.
Manarastra assistiu uma seqüência de grandes dinastias, desde os Chalukya e os
Rahtrakuta, até os Cholas e os Pandyas. Os Cholas foram os responsáveis pela construção
do célebre templo de Tanjore.
A arte se desenvolveu, observando-se o abandono progressivo da arquitetura talhada na
rocha. A arquitetura passou a ser planejada sobre estruturas livres com a aplicação de
material durável, como a pedra e o tijolo. As características das construções dos períodos
antecedentes foram encontradas em todas as regiões. A maioria das edificações apresenta
um aposento térreo quadrangular coberto por um telhado piramidal ou curvilíneo. A
preocupação de erguer uma obra que ocupasse um espaço restrito e que fosse, ao mesmo
tempo, bela e baseada nas normas tradicionais, fez o arquiteto hindu apurar o bom gosto e
precisão, criar um conjunto de nichos, pilastras e cúspides foliformes, quebrando assim a
monotonia das linhas gerais pelo acréscimo de detalhes de escultura arquitetônica e
ornamental.
A escultura se tornou, mais do que nunca, parte integrante da arquitetura, povoando as
paredes dos santuários. Os escultores indianos da época medieval, principalmente os do
Norte, atingiram a perfeição técnica. A estilização das figuras se revela nas feições, nariz
grosso, olhos grandes e saltados, puxados para as têmporas, lábios sensuais e expressão
fisionômica ao mesmo tempo estática e intensa. As imagens sagradas obedeciam a uma
iconografia muito severa, sem prescindir das qualidades estéticas. Mostravam notável
pureza de forma e extraordinária noção de equilíbrio e movimento.
A invasão mulçumana nos séculos XIV e XV marcou o início da decadência da arte no
Norte e no Sul. A arte do relevo foi a que mais sofreu, mas a pintura mural ainda se
manteve, sem a mesma qualidade, na função decorativa de templos e palácios.

Arte Muçulmana

A evolução cultural da Índia foi interrompida de forma traumática pelas invasões


muçulmanas. Os conquistadores chegaram ao Punjab em 775 e gradativamente foram
dominando todos os Estados indianos. A presença dos muçulmanos provocou uma
reorganização religiosa e política no país, atingindo o desenvolvimento artístico que a partir
do século XIV começou a declinar.
Impondo o estilo que haviam criado na Pérsia, os invasores deixaram na Índia um grande
número de construções suntuosas. Foram palácios, mesquitas, fortificações, túmulos e
pórticos monumentais. Embora em alguns estados o puro estilo persa se impôs, em outras
regiões ele recebeu componentes indianos, surgindo um estilo que pode ser chamado de
indo-islamita.
As mesquitas de Jamá e de Kuwwat al-Islam em Kana, e o minarete construído em Delhi
nos séculos XIII e XIV, tiveram inspiração persa, enquanto as mesquitas de Gujarat, Sind e
Kathiawad receberam material retirado dos templos hindus. Assim sendo, os principais
elementos do estilo hindu, como pilares, cúpulas e grossas paredes de alvenaria, foram
utilizados. O resultado foram templos com padrões islamitas no exterior e características
indianas no interior.
O império Mughal, fundado pelo turco Babur, fez nascer o estilo do mesmo nome, com
puro padrão islamita. As regiões do norte da Índia, principalmente Agra, Lahore e Delhi,
foram beneficiadas com edificações luxuosas e avantajadas. É exatamente em Agra que se
localiza a mais famosa destas construções, o magnífico Taj Mahal,* que Shah Jahan
mandou erigir para ser o túmulo de sua esposa, a princesa Muntaz-i Mahal.
No período Mughal as chamadas "artes menores" foram desenvolvidas. Surgiram mosaicos
de pedra e cerâmica, azulejos coloridos com desenhos de animais, flores e padrões
geométricos, assim como outras técnicas artesanais. Os trabalhos de ourivesaria e
marcenaria, que os indianos já dominavam, tiveram um reflorescimento, destacando-se
também os trabalhos com jade. Os muçulmanos implantaram a fabricação do vidro que se
mostrou de alta qualidade. Na marcenaria passaram a ser empregadas as incrustações e
marchetarias, com resultados surpreendentes. Também originário da Pérsia, os esmaltes
executados em champlevé sobre ouro e prata merecem destaque.
A maior contribuição que a arte indiana recebeu do estilo Mughal foi no campo da
ilustração de livros e manuscritos, facilitado pelo aparecimento do papel que veio do Irã por
volta do século XIV. A técnica do afresco continuou a ser empregada, e a escola de Gujarat
se notabilizou pela execução de miniaturas. Esta arte recebeu influências da China e do
Afeganistão e mais tarde da Europa. Foi durante o império Mughal que se iniciou a
penetração européia na Índia, pelos portugueses no século XV. A influência ocidental foi
transmitida pelas cópias de gravuras, bíblicas ou seculares, pela introdução na miniatura
Mughal da perspectiva ocidental, pelo relevo, e pelo claro-escuro das escolas italiana,
francesa e holandesa.
A partir do final do século XVIII, a pintura indiana entrou em decadência. Só no final do
século XIX, com um movimento iniciado em Bengala, houve uma tentativa de reabilitar
esta arte na Índia, libertando-a da influência européia, sendo necessário muito trabalho para
recuperar a arte da pintura indiana. Durante os séculos XVI a XIX, a arte indiana teve
alguma influência na Europa (Portugal, França e Holanda), principalmente na arquitetura e
nas artes menores. Também um grande número de objetos de arte, destinados à Europa,
foram produzidos na Índia. A arte da Índia teve uma forte influência em todo o sudeste
asiático.

Religião na índia

A religião era a base da estrutura social na Índia antiga, comandando desde o


comportamento humano até a administração pública. As noções remotas dos credos
religiosos estão nos escritos sagrados conhecidos como Veda. Sua expressão essencial e seu
objetivo eram o sacrifício. Os deuses védicos representavam as forças e fenômenos da
natureza: a terra, o céu, a água, o fogo, o vento, as estrelas, a aurora. A denominação dos
deuses era semelhante aos da Avesta Iraniana, o que nos leva a crer que tiveram a mesma
origem. A veneração popular a Rudra-Siva teria longa história na Índia.
Houve um período não determinado em que o Vedismo ficou tão obscuro que se tornou
necessário tratados explicativos. Os tratados Brama, Upanishada e Aranyaka deram origem
a um novo credo, o vedismo-bramanismo, que se tornou a mais indiana de todas as
religiões, substituindo o sacrifício por celebrações e o conceito sobre a alma individual
passou a ter maior importância. A identificação da alma individual com o Ser Universal
ficou sendo a base da nova religião.
O ensinamento do bramanismo era um privilégio exclusivo dos iniciados, eles guardavam
para si mesmo os procedimentos sagrados e estimulavam uma atmosfera de mistério sobre
os conhecimentos. A religião regulava a hierarquia da estrutura social, garantia o direito
divino do imperador e determinava as leis sociais.
Reagindo ao rigor do bramanismo, duas novas religiões surgiram no século XV a.C.: o
Jainismo, fundado por Vardhamana, também conhecido por Mahavira - o grande Herói, ou
Jina - o Vitorioso, que pregava a não violência; e o Budismo, que teve um futuro de maior
importância e que ultrapassou as fronteiras do país e se espalhou pelo mundo.
O fundador do budismo foi um príncipe de Sakya, que vivia entre as fronteiras do Nepal e
da Maghada. Por ter atingido a luz espiritual, ficou conhecido como Buda - o Iluminado.
Ele pregava a caridade e todas as criaturas, igualdade para as pessoas e a prática da
moderação. Rejeitava o conceito de classes, mas manteve o conceito de transmigração da
alma do bramanismo. O budismo não rejeitava as outras religiões, o que significava que ao
adotar budismo a pessoa não precisava renunciar a suas crenças, desde que não fossem
contrárias às práticas budistas. A religião oferecia uma evolução, através de reencarnações
sucessivas que, pela prática da caridade culminaria na libertação permanente. O budismo é
um sistema religioso ético dotado de um espírito missionário e evangélico e bastante
ilustrado de histórias edificantes.

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