Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICOLOGIA DO COTIDIANO
Campus
São Paulo – 2023
1
1 Registro de Observação
Registro de Observação:
A igreja católica é localizada em frente à estação Capão Redondo e a um
ponto de ônibus, então havia muita movimentação na região, ouvia vários carros
passando e pássaros assobiando, e o clima estava ameno.
Entrei no local as 16:55, neste horário é mais vazio, pois a próxima missa
seria apenas às 19h. A igreja é relativamente grande, com vários bancos de madeira
acolchoados, quadros de Jesus, uma estátua de nossa Senhora do Carmo a
esquerda, perto de uma porta escrito “santuário do santíssimo”, enquanto ao centro
tinha o altar, Jesus em uma cruz enorme e a direita tem uma estátua de São
Francisco de Paula.
Me sentei próximo à entrada, vendo praticamente todo o interior da igreja e
ainda tinha uma visão parcial da rua, onde algumas pessoas passavam fazendo o
sinal da cruz. Dentro da igreja havia apenas outras 2 pessoas, um homem grisalho,
segurando um terço, ajoelhado em um banco próximo ao altar central e uma mulher
mais jovem, aparentemente usando uniforme do trabalho, pois tinha o logo da
empresa, estava sentada alguns bancos atrás, mexendo no celular. Ambos
permaneceram desta forma por cerca de 15 min, quando ela se levantou para ir
embora imaginei que não olharia para trás, já que permaneceu o tempo todo no
celular, mas ao chegar à porta ela se virou e fez o sinal da cruz antes de se retirar.
Já o homem grisalho se direcionou ao santuário, fez o sinal da cruz e entrou.
Alguns homens de mochilas se ajoelharam ao fazer o sinal da cruz na entrada
da igreja, foram até a estátua de nossa Senhora repetiram o mesmo sinal na testa,
2
boca e peito, reparei que trabalhavam lá, pois além de demostrarem mais
religiosidade comparado aos demais, eles destrancaram uma porta, entraram e logo
após saíram sem as mochilas.
Uma mulher e um homem chegaram juntos, eles carregavam mochilas, então
supus que provavelmente estavam voltando do trabalho, porque as pessoas do meu
convívio vão trabalhar com mochila, eles fizeram o sinal da cruz, se sentaram
próximos a saída e ficaram conversando por cerca de 25 minutos. Ao se retirarem,
ouvi ela dizer “quero pegar uma santinha”, se direcionando a uma mesa ao lado da
porta, que eu não havia percebido até o momento, pegou um papel e saíram, sem
fazer o sinal da cruz.
Quando o homem grisalho saiu do santuário, também pegou um papel e se
retirou fazendo o sinal da cruz. Decidi ir até a mesa, verifiquei que nela havia papeis
de imagens de santos com orações no verso.
Uma senhora chegou, fez o sinal da cruz, foi até a estátua de nossa Senhora,
se ajoelhou, orou e ao sair pegou um papel, sem repetir o sinal.
Um homem preto chegou silencioso, sem que eu percebesse, quando o vi ele
estava ajoelhado em um banco nos fundos, foi uma oração rápida, ele foi embora
em pouco tempo. Me toquei que os demais eram todos brancos, o que me fez
pensar que praticamente todos os meus conhecidos pretos seguem religiões de
matriz africana.
Um menino, que aparentava ter por volta de 10 anos, por sua altura e feição,
entrou rápido na igreja, andou até Jesus, fez o sinal da cruz, se virou para voltar pelo
mesmo caminho, vi que ele falava sozinho e fez um “joinha” para a estátua de São
Francisco, o que me tirou um sorriso automático, achei fofo e inocente.
Ao sair vi o menino novamente, ele estava na loja da igreja junto de uma
moça, provavelmente a mãe, julgando pela proximidade e semelhança deles,
comprando velas, ele apontou para várias coisas, mostrando quais gostava, a moça
comprou e eles saíram.
Compreensão da observação
Por não ser horário de missa, imaginei que veria mais idosos, por socialmente
ser mais comum pessoas de idade frequentarem a igreja com maior frequência, mas
não foi o que ocorreu, haviam pessoas de outras faixas etárias. Eu não imaginava
encontrar mais brancos, pois não possuía nenhuma preconcepção referente a raça
3
de pessoas que frequentam a igreja católica, portanto apenas reparei quando houve
um contraste.
Foi possível observar que as pessoas mais velhas repetiam o sinal da cruz
com mais frequência, no mínimo duas vezes, se direcionavam até as imagens e
passavam mais tempo dentro da igreja orando, demonstrando mais devoção e
respeito. Enquanto, no geral, as mais novas faziam apenas uma vez (só eu não o
fiz), mexiam no celular, conversavam e não permaneciam muito tempo, algumas
nem chegavam a entrar, apenas fazendo o sinal do lado de fora.
O menino, por ainda ser criança, demonstrou respeito por meio do sinal da
cruz, porém não parecia compreender a maneira que deveria se comportar no local,
de acordo com o exigido socialmente. Por ele estar acompanhado de uma adulta,
imaginei que ele foi ensinado a seguir os costumes da família, passada de geração
em geração, isso me fez pensar quantas daquelas pessoas foram ensinadas e
quantas começaram a estudar a religião por livre e espontânea vontade.
Pensei nisso porque eu fui inserida no catolicismo pela minha família durante
a minha infância, já frequentei muitas missas, inclusive nesta igreja, sei os livros do
novo testamento de cor, fiz catequese, pós comunhão e crisma, mas atualmente não
sigo nenhuma religião.
Foi monótono realizar essa observação, 30 minutos pareceram demorar mais,
provavelmente porque era muito silencioso e havia pouca movimentação, eu
pretendia ficar mais tempo, porém todo mundo foi embora, imagino que talvez
alguém tenha tido a mesma sensação, com o tempo o silêncio incomoda.
4
2 Registro de Observação
Registro de Observação:
Entrei no metrô da estação Santa Cruz às 17:05, o ar-condicionado estava
ligado, a temperatura era agradável para mim, por mais que a alta quantidade de
pessoas acabasse tornando o local um pouco mais quente.
Fiquei em pé perto da porta, para mim é mais seguro, pois por ter 1.52 de
altura não consigo alcançar a barra para me segurar. Reparei que as pessoas
usavam roupas casuais, calça jeans, camiseta básica e tênis, poucos usavam
uniforme do trabalho, a maioria estava com mochila e fone, enquanto mexiam no
celular, consegui ver que algumas jogavam, outras assistiam algo ou usavam rede
social.
As pessoas que não mexiam no celular estavam olhando para baixo ou para
cima, pareciam evitar contato visual o tempo todo. Apenas dois homens brancos de
feição jovem, conversavam em pé frente a frente, pelo que ouvi eles trabalhavam
juntos, logo que um deles desceu do metrô o outro começou a mexer no celular, não
se comunicando com mais ninguém.
Uma moça preta de cabelos escuros e cacheados entrou com o celular na
mão e fones com fio nos ouvidos, ela ficou do meu lado, reparei que usava o crachá
da empresa pendurado no pescoço, consegui ouvir a música "lovezinho" saindo de
seu fone em alto volume, por vezes ela balançava a cabeça no ritmo. Lembrei que
durante a semana ouvi muitas pessoas cantando ou ouvindo essa música, porque
está nas trends do TikTok, então imaginei que ela também utilizasse o aplicativo.
5
Compreensão da observação
O estilo de roupa que as pessoas estavam usando era muito semelhante, não
vi ninguém que o estilo me chamasse atenção, achei curioso o padrão ser básico
naquele vagão. Levei em consideração a região que passávamos, às vezes quando
vou para a Liberdade na Linha Azul vejo pessoas com estilos mais diferenciados.
Metrô em final de expediente, das 17 às 19 horas, é um inferno, ninguém
tentou puxar assunto com outras pessoas, nem mesmo as que estavam sem celular,
acredito que não tenham vontade de socializar com um desconhecido depois de um
dia cansativo, eu particularmente não tenho.
Me perguntei por que algumas pessoas não estavam usando o celular, pensei
nas seguintes possibilidades: simplesmente não queriam, estavam pensando em
outras coisas, estavam sem bateria ou não tinham sinal de internet, já que na maior
parte do trajeto sei que de fato não há sinal. Não haveria como obter uma resposta
sem perguntar para eles, então desfoquei desse pensamento brevemente.
O fato de a moça estar escutando uma música relativamente famosa me fez
pensar que provavelmente mais pessoas no vagão conheciam a música, já que o
TikTok possui muita influência nas músicas mais ouvidas recentemente.
A falta de paciência das pessoas que desejavam se locomover no metrô
expressa como agem diferente quando estão cansados ou estressados,
principalmente com desconhecidos.
6
7
3 Registro de Observação
Registro de Observação:
Desci na estação Borba Gato, enquanto saia percebi que todos preferiam ir
de escada rolante, ficavam parados no lado direito mexendo no celular, só olhavam
para frente quando chegava ao final, então resolvi contrariar e subir a escada de
concreto.
Do lado de fora o clima estava fresco, me sentei em um banco em frente a
uma árvore, do meu lado direto, próximo à rua, havia um moço vendendo pipoca, eu
conseguia sentir o cheiro, também ouvia o barulho dos carros passando.
No mesmo banco havia uma jovem de cabelo liso mexendo no celular e do
lado dela um homem branco, careca e de barba ruiva, usando um boné, também
mexendo no celular e rindo muito alto, fiquei curiosa, olhei para o celular dele
rapidamente e vi que estava no TikTok, achei engraçado como ele parecia
confortável em público, não tentou controlar a risada, nem colocou a mão na boca
para abafar o som, cobicei esse comportamento.
Vi várias pessoas passando, reparei que a grande maioria das mulheres
andavam com a mochila na frente, incluindo eu, só vi 3 homens tendo esse
comportamento, me perguntei o que levaria a isso, talvez as mulheres sejam mais
cuidadosas nestes casos ou prefiram evitar contato físico com os demais.
Após alguns minutos o homem de boné foi embora, outra moça jovem chegou
e parou em frente a outra, que ainda estava ao meu lado mexendo no celular,
portanto não reparou sua presença imediatamente, até que falasse “oi amiga, o que
tá fazendo aqui?” e ela respondeu “oi, tô esperando meu namorado, senta aí!”,
8
abrindo espaço para ela, voltou a mexer no celular e depois disso não houve mais
interação entre elas.
A moça sentou ao meu lado e começou a ler um e-book, enquanto ouvia
música pelos fones Bluetooth cor verde pastel, pelo alto volume eu conseguia ouvir
a música, era algum rock que eu não conhecia, comecei a me perguntar como ela
conseguia se concentrar na leitura ouvindo aquilo, porque eu tenho o costume de ler
e acho extremamente difícil.
Mais 3 moças aparentemente da mesma idade chegaram e cumprimentaram
elas, que se levantaram, formando uma rodinha de conversa, falaram que foi
coincidência se encontrarem e sobre uma briga que teve na última aula. Depois de
conferirem o horário de decidiram ir para a faculdade juntas, a moça que estava
esperando o namorado disse que mandaria uma mensagem para ele avisando que
não iria esperar mais.
Compreensão da observação
O ambiente interferiu no meu comportamento no momento que decidi agir de
forma contrária dos demais, mesmo não sendo do meu feitio, pois geralmente eu
utilizo a escada rolante pelo lado esquerdo, sem ficar parada.
Chamou a minha atenção todos respeitarem o consenso de “esquerda livre” na
escada rolante, mesmo quando não havia ninguém subindo por este lado, percebi
que faço isso automaticamente, sem me dar conta acabou se tornando um hábito.
As pessoas podem preferir a escada rolante por puro comodismo e sedentarismo,
não querem suar, querem continuar mexendo no celular, também há pessoas que
não podem realizar muito esforço e utilizar a escada rolante se torna uma questão
de necessidade.
Quando cobicei o comportamento do homem que estava rindo alto, aquilo não
me incomodou, porque pensei que poderia me acostumar a rir, com o tempo pararia
de sentir vergonha, porém é um comportamento que pode incomodar outras
pessoas e eu não gosto de ser notada, então desconsiderei a possibilidade.
Ele me chamou tanta atenção que acabei não reparando muito na aparência das
moças, só me dei conta disso no momento que comecei a escrever o registro de
observação.
O fato de a moça demorar para notar a presença da amiga, mostra como ela
estava muito focada no celular, ignorando o ambiente e as pessoas ao redor.
9
Mesmo Durante toda a conversa com as outras 3 moças que chegaram percebi que
ninguém falou o nome de nenhuma delas, apenas se referindo como “amiga”, o que
é muito utilizado na internet, principalmente no Twitter, também se tornou algo
comum nas falas do dia a dia.
Quando a moça que esperou o namorado por tanto tempo disse que iria junto
com elas imaginei que ela poderia ter cansado de ficar esperando usando o celular,
interagir com as amigas parecia mais interessante.
4 Registro de Observação
Registro de Observação:
Quando entrei no Subway próximo a UNIP o céu estava escuro e ventava,
parecia que iria chover em breve, então resolvi me abrigar lá e pedir um lanche.
Fui para a fila e o moço disse para funcionária deixar eu passar na frente
dele, achei gentil, agradeci e ele comentou que não tinha pressa porque iria esperar
a chuva passar.
Coloquei meu celular para carregar, ia começar a comer o lanche quando ouvi
barulho de chuva forte e a luz acabou, mas ainda dava para ver bem devido a luz
natural. Olhei para trás novamente e vi que ventava tão forte que a moto do moço
caiu no chão, na hora ele colocou as duas mãos na cabeça como sinal de
preocupação, depois pegou a moto na rua e a moveu para a área externa coberta
para protegê-la.
Uma funcionária que estava na mesa disse “fala para ele entrar” para a
atendente do caixa, que era uma senhora de cabelo loiro com visíveis fios brancos,
olhos claros e linhas de expressões, ela abriu a porta e perguntou para o moço se
ele gostaria de entrar, mas ele recusou, provavelmente ele quisesse ficar perto da
moto por precaução. Ela fechou a porta, desligou o disjuntor que ficava ao lado,
secou a água que havia entrado usando um pano, sentou em uma cadeira próxima a
porta, deitou a cabeça na mesa e permaneceu assim por um tempo, talvez tenha
dormido.
A moça loira de cabelo liso que estava na minha frente deixou o lanche na
mesa, foi até a porta gravar um vídeo da chuva, depois voltou para seu lugar,
12
Ouvi uma das funcionárias na próxima mesa dizendo para a outra “logo no
seu primeiro dia”, elas riram, então a funcionária nova perguntou se demoraria muito
tempo para a luz voltar e a outra disse que dependeria da chuva, depois elas se
levantaram, fecharam a estufa de exposição, entraram pela porta para funcionários e
não voltaram mais.
Compreensão da observação:
O comportamento do homem foi daquela forma porque era 8 de março, Dia
Internacional da Mulher, me perguntei como ele se comporta no dia a dia, se ainda
seria gentil e respeitoso, de qualquer forma fiquei grata, pois tem pessoas que nem
se lembram ou não dão importância para esse dia.
A atenção e cuidado que tiveram com o meu pedido por ser vegano, fez com
que me sentisse acolhida, o que me deixa mais confortável para retornar lá com
frequência, sem ter medo de errarem meu pedido ou não ter opções. É algo que
deixa claro a importância de “costumer care”, já fui em muitos Subways e nunca me
fizeram essas perguntas, apenas nesse, é algo particular do local, pois em outras
ocasiões anteriores outras funcionárias também me fizeram aquelas perguntas,
imagino que a gerente tenha reforçado esse comportamento.
Quando o moço viu a moto caindo foi possível identificar por meio da sua
linguagem corporal a preocupação que ele sentia com a moto, pois desde criança eu
13
5 Registro de Observação
Registro de Observação:
Estava chovendo, temperatura de 22⁰C, ao entrar verifiquei que tinham cerca
de 22 pequenas mesas para duas pessoas, próximas umas das outras, 11 delas
tinham um porta guardanapo com o número e um botão para solicitar atendimento,
me sentei na mesa número 2, ao fundo da padaria, onde possuía uma visão ampla.
Dei uma olhada no cardápio, mas nada me agradou, então fui até o balcão e
pedi um pão de queijo, o atendente se parecia com o outro fisicamente, ele né
chamava de “minha querida, meu bem e meu amor”, sempre olhando para mim
enquanto falava. Voltei para a mesa, enquanto eu comia o garçom veio até minha
mesa e pegou o cardápio, novamente sem se comunicar.
Perto do balcão havia uma senhora e uma jovem adolescente que juntaram
duas mesas, vi várias sacolas de compras nas outras duas cadeiras livres, na mesa
ao lado havia um senhor grisalho de óculos, ele estava olhando para a TV atrás de
mim, às vezes virava para a mesa delas para comentar algo, mas a senhora não
falava muito, enquanto a adolescente só mexia no celular. Como isso se repetia com
frequência imaginei que estivessem juntos, procurei por alianças, mas eles não
usavam, depois de meia hora uma mulher chegou, foi até a mesa deles, os
cumprimentou, sentou junto ao senhor, confirmando que estavam de fato juntos,
elas começaram a tirar das sacolas caixas de sapato e mostraram para a mulher,
imaginei que pudessem ser da mesma família, mas além do fato de serem todos
brancos, não havia semelhança.
Por estar chovendo uma funcionária andava entre as mesas passando pano
com um rodo para manter o chão seco. Teve um momento que ela parou em frente
16
Uma moça branca e loira estava sozinha em uma mesa mexendo no celular,
pela feição parecia entediada, até que um senhor chegou animado e cumprimentou
ela com um beijo na testa e um abraço, ela abriu um sorriso enorme, bloqueou o
celular, colocando-o na mesa, e começou a conversar com o senhor.
Compreensão da Observação:
A maioria das pessoas comiam pão e tomavam café, apenas as moças do
lado externo da padaria tomava cerveja, o clima frio justifica esse comportamento
geral, pois é preferível bebidas quentes.
6 Registro de Observação
Registro de Observação:
Vik Muniz é um artista plástico brasileiro radicado no EUA, que mistura arte
com projetos sociais, ele decidiu ir para o maior aterro sanitário do mundo, em
volume de lixo recebido, chamado Jardim Gramacho em Duque de Caxias, Rio de
Janeiro, junto de seu colega de trabalho Fábio, para produzir arte e o dinheiro ganho
seria para ajudar os catadores.
Quando a esposa dele pergunta “como será a questão da saúde se você
trabalhar com eles? Não é exatamente seguro fazer o que eles fazem” ele responde
que eles não questionam isso, porque é daí que eles comem, que é difícil criar
suposições e seria necessário ir até lá para descobrir o que eles precisam.
Vik diz que não tem a mínima ideia se eles aceitariam trabalhar no projeto,
pois devem ser as pessoas mais insensíveis, são viciados, o lugar onde vivem é o
fim da linha, onde tudo que não é bom vai, que “o tipo de pessoas que trabalham lá,
na sociedade brasileira, não são muito diferentes do lixo” e acredita que a coisa mais
tóxica na cultura e sociedade brasileira é o classicismo.
Ao chegar no aterro ele diz não ser tão ruim como ele achava, porque as
pessoas estavam conversando e não pareciam deprimidas, mas orgulhosos do que
faziam. Por exemplo o catador Tião achou um livro de Maquiavel no aterro, decidiu
ler e gostou, uma coisa simples o deixou feliz, ele disse que não tem nada do que
reclamar da vida e que a filha dele quer ser psicóloga, ele que dar uma vida melhor
para ela.
19
7 Registro de Observação
Registro de Observação:
Chimamanda morava na Nigéria, mas lia livros infantis britânicos e
americanos, então escrevia exatamente o tipo de história que lia, com personagens
brancos que brincavam na neve, ela nunca havia estado fora da Nigéria e lá não
tinha neve. Isso demonstra como somos impressionáveis e vulneráveis face a uma
história, principalmente quando somos crianças.
As coisas mudaram quando ela descobriu os livros africanos, não haviam muitos,
mas devido a eles ela descobriu que meninas da cor dela também podiam existir em
livros na literatura.
Quando Chimamanda tinha 8 anos sua família contratou um menino chamado
Fide como empregado, a única coisa que a mãe dela disse sobre ele é que vinha de
uma família muito pobre. Um dia foram visitar a família dele e Chimamanda viu um
cesto com um padrão lindo feito pelo tio dele e ela ficou surpresa por pessoas
pobres conseguirem criar alguma coisa.
Com 19 anos ela foi estudar em uma universidade nos EUA, a colega de
quarto ficou surpresa por Chimamanda falar inglês tão bem, pois não sabia que na
Nigéria falavam inglês. Ela presumiu que Chimamanda não sabia usar um fogão,
entre muitos outros preconceitos, sentiu pena dela por ser africana, porque ela tinha
uma única história da África.
Depois de passar vários anos nos EUA ela começou a entender a visão das
pessoas, as imagens populares passam a impressão de que a África é um lugar com
negativo, com várias paisagens bonitas e pessoas passando fome. Chimamanda
23
ouviu histórias infindáveis sobre os Mexicanos durante a migração, que ficou imersa
na cobertura da mídia, assimilando uma única história a eles, é assim que é feito,
mostre um povo como somente uma coisa repetidamente e será o que eles se
tornarão.
Existir somente em histórias negativas é superficializar a experiência e
negligenciar as muitas outras histórias que formam a totalidade. A única história cria
estereótipos, e o problema não é que sejam mentiras, mas que sejam incompletos,
pois fazem uma história tornar-se a única história, roubando das pessoas sua
dignidade.
É necessário se relacionar com todas as histórias de um lugar ou pessoa, se
a colega de quarto dela tivesse contato com outras histórias da Nigéria não teria
preconcepções a respeito de Chimamanda, mas ela apenas teve contato com
histórias negativas.
Todas as histórias importam, podem capacitar e humanizar, histórias podem
destruir a dignidade de um povo, mas também podem repara essa dignidade
perdida.
Quando rejeitamos uma única história, percebemos que nunca há apenas
uma história sobre algum lugar ou pessoa, reconquistamos um tipo de paraíso.
Compreensão da observação:
Como ela não via pessoas da cor dela nos livros que lia quando era criança,
ela achava que não tinha espaço para ela na literatura e começou a desejar coisas
que havia nos países representados nos livros, portanto ao escrever ela limitava
suas ideias a coisas desconhecidas. É extremamente importante que as crianças se
sintam representadas em livros, que escrevam sobre coisas que têm acesso no dia
a dia, não apenas o que veem em outros livros ou na televisão.
Chimamanda sofreu muito preconceito durante sua trajetória, porém também
teve suas próprias preconcepções a respeito de outros povos, deixando claro que
estereotipamos as pessoas inconscientemente, sem nenhuma intenção ruim, muitas
vezes até de forma inocente.
A frase “mostre um povo como somente uma coisa repetidamente e será o
que eles se tornarão” é a mais pura verdade, independentemente de serem
estereótipos considerados bons ou ruins. O Brasil, por exemplo, é conhecido
mundialmente por ser o país do futebol, do carnaval e mulheres bonitas, mas nem
24
todo brasileiro sabe jogar futebol ou se quer gosta do esporte, é uma definição muito
incompleta, existem outras mil coisas que podem ser ditas sobre o Brasil, mas que
não são representadas na mídia.
Ter preconceitos a respeito de um lugar ou pessoa limita nossa capacidade
de observação, porque torna as coisas muito pequenas e simples, quando na
verdade são enormes e complexas, é necessário ter muita atenção aos detalhes,
para assim ter uma compreensão maior e conseguir se colocar no lugar do outro
quando necessário.
25
8 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia quente, porém o local estava relativamente frio devido ao ar-
condicionado, senti um arrepio ao entrar pelas portas de vidro automáticas, coloquei
uma máscara e um segurança preto com um corte de cabelo tipo black, usando
óculos e terno me disse “boa tarde” e eu retribui.
O local tinha uma fileira de cadeiras da cor vinho acolchoadas em frente uma
grande mesa de atendimento dividida por quatro funcionárias mulheres usando
uniformes verdes, elas solicitavam os documentos do paciente e usavam os
computadores para registrar os dados. Na parede, acima delas, havia uma televisão
informando as senhas que estavam sendo chamadas e para qual sala deveriam se
direcionar, ao redor havia outras 3 televisões com a mesma informação, quando a
26
Uma mulher branca, de olhos azuis, cabelo loiro com fios brancos e usando
óculos entrou no hospital e foi tirar dúvidas com o segurança da mesa, ouvi ele
dizendo que ela precisava colocar uma máscara, ela perguntou se lá tinha, ele
pegou uma caixa de máscaras e disse para ela “é 1 real”, a senhora fez uma
expressão que me pareceu de desapontamento e disse “vish Maria”, ele riu, parecia
um pouco sem jeito dizendo “é brincadeira, faço essa piada para deixar o clima mais
leve para os pacientes”, ela não riu, apenas pegou a máscara e entrou.
Uma moça chegou junto de uma senhora, levou ela até uma cadeira e foi falar
com o segurança na mesa, ele disse precisar de um documento, a senhora fez
menção de se levantar, a moça andou rápido em direção a ela, falou “fica sentada
mãe, me dá o seu RG” e foi entregá-lo para o segurança. Assim que ela pegou a
senha já foi chamada, devido a ter atendimento preferencial por ser idosa, a filha
dela a acompanhou em cada passo até a sala.
28
Pouco tempo depois um homem chegou junto de uma idosa, ambos eram
brancos e usavam óculos, ele era grande e o cabelo estava começando a ficar
grisalho, ela era muito magra, tinha rugas e o cabelo todo branco. O homem foi até o
segurança na mesa e começou a falar em um tom alto que a mãe dele tinha um
tumor no coração, ela foi internada nesse hospital e teve alta recentemente, mostrou
alguns papéis que continham essas informações, disse que ela precisou parar de
tomar um dos remédios que estava fazendo mal para ela e que agora ela está muito
fraca, então precisava falar com o médico responsável. O segurança os deixou
entrar e pouco tempo depois um homem usando camiseta vermelha, calça e tênis
brancos saiu pelo elevador, se apresentou como sendo médico chefe da cardiologia,
conversaram um pouco e ele os levou para outro lugar.
O casal de jovens já tinha sido atendido, reparei que a moça estava com um
cateter no braço esquerdo, uma funcionária usando rosa foi chamá-la, ela retornou
para a sala, enquanto isso o moço mexia no celular, depois ela voltou sem o cateter,
apenas com um adesivo no braço. Eles foram até a porta automática de mãos
dadas, ficaram lá abraçados, pelo seu semblante ela parecia estar cansada, ele deu
um beijo na testa dela, nesse momento reparei que eles não usavam aliança. Ainda
abraçados ele conferiu o celular algumas vezes, imaginei que pudessem estar
esperando um Uber ou algum conhecido que iria buscá-los, pouco tempo depois um
carro chegou, eles se despediram dos seguranças e saíram.
Compreensão da observação:
29
A maioria dos pacientes usava o celular, o local ter um armário gratuito para
carregar celular reforça esse comportamento, antigamente as salas de espera
tinham revistas, hoje em dia isso é mais raro de se ver. Por todos terem que esperar
serem atendidos, é compreensível que busquem uma forma de distração, eu gosto
muito de ler, costumo andar com um livro na mochila, olhei ao redor mas não vi
ninguém lendo.
As pessoas sozinhas que não mexiam no celular apenas olhavam para algum
lugar ou tiravam um cochilo, não tentavam conversar com ninguém. Os
acompanhantes não usavam o celular, estavam dando atenção para a pessoa que
estava mal, seja conversando, fazendo carinho ou buscando informações.
O fato de eu estar com dor nos ouvidos fez com que eu prestasse mais
atenção quando ouvia o som que chamava as senhas, já as pessoas que estavam
focadas nos celulares muitas vezes não se atentavam a isso, até quando algum
funcionário chamava pelo nome havia demora. Deixando em evidência como
geralmente as pessoas ignoram o ambiente ao redor quando desviam a atenção,
provavelmente elas começaram a usar o celular como uma forma de distração no
momento de tédio durante a espera, porém se distraíram mais do que deveriam.
A Raíssa ouviu seu nome rapidamente pois estava atenta, não mexia no
celular e estava sentindo dor, provavelmente ela ansiava para ser atendida logo,
entretanto sua mãe não ouvia, pois, seu foco de atenção estava direcionando a
conversa com o segurança, tornando difícil ouvir estímulos externos, foi necessário
chamarem em um volume mais alto por 4 vezes para que ela percebesse.
Foi possível identificar que as roupas dos funcionários condiziam com suas
funções, os seguranças usavam ternos pretos, o uniforme das recepcionistas era
verde, dos funcionários da triagem rosa, dos enfermeiros azul e dos médicos branco,
estavam arrumados, tendo em vista que estavam em seu local de trabalho deveriam
30
Ao reparar que eles não usavam alianças me perguntei há quanto tempo eles
estariam namorando, porque foi muito legal da parte dele acompanhá-la, não ficou
mexendo no celular, o tempo todo ele permaneceu ao lado dela lhe dando atenção,
talvez fosse um relacionamento recente ou eles namoram há algum tempo, porém
preferem não usar aliança por algum motivo, fiquei curiosa, mas saber o tempo que
estão juntos não faria diferença para mim, de qualquer forma observá-los me deixou
feliz e me fez sentir falta do meu namorado.
9 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia de sol, por volta de 23⁰, mas dentro do shopping estava bem
fresco, devido ao ar-condicionado. Me sentei em um banco no meio do corredor,
estava bem iluminado, no teto vi vários painéis quadrados de luz branca, as paredes
também eram brancas, mas o piso liso era um pouco mais amarelado, atrás de mim
havia uma coluna com algumas tomadas para que as pessoas pudessem carregar
seus celulares.
Na minha frente havia dois totens de localização, um stand da Ofner com
diversos ovos de Páscoa e mais ao fundo o Paris 6, já a esquerda havia duas lojas,
DNZ e Sidewalk, a frente na direita havia o Bac’s, uma escada no centro do corredor
o separava da loja da Ofner, no meu lado direito.
Uma moça estava no mesmo banco que eu, junto de quem eu supus ser seu
namorado devido a usarem alianças semelhantes, ambos eram jovens brancos de
cabelo escuro, ela estava usando o celular enquanto carregava, ele também usava o
dele, depois de 10 minutos foram embora.
O Bac’s é uma lanchonete, tinham algumas mesas e bancos próximo ao
balcão, com o menu nas paredes, contendo fotos de lanches e sucos naturais. Lá
trabalhavam 6 homens de pele morena, o movimento estava fraco, poucas pessoas
entraram no estabelecimento, mas também não vi ninguém indo ao Paris 6, pela
Páscoa ser mês que vem o local com mais movimentação era a Ofner.
Por vezes alguém foi utilizar os totens de localização, porém houve três vezes
nas quais as pessoas foram tirar dúvidas de onde os lugares ficavam para um
33
na fila do caixa, percebi que o senhor carregava uma sacola da Kopenhagen, que
também é uma loja de chocolates renomada com ovos de Páscoa caros.
Ao lado da Ofner tinha uma fila no corredor, me virei um pouco e consegui ver
o logo da Bacio di Latte, que é um restaurante de gelados italianos deliciosos, eu
particularmente acho muito bom, aparentemente não era a única, já que a fila estava
grande, mas isso já era de se esperar, por ser um dia quente.
Uma moça branca de cabelo médio liso pintado de ruivo acobreado e um
pouco ressecado passava pelo corredor, logo atrás dela tinha uma menininha loira
de cabelo ondulado curto, olhou para o stand da Ofner e disse alto “olha mamãe,
que fofinho o coelhinho da Páscoa” apontando para uma pelúcia, ela deveria ter
cerca de 5 anos, julgando pela estatura e desenvoltura ao falar, a mãe dela
respondeu “fofo mesmo, filha! A Páscoa já tá chegando, vamos comer bastante
chocolate”, a menina riu e correu para alcançá-la.
Saindo da Bacio di Latte, uma moça e um moço vieram em minha direção e
se sentaram no mesmo banco, ficaram conversando olhando um para o outro, rindo
de vez em quando, ambos estavam com as pernas cruzadas, tomando gelato em
potinhos, praticamente em sincronia, quando terminaram o gelato se levantaram,
deram as mãos e foram embora.
Havia muitos idosos passeando, principalmente casais, alguns estavam
sozinhos e poucos eram acompanhados por pessoas mais jovens. Por duas vezes vi
idosas passeando em uma cadeira de rodas motorizada, uma delas estava sozinha,
já a outra estava com um homem apenas um pouco mais jovem que ela, ele falava
bastante enquanto andavam.
Teve um grupo de quatro senhoras que parou em frente a escada, uma delas
fez menção de que iria subir, então outra senhora perguntou “vamos subir de escada
mesmo?”, elas concordaram e subiram, sem nenhum problema.
Tinham algumas mesas perto da escada, em uma delas uma mulher estava
sentada em frente a um homem, ambos eram brancos, aparentavam ter cerca de 40
anos pela feição com linhas de expressão, usavam óculos e os cabelos já tinham
fios brancos misturados com os castanhos, eles mexiam nos seus respectivos
iPhones sem se comunicarem desde que iniciei a observação, agora estavam
tomando café em xícaras de porcelana branca, reparei que usavam alianças.
Um menino branco de cabelo preto curto, que pela estatura supus que tivesse
por volta de 7 anos, passou correndo perto da mesa do casal, mas eles não
35
Compreensão da observação:
A ambientação e as lojas do shopping Ibirapuera são diferentes do shopping
Campo Limpo, que eu costumo frequentar por ser mais perto da minha casa, esse
shopping tem coisas mais caras, tendo em vista que é localizado em Moema, então
no geral as condições financeiras de quem frequenta o local são melhores, o fato de
praticamente todos terem iPhone também deixa isso em evidência.
Quando notei as pessoas tirando dúvidas com o segurança me perguntei se elas
não notaram que havia totens de localização ali, faltando atenção, se elas não
sabiam utilizar o totem, faltando habilidade, ou simplesmente preferiam falar com ele
por outro motivo.
Foi possível observar muitas pessoas utilizando o celular, até mesmo
enquanto carregava, evitando se comunicar com quem as acompanhava, deixando
em evidência como grande parte das pessoas preferem ficar no mundo virtual a no
real.
36
faça parte da comunidade, porém talvez ele não faça, não é algo que dê para se ter
certeza, não importa em quantos estereótipos a pessoa se encaixe.
Ao ver as pessoas comprando ovos de Páscoa e gelato, senti vontade de
comer também, mas fiquei só na vontade mesmo devido ao preço, por mais que eu
já tenha experimentado ambos anteriormente e sei que são bons, não tenho o
privilégio de gastar dinheiro com isso, o que me deixou um pouco chateada no
momento.
Observei quatro casais, o primeiro que se sentou próximo a mim no qual a
moça usava o celular enquanto carregava, o segundo que estava tomando gelato, o
casal mais velho que estava na mesa próximo a escada e os idosos que estavam
comprando ovos de Páscoa. Todos os quatro se comportaram de maneiras
diferentes, me questionei a quanto tempo os casais estariam juntos, pois no senso
comum o relacionamento “perde a mágica” com o tempo, porém comparando os
dois casais jovens foi possível ver um era mais afetuoso que o outro, da mesma
forma que o casal mais velho não eram tão afetuosos quanto o casal de idosos,
talvez não gostassem de demostrar carinho em local público, o que é
compreensível, mas sequer conversavam, só davam atenção para o celular. Já os
pais e mães que observei sempre conversavam com os filhos, até brincavam, dando
muita atenção para eles e evitando o celular.
38
10 Registro de Observação
Registro de Observação:
O dia estava extremamente quente, me sentei junto a minha amiga em um
banco de madeira embaixo da sombra de palmeiras, atrás de mim havia um grande
campo aberto de grama, a frente havia um espaço que se estendia para a direita,
pelo qual pessoas passavam, do outro lado também havia bancos e palmeiras, a
esquerda estava a entrada da exposição imersiva “Monet à beira d’água”, com uma
estrutura de ferro com painéis quadrados amarelo e azul, circundando a exposição
havia um caminho de chão liso com diversas pessoas andando de patins e algumas
de skate.
patins com ajuda de outro homem. O moço que carregava os tênis começou a
empurrar o que estava de patins para que ele fosse mais rápido, ele se
desequilibrou, quase caiu e começou a rir junto dos demais.
Uma mulher branca, loira com alguns fios brancos, magra e alta caminhava
ao lado esquerdo de um homem com a pele um pouco mais escura que a dela, da
mesma altura e com o cabelo grisalho, logo atrás deles tinha um cachorro branco e
pequeno, ele os seguia sem coleira. Teve um momento em que o cachorro foi para a
grama a esquerda apenas para cheirar o local, a mulher olhou para trás pelo ombro
direito e ao não ver o cachorro pegou na mão do homem, que olhou a esquerda e
apontou para o cachorro, ela colocou a mão no peito em sinal de alívio.
Olhei para o lado e as duas mulheres ainda estavam tirando fotos, dessa vez
viradas para o outro lado, fazendo poses diferentes. A de top rosa começou a fazer
ponte, uma pose da ioga, enquanto a outra filmava, ela não tinha tanta desenvoltura
e flexibilidade quanto os líderes de torcida, mas estava se saindo bem.
41
Por várias vezes vi um homem de pele escura, que parecia ter tomado muito
sol, com cabelo ralo contendo vários fios brancos, e magro, mas com músculos
definidos, provavelmente desenvolvidos praticando patinação. Ele passava na minha
frente rapidamente com seus patins, sem usar proteção, fazia movimentos limpos e
manobras que eu não teria coragem, sempre desviando de obstáculos com
facilidade. Enquanto uma pessoa dava uma volta contornando a exposição, ele dava
duas, ou até três.
Avistei aos fundos, na grama, uma moça segurando uma coleira azul, ao
olhar para baixo me surpreendi, pois ela estava passeando com um gato, o que não
é algo comum de se ver. Ele era branco com manchas pretas espalhadas pelo
corpo, pelo curto e liso, ele parecia não saber o que fazer ali, cheirou a grama e
sentou.
Por mais que eu estivesse longe, consegui ouvir o grupo de líderes de torcida
gritando “1, 2, 3, 4...” ao olhar na direção deles percebi estarem contando quanto
tempo as pessoas que estavam na base conseguiam segurar a flyer (posição da
pessoa que é jogada), eles estavam com as mãos abertas, na qual ela estava em
pé, depois de 6 segundos ela se desequilibrou e eles a seguraram.
Ouvi o toque de uma música, que reconheci imediatamente, era o funk “Tu
conhece a Paola?”, olhei ao redor, a música provinha de uma caixa de som JBL
preta, pendurada no pescoço de um garoto. Era um grupo de quatro garotos pretos,
que pareciam ter entre 16 e 18 anos, todos eram magros, usavam boné, bermudas e
camisetas largas, dois andavam de skate e os outros carregavam seus skates nas
mãos, enquanto cantavam a música e riam.
Uma menininha branca e loira, que parecia ter 5 ou 6 anos, pela sua estatura,
estava andando em uma pequena bicicleta rosa com a ajuda de seu pai, que tinha
as mesmas características físicas, ele falou “vai em direção a mamãe, filha, vou logo
atrás de você”. Ela continuou pedalando, um pouco mais a frente vi a mãe dela, era
42
branca e tinha cabelo castanho, estava segurando o celular com as duas mãos,
registrando o momento.
Compreensão da Observação:
O grupo de homens que jogavam futebol americano pode ser visto como uma
demonstração de atividade física, socialização e competição. Achei o nome
“caniballs” criativo, porém não curti muito, porque não passa uma imagem boa. Não
sabia que havia grupos de futebol americano lá. A maneira como se juntaram e
gritaram o nome do time indica uma união em torno do esporte e uma identificação
com o grupo.
Assim como eles, o grupo de líderes de torcida pareciam felizes, as
acrobacias que faziam juntos exigia habilidade, além de confiança e trabalho em
equipe. O fato de comemorarem juntos ao concluírem uma acrobacia e ajudarem a
menina que machucou o tornozelo deixa em evidência esta união.
O futebol americano e equipes de líderes de torcida são retratados em
diversos filmes e séries, por serem populares nos EUA, não esperava ver isso no
parque, o que deixa em evidência como muitos brasileiros são influenciados pela
cultura estadunidense, me perguntei se eles tinham amor pelo que estavam fazendo
ou se eram apaixonados apenas pela cultura, independente, é bom ver uma
diversidade de esportes no Brasil.
O fato de ver mais mulheres do que homens andando de patins me chamou a
atenção, pois quando eu era criança queria andar de skate, porque meu irmão mais
velho andava, mas minha mãe não deixou, por ser “coisa de menino”, então me deu
um par de patins, até hoje pratico o esporte. Imagino que hoje em dia isso não seja
tão propagado, tendo em vista que tivemos a skatista Rayssa Leal nas últimas
olimpíadas. Vi alguns meninos e homens patinando, mas vi apenas uma mulher
andando de skate, fiquei decepcionada, porém não surpresa. Sei que existem
muitos fatores que podem influenciar as escolhas individuais, além de influências
culturais e estereótipos de gênero, como diferenças nas habilidades físicas e
oportunidades.
Foi curioso ver crianças patinando em alta velocidade, sem nenhuma
proteção, podendo ser visto como irresponsabilidade ou autoconfiança em suas
habilidades. Enquanto adultos usavam todas as proteções e patinavam devagar,
demonstrando mais medo. Imagino que um fato decisivo para esse ocorrido seja que
durante a infância, o cérebro passa por um período de plasticidade neural que
permite que as crianças desenvolvam habilidades motoras de forma mais rápida e
eficiente.
43
Além disso, geralmente as crianças são mais dispostas a tentar coisas novas
e a correr riscos. Elas têm mais tempo livre para se dedicarem ao esporte e ainda
não tiveram a oportunidade de desenvolver muitos medos e preocupações, que
podem limitar os adultos em tentar coisas novas.
Os adultos tendem a ter expectativas mais altas em relação a si mesmos e a
seus desempenhos, o que pode gerar ansiedade e insegurança. Essa pressão pode
limitar a capacidade dos adultos de experimentar novas atividades ou de se
concentrar na prática e na aprendizagem. Portanto têm medo de cair e se
machucarem, por isso usam proteção, mas também não querem passar vergonha.
As duas mulheres com visual semelhante que tiravam selfies demostram
valorização da imagem e aparência física, possivelmente usam as redes sociais
para postar conteúdo relacionado a um estilo de vida saudável e cuidados com o
corpo. A presença do celular e a quantidade de selfies sugere um comportamento de
busca por aprovação e validação social. Elas incentivam esse comportamento entre
si e se apoiam, tirando fotos da amiga e ajudando a gravar vídeos, demonstrando
que isso pode fortalecer uma amizade tanto quanto o esporte.
Quando vi a exposição não passou pela minha cabeça a ideia de ter um carro
para auxiliar pessoas a chegarem no local, quando percebi que tinha parei para
pensar na importância disso, pois está diretamente relacionada à inclusão social e à
acessibilidade. Se não tivesse esse carro, para mim não faria diferença, eu não teria
sentido falta, porém para pessoas que têm dificuldade para locomoção isso faria
muita diferença, pois serve para facilitar a vida dessas pessoas, permitindo que elas
se locomovam com mais autonomia e conforto, podendo acessado local sem
enfrentar barreiras, sendo incluídas e valorizadas pela sociedade.
As pessoas que estavam no parque pareciam estar lá para aproveitar o clima
quente e relaxar, usavam roupas confortáveis e leves, e algumas até usavam
biquínis e shorts para se bronzear. Isso sugere que elas estavam descontraídas e se
preocupavam mais com o conforto do que com a aparência. Por outro lado, as
pessoas que estavam indo para a exposição pareciam estar mais preocupadas em
se produzir e causar uma boa impressão, o que sugere que elas se preocupam mais
com a aparência e em se vestir de acordo com a ocasião. Acredito que muitas
tirariam fotos dentro da exposição para postar nas redes sociais, o que demonstra a
preocupação com aprovação social, assim como as moças que tiravam selfies.
É possível perceber que a maioria das pessoas presentes eram jovens
adultos na faixa dos 20 anos, o que pode indicar um ambiente de lazer e
descontração para esse público, que andam, em sua maioria, em grupos grandes.
Já as pessoas mais velhas foram vistas em família ou apenas com seus cônjuges e
animais.
Os casais que estavam com seus cachorros pareciam estar felizes, por
estarem sorrindo e brincando, isso me fez pensar em como ter um animal pode
trazer benefícios para um relacionamento amoroso, como aumentar a sensação de
companheirismo, melhorar a comunicação, promover o exercício físico e
44
11 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia de sol, com 38⁰C, por isso eu usava um vestido, ele era preto e branco e
relativamente curto. Entrei no Ônibus, o local estava abafado, mas o ar-condicionado
deixava um pouco mais confortável.
Eu ia me sentar atrás do motorista, do lado do corredor, já que os demais lugares
batiam sol, mas me lembrei de uma história que meu namorado me contou há um
tempo. Ele já trabalhou na administração da TransWolf, uma empresa de ônibus,
certo dia ele estava em uma sala com os motoristas e ouviu um deles dizendo “Para
que serve os espelhos dentro do ônibus? Para vocês verem melhor os carros e a rua
ou para olhar as pernas das meninas?”, eles riram e um deles ainda comentou “tem
que aproveitar né”.
46
Desde então, sempre escolho um ponto cego para me sentar no ônibus. Me sentei
em um lugar próximo a porta, apesar do sol forte. Vi o motorista se levantando e
ajustando o espelho, mas não me preocupei, porque ali ele não conseguiria me ver.
Contando comigo, tinha oito mulheres no ônibus, cinco delas estavam com o cabelo
recém lavado. Me preocupei se elas estavam sentadas em um lugar seguro, já que
não sabia se o motorista tinha más intenções ou não.
Reparei que só dois homens usavam boné, eu imaginei que mais pessoas estariam
usando, tendo em vista a alta temperatura.
No ônibus não tinha ninguém em pé e ainda tinha alguns lugares vagos. Todas as
pessoas usavam roupas simples, bermuda, short jeans, camiseta ou regata. Me
surpreendi por ver tantas pessoas de chinelos.
Algumas pessoas mexiam no celular, mas muitas estavam olhando pela janela, me
perguntei no que estariam pensando. Um menino preto de boné vermelho passou a
viagem inteira olhando para frente, até tive a impressão de que ele demorava para
piscar.
Um moço moreno entrou, pela sua estatura e feição supus que tivesse cerca de 20
anos, ele tinha um bigode, usava óculos, bermuda, camiseta e tênis, estava com seu
cabelo preto e cacheado molhado. Foi até o cobrador, perguntou se o ônibus
passava pelo shopping Morumbi Town, ele disse que não, precisaria descer um
pouco antes, o moço agradeceu e se sentou atrás do motorista.
Reparei que quando o ônibus parava, as pessoas estavam usando o celular no
ponto, algumas entraram no ônibus ainda com o celular na mão.
Uma mulher branca, loira, de olhos azuis e robusta, usando um vestido verde
acenou para o motorista e disse “oi” ao entrar, mas não o ouvi responder.
Na maior parte da viagem o cobrador ficou mexendo no celular, precisando se
comunicar pouquíssimas vezes. Acredito que por estar entediado, em um momento
da viagem o ele começou a conversar com o motorista sobre um colega de trabalho,
ambos gritavam para se ouvirem bem, o que me incomodou bastante.
Uma senhora preta, magra, com poucos cabelos crespos grisalhos, se levantou do
lugar preferencial, pagou o cobrador e andou vagarosamente, se segurando nas
barras, até a porta da frente pra descer.
Compreensão da Observação:
Vivemos em uma triste realidade com muita objetificação das mulheres, até mesmo
em locais públicos. Isso gera um ambiente de medo e insegurança, muitas vezes me
sinto ansiosa e preciso mudar minha rotina ou evitar certos locais para fugir de
qualquer tipo de assédio ou violência.
Me preocupei com as outras mulheres, porque provavelmente elas não sabiam que
alguns motoristas fazem isso. Tenho muito empatia por todas as mulheres, pois
minhas experiências de vida desenvolveram meu sendo de sororidade.
47
Eu já esperava ver pessoas com o cabelo molhado e roupas frescas, por estar 38 ⁰C.
Mas não imaginei que veria tantas pessoas usando chinelo, fiquei surpresa, pois eu
só uso chinelos em casa, por ser confortável, já que não há necessidade de usar
sapatos formais.
Na rua utilizo sapatos fechados, pois considero uma prática mais higiênica, uma vez
que evita sujeira e germes. Naquele ônibus pude ver que muitas pessoas não
pensam da mesma forma, talvez tenham optado utilizar chinelos por uma questão de
praticidade e conforto, pelo clima estar quente, seria mais refrescante.
As pessoas tendem a olhar a paisagem durante uma viagem de ônibus porque é
uma atividade que pode ajudar a passar o tempo, oferece uma forma de distração e
pode ser relaxante, eu particularmente também gosto, portanto já esperava ver esse
tipo de comportamento. Mas ainda imaginei que mais pessoas estariam utilizando o
celular do que olhando para a rua, porém ocorreu o oposto.
Nos últimos anos, tem havido uma mudança significativa na indústria de transporte
público em relação ao papel do cobrador de ônibus. Com a adoção de tecnologias
cada vez mais avançadas, o trabalho de cobrador de ônibus está se tornando cada
vez mais desnecessário. O fato do cobrador passar praticamente a viagem inteira
utilizando o celular evidência isso.
Para os passageiros de um ônibus, pode ter sido desconfortável quando o cobrador
gritou para se comunicar com o motorista durante a viagem, ainda mais por ter sido
desnecessário, já que conversaram sobre assuntos pessoais. Demonstrando uma
falta de profissionalismo de ambas as partes.
Também torna mais difícil para os passageiros ouvirem outras conversas, assistir a
um filme ou ouvir música sem serem incomodados pelo barulho.
Além disso, a conversa paralela é uma distração para o motorista, que deve se
concentrar na estrada. Isso pode fazer com que os passageiros se sintam inseguros
e ansiosos. Particularmente eu me senti, porque quando estou dirigindo odeio que
falem comigo, porque eu perco a concentração.
O motorista não foi receptivo com as pessoas que entravam no ônibus, ignorando a
mulher que lhe cumprimentou, senti pena dela, pois apenas estava sendo gentil.
Ver a senhora andando devagar me fez refletir sobre a política de permitir que
idosos desçam pela porta da frente do ônibus, é uma medida importante para
garantir a acessibilidade e segurança desses passageiros. Pois facilita muito a
locomoção, tendo em vista que ela não precisou, passar pela catraca e subir a
escada para chegar a porta dos fundos.
48
12 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia nublado de chuva, a sala de espera estava gelada devido ao ar-
condicionado, espirrei duas vezes. A sala era de um tamanho médio, me sentei em
direção ao balcão de atendimento, que tinha uma moça e um moço, ambos jovens
brancos, de cabelos e olhos escuros, a parede atrás deles era cinza e continha o
logo “Santa Paula” e logo em cima, a esquerda, tinha uma televisão com as senhas
chamadas.
Atrás de mim a parede era repleta de um armário embutido de madeira clara,
com uma televisão, que pelo tamanho aparentava ter 32 polegadas, as demais
paredes tinham um papel de parede amarelado.
O piso tinha enormes azulejos de porcelanato claro e no teto havia painéis
quadrados de luz amarela. O local tinha confortáveis poltronas de madeira clara e
acolchoadas na cor bege. Na fileira que eu estava havia sete poltronas, a frente
havia dois pares, com um espaço entre eles virados na direção da televisão, logo
atrás havia outros dois pares, virados de costas, em direção ao balcão.
Logo a minha direita havia uma grande máquina azul com equipamentos
médicos de emergência, na parede tinha um desfibrilador vermelho e um pouco a
frente estava o totem para remoção de senha. Todas as portas ficavam deste lado,
elas também eram de madeira clara e tinham grandes números azuis de 7 a 10.
Havia oito pessoas sentadas, todas de máscara, pois era obrigatório. Na
esquerda tinha um bebedouro elétrico e uma grande máquina de café, ao lado dela
dois homens estavam em pé, um branco grisalho e um preto de cabelo raspado,
ambos estavam olhando para a televisão.
Um moço branco, de cabelo castanho cacheado, usando camiseta e
bermuda, estava assistindo atentamente ao filme de pernas e braços cruzadas, a
moça que estava na poltrona atrás dele virou o corpo para acompanhar o filme.
49
13 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia quente de 38⁰C, o shopping estava fresco devido ao ar-
condicionado. Me sentei no fundo, ao meio da praça de alimentação, para ter uma
boa visão do local.
A praça de alimentação tinha algumas colunas com azulejos laminados com
televisões passando anúncios. Havia diversas cadeiras pretas espalhadas pelo local,
no teto várias elevações retangulares, nas quais tinha painéis redondos de
lâmpadas brancas e a saída do ar-condicionado.
Havia vários restaurantes ao redor. Na esquerda estava o Montana, Subway,
Spoleto e Burguer King. Atrás de tinha apenas o KFC, já na direita o McDonald’s,
Sucão e Pizza Makers.
Em uma mesa em frente ao Spoleto havia uma moça japonesa e um homem,
que por estar de costas não consegui observar bem sua aparência, sentados de
frente um para o outro. Ao lado da mulher estava uma menina pequena, também
com traços asiáticos, que aparentava ter por volta de 2 anos, levando em
consideração seu tamanho, ela usava um vestido e frauda, supus que fosse sua
filha.
A mulher comia macarrão do Spoleto e o homem um lanche do McDonald’s. A
menina estava usando um tênis azul com luzes nas solas, que se acendiam quando
ela batia o pé, então ela fazia isso diversas vezes seguidas, olhando para as luzes,
enquanto a mãe lhe dava macarrão na boca com um garfo.
Depois de alguns minutos a mãe a amamentou, a menina dormiu, ela a pegou
no colo, enquanto o homem levava as bandejas para o lixo e foram embora.
Duas crianças brancas, uma menina e um menino, de estatura média, foram
correndo para a mesa ao lado. Eles conseguiram pegar bichos de pelúcia em uma
52
máquina, estavam rindo muito, enquanto mostravam as pelúcias para a mãe e para
o pai, que sorriram ao ver as crianças felizes.
Na mesa a frente havia outra família, formada por dois adultos e duas
crianças. Um homem de cabelo escuro curto e uma mulher de cabelo ondulado loiro
e curto, que usavam alianças iguais. Uma menina com as mesmas características
da mãe e um menino com as características do pai, ambos estavam em cadeiras
infantis para alcançarem a mesa.
O menino era pequenininho, deveria ter quase 1 ano, a julgar pelo seu
tamanho e feição. Ele estava comendo macarrão sozinho com as mãos, se
lambuzando inteiro, sujando a roupa. A menina era maior, já comia com garfo
sozinha, deveria ter cerca de 3 anos.
Uma moça na mesa ao lado estava com um prato de comida da Montana,
jogou 2 sachês de sal na comida inteira e comeu, enquanto olhava o celular.
Vi uma mesa cheia, na qual todas as pessoas eram parecidas, brancos de
cabelo claro. Pareciam ser avó, pai, mãe e filho.
O filho, que deveria ter cerca de 8 anos pela sua feição, estava usando fones,
conectados ao celular em cima da mesa. Ele estava comendo segurando
corretamente a faca na mão esquerda e erroneamente o garfo na direita,
demonstrando mais desenvoltura com a mão esquerda.
Quando todos terminaram de comer se levantaram e foram embora,
deixando todo o lixo em cima da mesa. Duas mulheres negras trabalhavam como
faxineiras, usando camiseta vermelha, avental, calça e lenço preto. Foram até a
mesa e a limparam.
Um casal chegou e se sentou na mesa, usavam alianças iguais. Ele era
moreno e usava óculos e ela loira, se sentaram um de frente para o outro e
conversaram. Depois o senhor ligou para a mãe dele em chamada de vídeo e
mostrou o shopping para ela, virando o celular em todas as direções.
Ouvi várias pessoas nas mesas do canto direito gritando e batendo palmas,
olhei para a direção que eles olhavam e vi que era onde a máquina de pelúcias
estava. Um adolescente e duas crianças conseguiram pegar uma pelúcia, voltaram
para a mesa e todos da família comemoraram. Era uma família grande, eles
estavam usando três mesas diferentes. Depois de um tempo, um dos adultos foi
para a máquina de pelúcias, mas não conseguiu pegar outra.
Nos fundos da praça de alimentação havia uma moça de cabelo rosa, na
altura dos ombros e usando camiseta de anime, sentada sozinha na mesa enquanto
mexia no notebook usando fones.
Na mesa esquerda se sentaram um homem e dois adolescentes, todos
usando óculos e com roupas semelhantes, camiseta, bermuda e tênis esportivo. Um
dos adolescentes não parava de falar um segundo, sempre puxando um assunto
aleatório e o outro adolescente entrava na onda, porém o adulto comia e apenas
53
Compreensão da Observação:
Primeiramente, a presença de diversas famílias com crianças pequenas
sugere um ambiente familiar e acolhedor. Nota-se que os pais estão atentos às
necessidades dos filhos, alimentando-os e dando-lhes atenção. No entanto, também
é possível notar uma diferença de comportamento em relação à educação alimentar,
onde algumas crianças comem sozinhas com as mãos e outras usam talheres.
Permitir que as crianças comam sozinhas pode ajudá-las a desenvolver a
independência e a autonomia, além de promover autoconfiança. A filha mais velha
do casal que permitiu que o filho menor se alimentasse sozinho, já possui ótima
desenvoltura, conseguindo se alimentar bem, provavelmente seus aprendeu igual o
seu irmão menor.
Já o menino que não mostrava muita habilitação com os talheres,
possivelmente seja canhoto e ainda não tenha desenvolvido completamente sua
preferência pela mão esquerda ou direita. Neste caso é importante que os pais
estejam atentos a sinais, assim podem ajudá-lo a desenvolver habilidades manuais
específicas para canhotos.
A presença de grupos de pessoas sem vínculos familiares é notável, onde
algumas pessoas estão imersas em seus celulares, enquanto outras interagem e
conversam entre si. A dinâmica de cada grupo pode ser influenciada por diferentes
fatores, como a idade, o interesse em determinados assuntos e a disposição para a
interação social.
Eu esperava ver mais adultos interagindo e que os adolescentes, em sua
maioria, usassem mais o celular. Mas foi equilibrado, ambos usaram os celulares,
mas alguns casos se comunicaram mais.
Na mesa com dois adolescentes e um adulto foi perceptível que o adulto não
estava a par do assunto para poder fazer comentários. Mas os adolescentes
tentaram comentar sobre coisas que ele soubesse e lhe fizeram perguntas, o
inserindo na conversa de uma maneira natural.
54
14 Registro de Observação
Registro de Observação:
Era um dia nublado, apesar da temperatura ser de 29⁰C, estava chovendo, o
local estava gelado devido ao ar-condicionado. As paredes do metrô eram brancas,
os bancos preferenciais são azul claro, já os demais bancos azul escuro. Havia
grandes janelas, que permite que entre luz natural em determinadas partes da
viagem, mas também havia lâmpadas brancas.
O chão era liso, estava um pouco molhado por conta da chuva, havia várias
barras de ferro para que os passageiros pudessem se segurar. Acima de alguns
brancos havia uma televisão passando anúncios e informando qual seria a próxima
parada, assim como o painel de luzes acima das portas.
Uma moça branca, robusta, de cabelos cacheados e olhos castanhos, usando
óculos e vestido vermelho de bolinhas brancas, estava sentada no assento
preferencial a minha frente, segurando uma mochila rosa pastel no colo, reparei que
ela tinha uma tatuagem na mão que se estendia aos dedos. Ela conversava com um
moço que estava em pé segurando a barra de segurança. Ele era branco, careca, de
barba e olhos castanhos, vestia calça jeans e camiseta, assim como a maioria das
pessoas ali.
Eles fofocaram sobre um colega deles, que havia acabado de comprar móveis
novos. Comentaram que ele comprou um guarda-roupa grande demais para o
quarto, questionando as escolhas de mobília dele.
Em um momento de silêncio ela pegou o celular na mochila e começou a
mexer, então ele sacou o dele do bolso para usar também. Ficaram alguns minutos
sem se comunicarem, até que ela guardou o celular, vendo isso ele também
guardou e retomou o assunto normalmente.
Três pessoas entraram no metrô, uma mulher e dois homens, pela feição
aparentavam ter cerca de 30 anos. Reparei que um dos homens usava uma calça
56
com zíper nos tornozelos, com o logo da Forma, uma empresa de viagens de
formatura. Ele conversava com um tom de voz animado, enquanto gesticulava
bastante, me perguntei se ele trabalhava na Forma como recreador.
Sentada em um dos bancos perto da porta uma moça usava uma máscara
com estampa de mandala colorida, que é um diagrama composto por círculos e
formas geométricas diversas em seu centro. Olhei em volta e percebi que só havia
três pessoas utilizando máscara, todos idosos.
Surpreendentemente não havia tantas pessoas mexendo no celular, vi
apenas sete, um número baixo considerando que o vagão estava cheio. A maioria
que usava o celular estava de fone. Todos tinham celulares simples, consegui ver
que alguns estavam até com a tela trincada ou com a tinta da capinha descascando.
Um moço branco, de cabelo preto com um undercut e rabo de cavalo, usando
roupas totalmente pretas, estava sentado ao meu lado, olhando para fora enquanto
usava fone. Em determinada parte da viagem ele aumentou o volume e eu pude
escutar um funk saindo de seus fones, mas não consegui identificar qual era a
música.
Mais a frente, sentada do lado do corredor, avistei uma moça morena, de
cabelo crespo amarrado em um coque, usando óculos e roupa colorida. Ela estava
roendo as unhas e olhando fixamente para o chão, permaneceu assim por alguns
minutos.
Ouvi um som e olhei para trás tentando identificar quem que estava usando
celular sem fone, vi um menino moreno, adolescente, pela sua feição aparentava ter
cerca de 16 anos. Ele usava uma camiseta vermelha e tinha um enorme terço de
madeira escura pendurado no pescoço. Estava segurando o celular horizontalmente,
jogando um jogo de carro.
Em um banco do outro lado uma moça também estava jogando, acredito que
era o jogo Bubble Shooter, no qual objetivo é limpar o tabuleiro de todas as bolhas
coloridas fazendo combinações de três ou mais bolhas da mesma cor.
Uma moça usando um salto Anabela preto, que eu achei muito bonito, entrou
no vagão. Ela tinha vitiligo, que é uma condição médica em que a pele perde a
pigmentação, resultando em manchas brancas ou claras em diferentes áreas do
corpo.
Ela se sentou em um assento preferencial, pois os outros já estavam
ocupados. Percebi que algumas pessoas a olharam, ela pareceu desconfortável,
pois não parava o seu olhar, colocou a bolsa no colo e mexeu no cabelo.
Compreensão da Observação:
Achei bonito o estilo da moça de vestido vermelho com bolinhas brancas,
gostei de suas tatuagens, por serem nos dedos, onde há muitos ossos, imagino que
tenha doído muito quando foi feita. Por nunca ter feito nenhuma tatuagem eu sempre
reparo nas tatuagens das pessoas e admiro a coragem que tiveram de enfrentar a
dor.
57
SUMÁRIO
Observação 01 ......................................................................... 01
Observação 02 ........................................................................ 04
Observação 03 ........................................................................ 06
Observação 04 ......................................................................... 09
Observação 05 .......................................................................... 13
Observação 06 ......................................................................... 17
Observação 07 ......................................................................... 21
Observação 08 ........................................................................ 24
Observação 09 ........................................................................ 30
Observação 10 ......................................................................... 36
Observação 11 .......................................................................... 43
Observação 12 ........................................................................... 46
Observação 13 ........................................................................... 49
Observação 13 ........................................................................... 53