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MONUMENTOS

Lugares que “afetam”: a autorrepresentação artística de


uma comunidade por meio de maquetes em
comemoração aos 50 anos de sua escola.

Carlos Arthur Avezum Pereira


O PONTO DE PARTIDA

Fotos de alguns membros da equipe da EMEF “Tenente Aviador” que


colaboraram na organização da comemoração do jubileu da escola – tema do
Projeto Político Pedagógico (PPP) de 2019 em que os professores
implementaram seus projetos individuais ou coletivos. Não foi uma tarefa
trivial contar essa história, no entanto, o sorriso estampado em nossos rostos
demonstrou a satisfação que tivemos em realizá-la, além da sensação de
trabalho cumprido ao envolver toda a comunidade escolar contando a sua
própria história ao contar a história do seu bairro e da sua escola.

OS 50 ANOS
DA ESCOLA
TENENTE AVIADOR
FREDERICO GUSTAVO
DOS SANTOS

Registros do dia Família (30/11/2019) na escola:


detalhe da mesa de frutas e do número 50 que faz
referência ao aniversário da escola (à esquerda) e
regalo para as famílias convidadas (à direita).
DIA DA FAMÍLIA:
A FESTA DE ANIVERSÁRIO
DE 50 ANOS DA ESCOLA

Registro da abertura da festa apresentado pelo coordenador


Fábio Tamizari (pesquisador em História), um dos
idealizadores do Projeto Político Pedagógico de 2019.

A sensibilização pelo cotidiano


objetivada pelo projeto de arte.

Pai de um dos alunos do 4º ano:


“fiquei maravilhado de ver tantas
Registro da festa.
maquetes dos lugares em que
sempre passo pelo bairro”!
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO 2019

Convite da Festa da Família de fim de ano em comemoração


aos 50 anos da escola, destacando os vários eventos do dia.

O PPP visava destacar a importância que a escola teve nesse período de 50


anos de transformações em que o seu bairro, o Vila Nova Cachoeirinha
(localizado na zona norte da cidade de São Paulo), passou no decorrer desta
história, apresentando como resultado final uma mostra cultural da e para a
comunidade ao fim do ano como forma de comemoração desta data.

Card convite de evento de um dos projetos de


outros professores, o qual também estava integrado
ao PPP da escola durante o ano de 2019.
O PROJETO DE ARTE

O projeto da área de arte foi um projeto colaborativo entre o professor de


arte e os pedagogos regentes das três turmas dos quartos anos, e consistiu
na criação de maquetes de “monumentos” feitas pelos alunos. Chamamos
de monumentos os lugares do bairro da escola, os quais despertariam
uma memória afetiva nos alunos, promovendo assim a autoestima da
comunidade escolar por meio da autorrepresentação artística.

Alunos do 4ºC na sala de Arte empolgados com a notícia de suas


autorrepresentações no projeto após assistirem um dos vídeos inspiradores :
Vila Nova Cachoeirinha – História do Bairro de São Paulo.

Link do vídeo:

https://youtu.be/jfxjsFpjA7o
O PROJETO DE ARTE
Após ser lançado o Projeto Político Pedagógico da escola vieram-me as seguintes
questões:

Como utilizar a arte para que os alunos do 4º ano pudessem expressar a história de 50
anos da EMEF Tte. Aviador Frederico Gustavo Dos Santos integrando a comunidade
escolar em um projeto?

De que maneira um período de tempo tão maior que a idade desses alunos, que ainda
são crianças, poderia fazer sentido para eles?

Começamos a refletir por quais meios um relativo e longo período histórico poderia se
expressar de forma mais concreta para adequar-se a realidade dos alunos. Foi assim
que surgiram as noções de monumento e de arquitetura, pois são formas de
“expressões artísticas” que provavelmente permanecem no mesmo local por um longo
período de tempo, muitas vezes, indefinido, absorvendo e ressoando assim a história
além daquela que quis expressar inicialmente através de uma homenagem. Ou seja,
chegamos a conclusão de que há duas histórias paralelas em um monumento. A
primeira expressa uma homenagem a alguém ou a algum fato histórico, já a segunda é
a história do próprio monumento que resiste ao tempo ali naquele lugar em que se
localiza. Assim, percebemos que esse conceito de uma “segunda história” poderia ser
transportado para qualquer edificação arquitetônica, ainda que ela não tivesse a
intenção de fazer qualquer tipo de homenagem. O contato com esses “monumentos”,
ao passarmos frequentemente por eles durante longos períodos da nossa vida, nos afeta
de alguma maneira ainda que não nos demos conta disso. Com essas reflexões em
mente, optamos por uma estratégia simples de expressão artística (frequentemente
utilizada na educação) para expressá-las neste projeto através de um movimento
transdisciplinar entre a arte e a história. Ainda que a escolha do “monumento
particular” feita pelos alunos já não ter sido uma escolha arbitrária, a maquete foi um
meio para intensificar essa consciência dos alunos a respeito do afeto provocado por
esse seu lugar de pertencimento ao representá-lo. Como professor de arte, meu ponto
de vista parte de um princípio de que a arte só pode nutrir esteticamente se ela pode
afetar. E foi a partir dessas escolhas e reflexões que pôde haver um maior envolvimento
dos alunos e de suas famílias na criação das maquetes desses “monumentos afetivos”.
Afinal, muitas dessas edificações e lugares já estavam ali, algumas até mesmo antes dos
alunos nascerem, de tal forma que seus familiares poderiam contar histórias desses
lugares que eles não conheciam, criando assim uma rede de conexões e afetos entre os
estudantes, sua família, a escola, o bairro, o monumento escolhido e a sua maquete.
O PROCESSO

Os alunos do 4ºA realizando desenhos do projeto Alunos do 4ºB entrevistando uns aos outros
pessoal do monumento escolhido e a possível explicando alguns pontos do processo
definição de materiais que utilizariam para fazer a criativo de suas maquetes: o local do bairro
sua maquete. Antes disso, os alunos praticaram que inspirou a escolha do seu monumento;
desenhos de outros monumentos importantes do como os desenhos que fizeram e os materiais
mundo, do Brasil e da cidade de São Paulo. reaproveitáveis (de acordo com os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável do
Curriculo da cidade de São Paulo) que
utilizaram, puderam ajudar na sua realização;
e como os familiares puderam contribuir na
criação das maquetes.

A participação dos alunos no processo


Tudo pronto! Registro do 4ºC com o avaliativo se deu na apreciação estética do
professor de Arte (autor do projeto) e a seu próprio trabalho e dos demais colegas
professora pedagoga (uma dos 3 durante a exposição das maquetes.
coautores) ao fundo na sala de arte junto
à exposição montada no dia anterior ao “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo,
dia da Festa da Família em os homens se educam entre si, mediatizados pelo
comemoração aos 50 anos da escola. mundo” (FREIRE, 1974).
O BAIRRO VILA NOVA
CACHOEIRINHA
(Zona Norte da cidade de São Paulo)

O “Largo do Japonês” no Vila Nova Cachoeirinha: considerado o ponto


mais central do bairro. (Observação: as fotos do bairro Cachoeirinha a
seguir são fotos retiradas do Google, principalmente do Google Maps).

Apesar de situado na periferia da cidade de São Paulo, o bairro Vila


Nova Cachoeirinha tem lugares com intensa atividade comercial, os
quais fazem parte do cotidiano da comunidade. Foram esses
lugares, os quais ressonavam afetos nos estudantes, que se tornaram
fonte da inspiração poética para a criação das maquetes.
AS MAQUETES DOS MONUMENTOS

Sobre a representação por meio de maquetes,


Consalez e Bertazzoni (2015) enfatizam um
nível de comunicação que é acessível a quem
tem pouca experiência sobre os seus códigos
técnicos e, portanto, adequa-se ao trabalho do
professor de Arte com os estudantes do Ensino
Fundamental 1:

“A descrição analítica e técnica não consegue


esgotar a exigência da representação, já que a
comunicação do projeto requer outros
instrumentos que facilitem a compreensão de
forma sintética tanto das ideias quanto do
conteúdo”.
MONUMENTOS e MAQUETES:
LUGARES QUE “AFETAM”

O Largo do Japonês
MONUMENTOS e MAQUETES

Terminal de ônibus Vila Nova Cachoeirinha

Avenida Inajar de Souza

“Quando eu digo que o lugar de onde eu venho é uma


paisagem afetiva eu quero dizer que a co-presença desse
lugar tem qualidades que não escapam de serem notadas
pelos que estão envolvidos” (BERBERICH; CAMPBELL;
HUDSON, 2016).
MONUMENTOS e MAQUETES

Bar Mocofava do Cazuza:


bem conhecido e frequentado no bairro

Mercado Extra da Vila Nova Cachoeirinha


MONUMENTOS e MAQUETES

Posto de combustível na Av. Parada Pinto – umas das


principais avenidas do bairro próxima da escola.

Besni: loja de roupas no quarteirão da escola


MONUMENTOS e MAQUETES

Praças e parquinhos
da Vila Nova
Cachoeirinha

Quadras esportivas do bairro


MONUMENTOS e MAQUETES

O Horto Florestal: um parque importante da cidade


de São Paulo localizado na área urbana da zona
norte e que possui rica representatividade de mata
atlântica com lago e áreas de lazer para as famílias.
MONUMENTOS e MAQUETES
O Cemitério Vila Nova Cachoeirinha

A capela do cemitério

Igrejas

O Hospital
Vila Nova
Cachoeirinha
MONUMENTOS e MAQUETES
A EMEF TENENTE AVIADOR FREDERICO GUSTAVO DOS SANTOS
MONUMENTOS e MAQUETES
A EMEF TENENTE AVIADOR FREDERICO GUSTAVO DOS SANTOS
A EQUIPE
Este foi um projeto colaborativo entre o seu proponente,
o professor de Arte do Ensino Fundamental 1 da escola,
os professores pedagogos dos quartos anos, os alunos
dessas turmas e suas famílias. Um projeto com uma
forte característica de envolvimento da comunidade
escolar e conectado ao PPP cujo tema era os 50 anos da
escola com o objetivo de uma mostra cultural no Dia da
Família como encerramento do ano letivo.

Os professores regentes
O aluno Nicolas do 4º B com sua
(pedagogos) dos quartos anos
maquete ao fundo e o professor de arte
(Carlos Avezum), proponente do em 2019, co-autores do projeto
projeto. “Passei a olhar mais as (Luiz Fittipaldi, Cinthia Santos e
coisas na rua de um jeito mais Teresa Paula) na sala de
artístico” (Nicolas do 4º B). exposição das maquetes.

Relato do aluno
Nicolas do 4º B.

“Com carinho, aos alunos dos quartos


anos 2019 da EMEF Tte. Aviador
Frederico Gustavo dos Santos”
REFERÊNCIAS

BERBERICH, Christine; CAMPBELL, Neil; HUDSON, Robert (ed.).


Affective Landscapes in Literature, Art and Everyday Life: memory,
place and the senses. London: Routledge, 2016. 272 p.

CONSALEZ, Lorenzo; BERTAZZONI, Luigi. Maquetes: a


representação do espaço no projeto arquitetônico. 2. ed. São Paulo:
Gustavo Gilli, 2015. 111 p. Tradução de Daniela Maissa.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

VILA Nova Cachoeirinha. São Paulo: Primo, 2011. Son., color. Série
História dos bairros de São Paulo. Disponível em: https://youtu.be/
jfxjsFpjA7o. Acesso em: 04 mar. 2019.

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